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Ainda Cultura...

Relembrando.
Gênese social da idéia de Cultura na
França
• Como estado: Vinda do latim cultura significa o cuidado dispensado
ao campo ou ao gado, ela aparece nos fins do século XIII para
designar uma parcela de terra cultivada.
• Como ação: No começo do século XVI, é uma ação, ou seja o ato de
cultivar a terra.
• Sentido figurado: metade do séc. XVI até XVII aparece o sentido
figurado, como ato de trabalhar uma faculdade ou desenvolve-la.
No séc XVIII, aparecem nos dicionários Franceses: “cultura das
artes”, “cultura das letras”...
• Ato de instruir: Progressivamente, “cultura” passa a ser empregada
só para designar a “formação”, a “educação” do espírito.
• Espiríto Culto: no fim do século XVIII (estado do espírito cultivado
pela instrução, estado do indivíduo “que tem cultura”) em oposição
ao individuo com “um espírito natural e sem cultura”.

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• Nó séc. XIX na França: “Cultura” ganha dimensão coletiva.
Designa o conjunto de caracteres próprios de uma
comunidade, mas em um sentido geralmente vasto e
impreciso.
• “Cultura” está muito próxima da palavra “Civilização” e às
vezes é substituível por ela.
• Cultura no sentido coletivo, é antes de tudo a “cultura da
humanidade”.
• Civilização: definida como um processo da melhoria das
instituições, da legislação, da educação. A civilização é um
movimento (...) que é preciso apoiar e que afeta a
sociedade como um todo, começando pelo estado, que
deve se libertar de tudo o que é irracional em seu
funcionamento. Finalmente, a civilização pode e deve se
estender aos povos que compõem a humanidade.

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Kultur
• Kultur: séc. XVIII sentido figurado = França
• O que é autêntico e que contribui para o
enriquecimento intelectual e espiritual terá a
cultura como fonte;
• Durante o séc.XIX na Alemanha: A idéia de
Cultura se liga a idéia de nação:
• “A cultura vem da alma, do gênio de um povo. A
cultura aparece como um conjunto de conquistas
artísticas, intelectuais e morais que constituem o
patrimônio de uma nação, considerado como
adquirido definitivamente e fundador de sua
unidade.” (os autores só utilizavam o alemão).

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Alemanha vs França
• Kultur vs Civilização: os autores românticos alemães
opõem a cultura, expressão da alma profunda de um povo,
à civilização definida a partir de então pelo progresso
material ligado ao desenvolvimento econômico e técnico.

• Kultur: essencialista e particularista de cultura acompanha


a concepção étnico-racial de nação – comunidade de
indivíduos de mesma origem – que se desenvolve ao
mesmo tempo na Alemanha.
• Cultura ou civilização: a noção universalista de cultura
acompanha a concepção eletiva de nação – pertencem a
nação francesa, todos os que se reconhecem nela,
quaisquer que sejam suas origens.

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O conceito científico de Cultura:
Um início da Antropologia

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Taylor e a concepção universalista de
cultura
• “Cultura e Civilização, tomadas em seu sentido etnológico mais
vasto, são um conjunto complexo que inclui o conhecimento,
as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros
hábitos e capacidades adquiridos pelo homem enquanto membro
da sociedade.” (Taylor, 1871)
• Essa definição pretende ser descritiva e objetiva e não normativa.
Por outro lado, ela rompe com as definições restritivas e
individualistas de cultura: para Taylor, a cultura é a expressão da
totalidade da vida social do homem:
• Ela se caracteriza pela sua dimensão coletiva.
• Enfim a cultura é adquirida e não depende da hereditariedade
biológica.
• No entanto, a cultura é adquirida e sua origem e seu caráter são,
em grande parte, inconscientes.
• Ele tentava conciliar em uma mesma explicação a evolução da
cultura e sua universalidade.
• Pai da Etnologia como ciência devido a suas precauções
metodológicas. 7
Franz Boas e a concepção particularista de
cultura.
• O primeiro antropólogo a fazer pesquisas in situ para
observação direta e prolongada das culturas primitivas.
Considerado inventor da Etnografia.
• Toda obra de Boas é uma tentativa de pensar a diferença.
Para ele, a diferença fundamental entre os grupos humanos
é de ordem cultural e não racial.
• A característica dos grupos humanos no plano físico é a sua
plasticidade, sua instabilidade, sua mestiçagem.
• Demonstrou também o absurdo da idéia de uma ligação
entre traços físicos e traços mentais.
• Boas tinha o objetivo o estudo “das culturas” e não da
“Cultura”.
• Para ela havia pouca esperança de descobrir leis universais
de funcionamento das sociedades e das culturas humanas,
muito menos chance de encontrar leis gerais da evolução
das culturas. 8
• Devemos a Boas a concepção antropológica do
“relativismo cultural”: Tomado como um principio
metodológico: no estudo de uma cultura particular,
recomendava-se abordá-la sem a priori, sem aplicar
suas próprias categorias para interpretá-las, sem
compará-la prematuramente com outras culturas.
• Noção relativista de cultura:
• Para ele cada cultura é única, específica, sua atenção era
voltada ao que fazia sua originalidade.
• Cada cultura representava uma totalidade singular e todo
seus esforço consistia em pesquisar o que fazia sua
unidade. Daí sua preocupação de não somente descrever
os fatos culturais, mas de compreende-los juntando-os a
um conjunto ao qual eles estavam ligados.
• Um costume particular só pode ser explicado se
relacionado ao seu contexto cultural.

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• Cada cultura é dotada de um “estilo”
particular que se exprime através da
língua,das crenças, dos costumes, também da
arte, mas não apenas desta maneira. Este
estilo, este “espírito” próprio de cada cultura
influi sobre o comportamento dos indivíduos.
• Boas também considerava que é tarefa da
Etnologia, elucidar o vínculo que liga o
indivíduo a sua cultura.

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A herança de Boas: Antropologia
Cultural (EUA)
• Podem ser agrupadas em três “tendências”:
• 1 - Cultura sob o ângulo de vista da história
Cultural.
• 2 – Relações entre Cultura (coletiva) e
personalidade (individual).
• 3 - Cultura como sistema de comunicação
entre indivíduos.

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História Cultural

• Preocupação com a dimensões históricas e espaciais da


cultura.
• Noções difusionistas:
– Traço Cultural: menores componentes de uma cultura
– Área Cultural : No centro se encontram as características
fundamentais de uma cultura.; na borda essas características se
entrecruzam com traços de outras áreas culturais.
• Noção de Modelo Cultural: o conjunto estruturado dos
mecanismos pelos quais uma cultura se adapta a seu meio
ambiente.
• Contato cultural e empréstimo cultural (serão retomados
como aculturação e trocas culturais adaptadas ao modelo
cultural)
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Cultura e Personalidade
• Como os seres humanos incorporam e vivem
sua cultura?
• A questão é elucidar como a cultura está
presente nos indivíduos, como ela os faz agir,
que condutas ela provoca, supondo
precisamente que cada cultura determina
certo estilo de comportamento comum ao
conjunto dos indivíduos que dela participam.
Aí está a unidade de uma cultura e o que
torna especifica em relação às outras.
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• Pluralidade de métodos e abordagens: alguns mais
sensíveis a influência da cultura no individuo ou vice-
versa.
• Possuem em comum, o fato de levar em consideração
avanços da psicologia científica e da psicanálise e
abertos a interdisciplinaridade. (Entretanto, invertem a
perspectiva Freudiana: “para eles, não é a libido que
explica a cultura. Ao contrário, os complexos da libido se
explicam por sua origem cultural.
• A questão fundamental é relacionada a personalidade:
por quais mecanismos de transformação, indivíduos de
natureza idêntica a princípio, acabam adquirindo
diferentes tipos de personalidade.
• Hipótese: é que à pluralidade culturas deve
corresponder uma pluralidade de tipos de
personalidade.
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Ruth Benedict e os “tipos culturais”
• Cada cultura se caracteriza por um certo modelo,
configuração. Uma cultura não é uma simples
justaposição de traços culturais, mas uma maneira
coerente de combiná-los.
• Toda cultura é coerente, pois está de acordo com os
objetivos por ela buscados. Ela busca este objetivos
através dos indivíduos , graças as instituições
(principalmente as educativas) que vão moldar todos
os seus comportamento, conforme os valores
dominantes que lhe são próprios.
• Toda cultura oferece um esquema inconsciente para
todas as atividades da vida.

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Margaret Mead e a transmissão cultural
• Transmissão cultural e de socialização da personalidade:
analisará diferentes modelos de educação para compreender o
fenômeno de inscrição da cultura no indivíduo e para explicar os
aspectos dominantes de sua personalidade devidos ao processo
de inscrição.
• Os Arapesh, os Mundugomor e os Chambuli (Oceânia): Ela
mostra, através destes casos, que as pretensas personalidades
masculina e feminina que consideramos universais, por crermos
que são de ordem biológica, não existem, como a imaginamos,
em todas as sociedades.
• Existe então um vínculo estreito entre modelo cultural, método
de educação e tipo de personalidade dominante.
• A personalidade individual se explica pelo modelo cultural
particular a uma dada sociedade que determina a educação da
criança. O indivíduo é impregnado por este modelo por todo um
sistema de interdições. Quando adulto, isto o leva, a se
conformar inconscientemente com os princípios fundamentais
de sua cultura. 16
• Arapesh: tudo parece organizado na infância para que o
futuro Arapesh, homem ou mulher, seja um ser doce,
sensível, servil.
• Mundugomor: a conseqüência do sistema de educação
é treinar a rivalidade e até a agressão, seja entre
homens, entre mulheres ou entre ambos os sexos.
• Dois tipos de personalidades opostas devido a cultura,
porém possuem em comum: o fato não fazerem
distinção entre masculino ou feminino.
• Chambali: Ao contrario, assim como nós, pensam que
homens e mulheres são profundamente diferentes em
sua psicologia.
• Mulher: é por “natureza” empreendedora, dinâmica,
solidária (entre elas), extrovertida. Detém o poder
econômico e garantem a substência do grupo.
• Homem: é sensível, menos seguro de si, preocupado com a
aparência, invejoso. Se dedicam a atividades cerimoniais e
estéticas, freqüentemente competitivas.
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Cultura e identidade
• Cultura pode existir sem consciência de identidade, ao
passo que as estratégias de identidade podem
manipular e até modificar uma cultura.
• A cultura depende em grande parte de processos
inconscientes. A identidade remete a uma forma de
vinculação, necessariamente consciente, baseada em
oposições simbólicas.
• EUA déc. de 50: surge o conceito de identidade
cultural. Esta abordagem concebia a identidade
cultural como praticamente imutável e determinando a
conduta dos indivíduos. (estudos de imigração)
• O termo e recente e caracterizado pela sua polissemia
e fluidez
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• Para a psicologia social, a identidade é um
instrumento que permite pensar a articulação do
psicológico com o social em um indivíduo.
• A identidade social de um indivíduo se
caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em
um sistema social: vinculação a uma classe
sexual, a uma classe de idade, a classe social, a
uma nação, etc (uma raça, uma etnia, genero). A
identidade permite que o indivíduo se localize em
um sistema social e seja localizado socialmente.
• A identidade social diz respeito também aos
grupos. Todo grupo é dotado de uma identidade
que corresponde à sua definição social, que
permite situá-lo no conjunto social. (em relação a
outros grupos).
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Identidade Cultural: a noção objetivista,
subjetivista e relacional
• Objetivista: definição e descrição da identidade a partir de
um certo número de critérios determinantes, considerados
como “objetivos”, como a origem comum (genealogia), a
língua, a cultura, a religião, a psicologia coletiva
(“personalidade básica”), o vínculo com um território, etc.
Um grupo sem esses atributos não poderia reivindicar uma
identidade cultural autêntica.
– É definida como preexistente ao individuo. Toda identificação
cultural é vista como consubstancial com uma cultura particular
• Subjetivista: A identidade etno-cultural não é nada além de
um sentimento de vinculação ou de uma identificação a uma
coletividade imaginária em maior ou menor grau. O
importante são as representações que os indivíduos fazem
da realidade social e de suas divisões. Tem o mérito de
considerar o caráter variável da identidade.
– A id. cult. não pode ser reduzida à sua dimensão atributiva 20
Frederik Barth: Noção Relacional ou
Situacional
• Leva em consideração o contexto: só o contexto poderia
explicar porque, por exemplo, em dado momento tal
identidade é afirmada ou reprimida.
• A construção da identidade se faz no interior de contextos
sociais que determinam a posição dos agentes e por isso
mesmo orientam suas representações e escolhas.
• A construção de identidade não é uma ilusão, pois é dotada
de eficácia social, produzindo efeitos sociais reais.
• A identidade é uma construção que se elabora em uma
relação que opõe um grupo aos outros grupos com os
quais está em contato. (1969)
• O importante não é inventariar seus traços culturais
distintivos, mas localizar aqueles que são utilizados pelos
membros do grupo para afirmar e manter uma distinção
cultural. 21
• Coloca o estudo da RELAÇÃO no centro da análise e não
mais a pesquisa de uma suposta essência que definiria a
identidade.
• Não há identidade em si, nem mesmo unicamente para
si. A IDENTIDADE EXISTE SEMPRE EM RELAÇÃO A UMA
OUTRA. A identificação acompanha a diferenciação.
• Identidade é um modo de categorização utilizado pelos
grupos para organizar suas trocas.
• A identificação pode funcionar como afirmação ou
imposição de identidade. É sempre uma negociação
entre uma auto-identidade e uma hereto-identidade.
• Uma terá maior legitimidade que a outra, dependendo
da situação relacional, isto é, da relação de força entre
os grupos de contato – que pode ser uma relação de
forças simbólicas.
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Bibliografia
• CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências
sociais. Bauru, Edusc, 2012.
• Obs: os slides são um fichamento com transcrição integral de
frases chaves do autor e abreviações e pequenas alterações
em outras.

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