Conforme a PNMUS (2004), o conceito de mobilidade,
nas últimas décadas, se insere na união de políticas de transporte, circulação, acessibilidade, trânsito e a política de desenvolvimento urbano. Este conceito é base para as diretrizes de uma política que tem por finalidade proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, de forma segura, socialmente inclusiva e ambientalmente sustentável. Globalização e mobilidade Milton santos (2000) defende que a globalização é o ápice do processo de internacionalização promovido pelo sistema capitalista. Esta internacionalização contribuiu para a desterritorialização, na qual o território de um país torna-se um espaço nacional da economia internacional (SANTOS; SILVEIRA, 2010). A economia internacional inclui também a atividade turística, que passou a abranger de modo global os serviços e os produtos turísticos, e alterou as escalas de distância, favorecendo, assim, o deslocamento com finalidade turística. Cont. Para beni (2011, p.29), “a globalização provocou uma maior disponibilização e acessibilidade em amplitude mundial dos produtos, das instalações e dos serviços turísticos”. O mesmo autor (2007, p.80), também destaca que a hipermobilidade humana deu ao mundo uma nova fisionomia a revolução industrial, a explosão demográfica, o surgimento de potentes meios de comunicação de massa e os meios de transportes modernos, especialmente o avião e o automóvel, desencadearam uma grande mobilidade que rompeu fronteiras antes intransponíveis. Cont. Desta forma o setor de turismo e sua teia de telecomunicações, informações e transportes diversificou-se e espalhando-se por várias regiões do planeta, influenciando e influenciado pela aceleração da globalização, possibilitada, entre outros fatores, pelo crescimento constante, gradual e consistente do turismo internacional (COOPER; HALL; TRIGO, 2011; BENI, 2011). Conforme ressalta milton santos (1993), o espaço se globaliza, mas não se torna mundial. Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Na verdade, são as pessoas que se globalizam. Mobilidade e acessibilidade Para existir a mobilidade é necessário que haja acessibilidade, ou seja, a “facilidade em atingir os destinos desejados” (COCCO, 2011). Para que a acessibilidade possibilite a mobilidade, são necessários investimentos em recursos de infraestrutura como, por exemplo, transporte público, estruturas de transporte e espaços de circulação para o desenvolvimento das atividades humanas. Cont. Os transportes, definidos como “ato, efeito ou operação de transportar”, são grandes influenciadores no valor e tempo do deslocamento, de um lugar para outro. Além disso, são fundamentais também às interações socio espaciais dos grupos humanos que constroem o espaço e devem ser planejados para que não haja sobrecarga do sistema, o que prejudicaria, assim, a comunidade local e os turistas (COCCO, 2011; LOHMANN, 2013). Cont. Entretanto, conforme destacam hobson e uysal (1992 apud PAGE, 2008), o que se nota é que a infraestrutura de apoio não tem sido capaz de acompanhar o desenvolvimento do turismo, gerando, assim, o congestionamento, um do maior empecilho do novo milênio. Sob o aspecto material, milton santos e maria laura silveira (2010) abordam as diferenciações territoriais, entre elas os espaços da rapidez e da lentidão. Mobilidade e turismo A relação entre mobilidade e turismo se caracteriza por ser interdependente. Para coriolano e fernandes (2012, p.2), “sem mobilidade não há turismo” pois o turismo supõe deslocamento, mudança de lugar, movimento. Bauman (1999), por sua vez, afirma que no atual contexto global o “estado de repouso”, da imobilidade, não faz sentido, pois a indústria atual é focada para a produção de atrações e tentações que estimula o consumismo descontrolado, e necessidade de constante mobilidade. Cont. O mundo que habitamos, a distância não parece importar muito. Às vezes parece que só existe para ser anulada, como se o espaço não passasse de um convite contínuo a ser desrespeitado, refutado, negado. O espaço deixou de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo para conquistá-lo (bauman, 1999, p.85). O mito de aldeia global e do encurtamento das distâncias contribuiu para a difusão da noção de tempo e espaço contraídos, onde as pessoas se movem porque se atraem pelo mundo globalizado e o vê ao seu alcance e, a partir disso, alimentam sonhos e desejos de desfrutá-lo (SANTOS, 2000; BAUMAN, 1999). Cont. O turismo está relacionado às mobilidades temporárias, em que ocorre turistificação em muitos lugares onde se assiste ao desenvolvimento da mobilidade turística que implica em fluxos humanos, culturais, técnicos e financeiros. O turismo não se limita aos deslocamentos, pois os fluxos turísticos evidenciam transformações espaciais e no comportamento das sociedades. Os deslocamentos turísticos têm impacto significativo nas economias locais, nas paisagens, em especial nos polos emissores e receptores das mobilidades turísticas. Cont. Sendo assim, pode-se afirmar que o turista pode adquirir boas ou más experiências no percurso de sua viagem. Entretanto, também pode gerar impactos ao destino quando não planejado, e pode facilitar o turismo massivo, que, por consequência, contribui com a degradação ambiental e impactos sociais. A mobilidade, por sua vez, pode ser comprometida devido aos fluxos gerados pelo turismo, e, desta forma, ameaçar a fluidez da circulação de residentes, produtos e outros. O TURISMO NO TERRITÓRIO Para compreender o fenómeno turístico, do ponto de vista espacial, é preciso que a abordagem seja feita tanto pela via da economia como da geografia face ao seu campo comum que consiste no território. Desta forma, foram abordados os principais conceitos, que pelas suas características são transversais a estas duas áreas do conhecimento, analisados em função do ordenamento e planeamento do território vigente em portugal e dos seus pontos em comum. Turismo enquanto fenómeno económico e geográfico O estudo do turismo, face à sua interação com diversos objetos de estudo tem sido abordado por diversas disciplinas científicas (antropologia, sociologia, arquitetura, urbanismo, etc.) Das quais se destaca: a economia, face às implicações do turismo na geração de emprego, receitas e por ser cada vez mais considerado como um dos motores do desenvolvimento social, económico e ambiental a nível regional e nacional; e a geografia, pelo facto do turismo se concentrar em determinados espaços e poder ser entendido enquanto fenómeno espacial (vera et al., 1997). Cont. Contudo, tem existido alguma prevalência da análise económica (vera et al., 1997) sobretudo no âmbito dos bens e serviços turísticos, aliás percetível nas atuais definições de turismo, sendo que mesmo os autores que abordam o turismo pela geografia, por regra, evidenciam a importância desta componente. Ainda assim, constata-se que existem divergências ao nível do objeto de análise do turismo. Cont.
De acordo com a metodologia da CST, o setor do turismo
agrupa um conjunto de actividades que se estruturam em sete eixos principais de oferta: (i) alojamento; (ii) restauração; (iii) transportes; (iv) serviços de agências de viagens e operadores turísticos; (v) rent-a-car; (vi) serviços culturais; (vii) serviços recreativos e de lazer. (Costa, 2005: 284) Cont. A abordagem ao turismo enquanto atividade económica com o enfoque na oferta reforça a importância do território, enquanto elemento aglutinador e base sobre o qual o turismo se desenvolve. O que nos leva à utilidade da análise do turismo no âmbito da geografia, onde se destaca a referência à organização de áreas de recreio e lazer (vera et al., 1997; Pearce, 1989), à análise dos impactes do turismo, dos modelos de desenvolvimento turístico e, da sua explicação em termos de fatores de localização, bem como da identificação de lugares ou regiões com aptidão turística (cerro, 1993). Destino turístico e território turístico Um dos principais resultados do turismo tem sido a projeção de um conjunto de destinos, em termos internacionais e nacionais, e a emergência do conceito de “destino turístico” que, de acordo com a literatura analisada, encontra-se interligado com a própria definição de turismo. Para cooper, et al. (2001) o “destino turístico” é a dimensão mais importante da atividade turística, no sentido que são os destinos que atraem os turistas e motivam a visita. Cont. Pelo lado da procura, o “destino turístico” é entendido como a área geográfica recetora de turistas que face às suas características permite satisfazer esse turista. Pelo lado da oferta, consiste numa combinação de produtos, serviços e experiências oferecidas numa determinada área geográfica (buhalis, 2000), amálgama ou mistura de atrações e de estruturas de apoio planeados para atender às necessidades do turista (cooper et al., 2001). Cont. Ainda de acordo com valls (2004: 18), “definimos o destino turístico como um determinado espaço geográfico, com um clima próprio, raízes, infraestruturas e serviços, e com certa capacidade administrativa.” (Tradução pelo próprio) este autor define ainda cinco características que permitem configurar o destino, as quais deverão ser tomadas em consideração aquando da definição do “destino turístico” e que são: • Espaço geográfico homogéneo; • Centralidade; • Oferta estruturada de serviços a partir dos atrativos e recursos; • Constituição de uma marca; • Função comercial conjunta (promoção, marketing). A aptidão do território para o turismo Com o fim da II guerra mundial, a reorganização mundial e a europa em processo de retoma económico, mais concretamente nos anos 50, o turismo entrou numa fase denominada de turismo de massas8 (costa, 2006; vera et al., 1997). Resultou neste período o aparecimento de um conjunto de áreas com um maior enfoque no turismo, quer do lado da receção sobretudo no litoral caso do mediterrâneo, como da emissão de turistas nomeadamente a Europa (Vera et al., 1997). Cont. Estas áreas para os autores que analisam o turismo, sob o ponto de vista da geografia, assumem diferentes denominações (lugares, regiões, espaços) em função da sua escala (internacional, nacional, regional, local). Contudo o termo mais utilizado, além de “destino turístico” é o de região turística, face aos limites administrativos territoriais e pelo facto da informação existente sobre o turismo reportar-se a este nível. Já na abordagem pela economia o mais comum é efetivamente “destino turístico”. Cont. Ainda do lado da análise do turismo pelo enfoque geográfico, existe o entendimento que o turismo não se localiza de forma aleatória no território e apresenta uma concentração espacial, que pode ser de caráter pontual ou por zonas (vera et al., 1997; cerro, 1993). Aliás lopes (1987, cit por reigado, 2000) refere que nada se localiza por acaso, tudo o que se distribui no espaço é o resultado de decisões planeadas. Por outro lado, no que concerne à análise da organização do espaço, nomeadamente a localização do povoamento e das atividades económicas, verifica-se que esta tem a sua génese na geografia de onde importa destacar a teoria dos lugares centrais: o modelo de christaller. Cont. No que concerne à teoria de christaller efetivamente alguns dos “produtos turísticos” de maior amplitude no turismo caso dos resort’s tendem a instalar-se fora das áreas populacionais e desta forma, tendencialmente em solo rural, ou mesmo o caso do turismo de natureza, contudo não explica o crescimento do turismo cultural que se desenrola, efetivamente, nos espaços urbanos (solo urbano), ou seja, em zonas consolidadas. Já vera et al. (1997) apresentam uma distinção de espaços turísticos, segundo a sua condição geográfica a saber: litoral, rural, natural e urbano, cuja importância varia em função do próprio desenvolvimento turístico. FIM