Paz externa Exército imperial Batalhas de Austerlitz, Jena e Ulm: Estabilização financeira: controle poder em terra da emissão de moedas pelo Banco da França. Contestação da hegemonia: Batalha de Trafalgar Sociedade Francesa de Fomento à Derrota no mar Indústria e ao Comércio O Bloqueio Continental Investimentos em infraestrutura: pontes, estradas, portos Decreto de Berlim Consequências do Bloqueio Anistia a presos políticos As guerras do Bloqueio Ensino público Invasão da península Ibérica e a Reformas que promoveram o Batalha da Rússia desenvolvimento da agricultura Invasão da França e exílio de Napoleão Código Civil: defesa da propriedade em Elba privada Regresso do imperador e derrota final Plebiscito de 1804 Introdução A ascensão de Napoleão Bonaparte no Exército foi possível pela implantação da meritocracia na hierarquia militar francesa. Isso o tornou um símbolo para a juventude da França. Bonaparte foi um produto e, ao mesmo tempo, um símbolo da Revolução. Foi diante da instabilidade política do Diretório que os membros do grupo girondino se aproximaram do Exército, sobretudo de Bonaparte. Apesar de os girondinos estarem à frente do governo, havia constantes ameaças oposicionistas, notadamente dos jacobinos. Por isso, temendo uma possível radicalização do processo revolucionário, ou até mesmo uma contrarrevolução, os girondinos articularam a chegada de Bonaparte ao poder. Com o apoio de suas tropas, Napoleão Bonaparte cercou o prédio da Assembleia do Diretório e destituiu o governo. Esse episódio, conhecido como o Golpe do 18 Brumário (9 de novembro de 1799), resultou na instauração de um novo modelo de governo na França, o Consulado. Eram três cônsules: Roger Ducos, Emmanuel Sieyès e Napoleão Bonaparte, este, o primeiro-cônsul da França. O poder, na prática, estava centralizado nas suas mãos, e ele ainda controlava o Exército. O Consulado (1799-1804) O controle do Exército – resultado do seu prestígio como general –, o apoio que recebeu da burguesia para assumir o comando do Estado e a grande popularidade junto às massas davam ao primeiro-cônsul Bonaparte uma robusta base de apoio político, arrefecendo o clima de radicalismo político, algo que há muito não se via na França. O Consulado pode ser definido como um governo republicano estruturado de forma centralizada. Embora os três poderes tivessem sido preservados, a primazia era do Executivo. Já o Legislativo e o Judiciário foram divididos em diversas câmaras: Conselho de Estado, Tribunato, Corpo Legislativo e Senado. Após dez anos conturbados de Revolução, a França, que em 1789 já se encontrava em condições precaríssimas, enfrentava problemas financeiros e econômicos que afetavam a sociedade e suas instituições. Desse modo, o Consulado notabilizou-se como um período no qual o governo priorizou a reestruturação interna. O Consulado (1799-1804) O primeiro passo para restabelecer a ordem interna foi estabilizar as relações com as demais potências europeias. Aproveitando-se da sua superioridade militar, Napoleão Bonaparte conseguiu derrotar a Segunda Coligação, envolvendo diversas monarquias europeias que se opunham ao regime revolucionário francês, e assinou tratados de paz com a Inglaterra (Paz de Amiens) e a Áustria (Tratado de Lunéville). A interrupção das guerras, mesmo que temporária, possibilitou ao governo focar na política interna e nas reformas necessárias para reestruturar a economia da França. Ainda na seara diplomática, o Consulado, em 1801, restabeleceu as relações com a Igreja por meio da assinatura da Concordata entre Napoleão e o papa Pio VII. Esse acordo conferia ao Estado francês poderes sobre a Igreja e reconhecia a legitimidade dos confiscos das terras eclesiásticas promovidos pelo governo revolucionário. Em contrapartida, o Estado francês se declarava católico e instituía o ensino religioso nas escolas. O Consulado (1799-1804) No âmbito econômico, o Estado promoveu uma reforma tributária que, por meio da reestruturação da coleta de impostos, melhorou a capacidade de arrecadação e possibilitou maior controle do orçamento. Além disso, o Consulado criou o Banco da França, controlado pelo Estado, que tinha o monopólio sobre a emissão do franco, moeda nacional criada durante a Revolução. O novo padrão monetário unificou as diversas moedas que circulavam na França e contribuiu para o controle inflacionário da economia. Em 1803, o governo francês vendeu para os Estados Unidos o território da colônia da Luisiana. O valor pago foi de 15 milhões de dólares por um território que equivalia a 23% do território estadunidense. O propósito dessa venda era usar o dinheiro recebido para sanear as contas públicas e possibilitar a realização de obras de infraestrutura. A reestruturação financeira, a redução dos gastos militares e o dinheiro advindo da venda da Luisiana tornaram viáveis algumas obras públicas. O Consulado (1799-1804) Embora o estímulo ao comércio atendesse aos interesses da burguesia, o principal objetivo do governo era desenvolver a indústria francesa. Para isso, foi criada a Sociedade Francesa de Fomento à Indústria e ao Comércio, que fornecia créditos aos burgueses interessados em modernizar suas unidades produtivas. Outro foco da ação do primeiro-cônsul foi a construção de uma base interna de sustentação ao governo. Exemplo disso foi a libertação de presos políticos (jacobinos e monarquistas) que tinham sido condenados pelo Diretório. Contudo, ele continuou combatendo internamente uma possível contrarrevolução. Para difundir a ideologia de seu governo, Bonaparte reestruturou o ensino público com liceus (internatos) e escolas de ensino superior financiadas com verbas do Estado. O sistema bonapartista possibilitou a preparação de pessoas em grande sintonia ideológica com o governo, as quais ingressariam no serviço público civil e militar. O Consulado (1799-1804) Além disso, a Constituição de 1802 centralizou o poder nas mãos do primeiro- cônsul, que ficaria à frente do Poder Executivo por dez anos. Napoleão nomeava os ministros e os membros do Conselho de Estado, órgão que o auxiliava no governo. Ao Executivo ainda recaía a incumbência de elaborar listas com candidatos confiáveis, o que restringia as opções de voto nas eleições, que agora eram indiretas. Em 1804, o governo do Consulado promulgou o Código Civil napoleônico. Essa lei, que atualmente ainda é uma das mais importantes bases do Direito ocidental, ao lado do Direito romano, é um dos mais importantes legados do período napoleônico. O Código burguês, alcunha pela qual é também conhecido o Código napoleônico, regulamentava os direitos e deveres dos cidadãos. Ao instituir as liberdades fundamentais e a igualdade civil e, principalmente, ao regular o direito à propriedade privada e à liberdade econômica, o Código Civil tornou-se um importante símbolo da vitória da burguesia francesa na busca por um Estado que defendesse seus interesses, em oposição ao Antigo Regime. O Consulado (1799-1804) Vale destacar que, pelo Código Civil, era considerado um atentado contra a propriedade privada qualquer tipo de manifestação operária. A escravidão nas colônias foi restabelecida, e, por fim, as mulheres, conforme definido no Código, tiveram seus direitos restringidos. Ainda assim, é possivel concluir que, no curto período de cinco anos, o cônsul Napoleão Bonaparte conseguiu importantes feitos: consolidou o Estado francês dentro da ordem burguesa, pacificou o país, empreendeu um movimento de recuperação econômica e atendeu aos anseios de determinadas classes sociais, principalmente aos da burguesia. Em contrapartida, agiu de forma autoritária contra seus opositores, promovendo perseguições e prisões. Tais realizações garantiram a Bonaparte grande popularidade e prestígio. Seduzidos pelas promessas de um futuro de maiores glórias, os franceses, por meio de um plebiscito, aprovaram a nomeação de Napoleão como imperador da França, o que lhe daria poderes plenos. O Império (1804-1815) O sucesso das reformas dos primeiros anos de governo, somado à centralização de poderes e ao estrangulamento das oposições, garantiu a estabilidade interna na França. Desse modo, Napoleão Bonaparte centrou sua atenção nos assuntos internacionais, com o objetivo de expandir, por meio da força, os domínios franceses. Potências europeias que já vinham combatendo a França desde os primeiros anos da Revolução não deixaram de se mobilizar contra o governo napoleônico. Entre 1789 e 1815, foram formadas sete coligações entre Estados europeus para combater o governo francês. Os principais adversários envolvidos eram a Prússia, a Áustria e a Rússia, que, sendo Estados absolutistas, temiam os ideais franceses, e a Inglaterra, que, apesar de ter um governo liberal, combateu a França ao lado das demais potências. Pode-se analisar a postura inglesa por dois pontos de vista: apesar de ser liberal, a Inglaterra manteve a monarquia após uma curta e malsucedida experiência republicana (governo Cromwell); no âmbito econômico, pode-se destacar que o possível desenvolvimento industrial francês poderia configurar uma ameaça aos interesses comerciais ingleses, que, até então, não encontravam competidores no mercado. O Império (1804-1815) Em terra, as tropas napoleônicas tiveram enorme sucesso. Entre 1805 e 1807, Napoleão conseguiu importantes e contundentes vitórias diante dos inimigos. Em Ulm, Austerlitz, Jena e Friedland, russos, austríacos e prussianos foram derrotados. Essas vitórias asseguraram ao Império Napoleônico ganhos territoriais, além de ampliar o poder da família Bonaparte na Europa. Os irmãos de Napoleão foram entronados em outros Estados: Jerônimo, irmão mais jovem, tornou-se rei da Vestfália (região da atual Alemanha); Luís, mais velho que Jerônimo, foi rei da Holanda Seu filho, Napoleão III, se tornaria imperador da França posteriormente); José, mais velho que Napoleão, foi coroado rei de Nápoles (depois rei da Espanha). Luciano, outro irmão do imperador, não foi beneficiado por causa de desentendimentos prévios com Napoleão. A ascensão dos Bonaparte visava criar na Europa uma nova dinastia. O Império (1804-1815) À medida que ampliava os domínios de seu Império, Napoleão impunha o Código Civil. Essa foi uma importante estratégia para disseminar as práticas liberais e, sobretudo, derrubar a velha ordem no continente europeu. Porém, nos mares, a Real Marinha Britânica conseguiu confirmar sua superioridade. A derrota francesa na Batalha de Trafalgar (1805) frustrou os planos do imperador francês, que pretendia cruzar o canal da Mancha e subjugar a Grã-Bretanha, graças à estratégia de ataque traçada pelo vice-almirante Horatio Nelson, morto durante a batalha. (ver ilustração no livro, P.241) O fracasso da esquadra napoleônica levou o imperador a traçar um novo plano para derrotar os britânicos. Em 1806, assinou o Decreto de Berlim, que instituiu o Bloqueio Continental. A estratégia consistia em proibir, sob ameaça de invasão, os países europeus de realizar comércio com a Inglaterra. Assim, Napoleão pretendia enfraquecer seu adversário e tomar o mercado europeu para a França. Tal ação criava a possibilidade de um desejado desenvolvimento industrial para os franceses e, ao mesmo tempo, neutralizava o poderio econômico inglês. O Império (1804-1815) O Exército do Império Francês) invadiu o Império Russo em 1812 com cerca de 600 mil soldados. O propósito de Napoleão era assegurar o respeito ao Bloqueio Continental e evitar que os russos investissem contra o território polonês. Após uma série de vitórias iniciais, o exército napoleônico sofreu um grande revés na Batalha de Borodino. Napoleão, apesar de tomar o campo de batalha, não conseguiu destruir o exército russo, comandado por Mikhail Kutuzov. Os invasores seguiram em marcha para Moscou, que havia sido evacuada e incendiada pelos russos. As baixas do exército napoleônico não eram repostas, os alimentos eram escassos, e o inverno se aproximava. As táticas de guerrilha empreendidas pelos russos, a resistência dos camponeses e o frio dizimaram o exército invasor. Reduzidas a um grupo de aproximadamente 30 mil homens, as tropas napoleônicas bateram em retirada. Com o notório enfraquecimento do poderio militar francês, provocado pelas derrotas na Campanha Russa e pelas dificuldades encontradas na Guerra Peninsular, formou-se uma nova coligação contra Napoleão. O imperador já não era mais um mito imbatível nos campos de batalha, e a França já não tinha condições de almejar a hegemonia continental. O Império (1804-1815) Em Leipzig, no atual território da Alemanha, a Sexta Coligação conseguiu uma importante vitória contra Napoleão. A batalha envolveu cerca de 600 mil soldados, um recorde que se manteve até a Primeira Guerra Mundial. A vitória enfraqueceu ainda mais o já precário exército napoleônico e abriu caminho para que seus inimigos marchassem contra seu território. Paris foi tomada pelos russos em 6 de abril de 1814. Acuado, Napoleão Bonaparte assinou abdicação e partiu para o exílio em Elba (ilha no Mediterrâneo próxima à costa da Itália). O Império (1804-1815) Com o afastamento de Napoleão, os franceses testemunharam a restauração da dinastia Bourbon. Luís XVIII, irmão do falecido Luís XVI, foi entronado. Contudo, poucos meses depois de abdicar, Napoleão Bonaparte regressou de Elba e desembarcou na França para retomar o poder. Governou por mais cem dias, até que foi novamente derrotado pelos inimigos. Capturado em Waterloo, na Bélgica, foi enviado para o exílio na ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul. Napoleão Bonaparte viveu no exílio até a morte. Seu corpo foi devolvido à França e encontra-se, até hoje, abaixo da cúpula dourada do Hôtel des Invalides, local onde está situado o Museu do Exército. O rei Luís XVIII foi reconduzido ao trono. Apesar da derrota, Napoleão Bonaparte deixou um importante legado, disseminando os valores burgueses para além da Europa: suas ações também afetaram diretamente a América, pois as colônias ibéricas iniciaram suas lutas de independência graças às transformações políticas ocorridas no Velho Continente.