D04 - Ética e Cidadania 2ª PARTE A ÉTICA NO MUNDO MORAL E ÉTICA • ética vem do grego "ethos", e tem seu correlato no latim "morale", com o mesmo significado: Conduta, ou relativo aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral são palavras sinônimas. MORAL E ÉTICA • Enquanto a moral se define como o conjunto de valores, regras, normas que dirigem as ações dos indivíduos em sociedade, a ética se apresenta como uma reflexão crítica sobre a moralidade. A moral está sempre presente nas ações e relações dos indivíduos e grupos – não há sociedade que não estabeleça uma forma de conduta para seus membros. Temos uma conduta moral quando nos posicionamos em relação às imposições que nos traz a sociedade, dizendo sim ou não, obedecendo ou desobedecendo. Somos responsáveis – respondemos e nos comprometemos. (RIOS) A NECESSIDADE DA ÉTICA • A luta pela sobrevivência condenaria os homens ao auto-extermínio; • O Direito associado ao Estado cumprimento das normas éticas. A especificação do Direito fez a ética buscar refúgio no território do Ideal buscando a consciência da necessidade do respeito pessoal e da prevalência da solidariedade sobre a liberdade individual, ou, pelo menos, do equilíbrio entre elas SOBRE ÉTICA, EDUCAÇÃO E CIDADANIA • Grécia clássica: o encontro em praça pública de seus cidadãos para estabelecerem entre si, a partir do diálogo e da discussão, as deliberações éticas a serem assumidas por todos; • habitantes da polis regulavam a conduta de uns para com os outros e comprometiam-se categoricamente com sua observância • A ética, conjunto de normas resultantes dessa disposição, integrava-se, então, natural e necessariamente à política, espaço de convivência civilizada do conjunto dos habitantes da polis, ou seja, dos cidadãos. LIMITES DA CIDADANIA CLÁSSICA PARA O MUNDO CONTEMPORÂNEO • A inviabilidade da democracia direta; • A representatividade, infelizmente, jamais se colocou como a marca indelével das democracias ditas representativas. Apesar de sua fragilidade original – e insolúvel – a democracia representativa tende a ser assumida como a democracia, ideal absolutizado pela referência ao povo e à sua possibilidade de se tornar governante. Duas concepções de ética: a idealista e a histórica • Idealista: solidariedade tem um sentido universal e atemporal, derivado de sua condição de atributo natural da pessoa humana; • Histórica: que ela é construída parcial e diferenciadamente em função do tempo e do local em que se desenvolve; • Sem que se contemple o sofrimento alheio como o mal a ser evitado, nenhuma construção ética se sustenta no plano abstrato do conceito ou no plano concreto da história. Desde os primórdios até os dias atuais, a questão ética está centrada, necessariamente, na oposição entre o bem e o mal. CONCEPÇÃO IDEALISTA • pressuposto básico é o de que a conduta Moral (a ética posta em prática) será determinada pelo conhecimento e a observância de um dado conjunto de idéias de caráter eterno e universal; • As normas éticas teriam, assim, um caráter dedutivo, uma vez que decorreriam das idéias que as antecedem; • ciência é o território do é, a ética é o território do deve ser. CONCEPÇÃO HISTÓRICA • temporalidade e localidade dos conceitos; • refletem as determinações e os conflitos dos locais e do tempo em que se elaboram; • muitos desses conceitos não possuem significação unívoca; • Ex. Para o capital e o capitalista, produtividade significa aumento da quantidade de produtos em um mesmo tempo de trabalho. Para o trabalho e o trabalhador produtividade significa ou deveria significar manutenção da quantidade de produtos em um menor tempo de trabalho A ÉTICA NA HISTÓRIA • Sócrates: pensamento abstrato sobre a ética; • Platão: qualidade do sábio, pois apenas pelo conhecimento se chega a razão e ao controle das iras e desejos, logo, a ser éticos. Para compensar os defeitos humanos Zeus nos deu o senso ético; • Aristóteles: delimitar o bom e o ruim para o homem, sendo que a dualidade corpo-mente se arquiteta como o principio basilar de seu sistema teórico. A ÉTICA NA HISTÓRIA • Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas, das reais enquanto são e das não reais enquanto não são; • Epicuro: felicidade se encontra no prazer moderado,no equilíbrio racional entre as paixões e sua satisfação, fundando assim o hedonismo; • Santo Agostinho: reflexão sobre o bem e o mal tomaram boa parte de seus estudos teóricos e filosóficos; Maquiavel • Maquiavel: revolucionou o conceito de ética uma vez que promove a independência da política em relação à moral, cuja máxima residia em tirar o máximo proveito possível de determinada situação. Neste universo os fins justificam os meios, sendo que o propósito do homem não era ser bom, mas alcançar a felicidade e o poder a qualquer custo, mesmo que este custo passasse às vezes pelo aniquilamento da diferença, do outro. Hobbes • Homem essencialmente mau, precisando de um sistema coercitivo material e espiritual para controlar seus impulsos. Logo, a ética de Hobbes tinha como única função o controle e o policiamento dos homens a fim de que estes não se digladiassem por quaisquer motivos fúteis. • “Por que os homens devem atuar de outra forma que não seja em função de seu próprio proveito imediato?” Kant • “por natureza somos egoístas, ambiciosos, agressivos, destrutivos, cruéis ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos ,roubamos, et.”, e, por isso, a necessidade premente de uma ética que estabeleça um conjunto de valores que condicione os seres humanos favoravelmente a existência da própria coletividade. (1980) Imperativo categórico • Cada um de nós é um agente moral autônomo, entregue apenas à autoridade da razão e sem a presença de nenhuma autoridade externa, nem mesmo divina, capaz de proporcionar um critério objetivo para a moralidade. A ética kantiana "faz do indivíduo o soberano moral; torna-o capaz de rejeitar todas as autoridades externas. Deixa o indivíduo livre para perseguir tudo aquilo que ele quiser, sem sugerir que ele deve fazer outra coisa. Mapa da Viagem • No processo de redemocratização do Brasil a cidadania virou gente; • Havia a crença de que a democratização das instituições traria rapidamente a felicidade nacional; • problemas centrais de nossa sociedade, como a violência urbana, o desemprego, o analfabetismo, a má qualidade da educação, a oferta inadequada dos serviços de saúde e saneamento, e as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem solução, ou se agravam, ou, quando melhoram, é em ritmo muito lento Cidadania • O exercício de certos direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o gozo de outros, como a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existência de governos atentos aos problemas básicos da população. Dito de outra maneira: a liberdade e a participação não levam automaticamente, ou rapidamente, à resolução de problemas sociais. Cidadania plena • Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico. Direitos civis • são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar- se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular. São direitos cuja garantia se baseia na existência de uma justiça independente, eficiente, barata e acessível a todos. São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a própria existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do capitalismo. Sua pedra de toque é a liberdade individual. • Sua pedra de toque é a liberdade individual direitos políticos • Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver direitos civis sem direitos políticos, o contrário não é viável. • Sua essência é a idéia de autogoverno direitos sociais • Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Em tese eles podem existir sem os direitos civis e certamente sem os direitos políticos. Podem mesmo ser usados em substituição aos direitos políticos. Mas, na ausência de direitos civis e políticos, seu conteúdo e alcance tendem a ser arbitrários. • A idéia central em que se baseiam é a da justiça social. Várias dimensões da cidadania • T.A.Marshall: a cidadania, se desenvolveu na Inglaterra com muita lentidão. Primeiro vieram os direitos civis, no século XVIII. Depois, no século XIX, surgiram os direitos políticos. Finalmente, os direitos sociais foram conquistados no século XX. Segundo ele, não se trata de seqüência apenas cronológica: ela é também lógica. Foi com base no exercício dos direitos civis, nas liberdades civis, que os ingleses reivindicaram o direito de votar, de participar do governo de seu país. A participação permitiu a eleição de operários e a criação do Partido Trabalhista, que foram os responsáveis pela introdução dos direitos sociais. Educação popular • Ela é definida como direito social mas tem sido historicamente um pré-requisito para a expansão dos outros direitos. Nos países em que a cidadania se desenvolveu com mais rapidez, inclusive na Inglaterra, por uma razão ou outra a educação popular foi introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política. A cidadania é um fenômeno histórico • O percurso inglês foi apenas um entre outros. A França, a Alemanha, os Estados Unidos, cada país seguiu seu próprio caminho; • Brasil duas diferenças importantes: • maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros; • alteração na seqüência em que os direitos foram adquiridos: entre nós o social precedeu os outros Desenvolvimento da cidadania no contexto do Estado-nação • Em geral, a identidade nacional se deve a fatores como religião, língua e, sobretudo, lutas e guerras contra inimigos comuns. A lealdade ao Estado depende do grau de participação na vida política; • A maneira como se formaram os Estados-nação condiciona assim a construção da cidadania. Em alguns países, o Estado teve mais importância e o processo de difusão dos direitos se deu principalmente a partir da ação estatal. Em outros, ela se deveu mais à ação dos próprios cidadãos Crise do Estado-nação • A internacionalização do sistema capitalista, iniciada há séculos mas muito acelerada pelos avanços tecnológicos recentes, e a criação de blocos econômicos e políticos têm causado uma redução do poder dos Estados e uma mudança das identidades nacionais existentes; • A redução do poder do Estado afeta a natureza dos antigos direitos, sobretudo dos direitos políticos e sociais. A cidadania na encruzilhada • a excessiva valorização do Poder Executivo; • Patrimonialismo: O Estado é sempre visto como todo-poderoso, na pior hipótese como repressor e cobrador de impostos; na melhor, como um distribuidor paternalista de empregos e favores. A ação política nessa visão é sobretudo orientada para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação da representação Patrimonialismo • Na sociologia weberiana correspondia a um tipo de dominação política tradicional caracterizada pelo fato do soberano organizar o poder político de forma análoga a seu poder doméstico (Ricardo Vélez Rodríguez. Oliveira Vianna e o poder modernizador do estado brasileiro. Londrina: Ed. UEL, 1997. p. 22). Esta forma de exercício da autoridade sofre modificações ao longo da história. De uma perspectiva puramente histórica, tanto é possível que ela evolua em direção à formas de governo que adotam a democracia representativa, quanto simplesmente modernizem a administração burocrática sem caminhar neste sentido. Desvalorização do Legislativo • As eleições legislativas sempre despertam menor interesse do que as do Executivo. A campanha pelas eleições diretas referia-se à escolha do presidente da República, o chefe do Executivo. Dificilmente haveria movimento semelhante para defender eleições legislativas. Nunca houve no Brasil reação popular contra fechamento do Congresso Globalização em ritmo acelerado • O foco das mudanças esta localizado em dois pontos: a redução do papel central do Estado como fonte de direitos e como arena de participação, e o deslocamento da nação como principal fonte de identidade coletiva. Dito do outro modo, trata-se de um desafio à instituição do Estado-nação. A redução do papel do Estado em benefício de organismos e mecanismos de controle internacionais tem impacto direto sobre os direitos políticos Corporativismo • A distribuição dos benefícios sociais por cooptação sucessiva de categorias de trabalhadores para dentro do sindicalismo corporativo achou terreno fértil em que se enraizar. Os benefícios sociais não eram tratados como direitos de todos, mas como fruto da negociação de cada categoria com o governo. A sociedade passou a se organizar para garantir os direitos e os privilégios distribuídos pelo Estado. • [De corporativo + -ismo.] S. m. 1. Doutrina e/ou prática de organização social com base em entidades representativas dos interesses de categorias profissionais: O Estado novo de Vargas inspirou-se no corporativismo fascista. 2. Ação (sindical, política, etc.) em que prevalece a defesa dos interesses ou privilégios de um setor organizado da sociedade, em detrimento do interesse público Queda do mito da infalibilidade da razão
• Horror das duas grandes guerras, mortes em
massa, perseguição de grupos étnicos, políticos, religiosos por parte do Estado; • explosão das bombas atômicas no Japão; • Perseguições políticas durante o “american way of life”; • Descolonização traumática dos países asiáticos e africanos. Fale Comigo • Biografia de Ralph “Petey” Greene, um dos combatentes menos conhecidos na luta contra a segregação racial nos EUA. Ex-condenado, nos anos 60, ele foi o primeiro grande astro afro-americano do rádio a usar o veículo como um meio de defender os direitos humanos de sua comunidade. Sediado na emissora WOL de Washington, é claro que ele usou a crescente popularidade do Rythm & Blues para difundir suas propostas ideológicas. Ficha técnica • Fale Comigo • Talk to Me • (2007 - EUA) • Direção Kasi Lemmons • Com Don Cheadle, Taraji P. Henson, Chiwetel Ejiofor, • Martin Sheen e Cedric the Enterteiner. A NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA • A “não-violência” é uma atitude frente à vida cuja característica fundamental é a rejeição e o repúdio a todas as formas de violência. • A rejeição e o vazio ante as diferentes formas de discriminação e violência. • A não-colaboração com as práticas violentas. • A denúncia de todos os feitos de discriminação e violência. • A desobediência civil frente à violência institucionalizada • A organização e mobilização social com base no trabalho voluntário e na ação solidária de quem a impulsiona REINVENTAR A CIDADANIA PARA O BEM DE TODO O CORPO SOCIAL • Educação e cidadania se identificam e se definem mutuamente. A tarefa da educação é viabilizar a cidadania; a tarefa da cidadania é viabilizar a educação. A integração das tarefas e sua materialização serão, então, determinadas pelo imperativo categórico da ética. Mas, de qual ética estamos falando e como imaginamos que essa ética possa ser construída ou recuperada? CIDADANIA • Educação e cidadania se identificam e se definem mutuamente. A tarefa da educação é viabilizar a cidadania; a tarefa da cidadania é viabilizar a educação. A integração das tarefas e sua materialização serão, então, determinadas pelo imperativo categórico da ética. Mas, de qual ética estamos falando e como imaginamos que essa ética possa ser construída ou recuperada? Cidadania • consciência moral que as pessoas têm de reagir ao certo e ao errado, a introjeção dos direitos e dos deveres de que são portadoras, estaremos reconhecendo a necessária interligação entre elas. A cidadania se sustenta em sua dimensão ética, assim como a educação; a ética se expressa pelos juízos de valor que a educação lhe permite formular; a educação se propõe a produzir a humanidade de todos a partir da produção da humanidade de cada um, ou seja, propõe- se a produzir a cidadania universal.