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Crescimento Econômico

Reginaldo Nogueira

reginaldo.nogueira@fjp.mg.gov.br
Bibliografia básica e Avaliações
 Leitura Básica:
 Charles Jones: Introdução à teoria do crescimento econômico, Campus.
 Gregory Mankiw: Macroeconomia, LTC.
 Olivier Blanchard: Macroeconomia, Campus.
 Lopes e Vasconcellos: Manual de Macroeconomia, Atlas.

 Avaliações:
 Primeira prova, dia 23/09 (35 pontos)
 Segunda prova, dia 21/10 (30 pontos)
 Prova final, dia 18/11 (35 pontos)

 Freqüência:
 Administrem suas faltas, pois não há negociação sobre isso
 Como essa disciplina possui apenas 30 horas, vocês podem ter apenas 7 faltas (3 dias e
“meio”), mas como cada dia faltoso dá um total de 2 faltas, vocês somente podem
perder 3 aulas
 Saibam escolher bem os dias de falta.
Fatos estilizados sobre o
crescimento econômico
 Bibliografia sugerida:
 Olivier Blanchard (1999, capítulo 22)
 Fontes de dados:
 http://www.cia.gov
 http://www.ipeadata.gov.br
 http://pwt.econ.upenn.edu
Questões que queremos responder
 O que determina aumentos da renda per capita no longo
prazo (ou seja, desconsiderando-se as flutuações
econômicas)? Por que essa tendência de crescimento
varia?

 Por que alguns países crescem mais rapidamente do que


outros? Por que alguns países são ricos e outros são
pobres?

 Qual a contribuição dos fatores de produção (capital e


trabalho) e da eficiência produtiva sobre o crescimento?
Crescimento: um fenômeno novo
Crescimento: um fenômeno desigual
PIB de países selecionados (Bi US$)
1. Estados Unidos 13.840
2. China 6.991
3. Japão 4.290
4. Índia 2.989
5. Alemanha 2.810
6. Reino Unido 2.137
7. Rússia 2.088
8. França 2.047
9. Brasil 1.836
10. Itália 1.786
Papel dos BRIC na economia mundial
1. BRIC 13.904
2. Estados Unidos 13.840
3. China 6.991
4. Japão 4.290
5. Índia 2.989
6. Alemanha 2.810
7. Reino Unido 2.137
8. Rússia 2.088
9. França 2.047
10. Brasil 1.836
11. Itália 1.786
PIB per capita países selecionados
 Estados Unidos 45.800
 Reino Unido 35.100
 Alemanha 34.200
 Japão 33.600
 França 33.200
 Itália 30.400
 Rússia 14.700
 Brasil 9.700
 China 5.300
 Índia 2.700
PIB per capita Brasileiro (escala logarítima)
8000
7000
6000
5000
4000

3000
Milagre

2000
Décadas “perdidas”

1000
800
700
600
500
400

300
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Importância do crescimento econômico
 Crescimento econômico no longo prazo determina o
nível de vida/renda de um país
 É o grande objetivo da política econômica, aliado às
considerações de igualdade
 Crescimento possibilita a geração de empregos
 Um aumento de 10% na renda é associada com um
decréscimo de 6% na mortalidade infantil
 Aumento da renda reduz a pobreza
 Nos anos 70 a pobreza no Brasil caiu de 68% para 35%
Renda e mortalidade infantil
(Banco Mundial, 1995)
140
Mortalidade infantil (por mil)

120
100
80
60
Linha de tendência
Linha de tendência
40
20
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
Renda per capita
Renda e expectativa de vida
(Banco Mundial, 1995)

80
Expectativa de vida em anos

75

70
65
60
Linha de tendência
55
50
45
40
0 2000 4000 6000 8000
Renda per capita
Renda e analfabetismo
(Banco Mundial, 1995)
80
70
A n a lfa b e tis m o

60
50
40 Linha de tendência
30
Linha
Linha
de tendência
de tendência
20
10
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
Renda per capita
Renda e felicidade
(Graham e Prettinato, 2002)
% de pessoas que se dizem felizes

100
90
80
70
60
50
Linha de tendência

40
30
20
10
0
0 5000 10000 15000 20000
Renda per capita
“Regra do 70”
 Se o PIB de um país cresce a uma taxa de x%
ao ano, então serão necessários 70/x anos para
que ele dobre
 Assim;
 Crescendo 2,5% ao ano são precisos 28 anos
 Crescendo 5,5% ao ano são precisos 13 anos
 Crescendo 10% ao ano são precisos 7 anos
“Regra do 70”
 Pequenas diferenças nas taxas médias de
crescimento podem levar a enormes diferenças na
renda per capita ao longo dos anos

 Imagine dois países partindo do mesmo nível de


renda
 Se o país A crescer a uma taxa média de 2% ao ano, e o
país B crescer a uma taxa de 4% ao ano…
 Em 20 anos o país B será 50% mais rico que o país A!
 Em 50 anos o país B será 170% mais rico!
Comparação: Argentina e França
Argentina França
20000

10000
0
8000
7000
6000
5000
4000

3000

2000

1000
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
PIB per capita Europa Ocidental e China

1500 1820 1950 2001

Europa 771 1,204 4,579 19,256


China 600 600 439 3,583

*Em dólares de 1990


Taxa de crescimento do PIB Brasileiro
DLBrasil
0.150

0.125

0.100

0.075 2,5% a.a.


10% a.a.
0.050

0.025
6% a.a.
0.000

-0.025

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Taxas de crescimento para o Brasil
(Maddison, 2001)

Crescimento Crescimento Crescimento PIB


Populacional PIB per capita
1500-1820 0.47 0.62 0.15
1821-1890 1.65 1.95 0.30
1891-1929 2.18 3.13 0.92
1930-1980 2.62 5.72 3.03
1981-1993 1.87 1.48 -0.39
1994-2000 1.38 3.05 1.65
Fatos estilizados sobre crescimento
(Nicholas Kaldor, 1961)
1. K/N e Y/N crescem ao longo do tempo
 Intensidade no uso do capital por trabalhador e renda per capita crescem ao longo do
tempo

2. K/Y (razão capital-produto) é relativamente constante


 K e Y crescem a taxas semelhantes no longo prazo

3. A taxa de retorno sobre o investimento é mais ou menos constante


 Como a relação K/Y é mais ou menos constante (pois ambos crescem a taxas
semelhantes), o retorno sobre K é relativamente constante

4. Os salários crescem ao longo do tempo


 Aumentos de produtividade são repassados aos salários

5. As proporções de K e N na renda são mais ou menos constantes


 Como renda, produtividade e salários crescem, as proporções de K e N no produto se
mostram relativamente constantes
Razão capital-produto (K/Y)

1913 1950 1973 1998

France n.a. 1.4 1.1 2.1


Germany n.a. 1.4 1.3 2.0
Japan 0.9 1.0 2.6 2.4

UK 0.8 0.8 1.3 1.1


USA 3.3 2.4 1.5 1.3
Novos fatos estilizados sobre o crescimento
(Charles Jones e Paul Romer, 2009)
1. Aumento da importância do mercado
 Urbanização e globalização aumentaram a importância do mercado para as populações

2. Aumento nas taxas de crescimento


 As taxas de crescimento aumentaram ao longo dos anos, em especial após 1800

3. Variações nas taxas de crescimento


 As taxas de crescimento variam muito entre países de acordo com suas distâncias da fronteira
tecnológica

4. Grandes diferenças de renda e produtividade


 Diferenças na produtividade do trabalho explicam mais da metade das diferenças de renda

5. Maior capital humano


 O capital humano tem aumentado espetacularmente ao redor do mundo

6. Relativa estabilidade dos salários relativos no longo prazo


 O aumento da oferta de mão-de-obra qualificada em relação à mão-de-obra menos qualificada não
tem se traduzido em quedas no seu preço relativo
Modelo de Harrod-Domar
 Bibliografia: Lopes e Vasconcellos (1998, capítulo 12)
 Tópicos:
 Efeito demanda do investimento
 Efeito capacidade do investimento
 Solução do modelo
 Comentários e exemplos
Modelo Harrod-Domar
 O modelo Harrod-Domar , ou modelo
Keynesiano de crescimento, é o tradicional
ponto de partida da literatura sobre
crescimento econômico
 Ele foi desenvolvido independentemente por
Harrod, em 1939, e Domar, em 1947, que
encontrou os mesmos resultados que Harrod
usando um método diferente
Modelo Harrod-Domar
 O modelo parte do princípio de que um
aumento do investimento possui dois efeitos
distintos sobre a economia:
 Efeito demanda: maior investimento resulta em
aumento da demanda agregada
 Efeito capacidade: maior investimento resulta em
um aumento da capacidade de produção e,
portanto, da oferta agregada.
O modelo
 Considere o modelo Keynesiano simples para
uma economia fechada e sem governo:
Ye = C + I (1)
C = cYe (2)
 Onde:
 Ye = produto efetivo
 C = consumo
 I = investimento
 c = propensão marginal a consumir
O modelo
 Substituindo (2) em (1):
Ye = cYe + I (3)
Ye – cYe = I (4)
Ye(1-c) = I (5)
Ye = (1/(1-c))I (6)
 Onde
 1/(1-c) é o multiplicador Keynesiano.
Efeito demanda do investimento
 Tomando diferenças (t+1 - t) temos:
∆Ye = (1/(1-c)) ∆I (7)
 Onde:
 ∆Ye é a diferença do produto efetivo de um período para outro
 ∆I é a diferença do investimento de um período para outro.
 Note que (1-c) é a chamada propensão marginal a
poupar, ou taxa de poupança da economia. Nesse
caso, devido à famosa relação macroeconômica de
que I = S, temos:
∆Ye = (1/s) ∆I (8)
Efeito demanda do investimento
 A equação (8) sintetiza o efeito demanda do
investimento na economia. Note que quanto
menor s, maior o efeito do aumento do
investimento sobre o aumento da demanda
efetiva (quanto maior a taxa de poupança,
mais de cada unidade de renda irá “vazar” do
fluxo circular de renda, gerando menores
aumentos de demanda)
Efeito capacidade do investimento
 Considere agora que variações do produto potencial (Yp) são
resultado de variações no estoque de capital da economia:
∆Yp = µ∆K (9)
 Onde µ é a relação produto-capital [µ=(Yp/K)], que representa
quantas unidades do produto podem ser produzidas por uma unidade
de capital
 Note que neste modelo supõe-se que a produtividade do
capital, ou relação capital-produto é constante
 Por definição, sabe-se que ∆K = I, ou seja, investimento é
igual à variação do estoque de capital. Assim:
∆Yp = µI (10)
Efeito capacidade do investimento
 A equação (10) sintetiza o efeito capacidade do
investimento agregado sobre o crescimento do
produto potencial

 Como sugerido anteriormente, maiores


investimentos aumentam a capacidade produtiva. Ao
mesmo tempo, dado que [µ=(Yp/K)], percebe-se que
quanto maior o estoque de capital K da economia,
menor será µ. Isso significa que quanto maior a
proporção de capital na produção, menor o impacto
de investimentos sobre o produto potencial.
Efeito capacidade do investimento
 Visto de outra forma: em países pobres e com
pouco capital usado na produção, qualquer
aumento no investimento, por menor que seja,
possui um forte impacto em aumento da
oferta. Por outro lado, em países ricos e com
grande estoque de capital, investimentos
possuem efeito limitado no aumento da
produção.
A solução do modelo
 Como a cada período ocorrem investimentos, no
período seguinte tem-se um aumento da capacidade
produtiva. Tal efeito pode resultar em um aumento
da capacidade ociosa da economia, ou seja, a
capacidade produtiva será maior que a demanda.
Para que isso não ocorra é preciso que haja um
aumento equilibrado de Yp e Ye. Em outros termos,
deve haver equilíbrio entre o efeito demanda e o
efeito capacidade do investimento.
∆Yp = ∆Ye (11)
A solução do modelo
 Na equação (8) vimos que:
∆Ye = (1/s) ∆I
 E na equação (10) definimos ∆Yp como:
∆Yp = µI
 Neste caso o crescimento equilibrado ocorre quando:
(1/s) ∆I = µI (12)
 Multiplicando ambos os termos por s:
((1/s) ∆I )s = (µI)s (13)
∆I = sµI (14)
(∆I/I) = sµ (15)
A solução do modelo
 Fazendo ∆Yp = ∆Ye = ∆Y = µI (lembre-se da
equação 10). Lembrando que S = I, e sabendo que S
= sY (no que também I = sY), encontramos:
∆Y = µI (16)
∆Y = µsY (17)
(∆Y/Y) = sµ (18)
 Assim, para termos crescimento equilibrado (para
que Yp seja igual a Ye), evitando crescimento da
capacidade ociosa, é preciso que:
(∆Y/Y) = (∆I/I) = sµ (19)
A solução do modelo
 Ou seja, a taxa de crescimento do investimento e a
taxa de crescimento do produto devem ser iguais à
taxa de poupança da economia vezes a produtividade
do capital (relação produto-capital).
 Por exemplo, suponha uma taxa de poupança de
20% e uma relação produto-capital igual a 0,3 (ou
seja, são precisos 3 unidades de capital para se
produzir 1 unidade do produto), a taxa de
crescimento do investimento e do produto será igual
a 0,2 x 0,30 = 0,06. Portanto, nesse caso, o
crescimento será igual a 6%.
Comentários
 É importante perceber que um declínio da relação produto-
capital é esperado quando uma economia avança de um
estágio rural para um maior grau de industrialização
 Nesse caso, para manter a taxa de crescimento anterior será
preciso elevar a taxa de poupança.
 Suponha que no exemplo anterior a relação produto-capital
caia de 0,3 para 0,2
 Ou seja, passam a ser necessárias 5 unidades de capital para se
produzir uma única unidade de produto, enquanto no período anterior
eram necessárias apenas 3 unidades de capital
 Para que o crescimento de 6% seja mantido é preciso agora
que a taxa de poupança passe de 20% para 30%.
Comentários
 Isso explicaria porque países ricos crescem
menos do que países pobres, e porque a China
tem crescido tanto ultimamente
 Um país rico com uma relação produto-
capital de 0,1 e uma taxa de poupança de
20%, cresceria 2%. A China, por sua vez,
ainda em processo de industrialização, com
uma relação produto-capital de 0,4 e uma taxa
de poupança maior, de 30%, cresceria 12%
Taxa de poupança Chinesa
40

35

30

25

20

15

10
Taxa de crescimento Chinesa
20

15

Média móvel de 10 anos


10

-5

-10

-15

-20
Desaceleração do crescimento
Brasileiro (Bacha e Bonelli, 2005)
Taxa de poupança Brasileira (Bacha e
Bonelli, 2005)
Relação produto-capital Brasileira
(Bacha e Bonelli, 2005)
Modelo de Solow
 Bibliografia
 Mankiw (1997, capítulo 4)
 Jones (1997, capítulo 2)
 Blanchard (1999, capítulo 23)
 Lopes e Vasconcellos (1998, capítulo 12)
Modelo de Solow
 Até agora desenvolvemos um modelo de
crescimento (Harrod-Domar) baseado na
acumulação de capital (investimento)
 Segundo esse modelo a taxa de crescimento de um país
depende da taxa de poupança e da relação produto-capital

 Nas próximas aulas iremos discutir um modelo de


crescimento que apresenta conclusões
diametralmente opostas: o crescimento de longo
prazo não se dá através da acumulação de capital,
mas através de progressos técnicos
Modelo de Solow
 Essas conclusões são obtidas pelo modelo de Solow,
ou modelo neoclássico de crescimento, assim
chamado em homenagem ao economista Robert
Solow, ganhador do prêmio Nobel de economia

 O modelo de Solow é um grande paradigma da


ciência econômica, sendo largamente usado em
política econômica e como base para modernos
estudos sobre teoria do crescimento
O modelo
 Comecemos analisando a relação entre o produto agregado e
os insumos de produção
 Para tanto considere que o produto dependa de dois insumos
básicos, capital e trabalho:

Y = F(K,N) (1)

Onde Y = produto
F = tecnologia
K = capital
N = trabalho
Tecnologia
 Como a função F é relacionada com o estado da
tecnologia, quanto maior a tecnologia, maior F(K,N)
para valores constantes de K e N

 No que diz respeito à definição de tecnologia:


 Em um sentido mais restrito, pense em tecnologia como uma
“lista” de todos os produtos que podem ser produzidos, com
suas respectivas técnicas de produção
 Em um sentido mais abrangente, pense também na maneira
como as empresas são geridas, no grau de sofisticação dos
mercados, no sistema de leis, no ambiente político, etc.
O modelo
 Assuma agora que a função F(K,N) possui
rendimentos constantes de escala
 Em termos práticos isso significa que se as
quantidades de capital e trabalho forem
dobradas, a produção também será dobrada
 De maneira geral, temos:

xY = F(xK,xN) (2)
O modelo
 Nesse caso temos que se K e N forem multiplicadas
por um número x, o produto Y também será
multiplicado por x.
 Mas o que acontece se K aumentar e N ficar
constante, ou vice versa?
 Nesse caso temos retornos decrescentes
 Isso significa que se a quantidade de capital for fixa, os
ganhos por aumento de trabalho são decrescentes
 Por outro lado, se o trabalho for fixo, os ganhos por
aumento de capital são decrescentes
Retornos constantes em F(K,N)
Y  Se aumentarmos as
quantidades de capital
e trabalho em 1
unidade cada, o
produto também
aumentará em 1
unidade

K, N
Retornos decrescentes em K e N
tomados isoladamente
Y  Mantendo N constante,
aumentos de K levam a
aumentos decrescentes do
produto
 O mesmo ocorre se
aumentarmos N e
mantivermos K constante
 F’>0 e F’’<0
 Primeira derivada de F é
positiva e segunda derivada
K
é negativa
O modelo
 Para facilitar nossa análise, vamos transformar nossa função
de produção em uma função de produto por trabalhador.
Para isso considere que o x que multiplica a equação (2) é
igual a 1/N. Assim:

(3)
1 1 1 
Y  F  K, N 
N N N 

(4) Y  K 
 F ,1
N  N 
Onde Y/N = produto por trabalhador
K/N = capital por trabalhador
O modelo
 Desta forma a equação (4) indica que o produto por
trabalhador é uma função do capital por trabalhador
 Para facilitar, considere que letras minúsculas
representam “por trabalhador”

y = f(k,1) (5)

y = f(k) (6)

 Que representa a mesma coisa que a equação (4).


A função de produção
y  No que se confirma
que o capital possui
rendimentos
y = f(k)
decrescentes
 Aumentos iguais de
capital levam a
aumentos cada vez
menores do produto

k
Acumulação de capital
 Considere agora que a demanda é dada pela
equação:
y = c + i (7)

 Que se trata de uma economia fechada e sem


governo. Onde mais uma vez letras minúsculas
se referem às variáveis “por trabalhador” (ou
seja, y = Y/N, etc.)
Acumulação de capital
 Considere agora que o consumo por
trabalhador segue a equação:

c = (1-s)y (8)

Onde (1-s) = propensão marginal a consumir


s = taxa de poupança
Acumulação de capital
 Substituindo (8) em (7), temos:
y = (1-s)y + i (9)
y = y –sy + i (10)
y – y + sy = i (11)
i = sy (12)
 Como y = f(k) e i = sy, temos que:
i = sf(k) (13)
Produto, consumo e investimento
y  A equação (13)
mostra que
y = f(k) tanto o produto
(y) quanto o
consumo
i = sf(k) investimento (i)
são uma função
produto

do nível de
investimento
capital (k)
k
Acumulação de capital
 Para tornar o modelo mais realista é preciso
considerar que o estoque de capital de uma
economia se deprecia todos os anos a uma
taxa δ
 Por exemplo, suponhamos que a taxa de
depreciação é de 5% ao ano. Nesse caso todos
os anos seria preciso investir 5% de k para
que ele se mantenha constante (para que não
diminua)
Depreciação
δk  Assim, temos que a
δk depreciação é uma
função constante de k
 Quanto maior o
estoque de capital,
maior o capital
depreciado, e portanto
mais investimento será
necessário para repô-lo
k
Variação do estoque de capital
 Podemos, agora, expressar a variação do estoque de capital
de uma economia com base em duas forças antagônicas: o
investimento e a depreciação
 O investimento aumenta o estoque de capital, ao passo que a
depreciação o reduz

∆k = i - δk (14)

 Como i = sf(k), podemos reescrever a equação:

∆k = sf(k) - δk (15)
Acumulação de capital
 Essa equação identifica claramente que a variação do
estoque de capital de um período para o outro
depende do investimento e da depreciação do capital
corrente
 Essa equação é fundamental para o modelo de
Solow, pois ela determina o comportamento do
capital no tempo
 O capital, por sua vez, irá determinar os níveis
 do produto y = f(k)
 do investimento i=sf(k)
 e do consumo c=(1-s)f(k)
O estado estacionário
 O estado estacionário é o equilíbrio de longo prazo da
economia
 Para compreender o que significa esse estado, imagine uma
situação na qual o investimento é suficiente apenas para
cobrir a depreciação:

sf(k) = δk (16)

 Ou seja, o estoque de capital por trabalhador é constante:

∆k = 0 (17)
O estado estacionário
y
 Esse valor
constante,
denotado por k*, é
y = f(k)
chamado de
y* estoque de capital
δk
de estado
i = sf(k)
estacionário
 Ele determina a
renda por
trabalhador no
estado
k estacionário (y*)
k*
Convergência para o estado estacionário
 Como podemos garantir que a economia irá
convergir para o estado estacionário?
 Suponha que o estoque de capital inicial (k) é menor
do que o do estado estacionário (k*)
 Nesse caso o investimento é maior do que a depreciação e
o estoque de capital irá crescer até alcançar k*
 Suponha que o estoque de capital inicial (k) é maior
do que o do estado estacionário (k*)
 Agora, o investimento é menor do que a depreciação, e
com o tempo o estoque de capital irá se reduzir até k*
Convergência para o estado estacionário
 Observe que o
y
estoque de capital
inicial k é menor
y = f(k) do que k*
y*
δk
 Com esse nível de
y capital o
i = sf(k) investimento é
maior do que a
depreciação,
i > δk fazendo com que
o estoque de
capital aumente ao
k longo do tempo
k < k*
Convergência para o estado estacionário
δk
sf(k) = δk
i = sf(k)
sf(k) > δk

∆k

sf(k)

δk

k
k k*
Convergência para o estado estacionário
 Observe que o
y
estoque de capital
inicial k é maior
y
y = f(k) do que k*
δk  Com esse nível de
y*
i < δk
capital o
i = sf(k) investimento é
menor do que a
taxa de
depreciação,
fazendo com que
o estoque de
k capital se reduza
k* < k ao longo do tempo
Convergência para o estado estacionário
sf(k) < δk δk

∆k
sf(k) = δk
i = sf(k)

δk
sf(k)

k
k* k
Crescimento e acumulação de capital no
Brasil (Bacha e Bonelli, 2005)
Acumulação de fatores e crescimento na
Europa no pós-Guerra
Ano que PIB era igual Ano que alcançou PIB
ao do final da Guerra anterior à Guerra
Áustria 1886 1951
Bélgica 1924 1948
Dinamarca 1936 1946
Finlândia 1938 1945
França 1891 1949
Alemanha 1908 1951
Itália 1909 1950
Holanda 1912 1947
Noruega 1937 1946
Exemplo numérico
 Função de produção: Y = F(K½ , N ½)
 Como fizemos antes, dividimos tudo por N, e
usamos letras minúsculas para identificar
unidades “por trabalhador”: y = f(k½)
 Assuma:
 s = 0,3
 δ = 0,1
 k inicial = 4,0
Exemplo numérico
Ano k y c i δk ∆k
1 4,000 2,000 1,400 0,600 0,400 0,200
2 4,200 2,049 1,435 0,615 0,420 0,195
3 4,395 2,096 1,467 0,629 0,440 0,189
... ... ... ... ... ... ...
10 5,602 2,367 1,657 0,710 0,560 0,150
... ... ... ... ... ... ...
100 8,962 2,994 2,096 0,898 0,896 0,002
... ... ... ... ... ... ...
∞ 9,000 3,000 2,100 0,900 0,900 0,000
Solução para longo prazo
 Para encontrar a solução para o longo prazo,
basta que usemos a equação de acumulação
de capital ∆k = sy - δk
 Sabemos que no estado estacionário, ∆k = 0
 Então, sy = δk
 No nosso exemplo, 0,3k½ = 0,1k
 Resolvendo, achamos 3 = k½
 Logo, k = 9, do que achamos y = 3
Efeito do aumento da taxa de poupança
y
 Um aumento na
taxa de poupança
de s para s’, eleva
y = f(k)
y**
o investimento,
δk fazendo com que o
y*
i = s’f(k) estoque de capital
cresça até chegar
i = sf(k) ao novo estado
estacionário (k**),
aumentando o
produto por
k trabalhador
k* k**
Evidência internacional das taxas de poupança e
renda per capita (Mankiw, 1992)

40
% poupança (média 1960-1992)

35
30
25
20
Linha de tendência
15
10
5
0
0 5000 10000 15000 20000 25000
Renda (1992)
Taxa de poupança e nível do PIB per capita
(115 países, 1950-2000)
Level of Real GDP per capita in 2000 (US$)

25,000

Europe
Africa
20,000 America
Asia

15,000

10,000

5,000

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Average investment rate (% of GDP)
Taxa de poupança e taxa de crescimento do PIB
(115 países, 1950-2000)
G ro w th in R e a l G D P p e r c a p ita (% p e r a n n u m )

9.0%

Europe
Africa
America
6.0% Asia

3.0%

0.0%

-3.0%
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Average investment rate (% of GDP)
Taxa de poupança (média 1960-1992)
País Poupança País Poupança País Poupança
Japão 37% Holanda 28% África Sul 22%
Noruega 35% Áustria 28% Inglaterra 21%
Cingapura 33% Espanha 28% Venezuela 19%
Itália 31% N Zelândia 27% México 18%
Austrália 31% Suécia 26% Índia 17%
Alemanha 31% Canadá 25% Chile 15%
Israel 30% EUA 24% Argentina 15%
França 30% Argélia 23% Camarões 8%
Dinamarca 29% Brasil 22% Egito 5%
Efeito do aumento da taxa de poupança
 O modelo de Solow prediz que países com maiores
taxas de poupança terão maiores níveis de capital e
renda por trabalhador no longo prazo

 Entretanto, o modelo também prediz que, uma vez


alcançado o estado estacionário, a taxa de poupança
não influenciará em contínuos aumentos da renda
por trabalhador, que será constante
A “regra de ouro”
 Como vimos, diferentes taxas de poupança levam a
diferentes estados estacionários. Assim, como
sabemos qual o “melhor” estado estacionário?
 Alguém poderia dizer: o melhor estado estacionário
é aquele que nos apresenta a maior renda por
trabalhador? Seria assim mesmo?
 A maior renda por trabalhador é alcançada com a
maior taxa de poupança possível. Essa taxa seria tal
que 100% da renda das pessoas seria poupada, e 0%
consumida. Isso não parece um resultado muito
satisfatório...
A “regra de ouro”
 O bem-estar dos indivíduos depende do consumo, e
não do nível de poupança ou de renda
 As pessoas estão mais satisfeitas quando maximizam o
consumo de bens e serviços
 Definitivamente o consumo não é maximizado com
a maior renda, pois a maior renda é alcançada apenas
aumentando a poupança (e, portanto, deprimindo o
consumo)
 Desta forma, nossa preocupação agora passa a ser
definir uma situação tal, em que o consumo no longo
prazo é máximo
A “regra de ouro”
 Para descobrir o que seria o consumo máximo, voltemos à equação (7):

y = c + i, ou c = y – i

 O que significa que consumo é a renda que não é poupada (investida)


 Como estamos interessados no consumo no estado estacionário,
substituímos a renda e o investimento no equilíbrio de longo prazo:

c* = f(k*) – δk* (18)

Onde c* = consumo por trabalhador no estado estacionário

 Perceba que o investimento no longo prazo é igual a δk*, pois, como já


vimos antes, ele é igual à depreciação
A “regra de ouro”
 A equação (18) mostra que no estado
estacionário o consumo é igual à diferença
entre o produto e a depreciação
 Ela também mostra que mais capital por um
lado aumento o consumo, por elevar a renda,
mas por outro lado reduz o consumo, pois é
preciso destinar mais renda para substituir o
capital depreciado
A “regra de ouro”
 O consumo é
y δk máximo no ponto
em que a distância
y = f(k)
entre o produto e a
depreciação é
maior
 Esse ponto se dá
quando a
c* inclinação da
função de
produção é
idêntica à
k inclinação da reta
k* de depreciação
A “regra de ouro”
 O motivo para isso é que enquanto o nível de capital
está abaixo do equilíbrio estacionário, aumentos do
estoque de capital levam a aumentos de consumo
maiores do que de depreciação
 A inclinação da função de produção é maior, significando
que está ocorrendo um “alargamento” da distância entre o
produto e a depreciação, e portanto um aumento do
consumo
 Por outro lado, quando o estoque de capital é maior do
que o nível do estado estacionário, aumentos do capital
reduzem o consumo, pois a inclinação da função de
produção é maior do que a reta de depreciação,
significando que a distância entre as duas está diminuindo
A “regra de ouro”
 Em outros termos, o consumo é máximo no ponto da função de
produção onde a produtividade marginal do capital é igual à taxa
de depreciação

PMgK = δ (19)

 Quando a produtividade marginal do capital for maior do que a


depreciação, aumentos do estoque de capital levarão a aumentos do
consumo

 Quando a produtividade marginal do capital for menor do que a


depreciação, aumentos do capital reduzem o consumo; o equilíbrio
se dá quando as duas forças se igualam
Transição para “regra de ouro”
 Como vimos, diferentes taxas de poupança levarão a
diferentes estados estacionários

 Mas apenas um estado estacionário atende à regra de ouro,


maximizando o consumo no longo prazo

 Assim, alcançar tal regra de ouro pode requerer que a taxa de


poupança seja ajustada
 Tal ajustamento da poupança levará a um novo estado estacionário,
com um consumo maior

 Mas o que ocorre com a economia no curto prazo, antes que o


equilíbrio de curto prazo seja alcançado?
Transição para “regra de ouro”
 Para compreender esse ponto melhor, considere que o
governo pode influenciar a taxa de poupança da economia, de
maneira a maximizar o bem-estar no longo prazo

 Se a taxa de poupança corrente é maior do que aquela que


deveria prevalecer no longo prazo, o governo deve incentivar
as pessoas a elevarem o consumo no presente

 Por outro lado, se a taxa de poupança for baixa demais o


governo deve tomar medidas amargas, de maneira a reduzir o
consumo corrente, de maneira a maximizá-lo no futuro
Transição para “regra de ouro”
y
 Comecemos
analisando o caso no
qual o nível de
y capital é maior do
que o ideal (k > k*)
 Nesse caso, o
governo deve
c
implementar políticas
i que estimulem o
consumo, reduzindo
a taxa de poupança
t
Tempo
Transição para “regra de ouro”
 No período t, quando ocorre a implementação das políticas
voltadas à expansão do consumo, há um aumento imediato do
consumo, acompanhado por uma queda do investimento

 A taxa de poupança mudou, e essa economia não se encontra mais


em estado estacionário: o investimento agora é menor do que a
depreciação, e o estoque de capital cai ao longo do tempo

 Isso reduz o produto, que por sua vez leva a reduções do consumo
e do investimento ao longo do tempo

 Embora o consumo esteja caindo, ele será sempre maior do que o


nível que prevalecia antes da implementação das políticas, e se
estabilizará em um nível também superior
Transição para “regra de ouro”
 Vejamos agora o que
y
acontece quando o
nível de capital
inicial é menor do
y que o ótimo (k<k*)
 Nesse caso o governo
c deve implementar
políticas voltadas à
restrição do
consumo, e
i consequentemente ao
aumento da taxa de
poupança
t
Tempo
Transição para “regra de ouro”
 Observe que nesse caso o consumo primeiro é reduzido, para
somente depois de um tempo aumentar
 Inicialmente há um pulo no investimento, e uma queda
semelhante no consumo

 Agora o investimento é maior do que a depreciação, e a


economia não se encontra mais em equilíbrio: há acumulação
de capital, e o produto cresce ao longo do tempo, elevando o
investimento e o consumo

 No longo prazo o consumo é maior do que aquele que


prevalecia antes do período t, quando as políticas de restrição
ao consumo foram implementadas
Transição para “regra de ouro”
 Observe que no primeiro caso o consumo fica
consistentemente mais alto por todo o tempo; no
segundo caso, por outro lado, o consumo cai
inicialmente, para depois voltar a subir

 Quando a taxa de poupança precisa ser elevada temos


uma situação complicada, na qual é preciso diminuir o
consumo das gerações atuais de maneira a aumentar o
consumo das gerações futuras

 Politicamente é muito mais fácil implementar políticas


de expansão do consumo do que de restrição
Crescimento populacional
 Pelo o que vimos até agora a taxa de poupança induz apenas
temporariamente ao crescimento; no longo prazo a economia
tende a um equilíbrio no qual o produto e o capital por
trabalhador são constantes

 Para explicar o crescimento econômico no longo prazo é


preciso acrescentar novas variáveis ao modelo, basicamente
crescimento populacional e progressos técnicos
 Assuma que a população (e a força de trabalho) cresça a uma taxa
exógena n
 Por exemplo, se n for igual a 0,02 (uma taxa de crescimento 2% ao
ano), uma população de 1.000.000 no ano t, será igual a 1.020.000 no
ano t+1
Crescimento populacional
 Como o crescimento populacional afeta o estado
estacionário?
 Com um montante de capital fixo, um aumento do
número de trabalhadores faz decrescer o estoque de
capital por trabalhador
 Nesse sentido, o crescimento populacional é análogo à
depreciação: ele faz com que o estoque de capital por
trabalhador reduza a uma taxa nk por ano
 Temos então a variação do estoque de capital:

∆k = sf(k) – (n + δ)k (20)


Crescimento populacional
 Essa equação mostra que o estoque de capital depende do
investimento (que o aumenta), e da depreciação e da taxa de
crescimento populacional (que o reduz)
 Perceba que quando n = 0 voltamos à versão do modelo que
estudamos antes

 O termo (n + δ)k indica a quantidade de investimento


necessária para manter constante o estoque de capital. No
estado estacionário temos:

sf(k) = (n + δ)k (21)


O estado estacionário com crescimento
populacional
 Note que o
y investimento no longo
prazo é suficiente
y = f(k) apenas para repor o
capital depreciado e
y*
(n+δ)k para oferecer novo
capital à mão-de-obra
i = sf(k) que está entrando no
mercado de trabalho
 Assim, como vimos
anteriormente, no
estado estacionário
não há acumulação de
k capital (∆k = 0)
k*
Crescimento populacional
 No estado estacionário não há acumulação de capital, e
também não há aumento do produto por trabalhador; todavia,
há aumento do produto total
 Esse aumento se dá a uma taxa n (taxa de crescimento
populacional)

 Assim, no longo prazo com crescimento populacional, a


economia cresce a uma taxa tal que permite que o produto
por trabalhador não caia (mas também não aumente)

 Isso significa que o crescimento populacional pode explicar o


crescimento do produto total no longo prazo, mas não a
melhoria do padrão de vida
Efeito de um aumento na taxa de
crescimento populacional
 Um aumento da taxa de
y y = f(k) crescimento
populacional reduz o
estoque de capital por
y* (n’+δ)k trabalhador
y**
 Como o produto é
igual f(k), este também
(n+δ)k é reduzido
 Portanto, o modelo de
i = sf(k) prediz que países com
taxas de crescimento
populacional maiores
terão níveis mais baixos
de capital e de renda por
trabalhador no longo
prazo, a menos que
compensem elevando a
k taxa de poupança
k** k*
Evidência internacional das taxas de crescimento
populacional e renda per capita (Mankiw, 1992)
C resc. pop. (média 1960-1992)

4
3,5
3
2,5
2
Linha de tendência
1,5
1
0,5
0
0 5000 10000 15000 20000 25000
Renda em 1992
PIB per capita e crescimento populacional
(98 países)

50,000
GDP per capita in 1996 US$, 2000

45,000

40,000

35,000

30,000

25,000

20,000

15,000

10,000

5,000

0
0.0% 2.0% 4.0% 6.0% 8.0% 10.0% 12.0% 14.0%
Average Population Growth Rate,1960-2000 (% per annum)
Transição demográfica no Brasil 1950-2030
(Alves, 2004)
50
45
40
35
P o r m il

30
25
20
15
10
5
0
1970
1975
1980

2000

2015

2025
1950
1955
1960
1965

1985
1990
1995

2005
2010

2020

2030
Anos

Tx mortalidade Tx natalidade Tx crescimento


“Regra de ouro” com crescimento
populacional
 Para encontrar a “regra de ouro” do estoque de capital com crescimento
populacional, devemos voltar à equação (7):

c=y–i

 No longo prazo (ou seja, com ∆k = 0), temos:

c* = f(k*) – (n+δ)k* (22)

 Assim, no longo prazo o consumo é maximizado quando:

PMgK = δ + n, ou:

PMgK - δ = n (23)
O progresso técnico
 Vimos até agora que a taxa de poupança e o crescimento populacional
não conseguem explicar o crescimento do produto por trabalhador no
longo prazo. Devemos, então, acrescentar uma nova variável ao modelo:
o progresso técnico

 Para se ter uma idéia da importância do progresso técnico para as


economias, basta citar alguns exemplos:
 Em 1970 havia apenas 50 mil computadores no mundo, ao passo que em
2000, 51% das casas americanas possuíam ao menos um computador (no
Brasil eram 13%, chegando a 22% em 2006).
 Nas últimas três décadas o preço médio dos computadores caiu a uma taxa de
quase 30% ao ano
 O acesso à internet se tornou 22 vezes mais rápido nos últimos vinte anos
 Um carro popular hoje possui mais capacidade computacional do que o
primeiro módulo lunar, de 1969
O progresso técnico
 Para acrescentar o progresso técnico ao modelo, precisamos voltar à equação
(1):

Y = F (K,N)

 Considere agora que o progresso técnico aumenta a eficiência do trabalho a


uma taxa g. A equação (1) se torna:

Y = F(K,N x E) (24)

Onde E = eficiência do trabalho

 A variável E depende da saúde, da educação, da qualificação, da experiência,


dos conhecimentos da mão-de-obra, etc.
 O termo (N x E) é a mão-de-obra medida em unidades de eficiência
O progresso técnico
 Essa nova função de produção indica que o produto
depende do número de unidades de capital e do número
de unidades de eficiência da mão-de-obra

 Lembre-se que o crescimento populacional (aumentos de


N) faz com que o produto cresça a uma taxa n.
Incorporando o progresso técnico à mão-de-obra faz com
que o produto cresça a uma taxa (n + g), sendo g o
crescimento da eficiência produtiva de cada trabalhador

 Multiplicando os termos da função de produção por


1/NE, voltamos à nossa conhecida equação: y=f(k)
O progresso técnico
 Note que agora essa é uma função de produção por
trabalhador-efetivo
 Se supormos que a eficiência da mão-de-obra é constante e igual a 1,
essa equação volta a ser igual à equação (6), vista anteriormente
 Entretanto, quando E está crescendo, a função de produção se refere
a quantidades por unidade de eficiência do trabalho, e não por
trabalhador

 A diferença mais importante se dá na equação de variação do


estoque de capital, que agora inclui a taxa de progresso
técnico, g:

∆k = sf(k) – (g + n + δ)k (25)


O progresso técnico
 O montante de investimento necessário para manter k constante,
agora, é (g + n + δ)k

 Isso significa que é preciso repor o capital depreciado (δk); prover


capital para os novos trabalhadores (nk); e prover capital para os
novos “trabalhadores-efetivos” criados pelo progresso técnico (gk)

 Se g é alto (o progresso técnico é vigoroso) e não há um aumento


no investimento, o estoque de capital por unidade de eficiência irá
cair

 Para que isso não ocorra, é preciso que o estoque de capital


acompanhe a taxa de crescimento do progresso técnico
O estado estacionário com crescimento
populacional e progresso técnico
 Algo diferente está
y acontecendo nessa
economia: agora,
mesmo no longo
y = f(k) prazo há crescimento
y* do produto por
(g + n+δ)k trabalhador
 Esse crescimento se
i = sf(k) dá pela taxa de
progresso técnico
 Assim, o modelo
mostra que apenas o
progresso técnico
pode explicar
melhorias no padrão
k de vida ao longo do
k* tempo
Evidência internacional da relação entre renda
per capita e produtividade (Hall e Jones, 1999)
1,2

1
% Renda dos EUA

0,8

0,6
Linha de tendência
0,4

0,2

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6
% Produtividade dos EUA
Resumo
Variável Símbolo Taxa de crescimento
no estado estacionário
Capital por k = K/(NxE) 0
trabalhador-efetivo
Produto por y = Y/(NxE) 0
trabalhador-efetivo
Produto por (Y/N) = y x E g
trabalhador
Produto total Y=yxExN n+g
“Regra de ouro” com progresso técnico
 Para encontrar a regra de ouro do estoque de capital com progresso técnico, devemos
voltar à equação (7):

c=y–i

 No longo prazo (ou seja, com ∆k = 0), temos:

c* = f(k*) – (g+n+δ)k* (26)

 Assim, no longo prazo o consumo é maximizado quando:

PMgK = δ + n + g, ou:
PMgK - δ = n + g (27)

 Ou seja, no estado estacionário o produto marginal do capital livre de depreciação é


igual à taxa de crescimento da população mais a taxa de crescimento do progresso
técnico
Comentários
 A principal conclusão do modelo de Solow é que o
crescimento da renda por trabalhador no longo prazo
depende do progresso técnico
 Nesse sentido é preciso investigar e identificar quais os
fatores que levam a esse progresso, de maneira que
possamos incentivá-lo
 Economias modernas investem pesadamente em pesquisa
e desenvolvimento e em educação, como forma de levar a
aumentos de produtividade. É nesse sentido que se
observam fatores como subsídios à pesquisa e bolsas de
estudo, através de agências de fomento
Contabilidade do
crescimento
 Bibliografia
 Mankiw (1997, capítulo 4)
 Jones (1997, capítulo 2)
 Blanchard (1999, capítulo 23)
Contabilidade do crescimento
 Tendo analisado um modelo básico de crescimento e a evidência sobre ele,
devemos passar agora para uma análise da contribuição dos diferentes fatores
sobre o crescimento

 Vimos que dois fatores básicos podem explicar o crescimento de um país


 Acumulação de fatores (capital físico e trabalho)
 Progresso técnico (eficiência produtiva)

 Como podemos quantificar a contribuição da eficiência sobre o crescimento?


Qual a importância da acumulação de fatores (K e N)?

 A contabilidade do crescimento permite que separemos as fontes do crescimento


econômico de um país e comparemos com outros países e/ou diferentes episódios
históricos
 A relevância em termos de informação para a formulação de políticas econômicos é
enorme
Contabilidade do crescimento
 Como forma de identificar as razões por trás do
crescimento econômico (aumentos dos insumos de
produção ou progresso técnico), vamos reescrever a
função de produção discutida nas últimas aulas, mas
acrescentando uma medida de progresso técnico:

Y = AF(K,N)

Onde A = produtividade total dos fatores


Contabilidade do crescimento
 A equação mostra que o produto pode crescer
devido a aumentos nos insumos de produção
(capital e trabalho), mas também devido a
progressos técnicos (traduzidos então como
incrementos na produtividade total dos
fatores)
 Com insumos de produção constantes, se a
produtividade aumentar em 1%, o produto
também aumentará em 1%
Contabilidade do crescimento
 Transformando a equação em termos de crescimento, temos:

Y K N A
  (1   ) 
Y K N A
Onde ΔY/Y = crescimento do produto
ΔK/K = contribuição do capital
ΔN/N = contribuição do trabalho
ΔA/A = contribuição da produtividade total dos fatores
α = parcela do capital no produto
1- α = parcela do trabalho no produto
Parcela do capital no produto
 No Brasil, diversos autores apontam valores
para α ao redor de 0,5

 Esse número parece estar de acordo com


estimativas para outros países emergentes

 Estimativas para Chile e Argentina apontam


valores de 0,46 e 0,48
Contabilidade do crescimento
 Essa equação nos permite identificar as três fontes do
crescimento: acumulação de capital, aumentos no número
de trabalhadores e incrementos da produtividade total dos
fatores
 Com relação à variável A, note que ela se relaciona com a
variável E (eficiência do trabalho) da seguinte maneira:

ΔA/A = (1- α) ΔE/E

 Ou seja, a produtividade total dos fatores (ou progresso


técnico) é proporcional à eficiência do trabalho.
Contabilidade do crescimento
 O termo ΔA/A é chamado de resíduo de
Solow
 Esse nome se deriva do fato de que, para ser
calculado, considera-se a taxa de crescimento
menos as contribuições do capital e do
trabalho (que podem ser medidas mais
facilmente), deduzindo-se que o restante (ou
resíduo) deve-se à produtividade total dos
fatores
Contabilidade do crescimento
 Um típico estudo de contabilidade de crescimento
envolve 4 passos:
1. Obtenção de medidas de taxas de crescimento
econômico, capital e trabalho
2. Estimar valores para α
3. Com base nos passos 1 e 2, calcular a contribuição
do capital e do trabalho para o crescimento
4. Estimar a contribuição da produtividade (resíduo do
crescimento que não é explicado nem por trabalho
nem por capital)
Exemplo
 Suponha que nos últimos 10 anos:
 O produto tenha aumentado em 40%
 O estoque de capital aumentou 20%
 A força de trabalhou cresceu em 30%
 O próximo passo é obter valores para α (por exemplo, 0,5)
 As contribuições do capital e do trabalho são:
 Capital: (0,5)x(20%) = 10%
 Trabalho: (0,5)x(30%) = 15%
 Podemos, agora, calcular o papel da produtividade:
ΔA/A = ΔY/Y - α(ΔK/K) + (1- α)(ΔN/N)
ΔA/A = 40% - 10% - 15%
ΔA/A = 15%
Contabilidade do crescimento Brasileira
(Nícias, 2001)
ΔY/Y ΔA/A (ΔN/N) (ΔK/K)
Anos 80 1,56% -1,74% 1,80% 1,50%

Anos 90 2,63% 0,97% 0,84% 0,82%

1980-1992 1,92% -0,72% 1,48% 1,16%

1993-2000 3,23% 0,88% 1,00% 1,35%


Decomposição do crescimento (1973-1992)

100%
90%
80%
70%
60% Produtividade
50% Trabalho
40% Capital
30%
20%
10%
0%
Japão Inglaterra EUA Alemanha
Explicando as diferenças de renda (Hall
e Jones, 1999)
Capital Trabalho Produtividade Renda
EUA 1,00 1,00 1,00 1,00
Canadá 1,00 0,90 1,03 0,93
Inglaterra 0,89 0,81 1,01 0,73
México 0,87 0,54 0,93 0,43
Chile 0,99 0,66 0,40 0,26
Ruanda 0,44 0,34 0,29 0,04
Determinantes da produtividade
 Nível da tecnologia, determinado pelo avanço da
fronteira tecnológica mundial
 Características específicas do país
 localização geográfica / base de recursos naturais
 eficiência na organização da produção
 estabilidade econômica e política
 respeito ao direito de propriedade e aos contratos
 qualidade das instituições e das políticas governamentais
 extensão das atividades improdutivas (busca de rendas,
corrupção, crime etc.)
 grau de abertura ao exterior (comércio e investimento)
Produtividade do trabalho: produção por
hora trabalhada (Maddison, 1995)
1870 1930 1940 1950 1970 1990
França 1,36 4,15 5,35 5,65 17,77 29,62
Alemanha 1,58 4,37 4,84 4,37 16,64 27,55
Itália 1,03 2,89 3,79 4,28 15,58 24,59
Holanda 2,33 6,32 6,26 6,50 19,02 28,80
Inglaterra 2,61 5,54 5,98 7,86 15,92 23,98
Japão 0,46 1,78 2,19 2,03 11,15 20,02
EUA 2,26 7,52 8,64 12,66 23,45 29,10
A desaceleração da produtividade
Crescimento do PIB per capita (% a.a.)
1948-1972 1972-1995
Canadá 2,9 1,8
França 4,3 1,6
Alemanha 5,7 2,0
Itália 4,9 2,3
Japão 8,2 2,6
Reino Unido 2,4 1,8
Estados Unidos 2,2 1,5
Possíveis explicações
 Problemas de mensuração
 Aumentos na produtividade não medidos
completamente
 Por que os problemas de mensuração deveriam ser
piores depois de 1972 do que antes?
 Preços do petróleo
 Choques do petróleo ocorreram quando a
desaceleração começou
 Por que a produtividade não se elevou quando os
preços caíram no meio dos anos 1980?
Possíveis explicações
 Qualidade do trabalhador
 Desde os anos 1970 houve um maior influxo de
novos entrantes na força de trabalho (baby
boomers, mulheres)
 Esses novos entrantes são em geral menos
experientes, e portanto menos produtivos
 Diminuição de idéias
 Talvez o crescimento mais lento de 1972-1995
seja normal, e a anomalia tenha sido o rápido
crescimento entre 1948-1972
T.I. e a “nova economia”
Crescimento do PIB per capita (% a.a.)
1948-1972 1972-1995 1995-2000
Canadá 2,9 1,8 2,7
França 4,3 1,6 2,2
Alemanha 5,7 2,0 1,7
Itália 4,9 2,3 4,7
Japão 8,2 2,6 1,1
Reino Unido 2,4 1,8 2,5
EUA 2,2 1,5 2,9
T.I. e a “nova economia”
Taxa de crescimento da PTF nos EUA 1870-1999
1.4

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0
1870-1913 1913-1972 1972-1995 1995-1999
T.I. e a “nova economia”
 Aparentemente a revolução do computador
não afetou a produtividade até o final da
década de 1990
 A participação da indústria de computadores no
PIB é muito maior no fim dos anos 1990
 Toma tempo determinar como utilizar a nova
tecnologia da forma mais efetiva
 T.I pode impulsionar um longo período de
crescimento da produtividade?
Ganhos de produtividade no Brasil
(Bonelli e Fonseca, 1998)
 Existem ganhos de produtividade e eficiência
no Brasil nos anos recentes?
1. Liberalização do comércio exterior
2. Privatizações
3. Desregulamentação da economia
4. Difusão de novas técnicas gerenciais
Variação anual da produtividade Brasileira
1971-1997 (Bonelli e Fonseca, 1998)
Variação anual da produtividade Agrícola
1971-1996 (Bonelli e Fonseca, 1998)
Salários e produtividade industrial
(Bonelli e Fonseca, 1998)
Salário Médio Real e Valor da Produção Real por Hora Paga — 1985/96
Emprego e ganhos de produtividade
industrial (Bonelli e Fonseca, 1998)
Emprego e ganhos de produtividade
industrial (Bonelli e Fonseca, 1998)
 A equação sugere que existe uma pequena
relação negativa entre produtividade
industrial e o nível de emprego
 Um aumento de 1% na produtividade reduz o
nível de emprego em 0,24%
 Todavia, existem vários fatores adicionais que
influenciam o emprego e não estão incluídos
na equação
Extensões do modelo de
Solow
Bibliografia
Jones (1997, capítulo 3)
Capital Humano
 Novos estudos no campo do crescimento
econômico têm debatido a importância do
chamado capital humano
 Do ponto de vista do modelo de Solow, esses
estudos partem de uma equação do tipo:
Y = F(K,HL)
 Onde H é o capital humano de um país
(normalmente medido pelos anos médios de
estudo, taxa de analfabetismo, etc.)
Capital Humano
 As pessoas acumulam capital humano dedicando
tempo ao aprendizado de novas habilidades
 Cada ano adicional de estudo/treinamento aumenta a
produtividade da mão-de-obra em x%
 Esse modelo é muito parecido com o estudado
anterior, sendo chegamos a y = f(k), como
anteriormente
 Acrescentar capital humano não altera a estrutura básica
do modelo
Capital Humano
 A explicação básica oferecida pelo modelo de
Solow de porque alguns países são ricos e outros
pobres se mantêm a mesma:
1. Possuem taxas de investimento em capital físico mais
alta
2. Possuem mais baixas taxas de crescimento populacional
3. Possuem maior progresso técnico
4. E... gastam mais tempo treinando/educando sua mão-de-
obra
Capital Humano
Primário Secundário Superior Total
Austrália 6,52 3,04 0,67 10,23
Botswana 3,40 0,26 0,03 3,69
Brasil 2,39 0,88 0,21 3,48
Canadá 5,33 3,87 0,97 10,17
Dinamarca 8,01 1,76 0,56 10,33
Alemanha 7,43 0,87 0,24 8,54
Gana 2,26 0,93 0,03 3,22
Índia 2,11 0,81 0,13 3,05
Japão 5,29 2,65 0,52 8,46
México 3,38 0,82 0,22 4,42
EUA 5,85 4,90 1,04 11,79
Venezuela 3,69 1,35 0,34 5,38
Evidência internacional da relação entre renda
per capita e escolaridade (Barro e Lee, 1996)

10
9
8
Anos de estudo em 1960

7
6
5
4
3
2
Linha de tendência
1
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Renda em 1985
Impactos do capital humano na renda
Brasileira (Pessôa, 2006)
 A escolaridade média Brasileira é de 5 anos,
enquanto a dos EUA é de 13 anos
 Considerando-se a qualidade do ensino
Brasileiro, 5 anos de escolaridade são
comparáveis a menos de 3 anos nos EUA
 Com o mesmo nível educacional que os EUA
a renda per capita Brasileira duplicaria
Capital Humano
y  Um maior nível de
capital humano
está associado com
y*
uma função de
produção mais alta
y
 Em outros termos,
maior capital
humano eleva a
renda de
k equilíbrio
Learning by doing
 Não só a educação formal compõe o capital
humano, mas também a experiência prática

 A repetição de uma atividade possui impactos


importantes na eficiência produtiva, em um
processo chamado de learning by doing
(aprendendo ao fazer)
Learning by doing
 Exemplo é a produção
1400
de navios de guerra entre
1200 1941 e 1944
 Um total de 2458 navios
1000
do tipo “Liberty” foram
feitos entre 1941 e 44
800
 O número de horas
600 necessárias para a
produção de um navio
400
caiu de 1200 em 1941
200
para 450 no final de 44!
O debate sobre a
convergência das rendas
 Bibliografia
 Jones (1997, capítulo 3)
Alguns respostas do modelo de Solow
 Por que a renda aumenta ao longo do tempo?
 A acumulação de capital explica o crescimento
até o estado estacionário, e o progresso técnico
explica o crescimento de longo prazo

 E por que alguns países são mais ricos do que


outros?
 Diferenças nas taxas de poupança, tecnologia e
crescimento populacional
Alguns respostas do modelo de Solow
 Por que alguns países crescem mais rápido do que
outros?
 No estado estacionário a diferença se dá pelo progresso
técnico
 Na transição para o estado estacionário a diferença
depende o valor inicial de k (quanto mais afastado do
equilíbrio, mais rápido o crescimento de um país)

 Essa última resposta é muito relevante


 Ela implica que países pobres crescerão mais rápido do
que ricos se eles tiverem o mesmo estado estacionário
Convergência das rendas per capita
segundo o modelo de Solow
 Se dois países possuem as mesmas características
estruturais, o pobre crescerá mais rápido do que o
rico durante a transição para o estado estacionário
 A renda do país pobre irá alcançar a do país rico, no que
chamamos convergência incondicional

 Se os países possuírem características estruturais


distintas, haverá convergência para diferentes
estados estacionários
 Controlando para as diferenças estruturais, o país mais
pobre crescerá mais rápido do que o rico, no que
chamamos convergência condicional
Convergência incondicional
 Partindo da equação:
∆k = sf(k) – (δ + n + g)k

 Divida por k:
∆k/k = sf(k)/k – (δ + n + g)

 A taxa de crescimento de k diminuirá a medida que k aumenta, devido a


retornos decrescentes do capital
 Com o aumento de k (e y), as taxas de crescimento de k e y irão cair,
havendo convergência para uma taxa de crescimento g
 Assim, caso o país A comece com um estoque de capital por trabalhador
kA < kB , o crescimento de A será maior do que de B
 Se ambos tiverem as mesmas características estruturais s, n, δ e g, haverá
convergência incondicional
Convergência incondicional
(n + δ + g)k

i = sf(k)

k
kA kB k*
Convergência condicional
 Países irão convergir para seu próprio estado estacionário, de
forma que os mais pobres não necessariamente irão alcançar
o nível de renda dos mais ricos

 Países semelhantes irão convergir para rendas per capita


semelhantes no longo prazo; por outro lado, países diferentes
não terão rendas semelhantes
 Devido a esses pontos discutidos, hoje fala-se bastante em clubes de
convergência

 Controlando-se por fatores que determinam k* os países


pobres cresceriam mais rapidamente do que os ricos
Convergência condicional
(n + δ + g)k

iA = sf(k)

iB = sf(k)

k
kA* kB*
Evidência empírica
 O que a evidência empírica sugere?

 A hipótese de convergência incondicional é rejeitada

 Convergência condicional parece ocorrer, mas é


fraca

 Existe convergência entre clubes de países ricos e


pobres, mas divergência entre ricos e pobres
Convergência das rendas per capita
40000 Estados Unidos Japão
30000

20000

10000

6000
5000
4000
3000

2000

1000

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Convergência das rendas per capita
Argentina França
20000

10000
0
8000
7000
6000
5000
4000

3000

2000

1000
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Convergência condicional
 Como captamos a convergência condicional?
 Considere a equação:
gt,t-1=βyt-1 + λXt-1 + εt

 Onde g é a taxa de crescimento, y é o nível de renda,


e X são uma série de variáveis que controlamos
 Se β for negativo, então há convergência
 Por exemplo, se β for -0,02, então há uma convergência
de 2% ao ano
Evidência empírica
10 6
102 países (1960-97) 23 países da OCDE (1960-97)
Taxa média de crescimento (%)

Taxa média de crescimento (%)


8
5
6

4 4

2
3
0
2
-2

-4 1
0 10 20 30 0 10 20 30
PIB per capita em 1960 (em mil US$) PIB per capita em 1960 (em mil US$)
Alguns possíveis determinantes do
estado estacionário (Barro e Lee, 1994)
Estudo Fertilidad Governo Liberdad Poupanç Exp.Vida
(anos) e (% PIB) e a (anos)
(por mil) (índice) (% PIB)
EUA 11,8 1,8 11,8 1 24,1 74,9
Brasil 3,5 3,6 11,2 2 17,9 64,3
Serra 1,7 6,5 29,7 5 1,6 40,3
Leoa
México 4,4 3,8 9,0 4 15,0 68,1
França 6,5 1,8 13,5 1 27,5 76,6
Coréia 7,9 2,3 8,1 3 33,1 68,7
Alguns possíveis determinantes do
estado estacionário (Barro, 1997)
Efeito sobre o estado estacionário

Anos de estudo
+
Investimento
+
Expectativa de vida
+
Taxa de fecundidade
-
Consumo governamental (*)
-
“Império da lei”
+
Termos de troca
+
Os casos da África e do
Leste Asiático
Crescimento anual do PIB per capita 1966-1990

Coréia do Sul

Taiwan

Cingapura

Hong Kong

Japão
Itália

Brasil

Canadá

França
México

Alemanha

0 1 2 3 4 5 6 7
Taxa de poupança (% do PIB 1981-1996)
40
35
30
25
20
15
10
5
0
China Hong Kong Indonésia Coréia do Malásia Cingapura Tailândia
Sul
Taxa de poupança Chinesa
40

35

30

25

20

15

10
Taxa de crescimento Chinesa
20

15

Média móvel de 10 anos


10

-5

-10

-15

-20
Acumulação de fatores vs. produtividade
Contribuição da PTF no crescimento

OCDE

América Latina

Sudeste Asiático

0 10 20 30 40 50
Os “Tigres”Asiáticos

100%
90%
80%
70%
60% PTF
50% Trabalho
40% Capital
30%
20%
10%
0%
Hong Kong Coréia Cingapura Taiwan
Os “Tigres”Asiáticos
 Qual a implicação de um crescimento baseado
especialmente na acumulação de capital?
 Dado o retorno decrescente do capital, esse tipo de
crescimento eventualmente cessa, quando o país
entra no estado estacionário
 Dada a alta taxa de poupança esse estado
estacionário será caracterizado por uma renda per
capita relativamente alta
 Todavia, no longo prazo será preciso que a PTF
cresça, de maneira a manter a economia crescendo
Por que a África é tão pobre?
20000
17387
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000 1292 1284
450
0
1820 1992

Europa África
O caso da África
PIB per capita de 1990 dividido pelo de 1965:
2,5

1,5

0,5

0
Burkina Congo Costa do Malawi Senegal África do Zimbábue
Faso Marfim Sul
O caso da África
Crescimento médio anual nos anos 1990:
País Crescimento (%) País Crescimento (%)
Angola 1,3 Nigéria 1,1
Chade -1,1 Senegal 5,1
Gana 1,8 Serra Leoa -8,1
Quênia 1,8 África do Sul 1,2
Malawi 6,8 Sudão 6,0
Mauritânia 4,1 Uganda 7,8
Moçambique 9,7 Zimbábue 0,5
O que diz a teoria
 A teoria econômica oferece algumas explicações
para o caso africano
 Baixo investimento
 Baixa qualidade/quantidade de educação
 Pouco investimento em infra-estrutura
 Alto protecionismo e pouca competição
 Péssimo ambiente para negócios
 Mas porque a África possui baixo investimento e
tem sofrido consistentemente com políticas públicas
inapropriadas?
A questão étnico-lingüística
 Uma explicação recorrente para o fracasso
econômico da África é a diversidade étnico-
lingüística
 As fronteiras Africanas foram desenhadas por
colonizadores europeus, e não por questões étnicas
ou culturais
 No Quênia, por exemplo, existem 40 grupos étnicos,
sendo que 5 deles representam 69% da população
 Uma vitória eleitoral representa a mudança de um grupo
étnico, e portanto de todo o foco do investimento e das
políticas do Estado
A questão étnico-lingüística
 Sociedades com esse grau de polarização são
mais propensas a atividades de rent-seeking
 Cada vez que um grupo étnico chega ao poder,
seu objetivo passa a ser a extração de renda dos
demais grupos
 Além disso, elas possuem mais dificuldade
em fechar acordos sobre bens públicos
 Por exemplo onde construir estradas ou escolas
A questão étnico-lingüística
 A diversidade étnico-lingüística pode também levar
à guerras civis
 Guerras civis em geral levam a uma destruição da
economia ainda maior do que conflitos entre países
 Toda a atividade militar é confinada dentro do mesmo
território, destruindo muito de seu capital
 Estudos, todavia, mostram que o principal
componente para uma guerra civil costuma ser a
pobreza, e não a diversidade étnica
Outros problemas
 Saúde pública
 Do total mundial, a África concentra 60% dos homens,
80% das mulheres, e 90% das crianças com AIDS. Além
disso, 2 milhões de pessoas morrem todos os anos por
malária
 Geografia
 A maior concentração de países sem acesso ao mar está
na África, o que encarece o comércio
 Nos EUA o custo de frete gira em torno de 4% do preço das
mercadorias, na Europa em torno de 5%, na América Latina ao
redor de 10%, e na África acima de 20%
Ajuda externa
 O papel da ajuda externa tem sido muito criticado
nos últimos anos
 Estudo da OECD mostra que doações em geral não
possuem efeito sobre a renda, mas apenas sobre o
gasto público
 Além disso, doações de alimentos possuem efeitos
adversos sobre a produção local
 O mesmo estudo, por outro lado, mostrou que
doações para países com boas políticas
(especialmente monetária e fiscal) tiveram algum
efeito em elevação da renda
Teoria do Crescimento
Endógeno
Bibliografia
 Jones (1997, capítulo 8)
Teoria do Crescimento Endógeno
 O modelo de Solow apenas nos informa que o
crescimento econômico no longo prazo depende uma
variável exógeno: progresso técnico
 Mas o que explica g? Um modelo completo precisa
incluir decisões de P&D, acumulação de capital
humano, e todos os fatores que podem explicar a
evolução do conhecimento
 Esse tipo de modelo é conhecido como “Nova” Teoria
do Crescimento, e se baseia nos estudos de economistas
como Romer, Lucas, Helpman e Aghion
O modelo AK
 Podemos explicar as principais conclusões dessa
vertente teórica utilizando um modelo bastante
simples
 Vamos analisar um modelo de crescimento endógeno
conhecido como Modelo AK

 O primeiro passo é assumir que o retorno do capital


não é decrescente, de maneira que a função de
produção possa ser escrita como:
y = Ak
O modelo AK
 Nesse caso, à medida que acumulamos capital, seu retorno não se reduz, mas se
mantém constante; esse seria o caso quando pensamos em K como um agregado
de capital físico e humano
dy/dk = A

 A equação fundamental da acumulação de capital seria:

∆k = sAk – (δ + n + g)k

 Dividindo por k:
∆k/k = sA – (δ + n + g)

 Ou seja, a taxa de crescimento de k (e, portanto, de y) não se reduz quando k


aumenta! Isso decorre do fato de que k não possui retornos decrescente
 Podemos ter crescimento permanente no longo prazo; na verdade, não haverá
convergência para um estado estacionário
Modelo AK
y=f(k)
y

sf(k)

(n + δ + g)k

k
kA* kB*
Modelo AK
 Agora, um aumento em A ou em s terá um efeito permante
sobre o crescimento, e não apenas no nível da renda per capita

 Assim, políticas que afetam s e A podem afetar o crescimento


de longo prazo, em contraste com o modelo de Solow

 Esse modelo, todavia, possui um problema: o retorno de k


deve ser exatamente igual a 1 (ou seja, exatamente constante)
 Se > 1 o crescimento se torna explosivo, caso seja < 1 , voltamos ao
modelo de Solow
 Chamamos isso de “equilíbrio no fio da navalha”
Outras fontes de crescimento endógeno
 Nos últimos 15 anos novos modelos de crescimento
endógeno foram desenvolvidos para explicar fatos que não
podem ser totalmente compreendidos com o modelo de
Solow
 Por que países ricos e pobres possuem rendas divergentes?
 Por que o capital físico e humano migra para países ricos se a
produtividade marginal deveria ser maior em países pobres?

 A Nova Teoria do Crescimento é, basicamente, uma coleção


de vários modelos que usam explicações baseadas em capital
humano, infraestrutura, inovação, etc., para tentar explicar
esses fatos
Outras fontes de crescimento endógeno
 Capital Humano (KH)é o investmento na aquisição de
conhecimento
 Educação é investimento que deveria ser considerada também na
função de produção

 Mas se o capital humano possuir retornos decrescente:


 Nesse caso, não seria possível usá-lo para explicar o crescimento no
longo prazo
 Por outro lado, podemos considerar que “individualmente” o
investimento em capital humano possui retornos decrescentes, ele
também possui efeitos positivos de externalidade sobre a socidade
como um todo: se esse for o caso, podemos partir do princípio que o
retorno do capital humano é constante no agregado
Outras fontes de crescimento endógeno
 Por exemplo, podemos pensar em uma função de produção
com K, L e KH:

Y = AKaLbHd onde a + b + d =1

 Mas suponha que H possua efeitos de externalidade


A = F(H)
 H não influencia apenas o retorno privado do investimento em
educação, mas aumenta a produtividade de todos os fatores (A)
 Nesse caso, A = H1-d  Y = KaLbH
 Ou seja, investimento em KH produz crescimento endógeno como no
caso do modelo AK
Outras fontes de crescimento endógeno
 Um aspecto interessante: como financiar capital humano?
 KH é em parte privado (d) e parte uma externalidade positiva,
ou bem público (1-d); assim, o governo deveria investir ao
menos na parte de externalidade
 O mesmo pode ser pessado sobre investimento em
infraestrutura, pois parte do estoque de capital é um bem
público
 Infraestrutura pode também aumentar a produtividade dos
demais fatores de produção, levando ao crescimento
endógeno
 Essa geração de modelos, portanto, se baseia na premissa de
que externalidades podem levar a crescimento permanente no
longo prazo
Outras fontes de crescimento endógeno
 Uma outra vertente da “nova” teoria do crescimento foca na
importância do conhecimento para o processo de progresso
técnico
 Conhecimento é um bem público por excelência, uma vez
que ele tende a ser disponibilizado livremente, e é não-rival
 Essa natureza de bem público faz do conhecimento
claramente um fator de rendimentos não decrescentes (o
conhecimento pode, potencialmente, ser usado
indefinidamente)
 Um problema é como produzir conhecimento se ele é não-
exclusível
 Patentes tendem a elevar a inovação, mas não tornam o conhecimento
exclusível
Outras fontes de crescimento endógeno
 Conhecimento pode ser produzido de duas maneiras:
 Learning-by-doing: conhecimento é produzido pela própria
atividade produtiva
 Maior conhecimento leva a maior produção, e maior produção leva a
maior conhecimento  crescimento endógeno
 P&D: firmas explicitamente fazem pesquisas.
 Nesse caso, as firmas buscam poder monopolístico nos mercados, atrás
do lucro  importância dos patentes
 Outra fonte de conhecimento é a imitação: para países muito
atrasados na fronteira da produtividade, essa pode ser uma
fonte muito importante
 Finalmente, conhecimento e KH podem ser complementares

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