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Escola de Comunicação

UFRJ

Gramáticas, normas
e variação
Prof.ª Luana Machado
Afinal, que gramáticas
existem?
• Ao longo do tempo, o ensino tradicional relacionou o termo
“Gramática” a uma disciplina escolar, na qual eram estudadas
regras do bem falar e escrever.
• No entanto, quando se fala em gramática, pode-se também,
além de uma disciplina, estar falando:
1) das regras que definem o funcionamento de uma língua,
correspondente, nesse caso, ao saber intuitivo, a gramática
internalizada;
2) das regras que definem o funcionamento de determinada
norma – norma culta;
3) de uma determinada perspectiva de estudo – “gramática
estruturalista”, “gramática gerativa”, “gramática tradicional”;
4) de um livro, como em a “Gramática e Celso Cunha”.
Afinal, que gramáticas
existem?
• Todas essas acepções coexistem sem problemas, mas precisam
ser enxergadas em suas especificidades.
• Cada acepção tem sua função e possui limites que, quando não
respeitados, geram transtornos de entendimento.

• Acepção 1

“Mas existe a ideia simplista e ingênua de que apenas a norma


culta segue uma gramática. As outras normas funcionam sem
gramática. Movem-se à deriva. Ora, toda língua – em qualquer
condição de uso – é regulada por uma gramática”
Antunes, Irandé. Muito além da gramática.
Afinal, que gramáticas
existem?
• Acepção 2

“Enquadra-se, portanto, no domínio do normativo, no qual


define o certo, o como deve ser da língua e, por oposição,
aponta o errado, o como não deve ser dito.”
Antunes, Irandé. Muito além da gramática.

• Acepção 3
“Ou seja, a ciência da linguagem também está em sintonia com
as correntes de pensamento mais significativas em cada
época...”
Antunes, Irandé. Muito além da gramática.
Afinal, que gramáticas
existem?
• Acepção 4

“As gramáticas também (é bom lembrar) são produtos


intelectuais, são livros escritos por seres humanos, sujeitos,
portanto, há falhas, imprecisões, esquecimentos além, é claro,
de vinculados a crenças e ideologias. Por isso, não faz sentindo
reverenciar as gramáticas como se nelas estivesse alguma
espécie de verdade absoluta e eterna sobre a língua – são
produtos humanos, como outros quaisquer.”
Antunes, Irandé. Muito além da gramática.
Não há apenas uma norma
válida.
• O termo norma, aqui, tem o sentido de normalidade, isto é, de
mais usual, mais regular, que as pessoas usam com mais
frequência.
• Por conta disso, cada grupo ou região tem sua norma, seus
usos preferenciais e são por eles identificados: surfista,
mineiro, capixaba, funkeiro.
• A grosso modo, podemos focar os estudos em três normas: a
culta, a padrão e a não padrão. Sabendo, no entanto, que há
várias normas convivendo diariamente.
Norma Culta (formal)
• Culto versus popular – Certo versus errado
• Todos nós produzimos cultura, como defendem os estudos
antropológicos.
• Norma culta, em síntese, é

“a norma linguística praticada, em determinadas situações


(aquelas que envolvem certo grau de formalidade), por aqueles
grupos sociais mais diretamente relacionados com a norma culta
escrita, em especial aquela legitimada historicamente pelos
grupos que controlam o poder social.”
Faraco, C. A., Norma- padrão brasileira.
Desembaraçando alguns nós.
Norma culta (formal)
• Os suportes em que se observa essa norma são textos
científicos, jornalísticos, acadêmicos; encarregados da
informação pública e formal.

“Não é sem propósito lembrar que a parcela da população que


usa essa norma real, como todas as outras, é móvel, é
heterogênea, e, portanto, se manifesta em usos variados.”
Antunes, Irandé. Muito além da gramática.
Norma-padrão (ideal)
• Historicamente, era um conceito ligado a um projeto da
sociedade letrada de pretender garantir uma certa
uniformidade linguística, padronizada, sem as especificidades
de cada grupo.
• problema = o parâmetro para o geral é uma norma idealizada,
fazendo com que a norma-padrão seja regulada pela classe de
prestígio.
• Quem fica fora do padrão é inferiorizado, desprestigiado.
• Mudanças naturais = sinais de decadência.
Norma não-padrão (informal)
• Qualquer tipo de manifestação que não se enquadre na
norma culta, tais como gírias, linguagem coloquial, linguagem
homossexual, entre outras.

• Além das marcas de identidade dos grupos, os desvios de


sintaxe, regência, etc. caracterizam um discurso tido como
informal.
Variação
• A língua é viva e, por esse motivo, está constantemente em
transformação.

“Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio


e, ainda num só local, apresenta um sem-número de
diferenciações.[...] Mas essas variedades de ordem geográfica,
de ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o
sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o
pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem
a consciência que têm os que a falam diversamente de se
servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de
manifestação e de emoção.”
Cunha, Celso. Uma política do idioma.
Variação
• A grande questão da tentativa de padronização é que nunca
foi uma preocupação com a intercomunicabilidade, mas sim a
da padronização de uma língua falada e escrita para fins
“cultos”.

“Assim, para o linguista, todo homem é igual não só perante a


lei, mas também frente a sua capacidade linguística.”
Callou, D. & Leite, Y., Como falam os brasileiros.
Tipologia da variação
• Diatópica – variações geográficas
• Diastrática – fatores de classe social, faixa etária/socioletos
• Diafásica – situações de comunicação/grau de formalidade
• Diacrônica – comparação entre épocas diferentes/mudanças
linguísticas

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