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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - PROPEG


FACULDADE DE LETRAS E ARTES – FALA
DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS – DLE

Aquisição da
linguagem
Hipótese behaviorista
e hipótese inatista
Prof. Me. Adalberto Barbosa Junior
Como as crianças aprendem a falar?

O papel do adulto na aprendizagem da língua


pelas crianças é fundamental?

Existe uma gramática universal guiando a


aquisição das línguas?

Essas e outras questões intrigam os estudiosos


da linguagem há muito tempo.
A hipótese behaviorista
O estruturalismo americano buscou na psicologia
behaviorista a explicação para a aprendizagem de
língua. Segundo essa corrente da psicologia, os
conhecimentos são adquiridos através das
experiências vividas. A aprendizagem dá-se através
de respostas bem-sucedidas a determinados
estímulos do meio, e a repetição das respostas
associadas aos estímulos é fundamental para essa
aprendizagem.
Em uma caixa criada pelo pesquisador, um rato era
colocado dentro de uma delas, que tinha em seu
interior uma alavanca especial. Toda vez que
pressionava a alavanca, o animal recebia uma
porção de comida. A frequência com que acionava
a alavanca era automaticamente registrada. De
início o rato talvez o fizesse por acidente, ou por
mera curiosidade, e consequentemente recebia o
alimento. Com o tempo, aprendia que a comida
surgiria sempre que a alavanca fosse acionada e
passava então a pressioná-la de propósito, para
ganhar alimento.
No que se refere a aprendizagem da língua materna, o
processo seria também feito através de respostas a estímulos.
No entanto, nesse processo, a resposta física é substituída por
uma resposta linguística, e o estímulo pode ser linguístico ou
não.

Segundo Bloomfield, a criança herda a capacidade de


pronunciar e de repetir sons vocais sob diferentes estímulos.
A articulação torna-se um hábito, e a criança, numa etapa
seguinte, passa a imitar os sons que ouve. Ela faz associações
entre sons e coisas inicialmente e, em seguida, aprende a
associar uma palavra a uma coisa que está ausente.
Um estímulo, como, por exemplo, “sede”, terá como resposta a palavra “aga” (“água”).

RESPOSTA
ESTÍMULO
aga! REFORÇO

Essa resposta será reforçada se a mãe pegar água para seu filho. A criança abandona respostas
erradas, pois não haveria reforço externo.
Portanto, a aprendizagem linguística se dá, segundo a
concepção behaviorista, em decorrência da sequência:

ESTÍMULO RESPOSTA REFORÇO

Meio: fundamental para a aprendizagem de todos os conhecimentos, inclusive o


conhecimento linguístico.
A hipótese do inatismo
Outros estudiosos não aceitaram uma explicação
tão simples, como a formulada pelo estruturalismo
americano, para um fenômeno tão complexo e tão
diferente de outros tipos de aprendizagem.

O behaviorismo não consegue explicar:

como produzimos e compreendemos frases que nunca foram proferidas.

como entendemos frases cuja referência não se encontra no contexto em que são produzidas.

como as crianças aprendem a falar tão rapidamente.


Na metade do século XX, o linguista
Noam Chomsky fez uma crítica
severa ao modelo behaviorista. Ao
formular a teoria gerativa com base
no racionalismo cartesiano,
Chomsky afirma que existe uma
gramática universal, que é uma
matriz biológica responsável pela
grande semelhança entre as línguas
e pela rapidez com que as crianças
aprendem a falar.

Noam Chomsky
Segundo essa concepção, o homem já nasce
provido de uma grande variedade de
conhecimentos linguísticos e não linguísticos.

Essa corrente de pensamento dá maior


importância ao organismo, à codificação
genética, que traz muitas informações sobre o
comportamento humano, a personalidade, a
capacidade de compreensão de quantidades, a
capacidade de distinção entre sons da fala e
outros sons, entre outras informações.

Meio: cumpre o papel de acionar o dispositivo responsável pela aquisição da língua.


Os gerativistas procuram descrever a gramática universal (GU), composta por

Princípios Estruturas comuns a todas as línguas. Limitam


as variações entre elas.

Parâmetros Variações possíveis que as línguas podem ter.

As crianças aprendem a falar rapidamente porque, na verdade,


já nascem com um dispositivo inato de aquisição da
linguagem.
Para Chomsky, a criança fica exposta a uma fala
fragmentada, repleta de frases incompletas, mas é
capaz de internalizar num tempo muito curto a
gramática de uma língua devido a esse dispositivo
inato, que aciona o conhecimento linguístico prévio
geneticamente herdado.

Na idade certa, o dispositivo será acionado, e ela


começará a falar. Seu argumento é conhecido como
“pobreza de estímulo” que assim se desdobra:

“Como o ser humano pode saber tanto diante de


evidências tão passageiras, enganosas e fragmentárias?”
As crianças criam palavras, fazem analogias, falam frases inéditas
ainda muito cedo. Além disso, com 4 ou 5 anos já utilizam
praticamente todas as estruturas gramaticais de sua língua. Para
Chomsky e seus seguidores, esses fatos são fortes argumentos para
se conceber a existência de uma GU específica do ser humano.

Os gerativistas também se questionam sobre a forma


como as crianças adquirem os elementos linguísticos.
Para os estudiosos dessa linha, existem as...

Categorias lexicais (substantivos, verbos, adjetivos, preposições)

Categorias funcionais (artigos, pronomes, conjunções, advérbios)

Categorias gramaticais (número, gênero, caso, pessoa, tempo etc.)


Uma das hipóteses mais conhecidas para explicar a aquisição desses
elementos é a hipótese maturacional da aquisição da linguagem,
bastante trabalhada por Radford (1993).
Segundo o autor, existem diferentes fases para a aquisição
da linguagem e a passagem de uma fase para outra é
determinada pela maturação do organismo.

(a) Fase pré-linguística: 0 a 12 meses;


(b) Fase de uma palavra: 12 a 18 meses;
(c) Fase multivocabular inicial: 18 a 24 meses;
(d) Fase multivocabular tardia: 24 a 30 meses.

Pode haver mudança de 20% em relação à


mudança de uma fase de aquisição.
(a) Fase pré-linguística: 0 a 12 meses;
Ausência de qualquer manifestação linguística (apenas
gestos e balbucios).

(b) Fase de uma palavra: 12 a 18 meses;


Presença de sentenças com apenas uma palavra.

(c) Fase multivocabular inicial: 18 a 24 meses;


Desenvolvimento dos sistemas lexicais, que são aqueles
que englobam o sistema nominal, verbal, adjetival e
preposicional.

(d) Fase multivocabular tardia: 24 a 30 meses.


Se caracteriza pela presença dos sistemas funcionais
(determinante, complementatizador e flexional).
Exemplos de fala de uma menina brasileira com menos de 2 anos

a) Neném tá mexendo [no] mimédio de vovó......... (20 meses e 21 dias)


b) Fafazbibipequeno............................................... (21 meses e 6 dias)
[ela pede para a mãe desenhar]
c) Faz sol gande............................................... (21 meses) [idem]
d) Casa de poquinho............................................... (21 meses)
e) Panta de vovó ................................................... (21 meses e 6 dias)
f) Coocá na cama................................................... (21 meses e 21 dias)
g) Mamãe é pequeno ............................................ (21 meses e 6 dias)
h) Bichinho tá escondida ....................................... (21 meses e 21 dias)
i) Carro é minha .................................................... (A2)
Fase multivocabular inicial
Como explicar o fato de todas as categorias lexicais serem
adquiridas antes das categorias funcionais?

Para Radford (1993, p. 274), “os diferentes


princípios da gramática universal são
geneticamente programados para entrarem
em operação em diferentes estágios da
maturação biologicamente determinados.”

As pesquisas de Radford foram voltadas para a fase


multivocabular inicial (a terceira descrita aqui). Não
houve uma pesquisa aprofundada sobre a forma de
aquisição das categorias funcionais. A análise da fala de
crianças americanas com 26 meses, mostra que elas já
possuem todas as categorias funcionais nessa idade.
Uma abordagem inatista bastante conhecida é a
continuísta formulada por Hyams (1986).
Todos os elementos (lexicais e funcionais) já estão
disponíveis desde o início do desenvolvimento
linguístico. Essa hipótese descarta a ideia de maturação
e de fases da aquisição.

Para Hyams (1986), os elementos funcionais não aparecem na


fala inicial por causa da limitação do vocabulário infantil, o
qual é desprovido de palavras que não tenham referência
externa. Mas isso, segundo a autora, não significa que as
categorias funcionais não existam na gramática da criança.

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