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A desconstrução das vozes nos

discursos de professores de língua no


Estado de Mato Grosso do Sul
João Fábio Sanches Silva (UEMS)
O estudo
Este trabalho reporta os dados de uma
pesquisa qualitativa que ao adotar os
conceitos de investimento, comunidades e
identidades imaginadas (Anderson, 1991;
Norton Peirce, 1995; Norton 2000; Norton,
2010; Wenger, 1998) buscou compreender a
(re)construção da identidade de professores
de línguas da rede municipal de ensino da
cidade de Campo Grande, MS, após
completarem sua participação em um curso de
aperfeiçoamento linguístico e profissional.
Identidade
 Definida nesta comunicação como ‘uma área de conflito’
(Norton, 2000).
Investimento
 Complementa o construto de motivação na área de ASL
(Norton Peirce 1995; Norton 2000, 2010), ao sugerir que
os aprendizes ‘investem’ na aquisição da língua alvo
visando aumentar o valor do seu capital cultural; e
conforme aumentam o valor do seu capital cultural, eles
reconsideram suas posições subjetivas e seus desejos para
o futuro (Norton, 2010).
Comunidades Imaginadas
 Segundo Norton, uma comunidade imaginada assume
uma identidade imaginada, e o investimento de um
aprendiz na língua alvo deve ser entendido dentro deste
contexto (2000).
Metodologia
Contexto de investigação: curso de
aperfeiçoamento linguístico e profissional;
Geração dos dados: a partir da observação das
vozes nos discursos dos participantes, em
entrevistas semi-estruturadas;
Análise dos dados: adotado um paradigma
exploratório-interpretativo;
Apresentação dos dados: organizada de forma
narrativa com o propósito de ilustrar e
interpretar a construção discursiva da identidade
dos professores envolvidos no estudo.
A construção identitária como um
espaço de conflito
 “As vezes eu me senti como aluna porque
em alguns momentos, o modo como o curso
foi conduzido, ele trouxe um impacto
diferente nesse sentido” (P5)
 “Sou bem melhor! Eu mudei aquele jeito
tradicional para um jeito mais sofisticado,
mais ‘maneiro’, mais razoável, mais
companheiro, mais amigo” (P4)
“Não sei, eu acho que teria que me ver, eu
teria que questionar como é que eu me vejo,
como é que os alunos me vêem, são
questões que precisam de reflexão; sou
diferente hoje? Eu acho que é um pouco
forte! Não sei, não consigo me ver diferente”
(P2)
“A primeira aula no curso que eu assisti, eu
falei: ‘Gente, que professora que eu sou?’,
eu me senti uma péssima professora! Pelo
contexto, nossos alunos simplesmente não
entenderiam uma aula desse jeito; então,
mais é refletir” (P3)
Os investimentos
“Eu acho que essa busca por
aperfeiçoamento e por desafios está no
coração de cada professor que persiste em
achar que pode realmente fazer a diferença
na sala de aula. Então essa busca tem que ser
constante, ela não começou simplesmente
com o curso, ela não vai terminar depois do
curso” (P2)
“Eu comecei a me preocupar mais, ler mais,
buscar mais as coisas em inglês porque até
então eu ficava ali na mesmice do dia a dia a;
aí comecei a perceber que tem algo mais pra
buscar” (P4)
Comunidades e identidades
imaginadas
 “Tem que agradecer os professores que se dedicaram
tanto, que estiveram conosco, mesmo como voluntários,
sempre empenhados, gostando do que fazem, isso é
contagiante, é muito bom!” (P2)
 “Esse contato com o inglês de repente abriu uma nova
possibilidade pra gente estar colocando aos poucos
nossa possibilidades e do aluno também com esse
contato com o falar” (P3)
“Eu já gostava do inglês, agora eu passei a amar, ele
passou a fazer parte da minha vida; eu quero ler
mais, eu quero conversar mais, inclusive eu fiquei
assim apaixonado pelo doutorado do professor
João; até então eu pensava que não, mas agora por
que não? O curso me fez pensar nesse outro lado
que estava parado na minha vida” (P4)
Considerações finais

Os professores participantes deste estudo parecem construir
quem são e como desejam ser reconhecidos no relato das suas
experiências como aprendizes e usuários de uma língua
estrangeira e participantes do Projeto, buscando exercer sua
agência na busca pela legitimação da sua identidade.
Os resultados também sugerem que a identidade dos participantes

foi vivenciada como uma área de conflito, com posições subjetivas
em constante mudança, e por vezes, contraditórias.
Os participantes demonstraram suas relações com comunidades

de prática, fossem estas reais ou imaginadas, envolvendo tanto
participação e não-participação, e que suas identidades em
construção deveriam ser entendidas na junção do conflito de
interesses entre o desejado e o real.
Referências
 Anderson, B. (1991). Imagined communities: Reflections
on the origin and spread of nationalism. New York: Verso.
 Norton (Pierce), B. (1995). Social identity, investment,
and language learning. TESOL Quarterly, 29, 9-31.
 Norton, B. (2000). Identity and language learning:
Gender, ethnicity and educational change. Harlow:
Pearson Education.
 Norton, B. (2010). Language and Identity. In N.
Hornberger & McKay, S. (Eds.), Sociolinguistics and
Language Education (pp. 349-369). Clevedon, UK:
Multilingual Matters.
 Wenger, E. (1998). Communities of practice: Learning,
meaning, and identity. New York: Cambridge University
Press.

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