Capítulo 3 – A coerência do ordenamento jurídico
Para que o ordenamento jurídico seja constituído como unidade e como sistema requer que as normas se componham por meio de uma relação de coerência. Hans-Kelsen compreende que há dois tipos de sistemas no ordenamento jurídico: estático e dinâmico. a) O sistema estático = as normas se relacionam como um sistema dedutivo. São deduzidas a partir de princípios gerais ou postulados, conectadas entre si pelo seu conteúdo. b) O sistema dinâmico = as normas se relacionam como um sistema indutivo. Relacionam-se a partir de sucessivas delegações de poder, assim, a relação entre as normas advém da autoridade que a positivou. Tendo em vista que a norma deriva da autoridade inferior para a autoridade superior até que seja alcançada uma autoridade suprema que subordina todas as normas. Logo, a relação entre as normas no sistema dinâmico não é de cunho material, mas de aspecto formal com a possibilidade de instituir conceitos de maior generalidade. Capítulo 3 – A coerência do ordenamento jurídico
Para Bobbio, há um terceiro significado da palavra sistema na teoria
do Direito: c) O sistema como compatibilidade = o sistema jurídico não tolera a coexistência de incompatibilidade entre as normas. Sistema nesta acepção equivale à validade do princípio jurídico para excluir do ordenamento jurídico a norma incompatível. Nesse sentido, o Direito não admite antinomias entre as normas. São duas condições para que haja antinomias: a) Duas normas estabelecidas no mesmo ordenamento jurídico; b) Duas normas com o mesmo âmbito de validade no ordenamento jurídico. Capítulo 3 – A coerência do ordenamento jurídico
Critérios para dirimir as antinomias entre as normas:
a) Critério cronológico – lex posterior derogat legi priori; b) Critério da especialidade ou específico – lex specialis derogat legi generali; c) Critério hierárquico – lex superior derogat legi inferior. Capítulo 3 – A coerência do ordenamento jurídico
Critérios para dirimir as antinomias de segundo grau:
a) Conflito entre critério hierárquico e cronológico – o conflito entre norma anterior e superior e norma posterior e inferior. Se for adotado hierárquico irá prevalecer à norma superior, mas se tomado como baliza o critério cronológico, a lei mais antiga prevalecerá. Contudo, ao avaliar os dois critérios ao mesmo tempo irá prevalecer o critério hierárquico, haja vista que as normas superiores não podem ser ab-rogadas pelas normas inferiores; b) Conflito entre critério hierárquico e especial – o conflito entre norma superior e geral e norma inferior e específica. A solução deverá ser realizada pelo intérprete por meio da hermenêutica jurídica, pois se privilegiar o critério hierárquico significa cercear a adaptação da Constituição as novas realidades sociais. Capítulo 3 – A coerência do ordenamento jurídico
c) Conflito entre critério da especialidade e cronológico – surge momento
que há conflito entre norma anterior-especial e norma posterior-geral. Se for aplicado o critério da especificidade, privilegia o critério da norma especifica, mas se for adotado o critério cronológico, prevalece à norma mais antiga. No entanto, a lei geral sucessiva não exclui do ordenamento jurídico a lei especial precedente, sobrepondo-se o critério da especialidade;
O ordenamento deve ser coerente e a incompatibilidade entre as normas
devem ser sanadas. É o pré-requisito para haver justiça, tendo em vista que se houver incompatibilidade entre duas normas válidas, ambas, padecerão de falta de eficácia.