Kleisnchmitt, Lara Antonelli, Leonardo Peres, Mariana Viecelli • As pelves renais, os ureteres, a bexiga e a uretra são revestidos por urotélio. Abaixo da mucosa estão a lâmina própria e, ainda mais profundamente, a muscular própria (músculo detrusor), que constitui a parede da bexiga. O que é o câncer das vias excretoras • É uma doença na qual células tumorais são encontradas na camada que reveste internamente as vias excretoras. Esta camada é denominada urotélio, e reveste também o interior da bexiga urinária. Desta forma, toda a urina produzida pelos rins ficará em contato com o urotélio até que seja eliminada.
• A presença constante de urina nas vias excretoras expõe o urotélio
às diversas substâncias que são filtradas pelos rins e que, eventualmente, poderão ser carcinogênicas (propiciam alterações celulares, tornando-as cancerosas) para o tecido urotelial.
• O câncer das vias excretoras comporta-se de forma semelhante quer
envolva os cálices e pelves renal ou ureteres, já que estes estão revestidos por um mesmo tecido. Epidemiologia
• O câncer da bexiga representa aproximadamente 7% dos
cânceres e 3% das mortes por câncer nos Estados Unidos. A vasta maioria dos cânceres da bexiga (90%) é de carcinomas uroteliais. • O carcinoma da bexiga é mais comum nos homens do que nas mulheres, mais nos países industrializados do que naqueles em desenvolvimento e mais na zona urbana do que na rural. • Cerca de 80% dos pacientes têm idades entre 50-80 anos. • Os carcinomas de células escamosas representam cerca de 3-7% dos cânceres da bexiga nos Estados Unidos, mas são muito mais comuns em países onde a esquistossomose urinária é endêmica. • Tipicamente apresentam queratinização extensa e quase sempre estão associados a irritação e infecção crônica da bexiga. Os adenocarcinomas da bexiga são raros e histologicamente idênticos aos adenocarcinomas vistos no trato gastrointestinal. • Alguns surgem dos resquícios do úraco na cúpula da bexiga ou em associação com a metaplasia intestinal extensa Fisiopatologia • O câncer da bexiga, com raras exceções, não é hereditário. Alguns dos fatores mais comuns implicados na causa do carcinoma urotelial incluem consumo de cigarros, vários carcinogênicos ocupacionais e infecções pelo Schistosoma haematobium em áreas endêmicas, como o Egito. • Os cânceres que ocorrem em cenário infeccioso de schistosoma surgem em meio a uma inflamação crônica que. • Em um modelo para a carcinogênese da bexiga, foi proposto que o tumor é iniciado pela deleção dos genes supressores de tumor 9p e 9q, o que leva à formação de tumores papilares superficiais, alguns dos quais podem, então, adquirir mutações no TP53 e rumar à invasão. Fisiopatologia • Uma segunda via, possivelmente iniciada pelas mutações no TP53, leva primeiro ao carcinoma in situ e, depois, com a perda do cromossomo 9, progride para invasão. • As alterações genéticas subjacentes nos tumores superficiais incluem mutações no receptor do fator de crescimento de fibroblastos 3 (RFCF3) e a ativação da viaRas (de fato, o câncer da bexiga foi uma das primeiras neoplasias humanas encontradas que apresentam mutações no oncogene Ras), ao passo que os tumores menos comuns que invadem a camada muscular frequentemente sofrem mutações de perda de função envolvendo o TP53 e o RB, o gene supressor de tumor do retinoblastoma. Lesões
• Duas lesões distintas precursoras do
carcinoma urotelial são reconhecidas. • A mais comum é o tumor papilar não invasivo. A outra precursora é o carcinoma in situ (CIS). Em cerca da metade dos pacientes com câncer vesical invasivo, nenhuma lesão precursora é encontrada. Em tais casos, presume-se que a lesão precursora tenha sido coberta pelo componente invasivo de alto grau Tipos • As neoplasias uroteliais papilares não invasivas apresentam variação de atipias e são classificadas de modo que reflitam seu comportamento biológico. Classificação
O mais comum sistema
de graduação classifica os tumores em: • Papiloma; • Neoplasias uroteliais papilares de baixo potencial de malignidade (NUPBPM); • Carcinoma urotelial papilar de baixo grau; e • Papiloma urotelial papilar de alto grau • Essas neoplasias papilares exofíticas devem ser distinguidas do papiloma urotelial invertido, que é inteiramente benigno e não está associado a risco aumentado de carcinoma subsequente. • O CIS é definido pela presença de células citologicamente malignas no interior do urotélio plano como o carcinoma urotelial papilar de alto grau, as células tumorais do CIS não têm coesão. Isso leva ao derramamento de células malignas na urina, onde podem ser detectadas por citologia. O CIS é comumente multifocal e, às vezes, envolve a maior parte da superfície da bexiga ou se estende ao ureter e à uretra. • Sem tratamento, 50-75% dos casos de CIS progridem para câncer invasivo da camada muscular. O câncer urotelial invasivo associado ao câncer urotelial papilar (geralmente de alto grau) ou ao CIS pode invadir superficialmente a lâmina própria ou se estender mais profundamente pelo músculo subjacente. A subestimação da extensão da invasão em espécimes de biópsia é um problema significativo. A extensão da invasão e da disseminação (estadiamento) no momento do diagnóstico inicial é o mais importante fator de prognóstico. Quase todos os carcinomas uroteliais infiltrantes são de alto grau. Sintomas
• O sintoma principal é a hematúria. Contudo, este é um
sintoma inespecífico, e pode ocorrer em diversas outras doenças, benignas ou malignas. • Outro sintoma observado é a dilatação das vias excretoras determinada pela obstrução da passagem da urina, e a consequente retenção desta no sistema coletor, decorrente da presença do tumor. Essa situação pode ser identificada incidentalmente durante um exame ultrassonográfico do abdômen, solicitado para avaliar algum outro sintoma que o paciente possa vir a apresentar. Riscos • Estatísticas recentes confirmam que o câncer das vias excretoras são relativamente raros.
• Entre os tumores das vias excretoras, 75% deles acometem a pelves ou os
cálices renais, e apenas 25% são ureterais. São mais frequentes nos homens, mas as mulheres acometidas pela doença costumam evoluir de forma mais sombria.
• Um dos principais fatores desencadeantes da doença é o fumo, sendo que o
risco será maior conforme o número de anos que o indivíduo fumar.
• O uso crônico do analgésico fenacetina e da erva Aristolochia fangchi, utilizada
para emagrecimento, estão nitidamente relacionadas ao desenvolvimento desta doença. Diagnóstico • Exames radiológicos: Urografia excretora, tomografia computadorizada) ou ultrassonografia, com a finalidade de avaliar as vias excretoras. • A presença de alterações radiológicas ou ultrassonográficas: ureteroscopia com objetivo de confirmar a doença e coletar material para estudo das características do tumor. • Citologia urinária na tentativa de identificar células tumorais que se desprenderam do tumor. Tratamento • Dependerá de diversos fatores, como tamanho da lesão, comprometimento do local envolvido, características das células tumorais, condições de saúde, idade, etc. Eles serão são definidos nos exames realizados previamente. • A maioria desses tumores é tratado através da retirada do rim e do ureter envolvidos (nefroureterectomia), já que, comumente, a doença compromete difusamente o urotélio. • Nos tumores do ureter bastante próximos à bexiga, o rim poderá ser preservado, situação que obriga a reinserir novamente na bexiga o restante do ureter não comprometido. • Também é possível, em casos excepcionais, o tratamento por endoscopia. • O uso de quimioterapia fica destinado àqueles tumores que já se espalharam para outros órgãos (metástases). Carcinoma invasivo • Cistectomia Radical • O carcinoma urotelial invasivo de bexiga é uma doença potencialmente letal, requer tratamento agressivo e menos de 15% dos pacientes sobrevivem dois anos se não tratados. Os objetivos do tratamento são a prevenção de recorrência local ou distante e oferecer sobrevida longa, com boa qualidade de vida. A cistectomia radical permanece como a opção de escolha para tumor de bexiga com invasão da camada muscular. Confirmada a invasão muscular após a ressecção transuretral, a cistectomia deve ser realizada o mais breve possível. Há evidência de que uma demora maior do que três meses entre a ressecção transuretral e a cistectomia altera o estadiamento, piorando o prognóstico. • As taxas de sobrevida total e livre de doença relacionam-se significativamente com o estadio patológico e a condição dos linfonodos pélvicos. A cistectomia radical em pT2-pT3a oferece controle local e aumento de sobrevida. Nestes estadios, com linfonodos negativos, a sobrevida livre de doença em 5 e 10 anos pode chegar, nas melhores séries, a 85% e 82%, respectivamente. Em pT3b e pT4, caem para 58% e 55%, respectivamente, e, havendo linfonodos comprometidos, para 35% e 34%. Nos casos de doença loco-regional ou metastática, a cistectomia pode ser indicada com finalidade paliativa. • O procedimento padrão consiste em linfadenectomia pélvica bilateral associada à cistoprostatovesiculectomia, no homem, e à exenteração pélvica anterior, na mulher, o que inclui útero, tubas uterinas, ovários, bexiga, uretra e parede vaginal anterior. O objetivo é realizar uma ampla ressecção, incluindo toda a gordura perivesical e tecidos adjacentes, para se obter margens cirúrgicas negativas. • A linfadenectomia recomendada consiste na remoção de todos os linfonodos situados na porção distal das artérias ilíacas comuns, hipogástricas, obturadoras e ilíacas externas, o que resulta em 10 a 14 linfonodos. Há evidência fraca de que o resultado relacionado à recidiva local e sobrevida é proporcional ao número de linfonodos removidos, mesmo que não comprometidos2(C). • Cistectomia Parcial • A cistectomia parcial pode ser feita em casos excepcionais e sempre acompanhada de linfadenectomia uni ou bilateral. Em série recente, foi realizada em 6,2% dos tumores invasivos de bexiga, sendo indicações restritas a tumor único, ausência de carcinoma in situ, não recidivados e em local passível de ressecção. Os resultados são semelhantes aos da cistectomia radical, com a vantagem da preservação da bexiga. É opção válida para tratamento de tumores em divertículos 3(C). Referências • https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0104-42302008000400008 • https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospit al/especialidades/nucleo-avancado-urologia/P aginas/tumor-urotelial.aspx • Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas das Doenças 8ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2010. BRASILEIRO-FILHO, G. e cols.