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Posso ser quem você é sem

deixar de ser quem eu sou:


uma reflexão sobre o ser
indígena
Daniel Munduruku
Esta Foto de Autor desconhecido está licenciada sob CC BY-NC.

Nunca gostei de ser "índio"


Nasci com cara
de índio, dizem.
Mas só soube
disso depois. 

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 Geralmente quando vemos
fotos de indígenas estas
representam um momento
festivo ou cerimonial. Até
porque este costume de tirar
fotos durante o expediente de
trabalho ou no meio do almoço
e até mesmo quando vamos ao
banheiro é uma invenção
recente, mesmo para o homem
branco .
 Um deles
 Passamos
apontou o
a ver e ensinar a
dedo para mim
cultura das populações
e gritou: —
indígenas apenas na forma
Olha o índio
de caricatura esvaziada e
que chegou na
sem sentido.
nossa escola!!!
Olha o índio!
 . Entendi, então, que meus
colegas me deram um apelido.
No começo, eu até achei que
era legal ter um, mas depois fui
percebendo que por causa dele
quase sempre eu era isolado nas
brincadeiras,

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O engraçado é
que eles se
pareciam
comigo: 

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Vamos brincar de índio?
“ Diferentes concepções
proporcionam diferentes
abordagens

 Em uma pesquisa sobre a temática indígena nas escolas, as alunas,


Maria Aparecida Bergamaschi e Luana Barth Gomes da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul comprovaram que é possível perceber que
os alunos possuem uma imagem totalmente ultrapassada sobre os povos
indígenas, na maioria dos livros didáticos os nativos brasileiros são
sempre representados em geral sem ou com pouca roupa, com os corpos
pintados, com cocares nas cabeças, arcos e flechas e, em geral, em
contato com a natureza.
 Como o indígena Daniel Munduruku diz, em muitas escolas, os professores dedicam boas
horas letivas para inculcar nas crianças ideias preconcebidas a respeito do nativo brasileiro,
como por exemplo:

 o atraso tecnológico;

 a preguiça;

 o canibalismo;

 a selvageria;

 Segundo (BERGAMASCHI; GOMES, 2012) essa imagem de “índios” apresentadas pelos


livros didáticos podem construir uma visão permanente na criança que irá acompanha-la
durante toda a sua vida. Por isso diferentes concepções proporcionam diferentes abordagens.
Hiper sexualização

A indígena Kaê Guajajara em uma entrevista para o canal


GNT, relata um pouco sobre o fato da hiper sexualização
da imagem das mulheres indígenas e como essa abordagem
pode gerar danos para o seu povo. Como por exemplo as
fantasias de carnaval que objetificam a imagem das
mulheres indígenas e as definem em uma mera fantasia
sensual, não levando em conta os outros aspectos que as
definem como mulheres indígenas.
Alvará Régio de 4 de abril de 1755
[...] considerando o quanto convém que os meus reais domínios da América se povoem,
e que para este fim pôde concorrer muito a comunicação com os Índios, por meio de
casamentos: sou servido declarar que os meus vassalos (súditos) deste reino e da
América, que casarem com as Índias dela, não ficam com infâmia alguma, antes se
farão dignos da minha real atenção; e que nas terras, em que se estabelecerem, serão
preferidos para aqueles lugares e ocupações que couberem na graduação das suas
pessoas; [...] E outrossim proíbo que os ditos meus vassalos (súditos) casados com
Índias, ou seus descendentes, sejam tratados com o nome de Caboclos (Pessoa que
resulta da mistura de branco com índio), ou outro semelhante. [...]
Dentro do Brasil existe uma cultura muito rica e que vale a
pena desvendá-la. A escola tem um papel fundamental para a
valorização da cultura indígena e ao invés de ensinarem uma
visão superficial, podem trabalhar com as crianças a temática
abordando as formas de fazer comida, a medicina, as lendas, as
historias por de trás das dança, e dessa maneira ir penetrando a
cultura indígena de forma que conscientize as crianças de que
ainda existem povos indígenas, que inclusive muitos optam por
viverem nas cidades.
Equívocos nossos de cada dia
 Um dos equívocos mais comuns quando o tema é povos indígenas é considerar
toda a diversidade cultural que ainda hoje existe como sinônimo de
semelhança.

 Não é difícil encontrar alguém que, ao se deparar com um descendente dos


primeiros povos, o identifique como índio.

 A história contada pelos vencedores quase nunca menciona a manipulação que


foi engendrada contra os povos indígenas. Não conta que usaram as diferenças
culturais para destruir a alma desses povos; não conta a estratégia utilizada
para silenciar grupos inteiros que eram vitimados por doenças contraídas pelo
uso de roupas contaminadas; nada diz sobre alimentos contaminados ou rios
envenenados. Nos raros livros em que isso aparece, conta-se como
superioridade, como esperteza.
 A palavra “Índio” chegou até o século 21. Ela continua vitimando muitos
jovens indígenas que não conseguem superar a perda de sua identidade
cultural. Ela ainda carrega consigo as marcas do sofrimento vivido por muitas
gerações que sobreviveram à história dos vencedores. Ela continua sendo um
equívoco que precisa ser extirpado da mentalidade nacional. Este não é o
único engano que trazemos em nossa cabeça, mas certamente é o mais nocivo
porque alimenta todos os outros. Ao conseguir se livrar deste modo genérico
de referir-se aos povos indígenas, a sociedade brasileira irá dar um passo
enorme na sua capacidade de conviver com a diferença.

 Aqui não há índios, há indígenas; não há tribos, mas povos; não há UMA gente
indígena, mas MUITAS gentes, muitas cores, muitos saberes e sabores. Cada
povo precisa ser tratado com dignidade e cada pessoa que traz a marca de
sua ancestralidade precisa ser respeitada em sua humanidade. Ninguém pode
ser chamado de “índio”, mas precisa ser reconhecido a partir de sua
identidade Munduruku, Kayapó, Yanomami, Xavante ou Xucuru-Kariri, entre
tantos outros.
Usando a palavra certa pra doutor não
reclamar
 o termo indígena significa “aquele que pertence ao lugar”, “originário”,
“original do lugar”. Pode-se notar, assim, que é muito mais interessante
reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena que
índio.

 Outra palavrinha traiçoeira e corriqueiramente usada para identificar os


povos indígenas é “tribo”.

 Se não se pode chamá-los de tribo, como chamá-los? Povo. É assim que se


deveria tratá-los. Um povo tem como característica sua independência
política, religiosa, econômica e cultural.
Povos Indígenas, nossos contemporâneos

 No tópico em questão, Daniel Munduruku discorre sobre duas ideias um tanto


quanto contraditórias porém recorrentes na sociedade: a de que o indígena é
um ser incorruptível, ético e que vivia em um ambiente paradisíaco sem
problemas ou conflitos; já a outra é que o indígena é um ser "preguiçoso",
atrasado, selvagem que atrapalha o progresso.
 São essas duas ideias que temos – mais a primeira do que a segunda – que
fazem parte do nosso imaginário como sendo o estereótipo do índio, o mesmo
que bastante difundido no Dia do Índio. Tanto que qualquer indígena que
apresentasse algo fora dessa caixinha de características pré-concebidas e
difundidas pelas pessoas através dessas duas ideias como ser um acadêmico,
ter notoriedade na política, na arte e música é dito como não sendo "índio de
verdade". Também faz com que os indígenas não tenham notoriedade política
ou que administram órgãos como a Funai (Fundação Nacional do Índio) com a
desculpa de "falta de gente competente". Diante disso, o autor se questiona
se é realmente isso, ou se tem outros motivos por trás.

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