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COMPORTAMENTO DA MADEIRA DE Eucalyptus globulus COM DIFERENTES TEORES DE LIGNINA PARA PRODUÇÃO DE CELULOSE KRAFT

Claudia A. Broglio da Rosa¹, Gabriel Valim Cardoso¹, Patrícia de Oliveira 2 , Teotônio F. de Assis2, Celso E. B. Foelkel³, Sonia M. B. Frizzo1

1
Laboratório de Química da Madeira
Departamento de Química-CCNE 2
Klabin CeluloseRiocell . 3
Grau Celsius Ltda
Universidade Federal de Santa Maria Guaíba – RS – BR 91330-520 – Porto Alegre
97105-900 – Santa Maria – RS – BR poliveira@riocell.com.br Rio Grande do Sul – Brasil
cabroglio@yahoo.com.br foelkel@pro.via-rs.com.br
sofrizzo@terra.com.br
INTRODUÇÃO
O crescente avanço global tem gerado o aumento da competitividade e da busca constante pela perfeição no produto final, ou seja, o papel
46,0
ideal destinado à finalidade desejada. A tecnologia moderna e matéria-prima de qualidade tem possibilitado o crescimento do mercado 44,0
1300
15,0

papeleiro. E, juntamente com a expansão das indústrias deste setor, todos os nichos envolvidos também cresceram. Nunca se plantou tantas 1250 14,5 14,0

Viscosidade, cm³/g
Alvura, % ISO
41,6
42,0 41,4 13,8
1200 1215 14,0
florestas fornecedoras de madeira com tanta qualidade. Com a clonagem de matrizes que beiram à perfeição, devido ao cruzamento genético

S5%
40,0 1133
1150 13,5
de indivíduos com características destacadas, é possível encontrar povoamentos inteiros de Eucalyptus perfeitamente manejados. 38,0
1100
13,0
36,0
O estudo das propriedades da madeira do eucalipto tem destacado as qualidades encontradas nas espécies mais importantes do gênero no 34,0
1050
12,5
22,9 20,5 22,9 20,5
setor papeleiro. O E. globulus há tempos é destaque em outros países para este fim, suas características são dadas como excelentes. No Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina
1000
22,9 20,5
Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina
Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina

Brasil, sua implantação na região sul, possibilitou o surgimento de mais uma fonte de qualidade e rendimento. As propriedades da madeira, Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29
Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29 Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29

densidade básica, lignina, celulose, hemicelulose e extrativos, constituem as características da madeira de maior impacto sobre o custo e a Figura 5. Relação entre alvura e teor de Figura 6. Relação entre viscosidade e teor de
Figura 7. Relação entre solubilidade em
NaOH5% e teor de lignina Klason.
lignina Klason. lignina Klason.
produtividade da indústria de polpa kraft, sendo que, os teores de lignina e extrativos são considerados como características químicas
fundamentais, uma vez que influenciam diretamente o consumo de álcali, rendimento e o potencial de produção.
90,0 4,0 7,0 16,0

Indice de tração, N.m/g


JUSTIFICATIVA

Indice de Rasgo, mN.m²/g


14,0

Estouro, kPa.m²/g
80,0 3,5 6,0

Elongação, %
70,0 5,0 12,0
A escolha da espécie E. globulus para realização deste estudo foi devido ao menor teor de lignina que esta espécie apresenta em comparação 60,0
3,0
4,0
10,0

às espécies tradicionalmente usadas no Brasil, bem como as boas características que o papel resultante apresenta e também pela adaptação 50,0
2,5
3,0
8,0
6,0
desta espécie às condições climáticas do Sul. 40,0
22 24 26 28 30 32 34 36
2,0
22 24 26 28 30 32 34 36
2,0
22 24 26 28 30 32 34 36
22 24 26 28 30 32 34 36
°SR °SR
°SR °SR
OBJETIVO Lig. baixa Lig. alta Lig. baixa Lig. alta Lig. baixa Lig. alta Lig. baixa Lig. alta
Polinômio (Lig. baixa) Log. (Lig. alta) Polinômio (Lig. baixa) Polinômio (Lig. alta) Log. (Lig. baixa) Log. (Lig. alta) Polinômio (Lig. baixa) Polinômio (Lig. alta)

Estudar a influência do teor de lignina Klason da madeira, em duas diferentes faixas de concentração, para produção de celulose kraft de Figura 8. Relação entre índice de tração e Figura 9. Relação entre elongação e Grau Figura 10. Relação entre resistência ao
Figura 11. Relação entre índice de rasgo e
madeiras de E. globulus e seus efeitos no processo de cozimento da madeira e de refino das celuloses obtidas. Grau Schopper Riegler. Shopper Riegler. estouro e Grau Schopper Riegler.
Grau Schopper Riegler.

MATERIAL

Resist. ao Ar, s/100 min.


14,0 90
1,8

Asc. Capilar, mm/10 min.


12,0
Foram abatidas 50 árvores da espécie E. globulus subespécie globulus Labil., com 8 anos de idade, selecionadas em um povoamento, 1,7 80

Vol. Específico, cm³/g


10,0
1,6 8,0
pertencente a empresa Klabin Celulose Riocell, localizado no sul do Brasil. Foi escolhido um talhão de aproximadamente 1,9 hectar, onde o 1,5 6,0
70

60
espaçamento implantado era de 2,0 x 3,0 m. 1,4
4,0
2,0
50
22 24 26 28 30 32 34 36
A seleção das melhores árvores foi com base na aparência e desenvolvimento das árvores, considerando aquelas com altura dominante, °SR
0,0
22 24 26 28 30 32 34 36 40

retidão no fuste, sem presença de rachaduras e podridões. Lig. baixa Lig. alta
°SR 22 24 26 28
°SR
30 32 34 36

Lig. baixa Lig. alta


Lig. baixa Lig. alta
Potência (Lig. baixa) Polinômio (Lig. alta) Polinômio (Lig. baixa) Polinômio (Lig. alta)
METODOLOGIA DE TRABALHO Potência (Lig. baixa) Polinômio (Lig. alta)

Figura 12. Relação entre volume específico


As árvores tiveram suas características dendrométricas avaliadas e, após, retirou-se cinco discos de cada árvore e cada posição, a saber: e Grau Schopper Riegler.
Figura 13. Relação entre resistência ao ar
Gurley e Grau Schopper Riegler.
Figura 14. Relação entre ascensão capilar
e Grau Schopper Riegler.
base, 10%, 20%, 30% 40%, 50%, 60%, 70%, 80%, 90% e 100% da altura comercial.
Com o material selecionado, procedeu-se a seguinte metodologia de trabalho:
Determinação da Densidade Básica
Análises Químicas (Teor de Extrativos, Lignina Insolúvel e Cinzas) CONCLUSÕES
Cozimento kraft •Os volumes e pesos secos das árvores, que são características importantes para produtividade florestal, apresentaram coeficientes de
Análise do Licor Residual variação entre árvores acima de 34%. Mostrando a influência das condições edafoclimáticas do local sobre o povoamento , implicando em uma
Número Kappa, Viscosidade, Solubilidade em NaOH5% e Alvura heterogeneidade ampla;
Refino das Polpas Não Branqueadas As árvores com distintos teores de lignina comportaram-se de maneira diferente. As madeiras com baixo teor de lignina insolúvel ( média de
Variáveis do Processo Lignina Lignina
Testes Físico-mecânicos das Polpas Refinadas Alta Baixa 20,53%) tiveram melhor desempenho durante a conversão à celulose, apresentando maior rendimento depurado (média de 53,0%), menor
Álcali Ativo, expresso como NaOH, % 19,0 18,0
consumo de álcali efetivo (média de 15,1%) e maior viscosidade (média de 1215 cm³/g);
Sulfidez, % 20,0 20,0
As polpas produzidas a partir das madeiras com alto teor de lignina (média de 23,02%) apresentaram o menor rendimento depurado (média
Relação Licor/Madeira, L/kg 4:1 4:1
CONDIÇÕES EMPREGADAS NOS COZIMENTOS Temperatura máxima, °C 168 168
de 50,7%) para um consumo de álcali efetivo relativamente maior (média de 15,7%) e uma viscosidade inferior (média de 1133 cm³/g);
Tempo de aquecimento, min. 90 90
O teor de rejeitos variou de 0,09 a 0,25 % para polpas com baixo teor de lignina, a alvura variou de 37,79 a 44,28 %ISO e o S5% variou de
Tempo à temperatura máxima, min. 60 60 12,9 a 14,6 %. Sendo que o número kappa para estas polpas ficou entre 16,2 e 18,2. Para as polpas obtidas das madeiras com alto teor de
Peso seco de cavacos, g 190 190 lignina, o teor de rejeitos variou de 0,04 a 0,28 %, a alvura variou de 38,32 a 45,78 %ISO, o S5% variou de 13,5 a 14,6 % e o número kappa
RESULTADOS
destas polpas ficou entre 16,2 e 18,0;
DENDROMETRIA COMPOSIÇÃO QUÍMICA Analisando o aspecto das resistências físico-mecânicas das polpas não-branqueadas, pode-se afirmar que o teor de lignina e, possivelmente,
Densidade Volume real Peso seco s/c
a viscosidade das celuloses dos dois tipos, influenciaram significativamente no gasto de energia de refino. A energia no PFI necessária para
Parâmetros
Básica (g/cm3) s/c (m3) (t) refinar as polpas com baixo teor de lignina foi maior, média de 200 rotações a 25°SR e média de 600 rotações a 30°SR. Já para refinar as
Valor médio para as seis árvores 0,533 0,224 0,119

Valor médio para as três árvores 0,540 0,180 0,097


PARÂMETRO
Média das 50árvores
EXTRATIVOS%LIGNINA% HOLOCEL.%CINZAS %
1,79 21,85 76,36 -
polpas com alto teor de lignina, a 25°SR praticamente não houve gasto de energia e a 30°SR o valor médio foi de 100 rotações;
com alto teor de lignina Médias das 3 árvores Com relação aos testes físico-mecânicos aplicados nas folhas resultantes das polpas marrons refinadas, pôde-se observar que as polpas das
Valor médio para as três árvores 0,527 0,268 0,142 c\ alto teor de lignina 1,93 23,02 75,10 0,37
com baixo teor de lignina Média das 3 árvores madeiras com baixo teor de lignina apresentaram os melhores resultados para resistência à tração, resistência ao estouro e ao rasgo. A
Valor mínimo entre as seis árvores 0,512 0,152 0,085 c\ baixo teor de lignina
Desvio padrão
1,48
0,96
20,53
0,89
77,98
1,64
0,43
0,08
absorção de água e a porosidade dessas celuloses foram também maiores. Para as resistências à tração, ao estouro e ao rasgo e para
Valor máximo entre as seis árvores 0,557 0,384 0,205

Desvio Padrão 0,015 0,085 0,045


Coeficiente de variação% 1,26 4,08 2,14 19,62 absorção de água, os diferentes teores de lignina exerceram maior influência a 30°SR. As diferenças aumentaram a medida que aumentava o
Coeficiente de Variação, % 2,75 37,7 37,6 grau de refino;
Como conclusão geral, é possível afirmar que o menor teor de lignina da madeira em árvores selecionadas de Eucalyptus globulus afeta não
55,0 0,20 16,2
18,0
somente a facilidade de deslignificação e o rendimento de conversão da madeira à celulose, mas também as qualidades físico-mecânicas das
Álcali Efetivo Consumido, %

54,0 0,14 16,0


Rendimento Depurado, %

52,9
polpas obtidas pela capacidade de lignificação das fibras e pela maior viscosidade encontrada para mesmos números kappa. Os resultados são
Teor de Rejeitos, %

0,14
53,0 0,15 15,8 17,5
Número Kappa

15,6 15,7 17,0 16,8


52,0
51,0
50,5
0,10 15,4
15,1
17,0
muito melhores quando se trabalha com as árvores com madeiras de menor teor de lignina, confirmando que a composição química da madeira
15,2 16,5
50,0
49,0 0,05 15,0 16,0 é uma característica que exerce grande impacto sobre o custo, a produtividade e a qualidade do produto final na indústria. O teor de lignina de
14,8
48,0
47,0
0,00
22,9 20,5
14,6 15,5
22,9 20,5
uma madeira dever ser considerado como um parâmetro fundamental no processo de escolha da matéria-prima a nível industrial, pois exerce
22,9 20,5 14,4
Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina 22,9 20,5 Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina influência direta e importante sobre o consumo de álcali, rendimento da deslignificação, potencial de produtividade industrial no digestor e,
Alto Teor de Lignina Baixo Teor de Lignina
Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29 Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29 Árv.48 Árv.42 Árv. 09 Árv.26 Árv.40 Árv.29
Árv.48 Árv.42 Árv.09 Árv.26 Árv.40 Árv.29
principalmente, o nível de qualidade do produto final.
Figura 3. Relação entre álcali efetivo Figura 4. Relação entre número Kappa e
Figura 1. Influência do teor de lignina Figura 2. Relação entre teor de rejeitos e teor de lignina Klason.
Klason sobre o rendimento. teor de lignina Klason. consu Mido e teor de lignina Klason.

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