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Hiperêmese

gravídica
Carolina Filardi
Definição
Síndrome caracterizada pela persistência de náuseas e vômitos, que
aparecem antes da 20ª semana de gestação, associada à:
 perda de peso (> 5%),
 desidratação,
 distúrbio hidroeletrolítico,
 cetose e cetonúria.

O aparecimento é mais comum entre a 6ª e 14ª semana de gestação.


Epidemiologia

2:1.000 gestanes.

Acomete, principalmente:

primigestas, jovens, obesas, portadoras de gestação gemelar ou


doença trofoblástica gestacional e as com história pregressa de
hiperêmese gravídica.

Pode se associar com algumas malformações como as trissomias do


21, triploidias e hidropsia fetal.
Etiologia
Fatores Endócrinos: o pico de secreção de hCG coincide com a
exacerbação clínica da hiperêmese.

O estrogênio pode ser o coadjuvante ou até mesmo o causador dos


sintomas. A progesterona também parece estar envolvida,
principalmente quando o corpo lúteo situa-se no ovário direito. A
drenagem venosa diretamente para veia cava inferior oferece maior
quantidade deste hormônio à gestante.
Etiologia
Fatores Imunológicos:

uma substância antigênica desencadearia reação materna no centro


do vômito e no trato gastrointestinal.
Etiologia
Fatores Psicossomáticos:

a rejeição da gravidez, a não aceitação da maternidade, a perda da


liberdade, a rejeição ao pai da criança, a autopunição e a imaturidade
são fatores que podem determinar ou agravar o quadro. A
hiperêmese pode ser uma forma de alteração comportamental em
relação ao meio que envolve a paciente.
Diagnóstico
 Vômitos incoercíveis antes de 20 semanas de gravidez.

 Perda de peso corporal (4% a 10%).

 Sinais de desidratação grave.

 Distúrbios hidroeletrolíticos.

 Alterações laboratoriais:
Koren G, Piwko C, Ahn E, Boskovic R, Maltepe C, Einarson A, et al. Validation studies of the Pregnancy Unique-Quantification of Emesis (PUQE) scores. J Obstet Gynaecol. 2005;25(3):241–4.
Evolução
Fase de desidratação

Náusea e ptialismo intensos, vômitos fortes levando a um quadro de


desidratação. A paciente apresenta-se com diminuição do turgor e da
elasticidade da pele, olhos encovados, mucosas secas e pegajosas, língua
áspera, taquicardia, hipotensão e hipotermia. Distúrbios hidroeletrolíticos
podem estar presentes (dosagem de sódio alta, cloro e potássio um pouco
diminuídos). O hematócrito encontra-se um pouco aumentado.
Evolução
Fase metabólica

Ao quadro clínico anterior, somam-se distúrbios nutricionais (perda de peso


maior que 5%); alterações da função hepática com elevação de enzimas e
bilirrubinas (icterícia discreta); cetoacidose e cetonúria 2 ou 3 +;
hipoalbuminemia; hiponatremia; e hipopotassemia. Hipoglicemia já ocorre
nessa fase. Pode ocorrer hipotermia e torpor
Evolução

Fase neurológica

Os achados anteriores somados a um quadro de comprometimento


oftálmico com lesões retinianas e alterações neurológicas iniciais com
hiporreflexia e dor à palpação das panturrilhas e coxas. Esse quadro é muito
importante, pois antecede o acometimento encefálico, que é irreversível, em
uma semana. Esse intervalo é chamado de “Interstício crítico de Briquet” e a
interrupção da gravidez deve ser feita imediatamente.
Evolução
Fase da psicose de Wernicke-Korsakoff

Trata-se de uma encefalopatia amoniacal, caracterizada por instabilidade


hemodinâmica de difícil controle, alucinações e coma. Este quadro é
irreversível na maioria das vezes.
Tratamento
O tratamento da HG deve ser multidisciplinar e em ambiente hospitalar.
Tratamento
CUIDADOS GERAIS

 Internação.
 Suspender alimentação nas primeiras 24 horas (ou por mais tempo, a
depender da evolução do quadro clínico).
 Controle diário de peso e diurese.
 Após estabilização do quadro, introduzir dieta líquida, com evolução
progressiva para sólida/ branda, pobre em lipídios e rica em carboidratos,
conforme aceitação da paciente.
 Avaliar a necessidade de nutrição parenteral nos casos prolongados,
rebeldes à terapêutica instituída.
 Evitar medicamentos à base de ferro
Tratamento
Esquema de reposição hidroeletrolítica

o Primeiras 24 horas – 1000 ml de soro fisiológico (SF) 0,9% em 2 h, com 20


mmol de KCl, seguidos de :

 1000 ml de SF 0,9% em 4 h com 20 mmol de KCl


 1000 ml de SF 0,9% em 6 h
 1000 ml de SF 0,9% em 8 h
 1000 ml de SF 0,9% em 8 h (manutenção).
 Reposição de potássio de acordo com os níveis séricos.
 Evitar soluções com alta concentração de glicose.
 Evitar reposição vigorosa de sódio.
 Não exceder 6000 ml de fluidos por dia.
Tratamento
 Piridoxina (Vitamina B6) – é a droga mais segura, utilizada na dose de 10 a
25 mg a cada 8 horas

 Antieméticos – 1ª escolha
o Metoclopramida: 10 a 20mg, IV, de 6/6 h.
o Dimenidrinato: 50 mg IV , de 6/6 h
o Prometazina: 25 mg IM de 8/8 h
o Ondansetrona (em casos graves): 4 a 8 mg IV até de 6/6 h - evitar o uso no
primeiro trimestre.
Koren G, Piwko C, Ahn E, Boskovic R, Maltepe C, Einarson A, et al. Validation studies of the Pregnancy Unique-Quantification of Emesis (PUQE) scores. J Obstet Gynaecol. 2005;25(3):241–4.
Tratamento
 Sedativos – 2ª escolha
o Levometromazina – (solução a 4% ) - 3 gotas (6mg)VO de 8/8 h o
Diazepam 5 mg VO ou 10 mg IV até de 8/8 h

 Corticosteróides – 3a escolha
o Metilprednisolona 16 mg IV de 8/8 h (evitar o uso antes de 10 semanas) –
usado nos casos de psicose de Wernicke-Korsakoff.
Referências
Êmese da gravidez / Geraldo Duarte... [et al]. -- São Paulo: Federação das Associações
Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. (Série Orientações e
Recomendações FEBRASGO, no. 2/Comissão Nacional Especializada em Assistência
Pré-natal). 23p.

Hiperêmese Gravídica. Rotinas Assistenciais da Maternidade-Escola da Universidade


Federal do Rio de Janeiro. Disponível em http://www.me.ufrj.br/images/pdfs
/protocolos/obstetricia/hiperemese_gravidica.pdf.

Koren G, Piwko C, Ahn E, Boskovic R, Maltepe C, Einarson A, et al. Validation studies of


the Pregnancy Unique-Quantification of Emesis (PUQE) scores. J Obstet Gynaecol.
2005;25(3):241–4.

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