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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DE PORTO ALEGRE

Avaliação dos Desvios


Fonológicos

LIZANDRA LIMA DAMIANI

GD 1
AVALIAÇÃO
 Mota (2001)  a avaliação é um dos
maiores instrumentos dos terapeutas da
fala e linguagem, e, como tal, se usada
apropriadamente, pode facilitar muito o
trabalho a ser executado. Uma boa
avaliação leva a um diagnóstico
preciso, à identificação da etiologia e
proporciona as bases para uma
intervenção eficaz.
GD 2
AVALIAÇÃO

 Ao avaliar e analisar as características


dos desvios de fala  terapeuta DEVE
- ter um conhecimento detalhado dos
padrões de pronúncia normais de sua
comunidade de fala;
- conhecer os padrões normais de
desenvolvimento da linguagem.

GD 3
AVALIAÇÃO

 Coleta de dados de fala


- Conversação espontânea.

- Procedimento especialmente construído


para a obtenção dos dados
 nomeação de figuras
 repetição de palavras
GD 4
AVALIAÇÃO
Conversação ou fala espontânea
 método mais natural; resulta em uma
amostra mais típica da fala da criança.
Excelente meio para a obtenção da amostra
lingüística.

(+) possibilidade de observação da fala


encadeada e dos possíveis processos
fonológicos que acontecem entre palavras;
GD 5
AVALIAÇÃO
Conversação ou fala espontânea
(+) oportunidade de observação de ocorrências
repetidas das mesmas palavras em diferentes
contextos fonológicos e gramaticais que podem
demonstrar a variabilidade de produção da criança
e pode constatar a seleção lexical feita pela criança
e a presença de estratégias de evitação.

(-) as crianças com dificuldades de fala podem relutar


em engajar-se em conversações, tornando-se
difícil a obtenção de uma
GD
amostra significativa; 6
AVALIAÇÃO
Conversação ou fala espontânea
(-) por ser um método mais espontâneo, não é
possível um controle do material de fala, fazendo
com que nem todos os sons da língua apareçam na
amostra e isso é acentuado pela estratégia de
evitação feita por crianças com desvios de fala que
tendem a evitar palavras que contenham sons mais
difíceis para ela;
(-) difícil compreensão nos casos de alterações mais
severas, ficando o terapeuta sem uma referência
para reconhecer a palavra-alvo que foi tentada pela
criança.
GD 7
AVALIAÇÃO
Exame de articulação repetitivo
 o terapeuta dá o modelo e a criança repete logo em
seguida.

(+) aplicação rápida;


(+) amostra com todos os sons da língua em todas as
posições em que estes ocorrem;
(+) oportunidade de avaliar as capacidades fonéticas
da criança, uma vez que, se o som é produzido por
repetição, isto indica que a criança tem condições
articulatórias de produzi-lo.
GD 8
AVALIAÇÃO
Exame de articulação repetitivo

(-) produção da criança tende a melhorar


quando recebe o modelo imediato do
terapeuta (imitação), não representando
suas reais condições fonológicas;

(-) não é um contexto de fala natural e não


permite a observação da fala encadeada.
GD 9
AVALIAÇÃO
Nomeação de figuras
 mais utilizada em contextos clínicos.

(+) rápido;
(+) amostra significativa da fala da criança =
todos os sons da língua nos diferentes
contextos;
(+) nos casos de fala ininteligível, o terapeuta
é capaz de reconhecer a palavra-alvo
tentada pela criança.
GD 10
AVALIAÇÃO
Nomeação de figuras
(-) as produções da criança são expressões de uma
palavra, não havendo fala contínua;
(-) em geral há apenas uma produção de cada
palavra, o que não permite a investigação da
variabilidade da fala da criança;
(-) as palavras escolhidas devem ser representáveis
em figuras, o que leva a uma preponderância de
nomes sobre verbos e outras classes gramaticais
nesse tipo de amostra.
GD 11
AVALIAÇÃO

 Solução para que se obtenha uma boa


amostra de fala  que se colete dados de
fala espontânea, de repetição e de
nomeação e se compare os resultados, o
que, muitas vezes, é difícil no contexto
clínico.

GD 12
AVALIAÇÃO

 Os procedimentos amplamente conhecidos


de avaliação fonológica são:
# Phonological Process Analysis (PPA) –
Weiner (1979);

# Natural Process Analysis (NPA) – Shriberg &


Kwiatkowski (1980);

GD 13
AVALIAÇÃO

# Assessment of Phonological Process (APP)


– Hodson (1980);

# Procedures for the Phonological Analysis of


Children’s Language (PPACL) – Ingram
(1981);

# Phonological Assessment of Child Speech


(PACS) – Grunwell (1985).
GD 14
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Objetivo

 obtenção de um conjunto representativo e


previamente determinado de palavras, mas
que não se restringe a produções de uma
só palavra, possibilitando, também, à
criança, produções de fala espontânea.

GD 15
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 No Brasil:

 teste “Avaliação Fonológica da Criança


(AFC)”, proposta por Yavas, Hernandorena
& Lamprecht (1991), é um procedimento de
coleta de dados de fala que se vale da
nomeação espontânea.

GD 16
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Registro dos dados
 Gravação em áudio (fitas K7) é a mais usada;
gravações em vídeo podem trazer
informações adicionais muito relevantes ao
terapeuta.
 As gravações da amostra de fala devem ser
feitas em ambiente silencioso e com uma
aparelhagem que possibilite a maior fidelidade
possível.
GD 17
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Transcrição fonética dos dados

 Sempre que possível, é importante que


esta seja feita simultaneamente à gravação
da fala, pois alguns detalhes fonéticos
podem não ser detectados claramente nas
fitas.

GD 18
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Transcrição fonética dos dados

 Principal aspecto a ser considerado >


confiabilidade das transcrições fonéticas,
uma vez que a análise dos dados é feita com
base nessas transcrições.

 Atualmente  vários transcritores.


GD 19
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Transcrição fonética dos dados

 Idealmente, deveria se usar uma


transcrição fonética detalhada, usando
mecanismos como os diacríticos, que
registram os fenômenos fonéticos que
ocorrem na fala de crianças com desvios.
Na prática, o sistema de transcrição ampla
é mais utilizado.
GD 20
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Análise dos dados

 Usando um modelo de análise fonológica na


avaliação dos desvios fonológicos, o terapeuta é
capaz de descobrir regularidades nos dados e
perceber a sistematicidade das fonologias com
desordens, chegando, assim, a um diagnóstico
mais preciso. Uma vez que se obtenha um
diagnóstico correto, é possível planejar um
tratamento mais efetivo.GD 21
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Análise dos dados

 De acordo com Lowe (1997) os


procedimentos de avaliação e análise da fala
de crianças devem ser capazes de atender às
seguintes exigências:
 descrever padrões existentes na pronúncia da
linguagem falada da criança – conceitos e
categorias tanto fonéticas como fonológicas;
GD 22
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
identificar diferenças entre padrões normais
de pronúncia e padrões na fala da criança –
diferenças fonéticas e fonológicas entre a
fala adulta e a da criança;
 fornecer modelo que permita indicar as
implicações comunicativas dos padrões da
criança – verifica as conseqüências
lingüístico-funcionais dos padrões de
pronúncia da criança;
GD 23
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 fornecer perfil que permita avaliar o estágio
de desenvolvimento dos padrões de
pronúncia da criança – classificação
diagnóstica da evolução através da
identificação de crianças que são diferentes
das crianças normais e da distinção entre
crianças com perfis evolutivos atrasados,
irregulares ou com desvios;
GD 24
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 facilitar o delineamento de metas de
tratamento e o planejamento de programas
terapêuticos – fornecer indicações para as
prioridades entre os alvos de tratamento;

 identificar e avaliar modificações nos


padrões de pronúncia por ocasião da
realização de uma segunda investigação –
reavaliação. GD 25
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
Satisfazendo as exigências citadas
anteriormente, uma análise fonológica fecha
o ciclo clínico de avaliação, diagnóstico,
tratamento e reavaliação.

 A avaliação dos transtornos de fala mudou


consideravelmente nas últimas duas
décadas.
GD 26
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
 Mudança:
1º) visão simplista = utilizava testes de articulação
rápidos na aplicação e obtenção de escores 
baterias de avaliação mais complexas que exigem
mais tempo para serem analisadas, mas que tem
como base teorias fonológicas.
Essa mudança decorreu da necessidade de se
entender a organização dos sistemas de sons de
cada sujeito, além das informações de suas
capacidades fonéticas. GD 27
AVALIAÇÃO
Nomeação espontânea
Assim, além de saber que sons pertencem ao
inventário fonético da criança, pode-se
saber a distribuição dos mesmos conforme
a posição na palavra e/ou enunciado
(análise contrastiva) e identificar processos
fonológicos mais gerais na fala de cada
criança (análise por processos fonológicos).

GD 28
AVALIAÇÃO
AFC
 Avaliação Fonológica da Criança (YAVAS,
HERNANDORENA & LAMPRECHT, 1991)
 Coleta de Dados
 Nomeação espontânea (Técnica de Nomeação)
 desenhos e/ou objetos = estimula-se a criança
a dizer o nome, as ações, as características ...
 Pode ser feita com o objetivo de:

- Triagem (“Sreening”);
- Análise fonológica.
GD 29
AVALIAÇÃO
AFC
 Instrumento
 Utilização de desenhos.

 Desenhos isolados (palavras isoladas) –


Jogo Lince.
Desenhos temáticos (palavras-chave) –
AFC = comentários sobre a gravura
(narrações e descrições).

GD 30
AVALIAÇÃO
AFC
 Eliciar amostras da fala da criança –
nomeação espontânea (a partir de 3 anos) 
± 30 minutos de duração.

 Desenhos temáticos = veículos, sala,


banheiro, cozinha, zoológico, circo.
125 itens (lista de palavras do AFC).

GD 31
AVALIAÇÃO
AFC
 Palavras:
• 97 palavras básicas (mínimo de 3 possibilidades de
ocorrência em cada posição) e 28 palavras
opcionais;
• pertencem ao vocabulário da criança a partir dos 3
anos e testam os sons desejados;
• fácil eliciação pelos desenhos, com: representação
equilibrada do sistema fonológico padrão (adulto),
mais de uma ocorrência, sons em diferentes
posições na pal. e em pals. que são diferentes
quanto à estrutura silábica e quanto ao nº de síls.
GD 32
AVALIAÇÃO
AFC
• Exceções: /z/ OI (o vocabulário do português
apresenta poucos exemplos de ocorrência de /z/
no início de palavras); /t/ e /d/ OI e OM (embora
esses dois sons sejam alofones de /t/ e /d/
respectivamente, considerou-se sua inclusão
importante para que se obtenha uma visão geral da
fonologia da criança); /l/ em CM e CF
(semivocalizado em posição de coda, dois
exemplos são suficientes).

GD 33
AVALIAÇÃO
AFC
 Gravação da amostra
 Deve-se gravar e transcrever foneticamente os
dados.
 Quando uma mesma palavra for produzida mais de
uma vez pela criança e apresentar realizações
diferentes  as duas formas devem ser registradas.
 Local de gravação  o mais silencioso possível.
 Examinador deve repetir as palavras-alvo
solicitadas à criança.

GD 34
AVALIAÇÃO
AFC
 Transcrição fonética
 Transcrição fonética detalhada (sons do
português ou não):
- transcrição fonética ampla (uso de símbolos);
- uso de diacríticos (distorções dos sons).
Forma escrita = bola
Representação fonética = []
Substituição = [] /l/  [] / [a] /l/  [].
GD 35
AVALIAÇÃO
AFC
 Resumo da Avaliação Fonológica:
# Coleta de dados: - fala espontânea;
- nomeação;
- repetição.
# Gravação da amostra.
# Transcrição dos dados.
# Análise dos dados: descrição fonética,inventário
fonético,Análise contrastiva; Análise por traços
distintivos;Análise por processos fonológicos.
GD 36
Descrição fonética
 Conjunto de sons e segmentos usados
pelo falante;
 Descrição dos sons que o paciente é
capaz de produzir independente do
sistema contastrastivo que usa;
 Devemos registras todos os sons
produzidos independente do seu valor
fonológico;
GD 37
Ficha de dados
 Nome: Idade: data da coleta:

GD 38
Descrição fonética

GD 39
Descrição fonética

GD 40
Descrição fonética

GD 41
Descrição Fonética

GD 42
Análise Contrastiva
 Verificar como os sons produzidos são
empregados contrastivamente;
 Qual a capacidade distintiva, distinguir
significado;
 Verifica a forma com que a criança
organiza e relaciona os sons;
 Compara os sistema da criança com o
sistema padrão, sistema alvo
GD 43
Realizações das consoantes

GD 44
Realizações das consoantes

GD 45
Variabilidade da produções

GD 46
Variabilidade das Produções

GD 47
Critério de aquisição
 Acerto inferior a 50%- a criança não adquiriu o fone
contrastivo (registra-se o fone que o substitui ou
simb de omissão;
 Acerto de 51-75%- adquiriu parcialmente em
concorrência com o que substitui ( registra-se os
concorrentes);
 Acerto de 76- 85%-adquiriu o o fone contrastivo,
registra-se entre parêntese o fone que o substitui;
 Acerto de 86-100% fone contrastivo efetivamente
adquirido pela criança;

GD 48
Sistema de fones contrastivos

GD 49
Sistema dos fones contrastivos

GD 50
     
p b 50 t 100 d 66,6 k 0,0 g 0,0
p 50 t 44,4 t 100 d 66,6
t 33,3

     
 60  89 s 16,6 z 66,6  20  100
t 40 b 11 t 66,6  33,3 t 40
p 16,6 p 20
 t 20
 (coda)
s 25
 75
   
   75 
p 25
   
100  100

   R
l 66,6 R 100
j 33,3

 (coda)
 83,3%
y 16,6

GD 51
Análise por traços distintivos
Unidades mínimas que se unem para a composição de um
segmento da língua, cada som é o conjunto de traços que co-
ocorrem.
Fornecem a noção de distância e proximidade fonética;
Qto mais traços em comum mais chances de serem substituídos;
Os mesmos são responsáveis pela diferenciação dos fonemas/
significados.

Ex: Fila [-sonoro] vila [+sonoro]

GD 52
Teoria de traços distintivos
 Desvios fonológicos= erros de traços
 Comparação do som realizados com o som alvo
Faca [paca] f p
Sapo[tapu] s t + consoante + consoante
+ contínuo - contínuo
Mesa[seta] z t
+ estridente - estridente
+ sonoro - sonoro

GD 53
É possível verificar:
 os traços com problema;
 As regularidades do sistema da criança;
 Informação fonética e fonológica

O tratamento de um par de fonemas que diferem pelo


traço que apresenta o erro levará a generalização (se
estenderá a todos os pares que se opõem pelo mesmo
traço).

GD 54
GD 55
Ocorrências
b p [+sonoro] [-sonoro]
d t [+sonoro] [-sonoro]
k t [+ posterior] [-posterior], [-coronal] [+coronal]

g d [+posterior] [- posterior], [-coronal] [+coronal]

t [+posterior] [- posterior], [+sonoro] [-sonoro]

f p [+ contínuo] [-contínuo]

t [+ contínuo] [- contínuo], [-coronal] [+coronal]

s t [+ contínuo] [-contínuo]

z  [+anterior] [-anterior]
 t [+contínuo] [-contínuo]
 l [-lateral] [+lateral]
GD 56
Traços distintivos

[+sonoro] [-sonoro] = 3

[+ posterior] [-posterior] = 3

[-coronal] [+coronal] =3

[+ contínuo] [-contínuo]= 4

[+anterior] [-anterior]= 1

[-lateral] [+lateral]= 1

GD 57
Análise por processos fonológicos

Processo fonológico: operação mental


aplicada a fala para substituir em lugar de
uma classe de sons ou seqüência de sons que
apresentam uma dificuldade específica
comum a capacidade de fala do indivíduo,
uma classe alternativa idêntica porém
desprovida da propriedade difícil.

Atuam no padrão da fala da criança para


facilitar os aspectos mais complexos.
GD 58
Processos fonológicos Exemplos
Processos de estrutura Redução de EC Droga  ['dg]
silábica Apag. de sílaba átona Martelo ['tlu]
Apag. de fricativa final Casca  ['kak]
Apag. de líquida final Carne  ['kani]
Apag.dlíquida intervocálica Cabelo  [ka'bew]
Apag. de líquida inicial Lua  ['u]
Metátese Vidro  ['vidu]
Epêntese Flor  ['foi]
Processo de Dessonorizaçãod obstruinte Gato  ['katu]
substituição Anteriorização Cama  [‘tm]
Substituição de líquida Marido  [ma'litu]
Semivocalização de líquida Carne  ['kajni]
Plosivização Chave  ['tavi]
Posteriorização Pato  ['paku]
Assimilação Jacaré  [ka'ka]
Sonorização pré-vocálica Tesoura [dizow]

GD 59
Processos fonológicos Exemplos

P. encontrados na fonologia com Nasalização de líquida Garrafa [ka’naf]


desvio
Africação Açúcar [a’tuk]

Desafricação Tia [‘i]

Plosivização de líquida Palhaço


[pa’dasu]
Semivocalização de Cama [‘kja]
nasal
Coocorrência de processos Mais de um processo Escreveu
operante na mesma [ike’few]
palavra (+ comum) Sapato [a’papu]

Processos interpalavras Atuam no início ou fim


da palavra por
influencia da
palavra vizinha

GD 60
Quais os processos que ocorrem
na fala de H.?
SUBSTITUIÇÃO:
 DESSONORIZAÇÃO
 ANTERIORIZAÇÃO
 PLOSIVIZAÇÃO
 SUBSTITUIÇÃO DE LÍQUIDA

GD 61
ESTRUTURA SILÁBICA
 REDUÇÃO DE Ec
 APAGAMENTO DE LÍQUIDA FINAL
 APAGAMENTO DE FRICATIVA FINAL

GD 62

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