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ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES

“Uma introdução à obra O Capital de Karl Marx”


Prof. Dr. Flávio Bezerra de Farias

Local: Brasília
Período: 8 a 10 de novembro de 2013
Introdução
Livros e partes da obra O Capital
Explicação sobre o uso da abstração no método
marxiano
Aplicação marxiana da dialética de Spinoza

Na crítica da economia política (Karl Marx, O capital, L. I):


Spinoza não merece ser tratado como um “cão morto”.
Ao contrário de Spinoza, a economia política vulgar
pensa que “a ignorância é um fundamento suficiente”.
Assim, a economia política vulgar ignora a proposição de
Spinoza: “Determinatio est negatio.” Portanto, não
percebe “que toda a toda ação humana pode ser vista
como o abster-se da ação oposta...”
“No atinente a esta ideia de que a figura é uma negação, mas
A figura em Spinoza

não alguma coisa de positivo, é evidente que a pura matéria


considerada como indefinida não pode ter figura e que só há
figura em corpos finitos e limitados. Portanto, quem diz
perceber uma figura mostra com isto somente que concebe
uma coisa limitada e de que maneira ela o é. Esta
determinação, pois, não pertence à coisa enquanto tal, mas, ao
contrário, indica a partir de onde a coisa não é. A figura, então,
não é nada mais do que uma delimitação e, toda delimitação
sendo uma negação, a figura não pode ser, como eu disse, nada
mais do que uma negação (SPINOZA, Baruch de. Traité
politique / Lettres. Paris: GF Flammarion, 2007, pp. 283-284).
A figuração processual marxista
da formação socioeconômica
Figuração processual marxista da formação socioeconômica
Figuração processual marxista da formação socioeconômica
Figuração processual marxista da formação socioeconômica
Aplicação marxiana da dialética hegeliana

Nas cartas de Marx e Engels sobre O Capital:


Quando Hegel era tido, também, pela economia política
vulgar como um “cão morto”, a ser ignorado, Marx e
Engels o “levaram a sério” e aplicaram “de maneira crítica”
o método dialético hegeliano, rejeitando suas
mistificações.
Marx e Engels destacam a importância da dialética
hegeliana no método crítico e revolucionário da crítica da
economia política.
O silogismo hegeliano como categoria da
elaboração marxiana
Nos Cadernos Filosóficos de Lênin:
O “silogismo, um universal que é totalizado com a
individualidade através da particularidade”, categoria
da elaboração na Lógica hegeliana, “lembra o pasticho
que Marx faz de Hegel no primeiro capítulo...” da obra
O Capital.
O silogismo é central na elaboração desta obra como
um todo, especialmente no nível do capital em geral
(antagonismo entre o proletariado e o capitalista, quer
individual, quer coletivamente).
Pequenos silogismos da produção Grande silogismo do capital social total
mercantil
Simples
Capital Desenvolvida:
em geral (LivrosdeI Pe II) Ciclo do Ciclo do Ciclo do
Reprodução i
capital- capital capital
dinheiro comercial produtivo
Pequeno Num espaço Pequeno Pequeno Pequeno
silogismo socialmente silogismo silogismo silogismo
M-D-M: homogêneo, D-P-M: M-D-P: P-M-D:
As merca-dorias universal, a O universal A mercadoria O singular
singulares, no subsistência do (valor-capital (com mais- (capital
quadro assalariado e a dinheiro valia) particular produtivo
particular das mais-valia do avançado) se transforma individual)
trocas, levam ao capitalista ocorrem torna-se em singular produz uma
dinheiro, a em diferentes particular (capital mercadoria com
mercadoria molinetes, (mercadoria produtivo mais-valia
universal singulares, com mais- individual), particular, que
articulados valia), através através do se transforma
hierarquicamente do singular universal (valor- num universal
numa produção (capital capital dinheiro (valor-capital
mercantil produtivo aumentado) dinheiro
desenvolvida individual) aumentado)
particular

Contradições Contradições Capital Capital Capital


mediadas pelo mediadas pelo financeiro comercial industrial
dinheiro salário
(possibilidade (vicissitude Rotação do capital social total
geral de crise) correlativa de (base material de crise)
crise) Reprodução do capital social total
(lugar de manifestação de crise)
Estrutura do Ser Social

Essência Aparência Essência

Objetividade

Ser Social Mediação Ser Social

Subjetividade

Produção Circulação Produção

Fontes: Marx, K. Para a Crítica da Economia Política / Farias, F. L’État et le


processus de socialisation capitaliste au Brésil
Estrutura da Mercadoria

Fonte: Marx, K. O Capital, L.I / Farias , F. Op.


cit.
Estrutura do Capital Produtivo Individual

Fonte: Marx, K. O Capital, L.I / Farias, F. Op. cit.


Elementos do Capital Produtivo Individual
Produção e Reprodução do Capital Produtivo Individual

Fontes: Marx, K. O Capital, L.I / Farias, F. Op. cit.


A herança spinoziana na determinação do proletariado
A dialética marxiana, parte da ideia spinoziana para mostrar
que os proletários não se unificam, a priori, como força de
trabalho da população ativa, mas também se diversificam como
membros de uma imensa superpopulação relativa, tornando-se
figura da ordem objetiva, relacionada com o processo de
acumulação do capital historicamente determinado.
A dinâmica da base econômica é o quadro no qual atua a lei
geral da acumulação capitalista, que rege a figuração
processual do conjunto e dos subconjuntos da força de trabalho
ativa e da superpopulação relativa (MARX, O capital, L. 1, cap.
25).
Assalariados em Marx
Assalariados em Marx
Assalariados ativos, flutuantes e latentes
População ativa e superpopulação relativa
Pensar por si mesmo, a partir do pensamento marxiano
Na figuração processual acima, as diversas condições do
proletariado foram determinadas por intermédio da negação,
referenciada no núcleo em que se encontra a força de trabalho
ativa. O proletariado exprime-se em conjunto e subconjuntos da
força de trabalho, cujas condições de unidade e diversidade
dependem da dinâmica da acumulação do capital.
A partir de Marx, utilizou-se cores para representar as
particularidades das condições de flutuante, latente e estagnante.
Indo com Marx para além de Marx, os índices 1 e 2 apontam para
determinadas especificidades, polarizadas em termos de
diferenças quanto ao sexo, a idade, a raça dentre outras variáveis
que expressam a condição própria da superpopulação
discriminada relativamente ao proletariado ativo:
Unidade e diversidade do proletariado
Unidade e diversidade do proletariado
Unidade e diversidade do proletariado
Unidade e diversidade do proletariado
Unidade e diversidade do proletariado
Desenvolvimento desigual da Força de trabalho
Os subconjuntos da força de trabalho são historicamente
determinados e figurados como “o múltiplo de um mesmo” (BLOCH,
Experimentum Mundi), em que o específico está numericamente
determinado por subconjuntos que o unificam e, deste modo, o
resumem; o conjunto da força de trabalho aparece no tempo e no
espaço, encerrando a multiplicidade e tolerando no seu quadro as
diferenças (ibidem).
 Categorias como o proletariado são “arquétipos que se reproduzem
aparentemente sem mudança, mas não permanecem de maneira
alguma prisioneiros do passado[...] É precisamente o fato que se
possa falar deles como de um gênero que permite apreender a
passagem dos arquétipos às categorias autênticas deste gênero, ou
mais precisamente sua revelação nelas – um desvendar
incontestavelmente carregado de um conteúdo que não tem nada de
comum com conceitos gerais puramente formalistas.” (Ibidem).
Para além do capital

A análise concreta desta figuração processual situada no tempo


e no espaço evidencia que, na grande transformação social e
histórica atual, a opressão classista se amplia, mas com
mudança qualitativa, assumindo novas formas.
As figuras referenciadas na abordagem crítica e revolucionária
marxiana “não poderiam ser pensadas e só são, além do mais,
possíveis realmente no quadro de um processo que as
transforme, as empurre mais longe e que é ele próprio utópico
e aberto.” (BLOCH, Experimentum Mundi).
Na superação do capitalismo global por intermédio do
socialismo, no contexto da utopia concreta do comunismo,
“figuras processuais dialéticas se evadem delas próprias,
pertencem ao processo como figuras de tensão, figuras de
tendências.” (Ibidem).
Reprodução Simples do Capital Social Total
Capital social total
(m’ = m/v = 100%)

Repartição Composição Repartição do


dos capitais orgânica do trabalho
capital
I. 100 80c + 20v 120
II. 100 70c + 30v 130
III. 100 60c + 40v 140
IV. 100 85c + 15v 115
V. 100 95c + 5v 105
Capitais produtivos industriais concorrentes
(m’ = m/v = 100%)
Capitais Valor- Mais- Taxa de Preço de Preço de
trabalho valia lucro média produção produção
menos
valor
80c + 20v 120 20 22% 122 +2
70c + 30v 130 30 22% 122 -8
60c + 40v 140 40 22% 122 -18
85c + 15v 115 15 22% 122 +7
95c + 5v 105 5 22% 122 +17
390v + 110v 610 110 110 610 0
78c + 22v - 22 - - -
Pluralidade do capital industrial: Grande silogismo historicamente determinado
Momento dialético inicial (homogeneidade): As leis da equalização e da queda da taxa de lucro,
enquanto tendências fundamentais da concorrência capitalista
Momento dialético central (diferenciação): A Configuração do capital industrial,
enquanto formação quantitativa e qualitativa do capital e da classe dos capitalistas
Capital produtivo Capital improdutivo
Capital-função Capital-propriedade
Capital ativo Capital inativo
Capital engajado Capital entrincheirado
Capital em ato Capital em potência
Capital real Capital-fetiche (moneyed capital)→
Capital industrial Capital comercial Capital monetário Capital fictício→
Capital mercantil Capital fundiário
Lucro industrial Lucro comercial Juro Renda fundiária
Lucro de empresa
Lucro bruto: Produção pela produção
Capital (Lucro de empresa + Juro) Terra (Renda)
Trabalho (Salário): Reduzida demanda solvável das massas
Momento dialético final (hierarquização):
Terra-Trabalho-Capital reificados como fonte de rendimentos das classes sociais.
Fórmula trinitária que engloba todos os mistérios do processo social de produção
SILOGISMO DO ESTADO NACIONAL

GENERALIDADE PARTICULARIDADE SINGULARIDADE

FORMA-ESTADO FORMA DE ESTADO FORMA DO ESTADO

MODO DE REGIME DE REGIME DE ACUMULAÇÃO


PRODUÇÃO: ACUMULAÇÃO: DADO:
feudalismo, fordismo, toyotismo,
capitalismo, etc. etc. França, Brasil, etc.
O modo estatal global como chave da forma-Estado
A genealogia do modo de existência estatal global, isto é, das
formas estatais que correspondem e se colocam no mesmo
diapasão da globalização capitalista, é uma etapa decisiva numa
autêntica concepção dialética e histórica da superestrutura política
e ideológica capitalista atual.
Cabe aplicar o princípio marxiano segundo a qual “o estádio mais
primitivo poderá então ser reconstruído pelo pensamento a partir
do estádio mais evoluído, de suas orientações, de suas tendências
de desenvolvimento” (LUKÁCS, 2011, p. 55).
Em contraste, no pensamento burguês dominante existe a busca
imediata do Estado global funcional ou adequado à nossa época, o
que acarreta ideologias, como a da governança global, que,
naturalizando a política de globalização do american way of life,
tentam eternizar uma estatização global autoritária (vulgo,
Troika).
GRANDE SILOGISMO DO MODO ESTATAL GLOBAL

UNIVERSAL PARTICULAR SINGULAR

Forma estatal Formas estatais Formas estatais


planetária regionais nacionais

 Hegemônica central  Hegemônica central


 Sub-hegemônica  Sub-hegemônica
Coletiva ideal central central
 Sub-hegemônica  Sub-hegemônica
periférica periférica

Pequeno silogismo 1 Pequeno silogismo 2 Pequeno silogismo 3


HOMOGENEIDADE – HIERARQUIZAÇÃO – DIFERENCIAÇÃO
Síntese do modo estatal global
 As recentes teorias do império, do Estado global ou transnacional, em vez de
apreenderem que o advento das potências estatais burguesas com dimensões
cada vez mais ampliadas é um fenômeno que só pode ocorrer articulado
dialeticamente com a mundialização do capital, atribuem certa primazia
idealista ao fator político, ideológico, jurídico, etc., sem considerar a grande
transformação social e histórica que conduziu a infraestrutura até uma
conjuntura situada para além do fordismo e na era da globalização, sobre a qual
se erige, dialeticamente, a nova superestrutura.
 Nesta, existe uma totalização estatal concreta, conforme a dialética do
universal e do específico (particular e singular), que envolve num mesmo
silogismo as determinações planetária, regional e nacional.
 O modo estatal capitalista global, que corresponde e se coloca no mesmo
diapasão da mundialização do capital, está em vias de configurar o seu
elemento estatal mais universal, enquanto categoria capitalista coletiva ideal
planetária (OTAN, OMC, FMI, G20, etc.). No seio da totalização estatal global
em movimento de constituição contraditória, ao mesmo tempo, se
reconstroem os seus elementos estatais específicos, sejam nacionais (Estados-
nações), seja regionais (UE, Unasul, etc.). O modo de produção e o modo
estatal tomam a escala mundial e se desenvolvem na unidade e na luta.
Efeitos do modo estatal global na periferia
A tendência à consolidação da configuração estatal geral planetária, que se manifesta como governança,
organização ou coordenação institucional global liberal – sem verdadeira constituição de uma forma-Estado
mundial, enquanto genericidade – significa, ao mesmo tempo, para as formas de existência estatais
específicas, que ocorre uma grande transformação social e histórica concernente ao conjunto de suas
determinações, no sentido da deterioração ou da regressão da categoria estatal, sobretudo nos países
periféricos, em vários aspectos, a saber:
1º Uma redução de sua soberania sobre o espaço nacional e regional;
2º Uma militarização reforçada e um déficit democrático que se exprime frequentemente pela falta de
legitimidade normativa, jurídica e constitucional e de capacidade burocrática e administrativa para garantir
a preservação dos direitos sociais, a melhoria dos serviços públicos, etc., mas cuja essência reside nos
problemas estruturais originários da totalização entre o pseudo-concreto das formas de governança e a
dinâmica da luta de classes, no contexto de divisão do trabalho do capitalismo dito cognitivo e patrimonial;
3º Uma promiscuidade entre os interesses públicos e privados, assim como uma perda importante da
autonomia relativa do estatal relativamente ao capital;
4º um enfraquecimento da democracia representativa burguesa formal e da razão estatal tecnicamente
supostamente neutra em proveito da primazia fetichista do mercado livre e eterno, assim como daqueles
que o personificam;
5º Uma colocação em causa da subsistência em potência e em ato do estatal, por causa da crise das dívidas
soberanas;
6º Uma incapacidade estatal sistêmica para a garantia das condições prévias e mediadoras das contradições
cada vez mais agudas em tempos de crise estrutural e, portanto, a reafirmação de uma resposta socialista ao
desafio do novo imperialismo global, no quadro do qual a hegemonia dos EUA se realiza como três formas
de existência, a saber: a hiperpotência universal, a superpotência regional e a potência nacional.
Configuração do imperialismo global
A figuração processual do imperialismo global
Acima, no quadro do imperialismo, o econômico e o
estatal são dois contextos que se correspondem e se
colocam no mesmo diapasão, cujas articulações
atravessam as conjunturas históricas tanto político-
militar das grandes estratégias geopolíticas, quanto
político-social das integrações e socializações
dominantes vigentes.
GRANDE SILOGISMO DO MODO IMPERIALISTA GLOBAL
UNIVERSAL PARTICULAR SINGULAR
Hiperpotência Superpotências Potências
planetária regionais nacionais

 Imperialismo
hegemônico central  Imperialismo
norte-americano estadunidense
Imperialismo coletivo  Subimperialismo  Subimperialismo
ideal central europeu francês
 Subimperialismo  Subimperialismo
periférico sul- brasileiro
americano

Pequeno silogismo 1 Pequeno silogismo 2 Pequeno silogismo 3

HOMOGENEIZAÇÃO – DIFERENCIAÇÃO – HIERARQUIZAÇÃO


Crítica do modo estatal global
A expansão da dominação imperialista, exprime-se no advento do
modo estatal global (com suas formas de existência situadas em
níveis nacional, regional e planetário), que corresponde à totalização
concreta do capital em geral e dos capitais numerosos na era situada
para além do fordismo e na globalização.
O desafio do pensamento crítico e revolucionário no início do século
XX residia na simples extinção do Estado nas suas formas nacionais,
constitutivas de um sistema de Estados; no início do século XXI,
reside na complexa extinção do modo estatal global, que encerra
formas nacionais, regionais e planetárias. A antecipação concreta de
extinção da totalidade estatal se projeta na via “de uma luta
multiforme, polivalente, mais do que política exclusivamente, ou
econômica, ou ideológica e teórica simplesmente.” (LEFEBVRE,
1975, p. 105-106).
No sentido marxiano, “a revolução total”, contra a ordem capitalista,
se distingue das grandes transformações da realpolitik, pela
implementação de reformas sociais, que mantenham a ordem
capitalista, “pela promoção ou ascensão do social contra o político e
o econômico.” (Idem, p. 134).
As teorias e os consensos do imperialismo global
Para apreender o grande debate sobre a categoria do novo Leviatã (cosmopolita ou liberal), ou melhor, do novo
imperialismo ou Império (pós-moderno ou liberal), inserido numa grande transformação social e histórica, fez-se
logo uma distinção tanto entre teorias conservadoras e críticas, quanto entre autores que dão relevo e autores que
ignoram mais ou menos aquela categoria. Apenas uma forma de existência foi capaz de exprimir o elo comum entre
as teorias sobre o imperialismo atual: trata-se daquela que se define através da categoria consenso. Não no sentido de
um pensamento único sobre a matéria, mas no sentido de que a totalização elaborada pela maioria dos pensadores
corresponde amiúde a um consenso, formado autoritariamente, em prol da integração e contra a ruptura proletária.
Junto com o imperialismo global, vieram suas terias e seus consensos, que implicam frequentemente sejam guerras
ditas justas e humanitárias, sejam planos socioeconômicos de salvação provisória, que atacam os direitos e a
subsistência imediata dos proletários. Além disso, como não se trata apenas de compreender, mas também de
transformar, foi preciso separar as propostas reformistas das radicais, isto é, críticas e revolucionárias à luz da
metodologia marxiana.
Há uma vasta produção de livros e artigos sobre o imperialismo global. Mas, as suas denominações são tão diversas e
difusas que se tem a impressão de não estar tratando do mesmo assunto, de um lado; e, do outro, as suas polêmicas
são tão apaixonadas que se orientam tanto para a segmentação entre os aspectos temporais e espaciais, quanto para
um afunilamento empobrecedor das múltiplas determinações do fenômeno. Trata-se de uma totalidade que envolve
a base e a superestrutura (MARX, 1976, 1977), na escala mundial.
Convém atualizar a teoria do imperialismo elaborada pelo marxismo do século XX, mas não revisá-la, como no ultra
imperialismo, no Império sem frases, etc. Frente ao grande debate sobre o modo imperialista global, como potências
nacionais, superpotências regionais e hiperpotência planetária, a posição aqui tomada consolidou-se tanto contra as
desarticulações e as incompatibilidades entre as determinações elementares, temporais e espaciais, desta totalidade
concreta, quanto contra as separações arbitrárias e especulativas das formas da superestrutura em relação à sua base.
Em princípio, as análises do modo estatal global só foram apreciadas na medida em que contribuíram para precisar a
natureza e o papel daquela categoria no contexto do novo imperialismo, em cuja configuração concreta existe uma
dialética entre potências e capitais na escala mundial. A dinâmica da acumulação, da reprodução e da crise do capital
se encontra sempre na base da constituição das novas formas políticas, ideológicas e culturais imperialistas, como o
marxismo crítico e revolucionário havia constatado há um século.

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