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FACULDADE DO MARANHÃO – FACAM

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


DISCIPLINA: DIREITO CIVIL V – FAMÍLIA
6º PERÍODO

DIREITO CIVIL V
(FAMÍLIA)

Profa. Dra. Bruna Feitosa Serra de Araújo


OBJETIVO DA
DISCIPLINA
OBJETIVO DA DISCIPLINA

- Consiste em apresentar a realidade familiar contemporânea e


ao mesmo tempo em municiar com ferramentas necessárias
para o entendimento dessas questões, e de um conhecimento
de mecanismos preventivos e repressivos dos problemas
ocorridos nas relações familiares.

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CONCEITO DE
DIREITO DE
FAMÍLIA
CONCEITO DE DIREITO DE FAMÍLIA

- É o ramo do Direito Privado que contém normas jurídicas


relacionadas com a estrutura, organização e proteção da
família. Ramo que trata das relações familiares e das obrigações
e direitos decorrentes dessas relações, ou seja, é o ramo do
Direito que regula e estabelece as normas de convivência
familiar.

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CONSTITUCIONALIZAÇÃO
DO DIREITO DE FAMÍLIA
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
DIREITO DE FAMÍLIA
- Deve-se entender que o Direito de Família, necessariamente, merece
ser analisado sob o prisma da Constituição Federal, o que traz uma
nova dimensão de tratamento dessa disciplina. Assim sendo, é
imperioso analisar os institutos de Direito Privado tendo como ponto
de origem a CF/88 - Direito Civil Constitucional / Constitucionalização
do Direito de Família

- “Grande parte do Direito Civil está na Constituição, que acabou


enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir-
lhes efetividade. A intervenção do Estado nas relações de direito
privado permite o revigoramento das instituições de direito civil e,
diante do texto constitucional, forçoso ao intérprete redesenhar o
tecido do Direito Civil à luz da CF/88” (Maria Berenice Dias)

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CONCEITUAÇÃO DE
FAMÍLIA
CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

- A Família se apresenta como construção social, mas não há


investigação mais profunda sobre por meio de quais elementos essa
construção se origina ou direciona

- Mesmo sendo a vida aos pares um fato natural, em que os indivíduos


se unem por uma química biológica, a família é um agrupamento
cultural. Preexiste ao Estado e está acima do Direito. A família é uma
construção social organizada através de regras culturalmente
elaboradas que conformam modelos de comportamento. Dispõe de
uma estrutura na qual cada um ocupa um lugar, possui uma função
(Maria Berenice Dias)

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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

- O CC/16 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam a


família constituída unicamente pelo casamento (modelo tradicional de
família), de modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo que o moderno
enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos elementos que
compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos
que norteiam a sua formação (Carlos Roberto Gonçalves)

- Exemplos de famílias constituída pelos vínculos afetivos:

• União estável – também denominada de relação extramatrimonial (art.


226, §3º, CF c/c art. 1.723, CC)

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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

b) União homoafetiva – Resolução nº 175/2013, CNJ (Conselho Nacional


de Justiça) – 14/05/2013

c) Família monoparental – constituída pela união de um dos pais com


seus descendentes (art. 226, §4º, CF)

d) Família pluriparental – convivência familiar dos parentes colaterais


(tios com seus sobrinhos; irmãos; primos)

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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

Obs: União Homoafetiva

-O STF ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº 4.277 e


a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 132,
reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo (DOU:
março/2011). Entretanto, os cartórios de todo o Brasil só passaram a ser
obrigados a registrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo após
Resolução aprovada pelo CNJ (Resolução nº 175, CNJ – 14/05/2013)

-A equiparação do casamento entre homossexuais e heterossexuais


permite os mesmos direitos do casamento, estabelecidos pelo Código
Civil

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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

Obs: União Homoafetiva no Mundo (Dados do Site de Maria Berenice


Dias)

-19 países reconhecem e admitem o registro das uniões homoafetivas


-O primeiro país do mundo a permitir o casamento de pessoas do
mesmo sexo foi a Holanda em 2002
-O primeiro país da América Latina a aprovar o casamento entre pessoas
do mesmo sexo foi a Argentina

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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

 ANÁLISE DA ADIN Nº 4.277 / ADPF Nº 132 – SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

- Argumentos favoráveis: é inconstitucional o art. 226, §3º, CF por violar


os próprios artigos da Carta Magna:

 art. 1º, III, CF (dignidade da pessoa humana)


 art. 3º, IV, CF (não discriminação quanto ao sexo)
 art. 5º, caput, CF (igualdade)
 art. 5º X, CF (intimidade / vida privada)
 art. 5º, §2º, CF (tratados internacionais quanto a não discriminação
quanto ao sexo)
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CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

 deve ser realizada quanto à hermenêutica uma interpretação na


modalidade sistemática

- Argumentos contrários: é constitucional o art. 226, §3º, CF, haja vista:

 deve ser realizada quanto à hermenêutica uma interpretação na


modalidade gramatical, isto é, literal (homem e mulher – limitação
expressa) respeitando a vontade do legislador constituinte originário
 não cabe ao STF legislar (não é sua atribuição), mas sim ao Poder
Legislativo (ofende o princípio da separação de Poderes – art. 2º, CF)
 aspecto religioso (cristianismo) – corolário do art. 5º da Constituição de
1824
 razões biológicas / genéticas

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PRINCÍPIOS
ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

1) PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


2) PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR
3) PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE FILHOS
4) PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS
5) PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CHEFIA FAMILIAR
6) PRINCÍPIO DA NÃO-INTERVENÇÃO OU DA LIBERDADE
7) PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA
8) PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

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CONCEITTUAÇÃO / DEFINIÇÃO DE
PRINCÍPIOS
- Princípios são proposições genéricas, abstratas, que fundamentam
e inspiram o legislador na elaboração da norma.

- Os princípios também atuam como fonte integradora da norma,


suprindo as omissões e lacunas do ordenamento jurídico.

- Exercem ainda os princípios importante função, atuando como


instrumento orientador na interpretação de determinada norma
pelo operador do direito.

- Os princípios, portanto, desempenham uma tríplice função:


informativa, normativa e interpretativa

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CONCEITTUAÇÃO / DEFINIÇÃO DE
PRINCÍPIOS
Obs: os princípios são fontes secundárias do Direito. Lembre-se: a lei
é fonte primária e a analogia, doutrina, jurisprudência, costumes e os
princípios são fontes secundárias do Direito

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

1) Princípio da Proteção da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III,


CF)

- Prevê o art. 1º, inc. III, da CF/88 que o nosso Estado Democrático de
Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Trata-
se daquilo que se denomina princípio máximo, ou superprincípio, ou
macroprincípio, ou princípio dos princípios

Obs: Estado de Direito


“Art. 1º, CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito”

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- O conceito de Estado de Direito (art. 1º, caput, CF) pode ser


entendido como o Estado de poderes limitados, por oposição ao
chamado Estado Absoluto (em que o poder soberano era ilimitado)

- Nesse sentido, José Afonso da Silva adverte que o conceito clássico de


Estado de Direito abrange 03 características:

a) submissão (dos governantes e dos cidadãos) à Constituição (Estado


Constitucional de Direito)

b) separação de Poderes (Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder


Judiciário) – art. 2º, CF/88

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

c) garantia dos direitos fundamentais (Título II – Dos Direitos e das


Garantias Fundamentais, CF/88 – art. 5º, CF/88)

-Como se pode perceber, o supracitado princípio é o ponto central da


discussão atual do Direito de Família, entrando em cena para resolver
várias questões práticas envolvendo as relações familiares. Assim,
podemos afirmar, que o princípio da dignidade humana é o ponto de
partida do novo Direito de Família brasileiro.

-Exemplo: Tese do abandono paterno-filial ou teoria do desamor: em


que a jurisprudência pátria condenou pais a pagar indenização aos filhos
pelo abandono afetivo, por clara lesão à dignidade humana

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

2) Princípio da Solidariedade Familiar (art. 3º, I, CF)

-A solidariedade social é reconhecida como objetivo fundamental da


República Federativa do Brasil pelo art. 3º, I, da CF, no sentido de buscar
a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Por razões óbvias,
esse princípio acaba repercutindo nas relações familiares, já que a
solidariedade deve existir nesses relacionamentos pessoais. Isso justifica,
entre outros, como por exemplo: o pagamento dos alimentos no caso de
sua necessidade, nos termos do art. 1.694 do CC

-Vale lembrar que a solidariedade não é só patrimonial, é afetiva e


psicológica

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

Obs: Ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo familiar,


esquiva-se o Estado do encargo de prover toda a gama de direitos que
são assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em
se tratando de crianças e adolescentes, é atribuído primeiro à família,
depois à sociedade e finalmente ao Estado (art. 227, CF) o dever de
garantir com absoluta prioridade os direitos inerentes aos cidadãos em
formação (Maria Berenice Dias)

-Entretanto, mesmo assim, “o Estado assegurará a assistência à família


na pessoa de cada um dos que integram, criando mecanismos para coibir
a violência no âmbito de suas relações” (art. 226, § 8º, CF) – o que
consagra também a solidariedade social na ótica familiar

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- Vale frisar que o princípio da solidariedade familiar também implica


respeito e consideração mútuos em relação aos membros da família

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

3) Princípio da Igualdade entre Filhos (art. 227, § 6º, CF C/C art. 1.596, CC)

-Prevê o art. 227, § 6º, CF que os filhos, havidos ou não da relação de


casamento, ou por adoção terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação

-Complementando o texto constitucional, o art. 1.596 do Código Civil em


vigor tem exatamente a mesma redação, consagrando, ambos os
dispositivos, o princípio da igualdade entre filhos

-Essa igualdade abrange também os filhos havidos por inseminação


heteróloga (com material genético de terceiro)

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- Assim, não se pode mais utilizar as expressões ‘filho adulterino’ ou


‘filho incestuoso’, as quais são discriminatórias. Também não podem
ser utilizadas, em hipótese alguma, as expressões ‘filho espúrio’, ‘filho
bastardo’, ‘filho ilegítimo’

- Trata-se, portanto, na ótica familiar, da mais importante


especialidade da isonomia constitucional (art. 5º, caput, CF)

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

4) Princípio da Igualdade entre Cônjuges e Companheiros (art. 226, §5º,


CF e art. 1.511, CC)

-Assim como há igualdade entre filhos, a CF reconhece a igualdade entre


homens e mulheres no que se refere à sociedade conjugal formada pelo
casamento ou pela união estável (art. 226, § 3º e § 5º, da CF)

-Especificamente, prevê o art. 1.511, CC, que o casamento estabelece


comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres
dos cônjuges. Essa igualdade, deve estar presente na união estável,
também reconhecida como entidade familiar pelo art. 226, § 3º, da CF, e
pelos arts. 1.723 a 1.726 do CC

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- Exemplos: o marido/companheiro pode pleitear alimentos da


mulher/companheira ou vice-versa (art. 1.694, CC); um pode utilizar o
nome do outro livremente, conforme convenção das partes (art.
1.565, § 1º, CC). Vale lembrar, que o nome é reconhecido, pelo CC,
como um direito da personalidade (arts. 16 a 18, CC)

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

5) Princípio da Igualdade na Chefia Familiar (arts. 226, §5º, CF c/c arts.


1.566, III e V e 1.631, 1.634, CC)

-Como decorrência lógica do princípio da igualdade entre cônjuges e


companheiros, temos o princípio da igualdade na chefia familiar, que
deve ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em um regime
democrático de colaboração (conceito de família democrática)

-Assim sendo, pode-se utilizar a expressão ‘despatriarcalização do Direito


de Família’, já que a figura paterna não exerce o poder de dominação do
passado

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- O regime atual é de companheirismo ou colaboração, e não de


hierarquia, desaparecendo a figura do pai de família (patter familias),
não podendo ser utilizada a expressão pátrio poder, substituída
assim, por poder familiar

Exemplos: art. 1.566, III e V, CC - são deveres do casamento a assistência


mútua, o respeito e a consideração mútua, ou seja, prestados por
ambos os cônjuges, de acordo com as possibilidades patrimoniais e
pessoais de cada um;

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

• Exemplos: art. 1.631, caput e § único, CC - durante o casamento ou união


estável o poder familiar compete aos pais. Na falta ou impedimento de um
deles, o outro exercerá esse poder com exclusividade. Em casos de eventual
divergência dos pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a
qualquer um deles recorrer ao juiz para a solução do desacordo;

- Esse exercício de forma igualitária também consta do art. 1.634 do CC, que
traz as suas atribuições

Obs: art. 1.634, IX, CC: este deve ser exigido com moderação, sem que a
relação entre pais e filhos seja uma relação ditatorial, violenta ou explosiva.
Qualquer abuso cometido, pode gerar a suspensão ou a destituição do
poder familiar

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

6) Princípio da Não-Intervenção ou da Liberdade (art. 1.513, CC)

-Prevê o art. 1.513 do CC que é defeso a qualquer pessoa de direito


público ou direito privado interferir na comunhão de vida instituída pela
família. Trata-se da consagração do princípio da liberdade ou da não-
intervenção na ótica do Direito de Família

-Por certo que o princípio em questão mantém relação direta com o


princípio da autonomia privada, que também deve existir no âmbito do
Direito de Família. A autonomia privada é conceituada como “o poder
que a pessoa tem de auto-regulamentar os próprios interesses” (Daniel
Sarmento)

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

- A autonomia privada não existe apenas em sede contratual ou


obrigacional, mas também em sede familiar. Quando escolhemos, na
‘escalada do afeto’ (conceito de Euclides de Oliveira), com quem ter
uma união estável ou com quem casar, estamos falando em
autonomia privada

Obs: Art. 1.513, CC: o real sentido do texto legal é que o Estado ou
mesmo um ente privado não pode intervir coativamente nas relações
de família. Entretanto, o Estado poderá incentivar o controle da
natalidade e o planejamento familiar por meio de políticas públicas
(art. 1.565, § 2º, CC)

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

7) Princípio do Melhor Interesse da Criança (art. 227, CF c/c arts.


1.583 e 1.584, CC)

-Previsto no art. 227, CF, essa proteção é regulamentada pelo


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8.069/90), que
considera criança a pessoa com idade entre 0 e 12 anos incompletos,
e adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade (art. 2º,
ECA)

-O art. 3º do ECA prevê que a criança e o adolescente gozem de todos


os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- Na ótica civil, esse princípio foi reconhecido pela Convenção


Internacional de Haia, que trata da proteção dos interesses das
crianças

- ATENÇÃO! Análise dos arts. 1.583/1.584, CC (guarda dos filhos –


unilateral e compartilhada) – redação dada pela Lei nº
13.058/2014

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA
• GUARDA UNILATERAL: compreende-se a atribuída a um só dos genitores ou a
alguém que o substitua (art. 1.583, §1º, primeira parte, CC)

Obs: “alguém que o substitua” - se o juiz verificar que o filho não deve permanecer
sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele
compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o
grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade (art. 1.584, §5º, CC)

ATENÇÃO! A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a


supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações
e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações
que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de
seus filhos (art. 1583, §5º, CC)

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

• GUARDA COMPARTILHADA: trata-se da responsabilização conjunta e


o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o
mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns  (art.
1.583, §1º, segunda parte, CC)

- Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser


dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo
em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos (art. 1.583, §2º,
CC)

Obs: Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos


filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos (art.
1.583, §3º, CC)
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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o


significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude
de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas (art. 1.584, §1º, CC)

ATENÇÃO! A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser requerida:

a) por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação
autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável
ou em medida cautelar

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

b) decretada pelo juiz, em atenção as necessidades específicas do filho,


ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com
o pai e com a mãe (art. 1.584, I e II, CC)

- Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do


filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder
familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores
declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor (art. 1.584, §
2º, CC) 

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA
Obs: Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de
convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de
equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o
pai e com a mãe (art. 1.584, §3º, CC)

-Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar


informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa
de R$ 200,00 a R$ 500,00 por dia pelo não atendimento da solicitação (art.
1.584, §6º, CC)

Obs: A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula


de guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a redução de
prerrogativas atribuídas ao seu detentor (art. 1.584, §4º, CC)

Direito Civil V - Família 41


PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- No caso de dissolução da sociedade conjugal, a culpa não mais


influencia quanto à guarda dos filhos, devendo ser aplicado o
princípio que busca a proteção integral ou o melhor interesse do
menor, conforme o resguardo do manto constitucional

Direito Civil V - Família 42


PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

8) Princípio da Afetividade

-O afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento


das relações familiares. Mesmo não constando a palavra afeto na Carta
Magna como um direito fundamental, podemos dizer que o afeto
decorre da valorização constante da dignidade humana

-Na jurisprudência pátria, o princípio da afetividade vem sendo muito


bem aplicado, com o reconhecimento da parentalidade socioafetiva,
predominante sobre o vínculo biológico

Direito Civil V - Família 43


PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- Exemplos: O CC reconhece, no art. 1.593, outras espécies de


parentesco civil além daquele decorrente da adoção (art. 227, §5º,
CF), acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no
vínculo parental proveniente quer das técnicas de reprodução
assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu
com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva,
fundada na posse do estado de filho (adoção à brasileira – situação
em que pessoa maior e capaz registra como seu filho biológico de
outrem sem a observância do devido processo legal)

* Art. 1.593, CC. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de


consangüinidade (laços de sangue) ou outra origem.

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- Obs: adoção à brasileira: Apesar de não se revestir de uma


modalidade legítima de adoção, o entendimento adotado pela
jurisprudência é pela manutenção do registro e irrevogabilidade do
ato, por privilegiar, na hipótese, os laços de afeto e amor que se
firmam entre os sujeitos envolvidos (hermenêutica – aspecto cível)

- Contudo, o fato de a jurisprudência considerar o vínculo proveniente


da adoção à brasileira irrevogável, não é motivo para tornar lícita a
conduta do adotante, tanto que o Código Penal, em seu art. 242,
tipifica tal conduta com pena de reclusão de 02 a 06 anos, entretanto
podendo ser diminuída ou mesmo não aplicada em caso de motivo de
reconhecida nobreza – art. 242, § único, CP (hermenêutica – aspecto
criminal)

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PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

- O princípio da afetividade é portanto importantíssimo, pois quebra


paradigmas, trazendo a concepção da família de acordo com o meio
social

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NOTAS PROCESSUAIS
NAS AÇÕES DE FAMÍLIA
NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

1) Tramitam em segredo de justiça os processos que versem sobre


casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes (art. 189, II,
CPC)

Obs: O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo


de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos
seus procuradores (art. 189, § 1º, CPC)

2) A citação será feita na pessoa do réu (art. 695, §3º, CPC)

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NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

3) Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de seus


advogados ou de defensores públicos (art. 695, §4º, CPC)

4) Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando


houver interesse de incapaz e deverá ser ouvido previamente à
homologação de acordo (art. 698, CPC)

5) Quando o processo envolver discussão sobre fato relacionado a abuso


ou a alienação parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz,
deverá estar acompanhado por especialista (art. 699, CPC)

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NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

6) A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no


Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de
Justiça – STJ (art. 961, §5º, CPC)

7) Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta


depois de homologado o divórcio (art. 731, § único, CPC)

8) Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a


solução consensual (amigável) da controvérsia, devendo o juiz dispor do
auxílio de profissionais de outras áreas do conhecimento para a
mediação e conciliação – exemplo: psicólogo, assistente social (art. 694,
caput, CPC)

Direito Civil V - Família 50


NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

9) A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas


sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual
(art. 696, CPC)

10) A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do


processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial
ou a atendimento multidisciplinar (art. 694, § único, CPC)

11) O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção


consensual de união estável, não havendo nascituro (feto) ou filhos
incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por
escritura pública (ou seja, no Cartório - art. 733, caput, CPC)

Direito Civil V - Família 51


NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

Obs: inclusão do divórcio na CF/88 em 2010 com a EC nº 66/2010 (art. 226,


§ 6º, CF) sem a exigência de prazos

•Antes da EC 66/2010: Art. 226, § 6º, CF. O casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano
nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de
dois anos.

•Após a EC 66/2010: Art. 226, § 6º, CF. O casamento civil pode ser dissolvido
pelo divórcio.

12) A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil


para qualquer ato de registro (art. 733, §1º, CPC)
Direito Civil V - Família 52
NOTAS PROCESSUAIS NAS AÇÕES DE FAMÍLIA

13) O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem


assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e
assinatura constarão do ato notarial (art. 733, §2º, NCPC)

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