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Ênfase na Estrutura

Psicologia da Personalidade
Hall e cols. (2000)
Características dessas teorias
Têm uma preocupação com a estrutura da personalidade.
Busca de uma taxonomia – um conjunto sistemático de
características que possa ser usado para resumir a
personalidade de um indivíduo.
Cattell – “tabela periódica de elementos da personalidade”
Visão interacionista: o comportamento é visto como uma
função conjunta das características da pessoa e dos aspectos
situacionais.
Interesse na mensuração da personalidade
Teóricos: Henry Murray, Gordon Allport, Raymond Cattell,
Hans Jurgen Eysenck
Aspectos enfatizados pelas teorias da
estrutura
Estrutura
Autoconceito
Motivos múltiplos
Ancoramento na biologia
Hereditariedade
Processo de aprendizagem
Gordon Allport
EUA – 1897-1967
Formou-se em economia e filosofia e doutorou-se
em psicologia
Foi influenciado por teóricos da Psicologia da
Gestalt e do Funcionalismo
Preocupava-se com a complexidade e singularidade
do comportamento humano individual
Enfatizava os determinantes conscientes do
comportamento e a noção de presente

https://www.youtube.com/watch?v=guUWoasTpTc
Gordon Allport
“A ênfase na racionalidade, na unidade da
personalidade e nas descontinuidades, bem como seu
repúdio a qualquer abordagem mecanicista da ciência
natural, mostram bem como ele se afastou de Freud.
Em muitos aspectos, o seu modelo é o primeiro
modelo não-freudiano da personalidade” (p. 226).
Rejeitava do determinismo da infância em favor de
metas futuras e preocupações presentes.
Estrutura e dinâmica da personalidade
Fez duas grandes formulações sobre a personalidade –
1937 e 1961. Em 1961 ele propôs uma visão atualizada e
diferente em alguns pontos em relação à anterior.
Ele tinha uma postura eclética e adotou conceitos de
diferentes teorias para falar sobre sua concepção de
personalidade.
A estrutura da personalidade é vista como sendo
composta por traços. Esses traços motivam e
impulsionam os comportamentos do indivíduo.
Hereditariedade, ambiente e Continuidade
Allport considerava variáveis genéticas no processo de
aprendizagem. A hereditariedade fornece a matéria prima da
personalidade que pode ser moldada, ampliada ou limitada
em função do ambiente. Com isso, concluiu que para se
estudar a personalidade tem que se trabalhar com o
indivíduo, não com resultados médios de grupos.
Também considerava a personalidade discreta e descontínua.
Cada pessoa é diferente de todas e o adulto está separado do
seu passado. Sua visão de personalidade enfatiza o consciente
e não o inconsciente, presente e futuro e não o passado. O
motivo do adulto emocionalmente saudável não está ligado
ao passado (Autonomia funcional)
Personalidade, caráter e temperamento
Personalidade – “o que o homem realmente é”
A personalidade é a organização dinâmica, dentro do
indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam
seus ajustamentos únicos ao ambiente.
Caráter está relacionado ao código de comportamentos
em termos do qual os indivíduos ou seus atos são avaliados
– é a personalidade avaliada a partir de julgamentos morais
Temperamento – são disposições estreitamente ligadas a
determinantes biológicos ou fisiológicos, que, portanto
mudam relativamente pouco com o desenvolvimento.
Traços
Traço comum - “Estrutura neuropsíquica capaz de
tornar muitos estímulos funcionalmente equivalentes,
e de iniciar e orientar formas equivalentes
(significativamente consistentes) de comportamento
adaptativo e expressivo” (geral)
Disposição pessoal ou traço morfogênico - “Estrutura
neuropsíquica generalizada (peculiar ao indivíduo)
capaz de tornar muitos estímulos funcionalmente
equivalentes, e de iniciar e orientar formas
consistentes (equivalentes) de comportamento
adaptativo e estilístico” (específico)

Russos

Livro de Marx

Vizinhos negros

Vizinhos judeus

Imigração

Intelectuais

Organizações liberais

Tentativas de desagregar

Estímulos
Traços
Embora os traços e as disposições existam realmente
na pessoa, eles não podem ser observados
diretamente, precisando ser inferidos a partir do
comportamento:
Frequência de ocorrência
Intensidade de ocorrência
Variedade de situações

Ex.: pessoa sarcástica – frequentemente sarcástica em


diferentes contextos e/ou em diferentes intensidades
Traços e tipologia
Allport rejeitava a ideia de identificar as pessoas em
tipos.
Os tipos são construções idealizadas do observador. A
disposição pessoal pode representar a singularidade da
pessoa, ao passo que o tipo vai escondê-la.
Para Allport os tipos representam distinções artificiais
que não têm muita semelhança com a realidade, e os
traços são um reflexo verdadeiro do que realmente
existe.
Allport reconhece que alguns traços estão mais
firmemente amarrados do que outros ao proprium (o
"self" de uma pessoa).
Traços centrais são os blocos que edificam sua
personalidade. Quando se descreve alguém, usa-se
provavelmente palavras que se refiram a estes traços
centrais: inteligente, silencioso, selvagem, inconveniente,
covarde, estúpido, de mau-temperamento... Ele notou
que a maioria das pessoas tem entre 5 e 10 destes traços.
Há também os traços secundários, que não são tão
evidentes ou tão gerais, ou tão consistentes. Preferências,
atitudes, traços situacionais são todos secundários. Por
exemplo: "ele fica com raiva quando você tenta fazer-lhe
cócegas", "ela tem algumas preferências sexuais muito
fora do comum”.
Traços cardeais. São os traços de algumas pessoas
que praticamente definem sua vida. Alguém que passa
a vida buscando fama ou fortuna ou sexo são exemplos
de tais pessoas. Frequentemente usamos personagens
históricas específicas para denominar estes traços
cardeais: Scrooge (avareza), Joana D'Arc (auto-
sacrifício heróico), Madre Tereza de Calcutá (serviço
religioso), Marquês de Sade (sadismo).
 Relativamente poucas pessoas desenvolvem um traço
cardeal. Se o fizerem, isto tende a ocorrer em fase
avançada de vida.
Intenções (propósito)
Para Allport, mais importante do que a busca do
passado ou da história do indivíduo é a simples
pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca
em seu futuro.
Na categoria intenções estão incluídos os desejos, as
ambições, as esperanças, as aspirações e os planos.
Para Allport os propósitos do indivíduo são
determinantes sobre o comportamento presente.
Autonomia Funcional
Uma dada atividade ou forma de comportamento pode-se
tornar um fim ou uma meta em si mesma, apesar de ter sido
iniciada por alguma outra razão.
Um comportamento pode ser continuado por um motivo
diferente daquele que originalmente o provocou.

Níveis de Autonomia Funcional


Autonomia Funcional Perseverativa: atos repetitivos e rotinas.
(reforço parcial)
Autonomia Funcional Própria: interesses, valores, sentimentos,
intenções, auto-imagem, estilo de vida adquirido, etc. Forneceu
três princípios para a explicar: organizar o nível de energia;
princípios de domínio e competência e, princípio da
padronização própria.
Proprium
Allport rejeitava a utilização do termo “self”, pois traz a
ideia de que há algo autônomo dentro do indivíduo,
um homúnculo que avalia e decide coisas.

O proprium, foi um termo escolhido pelo autor para


falar sobre o conjunto de funções da personalidade. O
proprium não é inato e desenvolve-se em etapas no
decorrer da vida do indivíduo.
Para adquirir um sentimento intuitivo sobre o que
significa "funcionamento próprio", pense na última vez
em que você quis fazer algo ou se tornar alguma coisa
porque você realmente sentiu que fazendo ou se
tornando aquela coisa, expressaria as coisas a seu
respeito que você acredita serem as mais importantes.
Recorde a última vez que você fez algo para expressar
seu próprio íntimo; a última vez em que você disse a si
mesmo: "isto sou realmente eu!!" Fazendo coisas com o
que você realmente é, isto é o funcionamento próprio.
Allport quis definir Proprium tão cuidadosamente
quanto possível. Ele chegou a esta tarefa a partir de duas
direções: fenomenologicamente e funcionalmente.
Proprium
As funções da personalidade são:
Senso corporal
Auto-identidade
Auto-estima Elas dão unidade à
Auto-extensão (ir além da satisfação de personalidade,
necessidades) permitindo que os
Auto-imagem traços se entrelacem
como em uma
Imitação (copia racional) - Pensamento
tapeçaria.
racional
Batalhas próprias- Anseios próprios
Senso de ser quem se é
Estilo cognitivo
Função de conhecer
Aspectos do Desenvolvimento do
Proprium:
-Durante os 3 primeiros anos: senso de Self corporal, senso de auto-
identidade contínua, e auto estima ou orgulho.
-Entre os 4 e 6 anos: extensão do Self e auto-imagem.
-Entre os 6 e os 12 anos: percebe-se capaz de lidar com os problemas
por meio da razão e do pensamento.
-Adolescência: intenções, propósitos em longo prazo e metas distantes.
Allport admitiu a importância de todas as funções psicológicas
atribuídas ao Self e ao Ego, mas, para ele, os mesmos podem ser usados
como adjetivos para indicar as funções próprias dentro da esfera total
da personalidade.
Atribuiu ao Proprium o papel de organização da consciência genérica
madura (a consciência do “eu devo” evolui para o “eu deveria”
governada por anseios próprios e não proibições externas).
Desenvolvimento da personalidade
O Bebê - Allport considerava o recém-nascido uma
criatura quase inteiramente constituída por
hereditariedade, pulsão primitiva e existência reflexa.
Desse modo, ainda não é possível falar de personalidade
nesta fase da vida.
Há apenas temperamento no primeiro ano de vida.
A Transformação do Bebê - A partir do segundo ano,
o contato com o mundo, vai oferecer oportunidades de
diferenciação, integração, maturação, imitação,
aprendizagem, autonomia funcional e extensão do self.
Isso vai construir uma estrutura de traços cada vez mais
ampla e a definição de intenções na vida do indivíduo.
Desenvolvimento da personalidade
O indivíduo sai de uma condição biológica que definia
sua motivação para comportar-se no mundo para uma
condição psicológica, em que a motivação é redefinida
com base em suas intenções e em seu funcionamento
consciente no mundo.
Na vida adulta, o indivíduo é uma pessoa cujos maiores
determinantes do comportamento são um conjunto de
traços organizados e congruentes. Sua motivação não é
fundamentalmente biológica e é diversa. Além disso, o
que motiva o indivíduo, motiva agora (para eliminar
ideias de motivações/pulsões da história do indivíduo)
Desenvolvimento da personalidade
“os indivíduos normais sabem, como regra, o que estão fazendo
e por quê. Seu comportamento se ajusta a um padrão
congruente, e, no âmago desse padrão, estão as funções que
Allport chamou de próprias (proprium).
Um entendimento completo do adulto não é possível sem o
conhecimento de suas metas e aspirações. Seus motivos mais
importantes não são ecos do passado e sim acenos do futuro.
Na maioria dos casos, saberemos mais sobre aquilo que uma
pessoa vai fazer se conhecermos seus planos conscientes do
que suas memórias reprimidas” (p. 238).
Há, porém, indivíduos que não atingem esse nível de
maturidade.
Desenvolvimento do personalidade
Para alcançar a maturidade:
Ter uma extensão do self (que vai além da simples
satisfação de necessidades, mas o indivíduo cria novas
motivações, e consegue planejar e projetar o futuro, (sua
vida não deve estar limitada às suas necessidades e seus
deveres imediatos. As satisfações e frustrações devem ser
muitas e diversas);
Relacionar-se calorosamente com outros e desenvolver
uma segurança emocional e uma aceitação do self.
Ser realisticamente orientado, tanto em relação a si como
ao mundo externo
Possuir uma filosofia de vida unificadora (por exemplo, a
religião)
Maturidade Psicológica
Alguém que possui um "proprium" bem desenvolvido e um
conjunto adaptativo de disposições – Saúde Mental
1) Extensões do "self" específicas, duradouras, perenes, isto é,
envolvimento.
2) Técnicas relacionadas visando um relacionamento caloroso com
outros (por exemplo: confiança, empatia, genuinidade, tolerância...)
3) Segurança emocional e auto-aceitação.
4) Hábitos de percepção realistas (em contraposição à posição de
defesa).
5) Centralizar problemas e desenvolver destreza na solução deles.
6) Auto-objetivização – visão de seu próprio comportamento,
capacidade de rir de si próprio, etc.
7) Uma filosofia de vida unificadora, incluindo uma orientação de
valor particular, sentimento religioso diferenciado e uma
consciência personalizada.
Curiosidades
O sentido de corpo se desenvolve nos dois primeiros
anos de vida. Nós temos um, sentimos sua
proximidade, seu calor. Ele possui fronteiras que
sofrem, que se machucam, tocam e se movem, faz nos
conhecer. Allport tinha uma demonstração predileta
deste aspecto do "self": imagine que você coloca
(cospe) saliva em uma xícara e depois a ingere! Qual o
problema? É a mesma substância que você engole todo
o dia! Mas, evidentemente, ela saiu de seu eu corpóreo
e se tornou, portanto, estranha a você.
A auto-identidade também se desenvolve nos primeiros
dois anos. Há um momento em que nós nos
reconhecemos como parte de uma continuidade, como
tendo passado, presente e futuro. Vemo-nos como
entidades individuais, separados e diferentes dos outros.
Temos, inclusive, um nome! Você será a mesma pessoa ao
despertar amanhã! Evidentemente: nós temos essa
continuidade como parte constituinte.
A auto-estima se desenvolve entre os 2 e os 4 anos de
idade. Também chega um momento em que
reconhecemos que temos valor, para os outros e para nós
próprios. Isto está especialmente amarrado às nossas
competências. Isto, para Allport, é a essência da "fase
anal"!
A auto-extensão se desenvolve entre os 4 e os 6 anos.
Certas coisas, pessoas, acontecimentos ao nosso redor
também passam a ser considerados como centrais e
calorosos, essenciais para minha existência. "Minha" é
muito próximo a "mim"! Algumas pessoas se definem
em termos de seus pais, esposos ou filhos de seu clã,
gangue, comunidade, escola ou nação. Alguns
encontram sua identidade em atividades: eu sou
psicólogo, estudante, pedreiro. Alguns encontram
identidade em outro local: minha casa, minha cidade.
Quando meu filho faz algo errado, por que sinto culpa?
Por que, quando alguém abalroa meu carro, sinto
como se fosse atingido?
A auto-imagem também se desenvolve entre os 4 e os
6 anos de idade. É o "auto-espelho", o eu como os
outros me vêem. É a impressão que eu causo nos
outros, minha "visão", meu status, ou estima social,
incluindo minha identidade sexual. É o início do que é
consciência, ideal próprio e personalidade.

Imitação Racional é aprendida predominantemente


entre os 6 e os 12 anos. A criança começa a desenvolver
suas capacidades de lidar com os problemas da vida
racional e eficazmente.
As batalhas próprias usualmente não se iniciam antes
dos 12 anos de idade. Trata-se de mim como objetivo,
ideal, planos, vocações, apelos, um senso de direção,
um senso de propósitos. A culminação das batalhas
próprias, de acordo com Allport, é a capacidade de
afirmar que sou o dono de minha vida, isto é, o dono e
o executor.
Pode-se notar que os períodos de tempo que Allport
usa são muito próximos dos períodos de tempo das
fases de Freud.

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