Atualidades • Há duas décadas, as nações do mundo vêm negociando incessantemente a construção de um acordo global para adotar medidas que reduzam as consequências negativas das ações humanas sobre a vida em nosso planeta. • O foco das negociações são as mudanças climáticas. A dificuldade é que as medidas têm um alto custo econômico e social, e é muito complexo definir a distribuição do ônus pelos múltiplos atores envolvidos. • O próximo momento importante nesse caminho será uma grande conferência internacional chamada COP- 21, prevista para ocorrer em Paris, no final de 2015. O objetivo do encontro é obter um acordo global sobre as mudanças climáticas para entrar em vigor em 2020. • Pelos planos, esse acordo deve substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que estabeleceu metas e prazos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa a partir de 2005. A proposta de Kyoto visava conter o acúmulo na atmosfera de gases que se supõe sejam os responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta e por mudanças climáticas em curso. • Aquecimento global • A maioria dos cientistas que estuda o clima está convicta de que o planeta enfrenta uma ameaça séria, o contínuo aquecimento da atmosfera, e acredita que esse aquecimento resulta da ação humana. • O fenômeno seria responsável pelas ondas de calor, pelo aumento de casos de inundações, seca e furacões e pela elevação do nível do mar. Reunidos desde 1988 no IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), órgão da ONU, cientistas baseiam suas convicções na análise do que está ocorrendo na atmosfera e nos oceanos. • Desde seu primeiro relatório, publicado em 1990, o IPCC alerta sobre o perigo do aquecimento global. A princípio como uma possibilidade, depois, à medida que refinou suas informações, com mais certeza. O último relatório, de 2013, eleva o índice de certeza de 90% para 95%. • Os cientistas deram ênfase na urgência de medidas para conter o aquecimento do planeta. O relatório propõe como objetivo adotar ações para limitar o aumento da temperatura média do planeta em 2º Celsius acima da temperatura média da era pré-industrial • Pelas medições, a temperatura média da Terra aumentou 0,85 °C de 1880 a 2012. Os 15 anos mais quentes registrados, salvo 1998, ocorreram no século 21. • O ano de 2014 bateu o recorde de calor. Para o IPCC, a situação exige uma mudança drástica: diminuir nossa dependência de combustíveis fósseis – como petróleo, carvão e gás –, que liberam dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. • O dióxido de carbono é produzido pela queima dos combustíveis e reforça o efeito estufa, processo natural de retenção de calor na atmosfera terrestre. • Além dele, também ampliam o efeito estufa as emissões de metano (CH4), gerado por decomposição do lixo, digestão do gado e plantações alagadas (principalmente arroz); e o óxido nitroso (N2O), que advém do tratamento de dejetos de animais, do uso de fertilizantes e de alguns processos industriais. • Além disso, ao alterar o uso da terra por meio do desmatamento e de atividades agrícolas, o ser humano lança no ar, por apodrecimento ou queima, CO2 que estava acumulado nas plantas e no solo. A política dos acordos • Os relatórios do IPCC destinam-se a orientar os formuladores de políticas públicas para que estabeleçam estratégias para conter as emissões de gases. Para enfrentar o problema, no entanto, não basta que cada país adote medidas de acordo com seus interesses. • É preciso buscar, sob o guarda-chuva da ONU, atitudes em conjunto para diminuir as emissões de gases. Esse é o objetivo das COPs (conferências das partes), reuniões periódicas de representantes de países da Convenção- Quadro sobre Mudança do Clima, instituída durante a Rio-92 (ou Eco 92), considerada a maior conferência mundial já realizada sobre o meio ambiente. O Protocolo de Kyoto foi assinado durante a COP-3. • A proposta foi adotar uma estratégia chamada de “responsabilidade comum, porém diferenciada”. Essa expressão traduz o conceito de que todas as nações têm responsabilidade no combate ao aquecimento global, mas aquelas que mais contribuíram historicamente para o acúmulo de gases do efeito estufa (são as que iniciaram o processo de industrialização há muito mais tempo) têm uma obrigação maior – sobretudo porque ficaram mais ricas do que as demais com a produção industrial. • As outras, incluindo Brasil e China, foram desobrigadas de estabelecer metas com a justificativa de que, se fizessem isso, prejudicariam suas perspectivas de desenvolvimento econômico. • Entre os países mais desenvolvidos, apenas os europeus concordaram em assinar o acordo. Os Estados Unidos (EUA), responsáveis pelo maior volume de emissões, não concordaram com os termos da proposta e ficaram de fora. • Canadá, Japão e Rússia avisaram que não cumpririam as metas em tempos difíceis para suas economias. Como resultado, Kyoto abarcou apenas 15% das emissões globais e só conseguiu desacelerar o acúmulo de gases na atmosfera, em vez de diminuí-lo de forma drástica. • Atualmente, dez anos após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, busca-se um tratado mais abrangente que possa substituí-lo. O problema é que continua difícil, quase impossível, conseguir um documento que represente o consenso entre dezenas e dezenas de países com realidades e interesses às vezes opostos. • Os países ricos recusam-se a cumprir metas sozinhos. Alegam que não faz sentido excluir aqueles que fizeram avanços no combate à pobreza e que, hoje, com economias robustas, estão entre os principais emissores de gases-estufa – leia-se China, Índia e Brasil. • Os mais pobres não abrem mão do princípio da diferenciação e querem discutir mecanismos de adaptação para que possam se preparar para as mudanças climáticas, além de ajuda financeira e tecnológica. • A última reunião preparatória para a conferência de Paris, realizada em Lima, no Peru, em dezembro de 2014 (COP-20), demonstrou que o critério das diferenças de responsabilidade dos países ricos e pobres trava as negociações. • Além disso, o interesse de indústrias que vivem de petróleo e de governos que seriam afetados por medidas para conter o aquecimento global contribui para o impasse. • Recentemente, por exemplo, a crise aberta na economia mundial, somada a mudanças na produção energética dos EUA com o uso do gás de xisto, levou à queda acentuada nos preços internacionais do petróleo, o que dificulta as políticas de substituição do combustível por outros mais limpos – porém mais caros – e a promoção do uso de fontes renováveis. • Não se pode esquecer que há ainda um pequeno grupo de cientistas que afirma não estar convencido de que os dados são suficientes para sustentar a hipótese de que as ações humanas são responsáveis pelo aquecimento global. • Eles argumentam que grandes mudanças no clima sempre ocorreram ao longo da história da Terra, motivadas por alterações na atividade do Sol e outras variáveis astronômicas, ou por grandes erupções vulcânicas, que jogam enorme quantidade de gases na atmosfera. • Nos últimos 400 mil anos, o planeta passou por várias fases de glaciação e de aquecimento. Há ainda os que aceitam que o aumento de CO2 por ações humanas seja o culpado pela elevação da temperatura do planeta, mas têm dúvidas sobre o tamanho e a gravidade da ameaça. Impasses • Com tantas variáveis em jogo, não é de estranhar que o acordo de Lima foi considerado bastante vago. • A reunião só conclamou os países a apresentarem contribuições para reduzir as emissões após 2020, chamadas de Intenções de Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDCs). Ficou para depois uma definição de critérios para diferenciar as INDCs de países ricos das dos países pobres ou em desenvolvimento. As propostas serão levadas a um comitê que avaliará se elas bastarão para conter o aumento da temperatura média do planeta no limite de 2 ºC. Para isso, os cientistas estimam ser necessária uma redução de 40% a 70% nas emissões globais até 2050, em comparação com 1990. A conferência de Lima deixou claro que os compromissos hoje existentes têm de ser ampliados. O financiamento das iniciativas complementares e a transferência de tecnologia entre os países deverão ser discutidos em reuniões de negociação durante este ano. Um acordo assinado em 2014 entre a China e os EUA, as duas potências que emitem juntas cerca de 40% do total global de gases estufa, deu esperança de um maior compromisso dos países na conferência de Paris. Os EUA se comprometeram a reduzir suas emissões, até 2030, entre 26% e 28% em relação aos níveis de 2005. Por seu lado, a China se compromete a não aumentar seu volume de emissões a partir de 2030. Pode parecer pouco, mas expressa um avanço, pois os dois países se recusavam a falar de metas ligadas ao tema. O acordo demonstra ainda que as duas maiores economias do mundo reconhecem que é do interesse delas reduzir as emissões tanto do ponto de vista ambiental quanto em relação à eficiência energética. Brasil No Brasil, a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima, de 2010, estabelece a meta de reduzir as emissões de CO2 entre 36% e 39% até 2020, em relação às emissões calculadas para ocorrer no período. Em 2014, o governo anunciou que a meta estava a caminho de ser atingida. As emissões haviam caído 41% entre 2005 e 2012, tendo diminuído de 2 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2eq, cálculo que unifica os principais gases do efeito estufa) para 1,2 bilhão. Isso foi possível, segundo o governo, devido à queda no desmatamento. Já os setores de energia e agropecuária aumentaram a participação e foram responsáveis por 37% das emissões. Mas nem tudo está resolvido. Um relatório do Observatório do Clima, entidade civil que faz uma contagem própria das emissões, afirma que em 2013 as emissões brasileiras teriam crescido e passado a 1,6 bilhão de toneladas de CO2eq. O governo contesta os números, pois resultam de uma metodologia diferente da oficial, que segue as diretrizes do IPCC. O Ministério do Meio Ambiente reafirmou que o Brasil deve cumprir a meta de redução até 2020. É Notícia!!!!! Revista divulga pesquisa com efeitos do aquecimento global Cientistas disseram que essa é a 1ª vez que conseguem quantificar a frequência dos eventos extremos do clima que são provocados pelo aquecimento global. A revista Nature Climate Change, que é dedicada a estudos sobre as mudanças climáticas, divulgou uma pesquisa de cientistas suíços que desenha um futuro nada agradável. O correspondente Hélter Duarte explicou o que é que esse estudo tem de mais preocupante. Os cientistas disseram que essa é a primeira vez que conseguem quantificar a frequência dos eventos extremos do clima que são provocados pelo aquecimento global. Embora o calor e a chuva forte sempre tenham existido, os cientistas explicam que, se os efeitos do aquecimento global continuarem avançando como eles avançam hoje, os eventos extremos do clima como o calor acima de 50 graus, que já matou pessoas na Europa em anos anteriores, e tempestades devastadoras, podem aumentar até 62 vezes nos próximos anos. Pode chegar ao ponto em que as pessoas terão que ficar trancadas em casa durante dias, ou semanas, porque o calor e a umidade do ar estarão insuportáveis. Se for feito algo para controlar os efeitos do aquecimento global, a média de crescimento cai para um ritmo menor: até 14 vezes. Eles compararam dados do ano de 1900, quando a emissão dos gases que provocam o efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento global, não era tão alta, com a emissão de hoje em dia, e conseguiram chegar ao seguinte resultado: o aquecimento global já é responsável por 75% das ondas de calor e por 18% das tempestades devastadoras, como as de São Paulo. Os cientistas também levaram em consideração os efeitos naturais. E fizeram mais um alerta: se não controlarmos os efeitos do aquecimento global, a quantidade de tempestades devastadoras pode dobrar nos próximos anos. G1.com.br 28/04/2015