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INTRODUÇÃO AO

ESTUDO DA
HISTÓRIA
A História da História
■ A história, como discurso específico, nasceu de uma lenta emergência e a partir de
sucessivas rupturas com o gênero literário, tendo como objetivo a busca pela verdade.
■ “História”, uma palavra que significa investigação, informação. Surgiu na Grécia, no
século 5 a. C.
■ O homem considerado “o pai da História”, Heródoto, era um grego originário de
Halicarnasso, na Jônia, e que viveu entre as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso.
■ Heródoto substituiu o reino do Aedo, do poeta contador de lendas e dispensador do
kleos (a glória imortal para o herói), pelo trabalho de investigação (historiê)
desenvolvido por um personagem até então desconhecido chamado de histor.
■ O histor tinha por função retardar o desaparecimento dos traços da atividade dos
homens.
■ No trabalho de Heródoto celebra-se não mais a lembrança das grandes façanhas, mas
procura-se a conservação na memória daquilo que os homens realizaram, glorificando
não mais os grandes heróis mas os valores do coletivo dos homens no quadro das
cidades.
■ O mito: a primeira forma de explicação para o surgimento do mundo e da vida que
surgiu nas primeiras sociedades e que era transmitido sempre através da tradição oral.
■ Explicações mágicas e religiosas da realidade.
■ O mito possui coerência e lógica próprias, tem uma força muito grande nas primeiras
sociedades e fornece uma explicação que é aceita como verdade para esses povos.
■ São narrativas de criação do mundo, com personagens e eventos sobrenaturais, em um
espaço e tempo sagrados. Tempo circular, não linear. O eterno retorno do mesmo.
O aparecimento da História
■ A explicação mítica da realidade não desapareceu e continua em diversas manifestações
culturais, concorrendo com outras, entre as quais, a História.
■ A história, como uma forma de explicação da realidade, nasceu em conjunto com a
filosofia.
■ Foram os próprios gregos que descobriram a importância específica da explicação
histórica.
■ Heródoto foi considerado o pai da História por Cícero porque ele foi o primeiro a
empregar o termo Historiê, no sentido de investigação, pesquisa.
■ As primeiras pesquisas em história foram indagações entre os seus contemporâneos,
utilizando-se das tradições orais e dos registros escritos.
■ Os historiadores buscam explicações para os momentos e situações que atravessam a
sociedade onde vivem.
■ Heródoto se dedicou a estudar as Guerras Médicas (guerras entre gregos e persas que
durou entre 490 e 479 a.C.). Tucídedes estudou a Guerra do Peloponeso (conflito que
envolveu as cidades gregas de Atenas e Esparta e os seus aliados).
■ Heródoto, também, apontou para a primazia do testemunho ocular. Para ele, de acordo com François
Dosse, a atestação da verdade, transformada em fronteira discriminante do discurso do histor, situa-
se no ver, no olhar que se constitui em instrumento privilegiado de conhecimento do mundo em que
vivia.
■ Desse modo, continua explicando François Dosse, o relato histórico ouvido faz acreditar que o olho
escreve, o que induz a conferir primazia à percepção, à oralidade sobre a escritura, que é secundária.
■ Quando não se pode ver, apela-se para o ouvir dizer, confirmando a supremacia do oral sobre o
escrito.
■ Com Heródoto, ainda não há um corte radical entre o aedo e o histor.
■ Os historiadores, portanto, estão ligados à sua realidade mais imediata, representando a preocupação
com as questões contemporâneas.
■ Não há preocupação com uma origem distante, remota, atemporal, mítica. A tentativa é compreender
um momento histórico concreto, presente, ou em um passado recente.
■ A narração é temporal, cronológica e que se refere a uma realidade concreta
■ Os homens passam a ser os protagonistas das narrativas. São os fatores humanos que começam a ser
examinados.
■ Surge, então, uma preocupação explícita com a verdade.
■ Em Roma a História é Magitra Vitae
A História Teológica
■ O processo histórico é unificado por uma visão do cristianismo como fundamento e
justificativa da história.
■ Influência tão significativa que a cronologia é feita em termos do seu acontecimento
central, a vinda de Jesus Cristo à terra.
■ A salvação da humanidade se torna a meta final da história.
■ A história apresenta uma visão de tempo linear, cujo desenvolvimento é conduzido pela
providência divina.
■ É volta da explicação sobrenatural, mítica, para a história.
■ Santo Agostinho e interpretação teológica da história: a Cidade de Deus x a Cidade dos
Homens.
■ O cristianismo é uma religião histórica, sua concepção aceita um tempo linear, cuja
ordenação provem de uma intervenção divina na história.
■ O sentido da história é revelado aos homens e a igreja é a interprete.
■ Falta de rigor crítico, hagiografias e panegíricos.
A erudição, a razão e o progresso na história.
■ Contexto: desestruturação do mundo feudal e formação da Modernidade.
■ Expansão das fronteiras.
■ O Humanismo.
■ Retomada pelo interesse com a filosofia da Antiguidade Clássica.
■ Formação de uma concepção não teológica do mundo e história. Conhecimento parte da
explicação através da razão.
■ O progresso guiado pela razão.
■ O empirismo: ênfase no papel da experiência no conhecimento. Recusa das explicações
que não se sustentam nos fatos.
■ Desprezo pelos séculos medievais e retomada da antiguidade greco-romana em seus
valores.
■ Consequências para o conhecimento histórico: preocupação pelos textos antigos e sua
exatidão com a pesquisa, formação de coleção de documentos natureza variada, gerou o
levantamento de material para o entendimento desse passado.
■ Multiplicação de técnicas para reunir, preparar, e criticar a documentação levantada.
Esse conjunto de técnicas passa por uma processo de constante aperfeiçoamento e vai
servir como auxiliar da história.
■ Busca pela verdade na história da igreja e do cristianismo: o caso da papisa Joana e a
Doação de Constantino.
■ Retomada da tradição crítica de filósofos e historiadores da antiguidade.
■ Nascimento das chamadas ciências auxiliares da história.
■ Com o Iluminismo, há uma busca em mostrar a história como o desenvolvimento linear
e progressivo e ininterrupto da razão humana.
■ Domínio da natureza numa evolução progressiva constante.
■ Os historiadores liberais: busca por uma justificação dos estados-nacionais. Obras de
caráter nitidamente político e nacionalista.
■ Os historiadores românticos: contemplação sentimental da história; busca de uma volta
nostálgica ao passado; tentativa de ressuscitar e voltar ao passado para caracterizar o
“espírito” de cada povo.
■ Na Alemanha surgiu a preocupação com o estatuto científico da história.
■ Em reação ao idealismo, alguns historiadores alemães quiseram que a história se
transformasse em uma ciência o mais segura possível. Tal como as ciências naturais.
■ Buscavam um grau de exatidão científica semelhante.
■ Elaboração de métodos de trabalho que estabelecessem leis e verdades de alcance
universal.
■ Caracteristicas do trabalho: crítica seríssima das fontes, para o levantamento criterioso
dos fatos.
■ É a Escola metódica alemã, dita “positivista”, cujo maior nome foi Leopold Von Ranke.
■ Para Ranke, a função do historiador seria a de recuperar os eventos, suas interconexões
e suas tendências através da documentação e fazer-lhes a narrativa.
■ A história se limitaria a documentos escritos e oficiais de eventos políticos.
■ Princípios de métodos:
– O historiador não é juiz do passado.
– Não há interdependência entre o historiador, sujeito do conhecimento, e o seu
objeto, os eventos históricos do passado.
– A história existe em si, objetivamente, e se oferece através dos documentos.
– A tarefa do historiador consiste em reunir um número significativo de fatos, dadas
através dos documentos.
– Os fatos devem ser organizados em uma sequência cronológica, na ordem de uma
narrativa.
– A história-ciência pode atingir a objetividade e conhecer a verdade histórica
objetiva.
■ Seria produzida por um sujeito que se neutraliza enquanto sujeito para fazer aparecer o
seu objeto.
■ Nesse sentido, não há julgamento ou problematizações do real. Os fatos falam por si e o
que o historiador é irrelevante.
■ A dialética hegeliana e sua contribuição para o desenvolvimento da análise do processo
histórico.
O Materialismo Histórico e a História Acadêmica
■ O contexto do século XIX: efetivação da burguesia como classe dominante na sociedade e a
implantação do capitalismo industrial, depois monopolista.
■ Criticas ao capitalismo surgiram desde a metade desse século.
■ Entre os críticos do sistema capitalista, destacaram-se Karl Marx e Friedrich Engels.
■ Elaboração de uma nova filosofia de mundo (materialismo dialético), ao fazerem a crítica da
sociedade em que vivem e apresentarem propostas para a sua transformação.
■ O método aplicado à história foi chamado de materialismo histórico.
■ Estudaram, sobretudo, o capitalismo, a sociedade burguesa, suas leis de evolução e a
transformação dessa realidade que se estendeu da Europa para o mundo.
■ Ao fazerem isso, aplicaram o método do materialismo histórico.
■ A proposta do método consistiria na criação de ciência da história ao mesmo tempo coerente,
graças a um esquema teórico sólido e comum, total, capaz de não deixar fora de sua jurisdição
nenhum terreno de análise, e enfim dinâmica, pois, não existindo nenhuma realidade eterna,
torna-se preciso descobrir os princípios da mudança.
■ Mas rejeitava a ideia da separação entre as ciências da natureza e a História, posto que significava
a separação entre a natureza e os homens.
■ A questão da Ontologia.
■ Marx teria criado uma “teoria geral” do movimento das sociedades humanas. Essa
teoria geral seria um conjunto de três hipóteses principais:
– a) a produtividade é a condição necessária da transformação histórica;
– b) as classes sociais, cuja lutar constitui a própria trama da história, se define
pela sua situação no processo produtivo;
– c) a correspondência entre as forças produtivas e as relações de produção
constitui o objeto principal da história-ciência. Os conceitos de modo de produção
e formação social.
■ Esses três momentos constituem uma hipótese geral sobre o movimento das sociedades:
■ O objeto da história-ciência: uma formação social concreta, que é uma estrutura
contraditória, uma totalidade em luta consigo mesma, tendendo à desintegração;
■ A história-ciência trata da luta de classes no quadro do desenvolvimento das forças
produtivas.
■ A realidade histórica é estruturada da seguinte forma: grupo de homens, que ocupam
lugares contraditórios no processo produtivo, entram em relação de luta.
■ Permanência e mudança formam uma totalidade e se explicam reciprocamente.
■ A abordagem da realidade material seria científica. Mas não é uma expressão do
espírito, é algo em si, concreta, materialista.
■ Entre a realidade concreta e pensamento há descontinuidade. Quem faz essa ligação é o
conceito é o conceito: uma reconstrução ideal de algo exterior a ele, a realidade
histórico concreta.
■ Segundo José Carlos Reis, a tese marxiana é fundadora das ciências sociais: os homens
fazem a história, mas a fazem, às vezes inconscientemente, condicionados pela estrutura
econômico-social, que só pode ser conhecida conceitualmente.
■ Enquanto ciência da História, o marxismo tomará como objeto as estruturas econômico-
sociais, invisíveis, abstratas, mas no chão concreto da luta de classes e das iniciativas
individuais e coletivas.
■ Os indivíduos só podem ser explicados pelas relações sociais.
■ Para se compreender o processo histórico, o conceito principal é o de produção, que
supõe e hipótese materialista do ser social, um ser relacional situado em um tempo e em
um lugar.
■ Esse ser social é materialista, objetivo, concreto, exterior ao pensamento. O ser social
não é uma coisa, e sim relações históricas determinadas.
■ Enquanto ciência da História, o marxismo apresenta três hipóteses principais.
■ a) enfatiza o papel das contradições, priorizando o estudo dos “conflitos sociais”.
Segundo Hobsbawn, essa é a hipótese mais original de Marx e sua principal
contribuição à historiografia.
■ b) o marxismo foi uma das primeiras teorias “estruturais” da sociedade. Desse modo,
abandonou a ênfase no evento e abriu o caminho da história “científica”. A estrutura
econômico-social, invisível, abstrata, mas real é o objeto da história-ciência, que a
apreende conceitualmente.
■ c) os homens fazem a história e não são suporte de qualquer sujeito metafísico. Os
homens transformam o mundo e a si mesmos. Essa ação se dá no contexto de uma luta,
sua intervenção é sempre um golpe numa luta, seja contra a classe adversária, seja
contra a natureza. A luta de classes contra classes e de homens contra a natureza é o
motor do desenvolvimento histórico.
■ O grupo dos Annales ou Escola dos Annales era formado pelos líderes da historiografia
francesa Lucien Fevbre e Marc Bloch, teve início em 1929, pertencente às primeiras
gerações e objetivava derrubar a concepção dos historiadores ditos metódicos (positivistas).
■ Os Annales demonstravam a necessidade de uma nova história em oposição às abordagens
tradicionais, que eram centradas nas ideias e decisões de grandes homens, em batalhas e em
estratégias diplomáticas.
■ Contra essa história historizante propunham uma história problematizadora, a partir da
formulação de hipóteses, pois sem esses elementos o saber histórico pouco atenderia aos
anseios, na prática social, no que diz respeito à existência e experiência humana no tempo.
■ Eles pretendiam fazer uma história analítica, estrutural e macroestrutural, explicativa,
abordando os aspectos coletivos e os diversos níveis de temporalidade.
■ Enfatizavam em suas pesquisas os processos de diferenciação e individualização dos
comportamentos humanos e identidades coletivas (sociais) para a explicação histórica.
■ Estavam preocupados, nesse sentido, com as massas anônimas em seu modo de viver e
pensar.
■ Criticavam a história tradicional, principalmente nas suas análises centradas em narrativas
dos acontecimentos políticos e militares, reconstruídas “tal como aconteceram”, que não
apresentavam pressupostos teóricos.
■ Os historiadores dos Annales alegam que na concepção tradicional o historiador apresenta os
fatos cronológicos, sem que haja qualquer interpretação e questionamentos sobre eles, não
identificando nenhuma problematização na pesquisa histórica.
■ A concepção tradicional torna-se alvo de críticas e, a partir do contexto apresentado, a Escola
dos Annales colocou a necessidade de explorar novos métodos de produção do conhecimento e
ampliar as possibilidades de recortes temporais, o conceito de documento e sujeitos históricos.
■ Para Marc Bloch, o documento histórico é um caminho para o historiador, haja vista a
necessidade de fazer perguntas a ele e reunir todos aqueles que são necessários à pesquisa,
sendo procedimentos relevantes que contribuiriam para diminuir ou elevar a escrita da história.
■ O documento é portador de um discurso, que, assim considerado, não pode ser visto como algo
transparente; por isso, o historiador deve atentar-se para o modo com que se apresenta o
conteúdo histórico e questioná-lo.
■ Então a importância de utilizar-se de um método crítico, para jamais aceitar cegamente os
testemunhos escritos, visto que nem todos os relatos são verídicos e os materiais podem ser
falsificados; assim somente através da crítica se consegue distinguir o verdadeiro do falso
(BLOCH, 2001).
■ A história é concebida como o estudo da experiência humana no tempo e todos os vestígios do
passado são considerados matéria para o historiador.
■ Reforçando ainda a ideia de que todo acontecimento é histórico; segundo os Annales, o
historiador pode escolher o seu objeto de estudo bem como as inúmeras fontes históricas,
desde orais, iconográficas, audiovisuais, musicais, à literatura e outros.
■ a Escola dos Annales contribuiu significativamente para a história, pois alargou a visão de
documento considerando a possibilidade de se construir o conhecimento histórico com todas
as coisas que pertencem ao homem, pois são fontes dignas de pesquisa e possíveis de leitura
por parte do historiador.
■ Bloch (2001) explica que, embora considere a diversidade das fontes, o problema maior
consiste em como o historiador as utiliza, sendo primordial para qualquer explicação
histórica elaborar perguntas pertinentes ao documento.
■ Para os historiadores dos Annales, a história não era vista no passado pelo passado, como os
metódicos pensavam, mas a partir do presente para entender o passado, e a incompreensão do
presente não nasce da ignorância pelo passado, mas é difícil entender este, se não soubermos nada
do presente. “Visto que o conhecimento do presente interessa à inteligência do passado”
(BLOCH, 1965, p. 44).
■ Os historiadores da Escola dos Annales propuseram aos historiadores uma história globalizante e
totalizante no sentido de abarcar todos os elementos, ou seja, considerar os aspectos políticos,
sociais, econômicos e culturais para escrever a história.
■ A Escola dos Annales influenciou o ensino de história, a partir de abordagens referentes a temas
do cotidiano, em contraponto com a história dos heróis, distante e abstrata dos alunos. Ao aderir a
essa corrente historiográfica na prática pedagógica, o professor pode articular o cotidiano do
aluno com o conteúdo a ser ensinado, construindo um diálogo entre passado e presente e levando-
o a problematizar o conhecimento histórico. Entende-se que o ensino deve ser concebido como
criação do conhecimento a partir da realidade vivenciada pelo aluno, reconhecendo múltiplos
sujeitos e suas diversas experiências.
■ Braudel e a Segunda Geração dos Annales
■ A História Demográfica e a História Serial
■ A História Vista de Baixo
■ A História Social Inglesa
■ A Micro-história italiana
■ A Terceira Geração dos Annales
■ A Nova História Cultural
■ O Retorno da História Política
A História, hoje em dia
■ Significados do termo “história” no dicionário Aurélio: o passado da humanidade, o estudo desse
mesmo passado, uma simples narração, etc.
■ Nos termos do que foi discutido anteriormente, a história está ligada aos dois primeiros sentidos e
que colocam a ambiguidade do termo. Significa, ao mesmo tempo, os acontecimentos que se
passaram e o estudo desses acontecimentos.
■ Em português temos apenas um único termo para definir todos esses sentidos. Por exemplo, no
alemão, existem termos distintos para cada um desses significados.
■ A história é a história do homem vivendo em sociedade.
■ É a história das transformações humanas ao longo do tempo.
■ O conhecimento histórico serve, entre outras coisas, para nos fazer entender as condições de nossa
realidade, tendo em vista o delineamento de nossa atuação na história.
■ Os dois sentidos estão estreitamente ligados: os acontecimentos históricos (a história-acontecimento)
são objeto de análise do conhecimento histórico (da história-conhecimento ou história-ciência).
■ História seria, então, o que aconteceu e o estudo desses mesmos acontecimentos.
■ Tudo tem história, pois tudo se transforma o tempo tempo.
■ O objeto da história-conhecimento são as transformações permanentes dos homens vivendo em
sociedade.
O que é a história e para que serve?
■ A função da história sempre foi a de fornecer à sociedade explicação sobre ela mesma.
■ Aproximação da história com outras áreas do conhecimento, desde a ascensão da Escola
dos Annales, procurou explicar a dimensão que o homem teve e tem em sociedade.
■ A história procura ver, especificamente, as transformações pelas quais passaram as
sociedades humanas.
■ No entanto, hoje se sabe que mesmo mudanças que parecem súbitas, tal como as
revoluções e golpes, não somente foram preparados lentamente, mas não conseguiram
mudar totalmente as estruturas das sociedades onde se realizaram.
■ Percebe-se uma preocupação cada vez maior dos historiadores não só com mudanças
mas também com as permanências.
■ O tempo é a dimensão de análise da história
■ O tempo histórico, através do qual se analisam os acontecimentos, não corresponde ao tempo
cronológico.
■ No tempo histórico podemos perceber mudanças que parecem rápidas, como os acontecimentos
como os acontecimentos cotidianos. Vemos também transformações lentas, como no caso dos
valores morais.
■ A partir da história dos Annales, a temporalidade acontecimental, do único, do singular e irrepetível,
linear, progressista e teleológica da história tradicional, ficou incompatível com a análise histórica.
Isso a partir de uma cooperação com a ciências sociais
■ Em as ciências sociais propõe um tempo que é anti-sucessão, que enfatiza a simultaneidade, a
reversibilidade, a interdependência dos eventos humanos.
– É um tempo anônimo, objetivo, quantitativo, coletivo, endurecido.
– O conceito de estrutura social desvitaliza o evento, desfaz a mudança substancial que revela
mais intensamente a assimetria entre passado e futuro.
– Os eventos são amortecidos quando integrados na estrutura social como elementos, que a
transformam, mas não a mudam.
– O presente liga-se ao passado e o passado ao presente de tal forma que o passado se torna
presente e o presente imuniza-se contra a sua sorte que é tornar-se passado.
– Presente e passado ligados, abole-se a sua diferença e o que esta representa: a temporalidade.
■ Sobre a influência das ciências sociais, a história, antes estudo exclusivo da sucessão de
eventos, da mudança, da assimetria passado/futuro, com um final conhecido
antecipadamente, será obrigada a incluir em sua representação de tempo a permanência,
a simultaneidade.
■ Entretanto, não há a abolição da mudança. Esta é preservada em uma dialética da
duração, isto é, ela é dialeticamente superada.
■ Braudel e as durações: Longa duração; Média duração; Curta duração
■ Koselleck e o seu futuro-passado: “espaço de experiência e “horizonte de expectativa”.
■ O trabalho do Historiador
O historiador e seus fatos
■ Quando se pergunta sobre “Que é história?”, a resposta, consciente ou inconscientemente,
reflete a própria posição no tempo de quem a fez.
■ A resposta traz em si uma pergunta mais ampla: que visão nós temos da sociedade em que
vivemos?
■ Ranke e a sua concepção da tarefa do historiador: “apenas mostrar como realmente se
passou”.
■ Três gerações de historiadores alemães, ingleses e franceses repetiram esse mantra.
■ Os positivistas, buscando sustentar a afirmação da história como ciência, contribuíram com o
peso de sua influência para esse culto dos fatos.
■ O empirismo supõe uma separação radical entre sujeito e objeto. Os fatos impõe-se de fora,
ao observador e são independentes de sua consciência. Processo de recepção passivo.
■ essa concepção ajudou a forjar uma visão “senso comum” da história, em que essa consiste
em um corpo de fatos verificados.
■ Nesse caso, os fatos estão disponíveis nos documentos inscrições e assim por diante.
■ Para esses historiadores, primeiro era preciso acertar os fatos, para, apenas depois, partir para
a interpretação.
■ Uma constatação: nem todos os fatos passados são fatos históricos, ou tratados pelos
historiadores como tal. Qual o critério que distingue fatos da história de outros fatos do
passado?
■ Que é um fato histórico?
■ Os fatos falam por si?
■ Os fatos falam apenas quando são abordados pelo historiador. É ele quem decide quais os
fatos vêm à cena e em que ordem ou contexto.
■ O historiador é um selecionador de fatos.
■ No século XIX, o fetichismo dos fatos era completado e justificado por um fetichismo de
documentos.
■ Houve uma espécie de sacralização dos documentos. O que conferia aos documentos um
imediato estatuto de verdade.
■ Nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava – o que ele
pensava que havia acontecido, o que devia acontecer ou o que aconteceria.
■ Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre o material e o decifre.
■ Os fatos ainda têm de ser processados pelo historiador antes que se possa fazer qualquer uso
deles.
■ Os fatos e documentos são essenciais ao historiador. No entanto, eles por si mesmos não
constituem a história; não fornecem em si mesmos as respostas para a pergunta: “Que é
história?”
■ O século XIX, o “fetiche” dos fatos e a visão liberal da história.
■ Os fatos da história eram eles próprios uma demonstração do fato supremo de um
progresso benéfico e aparentemente infinito.
■ Hoje a pergunta não pode ser mais evitada.
■ Da Alemanha vieram os primeiros desafios à doutrina da primazia e da autonomia de
fatos na história: o marxismo e o historicismo.
■ A contribuição de Benedeto Croce, da Itália: “toda história é história contemporânea”.
■ Para Croce, a história consiste essencialmente em ver o passado através dos olhos do
presente e à luz dos seus problemas, que o trabalho principal do historiador não é
registrar, mas avaliar; por que, se não avalia, como saber o que merece ser registrado?
■ O pensamento de Collingwood, influenciado por Croce:
– Os fatos da história nunca chegam a nós puros, são refratados através da mente
do registrador. Ao pegarmos um trabalho de história a primeira preocupação deve
ser conhecer o historiador que o escreveu.
– A necessidade de utilizar a imaginação para compreender a mente das pessoas
com o que se está lidando. A história não pode ser escrita a menos que o
historiador possa atingir algum tipo de contato com a mente daquele sobre quem
está escrevendo.
– Somente se pode chegar ao passado, e atingir a compreensão sobre ele, através
dos olhos do presente. O historiador pertence à sua época e a ela se liga pelas
condições da existência humana.
■ A função do historiador não é amar o passado ou emancipar-se do passado, mas
dominá-lo e entende-lo como a chave para a compreensão do presente.
■ Mas, como diria Gramsci, a história pode ser uma mestra, mas nem sempre os seus
alunos estão dispostos a ouvi-la.
■ É preciso levar em consideração alguns perigos que se apresentam na visão de história
de Collingwood. O perigo de um ceticismo e de um relativismo total.
■ O que fazer?
■ A relação entre o historiador e os seus fatos é de igualdade e reciprocidade.
■ É preciso também uma reciprocidade entre presente passado.
■ Nesse caso: “Que é história?”
■ A história se constitui de um processo contínuo de interação entre o historiador e seus
fatos, um diálogo interminável entre o passado e o presente.

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