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Produção de areia

e prevenção

Laura de Oliveira Hentges


Geomecânica – 2020/1
Professores Luiz Antônio Alves e Daniel Bettu
17/09/2020
1. Introdução

Este seminário trata do processo de produção de areia,


explicando suas possíveis causas, baseando-se nos
mecanismos de produção de sólidos, e os parâmetros que
levam á esse processo.
Também será apresentado um estudo de caso dentro do
tema, sendo este no campo de Garon, no Delta do Níger,
Nigéria, mostrando características gerais do local, as razões
que levam á produção de areia, assim como a pesquisa
feita no artigo e os resultados obtidos.
2. Visão Geral
• O processo de produção de areia ou sólidos é definido como a produção
de partículas durante a extração de óleo ou gás de uma rocha
reservatório;

• O fenômeno está ligado aos arenitos pouco consolidados;

• O processo inicia quando a concentração de tensões na parede do poço é


alta o suficiente para romper a cimentação natural dos grãos, tornando-
os livres para serem arrastados pelas forças de percolação;

• O fenômeno é indesejado na indústria do petróleo por trazer prejuízo aos


sistemas de condução, elevação e controle de produção;

• O processo tem efeito abrasivo que traz perdas de tempo e financeiras,


pelo elevado número de paradas para substituição de elementos
danificados, necessidade de tratamento do fluido e de descarte de
sólidos.
3. Mecanismos de produção de sólidos

• Teorias convencionais diferenciam os mecanismos em dois


tipos:

• Ruptura por compressão, que ocorre pela combinação


das tensões in-situ e o drawdown;

• Ruptura por tração, que é induzida pelo gradiente de


poço-pressão nas vizinhanças da cavidade.
3.1 Ruptura por compressão ou cisalhamento

• Ocorre devido à ação das tensões in-situ e o drawdown;

• Pressão de drawdown é o diferencial de pressão entre o reservatório e


o fundo de poço;

• Situações de ruptura da parede da cavidade:

• Quando o valor das tensões in-situ ultrapassam o valor da


resistência à compressão;

• Baixas pressões de produção geram elevados valores de pressão


de drawdown.
3.1 Ruptura por compressão ou cisalhamento

• Essa ruptura cria uma zona de deformações ao redor das cavidades;

• A propagação da produção dessa areia pode vir a produzir uma grande


quantidade de sólidos;

• A ruptura do material se caracteriza pela formação de bandas de


cisalhamento adjacentes á parede do poço, em duas áreas opostas;

• Essas áreas são chamadas de breakouts;

• Eles podem acontecer sem a ocorrência de fratura por tração e sem haver
necessariamente produção de material fragmentado.
3.1 Ruptura por compressão ou cisalhamento

Figura 1 – Breakout em
corpo de prova com
diâmetro interno de 39mm
de arenito berea.
3.2 Ruptura por tração (spalling)

• Ocorre quando as forças de percolação geram tensões de tração, que


promovem a desagregação das partículas mal consolidadas do
reservatório;

• Essa instabilidade é observada em poços com altas taxas de produção;

• A estrutura final da fratura no ensaio de tração tem uma forma cúspide;

• Quando as lascas de rocha não se desprendem, o modo de ruptura pode


evoluir para breakout;

• Esses problemas podem ser resolvidos re-perfurando com uma maior


densidade de canhoneio.
3.2 Ruptura por tração (spalling)

Figura 2 - Fraturamento por tração em corpo de prova com


diâmetro interno de 39 mm em arenito Castlegate
4. Parâmetros que influenciam a
produção de areia
4.1 Fatores relacionados à formação
• A magnitude das tensões in-situ influencia a concentração de tensões na
parede do poço e nos túneis abertos pelo canhoneio, afetando a produção
de areia;

• Quanto maior a tensão, maior a probabilidade de ruptura por cisalhamento;

• A depleção no reservatório aumenta as tensões efetivas, principalmente a


vertical;

• A produção de areia em rupturas por tração é facilmente diminuído com a


redução da pressão do reservatório. Já a ruptura por cisalhamento é um
problema muito mais sério em formações frágeis;

• A variação de no reservatório submetido a tensões desviadoras pode


reduzir a resistência ao cisalhamento, o que favorece a produção de sólidos.
4.1 Fatores relacionados à formação

Figura 3 – Instabilidades
microscópicas em
produção de sólidos
granulares
4.2 Fatores relacionados à completação

• Após o revestimento, ocorre a cimentação do espaço anular. Devido ao


endurecimento, o cimento pode sofrer retração e reduzir a tensão radial
que atua na parede do poço;

• A diminuição de aumenta a tensão desviadora, que possibilita a criação


de uma zona fragilizada que é suscetível ao transporte pelo fluxo de
fluido.
4.2 Fatores relacionados à completação

Figura 4 – Retração do cimento e descarregamento radial


4.2 Fatores relacionados à completação

• A operação de canhoneio também leva à desintegração da rocha


reservatório. Ele provoca a produção de sólidos a partir das paredes das
pequenas cavidades;

• A ação do canhoneio cria uma região onde a cimentação mineral é


destruída. No entorno da cavidade cria-se regiões com diferentes
comportamentos:

• Região elástica não afetada mais afastada da cavidade (A)

• Região elastoplástica intermediária com variado grau de dano (B)

• Região totalmente plástica adjacente á cavidade com rocha


completamente desagregada (C)
4.2 Fatores relacionados à completação

Figura 5 – Danos nos arenitos fracos após o canhoneio


4.2 Fatores relacionados à completação

• A geometria do canhoneio também é um fator importante a ser


considerado.

• Anos atrás, eram utilizadas cavidades de pequena dimensão e baixa


densidade, tornando o sistema de canhoneio menos eficiente.

• Durante a produção, isso levava a problemas relacionados à ruptura por


tração.
4.2 Fatores relacionados à completação

Figura 6 – Campo da cavidade de perfuração do canhoneio


4.3 Fatores relacionados à produção

• A velocidade do fluido e sua viscosidade afetam diretamente a


migração de finos através do meio poroso;

• Finos são partículas de pequeno diâmetro das frações silte e argila;

• Essa migração promove o tamponamento parcial dos poros reduzindo


a permeabilidade da formação, aumentando o gradiente de poro-
pressão;

• Como consequência elevam-se as forças de percolação, que podem


levar à ruptura por tração;

• A estabilidade das cavidades canhoneadas é governada pelo gradiente


de poro-pressão, que gera rupturas por tração, e pelo drawdown, onde
predominam rupturas por cisalhamento.
4.3 Fatores relacionados à produção

Figura 7 – Rupturas por tração relacionadas à percolação em um poço aberto


(lado esquerdo) e túnel canhoneado (lado direito).
4.3 Fatores relacionados à produção

É definido que o volume de areia


produzido depende do tipo de
ruptura, que depende do tipo de
arenito, mostrados na Figura 8.

• Classe A – Frágil

• Classe B – Ductil

• Classe C - Compacta

Figura 8 – Formas de rupturas típicas de


arenitos.
Problemas gerais causados pela produção
de areia
Lugar Problema Efeito
Reservatório Preenchimento do • Acesso restrito ao intervalo de
poço produção
• Perda de produtividade
• Perda de reservas

Equipamento de Incrustação de areia • Dano/mau-funcionamento do


superfície DHSV
• Difícil operação de cabos

Erosão • Frequentes falhas nos


equipamentos

Instalação de Acumulação de areia • Mau-funcionamento do


superfície equipamento de controle
• Perda de capacidade
• Desligamentos fora não-agendados
• Separação e eliminação de areia
Métodos de controle de areia

Figura 9
5. Estudo de Caso

“Effect of Sand
invasion on Oil Well
Production: A Case
study of Garon Field
in the Niger Delta”

Bibobra Ikporo e Okotie Sylvester

Figura 10
5.1 Visão geral do campo

• O estudo de caso apresenta os efeitos da invasão da areia em poços do campo


de Garon, na região do Delta do Rio Níger, na Nigéria, que é a área com maior
produção de petróleo em toda a África Ocidental;
• O Delta do Niger é a área localizada diretamente no Golfo da Guiné no
Oceano Atlântico na Nigéria. É localizado na costa de nove estados nigerianos;
• A Nigéria se tornou o maior produtor de petróleo do Oeste da África. Quase 2
milhões de barris são extraídos por dia no Delta. Foi estimado em 2012 uma
reserva de cerca de 38 bilhões de barris de óleo cru na área;
• As primeiras operações na região começaram nos anos 50 e foram feitas por
corporações multinacionais, que deram á Nigéria os recursos tecnológicos e
financeiros para extrair o óleo. Desde 1975, a região conta com mais de 75%
dos ganhos por exportação da Nigéria;
5.1 Visão geral do campo

Figura 11
5.1 Visão geral do campo

Figura 12 – Locais de produção no Delta do Níger.


5.1 Visão geral do campo

Figura 13 – Diagrama em bloco mostrando a geomorfologia costal,


sedimentação cíclica e a influência de falhas de crescimento ativo.
5.2 Problemas causados
• Os mecanismos de sobrepressão ocorrem no Delta do Niger como
resultado do carregamento rápido dos folhelhos subcompactados da
Formação Akata pelos arenitos Agbada e Benin;
• Assim, a produção de areia é predominante no Delta do Niger porque
quase todas as reservas de óleo e gás estão localizadas dentro de
regiões inconsolidadas;
• É muito desafiador completar poços nessa região de uma forma que
mantenha a areia da formação no lugar sem restringir a produção;
• Quando poços possuem areia, a produtividade pode diminuir, e o
descarte da areia produzida é um custo associado significativo da
operação. Procedimentos de remediação demandam horas de tempo
de plataforma.
5.2 Problemas causados

• Casos extremos com falhas catastróficas mostraram altíssima produção


de areia e abandono do poço;
• Em poços de alta produção, areia pode ser transportada para a superfície
e causar colapso do revestimento, erosão das linhas, conexões, válvulas e
válvula de choke;
• Quando a produção de areia é identificada, os operadores precisam de
aparelhos para monitorar e sistemas de eliminação junto a tratamentos
de remediação ou recompletação;
• Em alguns casos, como na recuperação de óleo pesado, a produção de
areia é uma estratégia e é utilizada para aumentar a produção.
5.3 Objetivos do estudo

• Estudar o efeito da produção de areia na produtividade do campo e nos


equipamentos de superfície e subsuperfície;
• Determinar a quantidade de areia produzida num poço por 72 horas com
uma válvula choke de 65/64 polegadas com 2 polegadas de choke trim;
• O resultado foi comparado com uma quantidade prévia produzida pelo
mesmo poço (350 litros) por 72 horas com uma válvula choke de 64/64
polegadas com 1 polegada de choke trim;
• Foi removida a areia dos fluidos do poço, dos separadores, da água antes
da reinjeção, seguido de tratamento e limpeza da areia para descarte
correto.
5.4 Resultados

Figura 14 – Vaso separador de areia antes da limpeza.


5.4 Resultados

Figura 15 – Vaso separador de areia depois da limpeza.


5.4 Resultados

Figura 16 – Areia retirada no estudo (aproximadamente 800L)


5.4 Resultados

Figura 17 – Acumulação de areia no equipamento de superfície


5.4 Resultados

Figura 18 – Efeitos da acumulação de areia nos tubos.


5.4 Resultados

Figura 19 – Efeitos da acumulação de areia na válvula choke na superfície.


5.4 Resultados

Figura 20 – Falha de tela (screen failure) devido à erosão.


6. Conclusão

O Campo de Garon no Delta do Níger foi formado a partir de uma


formação inconsolidada que produz areia junto com o óleo cru.
Nesse estudo, aproximadamente 800 litros de areia foram
drenados e recuperados do separador e outros equipamentos.
Comparando com a quantidade obtida no estudo prévio, 350 litros,
o volume de areia é maior que o anterior por 450 litros. Os efeitos
da produção de areia visualizados no Campo de Garon são,
principalmente, a erosão da válvula choke (superfície), tubos, telas,
além dos prejuízos causados pelo tempo de plataforma e trabalho
humano perdidos nas paradas de produção e necessidade de
equipamentos para tratamento do óleo e da água.
Referências Bibliográficas

DUSSEAULT, M. B.; SANTARELLI, F. J. A conceptual model for massive solids


production in poorly-consolidated sandstones. ISRM International Symposium, IS
1989, 1990.
Fundamentos básicos sobre produção de areia. In: [s.l: s.n.]. p. 14.
IKPORO, B.; SYLVESTER, O. Effect of Sand invasion on Oil Well Production : A Case
study of Garon Field in the Niger Delta. The International Journal Of Engineering
And Science (IJES), v. 4, n. 5, p. 64–72, 2015.
MARTINS, R. G. Controle da produção de areia em poços de petróleo brasileiros.
2011.
WEBER, K. J.; DAUKORU, E. Petroleum Geology of the Niger Delta. 1974.
Obrigada!

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