Você está na página 1de 28

Memória e História do Movimento Estudantil da UNESP:

1980 -2021

Greve Marília 2013 – Corte de via

Araraquara – Greve 2016 - Assembléia


“ A História não só se estuda, também se escreve”
Um convite a luta e memória coletiva do Movimento Estudantil
O que torna mais lúcidas as reflexões
de Maurício Tragtenberg, em
Por se tratar de uma universidade, um fato é muito Educação, Política e Sindicalismo,
interessante e sugestivo: todo o processo de lutas sociais sobre a falta de reflexão dos
dentro da UNESP não tem sido objeto de pesquisa, de professores e estudantes a respeito
discussão, em eventos acadêmicos e muito menos de da realidade educacional que os
publicação nas variadas revistas, jornaizinhos e obras que a atinge. Assemelhando-os, assim, ao
UNESP possui. A memória sobre a luta estudantil dentro da trabalhador alienado que não pensa
universidade é feita pela própria luta. Curiosamente, temos sobre o sistema produtivo que o
cursos de ciências humanas que se prestam a estudar as inclui.
práticas de poder, exploração e as lutas sociais nas mais
variadas esferas, mas a própria UNESP não surge como objeto
de análise.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


História da Unesp – Criação e Primeiras Lutas Estudantis

 A UNESP é criada em 1976, a partir da junção de diversas


faculdades no interior do Estado de São Paulo, este aspecto a
diferencia das outras estaduais paulistas, pois ela está distribuída de
maneira descentralizada em 24 cidades, com o total de 32
faculdades e institutos.

Mémória e História do Movimento Estudantil na Unesp



Trata-se portanto, de uma universidade toda ela
dispersa por várias cidades do interior paulista e que, até
então, é a menos elitizada das universidades do Estado.

Tal fato se deve também pelo fator de reunir muitos
cursos de licenciatura e por ter mais de 50%* de seus
estudantes provenientes do ensino público, a UNESP
possui a menor renda per capita dentre as universidades
paulistas e possui uma demanda por inclusão social que
a singulariza historicamente

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Espalhamento da UNESP pelo Estado de São Paulo

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


 Esse aspecto de espalhamento cria uma série de dificuldades, dentre elas
a articulação do movimento estudantil e a confluência de objetivos por
conta das diferenças e particularidades pontuais de cada localidade.


Entretanto esse fator não impossibilitou as/os estudantes de se
organizarem e lutarem por acesso e permanência ao ensino superior
público e não deve ser impeditivo para que novamente nos organizemos
para a luta a partir de nossas pautas mais objetivas e comuns: a
permanência estudantil e o fim do vestibular.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


1980 – As primeiras mobilizações e ocupações por moradia:

 Na década de 1980 começa a eclodir a luta


das/dos estudantes pobres por
permanência estudantil na UNESP.
 Muitas/os que ultrapassaram o filtro social
do vestibular ao se verem em uma cidade
desconhecida, sem os familiares, sem
moradia, sem emprego se veem em um
dilema para continuar com o sonho do
ensino superior.
Assim, através de intensos processos de ocupações
de salas de aula, que duraram anos, os estudantes
da Unesp conquistam o direito a Moradia Estudantil

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


As politicas de permanência estudantil como conquistas diretas
das mobilizações do M.E

 Entretanto esta vitória do movimento só chega para aqueles campi


que se colocaram em luta no processo de ocupação: em Marília,
Assis, Araraquara, Presidente Prudente, Rio Claro, São José do
Rio Preto foram construídas moradias estudantis – a exceção é
Araçatuba, que não se colocou em luta e conseguiu a construção da
moradia devido ao excedente de verba das moradias conquistadas.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Os anos 1990: Continuidade e difusão das mobilizações

 A luta das/dos estudantes por permanência estudantil não parou por


ai, já em meados da década de 1990, além de Moradia Estudantil, na
pauta dos estudantes, também estavam bolsas de auxílio
socioeconômico e restaurante universitário.

Com o avanço da luta as/os estudantes conseguiram os auxílios
estudantis – infelizmente a quantidade de bolsas não sanava a
demanda, e até os dias de hoje não sana - e o Restaurante
Universitário, que em muitos campi, foram construídos após 20 anos
de reivindicações estudantis.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Os anos 1990: Continuidade e difusão das mobilizações

Como exemplo, a construção da moradia


estudantil [lar de estudantes] da UNESP
em Marília resultou de longos anos de
luta, 1986-1990, quando os alunos
moraram boa parte deles em ocupações
dentro da faculdade. Surgiram
posteriormente ocupações para
ampliação dos blocos residenciais em
1996,1999, 2000 e 2002.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Início dos anos 2000: Mobilizações estudantis contra as Reformas
Universitárias e pela ampliação da permanência estudantil

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Início dos anos 2000: Mobilizações estudantis contra as Reformas
Universitárias e pela ampliação da permanência estudantil

Os anos 2000- 2010, foram marcados por movimentos de ocupação por
moradias estudantis e ampliação de vagas em vários campi: Araraquara, Marília,
Assis, Rio Preto, Bauru, São Paulo, Presidente Prudente. Essas ocupações
aconteciam na continuidade das anteriores e eram reforçadas com encontros
estaduais de moradia, também encontros mensais dos estudantes, os
chamados Encontros de Entidades Estudantis da UNESP.

Neste ponto, cabe destacar que as articulações e os deslocamentos que
possibilitavam tais encontros, eram facilitadas a partir dos recursos da UNESP-
como ônibus, câmeras de vídeo e locais para sediar congressos e etc. que
possuíam relativa abertura ao uso da comunidade acadêmica,- algo que atualmente
exige uma burocracia bizantina, que praticamente impede sua utilização pela
comunidade acadêmica

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


2007 – 2014 : Ciclo de greves, ocupações: luta e repressão no
Movimento estudantil da UNESP:

Se por um lado, foram anos que marcaram ascenso


das lutas e da organização do Movimento Estudantil,
pelo outro foi um período onde a REItoria em conluio
ao Governo Estadual realizou um conjunto de
mudanças arquitetônicas e reformas universitárias e
institui a tropa de choque como elemento do diálogo
com as lutas estudantis.
GREVE 2007 – UNESP REIVINDICAÇÕES
"Na madrugada do dia 20 de junho de 2007, um
contingente enorme da tropa de choque invadiu, ou Reintegração de posse na UNESP –
melhor, entrou sem nenhum impedimento pela Araraquara:
porta da frente da Faculdade de Ciências e Letras A primeira vez que a tropa de choque
(FCL) da UNESP de Araraquara. Todo esse aparato invade um campus universitário após a
militar cinematográfico foi utilizado para cumprir Ditadura Militar- Empresarial:
um mandato de reintegração de posse da Diretoria
daquela unidade, onde estudantes encontravam-se
ocupados. A ocupação da Diretoria fazia parte de
um calendário de lutas dos estudantes das
universidades estaduais paulistas, que estavam
ocorrendo naquele momento. Essas lutas foram
desencadeadas principalmente, após a
promulgação de alguns decretos pelo governador
José Serra (PSDB), que entre outras coisas, feria a
autonomia das universidades. O ponto de partida
foi a ocupação da Reitoria da USP em São Paulo,
que durou cerca de 50 dias. Depois, uma onda de
mobilizações de estudantes, professores e
funcionários, varreram as estaduais paulistas.
Porém, um ponto a ser observado é o de que a
maior mobilização e consciência nesse processo
de sucateamento e de precarização que vêm
sofrendo o ensino público, vieram por parte dos
estudantes (PRATA, 2008, p. 1)."
2013 – Greves Gerais e Ocupações para barrar o PIMESP e exigir
uma politica de permanência estudantil efetiva.
Após a greve estudantil de mais de 10
campi da Unesp em 2013, com duas
ocupações de Reitoria e ocupações de
direções das unidades, o PIMESP elitista
foi barrado e assim conquistadas as cotas
na Unesp.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


2013 – Greves Gerais e Ocupações para barrar o PIMESP e exigir
uma politica de permanência estudantil efetiva.

Ocupação Reitoria UNESP -2013

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


2014 – 17 estudantes da Unesp - Araraquara expulsos por lutar por
permanência e educação dignas
Em 2014, o movimento dos estudantes se intensificou
após o desalojamento de 38 alunos da moradia
estudantil. Em 2013, houve uma significativa
diminuição no número de bolsas de auxílio ao
estudante (BAAE). No final de 2012, houve ainda a
expulsão de 6 residentes da moradia estudantil, que
foram intimados a se retirar das dependências em um
curto espaço de tempo. Em resposta a estes ataques,
as mobilizações estudantis se fortaleceram
constituindo-se uma resistência permanente em prol
do acesso e da permanência dos estudantes negros,
indígenas e provenientes da classe trabalhadora no
Ensino Superior – um Movimento em defesa de uma
universidade pública, gratuita e a serviço do povo.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


2014 – 17 estudantes da Unesp - Araraquara expulsos por
lutar por permanência e educação dignas


Entendendo as expulsões como uma medida autoritária da Direção, os estudantes
se organizaram de diversas formas: reunindo e protocolando documentos para
entrar com recurso, participando de reuniões tanto com a Direção, quanto com as
comissões responsáveis pela permanência (CPPE, CLM etc.), participando das
reuniões departamentais através dos representantes discentes, atuando por meio
dos centros acadêmicos, fazendo panfletos, realizando manifestações, grupos de
discussão etc.

 Frente a todos estes esforços, a Direção se mostrou sempre intransigente e hostil,


deslegitimando as reivindicações e se fechando ao diálogo, seja por dificultar a
realização das reuniões, seja pelo uso do aparato burocrático da instituição, que
desconsiderou inclusive os recursos. Assim, a medida de ocupação da Direção da
Faculdade colocou-se como uma das últimas possibilidades para a concretização
das pautas reivindicadas.
Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp
Como a Diretoria lidou com a ocupação?
Perante todo este quadro, o ímpeto repressivo da Direção esteve claro desde o início,
culminando em uma violenta reintegração de posse por parte da Polícia Militar e da
Tropa de Choque na madrugada do dia 20 de Junho de 2014, às 4h30. Desde o dia
da ocupação (29 de Maio), os esforços dos estudantes em conseguir reuniões com a
Direção foram ignorados pelo diretor Arnaldo Cortina e pelo vice-diretor Cláudio Paiva e
as pautas, negadas. A ação da Polícia Militar e da Tropa de choque foi extremamente
violenta, constrangendo moral e fisicamente homens e mulheres, impedindo direitos
como o de fazer ligações, comer e beber água. Os 15 estudantes foram acordados por
um desproporcional contingente de homens armados (cerca de 150 policiais), e levados
para a Delegacia de Polícia em um ônibus da companhia de transporte da cidade, CTA.

Além destes estudantes que foram presos, outros estudantes escolhidos a dedo
pela direção da unidade foram somados ao grupo, totalizando 17 expulsos em
processo administrativo interno da universidade. Esse processo teve
embasamento no Estatuto em vigor na instituição, advindo da Ditadura Militar. O
fato de as punições terem sido comunicadas aos estudantes no último dia de aula
trouxe dificuldades para a mobilização de resposta, o que reforça o ímpeto
repressivo.
Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp
A campanha pela revogação das expulsões: solidariedade, apoio
mútuo e denúncia.
- De 2014 à 2016: Longo processo de construção
politica e de solidariedade estudantil:

- Diversos coletivos, partidos e entidades se


solidarizam pela imediata revogação dos 17
estudantes expulsos.

- Para além das expulsões, em outros campi


houveram sindicâncias e interditos proibitórios contra
estudantes ligados ao Movimento Estudantil

- As 17 expulsões foram revogadas e transformadas


em suspensão, alongando o processo até 2016.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


De 2016 -2021
 Jornadas de mobilização estaduais e nacionais.

Greves pela universalização/ampliação das politicas de permanência
estudantil.

Oposição aos projetos empresariais na UNESP: PDI, Reformas de
Sustentabilidade Orçamentária.
 Oposição ao FUTURE-SE

Presença do movimento estudantil nas manifestações de rua

Solidariedade e luta nas Ocupas Secundaristas

Oposição contra o EaD e os projetos de mercantilizadores da educação

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp
2016-2022
Paridade de Poder – o 70/15/15 e as estruturas antidemocráticas da
Universidade

 Há de se destacar ainda uma outra pauta de atravessou o movimento


estudantil desde sua emergência, a a que se refere a democracia de
fato dentro da Unesp:
 Ou seja, a paridade de voto às eleições para Diretoria e Reitoria; e a
paridade nos órgãos deliberativos (Conselho Universitário e
Congregação). Cabe lembrar que a atual estrutura de poder
universitária não há paridade e é extremamente antidemocrática, de
modo que a composição dos órgãos colegiados centrais obedece aos
seguintes pesos: 70% para os professores, 15% para os servidores e
15% para os estudantes.

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp


Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp
Táticas de Luta
- Ocupações de sala, diretorias e REItoria
- Greves Parciais e Gerais
- Piquetes/Paralisação
- Mobilização em solidariedade/apoio mútuo
- Giro militante - Troca de experiências e formas de luta entre os campis.
- Encontros Estaduais e de Moradias Estudantis
- Cortes de via
- Manifestações
- Festas de socialidade e autofinanciamento
- Atividades de agitação cultural
- Debates coletivos e Grupos de Trabalho
- Extensão Popular

Memória e História do Movimento Estudantil na Unesp

Você também pode gostar