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AULA 17

UM PAÍS AO ESPELHO

Do saudosismo (Pascoaes) aos perigos da hiperidentidade (Lourenço). Descrições etnográficas e narrativas


identitárias. Geógrafos, etnógrafos, historiadores: imagens e representações de Portugal. Os perigos do
essencialismo. O colonialismo português e a sua excecionalidade: entre a vocação imperial e a
subalternidade de um país periférico.

3 DEZEMBRO
IDENTIDADES NACIONAIS E IDENTIDADES
REGIONAIS:
REPRESENTAÇÕES DE IDENTIDADE E DE
DIFERENÇA
O preconceito reduz a complexidade real Essa diversidade pode ser parcialmente explicada por razões
a uma caricatura. No entanto, nem toda objetivas ou objetiváveis, como a geografia ou a história
a redução decorre de um preconceito
caricatural. Por vezes ele reporta a uma
Porém, a sua relevância analítica depende sempre de fatores
intencionalidade política evidente anda
subjetivos. Em alguns casos preponderam velhos estereótipos,
que nem sempre assumida.
como podem ser os que resultam da ideia de um norte
empreendedor e trabalhador e um sul preguiçoso. Noutros
Nenhum país com alguma escala escapa casos recorre-se a uma pseudo-história ou à legitimação
à evidência da diversidade interna que o etnográfica com base na tradição.
compõe. Estas diferenciações são importantes tanto como discursos
internos, de marcação de diferença, como de discursos feitos a
-- Um Brasil feito de «brasis» partir de fora.
-- A Itália industrial de Turim pouco tem A palavras dos especialistas é importante mas muitas vezes é
a ver com a Itália rural do sul secundarizada por fatores que lhe são extrínsecos.
-- Os estados da costa oriental dos EUA
são um mundo diferente dos estados do
oeste Os mapas são um dos instrumentos importantes para a
-- A França pensa-se a si própria a perceção da diversidade interna e também para a sua
partir das regiões e do terroir construção.
Atlas dos
Preconceitos
Yanko Tsvetkov
Atlas dos Preconceitos
Yanko Tsvetkov
O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO

O conhecimento do território é decisivo a vários níveis:

-- Permite perceber o que faz a unidade do território, mas também as linhas de fratura que geram desequilíbrios.

-- Liga a história à geografia, conferindo espessura temporal ao espaço que se observa e se modifica.

-- Contribui para a discussão do problema do «desenvolvimento» de forma crítica, na medida em que permite
observar divergências regionais e outras.

-- Considerar a relação do Estado-nação com outros estados numa perspetiva global.

O olhar sobre o território implica a história, a geografia e a economia, bem como outros conhecimento e práticas
correlacionadas – planeamento e urbanismo, arquitetura, políticas de incentivo económico e de fixação de
populações, variações demográficas, políticas migratórias, etc. Fatores pluridimensionais que problematizam um
objeto complexo.
As diferentes regiões que compõem um país
não tiram unidade ao conjunto. São vistas
como uma riqueza, mas devemos ter em conta
o modo como a diversidade é neutralizada
através de discursos que o poder promove.
A redução da diferença a signos mais ou
menos turistificados é um desses processos. O
mesmo se passa com a acomodação das
representações a estereótipos mais ou menos
consensualizados.
O trabalho, a harmonia social, bem como a
complementaridade surgem como elementos
fundamentais de uma narrativa de
convergência e de unidade da nação na
diversidade que a compõe.
A questão do «desenvolvimento» não se
coloca aqui, senão enquanto continuidade de
um modo de vida alicerçado na tradição e que
olha o território como um conjunto uniforme.

Mapa de
Amorim Girão
DIVISÕES GEOGRÁFICAS
SEGUNDO ORLANDO
RIBEIRO
1945

Noroeste Atlântico
Norte Orlando Ribeiro
Beira Litoral 1911-1997
Atlântico
Cordilheira Central

Norte Transmontano

Estremadura
Sul
Alentejo
Mediterrânico
Algarve
PORTUGAL, O MEDITERRÂNEO E O
ATLÂNTICO

A geografia reconhece e enuncia a diversidade do território português tanto quanto a continuidade «natural»
com o país vizinho – a identidade nacional não reporta à geografia.
A diversidade interna, apesar de enunciada pelos especialistas, não implica uma visão convergente. Se
Amorim Girão vê uma diferença essencial entre norte e sul, com o centro do país a fazer o papel de eixo
estruturador, Orlando Ribeiro propõe uma divisão diferente, apontando uma zona mediterrânica em
confronto com um norte bipartido entre a zona atlântica e uma outra continental.
O relevo é o elemento fundamental de separação entre o norte e o sul, sendo o norte que fez da nação um
Estado. O norte não é uniforme, antes possuindo um forte contraste, exatamente o que diferencia o litoral do
interior, o Portugal atlântico e o Portugal de montanha.
Constatam-se adaptações culturais às diferenças naturais: centeio, trigo e milho, formas de trabalhar a terra
e seus instrumentos; modos de habitar; práticas religiosas dialectologia.
Um dos aspetos que mais ressalta em Orlando Ribeiro é a imagem de um Portugal que se prolonga,
naturalmente, Espanha dentro. Correlação com as áreas contíguas espanholas: Alentejo-Levante; Norte
Interior-Planalto Castelhano; Minho-Galiza/Cantábria.
O que faz a unidade da nação? Um dos aspetos sublinhado remete para as deslocações pendulares
decorrentes do trabalho sazonal: «avieiros» - da foz do Liz para a pesca no Tejo; «Gaibéus»: do norte
ribatejano para a Lezíria; «cortelhões»: das terras de xisto para a apanha da cortiça e da azeitona;
«ratinhos»: das Beiras para a ceifa do trigo: «caramelos de ir e vir»: do Vouga para os arrozais do Sado.
Douro vinhateiro
Paisagem de Trás-os-
Montes
Paisagem de montado
Paisagem de seara
Alqueva antes da barragem

Perímetro de regra do Alqueva


Serra da Lousã – Terras de Xisto
Paisagem
minhota
Sistelo – Arcos de Valdevez
NUTS 3 de Portugal
Continental:. 1-Minho-Lima 2-
Cávado 3-Ave 4-Grande Porto 5-
Tâmega 6-Entre Douro e Vouga 7-
Douro 8-Alto Trás-os-Montes 9-
Baixo Vouga 10-Baixo Mondego
 11-Pinhal Litoral 12-
Pinhal Interior Norte 13-
Pinhal Interior Sul 14-Dão-Lafões
 15 - Serra da Estrela 16-
Beira Interior Norte 17-
Beira Interior Sul 18-
Cova da Beira 19-Oeste 20-
Grande Lisboa 21-
Península de Setúbal 22-
Médio Tejo; 23-Lezíria do Tejo 24-
Alentejo Litoral 25-Alto Alentejo
 26-Alentejo Central 27-
Baixo Alentejo 28-Algarve.

NUTS II NUTS III

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