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Universidade Federal Da Bahia

Escola De Enfermagem
Trabalho de Conclusão de Curso

FATORES ASSOCIADOS AO TEMPO DE CHEGADA DE


MULHERES COM CÂNCER DO COLO DO ÚTERO AO
HOSPITAL ESPECIALIZADO

Discente: Sabrina dos Santos Pinho Costa


Orientador: Profº Drº Guilherme de Sousa Ribeiro
Co-orientadora: Mª Perla Machado Santana

Salvador
2019
Introdução

 O câncer de colo do útero (CCU) é um problema de saúde pública, especialmente em


países subdesenvolvidos (FERLAY et al, 2013)

 Brasil: 16.370 casos novos em 2019 (INCA, 2017)

 Etiologia: infecção persistente causada por tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano


(HPV) (SANTANA, 2016)

 Prevenção: ações educativas, vacinação e rastreamento. Contudo, as taxas de incidência


e de mortalidade permanecem sendo um desafio (FEGRASGO, 2017; THULER;
BERGMANN; MENDONÇA, 2012)

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Introdução

 O câncer do colo do útero em sua fase inicial é assintomático. Carvalho, Dwer e


Rodrigues (2018) observaram que as mulheres com CCU buscaram atendimento somente
após o surgimento de sintomas.

 As barreiras organizacionais existentes no período de investigação do câncer podem


contribuir para um diagnóstico tardio (SOUZA et al, 2016).

 O atraso no início do cuidado terapêutico pode prejudicar o prognóstico e comprometer


a sobrevivência de pacientes com câncer (ASHING-GIWA et al 2010).

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Justificativa

 Motivação: Iniciação científica no projeto de câncer ginecológico;

 Considerando a magnitude do problema do CCU, justifica-se a realização de pesquisas


que contribuam para melhor avaliação do quadro epidemiológico da doença;

 Poucos estudos buscaram investigar o tempo entre o início dos sintomas de mulheres
com câncer do colo do útero e chegado ao hospital especializado.

Questão de pesquisa
O tempo de chegada ao hospital especializado é influenciado por
características demográficas, socioeconômicas, clínicas e de acesso
aos serviços de saúde?
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Objeto e objetivo do estudo

 OBJETO: Tempo de chegada de mulheres com câncer do colo do útero ao


hospital especializado

 OBJETIVO: Investigar a associação entre características demográficas,


socioeconômicas, clínicas e de acesso aos serviços de saúde de mulheres
com câncer do colo do útero com o tempo de chegada ao hospital
especializado.

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Chegada ao hospital especializado

Acesso aos serviços de


saúde

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Metodologia
Estudo: Transversal
Local de estudo: Hospital de referência para neoplasias no Estado da Bahia
Período: Julho de 2018 – Abril de 2019
Amostra: 135 mulheres com CCU

Critérios de inclusão: Idade ≥ 18 anos


Diagnóstico de CCU em 1º atendimento no hospital de referência
Critérios de não inclusão: Ter iniciado tratamento em outro serviço
Ser recidiva

Aspectos éticos: Conduzido pela Resolução 466/2012


Aprovado pelo Comitê de Ética sob protocolo de nº 2.512.263
TCLE
Análise de dados Software: Stata
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Metodologia

Demográficas: Idade, local de residência e estado civil


Socioeconômicas: Renda, escolaridade, raça/cor, bolsa
família, ocupação
Variáveis explicativas História ginecológica pregressa: Consultas ginecológicas e
Variáveis contínuas: mediana e IIQ exame citopatológico
Variáveis categóricas: freq. relativas
Aspectos clínicos: Sintomas e estadiamento
Acesso: ESF, número e perfil dos serviços de saúde percorridos

Tempo entre o início do primeiro sintoma e 1º


Variável desfecho atendimento no hospital especializado
Teste de Kruskal-Wallis
P valor <0,05
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Resultados
Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas de mulheres com CCU assistidas em um hospital de referência (n=135)

Características demográficas e socioeconômicas n (%)


Local de residência
Interior 99 (73)
Salvador 36 (27)
Idade 48 (IIQ: 38-59)
Cor/raça
Parda 61 (45)
Preta 49 (36)
Branca/Amarela 25 (19)
Estado Civil
Casada 68 (50)
Solteira 34 (25)
Viúva 23 (17)
Divorciada 10 (8)
Escolaridade (anos)
0-7 anos de estudo 78 (58)
> 8 anos de estudo 57 (42) 9
Resultados
Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas de mulheres com CCU assistidas em um hospital de referência (n=135)
Características demográficas e socioeconômicas n (%)
Nível socioeconômico (ABEP)
A, B, C 53 (39)
D/E 82 (61)
Renda per capita mensal
<R$500,00 92 (69)
>R$500,00 43 (31)
Situação de trabalho
Não trabalha 98 (73)
Trabalha (com ou sem carteira assinada) 37 (27)
Beneficiária do Programa Bolsa Família
Não 84 (62)
Sim 51 (38)
Cobertura pela ESF¹
Sim 104 (77)
Não 31 (23)
¹ESF= Estratégia de Saúde da Família 10
Tabela 2. História ginecológica pregressa, características clínicas, e o acesso aos serviço de saúde de mulheres com CCU útero
assistidas em um hospital de referência (n=135)
Características n (%)
História ginecológica pregressa
Relato de consulta ginecológica
Sim 112 (83)
Não 23 (17)
Relato de exame citopatológico do colo do útero
Sim 119 (88)
Não 16 (12)
Características clínicas
Sem sintomas 9 (7)
Sintomáticas 126 (93)
Primeiro sintoma (n=126)
Sangramento vaginal 58 (46)
Dor 33 (26)
Secreção vaginal 25 (20)
Sangramento durante relação sexual 10 (8)
Estadiamento (n=122)¹
Inicial 25 (20)
Avançado 97 (80)
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¹O estadiamento inicial: IA1, IA2, IB1, IB2, IB3 e IIA1, e o estadiamento avançado: IB2, IIA2, IIB, IIIA, IIIB, IIIC, IIIC1, IIIC2, IVA e IVB
Resultados
Figura 2. Gráfico descrevendo a realização de exames citopatológicos antes da doença, segundo faixa etária, em
mulheres com câncer do colo do útero (n=135)

100%

90%

80%

70%

60%
Proporção (%)

50%

40%

30%

20%

10%

0%
<40 anos 40-60 anos >60 anos

Não Sim 12
Resultados
Tabela 2. História ginecológica pregressa, características clínicas, e o acesso aos serviço de saúde de mulheres com CCU assistidas em
um hospital de referência (n=135).

Características n (%)
Acesso aos serviços de saúde
Nº de unidades de saúde antes do 1º atendimento no Hospital
especializado
≤ 2 serviços de saúde 101 (75)
≥ 3 serviços de saúde 34 (25)
Tipos de serviços de saúde utilizados até chegada no hospital
de referência¹
Clínica/hospital privado 82 (61)
Hospital SUS 75 (56)
Unidade Básica/ESF 35 (26)
Unidade de Pronto Atendimento 11 (8)
Policlínica/Multicentro SUS 9 (7)

¹A soma dos percentis é maior que 100% pois cada participante pode ter passado por mais de um serviço de saúde

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Tabela 3. Tempo entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento em um hospital especializado segundo características
demográficas e socioeconômicas de mulheres com CCU (n=126).
Características Tempo de chegada ao hospital P valor
especializado mediana (IIQ)
Tempo de chegada ao hospital especializado 5 (3-10) -
Demográficas e socioeconômicas    
Local de residência   0,26
Salvador 5 (3-8)  
Interior 5 (3-12)  
Idade   0,01
<40 6 (3-12)  
40 - 60 6 (3-10)  
>60 3 (2-5)  
Raça/cor   0,76
Branca/Amarela 5 (3-8)  
Preta 6 (3-10)  
Parda 5 (3-8)  
Nível socioeconômico   0,23
A, B, C 6 (3-12)  
D, E 5 (3-8)  
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Resultados
Tabela 3. Tempo entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento em um hospital especializado segundo características
demográficas e socioeconômicas de mulheres com CCU (n=126).
Características Tempo de chegada ao hospital especializado P valor
mediana (IIQ)
Renda per capita mensal   0,92
<R$ 500/mês 5 (3-10)  
≥ R$ 500/mês 5 (3-9)  
Escolaridade (anos)   0,62
0-7 5 (3-8)  
≥8 5 (3-10)  
Situação de trabalho   0,46
Trabalha (com ou sem carteira assinada) 6 (3-9)  
Não trabalha 5 (3-10)  
Beneficiária do Programa Bolsa Família   0,15
Sim 6 (3-12)  
Não 5 (3-8)  
Cobertura pela ESF   0,32
Sim 6 (3-10)  
Não 4 (3-8)  
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Tabela 4. Tempo entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento em um hospital especializado de acordo com a história
ginecológica pregressa e características clínicas de mulheres com CCU (n=126).
Características Tempo de chegada ao hospital especializado P valor
mediana (IIQ)
História ginecológica pregressa
Relato de consulta ginecológica antes da doença   0,71
Sim 5 (3-9)  
Não 5 (2-12)  
Relato de exame citopatológico antes da doença   0,01
Sim 6 (3-10)  
Não 3 (2-6)  
Características clínicas    
Primeiro sintoma (n=126)   0,11
Dor 5 (3-6)  
Sangramento vaginal 6 (3-12)  
Sangramento durante relação sexual 8 (4-12)  
Secreção vaginal 4 (3-8)  
Estadiamento   0,33
Inicial 3 (2-7)  
Avançado 6 (3-10)  
16
Resultados

Tabela 5. Tempo (meses) decorrido entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento em um hospital especializado de
acordo com o acesso aos serviços de saúde de mulheres com CCU (n=126) .

Características N Tempo de chegada ao hospital P valor


especializado mediana (IIQ)
Acesso aos serviços de saúde
Nº de unidades de saúde percorridas antes do
1º atendimento no hospital especializado
≤ 2 serviços de saúde 92 5 (3-8) 0,07
≥ 3 serviços de saúde 34 7 (3-12)  
Tipos de serviços      0,01
Somente privado 31 4 (2-7)   
Somente público 52  7 (4-12)   
Privado e público 43 5 (3-8)

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Discussão

 Idade avançada foi um fator associado ao menor tempo para 1º atendimento no hospital
especializado
- A população idosa, especialmente as mulheres, é o grupo que mais procura os
serviços de saúde (CARVALHO et al, 2009), fato que pode justificar o menor tempo de
chegada ao hospital de referência.

 A não realização do exame citopatológico também foi associado ao menor tempo de


chegada ao hospital especializado
- Entretanto, a associação encontrada pode estar sendo mediada pelo fator idade, pois
a maioria das mulheres que nunca realizaram o citopatológico tinham idade maior que 60
anos.

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Discussão

 O perfil (público/privado) dos serviços foi associados ao tempo de chegada ao hospital


de referência.

- Os determinantes da utilização dos tipos serviços de saúde podem ser relacionados


a condição clínica e as condições socioeconômicas (TRAVASSOS; MARTINS, 2004);
- Souza et al (2016) evidenciou que as pacientes recorram ao serviço privado na
tentativa de encurtar o tempo de estabelecer o diagnóstico, porém devido
aos custos com o tratamento, os pacientes retornaram à rede pública.

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Discussão

 As mulheres com estadiamento avançado chegaram ao hospital especializado em maior


tempo.
- A desigualdade no acesso aos serviços de saúde pode justificar o diagnóstico em
estádios avançados e o atraso no tratamento nos casos de mulheres com CCU (Thuler et al,
2012).

 As mulheres cobertas pela ESF chegaram ao hospital especializado em maior tempo do que
as mulheres que não eram cobertas.
- Observou-se que a maioria das mulheres cobertas pela ESF residem no interior, fato que
pode justificar esse achado
- Esse dado sugere que possam existir falhas no mecanismo de atuação da ESF

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Limitações

 Possível viés recordatório sobre o início dos sintomas

 Ausência de informações sobre barreiras socioculturais

 Amostra pequena e pouca variabilidade do desfecho

 Realizado em apenas um hospital, com atendimento 100% pelo SUS, podendo representar
um grupo homogêneo de mulheres com CCU

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Conclusão

 As políticas públicas devem aumentar a eficácia dos sistemas de atenção à saúde,


fornecendo melhores condições de acesso aos serviços que promovam a detecção
precoce e encaminhamento para o serviço especializado em tempo oportuno.

 É necessário medidas que garantam a precocidade nos processos de diagnóstico, uma


vez que o diagnóstico tardio pode influenciar no estadiamento e prognóstico;

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AGRADECIMENTOS

Guilherme de Sousa Ribeiro


Perla Machado Santana
Camila Gomes
Caline Vasconcelos
Lorena Santos
Equipe de pesquisa

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REFERÊNCIAS
 FERLAY, J. et al. GLOBOCAN 2012 v1.0, cancer incidence and mortality worldwide. Lyon, France: IARC, 2013
 THULER, L.C.S. et al. Perfil das Pacientes com Câncer do Colo do Útero no Brasil, 2000-2009: estudo de base secundária. Rev. Bras.
Cancerol., v. 58, n. 3, p. 351-357, 2012.
 FEBRASGO. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Rastreio, diagnóstico e tratamento do câncer de colo de
útero. São Paulo: FEBRASGO, 2017.
 CARVALHO PG, O´DWYER G, RODRIGUES NCP. Trajetórias assistenciais de mulheres entre diagnóstico e início de tratamento do câncer de
colo uterino. Saúde debate. Rio de janeiro, v. 42, n. 118, p. 687-701, 2018.
 SOUZA KA, SOUZA SRS, TOCANTINS FR, FREITAS TF, PACHECO PQC. O itinerário terapêutico do paciente em tratamento oncológico:
implicações para a prática de enfermagem. Cienc Cuid Saude.,15(2): 259-267, 2016.
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Inter-Science. 01 julho 2010. p.3195-3204.
 CARVALHO CMRGC, BRITO CMS, NERY ISM, FIGUEIREDO MLF. Prevenção de câncer de mama em mulheres idosas: uma revisão. Rev Bras
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 TRUFELLI, D. C.; MIRANDA, V. C.; BRISOLA DOS SANTOS,M. B.; FRAILE, N. M. P; PECORONI, P. G. ; GONZAGA, S. F. R.; RIECHELMANN, R.;
KALIKS, R.; GIGLIO, A. D. Análise do atraso no diagnóstico e tratamento do câncer de mama em um hospital público. Rev Assoc Med Bras
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 VALE DBAP, Morais SS, Pimenta AL, Zeferino LC. Avaliação do rastreamento do câncer do colo do útero na Estratégia Saúde da Família no
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 SANTOS RS, MELO ECP, SANTOS KM. Análise espacial dos indicadores pactuados para o rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil.
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Out-Dez; 21(4): 800-10 24
Obrigada!

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