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Departamento de Odontologia

Universidade Estadual de Montes Claros


Disciplina: Epidemiologia / 2024

Desirée Sant’Ana Haikal


desireehaikal@gmail.com
Ativando Conhecimentos...

Quando discutimos questões sobre a etiologia das


doenças, a extensão dessas doenças em uma
população, medidas de controle, avaliação dessas
medidas, história natural das doenças, políticas de
regulação, etc., estamos discutindo aspectos ligados
com Epidemiologia.
O que é EPIDEMIOLOGIA?

EPI=SOBRE
Conceito atual: “É o campo das ciências que estuda
nas populações os vários fatores e condições que DEMO=POPULAÇÃO
determinam a ocorrência e a distribuição dos eventos
relacionados com a saúde”. No sentido mais amplo – LOGIA=ESTUDO
estudo do comportamento coletivo da saúde e doença

DOENÇAS

CAUSAS
O que é EPIDEMIOLOGIA?

Estudo da distribuição e dos determinantes de estados


relacionados com a saúde ou eventos em populações
específicas e a aplicação desse estudo para o controle dos
problemas de saúde” (LAST, 1988)
INTRODUÇÃO

Saber clínico

EPIDEMIOLOGIA

Estatística Ciências Sociais

(Gordis, 2010)
INTRODUÇÃO

Pressupostos Básicos da Epidemiologia

▪ Agravos à saúde não ocorrem ao acaso

▪ Distribuição desigual dos agravos na população

▪ Distribuição desigual dos fatores de risco na população

▪ Existem fatores determinantes das doenças e agravos da saúde

que, uma vez identificados, precisam ser eliminados, reduzidos ou

neutralizados.
O conhecimento destas situações orienta aplicação de
medidas direcionadas
Aspectos da prática da epidemiologia

Para que os resultados da investigações


epidemiológicas sejam aceitos sem reservas deve-se
considerar

• A correta seleção da população para estudo

• A apropriada aferição dos eventos e a adequada


expressão dos resultados

• O controle das variáveis confundidoras

Pereira, 2002
PRINCÍPIOS BÁSICOS EM PESQUISA

• RANDOMIZAÇÃO
• CEGAMENTO
• CALIBRAÇÃO
• CONTROLE DE VIÉSES
• GRUPOS DE COMPARAÇÃO
• REPRESENTATIVIDADE E TAMANHO DA AMOSTRA

Qualidade dos Estudos


Usos da epidemiologia

Dados Epidemiológicos

Planejamentos, organizações
e monitoramentos em saúde

Estudos

Estabelecimento Alocação Orientação


de prioridades de recursos de programas
Avanços no
conhecimento Políticas públicas compatíveis com problemas identificados
científico

Melhora na saúde da população

OMS, 1997; VIACAVA , 2002; GORDIS, 2010


Usos da epidemiologia
1. Diagnóstico da situação de saúde
2. Investigação etiológica
3. Determinação de riscos
4. Aprimoramento na descrição do quadro clínico
5. Determinação de prognóstico
6. Identificação de síndromes e classificação de doenças
7. Verificação do valor de procedimentos diagnósticos
8. Planejamento e organização de serviços
9. Avaliação das tecnologias programas ou serviços
10. Análise crítica de trabalhos científicos

Pereira, 2002
ABORDAGEM ABORDAGEM
CLÍNICA EPIDEMIOLÓGICA
Exame clínico Levantamento Epidemiológico

Diagnóstico Identifica níveis de saúde-


doença da população
Hipóteses Formula hipóteses de
causalidade
Exames complementares Aplica métodos de verificação

Conclui diagnóstico Elabora diagnóstico de situação

Tratamento Implementa ações e programas


de saúde
Avaliação clínica ou Avaliação de impacto das ações
proservação nos níveis de doença
Todo CD precisa se
apropriar, ao menos
minimamente, dos
métodos de
pesquisa
epidemiológicos
EPIDEMIOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

EPIDEMIOLOGIA
“É o estudo da distribuição e determinantes de estados relacionados
com a saúde ou eventos em populações específicas e a aplicação
desse estudo para o controle dos problemas de saúde” (LAST, 1988)

PRINCIPAIS USOS
1. Descrição dos estados de saúde das populações (tamanho e
distribuição dos problemas)

2. Identificar etiologia ou causas das doenças

3. Avaliar intervenções em saúde

Avaliação/ monitoramento de serviços de saúde


(GORDIS, 2010)
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

1. Descrever os estados de saúde das populações


(tamanho e distribuição dos problemas)
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

DESCRIÇÃO DOS ESTADOS DE SAÚDE DAS POPULAÇÕES

Evidenciam a carga da doença na população

➢ Revelam a distribuição das condições de saúde/doença na


população (quem, onde, quando)

➢ Permitem a identificação de grupos mais vulneráveis

➢ Formulação de hipóteses para estudos analíticos (etiológicos)

➢ Planejamento e monitoramento de ações implementadas

➢ Subsidiar políticas públicas – prioridades, objetivos e estratégias


USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

ONDE???
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

QUANDO???

CPO-D médio no Brasil aos 12 anos

6,7 em 1986

3,6 em 1996

2,8 em 2003

2,1 em 2010

(Brasil, Ministério da Saúde)


USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Levantamentos/Inquéritos
Epidemiológicos em Saúde Bucal

Objetivos

➢Proporcionar dados para o planejamento das ações de saúde.

➢Permitir a avaliação dos programas implementados ou da cobertura


dos serviços de saúde.

➢Permitir comparações dos resultados com dados de outros


momentos ou de outras populações.
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
Dado de prevalência

Resultados principais para população adulta

49,1%
usaram serviços CPOD
particulares 16,75
(45% P)
9%
desdentados
totais
0,5% sem
experiência
15.993 de carie
adultos
37% usaram o
serviço há
mais de 3 anos
Nec. Prótese
32,8% Sup
7,1% nunca 10% Inf
foram ao
dentista 27,5%
relataram dor
Instrumentos de medida Têm como base a 5° Edição do “Oral
Health Surveys: basic methods” - OMS, 2013

Cárie Dentária
➢Condição Dentária e Necessidades de Tratamento
➢CPO-D
➢COR (Condição da raiz)

Doença Periodontal
➢CPI (Índice Periodontal Comunitário)
➢PIP (Perda de Inserção Periodontal)
➢AG (Índice de Alterações Gengivais)

Má-Oclusão (Anormalidades dento-faciais)


➢DAI (Índice de Estética Dental)
➢Índice de Má-Oclusão

Fluorose
➢Dean modificado (OMS)

Edentulismo
➢Uso e necessidade de prótese
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Idades e Faixas Etárias

➢18 a 36 meses: bebês

➢ 5 anos: dentição decídua completa

➢12 anos: dentição permanente completa. Idade índice


padrão para comparações internacionais e controle das
tendências da cárie.

➢15-19 anos: adolescentes

➢35 a 44 anos: adultos

➢ 65 a 74 anos: idosos
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Outros indicares comumente usados na Odontologia

• CPOD - % livres de cárie (% CPO = 0), % C > 0, % P = 28, % P = 0


• % com bolsa periodontal
• % com 20 dentes funcionais (arco dental encurtado)
• Taxa de recém-nascidos com fendas lábio-palatais
• Taxa de traumatismos bucomaxilofaciais
• % com diagnóstico de lesão maligna em estágio I
• Mortalidade por câncer de boca e orofaringe
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Outros indicares comumente usados na Odontologia

Indicadores Sociodentais - Subjetivos


Procuram medir a extensão em que os distúrbios odontológicos
rompem a normalidade da função social e ocasionam mudanças
importantes no comportamento (SHEIHAM, 2000).

Dor, incômodo, estética, restrições na alimentação, na comunicação,


nas relações afetivas, nas atividades diárias e no bem-estar dos
indivíduos

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USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Outros indicares comumente usados na Odontologia

Indicadores Sociodentais - Subjetivos


▪ OHIP - Oral Health Impact Profile (49 e 14, edent) Slade & Spencer 1994;
Slade 1997
▪ GOHAI - Geriatric Oral Health Assessment Index (12 e 36 itens) - Atchinson
& Dolan 1990
▪ DIDL - Dental Impact on Daily Living (36 itens) Leão, 1993
▪ Autopercepção – Projeto SB Brasil 2003
sua saúde bucal
a aparência de dentes e gengivas
Como classifica: a sua mastigação
a sua fala devido a dentes e gengivas
De que forma saúde bucal afeta o relacionamento
Quanto de dor sentiu nos últimos seis meses

Escala Likert

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USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Outros indicares comumente usados na Odontologia

NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Necessidade de saúde: Acesso aos serviços


Observada e Sentida

Demanda Uso dos serviços

Oferta Satisfação

STARFIELD, 1994, MEDRONHO, 2009


USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

DESCRIÇÃO DOS ESTADOS DE SAÚDE DAS POPULAÇÕES

Delineamentos

INCIDÊNCIA
ESTUDOS DE
Se monitorados ao longo do tempo
PREVALENCIA TENDÊNCIA

BASES DA VIGILANCIA EPIDEMIOLÓGIA


USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Estudo de prevalência
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Incidência
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Incidência
Estudos de tendência
2. Identificar etiologia ou causas das doenças

causa
x efeito

Fator de risco Desfecho de Doença


USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Por que avaliar associação entre variáveis???

▪ Um dos principais usos das pesquisas em saúde é estabelecer uma


relação de causa e efeito entre duas variáveis

▪ A identificação de uma associação estatística é necessária, mas não


suficiente para inferir CAUSALIDADE

▪ A distinção entre uma associação causal e uma não causal é, sem


dúvida, um dos principais desafios para os pesquisadores da saúde

Viés de seleção
Domínio da
Associação não causal Viés de aferição Epidemiologia
Viés de confusão
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Magnitude de uma associação

São grandezas de uso comum na epidemiologia e têm por finalidade quantificar


o grau de associação entre um fator de risco e um desfecho de interesse

RISCO RELATIVO - INCIDÊNCIA (COORTE): Medida de associação que


quantifica o quão mais provável é a ocorrência da doença nos expostos
quando comparado aos não expostos.

RAZÃO DAS CHANCES (Odds ratio) – TRANSVERSAL e CASO-


CONTROLE: Medida de associação que quantifica qual a chance ou
possibilidade da doença no grupo exposto comparado ao grupo não exposto

RAZÃO DE PREVALÊNCIA – TRANSVERSAL: Medida de associação que


quantifica quanto a prevalência da doença é maior ou menor n grupo exposto
comparado ao grupo não exposto
Transversal analítico
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
Caso - Controle
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Coorte
3. Avaliar intervenções em saúde
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
Ensaio Não Randomizado – Controle Histórico
Considerações
Finais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Descrever estados de
saúde-doença Fatores prognósticos

Levantar hipóteses INVESTIGAÇÕES EM SAÚDE Determinação de riscos

Testar hipóteses Investigação etiológica

APLICAÇÃO

Disciplina Científica Ferramenta de Gestão

Finalidade de promover desenvolvimento efetivo e


equitativo da saúde
CONSIDERAÇÔES FINAIS

NO BRASIL
Avanços
▪ Robustos bancos de dados disponíveis

▪ DATASUS

▪ SB Brasil

▪ Vigilância epidemiológica em saúde bucal cada vez mais atuante

▪ Iniciativas inovadoras - PMAQ – CEO

▪ Investimento das agencias de Fomento

▪ Relevante e crescente contribuição na literatura científica nacional e


internacional em Saúde Bucal
CONSIDERAÇÔES FINAIS

NO BRASIL
DESAFIOS

▪ Núcleos de Epidemiologia no nível local


▪ Epidemiologia crítica, pensada para além de sua dimensão técnica

▪ Aproximar a ciência da sociedade e de seus problemas

▪ O grande desafio não é somente ter acesso à informação, é preciso fazer


uso da informação.

▪ Ações em saúde coletiva fundamentadas por uma epidemiologia capaz


de produzir conhecimento crítico e propositivo
CONSIDERAÇÔES FINAIS

E NOS SERVIÇOS DE SAÚDE???


▪ Buscar as respostas capazes de subsidiar, com o menor grau
de incerteza possível, as decisões sobre as ações a serem
desencadeadas para que se promova a efetivação do SUS

▪ É necessário que os serviços de saúde concebam a


epidemiologia como disciplina científica e como meio de
trabalho

BREILH , 2002; PAIM, 2003


“ ... a contribuição da Epidemiologia para efetivação de uma prática
em saúde voltada para a solidariedade, generosidade e a ética na
luta pela saúde e qualidade de vida, representando uma aposta em
um sistema de saúde que se pretende efetivo, democrático,
humanizado e equânime”

Jairnilson Paim, 2003


“Não há lugar para a neutralidade . Quando você diz que
está neutro em relação a uma situação de injustiça e de
opressão, você decidiu apoiar um status quo injusto”
- Desmond Tutu -

Obrigada!
AO TRABALHO!
Para a próxima aula (3 pontos):

Identificar três artigos nos quais a


epidemiologia tenha sido utilizada para:

⚫ Descrever condições da saúde


⚫ Identificar etiologia ou causas das
doenças
⚫ Avaliar intervenções em saúde

Grupos com até 3 pessoas. Trazer primeira


página dos artigos selecionados impressa
(título e resumo, periódico) para apresentar
para a turma.
Sobre a história da
Epidemiologia

Assista ao vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=b08N5n701IY
Principais Referências

Bonita R, Beaglehole R, Kjellstrom T. Epidemiologia básica. 2. ed. São Paulo: Santos. 2010.

Gordis L. Epidemiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Revinter. 2010.

LIMA-COSTA, M. F; BARRETO, S. M. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos


básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 12,
p. 189-201, 2003

Lilienfield, D. E; Stolley, P. D. Foundations of epidemiology: revised by David


E. Lilienfeld, Paul D. Stalley. New York: Oxford University Press; 1994

Medronho RA (org.). Epidemiologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu. 2009.

Martins, AMEBL et al. Delineamentos de estudos publicados em periódicos da área da


saúde: uma revisão de literatura. Revista Unimontes Científica. v. 15, p. 64-80, 201

•Pereira,
M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
Rouquayrol, M. Z; Filho, N. A. Epidemiologia e Saúde. 5. ed. Rio de Janeiro:
Medsi, 1999.
Alguns delineamentos para
estudos etiológicos
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
Ecológico
Epidemiologia Molecular USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA
USOS DA EPIDEMIOLOGIA NA ODONTOLOGIA

Estudo Multinível

EPIDEMIOLOGIA
SOCIAL
Estudo Multinível

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