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IMUNOLOGIA -

PRINCÍPIOS BÁSICOS

Dra. Maria Cristina Purini


06 de julho de 2006
INTRODUÇÃO
 Immunis = isento, livre;
 Século XVIII – sarampo;
 1796 - Edward Jenner - varíola - pessoas inoculadas
com o vírus desenvolviam imunidade para o sarampo.
Vírus Vaccinia em latim = vacinação;
 1881 - King´s Colege, London - Louis Pasteur, Joseph
Lister e Robert Koch - técnicas para isolamento e cultura
de bactérias em Laboratório.
INTRODUÇÃO
 1888 - Roux e Yersin - “toxina” produzida pelo bacilo da
difteria;
 1890 - Behring e Kitasato - inoculação de baixas doses
da toxina produzida pelo bacilo de tétano em ratos =
imunidade (específica), através da produção de “anti-
toxina”;
 Toxina = antígeno e Anti-toxina = anticorpo;
INTRODUÇÃO
 Soro de indivíduo imunizado + suspensão das bactérias
= aglutinação ou lise das bactérias;
 Landsteiner - misturou células vermelhas com soros de
diferentes indivíduos = aglutinação e/ou lise = Imuno-
hematologia
 1891 - Dr. Geissler, Berlim - inoculação de anti-toxina de
cavalo em criança com difteria.
LINFÓCITOS
 1931 - Wells e cols. - envolvimento fígado na
resposta imune;
 1946 - Wintrobe - linfócitos aumentam durante
infecções;
 1960 - linfócitos são um grupo heterogêneo de
células - diferenciação entre linfócitos B e T;
 Linfócitos B - fígado fetal e MO em adultos - síntese
de anticorpos = resposta humoral
LINFÓCITOS
 Linfócitos T - Timo - Imunidade celular e auxiliadoras na
imunidade humoral- células T citotóxicas e T helper ;
 2 x 10¹² linfócitos = volume de massa do cérebro e
fígado;
 Sucesso processo imunológico depende da capacidade
do organismo de reconhecer elementos “self” de “non-
self”.
IMUNIDADE INATA E ADQUIRIDA
 Imunidade Inata: -Linhas primárias de defesa
-Desenvolvimento evolutivo inicial;
- Inespecífica
- Natural – presente ao nascimento;
- Imediatamente disponível;
- Física, bioquímica, mecânica, ou combinação;
- Não altera com exposição repetida a qualquer antígeno-
específico.
IMUNIDADE INATA
 Corresponde a primeira e segunda linhas de defesa;
1) Primeira Linha de Defesa = Componentes Externos:
- Físicos: pele intacta, membranas mucosas, cílios,
reflexo da tosse.
- Bioquímicos: secreções (suor, lágrimas, saliva, muco);

ph da vagina e estômago muito baixos;


2) Segunda Linha de Defesa = Componentes Internos:
- Celular: células fagocíticas (macrófagos, monócitos,
PMN, células NK);
IMUNIDADE INATA
- Humorais/Bioquímicos:
 - Via alternativa do complemento - ativa a cascata do
complemento através de reações inespecíficas com
polissacarídeos de superfícies de microorganismos e
células tumorais;
 - Citocinas (interferons, interleucinas);

- Reação inflamatória Aguda: lesão tecidual - aumento fluxo


sg + permeabilidade capilar + afluência de células
fagocitárias.
IMUNIDADE ADQUIRIDA
 Suplementa a proteção da resposta inata
 Desenvolvimento evolutivo mais tardio – vertebrados;
 Específico: Especializada;
 Adquirida por contato com substância estranha;
 Contato com substância estranha – síntese de proteínas
de Ac especializadas – reatividade a substância
estranha em particular;
 Memória;
IMUNIDADE ADQUIRIDA
 Melhor resposta a cada contato com o patógeno;

 Lembra o agente infeccioso e pode impedí-lo de causar


doença novamente;

 É adquirida imunidade para resistir à exposição


subseqüente à mesma substância estranha.
IMUNIDADE ADQUIRIDA
 Terceira Linha de Defesa
 Celular:

- Linfócitos: - Células T: T helper e Tcitotóxica;


- Células B: - Células B de memória e plasmócitos;
- CAAs: - Macrófagos, monócitos, células dendríticas e
células B;
 Humoral: - Anticorpos, Via Clássica do Complememto
e Citocinas.
IMUNOLOGIA
 Polimorfismo = capacidade de gerar diversidade nas
supefícies celulares. Ex: Ag dos grupos sangüíneos.
 Variabilidade genética é exibida primariamente através
do Complexo de Histocompatibilidade Maior (MHC) :
- Moléculas Classe I: expressado pela maioria das células
nucleadas;
- Moléculas Classe II: expressado nas células
apresentadoras de antígenos (linfócitos B, macrófagos,
células dendríticas)
ANTICORPOS
 Mesma estrutura básica para todas moléculas de
anticorpos
 2 diferentes cadeias de polipeptídeos:

- Cadeia Leve (polipeptídeo formado por 220


aminoácidos): comum a todas moléculas de anticorpos,
podendo ser de dois tipos: kappa e lambda.
- Cadeia Pesada (polipeptídeo formado por 440
aminoácidos): podem ser de 5 tipos: mi, gama, alfa,
delta, epsilon. Determinam o tipo de classe de
imunoglobulina – IgM, IgG, IgA, IgD, IgE.
ANTICORPOS
 R.R.Porter – St. Mary´s Hospital Medical School – Ig G
digerida por papaína – 3 fragmentos de igual tamanho:
- 2 idênticos com capacidade para se ligar Ag – Fab;
- porção facilmente cristalizável – Fc

Pepsina cliva IgG de forma diferente: porções Fab


permanecem ligadas - (F(ab`)2). Restante degradado
em peptídeos pequenos.
SÍTIO DE LIGAÇÃO DO ANTÍGENO
Cadeia Pesada

Cadeia Leve

SÍTIO DE FIXAÇÃO DO COMPLEMENTO

SÍTIO PARA O RECEPTOR Fc DO MACRÓFAGO

FRAGMENTO Fc
MOLÉCULAS DE IG
IMUNOGLOBULINAS
 IgM: 1º classe de anticorpo secretado na resposta
primária. Forma secretada = pentâmero de 900.000 Mr e
10 sítios de ligação de antígenos. 10% das
imunoglobulinas do plasma. Eficiente na ligação com C1q,
ativando a Cascata do Complemento e lise celular.
 IgG: Ig predominante no plasma = monômero de 150.000
Mr – 75% das Ig séricas. 4 sub-classes: IgG1 a 4.
Diferenciam entre si pelo número de pontes dissulfídicas.
Predominante é IgG1(65 a 77%). Aloanticorpos de células
vermelhas são predominantemente IgG1 e IgG3.
IMUNOGLOBULINAS
 IgA: classe de imunoglobulinas principal nas secreções
– 15% do total de Ig no plasma;
_ 1/3 dos anticorpos anti-A e anti-B;
 IgE: < 1% do total de Ig do plasma; A porção Fc da
molécula se liga a basófilos e mastócitos. Porção Fab se
liga a um alérgeno - ligação cruzada com outra molécula
- liberação histamina (reação alérgica).
 IgD: papel na diferenciação do lifócito B.
Imunoglobulinas em banco de sangue
 IgG e IgM: mais importantes para Banco de Sangue;
 IgG: reage à temperatura corporal - destrói hemácias
transfundidas antígeno-positivas;
 Ac IgM: ocorrência natural no Sistema ABO - podem
interferir com a detecção de Ac IgG clinicamente
significantes.;
 2-mercaptoetanol ou ditiotreitol (DTT): dissociação da
forma pentamérica da molécula de IgM - remoção dos
Ac IgM e identificação Ac IgG.
SÍNTESE DE ANTICORPOS
 Estimulação antigênica;
 3 células envolvidas: linfócito B, linfócito T, CAA (célula
apresentadora de antígenos);
 1950 – Burnet – linfócitos não são produzidos por estímulo
antigênico – milhões de linfócitos pré-programados.
 1º passo: Reconhecimento Ag pela CAA – endocitose –
entregue aos endossomas (proteólise limitada) – MHC
classe II transportado pela cadeia invariante (proteína
carreadora), do Complexo de Golgi para endossomas –
ligação do peptídeo derivado Ag a molécula de MHC
classe II, formando um complexo Ag/MHC classe II.
SÍNTESE DE ANTICORPOS
 2º passo: Reconhecimento do complexo Ag/MHC classe
II pela célula T helper – outras interações como B7 na
CAA e CD28 na cél T helper – ativação celular – síntese
do receptor do fator de crescimento IL2 e aumento de
secreção da IL2 = estimula proliferação.
 3° passo: Ligação do Ag ao receptor de cél B –
complexo Ag/receptor interiorizado por endocitose – Ag
processado é apresentado junto com MHC classe II –
superfície das células – interação antígeno específica
entre cél T helper e cél B – ativação cél. B – proliferação
e secreção de anticorpos.
SÍNTESE DE ANTICORPOS
 Após estimulação algumas céls. B produzem resposta
imune primária e outras se tornam céls. B de memória.
As primeiras morrem em poucos dias e as outras
permanecem circulantes por vários anos.
FUNÇÃO DOS ANTICORPOS
 Destruição “non-self”;
 Ag se liga Ac pela porção Fab – porção Fc se liga a porção
externa da membrana – ligação dos componentes do
complemento – desencadeia Complexo de Ataque da
Membrana (MAC) – destruição celular (lise);
 Células estranhas cobertas por anticorpos –ligação da
porção Fc: - a macrófagos e neutrófilos – ingeridos e
destruídos por fagocitose;
cél. NK: lise por liberação perforina (homólogo
componente C9 do Complemento)
CASCATA DO COMPLEMENTO
FUNÇÃO DOS ANTICORPOS
 Receptor Fc da placenta: imunidade por transporte da Ig
da mãe para o feto;
 IgA: encontrada principalmente em áreas de superfície
mucosa – auxiliam proteção do muco. Deficiência de IgA:
1/500 indivíduos. Responsável por reação transfusional
anafilática grave.
 IgD: função incerta;
 IgE: ligação a receptores Fc de mastócitos e basófilos –
secreção histamina – dilatação e aumento permeabilidade
vascular – linfócitos no sítio inflamatório.
IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA
 MHC classe I: expresso na superfície da maioria das
células nucleadas;
 Molécula MHC classe I da cél. Infectada apresenta o
peptídeo derivado do Ag – reconhecido pelas céls. T
citotóxicas – ligação CD8 com domínio alfa 3 – ativação
tirosina quinase – ativa a célula T que libera perforina
destruindo a célula infectada.
 Em Imuno-hematologia o foco principal é imunidade
mediada por anticorpos.
IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA
 Transfusão – passagem de linfócitos do doador para
receptor – normalmente são reconhecidos pelo sistema
imune e destruídos. Pacientes gravemente
imunossuprimidos – não são reconhecidos - proliferam
causando GVHD.
 Transfusão de linfócitos homozitos para o Ag HLA para
pacientes heterozigotos – não são reconhecidos,
causando GVHD.
AUTOIMUNIDADE
 Sucesso do Sistema Imune: capacidade do organismo
distinguir “self” de “non-self”;

 Microorganismos cujas proteínas de superfície são


semelhantes às do hospedeiro – falha no sistema imune
– produção de anticorpos e células T citotóxicas contra
Ag “self” – Doença Autoimune.
ANTICORPOS POLICLONAIS
 Acs de grupo sanguíneo no soro – policlonais –
produzidos por vários linfócitos B que reconhecem
diferentes epítopos de um mesmo Antígeno.
 Antisoro Policlonal – imunização de animais em
laboratório por injeção células vermelhas humanas
homogeneizadas em uma solução (emulsão água e
óleo) – 1° inoculação IM ou SC 50 a 200 micro grama
Ag – 2° depois de 1 mês.
 Técnica Ac monoclonal não fez Ac policlonais obsoletos
- + fácil, + barato – preferencial certas circunstâncias.
ANTICORPOS MONOCLONAIS
 1975 – Kohler e Milstein – produção de Ac in vitro pela
cultura de células clonais produtoras de Ac (Mieloma
Múltiplo);
 Cél. B – fusão de cél. B de rato imunizado com cél. B de
linhagem tumoral – crescimento em cultura de cél.
Híbrida – hibridomas – característica de crescimento da
cél. linhagem tumoral – característica de produção de Ac
da cél. esplênica.
ANTICORPOS DE OCORRÊNCIA NATURAL

 Soro de indivíduos sem antecedentes de transfusões ou


gravidez;
 Resposta a substâncias no ambiente antigenicamente
idênticas ou semelhantes a Ag de hemácias;
 Aglutininas frias IgM - reagem à temperatura ambiente
ou abaixo dela, ativam complemento e quando ativas a
37° podem ser hemolíticas;
 Reagem com os sistemas de grupo sangüíneo ABH, Hh,
Lewis, MN e P.
ANTICORPOS IMUNES
 Soro de indivíduos expostos a Ag de hemácias por
transfusão ou gravidez;
 Não são encontrados na natureza;
 Maioria de Anticorpos sensibilizantes quentes de IgG,
reagem melhor em temperatura de 37°C e necessitam
globulina anti-humana para detecção;
 Sistemas de grupo sangüíneo Rh, Kell, Duffy, Kidd e Ss.
INTERAÇÕES ANTÍGENO/ANTICORPO

 K = constante de afinidade = (Ag Ac) / (Ag) (Ac)


 Necessário equilíbrio entre Ag e Ac livres e ligados;
 Afinidade Ag/Ac é maior Ag/Fab – IgM molécula
pentamérica proporcionando múltiplas interações com
Ag – alta afinidade funcional – avidez;
 Afinidade ligação Ac ou Fab – afetado pela composição
da solução e temperatura.

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