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ARTE, DESOBEDIÊNCIA E

ÉTICA A aventura da
pedagogia
Dennis Atkinson
ATKINSON, Dennis. Art in Education: Identity and Practice. Netherlands: Kluwer Academic Publishers,
2002.
______. Art, Equality and Learning: Pedagogies against the State. Rotterdam: Sense Publishers, 2011.
ATKINSON, Dennis. Can Schooling contribute to a more just society?. Education, Citizenship and Social
Justice. vol 3, n°. 3, p. 239- 261, November, 2008a.
______. Pedagogy against the State. JADE. Vol. 27, No. 3, 2008b.
______. Contemporary Art and Art in Education: The New, Emancipation and Truth. iJADE, Vol. 31, n°. 1,
p. 5 - 18, 2012.
p. 10-11

CAPÍTULO 1 – Introdução: A Pragmática e a Ética do Subitamente Possível


Estar dentro de uma cachoeira é uma experiência muito diferente de ficar do lado de fora e refletir sobre ela.

- Prática artística como um processo ético-estético e político que tem potencial generativo para produzir novos
modos de vir a ser e novas formas de coexistência.
- A natureza e a força da prática artística é o que chamo de desobediência: desobediência aos parâmetros
estabelecidos da prática, práticas de pensar, ver, fazer e sentir.
- A aprendizagem real é em si desobediente; tem o potencial de nos levar além do humano.
- Desobediência na arte prática e no trabalho pedagógico; necessidade de uma ética de pertinência e criatividade à
altura de tais processos desobedientes.
- “Pragmática do subitamente possível” (Susan Buck-Morss, 2013): noção de aprendizagem real como um evento
salto para um estado ontológico novo ou modificado cujos
existencial. afetos e relações produzir uma expansão do agir e do pensar
- Aprendizagem: processo caracterizado pela ideia do não-conhecido e daquilo-que-ainda-não-é.
- Spinoza: Ética - não sabemos do que um corpo é capaz ou do que uma mente é capaz de pensar. Isso sugere que a
aprendizagem envolve o humano e o não humano.
- O Trabalho pedagógico não deve se preocupar apenas com a introdução de aprendizes em corpos valiosos de
conhecimento e prática, cuja ênfase é colocada no conhecimento finito a ser aprendido; deve abranger uma
abordagem mais complexa e posição incerta de tentar entender as diferentes formas pelas quais crianças e alunos
aprendem e os resultados dessa aprendizagem, que podem não ser conhecidos (infinitos).
p. 12-13

- Buck-Morss (2010, p. 70)


Há uma cegueira para a educação institucionalizada que transmite a autoridade da tradição, uma timidez mental, nascida do
privilégio ou simplesmente da preguiça, que se disfarça no pesado bombástico da herança cultural e da preservação histórica.
Gera uma enorme resistência a transgredir os limites conceituais ou ultrapassar os limites da imaginação presente,
recompensando, em vez disso, as virtudes da diligência escolar, do profissionalismo disciplinar e da erudição elitista, todas
rotas de fuga da necessidade pragmática de enfrentar o novo. De fato, o extremo desconforto é causado pelo
verdadeiramente novo, o verdadeiramente “contemporâneo”, aquilo que Nietzsche chamou de “extemporâneo” – aqueles
aspectos do momento presente que simplesmente não se encaixam em nossas tradições estabelecidas ou modos de
compreensão.
- Cegueira inerente da educação para a intempestividade dos eventos de aprendizagem
- A ênfase atual das políticas educacionais em ciência, tecnologia e matemática reduz o tempo de engajamento com as artes
no currículo escolar.
- Enunciadores transcendentes (informam o trabalho pedagógico): metodologias, corpos de conhecimento e habilidades,
teorias de aprendizagem, modos de avaliação X encontro de aprendizagem: diz respeito à imanência do modo particular
de aprendizagem.
- Subitamente possível pode transgredir os enquadramentos e valores das forças transcendentes.

Como essa posição é possível quando o trabalho pedagógico se baseia em uma série de critérios e métodos,
evoluídos de tradições ou desenvolvimentos mais recentes, para poder responder aos processos e resultados
do trabalho dos alunos?
Relaxamento dos parâmetros e critérios que sustentam formas particulares de aprendizagem e prática, de
modo a permitir que essas formas de aprendizagem e seus resultados que podem ser marginalizados ou
ignorados sejam reconhecidos.
p. 15-16

• As práticas educacionais convencionais emergiram e são consequências diretas da economia capitalista.


• Nas últimas décadas, a ênfase tem sido quase inteiramente na prosperidade econômica e na competição.
• Pedagogia dissensual:
• Dissenso – situações em que algo é produzido em um mundo (ensino e aprendizagem) que é de alguma
forma heterogêneo aos padrões existentes
• Desobediência – eventos de prática que vão contra as estruturas e práticas estabelecidas.

• Noção de construção de uma vida, em vez de focar em um tipo particular de vida


• Maneira de pensar sobre o ensino e a aprendizagem que dá ênfase às diferentes maneiras pelas quais a
aprendizagem e seus resultados podem emergir
• As artes devem ser reconhecidas como desempenhando um papel importante nas experiências de
aprendizagem: Spinoza – a capacidade de expandir o que nossos corpos e nossas mentes são capazes

'Tenha cuidado, aqui está algo que importa’ [Whitehead]


• a subjetividade, ou subjetivação: processo de formação de um sujeito, concebida em termos relacionais, em
que o que chamamos de sujeito é visto como uma fase temporal que consiste em uma série de processos
relacionais em e de um mundo composto por uma série de intensidades, pensamentos, afetos e ações
(ATKINSON, Dennis. Education, Psychoanalysis, and Social Transformation - Art, Disobedience, and Ethics -
The Adventure of Pedagogy (2018, Palgrave Macmillan), p. 19).
• ‘Tornar-se com e de um mundo' é central para o processo de subjetivação e o processo de tornar-se é
concebido como constituído por vários registros, incluindo sentir, pensar, sintonizar ou importar, fazer, ver e
arriscar. O devir com o mundo é um devir relacional que inclui relações entre actantes humanos e não
humanos. capacidade de afetar e de ser afetado
• Essas relações recíprocas de devir precipitam o processo de ontogênese.
• A noção de sujeito humano, portanto, deve ser construída nas ideias do inumano e do mais-que-humano, ou
seja, aquilo que está além do humano como é.
• Sujeito como um devir – composição de finitude e infinitude
p. 21-23
CAPÍTULO 2 – Resgatando o Trabalho Pedagógico à Incipiência e Imanência da Aprendizagem:
Pedagogias Desobedientes
AGENDAS NEOLIBERAIS NA EDUCAÇÃO: PRIVATIZAÇÃO E MERCADO
 Necessidade de projetar um sistema educacional que alimente e sustente o crescimento econômico e a capacidade de competir
com sucesso nas economias de mercado, e um que esteja imerso em uma tradição mais humanista e comunal fundamentada na
noção de um bem público.
 Ênfase na avaliação da aprendizagem
 Mais prática nas escolas e menos teoria da universidade. As reflexões críticas sobre a pedagogia são vistas como distrações
desnecessárias da experiência real de sala de aula.
 O conhecimento que se espera que as alunas adquiram é estabelecido por estatuto e a qualidade do ensino é inspecionada de
acordo com um conjunto de padrões governamentais
 As escolas tornaram-se empregadoras independentes; competem pelos alunos, os pais tornam-se consumidores, o
financiamento escolar é orientado para as taxas de sucesso e os salários dos professores são orientados para o desempenho.
 Os princípios de negócios na educação está mudando a composição do currículo, com forte ênfase nas disciplinas STEM que
equiparão os alunos com o conhecimento e as habilidades de que precisarão no mundo do trabalho. Menos ênfase é colocada
nas humanidades e nas artes. Uma forma de segregação interna emerge onde formas particulares de conhecimento, habilidades
e aprendizagem são privilegiadas sobre outras e por implicação, onde os aprendizes com interesse em tais conhecimentos e
habilidades se tornam privilegiados.
 O impacto na gestão escolar, ensino e aprendizagem do dispositivo neoliberal de hoje é uma governamentalidade (Foucault) do
desempenho individual e escolar, o governo de modos de pensamento e ação para identidades pedagógicas específicas que
respondem aos requisitos de ambição econômica e competição.
p. 24-27

A ideia de progresso social praticamente desapareceu em meio ao discurso ideológico de um presentismo tosco
impulsionado pelo mercado que tem uma propensão para gratificação instantânea, consumo e ganho financeiro
imediato.
Se alguns modos de aprendizagem, como as artes, são marginalizados ou cortados do currículo (...), então a noção
de educação como parte do comum torna-se questionável no sentido de que a educação se torna um processo
através do qual algumas formas de construção de uma vida são privilegiadas sobre outras.
O critério-chave para um ensino eficaz e uma escola bem-sucedida é a taxa de aprovação nos exames.
O efeito é reduzir qualquer discussão sobre pedagogia às margens simplesmente porque está claro o que é um bom
ensino.
DEVOLVENDO O TRABALHO PEDAGÓGICO À INCIPIÊNCIA E A IMANÊNCIA DA APRENDIZAGEM
focar na própria experiência de aprendizagem
O trabalho pedagógico concebido como uma aventura que responde à imanência dos acontecimentos locais de
encontro.
Walter Benjamin: tradução mútua na qual a professora alcançando a forma de expressão da aluna pode mudar a
estrutura de compreensão da professora. O trabalho pedagógico nesta modalidade (menos certeiro do que a
anterior modalidade prescritiva) procura manter-se aberto à imanência das potencialidades de cada educando.
Em vez de abordar a aprendizagem e o ensino com um conjunto fixo de critérios que constituem esses processos,
defendo uma flexibilização da prescrição.
Paul Klee: 'A arte não reproduz o visível, mas torna visível’.
Como os aprendizes, por meio de seus caminhos geradores locais de eventos de aprendizagem, tornam visível e
como as professoras respondem a esse tornar visível.
Manter em suspenso a força das pedagogias prescritivas e seus critérios transcendentes e devolver o trabalho
pedagógico à incipiência e imanência da aprendizagem.
focar na própria experiência de aprendizagem
Trabalho pedagógico como a transmissão de corpos fixos de conhecimento x criar condições para que eventos de
aprendizagem sejam colocados em movimento que levem à transformação e à invenção de novos mundos.
Viver atento a essas diferentes linhas de aprendizagem, defendo, é manter em suspenso a força das pedagogias
prescritivas e seus critérios transcendentes e devolver o trabalho pedagógico à incipiência e imanência da
aprendizagem.

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