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Hosaná Dantas
Em Educação, não poderia ser diferente. Até hoje, onde quer que eu passe e
experimente “sensações pedagógicas”, fico pensando: “Como será que fulano de tal
definiria a Educação?”.
E você, que se interessou por este artigo – e, talvez, seja educador -, afinal,
como conceituaria essa coisa que nos move, diuturnamente, ideologicamente ou
não, aos recônditos mais extremados, cheios de livros nas mãos e de revoluções na
cabeça, o casaco marcado pelo pó de giz, para ensinar aqueles que devem
aprender?
Antes de qualquer coisa, vou dizer uma obviedade. Repare que o objeto final
do nosso empenho é o ser humano. Está bem, reconheço que não é lá muito
original, mas deixe-me apontar algumas coisas sobre essa obviedade. Tenho
notado atitudes, sistemas, metodologias que parecem ter sido criadas esquecendo-
se exatamente de que é o ser humano o alvo da nossa energia. O principal deles é
a tentativa sempre constante de padronização dos alunos. Padroniza-se em uma
sala, em uma série, em um escalonamento quantitativo de avaliação, em um
modelo de comportamento e de posturas... Já nessa referência de padronização,
parece-me claro o esquecimento do que é o ser humano. Uma instituição
inconstante, múltipla de formação, e de características diferenciadas, a quem não
cabe processos de pasteurização; e lá estamos nós determinando essa ou aquela
conformidade segundo critérios que julgamos certos e imperiosos. Lembro-me de
ter visto, perdidas as contas, professores sacramentando definições a um ou outro
aluno, pela simples razão daquele não atender a um determinado padrão de
comportamento atribuído como condizente ao que se espera do estudante. E
segue-se com o dito processo pedagógico, na crença irresponsável de que se está
fazendo Educação.
Quer um outro dado para refletir? Seja franco, quantas vezes já mandamos
para a Diretoria, Coordenação ou qualquer outra instituição assemelhada em
nossos espaços pedagógicos, aquele aluno quieto, que mal se mexia na carteira,
mas que só tirava boas notas? Aposto que você deve ter se perguntado “Ora, se ele
tirava boas notas, por que cargas d’água eu o mandaria para a Diretoria?”. Veja aí
se não cometemos mais erros. Não importa muito o que fazia aquele aluno ficar
quieto, não se mexer, às vezes até nem sabíamos como era o tom de sua voz, se
suas notas eram as melhores da classe. Pensamos em rótulos: alunos
“problemáticos” são aqueles que tiram notas ruins. E esses, sim, devem visitar o
Diretor para uma “conversinha”. Nunca quisemos enxergar que, mesmo aqueles
quietinhos, também precisavam da tal “conversinha” – precisávamos saber o que
se passava com eles, o que os angustiava, porque ficavam assim... Puxemos na
memória. Lembra-se de que aqueles alunos, normalmente, eram os mais tristes de
toda a classe? Ora, se estivéssemos preocupados com o processo de humanização
embutido no viés pedagógico, decerto eles seriam também alvo de nossa
preocupação. Mas não, posso até parecer injusto, mas duvido muito de que naquele
momento estávamos preocupados com a idéia de que lidamos com seres humanos.
Acho que estávamos mais interessados em nos livrar de um problema, ou melhor,
em não acrescentar mais problemas à nossa já imensa lista do que fazer.
Não sei se você já viu isso nas suas andanças, mas existem professores que
punem moralmente os alunos que não se coadunam com suas propostas de
trabalho. Sabe aquela coisa de humilhar o aluno, ou de criar situações de
constrangimento, muito comuns nos primórdios da Educação? Pois é, ainda existem
hoje em dia, e talvez sejam até mais freqüentes do que imaginamos. Decerto,
esses mesmos professores responderiam à sua hipotética enquete que estão
fazendo de tudo para “formar pessoas melhores, alunos mais conscientes”.
A idéia é que criemos uma consciência dos nossos limites. E, sobretudo, que
aprendamos a conceituar o nosso trabalho. Por que princípios eu vou caminhar?
Quais são as bases que constituem o meu método? Quando se estabelecem
algumas diretrizes que fundamentam aquilo que se está fazendo, no mínimo há
uma consciência profissional responsável que fornecerá respaldo ao que se
pretende.