Marc Chagall – The Poet Reclining (le poète allongé) – 1915
[O Poeta]
O poeta conhece os chamamentos que as coisas lançam às palavras,
vê os laços subtis que as coisas estendem entre si, ouve as vozes secretas que as palavras, separadas por distâncias incomensuráveis, lançam umas às outras. Faz dar a mão a vocábulos inimigos desde o princípio do mundo, agrupa-os e obriga-os a marchar no seu rebanho, por mais rebeldes que sejam, descobre as alusões mais misteriosas da palavra e condensa-as num plano superior […]. Aí adquire esse tremor ardente da palavra interna, que abre o cérebro do leitor e lhe dá asas e o transporta a um plano superior […]. O poeta dá-vos a mão para vos conduzir para lá do último horizonte, acima do vértice da pirâmide, nesse campo que se estende para lá do verdadeiro e do falso, para lá da vida e da morte, para lá do espaço e do tempo, para lá da razão e da fantasia, para lá do espírito e da matéria. Aí plantou a árvore dos seus olhos e daí contempla o mundo, daí vos fala e vos desvenda os segredos do mundo.
Vicenre Huidobro, Poesia números 30-32, Ministério da Cultura, Madrid, 1989,
in Antologia, 10º, Ana Garrido, Cristina Duarte, Fátima Rodrigues, Fernanda Afonso, Lúcia Lemos, Lisboa Editora
SER POETA
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim… É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca, Charneca em Flor, 1930
Luís Represas canta “Ser poeta” de Florbela Espanca –