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A GAZETA – Vitória (ES) – 3ª Feira, 29 de julho de 1969 (Publicação)

O CHAMADO DO MAR
Paulo Lima Trindade

Um domingo de praia, lá em casa, é um problema muito sério.

Que coisa!... Os meninos pulam cedo da cama. São eles os primeiros a movimentar a

cozinha, iniciar os preparativos do café, apanhar o pão na panificadora próxima, retirar o carro da

garagem, verificar a gasolina, o nível de óleo, etc... etc...

Uma parada! Nunca vi tanta presteza, tanto trabalho sincronizado! Naquele ritmo, levando-

se em conta o inconteste fator de engrandecimento que é o trabalho, ficariam ricos em dois tempos!

E com que alegria, arranjam-se eles naqueles trabalhos caseiros, muitos deles de arrepiar o paletó!...

Ah! Que magnifica lição para esses ociosos que andam por aí, numa miséria que faz gosto,

simplesmente porque ainda não aprenderam a trabalhar com afinco, em proveito próprio como

fazem aqueles meninos lá de casa, em determinado dia da semana...

Uma festa de arrumação, de providências, de iniciativas! Bóia, calções, barraca de praia,

nada esquecido! Iscas, samburá, caniços e até dinheiro trocado para “pamonhas” quando,

evidentemente, a praia escolhida é Setiba ou Guarapari. Coisa tremenda!...

A alegria deles, naqueles minutos que antecedem a partida, é deveras contagiante e chega a

atingir aos corações bobos dos pais. E acabamos indo na onda!...

Em meio àquele lufa-lufa, arrumei um tempo e fiquei de lado, matutando no fenômeno:

chequei à conclusão que aquela motivação toda que emala a alegria dos meninos, àquela hora da

manhã, é simplesmente o mar – a sua benfazeja atração que exerce sobre todas as criaturas –

principalmente as crianças.

Depois, quando eles estiverem rapazes verão que outras atrações existem na Natureza, tão

arrebatadoras quanto o mar, ou talvez maiores, mais palpáveis, mais particulares, mais

PRESENTES na vida de cada um.

Por enquanto é o mar. Amanhã, quem sabe, uma linda mulher, de tez morena ou olhos azuis

de conta com a mesma beleza azul daquelas aguas remansas, há de tomar de assalto um lugar de
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destaque nos seus corações!...

Então aí, adeus mar, como motivação número um! A não ser conciliando ambos, na

fulgurância de um amor entrelaçado, tendo como palco aquelas águas ternas e dolentes que o mar

manda à praia, num embalo de inspiração e de carícias!

Uma cajadada, dois coelhos!

FIM

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