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A R SOLITRIA

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

E ra uma vez uma r que vivia num charco. Vivia


sozinha. O charco tambm era pequeno. Sentia a falta de outras rs, para lhe fazerem companhia e coaxarem ao despique nas noites de Lua cheia. Sentia que, se outras rs vivessem com ela, podia nadar de bruos com mais folgana, velocidade, estilo Sentia que os saltos que dava para dentro de gua, falta de espectadores, nem jeito nem graa tinham. Enfim, a r deste pequeno charco sentia-se muito s. Desamparada. Infeliz. Perguntem, se fazem favor, porque que a r se no mudava para charco mais amplo e povoado? Porque temia que to perto no houvesse outro. Ora, como devem saber, as rs detestam perder tempo a saltar em seco. A gua faz-lhes falta. Sem ela, perdem o luzidio da pele e a fora de vida. No sabiam?
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Um dia, comeou a chover que nunca mais parava. Dia e noite. Noite e dia. Os campos ficaram alagados. Os rios sobraram do leito. Pequenos charcos, afastados uns dos outros, juntaram-se num enorme lago. Foi uma inundao terrvel. Veio nos jornais e a televiso deu notcia. Casas de que s o telhado se via. Animais afogados. Gente a ser salva em barcaas por bombeiros. Uma desgraa. Mas como esta histria pertence r, esta histria tem um fim feliz. A r, passada a tempestade, encontrou companhia. Dezenas de rs coaxam agora, em coro, glorificando a chuva, a abundncia das guas, o abrao do lago imenso que as juntou. Aqui entre ns e em segredo vos peo que nunca contem esta histria a pessoas que tenham sofrido os efeitos trgicos de uma inundao. No iam gostar.

FIM

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