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A GARÇA VELHA

Certa garça nascera, crescera e sempre vivera à margem duma lagoa de águas turvas, muito rica em peixes. Mas o tempo
corria e ela envelhecia. Seus músculos cada vez mais emperrados, os olhos cansados – com que dificuldade ela pescava!
– Estou mal de sorte e, se não topo com um viveiro de peixes em águas bem límpidas, certamente que morrerei de fome.
Já se foi o tempo feliz em que meus olhos penetrantes zombavam do turvo desta lagoa…
E de pé num pé só, o longo bico pendurado, pôs-se a matutar naquilo até que lhe ocorreu uma ideia.
– Caranguejo, venha cá! – disse ela a um caranguejo que tomava sol à porta do seu buraco.
– Às ordens. Que deseja?
– Avisar a você duma coisa muito séria. A nossa lagoa está condenada. O dono das terras anda a convidar os vizinhos
para assistirem ao seu esvaziamento e o ajudarem a apanhar a peixaria toda. Veja que desgraça! Não vai escapar nem um
miserável guaru.
O caranguejo arrepiou-se com a má notícia. Entrou na água e foi contá-la aos peixes.
Grande rebuliço. Graúdos e pequeninos, todos começaram a pererecar às tontas, sem saberem como agir. E vieram para a
beira d’água.
– Senhora dona do bico longo, dê-nos um conselho, por favor, que nos livre da grande calamidade.
– Um conselho?
E a matreira fingiu refletir. Depois respondeu:
– Só vejo um caminho. É mudarem-se todos para o poço da Pedra Branca.
– Mudar-se como, se não há ligação entre a lagoa e o poço?
– Isso é o de menos. Cá estou eu para resolver a dificuldade. Transporto a peixaria inteira no meu bico.
Não havendo outro remédio, aceitaram os peixes aquele alvitre – e a garça os mudou a todos para o tal poço, que era um
tanque de pedra, pequenininho, de águas sempre límpidas e onde ela sossegadamente poderia pescá-los até o fim da vida.
Ninguém acredite em conselho de inimigo.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Lafonte, 2019

1. O 1.º parágrafo traz informações sobre um dos personagens. Quais as características do lugar onde ela vivia?
UMA LAGOA DE ÁGUAS TURVAS, CHEIA DE PEIXES.

2. Como era a vida desse personagem naquele local? DEDUZ-SE QUE A VIDA ERA TRANQUILA, POIS HAVIA
ALIMENTO EM ABUNDÂNCIA E NÃO SE FALA EM PREDADORES.

3. Que elemento complicador causou uma mudança naquela rotina? O TEMPO FOI PASSANDO E, A GARÇA
ENVELHECENDO. COM ISSO, JÁ NÃO PESCAVA COM FACILIDADE, POIS SEUS MÚSCULOS
ENDURECIAM E ELA JÁ NÃO ENXERGAVA BEM.

4. Qual o sentido de “águas turvas”? Por que se tornaram um obstáculo para a garça, com o passar do tempo? AS
ÁGUAS ESCURAS, BARRENTAS, TORNARAM-SE UM PROBLEMA PARA A GARÇA PORQUE SEUS OLHOS
JÁ NÃO ERAM MAIS OS MESMOS.

5. Que sentimento o personagem expressa na fala “Já se foi o tempo feliz em que meus olhos penetrantes zombavam
do turvo desta lagoa…” SAUDADE, NOSTALGIA, TRISTEZA.

6. Releia: “E de pé num pé só, o longo bico pendurado, pôs-se a matutar naquilo até que lhe ocorreu uma ideia.”
a) Qual o sentido de MATUTAR? PENSAR, REFLETIR

b) Volte ao texto e identifique a que se refere a palavra NAQUILO. NO PENSAMENTO DE MORRER DE FOME.
7. Em “– Caranguejo, venha cá! – disse ela a um caranguejo que tomava sol à porta do SEU buraco.”, a quem se
refere a palavra em negrito? REFERE-SE AO CARANGUEJO.

8. Releia: “O dono das terras anda a convidar os vizinhos para assistirem ao seu esvaziamento e o ajudarem a
apanhar a peixaria toda. Veja que desgraça! Não vai escapar nem um miserável guaru.”
a) A que se refere o termo SEU? REFERE-SE À LAGOA.

b) Que efeito de sentido tem o uso do termo PEIXARIA? INDICAR UMA BOA QUANTIDADE DE PEIXES.

c) Que animal você imagina ser um guaru? Em que você se baseou para responder? PARTINDO DA IDEIA DE
QUE O HABITAT É UMA LAGOA E DE QUE SEUS HABITANTES SÃO PEIXES, CHEGA-SE À
CONCLUSÃO DE QUE GUARU É UM PEIXE.
9. Que objetivo tinha a garça com seu plano? CONSEGUIR COMIDA FÁCIL PARA SEMPRE.

10. Qual foi a consequência da notícia para os habitantes da lagoa? UM ENORME ALVOROÇO, UMA GRANDE
AGITAÇÃO.

11. O autor do texto, para evitar a repetição da palavra garça, referiu-se a ela com palavras diferentes. Quais? Que
outras você sugere? As substituições são ela, matreira, senhora do bico longo. Professor(a), podemos pensar em ave,
animal, pernalta etc.

12. Em “Não havendo outro remédio, aceitaram os peixes AQUELE ALVITRE”, que expressão pode substituir a que
está em destaque?
( ) aquele sossego ( ) aquele conselho ( ) aquele alimento ( ) aquele alvoroço

13. Explique, com suas palavras, a moral da história. RESPOSTA PESSOAL.

14. Agora complete com a estrutura da fábula.

a) SITUAÇÃO INICIAL: UMA GARÇA VIVIA FELIZ À BEIRA DE UMA LAGOA CHEIA DE PEIXES.

b) CONFLITO: MAS ELE ENVELHECEU E JÁ NÃO CONSEGUIA PESCAR COMO ANTES.

c) CLÍMAX: A GARÇA INVENTA QUE A LAGOA SERÁ ESVAZIADA E SUGERE LEVAR OS PEIXES, NO BICO,
PARA UM POÇO.

d) DESFECHO: OS PEIXES ACEITAM A OFERTA DA GARÇA E SÃO LEVADOS PARA O LUGAR ONDE
SERVIRÃO DE ALIMENTO PARA A GARÇA.

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