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GABARITO: 1ª ATIVIDADE PROCESSUAL DE LÍNGUA PORTUGUESA

7º ano do Ensino Fundamental


Professoras: Ana Carolina Carneiro e Danielle Pessoa

Nome: _________________________________________________ Nº: _____ Turma:_____ Data: ____/03/2024

Valor: 10 pontos Desempenho:

TEXTO I (Questões de 1 a 7)

O FIM DE TUDO
LUIZ VILELA

Saíam de madrugada, a cidade ainda dormindo, e voltavam já de noitinha. Ele e mais dois companheiros.
Vinham de bicicleta, às vezes, até a pé; conversando e brincando eles nem sentiam a distância. Nesse tempo a estrada
ainda era de chão e tinha pouco movimento. Havia muitas matas por perto e sempre apareciam coisas: veados,
macacos, gatos do mato, cobras, coelhos, perdizes, codornas, tucanos. Era difícil a vez que não viam alguma coisa. E
tudo os divertia feito loucos.
O rio ficava logo atrás de uma grande mata de eucaliptos. Caminhando por entre os troncos, pisando o capim
macio, sentiam o cheiro bom de eucalipto, e escutavam os passarinhos cantando nas folhagens. Pouco antes da mata
havia uma vendinha e duas casas de moradores. A vendinha continuava ali e parecia não ter sido retocada nem uma
só vez naqueles dez anos: era a mesma daquele tempo, apenas mais velha e estragada. Mas as casas eram agora
muitas, quase uma pequena vila. E da mata restara somente umas poucas árvores.
A margem do rio era de uma areia branquinha. Sentavam-se nela para comer o lanche; se estava muito quente
iam para a sombra fresca de um eucalipto. O engraçado é que na sua memória as águas do rio estavam sempre verdes
e límpidas. Mas não era assim: na época das chuvas elas sujavam e ficavam quase vermelhas. De qualquer modo
nunca as tinha visto como agora, com aquela cor amarelada e fosca, uma cor pestilenta. Quando chegou e viu o rio
assim teve um sentimento de espanto e revolta: o que tinham feito dele! Mas não era só o rio: e a areia? E todos
aqueles eucaliptos?
E os peixes? Onde estavam os peixes? Há duas horas que se achava ali, ao sol, e só tinha pegado um pobre
lambari, que certamente se extraviara. Naquele tempo enchiam os embornais: eram piaus à vontade, bagres, mandis,
às vezes tubaranas, e até mesmo dourados. Nos dias piores o menos que pegavam era dúzias de lambaris. Que havia
feito de toda aquela riqueza?
Só lembrava de uma vez que não tinham pegado nada: é que havia chovido muito na véspera e o rio estava
cheio. Mas nem por isso deixaram de se divertir. Sentados na areia – era um dia de sol encoberto – ficaram bebendo
e contando piadas. Depois arrancaram as hastes de uma touceira de capim e brincaram de jogar flechas, gritando feito
índios e ao correrem acabavam caindo e rolando na areia – naquele mesmo lugar onde havia agora aquela areia rala
e suja, com cacos de vidro, latas, papel, tocos de cigarro.
Nada mais restava do que era bom naquele tempo. Nem mesmo o barulho das águas do rio, que pareciam ter
silenciado diante do som rouco e resfolegante da fábrica, cujas chaminés apareciam no horizonte como canhões
apontando para o céu. Sentia revolta e pena; pena da natureza, pena do rio e das árvores, dos peixes e dos pássaros.
De uma próxima vez que voltasse ali certamente não encontraria mais nenhuma árvore, nenhum peixe, nenhum
pássaro, nenhuma areia, e aquele rio teria se transformado talvez em simples condutor de detritos.
Tirou o anzol da água. Nem uma puxada. Não havia peixe ali, era inútil insistir. Poria uma nova isca e tentaria
pela última vez; se dentro de quinze minutos não aparecesse nada ele pegaria suas coisas e iria embora. E nunca mais
voltaria.
Ao virar-se para colocar a isca viu um homem que chegava. Era um velho, de chapéu e roupa simples.
— Pegou muita coisa? – perguntou o velho
— Nada.
— Nada?
— Só um lambari.
— Essa época não é boa.
— É a melhor do ano.
— É? Eu não entendo muito de pesca – disse o velho.
Ele acabou de colocar a isca e voltou para a margem. O velho foi também; ficou em silêncio, olhando para
onde a linha desaparecia, esperando que de repente ela fosse puxada e corresse e a vara envergasse. Mas isso não
aconteceu.
Ele tirou de novo o anzol e olhou a isca: a minhoca mexia, viva ainda, sem ter sido tocada:
— Nada? – perguntou o velho.
Ele abanou a cabeça:
— Nada. Não existe mais peixe aqui.
— Talvez se o senhor tentasse mais para baixo.
— Já tentei; está tudo a mesma coisa.
O velho se agachara olhando para o rio.
— De vez em quando aparece um pescador aqui – ele contou.
— Eles pegam alguma coisa?
— Pouco. Acho que aqui não é muito bom para pescar.
— Já foi. Já peguei muito peixe aqui.
— É? – o velho olhava admirado para ele; — eu não sou daqui – explicou; – estou aqui há pouco tempo.
— O senhor trabalha na fábrica?
— Não. Meu filho é dono de um mercadinho na cidade. Eu faço umas coisinhas. Na minha idade a gente já
não pode fazer muita coisa.
— O senhor não gosta de pescar?
— Eu pescava quando era menino. Parece que naquele tempo tinha mais lugar para pescar.
— Eles estão acabando com tudo.
— O senhor acha que aqui é por causa da fábrica?
Ele ergueu os ombros.
— Sabe? – o velho contou: — quando eles começaram a funcionar a gente via muito peixe morto na margem
do rio; alguns desse tamanho. A gente tinha até tentação de comer, mas era perigoso porque os peixes morriam
envenenados. A fábrica despeja um óleo no rio que é igual veneno, não sei se o senhor sabia. Quem me explicou foi
um sujeito que esteve aqui. Sei que a gente via muito peixe morto. Mas isso foi no começo, agora a gente não vê mais.
— Porque não tem mais peixe.
— Será?
As chaminés da fábrica começaram a soltar rolos de fumaça.
— Os fornos estão funcionando – explicou o velho.
Rolos cada vez mais grossos e negros subiam com força ao céu e iam se espalhando de forma lenta e sombria,
como nuvens de morte. Um apito agudo irrompeu, varando o ar como um punhal.
— Adeus, vida – ele disse.
Puxou o anzol da água, tirou a isca, e foi enrolando a linha na vara.
— O senhor já vai? – perguntou o velho, meio espantado; — talvez mais tarde melhore.
— Não vai melhorar: nem mais tarde nem nunca mais.
Foi até uma pedra que havia na margem e retirou o viveiro da água: dentro, sozinho, um pequeno lambari
saltava. Enfiou a mão e pegou-o; sentiu o contato frio do peixe com sua mão, aquela sensação que conhecia desde a
infância e de que talvez um dia se recordasse como de algo que não existia mais.
Levou a mão atrás e atirou com toda a força o peixe no meio do rio:
— Vai embora, vai para bem longe, para onde ainda não chegou a loucura do homem.
O velho já estava de pé e o observava com curiosidade.
Ele acabou de arranjar as coisas.
— Tenho um cafezinho lá em casa – disse o velho; — o senhor não quer ir lá tomar? É aqui perto.
— Não obrigado, eu preciso ir.
— O senhor daria muito prazer a mim e à minha mulher.
— Fica para outra vez – ele disse.
Mas não haveria outra vez, pois ele nunca mais voltaria ali.
Pendurou o embornal no ombro, pegou a vara, o viveiro, e despediu-se do velho.
— Talvez nas chuvas os peixes apareçam – disse o velho.
— É – disse ele.
VILELA, Luiz. O fim de tudo. Belo Horizonte: Liberdade, 1973.

QUESTÃO 1 (1,0)
O conto lido tem como tema central uma crítica

A) ao desenvolvimento das cidades, mostrada pela poluição do rio e pelo personagem que observa as mudanças
ocorridas na natureza.
B) às indústrias poluentes, relatada por meio da história de um pescador que não consegue mais achar lugar para
pescar devido à poluição que se encontra nos rios.
C) aos diferentes modos de vida, mostrada pelo ponto de vista de dois personagens diferentes, um mais velho, que
vive no interior, e um mais novo, que vive na cidade.
D) ao progresso, representada pela história de um personagem que volta ao lugar que costumava frequentar quando
criança, mas percebe que as coisas não são mais como antes.

QUESTÃO 2 (1,0)
Com base na análise atenta do texto lido, assinale a alternativa incorreta.

A) O uso de determinadas palavras e expressões é uma importante estratégia responsável por caracterizar o presente
da narrativa como hostil e ameaçador.
B) O narrador contesta uma memória do personagem, evidenciando o caráter subjetivo dessa lembrança como o
resultado de uma idealização do passado.
C) Ao contrapor passado e presente, a narrativa atribui ao velho pescador a tarefa de transformar a situação,
indicando um ponto de vista otimista sobre o futuro.
D) A cena final, em que o protagonista liberta o único peixe que pegou, é um gesto simbólico de despedida e
resignação diante da perda irreparável da natureza.
QUESTÃO 3 (1,0)
Marque a alternativa em que NÃO há presença de subjetividade.

A) “Vinham de bicicleta, às vezes, até a pé; conversando e brincando eles nem sentiam a distância”.
B) “Havia muitas matas por perto e sempre apareciam coisas: veados, macacos, gatos do mato, cobras, coelhos,
perdizes, codornas, tucanos.”
C) “Caminhando por entre os troncos, pisando o capim macio, sentiam o cheiro bom de eucalipto, e escutavam os
passarinhos cantando nas folhagens.”
D) “Sentia revolta e pena; pena da natureza, pena do rio e das árvores, dos peixes e dos pássaros.”

QUESTÃO 4 (1,0)
Releia o trecho abaixo.

Saíam de madrugada, a cidade ainda dormindo, e voltavam já de noitinha.


Caminhando por entre os troncos, pisando o capim macio, sentiam o cheiro bom de eucalipto, e
escutavam os passarinhos cantando nas folhagens. [...] Sentavam-se nela para comer o lanche; se
estava muito quente iam para a sombra fresca de um eucalipto.

Sobre essas frases, é correto afirmar que

A) a conjugação dos verbos indica que quem pratica as ações narradas é somente um homem.
B) os verbos das frases indicam que os personagens só foram até o rio uma única vez.
C) os termos “de madrugada”, “de noitinha” e “nas folhagens” são advérbios que indicam modo.
D) “macio”, “bom” e “fresca” têm a função de modificar os substantivos aos quais se referem.

QUESTÃO 5 (2,0)

Releia o trecho abaixo.

E os peixes? Onde estavam os peixes? Há duas horas que se achava ali, ao sol, e só tinha pegado um pobre
lambari, que certamente se extraviara.

Explicite a função gramatical desempenhada pela palavra destacada e explique como ela contribui para o sentido
transmitido no trecho relido.

No contexto fornecido, "pobre" está sendo usado para qualificar o lambari, atribuindo-lhe uma qualidade de
insignificância ou de inferioridade. Isso contribui para enfatizar a decepção do protagonista em relação à
escassez de peixes que ele conseguiu pegar. Ao descrever o lambari como "pobre", o autor realça a
frustração do protagonista com o resultado insatisfatório de sua atividade de pesca, ressaltando a falta de
sucesso em capturar peixes significativos ou em quantidade suficiente, em contraste com suas experiências
anteriores mais positivas.

QUESTÃO 6 (4,0)
Analise a tirinha.

TEXTO II
a) Explique a quebra de expectativa responsável pela crítica textual. (2,0)

A quebra de expectativa decorrente da crítica textual é evidenciada no terceiro quadrinho. Nos dois
primeiros quadrinhos, os garotos expressam suas visões otimistas sobre o futuro, aludindo a um mundo
repleto de avanços tecnológicos. Contudo, essa expectativa é abruptamente subvertida no último
quadrinho, no qual se revela um futuro sombrio e altamente poluído, contrariando as projeções
anteriores.

b) Compare as perspectivas de futuro expressas pelos personagens no conto (Texto I) e na tirinha (Texto II). (2,0)

Na comparação entre os dois textos, observa-se uma clara diferença nas expectativas dos personagens em
relação ao futuro. No texto 1, as expectativas são predominantemente negativas e realistas, refletindo um
cenário sombrio no qual a natureza encontra-se devastada. Esta visão pessimista sugere uma percepção
da humanidade sobre as consequências de suas ações irresponsáveis em relação ao meio ambiente.
Por outro lado, no texto 2, as expectativas são marcadamente positivas e, em certa medida, fantasiosas,
centradas em um futuro repleto de avanços tecnológicos. Os personagens idealizam uma sociedade
impulsionada por tecnologias de ponta que dominam o cotidiano. Essa perspectiva utópica evidencia uma
fuga da realidade e uma crença excessiva no poder redentor da tecnologia para resolver os problemas
sociais e ambientais.

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