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CRONOLOGIA BRAGANTINA

- Um Capítulo na História da Amazônia -

Introdução
(Autor)

O Município é a célula máter da organização nacional.


Todo e qualquer esforço para o conhecimento e soerguimento do Brasil deve visar
o Município, tanto sob o ponto de vista social, como na sua administração e economia, no seu
estudo geográfico e na sua história, dinamizando o meio e o homem.
Além desse círculo administrativo para o qual deve convergir todo o interesse
público não devemos esquecer, no entanto, os círculos econômicos que, grupando essas
células, se estendam até onde possam chegar as mesmas necessidades sociais em função da
unidade geo–política.
A identidade de interesses cria as regiões geo-econômicas, que devem ser como
engrenagens da máquina política nacional.
Aliás, vemos que isto vai se desenhando atualmente no cenário brasileiro, como a
melhor solução para os problemas de base.
Surgiram os Planos de Valorização do Vale do Rio Doce, do São Francisco, do
Amazonas, e hão de vir os do Paraná-Paraguai, e Uruguai, e cremos que eles nos levarão,
dentro de sua diversidade antropo-geográfica, a uma verdadeira política de união nacional.
A Amazônia ressalta, iniludivelmente, como unidade geo-econômica digna do
melhor estudo e contínuo amparo.
Pela extensão de seus limites, pelo aumento da população, pela potencialidade de
seus recursos naturais ela há de surgir, em cores vivas, no mapa do Brasil.
Realmente chegou a hora da Amazônia, mas de todos se exige uma parcela de
esforço, um pouco mais de atividade.
Passamos do período das fábulas e das lendas ao da realidade. E assim temos,
hoje, de planejar para construir a grandeza da Amazônia sobre bases reais e duradouras. E
nada melhor do que o conhecimento integral do vale, especialmente de sua história para ditar
os rumos que devemos seguir.
Urge, pois, a confecção de uma História da Amazônia, agora que estamos no
limiar de nova era desta portentosa região. Obra que não será fácil executar, quando os seus
elementos estão ainda esparsos e mal conhecidos. Como tarefa precípua seria talvez mais
aconselhável levantar esses elementos em cada um de seus Municípios, para depois reuni-los,
num conjunto harmônico, como num retrato fiel do cenário histórico.
Faça-se, pois, antes de mais nada, a História dos Municípios ou monografias das
zonas econômicas.
Levados por estas considerações e movidos por este patriótico intento, pensamos
escrever a História do Município de Bragança.
Como a História da Amazônia, a História de Bragança ainda não foi escrita.
Quanto a esta, tudo está esparso, sem seriação metódica, sem narração exata,
sem comprovação fiel e séria. O que há, quando muito, é uma revelação dispersa, dentro do
estudo da História do Pará, sem nexo de correlação dos fatos, uns com os outros, sem nos
darem o conhecimento pleno do conjunto da História Municipal. Falta-lhe unidade, que só a
sistematização lhe pode dar.
Assim, com o objetivo de organizarmos a história do Município de Bragança,
chegamos à confecção de uma CRONOLOGIA BRAGANTINA - Um capítulo da História da
Amazônia.
Apesar das dificuldades em que nos encontramos de realizarmos investigação e
pesquisas mais profundas nos arquivos públicos e particulares registramos com critério e
exatidão tudo o que pudesse interessar à vida municipal.
Narramos os fatos conforme nos pareceram mais consentâneos com a verdade
histórica.
Para melhor comprovar as datas e a narração são registradas rigorosamente ao
final as fontes compulsadas. Estas, mesmo não se apresentando completas, ao nosso ver,
foram contudo aproveitadas, corrigidas e classificadas, dentro do nosso objetivo principal.
Algumas vezes à falta de melhores informações registramos o fato puro e simplesmente, sem
comentário. Uma ligeira referência ou citação encontrada aqui ou alhures sobre a História de
Bragança não deixamos nunca de aproveitar, na ânsia de reconstituir os fatos, servindo o
registro para investigações mais completas.
Damos início ao nosso estudo com o 22 de Abril de 1500 por nos parecer que a
história bragantina pode, como fizemos, relacionar-se com a data do descobrimento do Brasil,
estendendo-o até 31 de Dezembro de 1954, ano em que se comemora o bi-centenário da
Fundação da nova-Vila de Bragança e o Centenário de sua elevação à categoria de cidade.
Como parte integrante desta CRONOLOGIA publicamos vários documentos,
alguns absolutamente inéditos, outros raramente divulgados; procuramos com isto apresentar
um Documentário próprio, como fonte para melhores e mais sábias interpretações.
As fotogravuras ou são autênticas ou resultam de nossos estudos, as quais
publicamos sob inteira responsabilidade.
Os índices que organizamos servirão ao melhor controle da CRONOLOGIA,
facilitando sobremodo qualquer consulta sendo um roteiro seguro para o seu manuseio.
Ai está, pois, o nosso trabalho. É apenas um Ensaio que deverá ser
constantemente revisto, corrigido e aumentado, mesmo porque em CRONOLOGIA sempre há
fatos a registrar e rever.
A natureza do estudo e as vantagens deste primeiro ensaio servirão de base para
o planejamento da História do Município de Bragança.
Cremos que estamos lançando a pedra angular de um edifício majestoso!
Bolívar Bordallo da Silva
Belém, 07 de Setembro de 1955

Notas Explicativas

Ao encontrar os originais deste livro uns 3 anos atrás, compreendi que ali se
encontrava o produto de anos de dedicação e pesquisa históricas de Bolívar Bordallo da Silva,
meu tio.
Primeiramente digitei o livro, para ter um registro mais moderno e seguro dos
originais. Tarefa não muito fácil. Parte do livro, estava datilografada e parte manuscrita.
Algumas notas estavam soltas no meio das páginas e, nós usamos a data da página onde se
encontrava a nota. Ao conferir os índices, descobrimos que algumas datas e nomes faltavam
na cronologia. O critério que usamos nesse caso, foi o de adotar o que estava indicado no
texto. Por isso, peço desculpas se algum erro tiver sido causado pelas nossas correções.
Assim como lamento profundamente não ter encontrado as fotos que ele menciona no índice
dos clichês, nem os croquis feitos por Bolívar da antiga cidade de Bragança. Isso infelizmente
se perdeu. Foram muitas noites de trabalho árduo, mas que valeram a pena, pelo prazer de se
ter uma obra como esta trazida à vida.
O trabalho de Bolívar é muito mais que uma cronologia, é um indicador
bibliográfico para aqueles que desejam pesquisar e aprofundar seus conhecimentos sobre a
história de Bragança. Cada fato é seguida pela indicação bibliográfica e documental.
Pouquíssimos dados estão como informação oral. Bolívar não apenas registra, mas, comenta,
acrescenta novos fatos ligados ao principal e dá informações extras de toda natureza, como no
caso da cidade do Urumajó, em que ele apresenta a origem popular e a origem
“lingüisticamente provável” desse nome.
Eu gostaria apenas de acrescentar algo sobre a construção da igreja de São
Miguel no Urumajó. Um dos responsáveis pela construção, meu bisavô, Miguel Cardoso de
Athayde, fazendeiro e comerciante da região, dono da casa onde hoje funciona a prefeitura -
segundo minha mãe, Marilda, neta de Miguel – recebeu este nome em homenagem a Dom
Miguel de Portugal, porque seu pai era um dos portugueses miguelistas que se instalaram em
Bragança, quando da briga entre Dom Miguel e Dom Pedro I pela sucessão do trono
português. Daí ele ter doado a imagem de São Miguel para que fosse o padroeiro da igreja por
eles construída. Eu não sei se há algum registro desse fato, imagino que não. E para que essa
informação não se perca – das pessoas que poderiam saber disso, minha mãe é uma das
poucas que ainda está viva - estou repassando a razão histórica do padroeiro da igreja do
Urumajó.
Bolívar, mais que um historiador, foi uma testemunha dos fatos de sua época. Ele
revela o espírito do seu tempo nos registros escolhidos, e em suas notas apaixonadas,
principalmente quando ele fala do Grêmio Estudantil Bragantino. Eu diria mesmo que há um
certo ar de “crônica social”, pois nos faz reviver o nacionalismo, a preocupação com a cultura,
com a alfabetização, com a saúde, com o comércio e o progresso que motivaram os jovens
estudantes dos anos 20 e 30. Ele reflete a ânsia de ver sua querida cidade mais próspera, mas
saudável, mais culta: tema de uma geração.
Hoje, depois de ter lido este livro confesso que começo a compreender melhor a
paixão que eles sentiam por Bragança, que já foi uma cidade muito “rica”. Rica de pessoas com
uma visão, eu diria, futurista, que pensavam grande, que queriam muito para sua cidade e seu
povo. Não foi sem razão que, do final do século XIX ao início do século XX, Bragança possuía
centenas de jornais. Foi quando chegou a estrada de ferro Belém-Bragança e eles sonhavam
um dia vê-la estendida até o Maranhão, através de Vizeu.
Eu gostaria de poder estar contribuindo de alguma forma, ao trabalhar pela edição
do livro de Bolívar, para que os bragantinos de hoje, possam conhecer um pouco mais da
Bragança de ontem e mirando-se nos esforços de “gente tão valorosa”, possam tentar retomar
o espírito de luta e de esperança nessa “futurosa região paraense” e fazer de Bragança não
mais um sonho de jovens do início do século, mas de hoje e de todos aqueles que ali vivem.
Bragança tem uma história, tem uma cultura que precisa e deve ser mais
estudada, pesquisada, valorizada para que aquele sonho passado possa então, tornar-se uma
realidade presente.
Belém, 22 de Junho de 2000
Mariana Bordallo

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