Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
:
: ...'.:t;;i;,,:',, li 1: ,i,Íïìijiiì
ir ii
1,,.,1:l:'., :t
EM FOCO
CESARELATTESI:O FíSICOEM
DA EDUCAÇAO
uM CURSODE HISTORIA
Maria CristinaMenezes
no Brasil.Nestetrabalhopercebemosque, mesmocom b l i c o u t r a b a l h o s l, i v r o se u m a g r a m á t i c ad a l í n g u a
a instalaçãode cursosde Medicinae Engenhariano t u o i . P a r t ed e s e u s e s c r i t o se d e s e u m a t e r i asl o b r e
país,a Íormaçãopor eles proporcionada era maisvol- a A m a z ô n i ae n c o n t r a - s en o M u s e u N a c i o n a l .U m a
tada parao proÍissional,
sem que houvesseincentivoà outra partenauÍragoucom ele.
pesquisa,denominadapeloautorde "desinteressada" O primeirofísicobrasileiromodernoveio a ser Go-
parti-
, e quandoela se dá, vai ser maispor iniciativas mes de Sousa,que trabalhoucom a propagaçãodo
cularesdo que por programas institucionais.
O traba- som, na Escolade Engenhariado Rio, no Íinaldo sé-
lho de pesquisadores isolados,devotadosprofessores culo passado.Os trabalhosde Gomesde Sousaforam
das escolassuperiores, que lecionavam matériasem levadosadiantepor Otto de Alencar,dedicadomais à
cursos de Íormaçãoprofissionalpara engenheiros, MatemáticaAplicada.Apesarde ter participadodo cír-
médicos,etc., e que dedicavamà investigação parti- culo positivista, Otto apontouerrosna obra de Augusto
cularo poucotempoque lhes restava,vai marcartodo Comte,tendoconseguido combatê-los de maneiraefi-
"depois
o primeiroquarteldo séculoXX. ciente.Naspalavrasdo proÍessorCésarLattes,
dele, AmorosoCostacontinuou,e acabaramcom essa
Costa Ribeiro por César Lattes históriade positivismo, e aídeslanchoua pesquisaem
Física.lsso,na Politécnica do Rio".
"AugustoComte
De muitaimportânciaÍoi a presençado ÍísicoCésar AindaSegundoo ProfessorLattes,
Lattes,convidadopor mim a um bate papo com os escreveuum bom livrode Matemática, e depoismuita
alunos.Conformese nota no textode CostaRibeiro, bobagem,inclusivecoisa erradade matemática,ele
o proÍessorCésar Lattesdestaca-sepela atuaçãoci- inÍluencioutantoos militarescomo o pessoal da Es-
entíficatanto no Brasilcomo no exterior.Quandode cola de Engenhariado Rio, era difícil de progredira
nossoprimeiroencontro,em sua casa na CidadeUni- Ciência". Segundoo professorLattes,o positivismo
versitária,em Campinas,eu haviacomentadocom o e r a q u a s eu m a r e l i g i ã o .
proÍessorCésar como o texto de Costa Ribeirohavia OutraÍiguraque CésarLattesconsiderade desta-
sido elucidativoao narraro percursoda Físicaentre q u e é H e n r i q u eM o r i z e q, u e i m p l e m e n t obuo n sl a b o -
nós. De fato,ao aceitaro meu convite,parao encon- ratóriosde Físicae de Química.Para Lattes,antes
tro com os alunos,César Latteso fez com o livrode disso era tudo conversa,tudo teoria,como disseaos
"vocêspodemnão concordar,mas o que vale
Fernandode Azevedosob o braço. alunos:
O ProfessorLattescomeçousua exposiçãoescla- é a experimentação, a parte empírica.O que ela es-
recendoque Físicaem gregosigniÍicaNaturezae que, tabelece,se Íor aceito,permanece.Pode-semelho-
até o Íinaldo séculopassado,a Físicaera chamada rar a precisão,mas o resultadoexperimentalperma-
de FilosoÍiaNatural.Contou-nosque,quandoda che- nece. A teoria,sempreapareceuma melhor".O pro-
gada da Armadade Cabralno Brasil,o Íísicode bordo ÍessorLattesconsideraque o brasileiro, não sabeele
identiÍicou os índioscomograndesconhecedores das se pela herançapequeno-burguesa, de ter emprega-
ciênciasÍísicas,ao notar que eles se utilizavamdas dos, não gostade trabalharcom as mãos.Assim,para
leis da inércia,pois, remandono mar, sabiamque, ele, ainda hoje há uma certa tendênciaem se traba-
soltandoo remo,o barcocontinuarianavegandoe que lhar mais com a teoriado que com a experiência.
se polissemo casco do barco,diminuiriamo atrito.
EssasinÍormaçõespodemser encontradasnas Car- De narrador a personagem
tas de Anchieta,das quais o proÍessorCésarparece
conhecedor. Maisde uma vez durantesua palestra,o A entradado ProÍessorLattesna históriada Íísica
professorLattesconclamouos estudantesa estuda- brasileiraestádiretamente relacionada à organização
"a e Letras da Uni-
rem a Históriada Ciência,uma vez que para ele da Faculdadede FilosoÍa,Ciências
c i ê n c i am a i s i m p o r t a n t eé a H i s t ó r i a : s e m e l a n ã o versidade de São Paulo, e de seu recém-criado curso
existiriaa realidadeobjetiva". de Físicaonde César Lattes,em 1943, com apenas
Dando continuidadeà históriada Físicano Bra- 19 anos,obtémsua graduação.
s i l , n a r r o u - n o so p r o Í e s s o rq u e d e p o i sd o p r í n c i p e TeodoroRamos,organizadorinicialda Faculdade
Nassauq , u e d u r a n t ea i n v a s ã oh o l a n d e s ac o n s t r u i u de FilosoÍia,Ciênciase Letras da USP, trouxe um
um jardim zoológico,um hortoe um observatórioonde grupo de pesquisadores para iniciaras pesquisasem
se p ô d e observar um eclipse, Bartolomeude F í s i c a e M a t e m á t i c an o B r a s i l , e n t r e e l e s G l e b
G u s m ã o , o s é c u l oX V l l l , Í o i c o n s i d e r a doo p r i m e i r o
n Wataghine GiuseppeOcchialini.Estesgrandesmes-
f í s i c od o B r a s i l .A p ó s N a s s a ue G u s m ã o ,o g r a n d e tres organizaramno Departamento de Físicao primeiro
e s t a d i s t ae c i e n t i s t aJ o s é B o n i Í á c i od e A n d r a d ae grupode pesquisadores, compostode jovenstalentos
Silvadestacou-secomo descobridordo lítio,sobres- nacionais,que deu inícioaos estudosexperimentais
s a i n d o - s ec o m o m i n e r a l o g i s t aO. u t r af i g u r ad e d e s - e teóricos em RadiaçãoCósmicae FísicaNuclear.
taqueque se apresentoucomograndeantropólogoe Entre esses jovens talentos encontrava-seCésar
que Íoi encarregadopelo Governoda Antropologiae Lattes,que iria colocaro Brasilno mapa da Física.
da Etnologiada AmazôniaÍoi GonçalvesDias,conhe- Segundoo próprioLattes,os jovens promissores
c i d o e n t r en ó s a p e n a sc o m o g r a n d ep o e t a .E l e p u - eram logoenviadosparaa Europa.Foi assimque,logo
após a SegundaGuerraMundial,em 1946,ele embar- sas de Latim,Grego, FilosoÍiae Retórica.
cou no porãode um cargueiroparaa Universidade de A ReÍormade Pombalno Brasil,ao instituiras aulas
Bristol,na Inglaterra, para se juntar ao Íísico italiano de disciplinasisoladas,sem um planoorganizadode
GiuseppePaoloStanilaoOcchialinie ao Íísicoinglês estudos,pulverizouo ensinosecundárioe interrom-
Cecil FrankPowell.A participaçãode LattesÍoi básica peu o desenvolvimento do ensinosuperior,que vinha
para que se encontrasse, no interiordo núcleoatômi- se organizando. Os mestresagoraestavamdispersos,
co, a partículaque depoisseriachamadade Méson-pi, distantesda organizaçãocolegial.Enquantoem Por-
a mesmaoue levouPowella recebero Nobelem 1950. tugala universidade Íoi modernizada e Pombalfundou
Com toda essa história,narradado textode Costa o R e a l C o l é g i od o s N o b r e s ,p a r a d a r a o s f i l h o sd e
Ribeiro e por César Lattes,com os seus preciosos nobresumaalternativapara o serviçodo EstadoÍora
l o s a l u n o su m a p r i m e i r a
c o m e n t á r i o sÍ,o i p o s s í v e a das carreiraseclesiásticae judiciária,o mesmo não
entradano entendimento desse longoe tortuosoper- se deu no Brasil.Aquios estudoscontinuaram predo-
curso da Físicano Brasile, mais ainda,da dificulda- minantemente literários,e emborasemelhantesnos
de do desenvolvimento da pesquisa,dita desinteres- fins e nos métodos,inÍerioresao níveldo ensinomi-
sada, entre nós. nistradoquernos colégiosdos jesuítas,quer em casa,
Para Costa Ribeiroo desenvolvimento da pesqui- c o m p r o f e s s o r e sp a r t i c u l a r e sc, o m u m n a s Í a m í l i a s
sa, no campodas CiênciasFísicas,só ocorrerácom , u a i n d a n a s A u l a s R é g i a s ,q u e e r a m
a b a s t a d a so
"muitopoucoÍrequentadas" ( Azevedo,1996,p.544).
a criaçãoda Faculdadede Ciências,já no interiordo
ensinopropriamente universitário, cujatardiainstitui- O s e s t u d o ss e c u n d á r i o sm i n i s t r a d o sn a s a u l a s
ção no Brasilé responsávelpelo atrasocom que se régiasreduziam-sea um punhadode aulas de latim,
iniciaramem nossopaísos trabalhosde investigação retórica,Íilosofia,geometria,Írancêse comércio,es-
cientíÍica.E importanteressaltara relevânciado regi- palhadaspelolmpério.Em 1834,é sugerido,em rela-
me de trabalhoem tempointegral,para investigado- tório do Ministério,que se reunissemem um mesmo
res e proÍessores,estabelecido no Departamento de local os CursosAvulsosSecundários,de Íorma que
Físicada Faculdadede FilosoÍia, Ciências e Letras da pudessemser dirigidose fiscalizados. Sem que isso
USP,em 1934,e, bem maistarde, estendido a alguns implicasseem um sistemaseriadode ensino,apenas
professoresda Universidade do Brasil,no Rio de Ja- se reuniamas aulas para Íacilitara fiscalização.A
neiro.Primeiramente, já nos anos 40, Íoi concedidoa preocupaçãocom a seriaçãosó se dará em 1838,
Carlos Chagas Filho, ampliando-se aos demaisdocen- quandoda Íundaçãodo ColégioPedro ll. Este, que
tes apenasnos anos 50. seria consideradocomo padrãode ensinoa ser se-
Dianteda tentativade compreensãodesse longo guido na Cortee nas Províncias,iria ainda enfatizar
percursohistórico,permanecea interrogação: porque os ensinosliteráriosem detrimentodos científicos.
tanta demorapara a entradadas Ciênciasditasnatu-
rais entre nós? Qual a razáode tão longa persistên- ócio e Educação
cia do ensinohumanista,de cunho literário?
Ora, em um país de estruturasociale econômica
O prevalecimento do arcaico dominadapor grandesprodutoresrurais,sustentados
pela exploraçãode mão de obra escrava,com uma
As indagaçõesremetem-nosa 1759, quandoos camadasocialmédia incipiente,e onde os trabalha-
jesuítassão expulsosde Portugale de suas colôni- dores livreseram quase inexistentes, certamenteos
as pelosditamesda ReformaPombalinaque cria,no estudosliteráriose jurídicosseriam valorizados,em
Brasil,as Aulas Régiasque, diÍerentemente do orga- detrimentodo ensinode Ciências ou Técnico.AÍinal,
n i z a d oe n s i n oj e s u í t i c o m
, o s t r a m - s ei s o l a d a s s, e m esse era o tipo de ensinoadequadoàs camadasoci-
articulaçãodos conteúdose métodos,como aulas osas ou em buscade ascensãovia proÍissõesliberais.
avulsasministradaspor proÍessoresavulsos. Na Colônia,os que viviam de rendas,o que repre-
Se em Portugala expulsãodos jesuítasera parte sentavaum padrão idealde vida,sobretudo,repudia-
de uma propostade reestruturação nacional,o mes- vam o trabalhoprodutivo,considerando-o socialmen-
m o n ã o s e d e u n o B r a s i l , o n d e s e a s s i s t i ua o te degradante. A consideraçãosocialera obtidaatra-
desmantelamento do sistemade ensinoexistente.Não vés do trajarapurado,que demonstravaabastança,e
"nobres",como o sacer-
havia uma proposta social modernizadora para a o desempenho de atividades
Colônia;as instituições arcaicasque a caracterizavam, dócio, a administraçãopúblicae as profissõeslibe-
como a escravidão, o latifúndio, o patriarcalismo, aten- rais (Araújo,1993).
diam ainda aos interesses metropolitanos, e continu- O quadroacima,resultadoinevitáveldo latiÍÚndioe
arão existindo por mais de um século. da escravidão, cria uma visão do trabalho como
Com a expulsãoda Companhiade Jesuse a cria- desonroso,acabandopor destruiras possibilidades de
ção das Aulas Régiaspelo Estado,que nomeavaos desenvolvimento social,que se Íundanaturalmentena
proÍessoresdiretamentee os pagavacom um novo atividadeprodutivae em umaÍormaçãoa ela articulada.
imposto,denominadode subsídioliterário,o ensino Não Íoi por acaso que os estudosjurídicospredo-
secundáriopassaa ser constituído dessasaulasavul- minaramparaalém do períodorepublicano. A maioria
';l'jl:lir.:ii:jr.i::'
:i::::: ,.'.,.::::iiiii:,::,ii",,,'1.:1
::liiii:, ,'".'i:i.:j::
,liiii
iiliiii