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FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA CIENCIAS E LETRAS-FAFI

A BIOENGENHARIA DA UTILIZAÇÃO CONSCIENTE DO SOLO COMO

RECEPTOR DE RESÍDUOS

Com ênfase na engenharia de construção e locação de cemitérios

UNIÃO DA VITÓRIA
2006

1
SILMARA TEREZINHA PIRES CORDEIRO

A BIOENGENHARIA DA UTILIZAÇÃO CONSCIENTE DO SOLO COMO

RECEPTOR DE RESÍDUOS

Com ênfase na engenharia de construção e locação de cemitérios

Monografia apresentada para obtenção de Pós Graduação


em Nível de especialização em Bioengenharia na
Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de
União da Vitória .
Orientador: Prof. Ms. Marinez Tagliari

UNIÃO DA VITÓRIA
2006

2
Dedico este trabalho a meus familiares
por sua compreensão e apoio.

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me permitiu concretizar essa tarefa;

Ao Prof. Ms. Marinez Tagliari, pela contribuição com seus conhecimentos e

sugestões na orientação deste trabalho.

A Doutoranda Elma Romanó, ao Dr. Pacheco e ao Dr. Emerson Carneiro Camargo

pela sua amizade e colaboração com informações que auxiliaram na

concretização deste estudo.

À todos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta

pesquisa.

4
Seiscentos e sessenta e seis

“A vida é uns deveres que nós


trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê , já são 6 horas:
há tempo... Quando se vê, já é
Sexta –feira... Quando se vê,
passaram sessenta anos...
Agora, é tarde demais para ser
reprovado... E se me dessem –
um dia – uma outra
oportunidade, eu nem olhava o
relógio seguia sempre, sempre
em frente... E iria jogando pelo
caminho a casca dourada e inútil
das horas.”
Mario Quintana (1906-
1994),poeta brasileiro

5
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO.............................................................................................. 07

2. OBJETIVOS ................................................................................................ 09

3. JUSTIFICATIVA........................................................................................... 10

4. LOCALIZAÇÃO , LIMITES E ACESSO....................................................... 12

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 13

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO DE UNIÃO DA VITÓRIA........... 13

5.1.1.1 Geologia.............................................................................................. 13
5.1.2 Hidrografia............................................................................................... 15
5.1.3 Hidrogeologia........................................................................................... 19
5.1.4 Relevo .................................................................................................... 20
5.1.5 Solos....................................................................................................... 21
5.1.6 Mineralogia dos Solos........................................................................... 23
5.1.7 Clima........................................................................................................ 25

5.2 LEGISLAÇÃO ATUAL E NORMAS.......................................................... 26

6. POSSÍVEIS IMPACTOS ESPERADOS....................................................... 29

6.1 Contaminação por necrochorume....................................................... 31

6.1.2 Agentes Microbiológicos......................................................................... 33

7. PROBLEMAS RELACIONADOS COM SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE


COMPÕEM AS URNAS FUNERÁRIAS E COM OS MÉTODOS DE
CONSERVAÇÃO DE CADÁVERES............................................................... 37

8 VULENRÁBILIDADE DOS AQÜÍFEROS.................................................... 38

9 CONCLUSÕES.......................................................................................... 41

10 RECOMENDAÇÕES................................................................................. 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 45

ANEXOS.................................................................................................... 50

6
1 INTRODUÇÃO

A palavra cemitério do grego Koimetérion “dormitório”, do latim coemeteriu,

designava a principio, o lugar onde onde se dorme, quarto, dormitório. Sob a

influencia do cristalino, o termo tomou o sentido de campo de descanso após a

morte considera-se como “cidade dos pés juntos” e “última morada”. ( BOLIVAR,

2001)

Para o mesmo autor os cemitérios humanos são monumentos à memória

daqueles que morreram e que os vivos fazem questão de perpetuar.

Conseqüentemente, ao longo do tempo, este tipo de construção adquiriu a

condição de inviolabilidade no que tange à pesquisa científica nos seus diferentes

aspectos. Entretanto, sociólogos, antropólogos, folcloristas e outros têm dado

excelentes contribuições para um melhor conhecimento dos hábitos costumes e

práticas funerárias.

Depois de morto, o corpo humano se transforma. Passa a ser um

ecossistema de populações formado por artrópodes, bactérias, microorganismos

patogênicos e destruidores de matéria orgânica e outros, podendo pôr em risco o

meio ambiente e a saúde pública. Sendo cemitério repositórios de cadáveres e

laboratórios de decomposição, apresentam riscos que exigem cuidados técnicos e

científicos na sua implantação e operação.

Este trabalho tem por objetivo propor elementos que auxiliem na

adequação dos cemitérios já implantados às normas existentes no Estado do

Paraná, e na engenharia de construção de novos cemitérios. Segundo a

resolução 19/04 editado pelo Secretario de Estado de Meio Ambiente e Recursos

7
Hídricos, Luiz Eduardo Cheida, (ANEXO 1) que considera o potencial e efetiva

degradação ambiental provocada pela instalação e manutenção de cemitérios e a

necessidade da adoção de uma política Ambiental que vise à proteção do solo,

subsolo, recursos hídricos superficiais e subterrâneos, e a proteção da saúde

pública e a qualidade de vida da população.

Para atingir tal objetivo foi efetuado um estudo da região de União da

Vitória, com relação ao Cemitério Municipal, que se encontra localizado na região

central do município, em terreno com pouco desnível, tais dados levantados serão

comparados com os dados a serem levantados no Cemitério Municipal de São

Cristóvão localizado em área de risco, situado em solo sujeito a inundação, em

terreno com acentuado declive.

MATOS, 2001 afirma que aos estudos sobre cemitérios e meio ambiente

são incipientes, e que a WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO (1998) se

mostrou preocupada com o impacto que os cemitérios poderiam causar ao meio

ambiente, através do aumento da concentração de substâncias orgânicas e

inorgânicas nas águas subterrâneas e a eventual presença de microorganismos

patogênicos, e enfatizou a necessidade de mais pesquisa a respeito do assunto.

Cemitério, segundo a resolução 19/04 do SEMA (Secretaria Estadual de

Meio Ambiente) é a definição de uma área destinada a sepultamentos. Define

ainda, sepultar ou inumar como o ato de colocar pessoa falecida, membros

amputados e restos mortais em local adequado. PACHECO1 citado por ROMANÓ,

em 2003 considera os cemitérios como nada mais sendo do que depósito de

corpos humanos, que necessitam de uma destinação correta, pois a degradação

dos mesmos pode se constituir em focos de contaminação. A decomposição dos

1
PACHECO, A. et al. O problema geo-ambiental da localização de cemitérios em meio urbano.
CEPAS, nov.1997.

8
corpos depende das características físicas do solo onde o cemitério está

implantado.

ROMANÓ, 2003 efetuou um estudo no Cemitério Municipal de Santa

Cândida, comparando os dados com os do Cemitério do Boqueirão ambos

localizados na cidade de Curitiba – PR, estudos como este contribuem para a

adequação dos municípios a atual legislação no que tange a implantação e

conservação de cemitérios.

Atualmente em União da Vitória, existem aproximadamente 15 cemitérios

municipais, sendo este número apenas estimado, encontram-se em distritos,

muitos dentro de propriedades particulares em área rural, situados em locais onde

não foram efetuados estudos do meio físico, configurando, portanto áreas de risco

ambiental, localizados em diversas condições topográficas e geológica. Sendo

esse o motivo pelo qual o presente estudo contempla a caracterização do meio

físico, de maneira a permitir a criação de normas ambientais que regularizem a

locação de cemitérios no Município de União da Vitória, bem como de reduzir os

riscos de contaminação dos cemitérios já implantados.

2 OBJETIVOS

O objetivo geral do presente trabalho será a caracterização do meio físico

do da região de União da Vitória onde se encontram inseridos os dois cemitérios

citados anteriormente.

Podem-se identificar os seguintes objetivos específicos a serem

alcançados:

9
a) Levantamento da bibliografia existente sobre o assunto e assuntos

correlacionados;

b) Levantamento da Geologia, Hidrografia, Hidrogeologia, Relevo, Solos,

Mineralogia dos Solos e do Clima no Município de União da Vitória; Citaremos

ainda as Normas e Legislação Estadual e Nacional.

3 JUSTIFICATIVA

Autores como PACHECO2, SILVA3 e MATOS4 citados por ROMANÓ em

2003 descreveram a poluição causada por cemitérios e a preocupação ambiental

com os mesmos, afirmando ainda que na época não havia uma normatização

específica para esta atividade, o que poderia causar diversos problemas

relacionados ao acompanhamento ambiental das áreas onde os mesmos estão

implantados.

Apesar da resolução 19/04 da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do

Paraná (SEMA), constituir um avanço em termos de legislação ambiental no que

tange sobre a implantação e conservação de cemitérios, os municípios

apresentam dificuldades para se adequarem a referida norma, o que ocorre

principalmente em virtude da escassez de estudos sobre cemitérios e meio

ambiente, e pelo alto custo de recuperação e descontaminação dos aqüíferos

subterrâneos comprometidos pelos cemitérios já existentes.

2
idem
3
SILVA, M. Cemitérios: fonte potencial de contaminação dos aqüíferos livres. Revista
Saneamento Ambiental, São Paulo, n. 71, 2000,
4
MATOS, B. A Avaliação da ocorrência e do transporte de microorganismos no aqüífero
Freático do Cemitério de Vila Nova Cachoerinha, município de São Paulo. São Paulo, 2001.
Tese (Doutorado) – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo.

10
Denotando a importância do estudo integrado do meio físico no município de

União da Vitória para estabelecimento de medidas que possam ser utilizados para

adequação dos cemitérios existentes e locação de novos que possam vir a ser

implantados. (FIG. 1 )

Fig. 01 Localização Geográfica do Município de União da Vitória

Fonte: SEC-CORPRERI 2005

11
Fig. 02 Rota de União da Vitória – Curitiba via Br 476

Fonte: SEC-CORPRERI, 2005

4 LOCALIZAÇÃO, LIMITES E ACESSO

O Município de União da Vitória está localizado no extremo sul do estado do

Paraná e pertence à Microrregião do Médio Iguaçú, limita-se ao norte com os

municípios de Mallet, Paula Freitas e Paulo Frontin; a oeste Bituruna e Porto

Vitória, fazendo divisa com a cidade de Porto União no Estado de Santa Catarina.

(FIG. 2)

Sua extensão territorial é de 786 Km². “E as Coordenadas Geográficas são

as seguintes: Latitude sul: 26° 13’ 45” ; Longitude oeste: 51° 04’ 58”, e seu fuso

horário apresenta três horas de atraso em relação ao meridiano de Greenwich

(HORT 1990)

12
OLIVEIRA (2003), afirma que União da Vitória encontra-se situado

geomorfológicamente na área de transição entre o segundo e o terceiro Planalto

paranaense, e citando o levantamento da MINEROPAR (1991), evidencia que o

Segundo Planalto é formado pelos depósitos sedimentares, enquanto que o

Terceiro Planalto é constituído pelos derrames de Trapp basálticos que formaram-

se durante a Era Mesozóica.

5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com o objetivo de melhor expor as proposições do presente trabalho e as


metas a atingir, a revisão bibliográfica foi subdividida em diversos aspectos
especificados a seguir:

5.1 CARACTERIZAÇÕES DO MEIO FÍSICO NA REGIÃO DE UNIÃO DA


VITÓRIA

5.1.1 Geologia

13
Fig. 03 Mapa Geológico do Estado do Paraná

Fonte: Mineropar , 2005


Esta o município de União da Vitória em área de transição entre o

Segundo e o Terceiro Planalto paranaense, sua origem geológica segundo HORT

(1990), (FIG.3) ocorre quando a Escarpa Mesozóica, constituída de argila e

arenito, foi coberta por espessas camadas de lavas básicas que atingem em

certos trechos do Estado do Paraná até 1.200 metros de espessura, sendo que

em União da Vitória começa, à margem direita do Rio Iguaçu (BR 476 sentido

Curitiba – União da Vitória via Ponte Domício Escaramella) a Serra da Esperança

ou Escarpa Mesozóica, que separa o segundo do terceiro planalto paranaense, a

mesma caracteriza-se por ser íngreme na vertente oriental e suavemente

inclinada para o poente, permanecendo emersa ao lençol de lavas basálticas

derramadas durante a Era Mesozóica, sobre o extenso deserto de Godwana que

cobriu o sul do Brasil. A partir da Era Quaternária, as mudanças climáticas

favoreceram a interperização do basalto, originando solos argilosos vermelhos,

14
comuns nos planaltos do município. Pode-se encontrar rochas magmáticas

(basalto), e sedimentares, areias e argilas metamórficas, quartzos, quartzitos e

saibro, nesta Era ocorrem ainda a formação de várzea nos vales do Rio Iguaçu e

seus afluentes, resultantes de aluviões recentes que tiveram início nesse período,

mas se estendem até a atualidade.

5.1.2 Hidrografia

Fig. 04 Bacia Hidrográfica do Rio Iguaçu

15
Fonte: Copel, 2005

O litoral do Paraná tem 98Km de extensão. Na linha da costa paranaense,

destacam-se a bacia hidrográfica do Atlântico, abrangendo o Rio Ribeirinha, a

Bacia de Antonina, o Rio Nhundiaquara, a Bacia de Guaratuba e a Baía de

Paranaguá. Sendo está última, com 300Km2 de área, é uma das mais importantes

do Sul do brasil. As principais bacias hidrográficas do estado são formadas pelos

rios Tibagi, Paranapaneme, Piquiri, Ivaí, Paraná e Iguaçu. (FIG.4)

O Estado do Paraná possui 45% do Volume de águas subterrâneas do

país. Boa parte da população, cerca de 80% das sedes municipais, é abastecida

pelos dez aqüífero localizados no estado: o Embasamento Cristalino, Cárstico,

Furnas, Itararé, Rio Bonito, Botucatu (Aqüífero Guarani), Serra Geral, Caiuá,

Guabirotuba e Costeiro. O maior deles, o Guarani, ocupa 80% do potencial

hidrogeológico paranaense. (ANA, 2002)

Em relação a hidrografia, União da Vitória está inserida na Bacia

Hidrográfica do Rio Iguaçu, este de grande porte e de curso conseqüente, capaz

de conduzir grandes feições ao relevo. Entretanto seus afluentes são

subseqüentes, e ainda, o sistema hidrológico é composto de micro-bacias, como a

do Rio d’ Areia, Rio Pintado e córrego do Lajeadinho. (MAAK,1981)

16
O principal rio é o Iguaçú, (FIG. 5) cujas nascentes se encontram na Serra

do mar, adiante de Curitiba, no município de Campina Grande do Sul.

Fig.05. Localização do Rio Iguaçu em União da Vitória

Dentro do município de União da Vitória, os afluentes do Rio Iguaçú são a

margem direita o Rio Palmital, da Prata, dos Banhados, Correntes, Guabiroba,

Vermelho e do Soldado, a margem esquerda o Rio Jacu e os córregos da Areia,

Lageado, da Cachoeira, Barra Grande e Lageadinho. (HORT, 1990)

Na região de União da Vitória o Cemitério Municipal de São Cristóvão,

localiza-se em área de risco situado em solo sujeito a inundação, em terreno com

acentuado declive, pois neste município ocorrem cheias do Rio Iguaçu

17
periodicamente conforme FIG. 6 e em níveis superiores a 5 metros de acordo com

a tabela 01.

Fig. 06 Vista aérea de União da Vitória durante a enchente de 1983

Fonte: Sec-Corpreri, 2005

Histórico p/ níveis acima de 5m em União da Vitória/PR


RÉGUA NÍVEL VAZÃO RÉGUA NÍVEL VAZÃO
ANO MÊS ANO MÊS
(m) (m) (m3/s) (m) (m) (m3/s)
1891 06 9,20 748,81 3940 1973 08 5,71 745,32 1761
1905 05 9,03 748,64 3867 1975 12 5,62 745,23 1711
1911 09 8,39 748,00 3593 1976 06 5,03 744,64 1419
1931 06 5,10 744,71 1453 1979 05 5,33 744,94 1565
1932 04 5,84 745,45 1833 1980 12 5,75 745,36 1782

18
1935 10 8,16 747,77 3267 1981 01 5,79 745,40 1804
1938 07 6,82 746,43 2383 1982 11 6,45 746,06 2161
1939 12 5,63 745,24 1717 1983 07 10,42 750,03 4979
1946 03 6,73 746,34 2334 1984 08 5,94 745,55 1850
1947 10 5,74 745,35 1777 1987 05 6,28 745,89 2078
1948 08 5,08 744,69 1443 1988 05 5,56 745,17 1678
1950 10 5,42 745,03 1610 1989 09 5,78 745,39 1801
1953 11 5,30 744,91 1550 1990 01 6,33 745,94 2108
1954 05 6,85 746,46 2403 1992 07 8,89 748,50 3808
1955 06 6,12 745,73 1985 1993 10 7,27 746,88 2658
1957 08 7,28 746,89 2675 1995 01 6,76 746,37 2349
1961 11 5,75 745,36 1783 1996 07 5,19 744,80 1495
1965 07 5,14 744,75 1472 1997 10 6,66 746,27 2297
1970 12 5,32 744,93 1560 1998 10 7,20 746,81 2614
1971 01 6,89 746,50 2429 1999 07 5,70 745,31 1748
1972 08 5,84 745,45 1833 2000 09 6,49 746,10 2174
2004 10 5,13 744,81 1470
2005 09

Tab. 1 Histórico dos níveis acima de 5 metros do Rio Iguaçu em União da Vitória
Fonte: Copel, 2005

5.1.3 Hidrogeologia
O Estado do Paraná apresenta uma característica peculiar quanto ao seu

sistema hidrográfico, pois se divide em duas bacias principais de desaguamento,

sendo um direcionado para o litoral e outro, para o interior, este último

pertencendo ao sistema do rio Paraná (MAACK, 1981).

OLIVEIRA (2003), ressalta que através da ação dos ventos sobre o deserto

de Gondwana, os grãos de areia, chocaram-se entre si, arredondando-se, mais

19
tarde o areal que formava as dunas do deserto, foi sepultado pela lava , num dos

grandes eventos geológicos ocorridos na história do planeta, com o resfriamento

da lava os grãos de areia sob o peso da lápide se agregaram transformando-se

em arenito, dando origem a um dos maiores aqüíferos do mundo, geologicamente

denominado Aqüífero Botucatu, conhecido popularmente como Aqüífero Guarani.

O aqüífero é um enorme reservatório de águas subterrâneas de área

estimada de 1,3 milhões de Km², que se estende pelo Brasil (840.000 km²),

Argentina (355.000 km²), Uruguai (58.500 km²) e Paraguai (58.500 km²). A área de

afloramento na bacia é de 150.000 km², superfície por onde infiltra a água que

alimenta o manancial. Cerca de 90% estão recobertos por espessos derrames de

lavas basalticas, o que lhe oferece características típicas de um aqüífero regional

confirmado. O Município de União da Vitória com seus afloramentos de arenito

encontra-se na área de recarga deste aqüífero.

Segundo dados da MINEROPAR (1991), a espessura máxima do arenito

Botucatu no município de União da Vitória é de 130 m, desgastando-se para cerca

de 60m ao Norte e ao Sul do município. Ocorrendo basalmente arenitos

grosseiros e comglomeráticos com aproximadamente 5 m de espessura.

5.1.4 Relevo

20
Fig. 07 Vista aérea de União da Vitória demonstrando seu relevo.

Fonte: Sec-Corpreri, 2005.

Segundo MENDES (1968), o Planalto basáltico, grande estrutura cujos

limites orientais correspondem à Serra Geral (São Paulo, Paraná, Santa Catarina,

e Rio Grande do Sul), nessa região muitas vezes a erosão isola na frente da

escarpa porções de arenito capeadas por basalto (ou porções somente de arenito

ou somente de basalto) conhecidas como testemunhos; quando de pequeno

volume, tendem para a forma cônica com o ápice truncado. (FIG.7)

HORT (1990) descreve o relevo do município de União da Vitória, como

sendo bastante acidentadas sendo as formas mais comuns os morros e acuestas

como a Escarpa Mesozóica. A região do mesmo situada à margem esquerda do

Rio Iguaçú (Br 476 sentido Curitiba-União da Vitória via Ponte dos Arcos),

apresenta formação condizente com o terceiro Planalto paranaense, pertencendo

ao Trapp de Santa Catarina, onde se encontram os morros de Bela Vista e Boca

21
de Leão que são ramificações da Serra da Fartura, divisor de águas Iguaçú-

Uruguai. Pequena parcela do Município situada na parte leste da Escarpa

Mesozóica faz parte do segundo planalto paranaense, apresentando topografia

menos acidentada.

Ainda segundo HORT (1990) as planícies e várzeas de origem dentrítica,

nos vales dos rios Iguaçú, Vermelho, da Prata e dos Banhados, são formações

recentes, delimitados por morros testemunhos, como o morro do Cristo e o morro

do Baú.

5.1.5 Solos

O solo tem um papel muito importante na retenção dos microrganismos, através

de fatores físicos e químicos ambientais, que afetam a infiltração e o carreamento

dos microrganismos em direção ao lençol freático. A implantação dos cemitérios,

sem levar em consideração os critérios geológicos (características litológicas e

estrutura do terreno) e hidrogeológicos (nível do lençol freático), constitui uma

das causas de deteriorização da qualidade das águas subterrâneas, pois

substâncias e microrganismos provenientes de composição de cadáveres podem

ter acesso às mesmas, representando um risco do ponto de vista sanitário e

higiênico. (MARTINS et al, 1991)

GUERRA et al. (1999), afirma que o fator mais diretamente afetado pela

ação humana de caráter irracional seja o solo por ela ocupado, e destaca a

importância do estudo e mapeamento dos solos como subsídio aos projetos de

planejamento ambiental, ressaltando que no Brasil os levantamentos pedológicos

são em sua grande maioria a nível exploratório, como os do Projeto

RADAMBRASIL, e de reconhecimento, como os executados pela EMBRAPA,

22
contudo os benéficos gerados por eles não correspondem as necessidades

atuais e futuras em termos de planejamento ambiental.

Segundo HORT (1990), os solos do município de União da Vitória são em

geral de origem eluvial e aluvial que apresentam estrutura argilo-arenosa, sendo

os mesmos ácidos e pouco férteis. “Elúvio constitui a rocha alterada “in situ”, isto

é sem qualquer movimentação após o processo de interperização”.

“O elúvio mesmo bastante alterado, ainda retém a estrutura da rocha

original, embora os minerais tenham sido transformados em outros adaptados às

novas condições físico-químicas do meio. O elúvio também é mencionado como

saprófito” BIGARELLA , MAZUCHOWSKI (1985).

MARTINS et al. (1991) realizou pesquisa nas dependências do Instituto de

Geociências da Universidade de São Paulo e através de estudos geofísicos tais

como eletrorresistibilidade, através de sondagens elétricas, utilizado o método

indutivo através de caminhamentos eletromagnéticos, em áreas com

características geológicas distintas para avaliar a resposta ao processo de

poluição do aqüífero freático, em função da litologia. Foram analisadas um total de

67 amostras oriundas de três cemitérios localizados na grande São Paulo,

coletadas no período de janeiro a dezembro de 1989. Destas, 29 amostras foram

do Cemitério Vila Formosa (CVF); 11 do Cemitério de Vila Nova Cachoerinha

(CVNC) na cidade de São Paulo, e 27 do Cemitério de Areia Branca (CAB), na

Baixada Santista. Os principais critérios utilizados na escolha das necrópoles

foram os aspectos geológicos e hidrogeológicos.

Afirma sobre a locação de cemitérios, que o tipo de solo, e região

geológica, influencia sobre a possível contaminação de águas subterrâneas:

23
Os três cemitérios estudados encontram-se em regiões geologicamente bem
conhecidas. No CVF, há predomínio de sedimentos terciarios da Bacia de São
Paulo, onde ocorre alternância de solos argilosos e areno-argilosos. O CVNC
localiza-se em terreno predominantemente arenoso, com níveis mais argilosos. No
CAB há predomínio de sedimentos quaternários marinhos que são arenosos, com
alta porosidade e permeabilidade. Com relação às características hidrogeológicas
verificou-se que, no CVNC, o nível d'água variou entre 4 e 9 de profundidade, o
que caracteriza a existência de um aquífero suspenso. Este tipo de aquífero
também foi encontrado no CVF, onde o nível do lençol freático variou entre 4 e
12m. No CAB, localizado em área plana, o nível de água foi encontrado numa
profundidade que variava de 0,60 a 2,20m e era influenciado, pelo regime de
marés.
Estas diferenças geológicas e do nível do lençol freático, influenciaram na
qualidade bacteriológica das águas estudadas. O solo arenoso, que possibilita
uma permeabilidade maior e o nível do lençol freático de pequena profundidade
encontrados no CAB poderia favorecer a passagem de bactérias do solo e dos
túmulos para as águas subterrâneas. Isto poderia explicar os maiores níveis de CF,
EF, CSR, de bactérias heterotróficas aeróbias e de bactérias lipolíticas, nesse
cemitério,em relação aos demais. Neste tipo de terreno, parece haver uma
condição de aerobiose, (que pode ser verificada pela quantidade elevada de
bactérias heterotróficas aeróbias) e passagem de matéria orgânica para o lençol
freático, onde as proteínas seriam convertidas a nitrato, que se acumula nessas
águas... - coliformes totais (CT) - coliformes fecais (CF) - - estreptococos
fecais (EF) - - clostrídios sulfito redutores (CSR) -- bactérias proteolíticas
(PROT) (MARTINS et al., 1991).

5.1.6 Mineralogia dos solos

Segundo MELLO (2002), os solos de modo geral são constituídos pôr

quatro componentes principais: matéria mineral, matéria orgânica, água e ar.

Sendo que a material mineral inclui os minerais primários e secundários, com

dimensões e composições variáveis. Sob o ponto de vista edafológico os minerais

primários, encontrados principalmente nas frações areia e silte, podem fornecer

indicações acerca da reserva mineral são a composição química, o tamanho e a

24
resistência ao intemperismo. Já os minerais secundários são formados pela

desintegração e alteração dos minerais primários por meio do intemperismo.

Outros importantes constituintes da fração sólida do solo são as matérias

orgânicas que são representadas por resíduos animais e vegetais em estado

diversos de decomposição, misturados intimamente com as partículas minerais.

De acordo com o mesmo autor, os minerais secundários e a matéria

orgânica, por meio de cargas elétricas de superfície e do reduzido tamanho das

partículas, além de propiciarem condições favoráveis ao crescimento vegetal,

desempenham importante papel na retenção de resíduos tóxicos adicionados ao

solo, restringindo ou limitando a chegada destes contaminantes ao lençol freático.

Este efeito benéfico do solo como “filtro” de contaminantes é função da

quantidade e qualidade da fração argila (minerais secundários) e da fração

húmica da matéria orgânica.

JABUR5 (1985), citado por OLIVEIRA (2003), analisou o arenito Botucatu

definindo que sua granulometria é homogênea apresentando diâmetro entre 0,13

e 0,35 mm, possuindo um diâmetro médio de 0,20 mm. Apresentando portanto

uma homogeneidade textural na porção leste da Bacia do Paraná, sendo esta

esfericidade e arredondamento dos grãos característico de deposição eólica.

VIEIRA (1988) enfatiza que o arenito eólico está enquadrado no grupo de

rochas pobres originando solos com baixos teores de elementos úteis às plantas

(Ca, Mg, K e P), quase estéreis, onde a riqueza está no equilíbrio biológico, em

condições propícias há fixação de vegetais que posteriormente pela

decomposição de seus resíduos, alteram a composição química tornando este

solo adequado para manter a vegetação, enquanto o diabásio, sendo considerado

5
Jabur. J. C. O Grupo São Bento no Rio Grande do Sul. Boletim de Geografia. Maringa: UEM,
n.3,v.3,jan.1985,p.109-152

25
uma rocha com bons teores de Ca, Mg e K, origina solos de melhor utilidade para

as plantas.

SILVA (1999a), afirma que em função de sua constituição mineralógica,

condições intempéries e conteúdo microbiológico, a camada de solo reúne

condições de degradar a matéria orgânica enterrada, de maneira discreta e fora

da visão humana, tendo o solo capacidade de depuração natural incontestável,

em condições normais de aeração, na porção acima do nível das águas

subterrâneas.

5.1.7 Clima
O clima do estado do Paraná classificado por Maack (1981) com base em

Köppen (1918), relacionando a temperatura, a precipitação e a vegetação, confere

ao Estado cinco zonas diferentes de tipos climáticos, os quais variam de região

para região. Em altitudes superiores a 700m, o clima foi classificado como Cfb-

Subtropical Úmido, de acordo com Köppen verões quentes e poucas geadas,

com tendência a chuvas nos meses de verão, sem estação seca definida. As

temperaturas médias anuais dos meses mais quentes são superiores a 20,6°C e

dos meses frios inferiores a 2,9°C. Sendo este o enquadramento do município de

União da Vitória, localizado na região sul do estado do Paraná sendo divisa com o

município de Porto União no Estado de Santa Catarina.

O primeiro planalto paranaense inclui-se na zona cfb. Esta zona climática

caracteriza-se como sempre úmida, com clima pluvial quente a temperado,

podendo apresentar no mês de temperaturas mais elevadas, médias inferiores a

22°C e onze meses do ano com temperaturas médias superiores a 10°C, este tipo

de clima está sujeito a precipitações regulares durante todo o ano e a geadas

severas (mais de cinco geadas noturnas). A precipitação no mês de janeiro é de

26
19,7 mm, sendo este o mais chuvoso, e em agosto, o mês mais seco, com 78,2

mm. Observando-se um total de 1.451,8 mm em média para os doze meses, não

apresentando estação seca definida.(MAACK, 1981)

5.2 LEGISLAÇÃO ATUAL E NORMAS

MILARÉ 6(1997) citado por ROMANÖ (2003) atribui a preocupação brasileira

com relação a cemitérios à Constituição de 1891, que retirou sua administração

da Igreja passando para o poder civil. Ficou estabelecido pela lei e pelo costume,

que nenhum enterramento poderia ser realizado fora dos cemitérios; com

exceções aos hábitos e praxes de nacionalidades, confissão ou regra religiosa.

Ocasionando o surgimento de sepultamentos em panteões e criptas especiais,

cemitérios de associações religiosas ou credos. Com exceção dos sepultamentos

especiais admitidos por tradição, os cemitérios chamados confessionais regem-se

pela legislação que regulamenta os cemitérios particulares, ou mesmo

patrimoniais.

Os parâmetros solicitados pelos Órgãos ambientais são apenas

bacteriológicos, deixando de lado outros possíveis contaminantes, metais

pesados, e os outros parâmetros que estão representados na Resolução do

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, nº 20 (1986), que classifica as

águas quanto a poluição por efluentes, não sendo específica para cemitérios, por

isso a necessidade de uma legislação especifica para esta atividade.

6
**MILARÉ , E. Cemitério e Meio Ambiente. Texto apresentado Simpósio Funerária Brasil 97.
SINCESP. São Paulo. 1997.

27
O código Sanitário do Estado do Paraná, editado em 1975 (Lei

complementar nº 4) em seu capítulo XIX, trata dos Cemitérios e Capelas

Mortuárias, reza:

Art. 180. “Os cemitérios serão construídos em


pontos elevados, na contra vertente das águas que tenham
que alimentar cisternas e deverão ficar isolados por
logradouros públicos, com largura mínima de 14m em
zonas abastecidas pela rede de água ou de 30m em zonas
não providas da mesma.

§ único – em caráter excepcional será tolerado a juízo da


autoridade sanitária, cemitério em regiões planas.

Art. 181- O lençol de água nos cemitérios deve


ficar a 2m pelo menos, de profundidade.

Art. “182- O nível dos cemitérios em relação aos


cursos de água vizinhas deverá ser suficientemente
elevado, de modo que as águas das enchentes não
atinjam o fundo das sepulturas.”

A Resolução 001/86 do CONAMA trata da obrigatoriedade dos estudos de

impacto ambiental para implantação de atividades poluidoras, onde pode ser

entendido que Cemitério á atividade poluidora.

Para contaminação de solo por poluentes não existe legislação específica.

A CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, elaborou no

ano de 1999 a Norma Técnica L1.040 que trata da implantação de Cemitérios,

(ANEXO 2) onde define critérios técnicos para implantação dos Cemitérios,

porém não prevê a elaboração de EPI/RIMA- Estudo Prévio de Impacto

Ambiental.

28
O Código Sanitário de São Paulo – Decreto 12.342 de 1978 em sua seção
II trata dos Cemitérios, apresenta parâmetros técnicos definidos nos artigos 151,
152, 153, 154 e 155 (ANEXO 3)

Art. 151. “Os cemitérios serão construídos em áreas


elevadas, na contravertente das águas que possam
alimentar poços e outras fontes de abaastecimentos”.

Art. 153. “O nível dos cemitérios deverá ser


suficientemente elevado de maneira a assegurar que as
sepulturas não sejam inundadas”.

Art. 154. “O nível do lençol freático, nos cemitérios,


deverá ficar a 2,00m, no mínimo, de profundidade”.

Art. 155. “Os projetos de cemitérios deverão ser


acompanhados de estudos especializados, comprovando a
adequabilidade do solo e o nível freático”.

PACHECO (1986), em seus estudos relata vários problemas relativos aos

cemitérios já implantados, a presença de túmulos mal conservados podem se

constituir em focos de contaminação das águas subterrâneas, a presença de

árvores de grande porte no interior dos cemitérios, pode ser responsável pela

destruição de túmulos mal conservados, principalmente na época de enchentes,

quando são inundados e posteriormente estas águas pluviais infiltram-se no solo

acabando por atingir o lençol freático.

Tais problemas podem ser evitados mediante correta planificação quanto à

construção e utilização das necrópoles. No tocante a arborização de cemitério, os

elementos vegetais predominantes deverão ser os gramados e as coníferas.

29
6 POSSÍVEIS IMPACTOS ESPERADOS

Devido a extrema diversidade litológica da formação dos solos no Município

de União da Vitória, (Derrames basálticos e arenito Botucatu), é impossível

precisar o tipo de solo que ocorre nos Cemitérios Municipal Central e de São

Cristóvão, sem análise laboratorial, tendo em vista a inexistência de

levantamentos detalhados do solo neste município.

A proteção das águas subterrâneas vem sendo negligenciada no Brasil,

levando-se em conta sua extrema importância do ponto de vista econômico e

estratégico, faz-se necessário a proteção das mesmas dos diversos

contaminantes. A importância do solo como retentor de microorganismos, ocorre

através de fatores físicos e químicos ambientais, que afetam a infiltração e o

carreamento dos microorganismos em direção ao aqüífero freático. A implantação

de cemitérios sem levar em consideração critérios geológicos (estrutura do terreno

e características litológicas) e hidrogeológicos (nível do aqüífero freático), constitui

uma das causas de contaminação das águas subterrâneas, pois substâncias e

microorganismos provenientes da decomposição dos cadáveres podem ter

acesso às mesmas, representando um risco do ponto de vista sanitário e

higiênico. Mulder (1954) apud Bower, citados por Martins et al. (1991) registram

alguns casos históricos sobre a contaminação de águas subterrâneas, que se

destinam ao consumo humano, por líquidos humorais (provenientes da

decomposição dos corpos). Ocorrem ainda casos de ocupação no entorno dos

cemitérios que podem estar utilizando esta água através da instalação de poços.

Qualidade bacteriológica de águas subterrâneas em cemitérios:

30
Analisadas as amostras de águas subterrâneas de três cemitérios

localizados em áreas geologicamente distintas de São Paulo e de Santos, Brasil,

com relação às condições higiênicas e sanitárias, revelam que as primeiras

foram considerados os coliformes totais, bactérias heterotróficas,

microrganismos proteolíticos e lipolíticos. Para as sanitárias foram pesquisados

coliformes fecais, estreptococos fecais, clostrídios sulfito redutores, colifagos e

salmonelas. Verificou-se que as águas não apresentaram condições higiênicas

satisfatórias e, em alguns casos, foram encontrados níveis altos de nitrato (75,7

mg/l). A detecção de níveis mais elevados de estreptococos fecais e de

clostrídios sulfito redutores em relação aos coliformes fecais, na maior parte das

amostras, parece mostrar que os dois primeiros indicadores seriam mais

adequados para avaliação das condições sanitárias deste tipo de água. Foi

detectada Salmonella apenas em uma amostra e não foram detectados

colifagos. Na análise estatística, foram encontradas correlações significantes

entre três indicadores de poluição fecal assim como entre as contagens em

placas de bactérias heterotróficas aeróbias, anaeróbias e lipolíticas. Foi

observada uma relação direta entre a deterioração da qualidade da água e as

condições geológicas e hidrogeológicas do ambiente estudado, devendo este

fator ser considerado para o planejamento e implantação de cemitérios.

(MARTINS et al., 1991)

SILVA (2000) realizou uma pesquisa em 600 cemitérios no Brasil e alguns

no exterior, detectou que 75% dos casos de problemas de contaminação e de

poluição verificados, eram originados por cemitérios municipais e 25% por

cemitérios particulares com problemas locacionais, construtivos ou operacionais

(alguns deles considerados clandestinos).

31
6.1 Contaminação por Necrochorume

A contaminação refere-se á transmissão de substâncias ou

microorganismos nocivos á saúde pela água. A ocorrência da contaminação não

implica necessariamente um desequilíbrio ecológico. Assim a presença na água

de organismos patogênicos prejudicais ao homem não significa que o meio

ambiente aquático esteja ecologicamente desequilibrado

ROMANO (2003) explica que a putrefação dos cadáveres é influenciada

por fatores intrínsecos e extrínsecos. Sendo que os primeiros mencionados

pertencem ao próprio corpo, tais como: idade, constituição física e causa-mortis.

Os extrínsecos são pertinentes ao ambiente onde o corpo foi depositado, tais

como: temperatura, umidade aeração, permeabilidade, constituição mineralógica,

etc. Com a decomposição dos corpos há a geração dos chamados efluentes

cadavéricos, gasosos e líquidos. Os primeiros que surgem são os gasosos

seguidos dos líquidos.

Os efluentes líquidos são os conhecidos por necrochorume, que são

líquidos, porém mais viscosos que a água, de cor acinzentada a acastanhada,

com cheiro acre e fétido, desagradáveis. Constituído numa proporção de 60% de

água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, dentre as quais

duas diaminas muito tóxicas, constituída pela putrescina (1,4 Butanodiamina) e a

cadaverina (1,5 Pentanodiamina), dois venenos potentes para as quais não se

dispõem de antídotos eficientes. A toxicidade química do necrochorume diluído na

água freática relaciona-se aos teores anômalos de compostos das cadeias do

fósforo e do nitrogênio, metais pesados e aminas.

32
O maior impacto causado ao meio físico é o extravasamento do

necrochorume e o seu aporte no lençol freático, onde a contaminação até então

localizada, poderá disseminar-se (pluma de poluição).

Os cemitérios são fontes potenciais de contaminação das águas

subterrâneas, pelo simples fato de serem laboratórios de decomposição de

matéria orgânica, durante a qual está presente uma infinidade de

microorganismos. (BOLIVAR, 2001)

PACHECO (2001), afirma que a contaminação pode atingir o aquífero

através do necrochorume – neologismo que designa o líquido liberado

intermitentemente pelos cadáveres em putrefação, que também pode conter

microorganismos patogênicos – transportados pelas chuvas infiltradas nas covas

ou pelo contato dos corpos com a água subterrânea. Trata-se de uma solução

aquosa rica em sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis, de cor

castanho-acinzentada, viscosa, polimerizável, de cheiro forte e com grau variado

de patogenicidade.

CYPRIANO (1996), define que o tempo necessário para a decomposição total

de um cadáver é de três anos, em condições normais de temperatura e

composição do solo (solo homogêneo com proporção eqüitativa, em peso, de

areia, argila e silte, não devendo a porcentagem de argila ultrapassar 40%). O

necrochorume, líquido advindo da decomposição dos cadáveres apresenta em

sua composição 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias

complexas, sendo que um adulto de 70 kg pode gerar aproximadamente 40 litros

de necrochorume.

POUNDER (1995), IN: PACHECO (2001) .descreve que após a morte o

corpo humano sofre putrefação, sendo esta a destruição dos tecidos do corpo

33
por ação das bactérias e enzimas, resultando na dissolução gradual dos tecidos

em gases, líquidos e sais. Os gases produzidos são H2 S, CH4, NH3 e H2 . Sendo

o odor causado por alguns desses gases e por pequena quantidade de mercaptan

que é uma substância composta por hidrogênio ligado a carbono saturado. A

putrefação pode ser observada 24 horas após a morte dependendo das condições

ambientais, ocorrendo a formação dos gases em dois ou três dias. A

decomposição do corpo pode durar desde alguns meses até vários anos,

dependendo da ação ambiental.

O mesmo autor, delimita um tempo de aproximadamente três anos, em

clima tropical para que o cadáver possa ser decomposto; em clima temperado, a

decomposição pode durar dez anos. Durante esse processo ocorre o rompimento

dos tecidos, liberando gases, líquidos e sais para o meio ambiente.

De acordo com OTTMAN (1987) pouco se sabe sobre a contaminação do

necrochorume, quando relacionado a microbiologia. È possível encontrar

bactérias degradadoras de matéria orgânica (bactérias heterotróficas), de

proteínas (bactéria proteolíticas) e lipídios (bactérias lipolíticas). As bactérias

excretadas por humanos e animais, normalmente são do grupo coliforme:

Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiella e Citrobacter, alguns clostrídios como

Clostridium perfringes e Clostridium welchii, e algumas patogênicas como

Salmonella typhi e virus humanos, como enterovírus.

6.1.2 Agentes Microbiologicos

As águas subterrâneas nos cemitérios podem ser contaminadas por

microorganismos existentes nos corpos em decomposição. Caso for captada em

34
poços para o uso diário, os usuários eventualmente corre o risco de saúde, pois

este pode vincular doenças como febre tifóde, paratifóide, cólera e outras.

Para BOLIVAR (2001), as doenças de veiculação hídrica causam fortes

distúrbios gastrintestinais como vômitos, cólicas e diarréia, sendo que no Brasil

são hepatite, a leptospirose, a febre tifóide e a cólera. O quadro de Patógenos

Humanos comuns na água apresenta alguns tipos de protozoários, bactérias e

vírus encontrados nas águas; o tamanho médio destes organismos; algumas

características e as doenças que podem provocar no homem.(tab. 2)

Algumas bactérias tem papel importante na natureza, nos processos

decomposição, fermentação e fixação de nitrogênio, algumas no entanto são

prejudicais á saúde humana.

Os indicadores de poluição mais comumente utilizados são os coliformes,

principalmente o grupo dos coliformes fecais ou termotolerantes e os

estreptococos fecais. Um dos problemas da utilização deste grupo como

indicador de patógenos entéricos é que ele possui um menor tempo de

sobrevivência no solo e em águas subterrâneas, do que alguns destes

patógenos. No entanto a maior vantagem é que os coliformes fecais, não

demonstram condições de desenvolvimento no meio aquático diferindo dos

coliformes totais. (KOTT, 1977)

Os estreptococos fecais também são excretados nas fezes humanas,

embora em quantidade inferior a E. coli, mas podem sobreviver por tempo maior

em águas subterrâneas mantidas naturalmente em temperatura baixas.

(GELDREICH,1970)

35
Tab. 2 Quadro de Patógenos humanos comuns em água
Adaptado de OMS (1979) KESWICK (1984); INTERNACIONAL COMMITTEE OF TAXONOMY OF
VIRUS- ICTV (1995); MADIGAN et al. (1997).

As bactérias sobrevivem por mais tempo em temperatura mais baixas em

solos úmido, com menor atividade microbiana, em ambiente mais alcalinos e com

maior quantidade de matéria orgânica. Os vírus também são mais resistentes em

36
temperaturas mais baixas, alguns sofrem inativação na presença de atividade

microbiana, mas outros são protegidos pela adsorção, podendo sobreviver por

mais tempo. A presença de matéria orgânica e de cátions também pode prolongar

a sobrevivência por adsorção. Os virus são mais persistentes em ambientes mais

úmidos e em pH próximo a neutro. Portanto solos com teor de umidade e

levemente alcalinos são os mais favoráveis para a sobrevivência dos

microrganismos. (GUERRA et al citado por BOLIVAR, 2001)

Para ROMERO (1970), o tempo de sobrevivência das bactérias e vírus

varia muito, tendo em média dois a três meses, no entanto já foram observados

período de sobrevivência de até cinco anos em condições ideais.

6.1.3 Fenômenos Transformativos

Os corpos sepultados em cemitérios, normalmente, estão sujeitos aos

fenômenos transformativos destrutivos. No entanto, tais fenômenos acontece sob

condições ambientais como mumificação e a saponificação. (PACHECO &

BATELLO, 2000)

A mumificação é a dessecação ou desidratação dos tecidos. Acontece em

condições de clima quente, seco, com correntes de ar. Em solos calcários, os

corpos inumados podem sofrer uma fossilização incipiente, graças á substituição

catiônica de sódio e potássio pelo cálcio . (PACHECO & MATOS, 2000)

A saponificação é a hidrólise da gordura com liberação de ácido graxos, os

quais, pela acidez, inibem as bactérias putrefativas, atrasando a decomposição

do cadáver. Como produto da saponificação obtêm-se a adiporcera. A adiporcera

é a massa branca, mole de aspecto céreo, que se forma nos diversos tecidos e

37
órgãos do cadáver. Segundo POUNDER (1995),um ambiente quente, úmido e

anaeróbio, assim como a presença de bactérias endógenas, favorece a

saponificação. O solo argiloso, pouco permeável, quando saturado de água

facilita esse tipo de fenômeno.

Cabe salientar que em solos com elevada percentagem de argila não são

recomendáveis para a instalação de cemitérios.

7 PROBLEMAS RELACIONADOS COM SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE

COMPÕEM AS URNAS FUNERÁRIAS E COM OS MÉTODOS DE

CONSERVAÇÃO DE CADÁVERES

ROMANÓ (2003) afirma que substâncias químicas como a laca, substâncias

de tingimento, colas , metais como o ferro e o zinco, são utilizadas normalmente e

historicamente no embalsamamento, tanatopraxia e na construção de urnas

funerárias, sendo que alguns destes apresentam ainda em sua composição

metais pesados.

Segundo a SMMA – Secretaria Municipal do Meio Ambiente (1999), atualmente

está sendo utilizada a técnica tanatopraxia, que é a técnica de preparar, maquiar

e, restaurar partes do falecido, sendo que esta não é a mesma técnica de

embalsamamento, pois serve apenas para melhorar o aspecto do cadáver durante

o velório, prolongando por algumas horas este aspecto. Sendo a composição

química dos produtos utilizados ainda desconhecida, utilizando ainda cosméticos,

corantes, enrijecedores, entre outros.

38
SILVA (1998) destacou que por não haver normatização específica, o formol

utilizado pelas funerárias geralmente é superdosado, podendo chegar a soluções

de formaldeído com concentrações que ultrapassam 30%, sendo encontrados

ainda nessas soluções substâncias como metano, solventes e metais pesados.

Ainda segundo o mesmo autor no início do século era comum a utilização de

arsênico nestas preparações, e nos últimos 90 anos as substâncias mais

utilizadas para esse fim foram o formaldeído e o metanol.

7 VULNERABILIDADE DOS AQUÍFEROS

MATOS, 2001 afirma que aos estudos sobre cemitérios e meio ambiente

são incipientes, e que a WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO (1998) se

mostrou preocupada com o impacto que os cemitérios poderiam causar ao meio

ambiente, através do aumento da concentração de substâncias orgânicas e

inorgânicas nas águas subterrâneas e a eventual presença de microorganismo

patogênico, e enfatizou a necessidade de mais pesquisa a respeito do assunto.

PACHECO et al. (1991) conclui que os cemitérios são um risco potencial de

contaminação de aqüíferos devido ao fato de serem implantados sem um prévio

estudo das condições geológicas e hidrogeológicas. Este estudo demonstrou que

o tipo de solo é determinante para a manutenção da qualidade de água dos

aqüíferos.

PACHECO e MATOS (2001), enfatizam que os cemitérios podem ser uma

fonte geradora de impactos ambientais. Necrópoles com localização e operação

inadequadas em meios urbanos podem provocar a contaminação de mananciais

39
hídricos por microorganismos, que proliferam no processo de decomposição dos

corpos. Sendo o aqüífero freático contaminado na área interna dos cemitérios esta

contaminação poderá fluir para regiões próximas, aumentando o risco de saúde

nas pessoas que venham a utilizar desta água captada através de poços rasos.

Autores como PACHECO7, SILVA8 e MATOS9 citados por ROMANÓ em

2003 descreveram a poluição causada por cemitérios e a preocupação ambiental

com os mesmos, afirmando ainda que na época não havia uma normatização

específica para esta atividade, o que poderia causar diversos problemas

relacionados ao acompanhamento ambiental das áreas onde os mesmos estão

implantados.

Apesar da resolução 19/04 da Secretaria de Meio Ambiente do estado do

Paraná (SEMA), constituir um avanço em termos de legislação ambiental no que

tange sobre a implantação e conservação de cemitérios, os municípios

apresentam dificuldades para se adequarem a referida norma, o que ocorre

principalmente em virtude da escassez de estudos sobre cemitérios e meio

ambiente, e pelo alto custo de recuperação e descontaminação dos aqüíferos

subterrâneos comprometidos pelos cemitérios já existentes.

Cemitério, segundo a resolução 19/04 do SEMA (Secretaria Estadual de

Meio Ambiente) é a definição de uma área destinada a sepultamentos. Define

ainda, sepultar ou inumar como o ato de colocar pessoa falecida, membros

amputados e restos mortais em local adequado.

7
idem
8
SILVA , M. Cemitérios: fonte potencial de contaminação dos aqüíferos livres. Revista
Saneamento Ambiental, São Paulo, n. 71, 2000,
9
MATOS, B. A Avaliação da ocorrência e do transporte de microorganismos no aqüífero
Freático do Cemitério de Vila Nova Cachoerinha, município de São Paulo. São Paulo, 2001.
Tese(Doutorado) – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo.

40
PACHECO10 citado por ROMANÓ, em 2003 considera os cemitérios como

nada mais sendo do que depósito de corpos humanos, que necessitam de uma

destinação correta, pois a degradação dos mesmos pode se constituir em focos

de contaminação. A decomposição dos corpos depende das características físicas

do solo onde o cemitério está implantado.

ROMANÓ (2003) efetuou um estudo no Cemitério Municipal de Santa

Cândida, comparando os dados com os do Cemitério do Boqueirão ambos

localizados na cidade de Curitiba – PR, estudos como contribuem para a

adequação dos municípios a atual legislação no que tange a implantação e

conservação de cemitérios.

O Cemitério Municipal de União da Vitória, encontra-se situado em região

central, à rua Clotário Portugal s/n, foi implantado em 3 de novembro de 1918,

após o acordo de limites entre os Estados do Paraná e Santa Catarina que

finalizou o conflito sobre o território denominado “O Contestado” (SILVA,1933).

O Cemitério Municipal de São Cristóvão encontra-se localizado no bairro de

mesmo nome em local considerado área de risco sujeita a inundações. O bairro é

bastante populoso e no entorno do cemitério existem várias residências.

Com o objetivo de melhor expor as proposições do trabalho foi efetuada a

revisão bibliográfica, abordando os seguintes aspectos do município de União da

Vitória: Geologia, Hidrologeologia, Hidrografia, Relevo, Solos, Mineralogia dos

Solos, Clima. Citaremos ainda as Normas e Legislação Nacional.

10
PACHECO, A. et al. O problema geo-ambiental da localização de cemitérios em meio urbano.
CEPAS, nov.1997.

41
9 CONCLUSÃO

Em virtude da inexistência de estudos geológicos e hidrogeológicos

específicos para levantamento de solos na região de União da Vitória, a literatura

citada baseou-se em levantamentos de reconhecimento, sendo que a menor

escala obtida foi o levantamento aerofotogramétrico da empresa PARANÄ-Cidade

numa escala de 1: 8000, tornando o estudo por demais generalizado

demonstrando a necessidade de investigação a campo.

Com a inexistência de estudos específicos dos aspectos geológicos,

hidrogeológicos, pedológicos e geomorfológicos em União da Vitória, com relação

a informações sobre o meio físico para locação de cemitérios, a pesquisa vem

esclarecer as normas, leis para tais instalações.

Para análise dos aspectos geológicos, hidrogeológicos, pedológicos e

geomorfológicos, foi levada em consideração a localização topográfica dos

cemitérios Central e de São Cristóvão no município de União da Vitória.

O cemitério Central situa-se em uma área mais plana, com poucas

variações de declividades, onde os solos não estão sujeitos a inundações e as

condições do meio físico parecem mais favoráveis.

O cemitério de São Cristóvão encontra-se em parte, localizado em uma

área com declividade acentuada e em área sujeita a inundação, nas proximidades

do Rio Iguaçu.

Os trabalhos realizados até então, mencionam que o perigo de

contaminação é devido á proximidade entre o lençol freático e a superfície, e a

distância mínima recomendadas entre fontes de contaminação e abastecimento.

Atualmente, fala-se em reciclagem e reuso das águas, mas recomenda-se

estudos detalhados da área em questão e maiores cuidados na utilização do

42
sistema de injeção de efluentes em solos, pois em alguns casos, pode haver a

presença de bactéria ou vírus.

Os cemitérios podem trazer sérias conseqüências ambientais, em

particular sobre a qualidade das águas subterrâneas adjacentes. A infiltração e

percolação das águas pluviais através dos túmulos e solo provoca a migração de

uma série de compostos orgânicos e inorgânicos através da zona não saturada,

podendo alguns destes compostos atingirem a zona saturada e portanto poluir o

aqüífero. O monitoramento das águas subterrâneas nas vizinhanças dos

cemitérios é de suma importância.

Segundo estudos realizados, o maior impacto ao meio ambiente é o

extravasamento do necrochorume e o aporte no lençol freático, onde a

contaminação até então localizada, poderá disseminar-se.

Desde os tempos imemoriais, o solo tem sido utilizado pelo homem para

disposição de seus resíduos, incluindo o seu próprio corpo após a morte.

Pacheco assevera que "Todo cemitério é um risco potencial para o meio ambiente,

mas só é um risco efetivo quando não estão implantados adequadamente. Para

isso, é preciso avaliar as condições básicas geológicas (tipo de solo) e

hidrogeológicas (profundidade no nível do aqüífero freático).”

As prefeituras, geralmente, utilizam terrenos com valores depreciados e

não se atêm a qualquer tipo de iniciativa. E em outro trabalho, complementa: “Os

cemitérios podem ser fonte geradora de impactos ambientais”. A localização e

operação inadequadas de necrópoles em meios urbanos podem provocar a

contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam no

processo de decomposição dos corpos. Se o aqüífero freático for contaminado na

43
área interna do cemitério, esta contaminação poderá fluir para regiões próximas,

aumentando o risco de saúde nas pessoas que venham a utilizar desta água

captada através de poços rasos.

A implantação dos cemitérios e a operação dos mesmos devem merecer

cuidados especial por parte das autoridades ambientais dos serviços de saúde e

administradores municipais como forma de preservar o meio ambiente e a saúde

da população.

10 RECOMENDAÇÕES

Os cemitérios são fontes potenciais de contaminação das águas

subterrâneas, pelo simples fato de serem laboratório de contaminação de matéria

orgânica, durante a qual está presente uma infinidade de microrganismos. Como a

forma de controlar os riscos que aquele tipo de construção apresenta, segundo

pesquisas realizadas , é necessário :

1. A elaboração de projetos para implantação de cemitérios deva cumprir

exigências de prefeituras e órgãos ambientais visando a proteção do

solo e das águas subterrâneas;

2. Deve ser elaborada uma legislação estadual regulamentando a

implantação e operação de cemitérios, em termos ambientais e

sanitários;

3. No que tange ao município, a legislação sobre os cemitérios, deve ser

tratada como matéria especial;

44
4. Os cemitérios também devem constar da lista de fontes potenciais de

contaminação das águas subterrâneas;

5. Mais estudos sobre a contaminação das águas subterrâneas por

cemitérios, a carga potencial polidora, a composição química e

bacteriológica do necrochorume e o impacto gerado por corpos

saponificados;

6. Mais estudos sobres o transporte de microrganismos em particular, de

vírus , porque desconhecemos o comportamento destes em ambiente

cemiterial.

45
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50
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE UNIÃO DA

VITÓRIA............................................................................................11

FIGURA 2 – ROTA DE UNIÃO DA VITÓRIA – CURITIBA VIA BR 416 ................12

FIGURA 3 – MAPA GEOLÓGICO DO ESTADO DO PARANÁ .............................13

FIGURA 4 – BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IGUAÇU.......................................15

FIGURA 5 – LOCALIZAÇÃO DO RIO IGUAÇÚ EM UNIÃO DA VITÓRIA.............16

FIGURA 6 – VISTA AÉREA DE UNIÃO DA VITÓRIA DURANTE A ENCHENTE DE

1983............................................................................................17

FIGURA 7 – VISTA AÉREA DE UNIÃO DA VITÓRIA DEMONSTRANDO SEU

RELEVO............................................................................................20

51
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – HISTÓRICO DOS NÍVEIS ACIMA DE 5 METROS DO RIO IGUAÇÚ

EM UNIÃO DA VITÓRIA...................................................................18

TABELA 2 – QUADRO DE PATÓGENOS HUMANOS COMUNS EM ÁGUA.......35

52
ANEXOS

ANEXO 1 – RESOLUÇÃO 19/04 .............................................................................7

ANEXO 2 – NORMAS TÉCNICAS L.1.040 (CETESB, 1999) Implantação de

Cemitérios.........................................................................................27

ANEXO 3 - DECRETO 12.342 DE 1978..............................................................28

53
RESOLUÇÃONº019/04-SEMA
O Secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, no uso das
atribuições que lhe são conferidas pela Lei nº 10.066, de 27.07.92, Lei nº 11.352,
de
13.02.96, Lei nº 8.485, de 03.06.87, pelo Decreto nº 4514 de 23.07.01 e Decreto
nº 11, de 01.01.03,
CONSIDERANDO que a proteção do meio ambiente é um dever do Poder
Público,
conforme dispõe o art. 225, § 1º, da Constituição Federal do Brasil;
CONSIDERANDO que a proteção do meio ambiente é um dever do Poder Público
Estadual, conforme dispõe o art. 207, § 1º, da Constituição Estadual do Paraná;
CONSIDERANDO que a realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental -
EPIA e o seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, instrumentos da
Política Nacional
do Meio Ambiente instituídos pela Lei Federal n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981,
e regulados pela Resolução n.º 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho
Nacional de
Meio Ambiente - CONAMA, são obrigatórios para os empreendimentos que,
mesmo que potencialmente, causem significativa degradação ambiental, conforme
disposição dos
artigos 225, § 1º, inciso IV, e art. 207, § 1º, inciso V, da Constituição Federal e
Estadual, respectivamente;
CONSIDERANDO a necessidade de regulamentação da instrução e trâmite de
processos
de licenciamento ambiental de cemitérios;
CONSIDERANDO o contido na Política Nacional de Meio Ambiente - Lei Federal
n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 e nas resoluções CONAMA de nº 01/86,
237/97 e 335/03,
os quais disciplinam o Sistema de Licenciamento Ambiental, estabelecendo
procedimentos e critérios, visando a melhoria contínua e o aprimoramento da
gestão ambiental;
CONSIDERANDO a necessidade de dar efetividade ao princípio da prevenção,
consagrado, em seu artigo 2º, incisos I, IV e IX, bem como no princípio n.º 15, da
Declaração do Rio de Janeiro de 1992;
CONSIDERANDO que a competência concorrente dos Estados-Membros para
legislar sobre a proteção do meio ambiente e suas formas de poluição, conforme
determina o art. 24, da Constituição Federal do Brasil, permite aos Estados editar
normas mais protetoras do meio ambiente em relação às normas federais;

CONSIDERANDO a potencial e efetiva degradação ambiental provocada pela


instalação
e manutenção de cemitérios e a necessidade da adoção de uma Política
Ambiental que vise a proteção do solo, subsolo, recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, e a
proteção da saúde pública e a sadia qualidade de vida da população;
CONSIDERANDO o respeito às práticas e valores religiosos e culturais da
população;
RESOLVE:

54
Estabelecer requisitos e condições técnicas para a implantação de cemitérios
destinados ao sepultamento, no que tange à proteção e à preservação do
ambiente, em particular do solo e das águas subterrâneas.
Art. 1º Os cemitérios horizontais e verticais deverão ser submetidos ao processo
de licenciamento ambiental, nos termos desta Resolução e dos demais
dispositivos legais cabíveis.
Art. 2º Para efeito desta Resolução serão adotadas as seguintes definições:
I – cemitério: área destinada a sepultamentos;
a) cemitério horizontal: é aquele localizado em área descoberta compreendendo
os cemitérios tradicionais e os cemitérios parques ou jardins;
b) cemitério parque ou jardim: é aquele predominantemente recoberto por jardins,
isento de construções tumulares, e no qual as sepulturas são identificadas por
uma lápide, ao nível do chão, de pequenas dimensões;
c) cemitério vertical: é um edifício de um ou mais pavimentos dotados de
compartimentos destinados a sepultamentos;
d) cemitérios de animais: cemitérios destinados a sepultamentos de animais.
II – sepultar ou inumar: é o ato de colocar pessoa falecida, membros amputados e
restos mortais em local adequado;
III – sepultura: espaço unitário, destinado a sepultamentos;
IV - construção tumular: é uma construção erigida em uma sepultura, dotada ou
não de compartimentos para sepultamento, compreendendo-se:
a) jazigo: é o compartimento destinado a sepultamento contido;
b) carneiro ou gaveta: é a unidade de cada um dos compartimentos para
sepultamentos existentes em uma construção tumular.
c) cripta: compartimento destinado a sepultamento no interior de edificações,
templos ou suas dependências;
V - lóculo: é o compartimento destinado a sepultamento contido no cemitério
vertical;

VI - produto da coliqüação ou necrochorume: é o líquido biodegradável oriundo do


processo de decomposição dos corpos ou partes;
VII - exumar: retirar a pessoa falecida, partes ou restos mortais do local em que se
acha sepultado;
VIII - reinumar: reintroduzir a pessoa falecida ou seus restos mortais, após
exumação, na mesma sepultura ou em outra;
IX - urna, caixão, ataúde ou esquife: é a caixa com formato adequado para conter
pessoa falecida ou partes;
X - urna ossuária: é o recipiente de tamanho adequado para conter ossos.
XI - urna cinerária: é o recipiente destinado a cinzas de corpos cremados;
XII - ossuário ou ossário: é o local para acomodação de ossos, contidos ou não
em urna ossuária;
XIII - cinerário: é o local para acomodação de urnas cinerárias;
XIV - columbário: é o local para guardar urnas e cinzas funerárias, dispostas
horizontal e verticalmente, com acesso coberto ou não, adjacente ao fundo, com
um muro ou outro conjunto de jazigos;
XV - nicho: é o local para colocar urnas com cinzas funerárias ou ossos;
XVI - translado: ato de remover pessoa falecida ou restos mortais de um lugar
para outro.

55
Art. 3º Dependerá de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA e do respectivo
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, a ser elaborado por equipe
multidisciplinar, a concessão de Licença Prévia de toda e qualquer implantação e
ampliação de cemitérios,
de acordo com o que estabelece o art. 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal
do Brasil e a Resolução do CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986.
I - O Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA dependerá de aprovação do
Instituto Ambiental do Paraná - IAP.
II - O Estudo Prévio do Impacto Ambiental será submetido à consulta popular,
mediante audiências públicas, promovidas pelo Instituto Ambiental do Paraná -
IAP, nos termos da Resolução do CONAMA n.º 001, de 23 de janeiro de 1986.
Art. 4° Os projetos de implantação ou ampliação dos cemitérios, submetidos ao
licenciamento do Instituto Ambiental do Paraná – IAP e constantes do EPIA/RIMA
deverão atender aos seguintes requisitos mínimos:

I - O perímetro e o interior do cemitério deverão ser providos de um sistema de


drenagem superficial adequado e eficiente, além de outros dispositivos
(terraceamentos,
taludamentos, etc.) destinados a captar, encaminhar e dispor de maneira segura o
escoamento das águas pluviais e evitar erosões, alagamentos e movimentos de
terra, bem como a implantação de acondicionamento do necrochorume no interior
do jazigo;
II - Internamente, o cemitério deverá ser contornado por uma faixa com largura
mínima de 5 (cinco) metros, destituída de qualquer tipo de pavimentação ou
recobertura de alvenaria, destinada à implantação de uma cortina constituída por
árvores e arbustos adequados, preferencialmente de essências nativas. Esta faixa
poderá ser destinada a
edifícios, sistema viário ou logradouro de uso público, desde que não contrariem a
legislação vigente:
a) não será permitido o sepultamento e o depósito de partes de corpos exumados
na faixa descrita neste inciso;
b) na área descrita neste inciso, deverão ser mantidas as faixas de isolamento
previstas na legislação vigente, onde não será efetuado sepultamento;
III – caso sejam plantadas árvores no interior dos cemitérios, na chamada zona de
enterramento ou sepultamento, estas deverão possuir raízes pivotantes a fim de
evitar invasão de jazigos, destruição do piso e túmulos ou danos às redes de
água, de esgoto e
drenagem;
IV - O subsolo deverá ser constituído por materiais com coeficientes de
permeabilidade entre 10 -4 (dez a menos quatro) e 10 -6 (dez a menos seis) cm/s
(centímetros por segundo), na faixa compreendida entre o fundo das sepulturas e
o nível do lençol freático (medido no fim da estação de cheias); ou até 10 m de
profundidade, nos
casos em que o lençol freático não for encontrado até este nível. Coeficientes de

56
permeabilidade diferentes só devem ser aceitos, condicionados a estudos
eológicos e hidrogeológicos, fundamentados em conjunto com a tecnologia de
sepultamento empregada, os quais demonstrem existir uma condição equivalente
de segurança, pela
profundidade do lençol freático e pelo uso e importância das águas subterrâneas
no local,
bem como pelas condições do projeto;
V - O nível inferior das sepulturas deverá estar a uma distância mínima de 1,5m
(um
metro e meio) acima do mais alto nível do lençol freático, devendo os fundos dos
jazigos
possuírem uma contenção para o necrochorume;
VI - Resíduos sólidos relacionados à exumação dos corpos, tais como urnas e
material descartável (luvas, sacos plásticos, etc.) deverão ter o mesmo tratamento
dado
aos resíduos sólidos gerados pelos serviços de saúde, de acordo com a
legislação
vigente (Resolução CONAMA nº 5, de 1993);
VII - Deverão ser implantados sistemas de poços de monitoramento, instalados
em
conformidade com a norma vigente - ABNT NBR 13.895 - Construção de Poços de
Monitoramento e Amostragem, estrategicamente localizados a montante e a
jusante da
área do cemitério, com relação ao sentido de escoamento freático:
a) os poços deverão ser amostrados e as águas subterrâneas analisadas, antes
do início de operação do cemitério, para o estabelecimento da qualidade original
do
aqüífero freático, de acordo com os padrões da Portaria nº 1469/2000, do
Ministério da Saúde e suas sucessoras;
b) os poços deverão ser amostrados, em conformidade com a norma NBR 13.895
e as amostras de água analisadas para os seguintes parâmetros: sólidos totais
dissolvidos, dureza total, pH, cloretos, chumbo total, ferro total, fosfato total,
nitrogênio
amoniacal, nitrogênio nitrato, coliformes fecais, bactérias heterotróficas e
mesófilas,
salmonella sp., cálcio e magnésio. As amostras deverão obedecer a seguinte
tabela:
Cemitérios implantados até 1 (um) ano Amostragem trimestral
Cemitérios implantados de 1 (um) ano a
5 (cinco) anos
Amostragem semestral
Cemitérios implantados acima de 5
(cinco) anos
Amostragem anual
c) caso ocorram indícios de contaminação, deverão ser analisados novamente os
parâmetros de qualidade da água estabelecidos na Portaria nº 1469/2000 do
Ministério da
Saúde ou sua sucessora, efetuando a descontaminação do mesmo, através de
projeto

57
específico, devidamente previsto no EPIA/RIMA, devendo ainda, ser companhado
de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

d) O Instituto Ambiental do Paraná - IAP poderá realizar, concomitantemente,


análises periódicas do lençol freático, através dos poços de monitoramento;
e) Os columbários para entumulamento de cadáveres deverão ser
impermeabilizados, de forma a não permitir a passagem de água ou outro efluente
líquido
ou gasoso para a área externa;
VIII - Os Cemitérios Verticais deverão ter sistema de controle de poluição
atmosférica oriundo dos gases cadavéricos, apresentando programa de combate
aos
vetores, bem como apresentar projeto de tratamento do líquido oriundo da
decomposição
dos corpos.
§ 1º A escolha da localização para implantação de cemitério deverá, além do
previsto nas letras seguintes, ser observada a norma ABNT NBR nº 10157/1987:
a) fica proibida a implantação de cemitérios em terrenos sujeitos à inundação
permanente e sazonal;
b) fica proibida a implantação de cemitérios onde a permeabilidade dos solos e
produtos de alteração possa estar modificada e/ou agravada por controles lito-
estruturais,
como por exemplo, falhamentos, faixas de cataclasamento e zonas com
evidências de
dissolução (relevo cárstico);
c) fica proibida a implantação de cemitérios em áreas de influência direta dos
reservatórios destinados ao abastecimento público (área de proteção de
manancial –
APM), bem como nas áreas de preservação permanente (APP).
Art. 5º Os resíduos sólidos, não humanos, resultantes da exumação dos corpos
deverão
ter destinação ambiental e sanitariamente adequada, de acordo com a disposição
do Art.
4º, VI, da presente Resolução, e da Resolução do CONAMA nº 05, de 1993.
Art. 6º Os cemitérios já existentes e licenciados, deverão, no prazo de 90
(noventa) dias,
contados a partir da publicação desta Resolução, firmar com o Instituto Ambiental
do
Paraná - IAP termo de compromisso para adequação, no que couber, do
empreendimento.

58
§ 1º O cemitério que, na data de publicação desta Resolução, estiver operando
sem a devida licença ambiental, deverá requerer a regularização de seu
empreendimento junto ao Instituto Ambiental do Paraná – IAP, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias.
§ 2º Os cemitérios já implantados e licenciados deverão proceder a um exame
ambiental, nos termos do inciso VIII, letra "b", do art. 4º, no prazo improrrogável de
180
(cento e oitenta) dias, a partir da publicação desta Resolução, devendo o mesmo
ser
entregue ao Instituto Ambiental do Paraná - IAP.
Art. 7º Os cemitérios já existentes, a instalar ou a ampliar em municípios com
população
inferior a 30.000 (trinta mil) habitantes, não integrantes de regiões conurbadas e
com
capacidade limitada a 500 jazigos, poderão ter o procedimento de licenciamento
simplificado, a critério do IAP e nos termos da Resolução nº 031/98 -SEMA.
Art. 8º O descumprimento das disposições desta Resolução, dos termos das
Licenças
Ambientais e de eventual Termo de Ajustamento de Conduta sujeitará o infrator às
penalidades previstas na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e em outros
dispositivos normativos pertinentes, sem prejuízo do dever de recuperar os danos
ambientais causados, na forma do art. 225, § 4º, da Constituição Federal do
Brasil, e do
art. 14, § 1o, da Lei n. 6.938, de 1981.

Art. 9º No caso de encerramento das atividades, o empreendedor deve,


previamente,
requerer licença, juntando Plano de Encerramento da Atividade, nele incluindo
medidas
de recuperação da área atingida.
Art. 10 Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 11 Revoga-se a Resolução 027/03 - SEMA, de 08 de agosto de 2003.
Art. 12 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Curitiba, 04 de maio de 2004.
LUIZ EDUARDO CHEIDA
Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

59

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