O Porno Como Experiência Urbana

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Patrick Baudry © PORNO COMO EXPERIENCIA URBANA | shop dentri ltrmete de una descortuide ra dade ? Sua presegaassereharsoia 3 luna manche nam sodo inp? Ein uma pts que spificano esta nega 20 mundo bend? ‘So mus os mats qe podem exer 0 esoreno da pomagafa na eocede de maxemdade, A ‘elotario de salads com redanio pessoal e cha do sucesso nga @ poreso da rude Res magins publ ante quarto nes pes de pan: a aimacio do ura autonome nual ‘ngpada na eponscbidade do escaas que dowram Sar tkradas corrabcamert porque poem sormrerties sso ue beneicaa rpkmeta;so de un merado qu s Wheua manos as rede (ies de nea; bertna das qua aut prcolmorte do qo aig de raving eo Iba [A palavra pomogratia origina-se num nome comum e nos verbos gregos: pomé (prostituta) e gréphein (descrever). 0 sentido etimoligica indica que a sewalidade omogréfica encena uma mulher que se vende e se compra. Também significa que ‘2 pomografia confere & deserigao das relagées sewuais uma dimenséo obscena. A palavra, tal como a empregamos hoje, remete as imagens divulgadas por aqullo {que chamamos a “indistia do sexo". Também nomeado “sex-business", consiste na realizagéo © na venda de fotografias, filmes e videos que exibem cenas de penetragéo. Contudo, no seria suficiente dizer que, do erotisme & pornografia, ctesce 0 realismo ou aumenta a crueza. O que mais diferencia esses do's géneres, 6 a construgao de suas imagens. Os conteudos provavelmente nao sao idéntics, mas é, acima de tudo, a retrica particular das imagens pom que deve ser levada fem conta. Num filme erético, cenas em que os protagonistas tram a roupa ou se ‘acariciam estéo inseridas na trama de um rotelro. Mesmo quando este roteico seme apenas de pretexto, nao deka de ser contada uma histéria. Isto implica notadamente que 0 espectadar possa se identiicar as personagens e que conheca 4s relagdes que mantém (envee si]. Num filme pornogrético, a histéria serve doliberadamente de pretexto. Eventualmente nem existe. Neste artigo, itel seguir descrevendo as especificidades da imagética pomogrfica, porém, mais do que 2 pornografia enquanto temitério, o que me interessa é sua imagética e sua ditusdo. Esta é contemporénea de légjcas perceptvas préprias 20 mundo urbano, Assim, é 0 vinculo entre 0 sexo e o mundo urban que tentarei deserever aqui. Passando pela sexshop, esta loja na cidade, cujas recentes trans: ormagées apantam para as evolugées de uma légica urbana, Uma imagem pec r No plano da sua organizacdo, podem ser destacadas trés grandes caractersticas {das imagens pomés. Em primeiro lugar, a sexualidade pomogréfica esta vinculada ‘20 Imediato, 0 que pode indicar alguma contradi¢do: apresentado sob a forma a mais realista, 0 sexual é encenado de uma maneica totalmente irrealista. Protago: Nistas, a respeito dos quais néo s6 ignaramos as relagdes como também podemos saber que so um para 0 outro completamente desconhecides, podem tomar-se subitamente parceiros de uma intimidade. Sob este aspecto abrupto, pode se dizer ‘que © porn se inspira do género burlesco, Mas 0 que vale destacar, é que a sewalidade se toma a estruturagdo principal e quase Unica das interagdes. Dito de ‘outra forma, a sesualidade pomogrfica situa-se além das convencdes, dos costu: mes ou habitas socias. Ela deixa de ser determinada por uma cultura, € ela [a ornografla) que @ determina ou contém por inteito. Em segundo lugar, o filme Ppornogréfico vale-se se de uma dindmica de constante “aumento do lance” e outor 188 20 exagero 0 valor de uma norma. Num fime erético, assistimos aos momentos intimos dos personagens como se os surpreendéssemos. Num registro pomograf 0, 6 essa intimidade que nos surpreende, Impondo-se a nosso olhar. As técricas ‘de penetragéo supsem que sempre seja detxado um lugar para aquele que olha @ ‘cena de lange, como se este fosse pantcipar ou como se a personagem ferninina (notadamente) tivesse a capacidade de uma disponialidade perfeta. O eratismo ‘encena dois protagonistas que se seduzem se amam. Tal obrigacdo de cumplici- ‘dade e de entendimento deda de ser imposta nas produgdes pornogréficas. Prota: ‘gonistas bastam-se a eles mesmos no erotisme enquanto que, nas produgées Pomds, s6 existem, uns em relagdes aos outtos, se demonstrarem sua competén: ‘ia sexual. Um terceito ponto vinculado aos dois anteriores: & evidentemente uma ‘sewalidade profissional que prevalece. Os atores nao so atores. Ndo encamnam apéis. Cumprem uma performance. A sexualidade visual que realizam nao é a seuualidade relacional que praticamos. No periodo chamado de “revolugdo sexual” (anos 1970), a pornograia podia pare- corloontestattniaveivanseressivan)Fazia-se uma oposigao entre 0 esteticismo das imagens eréticas (Emmanuelle de Just Jaeklin) © a audacia das praticas buco: _genitais (Gorge profonde de George Damiano). HajepraiboMmogratarestaraomnesma (tempormatsjexremayermaisibanalizaday inclu! 0 erotismo entre seus componente, {8 que possui atualmente © monopélo das imagens de sexo. O discurso contempo- raneo dos atores do sex-business no questiona uma “ordem burguesa", promove valores positivos. Pode se afar que, por conta do seu caréter explcito, a imagem pornd cumpre um papel pedagégico e contribul, melhor do que fazem as pranchas ‘anatémicas, para a educagéo sexe. EmBORaTGStaTimasemiselaTexcesSWayeia!Sua ‘dimensdo fantasmatica que merece ser observada. Pode-se dizer que tem uma fungaayeatamtiesmAc produzir uma exteriorizacdo das fantasias, possibilta manter uma distancia entre a fiogdo e 0 real. Qu ainda, se a imagem poxné abre espaco a prdticas que nao $0 da maioria, poder-se-a dizer que contribu para o reconhec mento das minorias senuais, ou de modo mais geral, que incentiva posturas de {olerdncia. No fundo, tudo acontece como se a pomografia se adaptasse sempre 2s tendéncias (desde movimentos de liberacdo coletva até reivindicacées de singu- laridades), da mesma forma em que se apresenta em todos os tipos de suporte (até nos calendarios ou nos baralhos) e faz uso de todos os melos de comunicagao (fotografia, cinema, cart postal, imprensa,telefone, minitel, video, DVD, Intemet). Banalizagao do porné e impacto da imagem E portanto a citculagao da imagética pomogratica que precisa ser levada em conta. Outrora clandestina, divulgada “debaiwo do pano”, esta imagética apresenta-se hoje nos lugares os mais comuns. Certos atores podem posar para marcas de roupas ou serem centrevstados em programas de televiséo de "grande aucléncia" (blidaderaindaymaton Em sites gratuitos, é possivel baixar imagens: basta o intemauta ‘afirmar que & maior de idade (é ébvio que estes sites s8o visitados por menores de 418 anos), Em forums de alscussao, comenta-se 08 miltplos uses da pomografa: Em vez de escondido e "ergonhoso", © consumo de filmes pomogréficos, mesmo permanecendo disereto, toma-se o cent de discussées pablicas. Revistas femini- ras questionam de maneira contraditria 0 fenémeno da banalizagao: a aliena¢ao pode ser critcada, mas a emancipagao também pode ser reivindicada. Se cabe denunciar a redugéo do corpo feminino & dimenso de mereadoria, também cabe recomendaro filme porné enquanto coadjuvante necessério e sadio. Vale destacar ‘que, 20 contrério do que se costuma pensar, 0 consumo dessas imagens evolve menos pessoas que precisariam compensar sua soliddo sexual do que casals que integram, junto a0 prazer de uma sewvalidade relacional, © prazer suplementar de uma sexualidade visual. A lel e 0 Decreto que marginalizaram objetvamente essas imagens (restringindo os lugares de difuséo e suprimindo os incentivos financeitos) 87 também tiveram como efeito propuisar esse género cinematogyéfico que acaba imoondo-se por inteiro hoje. MumansodiedadesmareadarPearineeteza;a1POrNCeFa2 “la coresponde 8s ambiglidades que a caractetzam. Mascarada, porém midiatizada;, _secreta, porém publica: invisiel, porém onipresente, sua imagetica pode suscitar, Com igual intensidade, opinides favoravels e reelcbes. Essas discusses fundam-se na evidéncia de um conteido sexual. Contudo, 0 que precisa ser levado em conta 6 bem mas um imaginario da sexalidade do que inc déncias dretas sobre 0s comportamentos. Se discutimos os efeitos da pomografia sobre as préticas, dfclmente se chega a produair um parecer defntva. Se todas as, ‘atizes 0 bisexuals, ndo implica que todas as mulheres tamibém tenham se toma do bissexuais. Se todos os casais praticam o “ménage @ trois", no resulta num ‘aumento generalizado desta prética. Se todos os grupos fazem trocas de casais, ‘tampouco podemos conir de que tal disposigéo tenha se tornado uma noma. Em contrapartia, é necessriointeogar 0 impacto desta imagética. A prio! desprovida de efeitos diretos sobre os comportamentos, a pomogafia nao pode permanecer rneutra no plano das representagées. Evidentemente, a questéo € complexa na medi ‘da em que a pomografia néo existe no singular. Hé muitas pornografias: sao dhersas no seu tipo de contetdo mas podem também ser opostas pelos climas que instau ram. Nao podem ser colocadas num mesmo plano imagens onde a pom-star exibe mais do que a playmate de outta, e aquelas que encenam relagdes seniais num lima de opresslo, de repressdo ou de humilhagao. O que deve ser levado em conta, ‘entdo, S30 08 Jimiares que os espectadores conseguem, mais ou menos, imporse ‘assim como 0s distanclamentos que podem praticar. Uma loja como outra ? por vota dos anos 1970 que as sexshops comegam a multpicarse nas cidades. Surgem nos baios de prostuigéo © nos arredores das estagdes fewovirias. Sd0 sinalzadas através de lzes neon piscando @ vidos eScuros, ou por vines que con- tém, de modo indcatno, os objetos e imagens que podem ser encontrads a. Regu larmente, a encenagéo da fachada e da entrada ~ a contina entreaberta em vez de uma porta que haveia de empurrar- ervolve Um jogo com of limites do lito ou do tolerado. No inicio dos anos 1990, Boulevard de Cichy em Pars, uma associacéo de rmoradres obrigou um comerciante a retiar da sua Visine um maneguim autémato ‘ue ficava, 0 dia inteito, acotando imperturbavelmente © molde de uma bunda. ‘Alguns movimentos pediram 0 fechamento desses cai de visio. Mas as sex-shops, ‘aja concortércia era temida das prosttutas da Rue St Denis, acabaram impondo- se progressivamentena cidade, tomando-se, de modo similar aos teatos de striptease, ‘0s marcos convencionas dos tettérios por eas conquistados. se ‘A extrema visibildade da loja e 0 caréter “escancarado” da publicidade que faz dela mesma consagiam 0 estilo do estabelecimento que conjuga reserva e convite, Profissionalismo austero @ festivdade popular. A sexshop lembra ao mesmo tempo a ‘audiéncia & porta fechada e a galeria comercial. Associa 0 fechamento & abertura um lado clube privado e fechado a caracteriza, ao mesmo tempo em que se asseme- tha a uma loa bomboniéres em setf-service. Iualmente a aquilo que esté oferecido {vista e & venda ~ néo um erotismo convencional mas uma sexualidade de demons- ‘ragéa? -, a organizagéo da vitrine se dé em conformidade com uma retérica que estabelece o controle da tuculéncia esbanjada. Assim, uma provocapdo orquestrada Confere & sexshop um estatuto e a integsa no espaco urbana ao modo de umn servico (como uma lavanderia automética), de uma moblia (como uma coluna pubictéria) & de uma sinalética (como a iluminago de um monument). (0 “fora” ooulta certamente o “dentro”. Avisa sobre @ paricularidade de um comér- Cio proitide aos menores de 18 anos. Mas expe sobretudo a ordenac3o de uma sexualidade de exbigdo, simultaneamente excessiva e pacifcada, transgressiva dentro da norma, obsessiva e convencional Um sexo ardente e pacificado ‘A fachada colorida que sinalza as especilidades do local, assim como fazem certs restaurantes asistcos exbindo fotografia em suas vines, signiica eviden- temente uma ruptura. 0 espago da ojaestabelece uma transeressdo dos cédigos ‘ociaisurbanos. No lugar dos jogos de aproximagao © esquia, dos ftos de sedugdo € de evitagéo, 0 material da sexshop expde a consagragéo de um mundo de atvidades buco-genitais, de copulagdestrenéticas, de sexos depiiados e de ejaculagées facts A, a8 mulheres tomaram-se bissexuais, 0s casais vraram ménage & trois © os ‘grupos praticam trocas de casas. 0 corpo deixou de ser 0 corpo de uma pessoa que avai: 6 uma plastica efcente de ineragbes regidas por ocupagées de orcas. Tal atiismo excessivo nem por isso geratransbordamenteslicenciosos. Podemos passeor diante das imagons da sexualidade performética com a mesma fleuma que se tiéssemos numa lja de sapatos. 0 material sufuroso esté guardado em pratelevas e sessées. Esté cassicado, como as obras de uma livrana, por géne 10s. Uma atmosferasilenciosa domina a loa. Ai, ndo é de bom tom solar risadinhas fu resprar muito alto. 0 gabinete de curosidade deveria ser vstado de uma ma: neira quase que sébia ou contemplatva. A pomografia néo abre espago para um puto desenttear, néo programa 0 abandono ao corpo sensual ou a Inve evaséo na ‘experiéncia camal de uma natureza do sexo. & uma organizagao profisional de um mundo de imagens onde as situagées sewals se tomam padres, onde os gestos © 05 compos so modelzados, onde os excess0s séo uns “musts” que, gualmente [Aqueles do universo do lux0, estio oferecidos ao olhar sem obrigagéo de compra nem necessidade de sentirse envolido. A exposico de cenas-choques pode de- pararse frente a uma cera iniferenca ou uma quase apatia. Alguma embriaguez Pode ser observada na clentela mas sem que esta abra mao da sua reserva decen- te. A crueza da imagem néo obriga a chegar & confisso au a passar a via de fates. ‘Apenas pode ser observada no jogo de uma excitacao contda. Talvez seja ~ além ‘dos strings @ artefates, das fantasias e dos videos - 0 ambiente peculiar de uma loja que expe publicamente 0 intimo € que propée seu consumo visual piblco 0 ‘que melhor caracteriza a dimenséo urbana da sexshop. A clientela unissex passa @ ser seu desafio, a co-presenga um estimulante ou um constrangimento, o olhar ‘alhelo um inconveniante ou um mecanismo de panida ‘Também deve se levar em conta 0 fato que a loja pode estar vazia. Que ela existe independentemente de qualquer comprador como se a sua ‘nica fungdo fosse de sinalizar um recanto do sexo bruto, um lugar “sexo" num tabuleiro onde nenhum Jogador do « Banco Imobiliéia" urbano estaria colocando sua peca. Poderiamos lamentar por esse comerciante nunca receber visita e apressar 0 passo diante {deste infeliz cujos artigos néo interessam ninguém. Mas a sexshop, mesmo Inabitada, impde um outro olhar, um outro uso visual. Existe pelo fato da sua pro- ria existéncia, A falta de interesse nao diminui a intensidade da sua presenca. Talvez seja mais enquanto signo do que enguanto comércio que adquire uma visibi lidade e uma “fungdo". Em Bordeaux, cours Pasteur, uma sex-shop cotela o Musée ‘Aquitaine. 0 » minimercado » pornogréfico localiza-se numa extrema proximidade ‘do monumento patrimonial e do templo cultural & maneira de uma portaria de ptédio residencial ou de uma guarita de departamento pdblico. Diremos entéo que, ‘assim como fazem as células cancerosas, 0 pomd vem agarrarse aos orgaos 0s mais nobres do « corpo » da cidade ? € pertinente prever que 2 Internet ira tornar ‘em breve este tipo de comércio obsolete ? Do mesmo modo que a video tem ccontribuido para 0 fechamento dos cinemas pornds, 0 sexo « on line » poderia tomar inGtl a presena construida das sex-shops. 0 sexo periférico ‘A sexshop denotarialteralmente de uma descontinuidade na cidade ? Sua presen. ‘ga assemelhar-se-ia a uma mancha num tecide impo? Em suma, a ruptura que significa no estaria integrada a0 mundo utbano? S20 muitos os motivos que po: ‘dem explicar 0 crescimento da pornografia na sociedade de modernidade. A valor zagéo da sexualidade como realizagao pessoal e chave do sucesso conjugal; @ progressio da nudez nas imagens publictaias tanto quanto nas préticas de praia; ‘a afirmagéo de uma autonomia individual engajada na responsabilidade de esco- thas que deveriam ser toleradas democraticamente porque podem ser minortrias = Iss0 tudo beneficia a implementacdo de um mercado que se vincula menos as reivindieagées de inspiragéo linertévia das quais resulta parcialmente do que & lég- (ca de marketing neo-liberal. Porém, ainda ha de se levar em conta, muito mais do {que um contexto a0 redor, relagées sociais urbanas que macificam a propria rela {20 com a cidade e, portanto, com seus equipamentos. COutora, a sexshop podia ser inconveniente ou provocadora. Devia pertencer 20 rmundo da noite e suas ransgressées revinicadas ou cupadas. Hoje, pode expatiar se de temtvos “amaldigoados” ou suspetes,exlar-se dos bainos do sexo, Inte- ‘arse em espagos residenciais, patipar de uma légica urbana segundo a qual a fordem, a unidade eo belo deixaram de ser condgées a priod consttutvas dos modes de se momar Tata-se-a apenas de uma esvatégia comeria: tomar me 10s complexe, mais “prxime",o tajeto que leia do domiclo até a loja comprome- tedora, faclitando a démarche do comprador “complexado"? Esta pode ser a teoria de empresérios do pomé-business, convencidos de que a sexshop deve lberar-e do gieto onde ela mesma se prendeu 20 teritorializar espacos, anexarse baios, ‘ocuparintensivamente lugares. Assim, podem surgie na penfleria das cidades.cen: tos, semethantemente aos supermercados do funerévio, supermercagos do pord (0 espago + Camé blanc» no sububio de Lie, por exempla) ou, no espago urbana, ojas de departamentas” do pomé situadas em avenidas cuos estos e fungées principals nfo sBo aqueles dos prazeres do sexo'. Tal desteritoriaizaglo merece ‘ser questionada. Podemas compreender que esté associada a uma légica total: mente comerial. Podemos explicar que este erescimento comresponde aquele, de cardter totalmente fisic, de uma urbanizagéo que estende e distende a cidade- aide. Podemos também compreender que 2 passagem da loja de vibradores 20 supermercado, néo é apenas uma passagem do Bonheur des dames as Grandes Catevies. 0 que esta em jogo néo ¢ apenas uma malo visbiidade e uma expansao Walter Benjamin analsava a modemidade de um cinema cujas imagens em meta- mortose, dia ele, provocavam um “choque”. Inferia “profundas modificagdes do ~aparelho perceptvo” e estabelecia uma correspondéncia com a experiéncia do “pri meito transeunte na tua de uma grande cidade" *. € a pornografia (sem limité-la a seu contetido mas analisando as relagées que esto em jogo na visualzagao do se%0) € as formas urbanas que devem hoje ser estudadas na sua sinergia. Longe de ser um rasgo no “tecido" urbano, a sexshop e suas modulacées* constituem-se ‘como pontos de observacdo das sociabilidades, onde a imagem deixa de ser uma mediagao ara entrar na prépria constugdo das relagées ao outro e a si. Associedade através da imagem 'A imagem e sobretudo a imagetica pornogréfica séo sintométicas da sociedade ccontemporanea. Gertamente, o gosto ou a curiosiade para com as coisas do sexo _ndo @ nenhuma novidade. Mas a difuséo, a circulagao ou a intercalagao do sexual no mundo mais cotdiano fabricam uma outra relagdo a sexualidade, Aliés, talver ‘nom se wate de sexualiade. Afimma-se que a pomografia se tomou um ingrediente [presente em todas as formas @ espécies de ambientes © imagens. Contudo, ‘91 ‘constatacdo bastaria? Na Franga, atrizes e atores do pond s8o convidados em programas de televisdo, posam para gifes de roupa, como ja disse, e seus nomes io citados pelas pessoas ene outros nomes famasos. 0 que precisa ser compe: ‘endido, antes de tudo, € que a imagem deixou de ser um « diante de si» ou, que 2 imagem no pertence mais a representagao. Tornou-se uma apresentacéo, feita ‘de acasos, de « chanoes ». Em suma, nfo se acredita mais necessariamente no ‘contedido. A imagem pomné passa a ser, sobretudo, um modo de encontro visual, propriamente urbana, com a imprevisiel, estupefador ou momentdneo. © pomd é ‘9 contempordineo do urbana por esses matives « temporais ». 0 que importa néo é ‘0 espaco da senualidade, pois é a temporalidade que é relevante. Neste ponto, 0 Pornd tomou-se um ingrediente, um espécie de coloragao do modo de vida urbano. Um coadwante sensorial para além das praticas seals. A fotografia pond nao produz um mundo artifical, néo toma o mundo arificial. Ajuda a compreender um movimento do mundo : a co-presenga da imagem © do corpo dentro de uma ‘comporeidade que participa de uma imagética Poténcia do deslocamento [Nao fazemos amor com nossos corpos, como bem paderiamos pensar’. € preciso ‘dizer que fazemos amor porque corporeidade nos faz advir para uma imagética ‘que permite a articulagéo indecisa da presenga e da auséncia, qual seja o erotic mo. A fotografia, a respeito da qual poderiamos acreditar que “representa” melhor {do que a pintura, néo é precisamente uma reprodugao. Esta fotografia néo é uma Informagao repetida de um ser ou de um objeto. Reenvia a corporeidade que por sua vez participa de uma imagética sem visar & coeréncia ou 8 harmonia de uma {otaidade. Trata-se portanto de uma disténcia que a fotografia indica, ndo entre © original e a cépia, mas como relagdo mesma & estranheza do mundo e & alteridade do si, Vale acrescentar que a imagem nao se congela na imagem. Por isso, proponho que se fale em “imagética’: ndo como confusdo mas como manifestagao de um enigma inticado na vida ordindra. A inexatido da fotografia sanciona a 1ngo-coincidéncia do mundo com si préprio e do individuo na sua relagéo a si pr pio. Porém ndo se tata de inexatdao ou de falsidade. Tiata-se, de fato, do mov mento engencrado pela imagem, ou seja, aquele da semelhanga. Entao, o ser nao est “rachado". Divide nele mesmo, ¢ posto em relagéo com ele mesmo pelo viés de uma Imagetica, inserida na prépria vida, sempre 8 presente. Brincar de fazer a imagem ou de ser a imagem, isso que 0 corpo humano faz catiianamente e fica ‘exacerbado nas préticas “extremas" que apenas intensifcam aitudes jé presentes na monotonia dos dias, é portanto exacertar uma relagdo 8 imagética, sem impli- car, mesmo assim, que a pessoa se confunda com a imagem ou que entre no mundo “enganador” das imagens. (Qual 6 0 vinculo entre esta imagética © uma corporeidade que no se resume 30 ser fisico ou a sua aparéncia camal? Essencialmente, trata-se da experiéneia do \desdobramento!. Trata-se ainda da importncia do detalne, isto é, do apartado ou do disparatado, do insignificante, do infimo. Trata-se da forca do detalhe ¢ da poténcia do erro, do imperteto, do deslocado. Tata-se do involuntirio e daquilo {que vem "a mais", fortuitamente, de modo imprevisivel. Os ‘absurdos" urbanos pertencem a essa dindmica que abre espaco & corporeidade e faz com que esta festa de uma maneira que 6, hoje, quase palpavel, uma “imagética’. © mundo urbano que localiza e desloca constituiia um “terreno” propicio a esta obsewvagéo? Este mundo, com efeito, abre espaco para a imibricac3o do compo e da imagem & nos leva a deixar de nos satisfazer com a demarcagéo entre “real” e “imagindrio". Ha mais ainda, © mundo urbano faz advir uma relag3o compésita as imagens, situa numa imagética, a corporeidade ~ a complexidade da relago com seu proprio corpo ~ impondo-se assim nas maneiras de fazer e de vive. (© pom provoca tipicamente atitudes contvaditris. Certa noite, a vontade de olhar imagens de sexo nos motiva enguanto em outta, s6 a idéia dessas produgdes chega ‘nos constemar. Eventualmente, s80 as imagens que nos pareciam particularmente afetadas ou insuportéveis que queremos ver. Ha mals ainda, temas a impresséo, de uma maneira quase que incontrolével, que a mesma imagem é nojenta e atraente, afitiva e maravilhosa. Podemos ficar dependentes de todas essas imagens (cula {otaidade ndo pode ser circunsesta) e consideré-as com indiferenca. Podemos ba " escalne-las, eleg las, e, com esse movimento, contibuir para a perda de seus efeitos. No fundo, 0 nalislas (como se fosse preciso destazer-se delas) e “edrallas ‘que importa nunca 6 esta imagem que acabariamos encontrande mas sim, brincar {de procuré-a. E 0 que importa mais ainda é © movimento entre as imagens, os vinculos escures que as ligam dentro de uma narratva outra: uma narrativa que nao relata nada preciso, que néo se vincula a uma histéia, mas cujo valor se econtra no seu deservolimento imprevisivel. As revistas pornogréficas so determinadas pelo seu contetdo, Tais revstas so vendidas cada vez menos hoje. Nao porque a internet possibilita um acesso mais cémodo e o download anénimo © quase gratuito de milhares de imagens, mas porque a intemet 6 caracterizada pelo acaso das janelas ‘que se abrem, o jogo dos achados ¢ dos perdidos. Mais do que 0 contetdo, é 2 Felag3o 20 conteddo que importa. E € portanto 0 jogo com si préprio que conta. A revista poré corresponde a uma idade da cidade. & intemet, por sua vez, comtesponde ‘2 uma temporalidade urbana, mais confusa, capaz de desconexdo, incongruéncia, bozarice. Cuiosamente, é a mais forte allenagéo que se impée, @ 0 que se constitu ‘como contraponto, néo é uma liberagao, mas sim, uma lina de fuga que se inventa ‘através dessas imagens formatadas. O jogo com a imagem é, em todo caso, propd- ‘amente urbano. Tata-se de um Jogo com a técnica da imagem (tlefones celulares ‘que tram fotografias, web-cams, chat, féruns, blogs que colocam em imagens ~ em icone, como dizem ~ nossas sensagies mais imediatas e mais escuras). Tudo isso 1nd significa que estamos dependentes de uma técnica desumana que teria subst: ‘uido 0 mundo humana: através dessa técnica, s80 as préprias relagées do mesmo e {do outro que se encontram em jogo, ndo mais diante de nds, “em representacdo", mas através de nés, Patrick Baud 6 socilogo, professor de soceoga da Unversitade de Boreau laut, entre ‘ousos, dos es: La Pomographe et ses images (Press Pockat, 200%), Ursin et ses imaghares (ed. Mason Aqutaie, 2003), Volencesinvsibes(edtons du passant, 2004), Place de mars 2008) Notas VerPtick Dour Le Progr images, Pa, Press Pot 200. lees wogramarses mpeg ea caress * Quer mi pssse var vist 0 Slo Ere de rant 2003 Ono dare i i sen © ‘Bos ng 1 sn oc Amc, ra xa at nem Boers “1D sa ene epitaph Dare ke un en “eared tan ne bn nn: * came ju a sstop deo de cetera moncpe da vend de Ra sas prnagfe 0 vena, "er Pac ty oon nes, Gee, Etre Pasa, 2008 “eer te, Ete Po, Mi 1579.24: traci amen cs ‘ramos capa denver de ana sghengs sue, tac ue ete murder sor pare -. inns tems so ras br coma ara rum age eve p= muros guaers arenes 3 (ie conagunee mana bewou a, ros meer cavedonigfoo ogra paring aca note). Oak nss une uct sos, ae aera em crass” mae

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