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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
3.1.1. Primeira fase: difusão e enraizamento A título de ilustração, foram listadas a seguir algu-
mas ações de sensibilização e organização desenvol-
No primeiro período, é importante criar meca- vidas no início de projetos similares, com resulta-
nismos de informação que permitam a discussão do dos positivos.
projeto, ainda em formação, criando capilaridade jun-
to à comunidade e tornando-o conhecido da popu-
lação e dos órgãos públicos. Realização de seminários, mesas
Deve-se considerar que cada localidade tem suas redondas e outros tipos de foruns
especificidades socioeconômicas e políticas e que é de discussão
necessário buscar as alternativas mais adequadas a Devem ser convidados todos os segmentos e li-
cada realidade. Quando a Prefeitura é parceira, aten- deranças com interesse no tema. O objetivo direto
ção especial deve ser dada às ações que favoreçam dessa ação é atrair essas lideranças e entidades da
a assimilação dos objetivos do projeto junto aos seus comunidade, apoiadores e multiplicadores da inicia-
diferentes departamentos. Isso se faz necessário dada tiva. A apresentação de casos de experiências se-
a carência de quadros gestores e a habitual departa- melhantes já desenvolvidas poderá ajudar a esclare-
mentalização da gestão pública. cer a população e suavizar resistências.
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
der de multiplicação da informação junto à popula- mas ambientais referentes ao lixo na grade curricu-
ção composta não somente por seus alunos, funcio- lar; que se repasse experiências práticas sobre o
nários e professores, mas pelas famílias e comunida- assunto para serem desenvolvidas pelos alunos; que
de situada em seu entorno. se abarque todos os segmentos sociais relacionados
Sugere-se que sejam envolvidas em um progra- à escola, com ações de conscientização ambiental;
ma de educação ambiental mais amplo que os de- que se inclua atividades lúdicas de fundo educacio-
mais setores da sociedade; que se ofereça cursos nal, como gincanas e mutirões ecológicos, oficinas
aos professores, capacitando-os para incluir os te- de reciclagem e outros.
FASES AÇÕES
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3.2. CONSTITUIÇÃO DO GRUPO DE CATADORES tamento estiver focado nos catadores. Mas, se fo-
rem consideradas insuficientes para os fins do projeto,
A constituição do grupo de catadores envolve uma ou inexistentes, deve-se proceder ao cadastramen-
série de procedimentos que, se bem conduzidos, a- to. Para tanto é necessário:
judam a conhecer o perfil desses trabalhadores, con- elaborar formulário para o cadastro, que deve
tribuem para o seu entrosamento e possibilitam infor- ser objetivo, claro e conter um número de
mações necessárias para decidirem se participam ou questões suficientes para que se possa traçar o
não do projeto. Esses procedimentos podem ser re- perfil dos catadores, conforme o modelo do
sumidos como se segue. Quadro 8;
definir a abordagem junto aos catadores, po-
dendo ser entrevistas nas ruas ou locais onde
3.2.1. Cadastramento e análise de trabalham ou vivem.
informações dos catadores Como a entrevista será o primeiro momento de
contato direto, devem ser tomados alguns cuidados:
Essa atividade tem por objetivo coletar dados con- o catador deverá ser esclarecido sobre os pro-
fiáveis sobre o número e perfil dos catadores existen- pósitos da entrevista. Informações gerais so-
tes no município. Antes da realização dessa tarefa é bre o projeto devem ser repassadas, de manei-
aconselhável verificar: ra simples, mas precisa: o que é o trabalho
se existem dados sobre esses trabalhadores cooperado; a idéia de coleta seletiva; a inexis-
nos diferentes órgãos da Prefeitura, como as tência de vínculo empregatício; a possibilida-
secretarias de saúde, educação, promoção ou de de aporte de alguns recursos como cesta
assistência social; básica, mas não para sempre e nem para to-
que tipo de trabalho a Prefeitura desenvolve das as necessidades;
ou já desenvolveu junto a esses trabalhadores; evitar mal entendidos que criem falsas expecta-
se outras entidades ou instituições (Lions, igre- tivas, como, por exemplo, de que haverá a
jas, sindicatos, etc.) já realizaram ou realizam tra- criação de empregos fixos para os catadores
balho de assistência social ou de outro tipo com na Prefeitura ou de que o projeto vai atender
os catadores como público-alvo. a todos os catadores;
Essas informações são importantes, porque nor- se o projeto estiver associado a um programa
teiam a elaboração do cadastro e, às vezes, podem de gestão dos resíduos do município, que in-
até dispensá-lo, se os dados forem recentes e o levan- clua o fechamento do lixão da cidade, o cadas-
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tramento dos catadores que atuam ou atua- ameaça, mantendo-se refratários aos conta-
vam nesse local exigirá maior preparação e uma tos. Será preciso paciência e tranqüilidade para
abordagem mais cuidadosa. Isso porque os conseguir a sua cooperação.
catadores podem se sentir inseguros quanto Realizadas as entrevistas, passa-se para a fase de
às suas possibilidades futuras de sobrevivên- análise dos dados. Se o número de catadores for
cia e encarar os entrevistadores como uma pequeno, a tarefa pode ser resumida a uma tabulação
CADASTRO DE CATADORES
Data: 10 / 03 / 2003 Pesquisador: José Voluntário ....................................................................................
Nome: José Reciclador ...................................................................................................................................................
Endereço: Rua da Produção, no 21 - Vila Industrial ....................................................................................................
Telefone ou forma de contato: Deixar recado na residência Idade: 45 anos
Mora com a família? Sim X Não Quantas pessoas? Quatro
É arrimo de família? Sim X Não
Tem filhos? Sim X Não Quantos? Três Estão na escola? Dois
É alfabetizado? Sim X Não Escolaridade: Primário incompleto
Há quanto tempo trabalha na catação? Dez anos
Teve outra ocupação anterior? Sim X Não Qual? Pedreiro ..........................................
Era emprego com carteira assinada? Sim X Não
Quantas horas trabalha por dia na catação? 10 horas
Tem outra fonte de renda? Sim Não X Qual? .....................................................................................
Sistema de trabalho: Lixão Na rua X Lixão/rua Outro
Transporte: Carrinho X Próprio Sim X Não
Quanto ganha por mês (ou dia) Entre 50 e 100 reais por mês ................................................................................
Sabe o que é uma cooperativa de trabalho? Sim Não X
Já participou de alguma cooperativa? Sim Não X Qual? ...........................................................
Tem interesse em participar de trabalho em cooperativa? Sim X Não
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
3.2.2. Seleção dos catadores características pessoais que são percebidas so-
mente com a convivência.
Uma vez realizado o cadastramento e a análise Para a seleção dos catadores, sugerem-se três
dos dados, logo se verifica a necessidade de compa- abordagens.
rar o número de catadores interessados em partici-
par do projeto ao número estimado de postos de Alternativa 1 - reunir todos os catadores dispostos
trabalho a serem gerados, com renda mínima compa- a participar, capacitá-los e só depois definir o grupo
tível à do município e da região. É comum o número Esse procedimento permite uma convivência mais
inicial de interessados superar bastante o número próxima com os interessados, maior conhecimento
considerado viável, principalmente em municípios de de suas habilidades e maior acuidade na seleção. Ou-
médio e grande porte. tra vantagem é a possibilidade de capacitar um nú-
Quando a avaliação dos dados disponíveis indica mero excedente de pessoas, permitindo incorpo-
que o potencial de geração de renda naquela localida- rar rapidamente novos cooperados já treinados, sem-
de não é suficiente para integrar todos os interessa- pre que for ampliado o volume de recursos gerados
dos, impõe-se a necessidade de seleção (ver item 2.2). pela cooperativa.
O processo de seleção dos catadores deve con- Essas perspectivas devem ser consideradas, pois
siderar: em muitos casos será possível ampliar a área da cida-
os objetivos do projeto e as características de de inicialmente coberta pela coleta seletiva, melho-
seu público-alvo. É importante ter clara a dife- rar os preços de venda dos materiais recicláveis ou
rença entre uma cooperativa economicamente agregar novas alternativas aos serviços prestados.
sustentável e um projeto de assistência social. É preciso cuidado para que o procedimento de
Essa é uma discussão a ser também resgatada escolha seja transparente. Todos os catadores de-
quando da análise dos dados; vem ser informados do processo, evitando decep-
as desistências, por diversos motivos que ocor- ções e mal entendidos. Durante a capacitação, de-
rem durante o período de capacitação, tais como vem ser lembrados, também, de que estão passan-
mudança de cidade, doença, oferta de outro em- do por uma seleção.
prego, etc.;
a possibilidade de desligamento do grupo por Alternativa 2 - realizar uma seleção prévia com
excesso de faltas, comportamento inadequado, base nos dados do cadastramento
falta de aptidão para o trabalho cooperado, en- Nesse caso, trabalha-se, já na capacitação, com
tre outros, pois o cadastro não detecta algumas um número de catadores próximo à estimativa de
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3.2.3. Convocação para a primeira reunião colhendo material porta-a-porta; um veículo fa-
zendo a coleta de recicláveis; uma gaiola de
A primeira reunião do grupo de catadores marca separação de uma Central de Triagem, etc.
o início do processo de capacitação, bem como de Normalmente, o conhecimento que os catado-
construção da cooperativa. Por isso, deve ser feito o res têm sobre trabalho cooperado é bastante reduzi-
máximo esforço para garantir a presença de todos. do, particularmente no que se refere à inexistência
Para convocá-los será necessário procurá-los indivi- de vínculo empregatício. Existem sempre muitas dú-
dualmente e aproveitar a ocasião para informá-los mais vidas sobre o trabalho que será realizado, o funciona-
e melhor sobre o projeto que se pretende implantar mento da cooperativa e assim por diante. Portanto,
e esclarecer suas dúvidas. Este é o primeiro retorno essa tarefa deve ser feita com calma, dando tempo
após a atividade de cadastramento e o primeiro sinal aos catadores para sentirem-se suficientemente à
claro de que o projeto está em andamento. vontade e colocarem suas dúvidas.
A convocação deve ser feita pelos membros da
equipe responsável pelo projeto e colaboradores.
Se a alternativa escolhida contemplar todos os cata- UMA CONVOCAÇÃO BEM FEITA
dores cadastrados, pode-se organizar uma força-ta- PREPARA MELHOR A REUNIÃO
refa com o pessoal de ONGs, funcionários da Prefei- Vale a pena preparar uma filipeta para deixar
tura e cidadãos voluntários. com o catador, contendo as informações bási-
Vale a pena utilizar todos os recursos disponíveis cas sobre a reunião: local, horário, data, telefo-
para tornar esse contato mais proveitoso. Assim, é ne e nome de um membro da equipe para con-
aconselhável: tato. Esse lembrete é importante, porque o ca-
preparar um roteiro, para que todos os envol- tador pode não ter conseguido memorizar to-
vidos no trabalho repassem as mesmas infor- das as informações durante a visita e tenha fica-
mações; do embaraçado para perguntar.
certificar-se de que todos os colaboradores e
membros da equipe estão falando a mesma
linguagem; 3.3. FORMAÇÃO DE FUTUROS
usar palavras simples, de uso comum, para e- COOPERADOS
vitar falhas na comunicação;
levar fotos ou desenhos para ajudar na explica- O principal objetivo da formação é incentivar
ção do projeto: um catador uniformizado, re- uma ação qualificada dos catadores na gestão de
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uma cooperativa, estimulando a participação e, as- tras formas de expressão que não só o uso da pala-
sim, garantindo a perenidade do empreendimento. vra: dramatização, desenho, colagem, pintura, uso
A formação deve ser um processo onde as expe- de argila ou materiais recicláveis para expressão
riências de vida dos catadores, seus hábitos de tra- artística e musical, danças, jogos, estudos de meio
balho cotidiano e suas deficiências escolares preci- (percepção ambiental), entre outros formatos que
sam ser levados em conta; afinal, o que se pretende estimulem os participantes a contribuírem com seus
é que eles sejam habilitados para exercer o trabalho próprios conhecimentos.
cooperado e criem uma identidade enquanto grupo
de trabalho. Espontaneidade
Para se cumprir tal objetivo é necessário atentar
para dois fatores essenciais na formação desses ato-
res: a criatividade e a espontaneidade.
Criatividade
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa
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construir a identidade do grupo enquanto pro- compatíveis. Ao final da primeira fase de formação,
fissionais de reconhecida importância, agen- o galpão deve estar terminado ou em processo de
tes ambientais e lideranças em desenvolvimen- finalização. O risco das atividades terem ritmos muito
to local sustentável; diferentes é a desmobilização dos catadores e o des-
instrumentalizar catadores para se utilizarem crédito da iniciativa por parte da comunidade.
de mecanismos de comunicação, tais como Nessa etapa, o grupo aprenderá fazendo. Coloca-
rádio, jornal, mural, expressão verbal, entre rá em prática os conhecimentos da primeira fase e
outros. O bom uso da comunicação facilitará terá acesso a novas informações em decorrência dos
o contato com as comunidades, setores co- desafios trazidos pelas atividades da cooperativa. Nes-
merciais, de serviços e outros, auxiliando no se momento, é importante descobrir as habilidades
convencimento da população a participar da de cada catador, resultantes de suas experiências de
coleta seletiva; vida. Um catador que já trabalhou com maquinário
introduzir o conceito de formação de redes, facilmente poderá aprender a operar a prensa e os
articulando a cooperativa a outras entidades demais equipamentos da central de triagem. Um ou-
com as mesmas características, disponibilizan- tro com bom conhecimento sobre a cidade poderá
do informações sobre suas atividades, suas ex- estabelecer os roteiros de coleta.
periências e sua organização; A regularidade dos encontros, agora, fica por conta
estimular a prática de resolução de conflitos do ritmo de trabalho do grupo com a coleta e a se-
para o exercício das responsabilidades comuns. paração dos materiais. O ideal é garantir a continuida-
Para se cumprir os objetivos acima propostos, de, mas com tempos menores, duas horas no máxi-
um modelo de grade de conteúdos poderia ser o mo, com o objetivo de discutir os problemas que
apresentado no Quadro 9. surgem durante a semana e acertar os passos de tra-
balho numa cadência coletiva. Nessas reuniões, é im-
portante contar com a presença de um profissional
3.3.2. Segunda fase: aprender fazendo que acompanhe o grupo em sua prática cotidiana.
É um trabalho desafiador. É na segunda fase que sur-
O segundo momento deve ocorrer no espaço gem os conflitos de convivência, vêm à tona os pro-
definido para o funcionamento da cooperativa. Por blemas com drogas e uso de álcool, as questões de
conta disso, os ritmos do processo de formação e ética, o caráter de cada um. São problemas com des-
de definição e implantação de um local para as ativi- vio de material, desentendimentos pessoais, formas de
dades de separação e beneficiamento devem ser trabalho conflitantes, privilégios e vários outros.
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Promoção e Auto-estima O módulo básico visa dar uma nova dimensão à auto imagem dos
Comunicação e Expressão catadores.
Nesse módulo, é importante que os catadores repassem suas ex-
Solidariedade e Relações Humanas
BÁSICO periências de vida, individuais e coletivas, para que se inicie a
História do Movimento Nacional de Catadores construção de uma identidade de grupo.
de Materiais Recicláveis Também objetiva promover seu reconhecimento enquanto cate-
Participação e Cidadania Ativa goria profissional importante para a sociedade.
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Na maioria das vezes, os conflitos são resolvidos catadores devem participar do processo, assumin-
por meio de conversas coletivas ou soluções acorda- do funções antes desenvolvidas ou decididas em con-
das individualmente. Não há regra, cada equipe tem junto com os integrantes das entidades incubado-
um perfil diferente e propõe soluções diferentes. O ras. Também é importante nesse período reforçar
fortalecimento do grupo acontecerá a partir da cons- os temas que foram abordados durante a capacitação.
trução conjunta de soluções, para que, cada vez mais,
o grupo tenha condições de se auto gerir. Conteúdos básicos para a segunda fase
O essencial é que a equipe responsável pelo pro- Os objetivos propostos para essa fase são:
cesso de formação dos catadores seja constituída desenvolver as habilidades pessoais e de traba-
de profissionais habituados a lidar com esse públi- lho em grupo dos catadores dentro do espa-
co. Por serem grupos especiais, muitas vezes afasta- ço da cooperativa;
dos do convívio social, é necessário o uso de uma estabelecer grupos que consigam administrar
linguagem e uma condução diferenciada do conven- os diversos setores de trabalho;
cional, adaptada à realidade de cada localidade. disponibilizar métodos para a resolução de con-
É importante registrar que a cooperativa, uma flitos de forma que estes sejam incorporados à
vez constituída, necessitará de mais algum tempo gestão da cooperativa;
de acompanhamento até que os catadores possam fortalecer o grupo a partir da construção de so-
assumir de forma autônoma o empreendimento. O luções coletivas para os problemas cotidianos;
desligamento deve ser feito paulatinamente e os promover uma rotina de trabalho com os cata-
dores, criando tarefas, atividades e ritmos.
Os conteúdos a serem trabalhados na segun-
da etapa estão diretamente relacionados ao
funcionamento e organização do espaço de
trabalho. Alguns temas sugeridos são apresen-
tados no Quadro 10.
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Saúde e Vigilância do galpão, exames de saúde dos catadores, vigilância sanitária, segurança do trabalho,
segurança manutenção dos equipamentos, equipamentos de proteção individual, orientação sobre consumo de
drogas e álcool, primeiros socorros.
FORMAÇÃO Roteiro do caminhão e carrinhos, manutenção dos PEVs, orientação à população durante a coleta,
Coleta
DOS GRUPOS manutenção do caminhão e carrinhos.
DE TRABALHO
Capacitação dos catadores, alfabetização, comunicação interna e externa, palestras nas escolas,
Educação
eventos nos bairros.
Finanças, pagamento dos catadores, controle de freqüência, auxílio aos grupos de trabalho,
Administração manutenção geral do galpão, organização da comercialização, divulgação dos resultados, articulação
institucional.
Triagem e
Separação dos materiais, controle do estoque, enfardamento, prensagem e balança.
beneficiamento
CRIAÇÃO DE UM Discussão sobre as regras de boa convivência, periodicidade das reuniões dos grupos de
REGIMENTO INTERNO trabalho, orientações gerais.
DEFINIÇÃO DE Capacidades e habilidades de cada catador (a partir do histórico de vida de cada um,
RESPONSABILIDADE levando em consideração a desenvoltura na primeira etapa de formação).
LEGALIZAÇÃO
Regularização da documentação individual dos catadores, elaboração e discussão do
DA COPERATIVA -
estatuto, função da assembléia geral, conselho fiscal, conselho consultivo.
ASSOCIAÇÃO
ELABORAÇÃO Estabelecimento das rotinas de trabalho, horários de entrada, saída, almoço e intervalos,
DO MANUAL DE definições sobre segurança e uso de equipamentos de proteção individual, normas gerais
PROCEDIMENTOS acordadas entre todos.
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IDENTIFICAR OS VEÍCULOS
Qualquer que seja o veículo adotado deve ser
identificado no padrão de comunicação visual
do empreendimento. Além disso, pode ser
dotado de sino ou de equipamento de som para
anunciar sua entrada nos bairros abrangidos nos
respectivos dias de coleta seletiva. Caminhão com grades laterais adaptado para a coleta
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A adoção dos mesmos deve levar em considera- população. Na medida em que são processados os
ção o local onde será instalado (ao ar livre ou cober- materiais recicláveis e o não lixo, ele pode ser instala-
to) e a facilidade de limpeza e manuseio. Para agilizar do em área comercial ou residencial, não exigindo
a coleta, é interessante que o tipo adotado possa licença especial da Vigilância Sanitária. Se as únicas
ser esvaziado sem o uso de um munck. áreas disponíveis forem distantes do centro urbano,
é mais interessante, senão imprescindível, que o veí-
culo de coleta seja um caminhão.
3.4.2. Galpão ou central de triagem Dependendo do tamanho e das feições geográfi-
cas de cada município e da extensão da coleta seleti-
O galpão de triagem é o local que recebe e pro- va, a cooperativa pode contar com mais de um gal-
cessa os materiais coletados para comercialização. pão de triagem ou áreas de transbordo, aliviando as
Não se deve confundir esse galpão com uma usina distâncias percorridas e o custo da coleta. Estraté-
de reciclagem, presente em algumas cidades. En- gias dessa natureza implicam necessariamente em
quanto o galpão recebe materiais pré-selecionados maiores aportes de recursos e devem ser pensadas
pela população e coletados seletivamente, a usina re- com cuidado.
cebe lixo misturado, vendendo seus materiais reci- Os moradores do entorno do galpão precisam
cláveis sujos, a preços inferiores. ser esclarecidos, já nas etapas iniciais do projeto,
O galpão é a sede e a base operacional da coope- para não criar atritos posteriores (ver item 3.1).
rativa. Pode ter importante papel educativo ao rece-
ber visitação pública para a entrega de materiais, para Arranjo interno
o conhecimento das atividades ali desenvolvidas, bem Embora exista uma variedade de galpões de tria-
como para atividades de educação ambiental associa- gem, desde com chão batido até instalações indus-
das à coleta seletiva e à recuperação de resíduos. triais bem equipadas, deve-se buscar um padrão acei-
Por ser a sede da cooperativa, dois aspectos pre- tável e viável, especialmente para pequenos empre-
cisam ser considerados com cuidado: sua localiza- endimentos. O projeto da central deve prever ins-
ção e seu arranjo interno. talações que contribuam para a dignidade, a segu-
rança e produtividade no trabalho, facilitando a circu-
Localização lação de pessoas e veículos, a movimentação de car-
O galpão de triagem deve ser localizado, prefe- gas e minimizando os riscos de acidentes.
rencialmente, em área central, diminuindo o custo Um galpão básico contém área coberta para tria-
da coleta e facilitando o acesso aos cooperados e à gem e beneficiamento dos materiais, escritório, cozi-
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nha e refeitório, sanitários masculino e feminino, com res e outros equipamentos de proteção dos traba-
chuveiros, e área para guardar ferramentas. A área lhadores. Estes serviços técnicos são gratuitos.
externa deve abrigar estacionamento, local para lava- Na parte externa podem ser armazenados os ma-
gem dos veículos de coleta e baias (ou áreas) delimita- teriais triados que não necessitam de mais manuseio,
das para o armazenamento dos materiais recicláveis como chaparias e garrafas inteiras. É importante que
prontos para comercialização. as áreas específicas sejam definidas em número sufici-
A infra-estrutura inclui ligação elétrica específica ente de modo a poder receber todos os tipos e cate-
conforme os equipamentos a serem instalados, venti- gorias de materiais prontos para a comercialização.
lação, iluminação (inclusive à noite, para segurança),
pavimentação, drenagem de água de lavagem e trata-
mento de esgotos.
Quanto à segurança, pode ser solicitada a visto-
ria do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Seguran-
ça e Medicina do Trabalho SESMT, através da
Prefeitura, para avaliação da necessidade de extinto-
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
retirada. O espaço para cada material, dentro e fora tos e custos de operação e manutenção. E somente
do galpão, também pode ser dimensionado, toman- após um dado período de funcionamento será pos-
do por base os volumes equivalentes a cargas com- sível avaliar a necessidade de maquinários adicionais
pletas de um caminhão truck, o que otimiza o frete e, que incrementem a lucratividade das operações. A
conseqüentemente, a venda dos materiais. seguir, são descritos os equipamentos que atendem
É necessário reservar espaço na área coberta do às atividades de triagem e beneficiamento.
galpão para estocar os materiais:
recicláveis recém-coletados, antes da triagem; Balança
recicláveis triados, até o volume suficiente para Uma balança de plataforma é um equipamento
serem beneficiados; importante, porque possibilita controlar:
recicláveis já beneficiados que não podem fi- a entrada dos materiais, permitindo avaliar a ade-
car expostos à chuva e à umidade, como os são da população em cada roteiro de coleta;
fardos de papel. a quantidade de materiais mal separados, su-
jos ou não recicláveis (rejeito);
a venda dos materiais recicláveis.
Enquanto a cooperativa não dispuser desse ma-
quinário, podem ser utilizadas as balanças de indús-
trias da região ou designar um cooperado para acom-
panhar a pesagem dos materiais nas dependências
do comprador. A desvantagem, nesse caso, é que o
controle do fluxo de materiais só é feito no ato da
comercialização.
Silo de alimentação de esteira de triagem
Balcão, mesa ou esteira
São as estruturas onde ocorre a triagem manual
3.4.3. Equipamentos para triagem e dos materiais. O balcão é uma estrutura fixa, alimen-
beneficiamento tada por uma gaiola ou silo, que possibilita o armaze-
namento de quantidades maiores de materiais reci-
Como regra básica, recomenda-se adquirir ape- cláveis, otimizando o espaço vertical. O volume da
nas equipamentos que facilitem o trabalho e/ou agre- gaiola deve permitir estocar material por, pelo me-
guem valor aos materiais, pois implicam investimen- nos, dois dias, para não desorganizar o espaço caso
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Alguns compradores emprestam prensas, já que dos. Ela permite um melhor aproveitamento do espa-
a redução no volume dos materiais diminui também ço vertical, possibilitando o armazenamento de quanti-
as despesas com seu transporte. É bom lembrar a dades maiores, otimizando o frete e valorizando as
possibilidade de aquisição de equipamentos no mer- cargas nas épocas de baixa no mercado. Cuidados
cado de usados. devem ser tomados no empilhamento dos fardos para
que não ocorram acidentes.
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
demonstrado que onde existem projetos sólidos de É fundamental que a administração pública tenha
parceria entre a comunidade, poder público e cata- sempre no horizonte a busca de autonomia por par-
dores, onde existem esforços para a capacitação des- te do grupo de catadores que está sendo incubado.
ses empreendedores, os negócios prosperam, ga- Embora à frente do processo, deve incentivar a par-
nham legitimidade e consolidam-se formalmente. ticipação das ONGs e dos cidadãos em geral de
A realidade tem mostrado que a implantação de modo a garantir a sustentabilidade do empreendi-
cooperativa de catadores comporta diferentes for- mento cooperativo, em especial, evitando os riscos
mas de parcerias e de caminhos para construí-las, que de descontinuidade devido a mudanças na política
dependem do perfil do projeto e das circunstâncias local (ver itens 2.1 e 3.1).
específicas em que ele é concebido e implantado. Os A competência dos quadros da Prefeitura para
formatos mais comuns são descritos a seguir. levar a cabo um projeto dessa complexidade deve
ser considerada. Se não houver, pode-se:
alocar recursos para a contratação de servi-
Não há receita para o estabelecimento de par- ços especializados;
cerias visando a implantação de uma coopera- buscar apoio junto às organizações da socieda-
tiva de catadores. O importante é estar aten- de civil; ou
to às peculiaridades locais e construir as alian- aprender através do contato direto com expe-
ças de modo a dar legitimidade social ao em- riências bem sucedidas.
preendimento cooperativo.
PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS
Identificar o departamento ou secretaria
A administração pública como instituição mais adequada para abrigar o projeto.
promotora Designar um funcionário com elevada moti-
Nesse caso, é importante que a equipe envolvida vação para coordená-lo.
elabore um projeto social de promoção e apoio à Identificar, dentre os programas da adminis-
cooperativa de catadores e busque a sua inserção tração pública, aqueles que podem atender
no orçamento do município. A existência de um pro- às necessidades do projeto (renda mínima,
jeto social aprovado facilita a busca e a utilização dos cesta básica, alfabetização, passe, etc.).
recursos de diferentes instâncias públicas e o esta- Criar condições para uma atuação integrada
belecimento de parcerias com a iniciativa privada e dos orgãos municipais.
setores organizados da sociedade local.
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
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Capítulo 4 - Funcionamento de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
verificar seu grau de engajamento em proje- informações gerais sobre o município e a re-
tos comunitários. gião que possam embasar o potencial de de-
senvolvimento da cooperativa.
3.5.1. O projeto como instrumento
Objetivos e metas do trabalho
Um projeto pode ser definido como um conjun- Os objetivos e metas devem estar basicamente
to de ações interligadas, voltadas para um objetivo focados na geração de emprego e renda, através da
bem definido. organização de uma cooperativa de catadores e sua
Quando se elabora um projeto de natureza social, capacitação.
por exemplo, parte-se do princípio de que uma dada
realidade deve ser mudada e que existem caminhos Justificativa
possíveis para a mudança. Trata-se de um documento Entre os argumentos, deve-se priorizar:
no qual se formulam objetivos, definem-se metas, es- a importância da coleta seletiva enquanto com-
timam-se os recursos necessários, planejam-se as ponente da solução contemporânea na gestão
ações para viabilizá-lo e os mecanismos para acompa- dos resíduos sólidos municipais;
nhar seu andamento. É um instrumento de trabalho a importância econômica da atividade dos
e, no caso, também um instrumento para a articula- catadores e a necessidade de agregar com-
ção de parcerias. Nesse sentido, convém contem- petência e valor a seu trabalho, bem como
plar os aspectos a seguir. sua importância como contingente social mar-
ginalizado;
Uma breve introdução a caracterização da dimensão e da condição
Deve caracterizar o contexto que motivou o pro- de vida desse contingente social.
jeto e no qual será desenvolvido, com atenção para:
os problemas locais relacionados aos resí- Atividades principais
duos sólidos: volume gerado, gastos públi- Listar as principais atividades que serão desenvol-
cos, formas de disposição (lixão, aterro sa- vidas, enfatizando:
nitário), impactos ambientais, pressão da po- que se trata de um processo de incubação de
pulação ou de organismos públicos, etc.; médio e longo prazo, com ênfase na educação
os aspectos sociais, particularmente aqueles ambiental;
concernentes aos níveis de emprego e renda a importância do envolvimento da sociedade
e à existência de catadores; local.
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Capítulo 3 - Implantação de uma Cooperativa - COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS - GUIA PARA IMPLANTAÇÃO
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