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Na Colonia Penal Kafka
Na Colonia Penal Kafka
Franz Kafka
II
O explorador, com o sobrolho franzido, considerou o Ancinho. A
descrio dos processos judiciais no o satisfizera. Constantemente
devia fazer um esforo para no esquecer que se tratava de uma colnia
penal, que requeria medidas extraordinrias de segurana, e onde a
disciplina devia ser exagerada at o extremo. Mas por outra parte
fundava certas esperanas no novo comandante, que evidentemente
projetava introduzir, embora pouco a pouco, um novo sistema de
processos; processos que a estreita mentalidade deste oficial no podia
compreender. Estes pensamentos lhe fizeram perguntar:
indivduo procurou reter as roupas que lhe caam, para cobrir sua
desnudez, mas o soldado o ergueu no ar e sacudindo-o fez cair os
ltimos trapos do vesturio. O oficial deteve a mquina, e em meio do
repentino silncio o condenado foi colocado debaixo do Ancinho.
Desataram-lhe as cadeias, e em seu lugar amarraram-no com as
correias; no primeiro instante, isto pareceu significar quase um alvio
para o condenado. Depois, fizeram descer um pouco mais o Ancinho,
porque era um homem magro. Quando as pontas o roaram, um
estremecimento percorreu sua pele; enquanto o soldado lhe amarrava a
mo direita, o condenado jogou para fora a esquerda, sem saber para
onde, mas na direo do explorador. O oficial observava
constantemente este ltimo, de travs, como se quisesse ler em seu
rosto a impresso que lhe causava a execuo que pelo menos
superficialmente acabava de explicar-lhe.
III
tivessem preferncia sobre todo mundo; eu, por certo, graas ao meu
cargo, tinha o privilgio de permanecer junto mquina, com
freqncia estava de joelhos, com um menininho em cada brao,
direita e esquerda. Como absorvamos todos essa expresso de
transfigurao que aparecia no rosto martirizado, como nos
banhvamos as faces no resplendor dessa justia, por fim alcanada e
que to depressa desaparecia! Que bons tempos, camarada!
segurou-o portanto pelas mos, colocou-se diante dele, para olh-lo nos
olhos, e perguntou-lhe:
No.
IV
pescoo.
E explicou ao explorador:
Essa a confeitaria.
olharam-no.