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MARINA SANT´ANNA

 
“Se juntar PT, PP e PMDB, o PSDB fica isolado no processo”  
Em respeito ao correligionário Rubens Otoni, pré-candidato ao governo, petista não diz que
aceita ser vice de Iris numa coligação, mas admite “compor” chapa majoritária nessa aliança 

Edilson Pelikano/Jor nal Op Mari na Sant´Ana diz que o PT, pen san do nos pró xi mos quatro anos
ção
de pros pe ri da de, pre ci sa pro cu rar as de mais for ças par ti dá ri
as da fren te de apoio ao go ver no Lu la, e bus car a pau ta do de sen
vol vi men to pa ra Go i ás. Se gun do ela, es sa ar ti cu la ção não de
ve ser ape nas in for mal men te, co mo também for mal men te. E pre
ga que to dos os par ti dos apre sentem seus no mes pa ra a cha pa
ma jo ri tá ria. “Des se mo do que se cons trói uma co li ga ção. É a ma
nei ra cor re ta de cons tru ir uma co li ga ção, se ja com o PT em ca
be ça de chapa, se ja com ou tro can di da to, do PMDB, PP, PRB, PR,
em qual quer dos par ti dos que es tão jun tos ou pró xi mos.” 

Ele afir ma que no seu par ti do o no me que so bres sai é o do de pu


ta do fe de ral Ru bens Oto ni pa ra go ver na dor. “Há ou tros no mes
com po pu la ri da de, pre sen ça e con di ções de se apresen tar”, ob
ser va. A ex-ve re a do ra e ex-de pu ta da es ta du al ava lia que o Es
ta do tem tu do pa ra des lan char, por que ago ra as con tas es tão em
di as, con for me ou viu do go ver na dor Al ci des Ro dri gues. 

Ma ri na fa la tam bém da si tu a ção na ci o nal, ava li an do que a elei ção vai mes mo ser
ple bis ci tá ria, por que o PT vai pôr pa ra o elei tor a com pa ra ção com os go ver nos de
Fer nan do Hen ri que Car doso, do PSDB. E as se gu ra que a mi nis tra-can di da ta Dil ma
Rous seff já es tá de vi da men te as simi la da pe la mi li tân cia mais an ti ga do PT. E diz
que, ao con trá rio do que se apre goa, Dil ma não é es ta ti zan te. 

Ma ri na Sant´Ana é in te gran te do gru po Mo vi men to Cer ra do, ten dên cia do PT go i a


no cu jo in tegran te de mai or ex pres são é o de pu ta do fe de ral Pe dro Wil son. 

Cezar Santos — O PT goiano está definitivamente fechado com o PMDB para 2010?
Vai com Iris ou terá candidatura própria? 

A primeira pergunta para mim como militante, cidadã e dirigente por muitos anos do PT é:
qual é a proposta do PT para o Estado de Goiás? E dando essa resposta procuramos os
parceiros que podem ser evidentes ou não para um projeto como esse. Para o Estado,
segundo o governador Alcides, as contas estão bem. A parte financeira do governo estadual
chegou a um equilíbrio, à exceção da Celg que se busca uma resolução. Sendo assim quero
crer que os próximos quatro anos do Estado serão de pleno desenvolvimento, investimentos
estruturantes em políticas públicas de grande impacto nas várias áreas, entre elas de
segurança pública, área em que estamos assistindo uma vulnerabilidade. O PT, pensando
nesses próximos quatro anos de prosperidade e desenvolvimento, precisa procurar as
demais forças, não só informalmente como formalmente, todos os demais partidos da frente
de apoio ao governo Lula e buscar a pauta do desenvolvimento para Goiás, apresentar os
nomes que tem para a chapa majoritária. Desse modo que se constrói uma coligação, no
meu ponto de vista. É a maneira correta de construir uma coligação, seja com o PT em
cabeça de chapa, seja com outro candidato, do PMDB, PP, PRB, PR, em qualquer dos
partidos que estão juntos ou próximos. No PT o nome que se sobressai é o do deputado
Rubens Otoni para governador. Há outros nomes com popularidade, presença e condições
de se apresentar para uma chapa majoritária, seja puxada pelo PT ou por outro partido. 

Inã Zoé — O PT pode então sair na frente com esse projeto diferenciado para o
Estado? 

Acredito que sim, em conexão com os ganhos do governo Lula. Com o que desejamos para
o governo futuro com a pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff. Faz falta projeto de
governo. Quando fui candidata a governadora incentivei isso. Ressaltava que a gente
precisava ganhar qualidade no debate. É preciso ouvir dos partidos políticos como se
desenha um programa de governo para os próximos quatro anos. Não só em nível federal,
que será uma coisa mais plebiscitária, mas também aqui no Estado. Mas por enquanto não
se sabe quais serão os nomes. 

Cezar Santos — O PT está francamente empenhado em atrair o PP do governador para


essa aliança? 

Com certeza. O governador tem sido leal ao governo federal. Estou falando de instituições,
não estou mencionando aspectos eleitorais. Por isso temos esperança de resolver a
demanda da Celg. De parte a parte, tanto o governo federal quanto o estadual tem tratado
com seriedade e honestidade esse processo. Sinceramente espero que estejamos todos
somando para ganhar as eleições de 2010. Se estaremos todos na mesma chapa ou não já
é uma questão do diálogo e de análise de conjuntura. 

Cezar Santos — O PT hoje não faz oposição ao governo estadual na Assembleia. Caso
o governador banque uma candidatura, o PT voltará a ser oposição? 

Não sei a deliberação da bancada do PT na Assembleia. É preciso avaliar o que ela vai
fazer ao mudar a conduta do governo estadual com relação à Assembleia Legislativa, aos
projetos que possa apresentar para o final do ano, em função de lançar uma candidatura.
Aliás, o PT, como os demais partidos, tem grandes nomes que podem ser competitivos.
Estamos olhando ainda uma polarização, como tratou o próprio Jornal Opção na semana
passada, entre um campo da velha UDN com o campo do velho PSD. No entanto isso já
passou por algumas mudanças, a sociedade é mais plural hoje, há nomes que polarizam
mais que partidos. Aliás, a origem é a mesma. O líder do PSDB, que é (pré) candidato a
governador, saiu do PMDB. 

Citei antes o caso da segurança pública não é por relacionar eleitoralmente, a questão da
segurança pública hoje é uma demanda que merece cuidado de todos nós. O número de
jovens que vêm sendo assassinados dentro de casa, na rua, com armas de fogo é uma
coisa impressionante. Há desaparecimento de jovens e isso precisa ganhar pauta na agenda
eleitoral. 

Inã Zoé — Programas sociais como o Projovem não têm sido suficientes para atender
essa juventude? 

Não é isso. A demanda vai desde o bebê que precisa da creche até o jovem de 18, 20 anos,
é preciso um acompanhamento integral da vida dessas crianças e jovens com suas famílias.
Por mais que se façam investimentos federais, são insuficientes, é preciso que os Estados e
municípios invistam bem, não pode ser simplesmente um projeto aleatório. 

Cezar Santos — Cada vez mais fica evidente que o governador não tem nome
competitivo para lançar candidato e fica parecendo que ele faz jogo de cena com essa
história de nova frente. Há uma tese que diz que na verdade ele, Iris e o PT querem
mesmo é se unir com o objetivo de derrotar o senador Marconi Perillo. Qual sua
análise? 

Acredito que se juntar o PP, e não precisa ser na mesma chapa, PMDB, PT com as forças
que isso tem de representação na sociedade, quem vai ter que lutar para enfrentar e ganhar
a eleição é o PSDB. Aliás, no plano nacional vimos a reação de Fernando Henrique no
domingo passado, com artigo que acabou sendo muito debatido. Hoje temos no Brasil um
projeto em andamento e esses partidos, o PP, PMDB, PR, PRB, PT, PCdoB, PDT, entre
outros, estão em uma única conexão com uma visão de Brasil, uma visão de Estado. Pelo
menos é o que até o momento está colocado e com chances de chegarmos a um resultado
programático, com candidaturas representativas desse projeto nacional aqui em Goiás. Se
isso ocorrer pode ter certeza que será a maior força política reunida no Estado. As pessoas
votam em pessoas, mas também votam e projetos, votam em acúmulo político. O governo
do Estado, mais prefeituras — e são muitas as que reúnem esses partidos, e aí falo nas
pessoas de seus prefeitos e não na utilização da máquina administrativa —, parlamentares,
movimentos sociais, é muita gente que se junta. Se conseguirmos esse intento não há
dúvida nenhuma, é a maior força política do Estado de Goiás e coloca o PSDB isolado no
processo, provavelmente junto com o DEM. 

Danin Júnior — Membros do PT disseram que a Marina Sant’Anna pode ser a vice de
Iris. 

Acredito que essa conversa surgiu na sociedade e pautou internamente as conversas do PT.
Não fiz nenhum movimento uma vez que minha preparação é para a candidatura a deputada
estadual. O fato de ter sido candidata em 2002 faz com que isso pareça apropriado, por ter
participado de uma chapa majoritária. Talvez por isso meu nome rode com mais facilidade.
Tenho disponibilidade caso essa questão venha de fato à mesa, de fazer o debate nessa
direção, de participar de uma chapa majoritária como candidata a qualquer uma das
posições. Acho que há outros companheiros do PT com esse tipo de disposição. 

Cezar Santos — Como a sra. avalia o governo Alcides? 

Ele passou estes três últimos anos pagando conta, atrasos. Ele mostra os números. Não
tenho nesse momento muitas condições institucionais para fazer uma verificação mais
pormenorizada. Os números colocados não estão sendo contestados a altura, estão sendo
contestados no bate-boca. Estão dizendo que encontraram o Estado... na verdade foi uma
continuação dos governos anteriores, mas quanto ele realmente assumiu a titularidade
depois de eleito, tem dito que encontrou o Estado quebrado e que durante estes três anos o
que fizeram foi resolver essa demanda administrativa e financeira do Estado. Se isso for
conferido, realmente é muito prejudicial. Os investimentos ficam tolhidos. Por isso tenho
esperança de que as finanças estejam redondas agora. Se for assim, a partir do ano que
vem teremos um Estado a toda, com todas as condições de investimento. 

Danin Júnior — A aliança entre PT e PMDB foi aprovada no seu partido por diferença
de um voto na última eleição de Goiânia. Hoje essas diferenças internas no PT estão
superadas? 

Em 2008, quando houve a discussão sobre se deveríamos apoiar o PMDB ou lançar


candidatura própria, com esse voto de diferença, eu continuo achando que o PT errou. O
Movimento Cerrado continua achando que o PT errou. Ele perdeu a oportunidade de jogar
como time e manter sua torcida. O PT se vulnerabilizou naquele momento na Capital, não
significa que se mantenha assim, mas perdeu a chance, tanto que não foi votado para a
legenda. Fizemos o menor número de vereadores na nossa história. 

Danin Júnior — Essa estratégia plebiscitária não tem uma validade, um viés
exclusivamente eleitoral? 

É única e exclusivamente eleitoral. 

Danin Júnior — Mas essa não é uma proposta do PT, do presidente Lula? 

Para o processo eleitoral que o PT participa e protagoniza é importante mostrar o que foi o
governo anterior, até que o PSDB e seus aliados digam qual é o seu projeto para o Brasil. A
única referência que temos é o governo anterior. De qualquer modo haverá um nível de
polarização que irrefutavelmente é do processo eleitoral, não precisa acompanhar governos.
Haverá isso entre essas duas forças políticas, de visões diferentes, de projetos diferentes de
Brasil. 

Danin Júnior — Tucanos e petistas trabalham praticamente em um mesmo plano


ideológico e programático. Para se sustentar no governo precisam abrir mão de
certos preceitos e não se reconhecem como próximos. Fica sempre essa situação
plebiscitária e aguerrida entre os dois. Não está na hora de se repensar isso? 
Eu pensaria em dois aspectos. Quando o PSDB nasceu eu imaginava que poderíamos
caminhar juntos. PSDB e PT acabaram caminhando e acumulando em direções diferentes.
É possível que programaticamente estejamos juntos mais adiante, não acho que isso seja
impossível. Inclusive já ocorreram debates e discussões a respeito entre as legendas. Um
segundo aspecto que gostaria de pinçar é de que é importante que haja oposição. E parece
haver o anseio de alguns setores de anular, de fazer como se fosse um blocão partidário no
Brasil e anular as oposições ou restringi-las a partidos considerados de extrema-esquerda
ou extrema-direita. Isso não é bom para a democracia. É importante que haja equilíbrio, com
partidos fortes nos governos e partidos fortes na oposição. É da essência do nosso processo
democrático, e quando isso não acontece há uma perturbação no processo democrático. Um
perigo muito grande. 

Cezar Santos — Ainda cabe se usar esse linguajar de “direita” e “esquerda”? O PT


está cheio de pessoas que vieram do PMDB, da antiga Arena. Lula tem em Delfim
Netto (ministro em várias pastas nos governos do regime militar) uma espécie de
guru. Dilma Rousseff já disse que precisa conversar mais com Delfim... 

Só no Brasil é que não se fala assim. Até porque só havia o MDB e a Arena durante o
período da ditadura militar, não havia outra opção. Há pessoas que eram que de fato de
outros partidos e aderiram. O PT tem 1 milhão 350 mil filiados. Há pessoas que faziam
política antes do PT e pessoas que não faziam. Pela literatura que temos e pelo que vemos
até na própria imprensa de outros países, quando se vai acompanhar qualquer debate de
candidatura, na América Latina, na Europa, essa visão de esquerda e direita permanece. Dá
o tom de grande parte dos países do mundo e a imprensa repete isso. Quanto ao Delfim
Netto, ele é ouvido por todos. Pode-se não seguir o que o Delfim propõe, mas ele precisa
ser ouvido e tem autoridade para isso. 

Danin Júnior — Hoje o que é à direita e o que é à esquerda no Brasil? 

Aí é que tá. Como é difícil definir isso. Penso, no entanto que o campo da direita no Brasil, e
não é só um campo localizado, está no pensamento das pessoas, na esfera cultural, é
aquele campo em que está assimilado o jogo de poder e o jogo de mercado, a visão de
mundo e de país, considerando as desigualdades sociais como ônus do processo. Parece
que isso não existe mais, mas existe, é real. Por outro lado, os partidos mais a esquerda,
estão na condição com aqueles que querem mudar essa condição das desigualdades
sociais como pressuposto do desenvolvimento. A diferença programática dos dois partidos
se encontra aqui. O Brasil continua sendo um dos mais desiguais do mundo e mesmo com
todas as políticas públicas adotadas na área de desenvolvimento, seja econômico, social ou
ambiental, ainda permanece como um dos mais desiguais. No entanto, o projeto de quem se
coloca no campo à esquerda é de que não se admite as desigualdades como ônus do
desenvolvimento. O avanço do desenvolvimento tem que ter o item econômico, o IDH,
vigilância do IDH, acompanhar uma visão em que é preciso mudar a sociedade. Não só
acabar com a extrema miséria, com a fome, a situação em que crianças vão morar na rua,
mas, sobretudo mudar, superar essa situação em que o capitalismo se encontra hoje. 

Inã Zoé — Os movimentos sociais estão decepcionados com o governo Lula. A


previsão do Incra em 2009 era assentar 2 mil famílias em Goiás. Foram assentadas,
segundo os movimentos, pouco mais de 500, e sem infraestrutura adequada nem
possibilidade de ampliarem a renda. Não conseguem produzir por falta de apoio
técnico e de financiamento. 

Danin Júnior — Há um dado da reforma agrária que indica que 54% dos assentados
haviam passado a terra para frente porque ou já tinham interesse de vender ou não se
sustentavam na atividade. 

Existem casos, e não são poucos, de gente com 40, 50 anos, como no caso de garis e
outros profissionais que trabalham com enxada, esse tipo de instrumento, que sofrem
problema de coluna. Pronto. Terminou a condição de continuar na terra porque ela exige
condições físicas para levar o trabalho. Sobre reforma agrária e outros itens, eu espero que
os movimentos sociais de algum modo sempre estejam insatisfeitos. Movimento social que
pensa menos do que o Estado pode oferecer tende a morrer. Os movimentos têm a tarefa
de fazer fricção nos governos e é isso que desequilibra muitas vezes. Donos de terras têm
advogados bons, dinheiro, assessoramento, todas as condições políticas, inclusive, para
fazer sua pressão. Os movimentos também precisam fazer a pressão. 

Cezar Santos — A sra. vem do movimento estudantil. Como analisa este movimento
hoje, principalmente a UNE (União Nacional dos Estudantes), absolutamente
domesticada aos interesses do partido que está no poder? 

Sempre participo de debates sobre o movimento estudantil e acho que se comete uma
maldade com a juventude que hoje está no ensino médio e nas universidades. A maldade é
a forte lembrança do período de 1964, 1968 e da década de 1980. Aqueles foram períodos
de grande movimentação política, de grande desejo de força, de ir para a rua com
motivações políticas muito fortes, muito intensas. Hoje estamos em um momento
completamente diferente. 

Cezar Santos — Os estudantes perderam as bandeiras? 

Não são as bandeiras para hoje. 

Cezar Santos — Então quais são? 

As bandeiras de hoje são importantíssimas. Estávamos falando da questão de segurança


pública, o investimento em educação, esporte. 

Cezar Santos — Mas não se vê os estudantes brigarem por isso. O ensino brasileiro é
de baixíssima qualidade e mesmo assim eles não brigam para o governo melhorar
isso. 

Porque não há um clamor político na sociedade. Eles são chamados para trabalhar o dia
inteiro, estudar a noite ou vice-versa. 

Cezar Santos — A UNE está totalmente omissa, preocupada em pegar dinheiro federal
para seus eventos. 

Não acompanho tão de perto a UNE, mas vejo a angústia dos estudantes, das lideranças de
DCE. Quando tem clamor a juventude vai para a rua. 

Danin Júnior — Há uma contradição muito grande. Duda Mendonça declarou em uma
CPI que foi procurado por uma pessoa que lhe disse que só seria possível pagar a
campanha feita por ele depositando os 10 milhões cobrados em um paraíso fiscal. No
outro dia não se viu um estudante na rua protestando. No caso do José Roberto
Arruda (governador do Distrito Federal) e a ”compra de panetones” já foi diferente. 

Minha análise é que o movimento de estudantes passa pelas mesmas contradições que os
outros setores passam. Os estudantes têm sensibilidade para questões que chamariam
manifestações de rua, porque estão em época de formação de sua identidade cidadã, sua
identidade política. Hoje há pessoas com 15, 16 anos sendo aprovados no vestibular, aos 21
já está trabalhando. 

Cezar Santos — A sra. não sente certa frustração em relação a isso? Ou como
militante do PT a sra. acha que está bom? 

É preciso repautar. É um esforço que ainda não obteve êxito. Digamos o seguinte, se você
tem 16 anos e está em uma escola de ensino médio ou em uma universidade, qual é o
padrão de comparação que se tem para dizer que tem ou não boa qualidade? É difícil. 

O movimento estudantil precisa dar esse passo. Precisa alcançar essa sensibilidade dos
estudantes para melhorar as escolas e universidades, mudar esse ritmo para exigir
investimentos em esporte, cultura. É incrível o envolvimento de jovens com drogas, que está
extremamente disseminado, tanto drogas legais quanto ilegais. Mas não vou dizer que essa
seja a pauta principal do movimento estudantil, mas procurar perceber o que está levando a
juventude para as mãos do tráfico, e trabalhar essa questão como pauta política é
obrigatório. É preciso repautar, não é decepcionante nem auspicioso. Não se pode esperar
que esse seja um movimento igual da década de 1960 e 1980 porque não será. 

Danin Júnior — Então o governo Lula circula fora dessa visão de esquerda. Ele aposta
em uma economia de mercado capaz de, como outros países capitalistas pensam,
tentar resolver o problema social pelos mecanismos do mercado, ou seja, criando
empregos, melhorando salários. O que se gasta com programas sociais, que seriam
as ações diretas desses tipos de problemas, representam 1% do que se gasta com o
serviço da dívida. Esse é segundo a visão da esquerda tradicional o grande lastro
imperialista, da visão de direita sobre os países em desenvolvimento. 

Estamos conversando sobre visões de partidos políticos. O PT na minha visão é um partido


de esquerda. O que ele faz é protagonizar um conjunto de forças políticas dentro de um
governo, um país capitalista que tem uma pauta macroeconômica, uma pauta de relações
internacionais, e que faz o avanço possível dentro de um estágio de governo. O que é
possível dentro de um governo de oito anos, por exemplo, o governo Lula tem feito. Não há
que se pensar que nessa composição do Congresso Nacional, nessa visão da sociedade
ainda com os marcos que temos das desigualdades sociais, nessa situação de mercado que
temos no mundo, não há que se pensar que a reforma agrária, por exemplo, ocorra do dia
para a noite. Nem em 10 anos nem 20 anos em um país atrasado como o nosso nesse item.
As respostas são institucionais, elas não são autoritárias, elas merecem um tempo, têm
processamento essas respostas. O Brasil optou corretamente após o período militar por um
processo de democracia, de incorporação de valores democráticos, e ao mesmo tempo com
esse respeito, com esse caminho que estamos levando hoje, operar as políticas públicas na
medida do possível. Os EUA fizeram a reforma agrária há um século e meio, todos os
países fizeram reforma agrária quando quiseram se desenvolver. Até a ilha de Taiwan
quando se “independizou” da China continental, um país capitalista, portanto, quais foram as
primeiras medidas que tomou? Uma delas foi a reforma agrária. Estou dizendo um termo
que às vezes assusta uma porção de gente até hoje, mas é importante. O Brasil não fez
(reforma agrária) ao longo de seus 500 anos. 

Danin Júnior — E a sra. acredita que ainda vai fazer? 

Vai acontecendo de forma diferente do pensado originalmente. Fui advogada de lavradores


em área de conflito durante cinco anos e o primeiro passo que eles tomaram em uma área
em que assessorei, foi montar uma escola. Essa escola era a melhor da cidade de Goiás.
São questões às vezes não consideradas, mas isso faz parte do projeto de reforma agrária e
há coisas maravilhosas acontecendo. A Universidade Federal de Goiás lançou em conjunto
com ministérios um curso de pedagogia específico para professores de assentamentos. São
coisas que às vezes não têm muita visibilidade, mas vão consolidando uma visão. 

Danin Júnior — Acredita-se que o projeto da ministra-candidata Dilma Rousseff tende


a ser mais estatizante do que o do presidente Lula. A sra. é a favor de uma presença
maior do Estado? Isso dá certo, não é uma armadilha? 

No que tange a Dilma, a Lula e ao PT é uma falsa premissa ser mais ou menos estadista.
Para Lula e Dilma não se aplica. A visão que nós temos não é de estatizar tudo nem de
vender tudo. Cada caso cabe uma análise própria. O Banco do Brasil, a Caixa Econômica
Federal e a Petrobrás não podem ser vendidos. 

Danin Júnior — O problema não é se vão vender ou privatizar. A questão é que estão
estatizando mesmo. FHC não vendeu Banco do Brasil, nem Caixa nem Petrobrás, mas
privatizou, por exemplo, a área de prospecção da Petrobrás, o que concedeu capital
ao País para achar o pré-sal. E agora que se acha o pré-sal quer se mudar as regras,
tornar mais estatizador o processo de exploração. Isso não vai atravancar o País? 

É importante que o Estado tenha possibilidades de orientar o desenvolvimento do País. Para


que ele tenha essa possibilidade precisa de âncoras. Isso que foi desenhado é real, está no
Congresso Nacional o debate sobre o pré-sal. Aliás, é o debate mais movimentado nesse
período, não foi feito de forma autoritária, é um projeto relacionado com o futuro do Brasil.
Está em debate no lugar certo, no Congresso, na imprensa, com a sociedade. Isso não é
clausula pétrea. 

Danin Júnior — A Petrobrás é uma caixa preta e a Petro-sal também será. O governo
não deixa investigar direito as contas. 

A área de petróleo é delicada, de energia, estratégica do País. Tem um tratamento


diferenciado. Voltando a Dilma, ela tem sensibilidade percepção disso, aliás, essa é a área
de estudo dela. 

Danin Júnior — Dilma se filiou recentemente ao PT. Os militantes mais antigos já se


adaptaram a essa cristã nova? 

A Dilma passava incolumemente nos encontros do PT. Não que ela não possa ter talentos
para participar do grande debate, mas por causa do projeto que ela se dispunha a levar em
frente. Por sinal com muita competência, tanto que logo no começo do governo foi alçada a
condição de ministra. Ninguém chega a ministra naquelas condições, numa área dessas,
sem absoluta confiança do presidente da República e das forças próximas. Ela foi apoiada
pelo PT para aonde foi. Num momento em que se precisava de novas pessoas para assumir
posições políticas e administrativas estratégicas do governo, ela foi alçada a essa condição.
Para as lideranças petistas que não são do Rio Grande do Sul, para as que não atuaram na
elaboração final dos programas de governo do Lula, das campanhas anteriores, Dilma era
uma pessoa conhecida, mas com lugar discreto dentro do PT. A partir do momento que Lula
sugeriu o nome dela — e tem gente que pensa que ele impôs, mas isso não é verdade —,
ele apresentou para a apreciação do partido e foi bem recebido, ela já estava acumulando
condições para fazer esse rito de passagem que está fazendo neste momento. Ela está se
movendo dentro dessa realidade e acredito que boa parte do PT tem boa expectativa sobre
isso. O respeito dos petistas ela já tem. 

Danin Júnior — O partido já assimilou bem? 

Ela teve um encontro no fim de semana com a juventude do PT. A notícia que temos do
ministro Alexandre Padilha é de que o encontro foi muito legal, muito favorável e que ela
saiu aplaudida e bem posicionada nessa alegria da juventude. 

Danin Júnior — Dizem que Lula tem Meirelles como o vice dos sonhos. O vice ideal
que o PMDB não quer. O que a sra. acha disso? 

Não sei se é o vice dos sonhos. Entendo que Lula está fazendo com isso uma sinalização da
importância de Meirelles dentro da orientação do próximo governo em acordo com a Dilma.
O PMDB é grande, tem uma presença enorme, não só no Congresso, mas nos Estados.
Tem organicidade, enraizamento na cultura política e no número de votos que representa.
Com certeza o PMDB vai escolher alguém que, além de colaborar com esse nível de
composição, ofereça à chapa o respaldo eleitoral necessário. Me lembro bem na campanha
de 2002, quando fui candidata a governadora, e Lula foi eleito. Em algumas ausências do
Lula, a presença do José Alencar foi muito importante. Ele era desconhecido da maioria da
sociedade, no entanto, onde chegava logo ganhava apoio, autoridade e simpatia das
pessoas. Ele se posicionava como grande empresário membro de uma chapa puxada por
um operário e ele sempre falou e valorizou isso. Essa composição de uma boa chapa, de
uma candidatura de cabeça de chapa e de vice que se entendam bem e somem em todos
os lugares onde estiverem é muito importante.

Jornal Opção 14 de fevereiro de 2010-02-14

http://www.jornalopcao.com.br/

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