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DST/aids em BH
Novidades e balanço
mundial da epidemia
Saúde do idoso
Fase de conquistas
numa área essencial
N º 53 • Janeiro de 20 07
Reforma Sanitária Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
Militantes históricos Rio de Janeiro, RJ • 21040-361
de volta ao ativismo
w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s
Controle social
A saúde pública começa a manejar
melhor esta ferramenta democrática
Em 1982, o apreço pela
informação em saúde
este 2007, o RADIS completa 25 anos
N de trajetória pioneira e ininterrupta
de comunicação em saúde. Um jubileu de
prata com muita dedicação: 88 edições da
antiga Súmula, 23 da Tema, 20 da Dados,
36 do jornal Proposta e, agora, com cinco
anos e meio de existência, 53 edições da
revista Radis.
Diz o ditado que filho bonito (mo-
destamente...) tem muitos pais. Com o RADIS não é di-
ferente. O idealizador e criador do programa, contudo, é
o economista-sanitarista e escritor Sergio Goes de Paula,
que aqui conta aos leitores como surgiu a idéia do projeto
e de suas publicações.
Em julho de 1982, aos 37 anos, Sérgio era professor
do Departamento de Ciências Sociais da Ensp/Fiocruz, e
sentia que seus alunos precisavam continuar informados
quando voltassem aos postos de origem. Daí a criação do
RADIS: eles recebiam em casa Súmula, Tema e Dados, numa
época em que “a política de informação em saúde não tinha
destaque nem valor”, diz.
Hoje, aos 61, coordenador de Assuntos Estratégicos de
Farmanguinhos, unidade da Fiocruz que produz medicamen-
tos, fala da pessoa que viabilizou os recursos para o projeto:
Mozart de Abreu e Lima, um dos mentores do Instituto Nacio-
nal de Controle e Qualidade em Saúde (INCQS), formatador
da logística dos dias nacionais de vacinação no Brasil — um
modelo internacional. O RADIS agradece a ambos.
Almanaque
para conselheiros Comunicação e Saúde
• Em 1982, o apreço pela informação
em saúde 2
partir deste número, a revista aspectos e debates interessantes sobre
A Radis será enviada mensalmente a
cada um dos 5.585 conselhos estaduais
o tema nas 10 páginas de nossa primeira
matéria com o selo Rumo à 13a Con-
Editorial
• Almanaque para conselheiros 3
e municipais de saúde do país, com ferência Nacional de Saúde, marcada
ampliação de tiragem patrocinada para dezembro de 2007. Cartum 3
pela Secretaria de Gestão Estratégica Nas demais reportagens e ar-
e Participativa do Ministério da Saú- tigos, o estado da arte da Reforma
Cartas 4
de. Para o aperfeiçoamento de nossa Sanitária, na visão de alguns de seus
mala direta, contamos com o retorno defensores históricos, da prevenção
dos conselheiros informando qualquer à aids e demais doenças sexualmente
dificuldade no recebimento. transmissíveis, que mostra mulheres
Esta edição de janeiro parece e pobres cada vez mais atingidos pela
aqueles deveres de casa, que antiga- doença que ameaça a todos, e da luta Súmula 6
mente as professoras passavam aos pela dignidade e pelos direitos dos
alunos quando entravam de férias. idosos, em matéria que a revista Radis Toques da Redação 11
Volumosa, diversificada e densa — nor- devia aos leitores desde a Conferência
malmente a revista tem 20 páginas Nacional da Saúde do Idoso, que infe-
—, esta é quase um almanaque de in- lizmente não pudemos cobrir. Na seção Controle social
formações sobre saúde. Não qualquer Pós-Tudo, artigo sobre a obesidade • A gestão autoritária cede espaço, pouco
saúde, mas aquela de sentido amplo, dos brasileiros, socialmente produzida a pouco, à práxis democrática 12
politizado, saúde coletiva. pelo mercado e pela mídia. • Radis adverte 18
Nosso assunto principal é o Con- Este mês, o idealizador do Progra- • Entrevista: Francisco Batista Júnior
trole Social, tema que nossos novos ma RADIS nos confidenciou que nunca “O controle social é um projeto em
leitores, os conselheiros, dominam e imaginou que o projeto seguiria ativo construção” 20
praticam. Mas nunca é demais lembrar por tanto tempo. Nessa primeira revis-
que para a Saúde Pública a expressão ta de 2007, quando o RADIS completa
controle social assume o significado 25 anos de atividade, é com o maior
nobre de “ação organizada dos diversos prazer que trazemos uma pequena mas
segmentos da população na formulação afetiva entrevista com Sergio Goes. 6º Congresso Brasileiro de Prevenção
das políticas e na decisão pública”, Começando pela página ao lado, tenha das DST e Aids
diferentemente do tradicional conceito uma boa leitura. • Feminização e pauperização, os
das ciências sociais, de sentido contrá- desafios da prevenção 22
rio, o de controle sobre a sociedade Rogério Lannes Rocha • Entrevista: Mariângela Simão
exercido pelo Estado. São muitos os Coordenador do Programa RADIS “É preciso entender que todos nós que
temos vida sexual ativa podemos contrair
o vírus” 26
Doutor,
a gente quer
nosso filho com
a cara do
tio sam. Debates na Ensp/Fiocruz — Reforma Sanitária
• A saúde na política e a política na saúde 30
Serviço 34
Pós-Tudo
• Obesidade: consumo e produção 35
cartas
PSF E EQUIPE MÍNIMA que no município no qual estou traba- DOUTRINA DO SUS
lhando foi implantado recentemente o
PSF, e ainda estamos em fase de mu- ostaria de ver debatido o assunto
danças, reestruturações para melhor
nos adequarmos e também porque
G “doutrina do SUS”, pois acredito
que sem entendimento da filosofia do
sempre há algo novo para implantar sistema seja muito difícil aplicá-lo.
ou algo a modificar para melhorar e Principalmente no interior do Bra-
qualificar o serviço. O PSF conta com sil, não são respeitadas as mínimas
uma rede de apoio na Unidade Básica condições de aplicação do sistema,
de Saúde: pediatra, ginecologista, sendo o PSF visto como fonte de
assistente social, nutricionista (ambos renda para o município.
de forma itinerante). E também há uma • Marco Antônio Andrade de Sousa,
rede de serviços no município, como médico, Almenara, MG
Centro de Reabilitação e Fisioterapia,
Centro de Atendimento Psicossocial Caro Marco, temos matéria sobre
(CAP) adulto e infantil, Centro de o assunto na página 32.
Especialidades Odontológicas e Clínica
de Especialidades. Na unidade em que CAOS EM ITABUNA
trabalho ainda contamos com uma
auxiliar administrativa, e o dentista preciso falar que a saúde de Ita-
também compõe a equipe. O
município localiza-se em Mi-
É buna (município-sede da 7ª Dires)
está um CAOS. O pronto-socorro da
nas Gerais, próximo a Belo Santa Casa fechou, o Hospital de Base
Horizonte (40 minutos), e demitiu mais de 40 funcionários e
ou leitora da revista tem aproximadamente 42 trabalha sem material mínimo (luva
S Radis e, após ler a
matéria "Equipe mínima,
mil habitantes.
Gostaria de parabenizá-
de procedimento é um luxo!). Tudo
isso porque a Prefeitura não repassa
dilemas e respostas" (Radis los pela matéria e pedir que as verbas, dizem que o dinheiro de
51), de novembro de 2006, enfatizem mais e sempre o PSF. alguns meses simplesmente sumiu
resolvi enviar este e-mail para informar • Fabiana Machado, Itabirito, MG e ninguém faz nada para protestar
contra o "coroné".
É um absurdo, as unidades básicas
de saúde estão abrindo nos fins de
expediente semana para atender as emergências
— já que o PS da Santa Casa fechou por
falta de repasse das verbas. Só que não
Edição Marinilda Carvalho
Reportagem Katia Machado (subeditora),
há a mínima condição. Não há material
Adriano De Lavor e Bruno Camarinha para curativo, nem sequer medicação
Dominguez para dor. As unidades ficam ligando
Arte Aristides Dutra (subeditor) e Cassia- uma para a outra para ver quem tem
RADIS é uma publicação impressa e on- no Pinheiro (estágio supervisionado) diclofenaco “pra arrumar".
line da Fundação Oswaldo Cruz, editada Documentação Jorge Ricardo Pereira,
pelo Programa RADIS (Reunião, Análise e Como eu sei disso? Sou gradu-
Laïs Tavares e Sandra Suzano
Difusão de In for ma ção so bre Saú de), ando de Enfermagem da Uesc. Estou
Secretaria e Administração Onésimo
da Es co la Na ci o nal de Saú de Pú bli ca cansado dessa situação caótica da
Gouvêa, Fábio Renato Lucas, Cícero
Sergio Arouca (Ensp). saúde de Itabuna. O Ministério Pú-
Carneiro e Mariane Gonzaga Viana
Periodicidade mensal (estágio supervisionado) blico acabou de fazer uma auditoria
Tiragem 56.000 exemplares Informática Osvaldo José Filho e Mario (ou brincou de fazer), mas não vi ne-
Assinatura grátis Cesar G. F. Júnior (estágio supervi- nhuma atitude ser tomada. Alguém
(sujeita à ampliação do cadastro) sionado)
Endereço
tem de fazer alguma coisa! Colo-
Presidente da Fiocruz Paulo Buss
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos quem isso na Radis. Sou assinante,
Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361 essa revista é o máximo.
Ouvidoria Fiocruz Tel. (21) 3882-9118 • Gefferson Santos Almeida, estudan-
Telefax (21) 3885-1762 Fax (21) 3882-9119
Site www.fiocruz.br/ouvidoria te, Itajuípe, BA
E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
PROGRAMA RADIS Site www.ensp.fiocruz.br/radis ESPECIAL ABRASCÃO
Coordenação Rogério Lannes Rocha Impressão
Subcoordenação Justa Helena Franco Ediouro Gráfica e Editora Ltda.
uero parabenizar toda a equi-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis
pode ser livremente utilizado e reproduzido em
responsáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos
aos veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo
Q pe da Radis, em especial pela
edição primorosa do número 50. Um
qualquer meio de comunicação impresso, radiofôni- de nossas publicações que enviem para o Radis um trabalho dificílimo de manter, sabe-
co, televisivo e eletrônico, desde que acompanhado exemplar da publicação em que a menção ocorre, as
dos créditos gerais e da assinatura dos jornalistas referências da reprodução ou a URL da Web. mos disso, e eu, como um dos 50 mil
RADIS 53 • JAN/2007
[ 5 ]
leitores, me sinto muito agradecido implantação nos municípios conforme Saibam que estão contribuindo de-
por fazer parte dessa comunidade. determina a Lei 8.080/90. masiadamente para este país e para
A nota na Súmula sobre o diclofe- Só que a lei foi rejeitada em minha formação profissional.
naco (muito usado pela população) 16 e 23/10 por cinco vereadores • Juliana Rodrigues Miranda, Guaçuí, ES
e a magnífica reportagem sobre os e aprovada por apenas três, cujos
reflexos da globalização nas políticas nomes faço questão de citar: Artur
sociais bem demonstram o porquê do Teixeira Rabelo, Alair Antônio Borges ou enfermeira do PSF. Gostaria de
sucesso da revista.
• Sidnei Nobre da Silva, zootecnista,
e José Maria Domingos.
Quero manifestar aqui minha
S agradecer por estar recebendo a
Radis em minha casa. É uma alegria
Rio de Janeiro indignação com esse resultado, quando ela chega. E já tem contribuído
pois os vereadores que a reprova- muito para minha vida profissional.
ram, tenho certeza, não basearam • Rachel de Sousa Pinho, Fortaleza
tal atitude no conhecimento, ou a
rejeitaram por questões políticas.
Só que saúde coletiva não deve ser ou fã incondicional da revista, a qual
encarada como questão partidária
ou eleitoreira, mas sim de forma
S é fundamental para nós, gestores. Por
abordar assuntos de nossa realidade,
respeitosa e responsável. colaborando na elucidação de problemas
Quero solicitar que nas próxi- enfrentados diariamente.
mas edições seja publicada matéria • Ivete Maria Lorenzi, secretária munici-
voltada para o poder legislativo mu- pal de Saúde de Chopinzinho, PR
nicipal, explicando o que é Vigilância
Sanitária e as conseqüências que ela PRÁTICAS INTEGRATIVAS DE SAÚDE
acarreta à saúde coletiva dos muní-
cipes. E, se for possível, que enviem ostaríamos de sugerir aos editores
mensalmente à Câmara Municipal um
exemplar da revista para que os vere-
G desta prestigiosa revista a inclu-
são de uma matéria sobre a Política
adores saibam como caminha a saúde Nacional de Práticas Integrativas de
no Brasil e possam tomar decisões Saúde, que vem sofrendo investidas
sensatas e fundamentadas em prol de da corporação médica e demais inte-
uma melhor saúde coletiva. ressados na manutenção da hegemonia
• Priscila Rabelo, Japaraíba, MG da lógica da “doença”.
O precedente brasileiro de uma
Cara leitora, na edição de fevereiro política pública para implementar
iquei muito feliz em ser pre- teremos cobertura do 3º Simpósio outras racionalidades médicas é
F senteado com a Radis n° 50
e de ter contribuído para que se
Brasileiro de Vigilância Sanitária. E
cadastraremos a Câmara Municipal.
um risco para os grandes interesses
econômicos que estão envolvidos
chegasse aos 50 mil leitores. E não neste setor. Neste sentido, só com a
poderia ser melhor. Ter recebido RADIS AGRADECE mobilização da população interessada
o "Especial Abrascão" foi como se poderemos contribuir para reforçar
eu tivesse participado de todos os ostaria de agradecer a todos os a perspectiva democrática desta ini-
debates do congresso. Parabenizo
a equipe da Radis por mais essa ex-
G envolvidos na edição da revista
Radis que, a cada número, me sur-
ciativa ministerial — passo necessário
para eliminação da iniqüidade presen-
celente cobertura de informação. preende com suas excelentes repor- te neste campo dos direitos à saúde.
A n° 50 estava 1.000. E como não tagens de qualidade e que tanto vêm É relevante considerar que não se
quero ficar de fora de todo esse a contribuir com o nosso dia-a-dia de trata apenas de garantir o direito
processo histórico-informativo, enfermeiro. Parabéns a todos. de opção terapêutica mas, funda-
gostaria de continuar tendo acesso • Ildineia Batista de Faria, enfermeira, mentalmente, de garantir o direito à
às informações da Radis. Parabéns Bom Jesus do Itabapoana, RJ diferença, de assegurar o direito de
e felicidade a todos. se ser minoria. Este tem sido o en-
• Dilermando Mota Sales, Belém foque de nosso trabalho quando nos
ou conselheira de Saúde e num referimos ao caráter democratizante
DECEPÇÃO EM JAPARAÍBA S evento ganhei algumas edições da
Radis. Fiquei encantada com todo o
desta política de direitos.
Certamente que sob este ponto
nicialmente quero parabenizar pelo conhecimento que adquiri. Está próxi- de vista, esta questão já poderia ter
I excelente conteúdo da revista. Sou
chefe do Departamento Municipal de
mo ao Natal e pode acreditar, ela foi
meu Papai Noel. Obrigada.
sido levantada e o debate ampliado.
No entanto, só após a publicação da
Saúde de Japaraíba (MG) e estudan- • Sonia Regina Cavalcanti Cardoso, PNPIC e da necessidade de defendê-
te do 4º período de Enfermagem da Juiz de Fora, MG la dos ataques é que aprofundamos
Unipac/Bom Despacho. Em agosto de as reflexões que nos levaram a per-
2006 enviamos à Câmara Municipal a ceber esta questão como um regime
legislação que criava a Vigilância Sani- lá, quero agradecer e parabe- de exclusão de direitos que afeta
tária no município. Fizemos excelente
campanha em parceria com o Conse-
O nizar a todos que fazem parte
da produção desta revista. Estava
interessados, usuários, estudantes,
profissionais, simpatizantes etc.
lho Municipal de Saúde, mostramos muito ansiosa para recebê-la e agora A grande maioria da população
a importância da ViSa e falamos da chegou o meu segundo exemplar. e dos formadores de opinião não tem
necessidade e obrigatoriedade de sua Quero agradecer a todos vocês. ciência das implicações da PNPIC
RADIS 53 • JAN/2007
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Essa fast-food recheada de somente em doadores sadios. Compa- Lei 4.699/04, do ex-deputado Ivan
gordura trans está presente no dia- radas, foram descobertos os biomarca- Paixão, que prevê a notificação com-
a-dia das populações das grandes dores, ou seja, as proteínas que podem pulsória dos casos de violência pela
cidades, e tem papel relevante no definir um portador da doença ou não. rede de saúde pública. O objetivo é
conjunto de fatores de risco não só A descoberta pode auxiliar os espe- combater a violência contra crianças
para as doenças coronarianas, mas cialistas a evitarem as fases agudas e mulheres. A legislação brasileira
também para o câncer (Radis 51). da doença. O trabalho foi publicado não estabelece procedimentos para
Por sua vez, o Instituto para Pes- na revista americana Biochimica et atendimento nos prontos-socorros às
quisa Biomédica e Farmacêutica, de Biophysica Acta (BBA, v. 1764). vítimas de abuso e violência física.
Nuremberg, na Alemanha, analisou a Os profissionais de saúde têm papel
água dos rios de 24 cidades da Europa importante no combate à violência,
e dos Estados Unidos para descobrir VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, NOVA CAMPANHA pois estão em contato direto com as
o tamanho do mercado de cocaína. O vítimas, afirmou o autor. “Além da
resultado da pesquisa fez da cidade devida ação profissional, eles podem
de Nova York a campeã mundial: 16,4 contribuir para a apuração do crime
toneladas da droga são consumidas e a punição dos responsáveis.”
por ano, contra as 2 toneladas das Texto substitutivo do relator,
estimativas oficiais, que se baseiam deputado Guilherme Menezes (PT-BA),
nas apreensões no estado de Nova enumerou os principais elementos que
York. O segundo lugar ficou com a devem constar da notificação, como
pequena Miranda de Ebro, no norte relato médico sobre as condições da
da Espanha — porta de entrada do vítima, descrição detalhada das ca-
narcotráfico na Europa. racterísticas e gravidade das lesões.
Os alemães pesquisaram a con- A identidade do profissional de saúde
centração da benzoilecgonina nas deve ser, sempre que possível, preser-
chamadas águas servidas a partir de vada, para evitar-se qualquer atitude
amostras coletadas entre quinta-fei- de vingança por parte do agressor.
ra e sábado — para evitar variações A proposta tramita em caráter
de fim de semana, quando o uso da conclusivo, mas ainda será analisada
droga é reconhecidamente maior. O pela Comissão de Constituição e Justi-
estudo tem o mérito de identificar, ça e de Cidadania da Câmara.
pela primeira vez com um método
científico, como o consumo da dro- Organização Pan-Americana de
ga é distribuído ao redor do globo.
Tradicionalmente, diz a Veja, a
A Saúde (Opas/OMS) lançou em 21
de novembro, Dia Internacional pela
CORRUPÇÃO E TEMPERO SENSACIONALISTA
contas de governos e instituições, vem 400 milhões de pessoas no planeta e lhante à média da China; os ricos
lançando relatórios periódicos sobre o mata 1 milhão por ano. O objetivo da experimentaram crescimento no
tema. No de fevereiro de 2006, afirma-se iniciativa é orientar políticas públicas. nível da Costa do Marfim, na África.
que os sistemas de saúde são vulneráveis O mapa foi lançado em maio, mas em 5 A comparação é de Ricardo Paes
à corrupção seja qual for o país. de dezembro os responsáveis publicaram de Barros, especialista em política
Procurado pela Radis, o Ministério artigo sobre a nova ferramenta na PLoS social do Instituto de Pesquisa Eco-
da Saúde confirmou que recebeu cor- Medicine, periódico da Public Library of nômica Aplicada (Ipea). “Para que
respondência da OMS. Mas a assessoria Science, informou a Agência Fapesp. as desigualdades sejam reduzidas,
de imprensa da Organização Pan-Ame- O mapa, sempre atualizado, asso- o crescimento dos ricos tem que
ricana da Saúde, braço da OMS nas cia dados coletados por pesquisadores ser menor”, disse ele no seminário
Américas, nega que se pretenda co- locais, convocados ao longo de 2006 internacional “O desafio da redução
meçar as ações do projeto pelo Brasil. a colaborar com os organizadores, a da desigualdade e da pobreza”, em
Em texto enviado à redação da Radis, mapas do Google Earth (http://earth. novembro. “Daí a sensação deles de
o assessor Carlos Wilson de Andrade google.com/), de fotografia por saté- que o país está estagnado”.
Filho confirmou que a OMS promoveu lite. O Projeto Atlas da Malária (MAP, Segundo a Agência Carta Maior,
em Genebra a reunião “Transparency sigla em inglês) é fruto da associação Paes de Barros informou que o incre-
in medicines regulation and procure- entre o Grupo de Epidemiologia e mento da renda per capita tem atingido
ment”, onde se discutiu uma meto- Ecologia Espacial da Universidade de a média de 1% ao ano para o conjunto
dologia, “ainda em desenvolvimento, Oxford, na Inglaterra, e o Centro de da população. “Para a metade mais
portanto, não-certificada”, de avalia- Medicina Geográfica, no Quênia. pobre, o crescimento foi de 3,7% ao
ção da vulnerabilidade dos sistemas de Segundo os coordenadores, Simon ano. Para os 20% mais pobres, 6%; e
regulação e compra de medicamentos Hay e Robert Snow, os dados sobre a de impressionantes 8% ao ano para o
e práticas antiéticas e corrupção. malária no mundo não são nada confi- segmento dos 10% mais pobres”.
Nega, porém, que a avaliação áveis. O Quênia, por exemplo, região Para alcançar o nível médio
começará pelo governo brasileiro: de grande incidência, registrou apenas de desigualdade do conjunto dos
“Essa metodologia já foi testada 135 mortes por malária em 2002. O países em desenvolvimento, será
em 8 países da Ásia e em nenhum projeto é financiado pelo fundo de necessário que o Brasil siga no mes-
momento foi citado pelos nossos pesquisa médica Wellcome Trust, do mo ritmo de redução nos próximos
consultores que haja qualquer apli- Reino Unido, e o site, em inglês, com 25 anos. Paes de Barros afirma que
cação prevista no Brasil”. versões em espanhol e francês e alguns o caminho está traçado: o canal de
textos em português, fica no endere- relacionamento entre o Estado e a
ço www.map.ox.ac.uk/index.htm/. parte mais pobre da população já foi
A MALÁRIA NO MUNDO criado e consolidado com o cadastro
único do Bolsa-Família, e agora é
uarenta anos depois do primeiro FIM DA DESIGUALDADE: MAIS 25 necessário agregar outras políticas
Q mapeamento da malária no mun-
do, pesquisadores britânicos lançaram ara a parcela mais pobre da
ANOS
sociais, além de eleger prioridades.
“O Bolsa-Família veio para ficar.
um mapa na internet das regiões com
alto risco para a doença, que infecta
P população brasileira, o aumento
de renda per capita tem sido seme-
Transitória é a permanência da fa-
mília no programa”.
Pesquisa e ano
1985-1989
1990-1994
1995-1999
2000-2006
dirigir-se à delegacia, talvez sem saber, invasão de suas terras. Ele avisou à Funai
postulou em nome de todas nós, mulhe- que “eventuais atos atentatórios da posse
res, o direito de um viver um pouco mais da ré pelos silvícolas” poderá importar
digno”. O comentário está no blog de na revogação da liminar ou no bloqueio
MOMENTO SIMBRAVISA I — No 3º Simpó- Andréa Sá, ativista de direitos humanos dos depósitos judiciais”. Ou seja, se os
sio Brasileiro de Vigilância Sanitária, em (www.diversosdireitos.blogspot.com/). índios invadirem de novo, perdem o
Florianópolis, a painelista Márcia Martins dinheiro. Para quem não lembra: nota
Campos, do Pará, disse à platéia: “Se CABELO “BOM” E PASSADO ESCRAVISTA na Radis 52 informava que a Vale acusou
eu perguntar quem aqui trabalharia em — “A situação fica ainda mais complicada o governo de não ter "projetos estrutu-
Oriximiná, quantos de vocês levantariam quando, além de ‘não se encaixar no per- rantes" para as populações indígenas,
a mão?” Pois 60% dos presentes levanta- fil perfeito’, você ainda passa boa parte que por isso invadem as propriedades da
ram. “Falar é fácil, difícil é ficar: está a de sua vida escutando que seu cabelo empresa e causam grande prejuízo.
quatro dias de barco de Belém, tem 54 não é ‘bom’. A cultura do tal ‘cabelo Os xicrins invadiram porque que-
mil habitantes distribuídos em 109.122 bom’ tomou conta da sociedade de tal riam aumento do repasse. A Vale alegou
km², não há cinema. Mas academia de forma que o ‘ideal’ no imaginário são que paga aos índios por pura vontade de
ginástica já chegou por lá.” madeixas compridas, impecavelmente ajudar, já que não teria tal obrigação.
lisas, que balançam ao vento. Essa visão O juiz de Marabá disse que tem, sim: a
MOMENTO SIMBRAVISA II — Uma das de ‘beleza’ tem origem no passado escra- União concedeu em 1986 à então esta-
palestras mais impactantes do 3º Simbra- vista e nas relações de dominação que se tal CVRD direito real de uso de 411 mil
visa foi a de Raquel Ribeiro Bittencourt, desenvolveram como conseqüência disso. hectares para exploração de ferro em
diretora de VISA de Santa Catarina, que ‘O cabelo do negro, visto como ruim, é Carajás, “cabendo-lhe sua preservação”
falou sobre “Isto é Vigilância Sanitária?”. expressão do racismo e da desigualdade e também "o amparo das populações in-
Ela contou que inspecionou 31 presídios racial que recai sobre esse sujeito. É dígenas". O juiz lembrou que no terceiro
do estado a pedido do Ministério Público, expressão do conflito racial vivido por trimestre de 2006 a Vale teve receita
e constatou que a maioria estava em negros e brancos no Brasil’, revela Nilma bruta de R$ 11,6 bilhões, novo recorde
desacordo com as normas, da cozinha ao Lino Gomes, coordenadora do Programa trimestral, 28,8% acima de 2005, e lucro
refeitório, da lavanderia ao almoxarifado; Ações Afirmativas e professora da Fa- líquido recorde de R$ 4 bilhões. Diante
17 não tinham pátio para sol, 7 não tinham culdade de Educação da Universidade desses números, disse o juiz, a empresa
abastecimento próprio de água, 86% não Federal de Minas Gerais.” não só deve, como pode ajudar.
contavam com assistência à saúde. Trecho de “‘Ruim’ que nada, O busílis da questão indígena pa-
A VISA tem poder para interditar cabelo bonito é o seu”, da jornalista rece ser um só: os indígenas nunca são
estabelecimentos em desacordo, mas Jamile Chequer, matéria de capa da consultados. É o que pensa, segundo a
como fechar um presídio? Raquel entre- edição nº 138 do Jornal da Cidadania, revista ComCiência (www.comciencia.br),
gou seu relatório ao MP e à Secretaria de de 28/11/2006 (íntegra em www. Ricardo Verdum, assessor de Políticas
Segurança, e também um manual com ibase.org.br/modules.php?name= Indígena e Socioambiental do Instituto
orientações. Segundo ela, esta é uma Conteudo&pid=1583). de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
área pouco trabalhada, embora já nor- Ele comentou o anteprojeto de Lei de
matizada, exigindo ações interssetoriais. “EXPROPRIAÇÃO ORGANIZADA” — O juiz Mineração em Terras Indígenas, que
E comentou: “Nós, brasileiros, temos federal Carlos Henrique Borlido Haddad, tramita no Congresso. “A ausência no
atitudes hipócritas quanto a temas polê- da Subseção de Marabá (PA), concedeu no texto das noções de participação e con-
micos. Dizemos que somos contra a pena dia 4/12 liminar que obriga a Companhia trole social indígenas torna evidente a
de morte, mas fechamos os olhos para a Vale do Rio Doce (CVRD) a restabelecer preocupação mercantil e arrecadadora
situação nos presídios. E não podemos o repasse mensal de R$ 569.915,89 aos da iniciativa”, o que poderá “confi-
deixar de nos importar.” A cobertura do índios xicrins (R$ 243.578,29 para os gurar uma expropriação organizada,
3º Simbravisa estará na Radis 54. xicrins do Cateté e R$ 353.337,60 para na prática, de territórios e riquezas
os do Djudjecô), que suspendeu após a indígenas”. Simples assim.
UMA LUZ NA BAHIA — O jornal A Tarde,
de Salvador, noticiou que a polícia de
Madre de Deus, no interior da Bahia,
prendeu dois estupradores. Até aí nada As mineradorAs
demais. A questão é que a vítima era já têm seu "projeto
uma garota de programa, categoria que estruturante" de
costuma ser desrespeitada pela própria expropriação das
polícia. Pois o delegado não só ouviu a nossas terras.
queixosa com todo o respeito, como cor-
reu atrás e prendeu a dupla de bandidos.
“Parabéns a todos os outros delegados
que assim procedem todos os dias e
não saem nos jornais. (...) Esta mulher
corajosa soube se fazer respeitar e, ao
RADIS 53 • JAN/2007
[ 12 ]
Controle Social
A gestão
autoritária
cede
espaço,
pouco
a pouco, à práxis
democrática
sociedade. Historicamente, afirma, dores de deficiência e patologia (12%) uma vez uma movimentação para ter
existe a preocupação de reduzi-la, ou grupos religiosos (9%). Um ponto o direito de entregar um abaixo-as-
limitando a presença de gestores nos positivo é que a maioria permite a sinado”, lembra, sem saudosismo do
postos de liderança ou a participação presença da comunidade nas reuniões, período em que os defensores da saúde
de entidades empresariais e de médi- garantindo-lhe direito a voz. Mas há se organizavam para o confronto, pois
cos. O que, segundo a socióloga, tem quem se queixe de que os conselhos não havia possibilidade de diálogo.
um lado bom, mas também um ruim: não garantem a participação efetiva “A luta foi tão vitoriosa que o Estado
“Quando o gestor não é o presidente, dos movimentos sociais. acabou abrindo poros oficiais,
corre-se o risco de ele não se com- “Já é pedir demais...”, brinca So- espaços de presença permanen-
prometer com as questões que estão raya. E propõe uma reflexão: “O proble- te e institucional dos diversos
sendo decididas ali”, exemplifi ca. ma é dos conselhos ou da nossa socieda- segmentos da sociedade nos
“Os médicos também passam a pro- de, desigual, altamente hierarquizada, momentos de decisão”.
curar outros espaços para continuar autoritária, com marcas clientelistas e “O que aconteceu e muitas
influindo nas políticas”. patrimonialistas?” A socióloga frisa que, vezes acontece até hoje”, prossegue,
como o número de cadeiras é limitado, “é que a maturidade da população para
PARTICIPAÇÃO EFETIVA acaba sendo impossível abrigar todas as escolher seus representantes e ter uma
Nos conselhos de municípios com entidades. Logo, o espaço fica restrito às vida minimamente organizada não é
mais de 100 mil habitantes, grande de maior visibilidade nacional.
parte dos conselheiros usuários re- Antônio Ivo vai além, ao afirmar
presenta associações de moradores e que os conselhos hipertrofiam a repre-
bairros (21%), sindicatos (20%), porta- sentação dos que não têm tanto poder Sugiro matéria referente
no Estado. “Por exemplo, os usuários aos Conselhos Municipais
têm garantida participação paritária, de Saúde, mostrando as
Informação e comunicação e não posso dizer que o poder deles dificuldades no desem-
nas outras instâncias de governo seja
são fatores essenciais para igual”. Segundo ele, os conselhos penho desta função de
construção e implemen- foram concebidos justamente para relevância pública, e como
tação de um Sistema de dar mais voz e vez aos que, sem essa superá-las, pois com certeza
Saúde Básico, principal- arena, não teriam tanta possibilidade a experiência de um servirá
de interferir no Estado, dependeriam
mente quando ele objetiva dos anéis de poder aos quais não têm
para muitos, ajudando na
fortalecer a participação acesso. “Portanto, são uma estrutura difusão de métodos para o
popular, reconhecendo sua contra-hegemônica”, afirma. enfrentamento de problemas
importância no campo do O sanitarista discorda da tese como cooptação, ameaças,
de que os espaços institucionalizados
controle social. tenham esvaziado o movimento social,
discriminação etc.
• Rosana Almeida de Moraes, assistente como querem alguns, e citou sua ex- • Carlos Alberto Alves dos Santos, con-
social, Recife — Radis 45 periência de juventude numa organi- selheiro de Valente, BA — Radis 44
zação de Nova Iguaçu (RJ). “Fizemos
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[ 16 ]
Na 12ª, em dezembro de 2003, deli- Os conselhos municipais de Saúde vida: haveria um monopólio de vagas
berou-se pela promoção de 11 delas, também têm sido afetados, já que, se- em municípios e estados, que sempre
mas apenas cinco ocorreram entre gundo um conselheiro presente à oficina, elegem as mesmas pessoas, não per-
2004 e 2006 (ver box). “São impor- passam o ano em função da preparação mitindo a renovação?
tantes instrumentos que expressam de conferências. Outra reclamação é As críticas são variadas, mas não
a democratização das relações do quanto à repetição de discussões e vo- superam o reconhecimento dos sanita-
Estado com a sociedade, mas houve tações. “Hoje temos uma conferência ristas de que as conferências têm sido
curto espaço de tempo entre elas, nacional que discute a saúde do trabalha- determinantes para a consolidação do
gerando atropelos”, analisa. dor, e depois se convoca uma conferência SUS. “São importantes instrumentos
Na oficina Rumo à 13ª, outra específica de saúde do trabalhador”, que expressam a democratização das
reclamação: os conselhos de saúde sintetiza Antônio Alves. “As temáticas relações do Estado com a sociedade”,
foram obrigados a coordenar duas têm compartimentalizado a discussão de destaca o próprio relatório do CNS.
conferências simultâneas (Gestão do questões que são integradas e dificulta- Se, por um lado, as deliberações não
Trabalho e Saúde Indígena), do a gestão local e regional”, critica o têm poder de lei, por outro, passam
com períodos reduzidos para a encarte “SUS”, produzido pelo Núcleo a servir de recurso político de argu-
organização das etapas muni- de Gestão do Trabalho e da Educação na mentação para os defensores do SUS
cipais, estaduais e regionais. O Saúde do Conasems. e acabam tendo infl uência grande
gestor Edmundo Costa apóia tal A situação levou o CNS a decidir nos serviços, analisa Soraya Vargas.
crítica. “A organização delas é que até a 13ª não haverá conferências “As pessoas não vão às conferências
cara, onerosa. E se se faz segmento no temáticas. O colegiado ainda se com- por nada: elas sabem que aquelas
próprio setor, fica mais caro ainda”. prometeu a elaborar uma proposta a decisões vão ter repercussão”.
Resultado: muitos municípios, espe- respeito para aplicação ou deliberação
cialmente os menores, não conseguem na 13ª. Outro dilema levantado na
promover as prévias das conferências oficina do CNS é que as conferências
temáticas e têm dificuldades até para não têm mostrado alternância de É preciso ampliar os espaços
organizar a da nacional. participantes, o que gerou uma dú- democráticos para as deci-
sões de políticas públicas,
nos quais elas possam ser
Radis adverte debatidas também publica-
mente, com a participação
No Carnaval efetiva dos cidadãos. (...)
(e sempre), O próprio SUS, ao prever a
use camisinha! participação da sociedade
nos conselhos, cria condições
para identificar e promover
experiências de sucesso tam-
bém em mobilização social.
• Alberto Pellegrini Filho, secretá-
rio-executivo da Comissão Nacional
sobre Determinantes Sociais da
Saúde — Radis 45
A.D.
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[ 19 ]
na pauta NA SÚMULA
NA RADIS
• nº 81, jul/2001, p. 4: Conselhos de saúde — Espaços
de participação social;
• nº 6, jan-fev/2003, p. 16: Entrevista — Sílvio Mendes
Filho, presidente do Conasems, fala sobre a implantação • nº 81, jul/2001, p. 6: Conselhos de saúde e controle
do SUS nos municípios, analisa aspectos da Noas e discute social.
o papel do controle social;
NA TEMA
• nº 11, jul/2003, p. 8: 12ª Conferência Nacional de Saúde
— Controle social será ponto de partida para debates; • nº 17, fev/1999, p. 26: Experiência bem-sucedida,
Hospital Sofia Feldman — Controle social ajuda na re-
• nº 12, ago/2003, p. 9: 12ª Conferência Nacional de Saúde: solutividade;
O controle social e as ‘vacas sagradas’;
• nº 20, fev/2001, p. 9: Avaliação do controle Social
• nº 13, set/2003, p. 30: Controle social: Legitimidade e — Não há como separar participação das mudanças no
liberdade para os conselhos. modelo econômico.
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ENTREVISTA
“O controle social é um
projeto em construção”
Como tem sido a atuação do CNS?
farmacêutico Francisco A avaliação é que o CNS, com
mas através da Secretaria de Gestão de todos os atores, universidades, bilizar a participação de pessoas em
Estratégica e Participativa. Quanto secretarias estaduais e municipais atividades nacionais por causa dos
à superação das dificuldades de fun- de Saúde, conselhos, entidades custos. Quando nós resolvemos fazer
cionamento, é um processo cultural. de formação. Mas queremos fazer várias conferências temáticas, essa
O que podemos perceber é que, um debate porque há dificuldades dificuldade foi potencializada. De
geralmente, onde os gestores têm que variam de estado para estado, um lado, sabemos que se dificultou
mais compromisso com o SUS fica problemas sérios que podem vir a e muito, não de forma deliberada,
mais fácil o exercício do controle inviabilizar a própria proposta. O a participação mais maciça e repre-
social e a atuação do conselho de CNS vai pautar a política, fazer um sentativa de alguns conselhos de
saúde. Mas a minoria vê no controle diagnóstico de quais são os gargalos municípios importantes. E nós temos
social um parceiro importante. Se que estão impedindo o programa de que admitir que boa parte da agenda
os gestores tivessem a consciência cumprir seu papel. dos conselhos ficou voltada para a
do quanto o conselho pode ser seu realização de conferências temáti-
parceiro, um instrumento de forta- O CNS divulgou o documento Rumo cas, o que tem seus prejuízos. Os
lecimento da própria gestão... Pela à 13ª, em que critica alguns pontos conselhos têm uma grande agenda
cultura autoritária que temos, é das conferências de saúde, como para dar conta, que foi duramente
justamente o inverso. O gestor não a não-alternância de participan- prejudicada. E o CNS já tem hoje
admite dividir responsabilidades, tes e o excesso de conferências uma posição bem clara de que temos
poder político, e acaba entravando temáticas... que pensar muito para voltar a reali-
a possibilidade de uma gestão mais A alternância de pessoas tem zá-las. Vamos ter que fazer, mas não
participativa, mais democrática, a ver com um processo muito ca- antes da 13 a, pois seria desperdiçar
mais transparente, mais avançada. racterístico nosso. Essa falta de forças e recursos.
Hoje, a própria sociedade não con- renovação, de alternância, infe-
segue perceber ainda o quanto de lizmente é uma característica da As deliberações das conferências têm
direito ela tem em relação à saúde sociedade brasileira. Se analisarmos sido postas em prática?
pública. Até já ouviu falar que a o movimento social, o comunitário, Ao analisarmos as decisões to-
saúde é um dever do Estado e um o sindical, o político-partidário, madas em conferências, várias não
direito dela, mas não tem idéia do perceberemos que a renovação de têm respaldo legal. Quando parti-
que isso quer dizer exatamente. E, quadros não é como deveria ser. cipo de conferência, sempre chamo
não tendo, não ocupa os espaços que Estou há 10 anos participando de a atenção para isso. Não adianta a
estão constituídos. Então, é preciso conselhos e levanto a bandeira da gente achar que isso era o ideal se
uma mudança cultural mesmo. renovação. Quando da definição dos não tem respaldo jurídico. A gente
delegados que vão participar da con- não tem esse poder, esse direito.
Alguns conselheiros afirmam que ferência nacional, ainda prevalecem Se quisermos fazer isso, primeiro
as bipartites e a tripartite esva- as referências históricas construí- teremos que discutir a legislação e
ziaram a atuação dos conselhos. das. É uma disputa pela disputa e depois a viabilidade da pro-
Isso procede? aí pode mais quem tem mais poder posta. Não podemos cobrar
A atribuição de cada um é dife- político, de organização. Além disso, do gestor a implementação
rente. Mas, a partir de 1999, houve há a pouca renovação, uma tônica de deliberações que não têm
um movimento deliberado de esva- do movimento social brasileiro. É respaldo jurídico. Fora disso,
ziamento dos conselhos, tudo passou uma questão complicada porque não entendemos que as decisões
a ser acordado nas bipartites e tri- podemos intervir no poder de cada de conferência são instrumentos
partite. Foi um movimento pensado, segmento discutir e tomar suas pró- importantes para nortear as ações
não amador. E tem resquícios ainda. prias decisões. Mas é um debate que dos conselhos de saúde e dos gestores
Definiam praticamente tudo em precisamos fazer. Aqui no conselho também. Quando analisamos o pro-
relação às políticas de saúde, nada fizemos um debate e não foi fácil. duto de cada conferência, encontra-
passava nos conselhos de saúde. E Eu fui um dos que defenderam que o mos alguns muito bons, fantásticos,
alguns gestores ainda pensam assim, conselheiro só pode ter, no máximo, sintonizados com os princípios do
que o último espaço de discussão é a dois mandatos. Tem conselheiro que SUS, fora um ou outro detalhe.
bipartite. Nós temos claro que não. está aqui desde a criação do conse-
Sob o ponto de vista legal e político, lho, praticamente. E conseguimos Então, o que falta?
o último espaço de definição de polí- aprovar, inclusive para suplente. Eu tenho dito que um dos gran-
ticas de saúde é o conselho de saúde. Isso pode ser implementado nos des entraves para a implementação
A bipartite e a tripartite existem conselhos de saúde. é o atual modelo de atenção. Conti-
para cumprir papel de pactuação, de nuamos com um modelo totalmente
acordos multilaterais. Fechados os E quanto às conferências temá- distorcido, mesmo com avanços no
acordos e aprovadas as pactuações, ticas? plano da prevenção e promoção. No
devem ser imediatamente submeti- O que aconteceu é que nós, na plano geral, nunca tivemos um mo-
das aos conselhos. A queixa é que em ânsia da resposta às deliberações delo tão centrado no medicamento
alguns lugares ainda é desrespeitada das conferências nacionais, esta- de alto custo, nos exames de alta
essa lógica. belecemos a meta de realização complexidade, no curativo, no pro-
de um número muito grande de fissional médico, nas internações
E como está a política de capacitação conferências temáticas, o que nós hospitalares e, conseqüentemente,
de conselheiros? sabíamos que traria dificuldades de tão ameaçado pela privatização,
Há vários tipos de problema. realização. A gente já sabe muito pela insuficiência de recursos. E
Em alguns estados, ocorre de for- bem que boa parte dos gestores disso as conferências não têm dado
ma razoável, com o envolvimento municipais têm dificuldade de via- conta. (B. C. D.)
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[ 22 ]
Feminização e pauperização,
os desafios da prevenção
A.D.
403.145, e a taxa de prevalência, 0,61% epidemia, em sua quase totalidade, é de
Katia Machado
na população entre 15 e 49 anos. Entre transmissão heterossexual. Mais de 94%
1980 e 2004, 172.048 pessoas morreram do número de casos registrados no ano
m evento marcado pela em decorrência do vírus, confirmando passado foram transmitidos à população
U heterogeneidade. Hete-
rossexuais, gays, lésbicas,
travestis e transgêneros,
negros, brancos, pardos e índios, jovens
e idosos, de todas as classes sociais,
uma taxa de mortalidade de 6,2/100
mil pessoas e uma taxa de incidência
de 19,8/100 mil. De 2000 a 2005, 32
mil novos casos de pessoas com aids
surgiram por ano. “Nesses 20 anos, a
feminina em relações heterossexuais.
Na área de comportamento se-
xual, a vulnerabilidade da mulher
também fica evidente. Exemplo disso
são os índices de uso de preservativo na
estiveram em Belo Horizonte para a epidemia de aids mostrou-se como uma população jovem: 51,5% dos homens de
sexta edição do Congresso Brasileiro de epidemia dita concentrada, mantendo- 16 a 19 anos dizem que usam camisinha
Prevenção das DST e Aids, em novembro se com taxa de prevalência da infecção regularmente. Entre as mulheres da
de 2006, que partiu do debate Desafios pelo HIV na população geral em níveis mesma faixa etária, o índice é de ape-
da prevenção e da assistência no SUS. menores do que 1%”, salientou. nas 32,6%. Os dados são da Pesquisa de
A feminização e a pauperização Mas, entre mulheres, a taxa Comportamento Sexual, realizada em
da epidemia da aids foram os dois pon- cresceu, reconheceu Mariângela. Na 2005 pelo Centro Brasileiro de Análise
tos de maior preocupação e que mobi- década de 1980, quando a aids surgiu e Planejamento (Cebrap) e pelo Pro-
lizaram grande parte dos participantes no Brasil, a cada 26 casos da doença grama Nacional de DST e Aids. Como
de conferências, mesas-redondas e em homens havia 1 em mulher. Nos alertou Mariângela, é preciso refletir
palestras. Isso porque, como confirmou últimos 25 anos, a proporção caiu de sobre a capacidade que a mulher tem
o Boletim Epidemiológico da Aids de forma expressiva e contínua. Hoje, de negociar ou mesmo impor uma re-
2006, divulgado em dezembro, o nú- a cada 1,4 caso em homens há 1 em lação segura ao parceiro.
mero de infectados pelo vírus é maior mulher. Em algumas faixas etárias, o
entre as mulheres, as pessoas jovens número de casos de aids em mulheres REDES DE ATENÇÃO À MULHER
e em situação de pobreza. é maior do que entre homens. “Como Como compromisso de governo em
Na Conferência Acesso universal entre os jovens de 13 a 24 anos: em tornar mais efetivas as medidas contra o
à prevenção e à assistência, primeiro 2004, foram registrados 1.455 casos aumento do número de casos de aids em
grande evento do congresso, a diretora em mulheres e 1.213 em homens”, mulheres, foi lançado durante o congres-
do Programa Nacional de DST e Aids alertou à grande platéia presente. so o Plano Nacional de Ações Integradas
do Ministério da Saúde, a pediatra A feminização da epidemia da aids para o Enfrentamento da Feminização
Mariângela Simão (ver entrevista na é confirmada com o aumento do número da Epidemia. Uma das principais metas
página 26), fez um resumo da situação de infectados entre mulheres com mais do plano é reduzir a taxa de transmis-
da aids no Brasil, ressaltando o número de 30 anos. Em 1996, foram notificados são vertical do HIV, ou seja, de mãe a
de mulheres com o vírus. Até 2005, a es- 1.527 casos de aids entre mulheres de 30 filho — durante a gestação, o parto ou
timativa de infectados era de 593.787; a 34 anos. Oito anos depois, esse número a amamentação — para menos de 1%
a de casos acumulados de aids, de saltou para 2.426 casos. Além disso, a ainda em 2007. Outras metas propostas:
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diminuir a incidência de sífilis congênita, Segundo ela, a vulnerabilidade gresso sobre os insumos de prevenção,
implantar novas redes de atenção às da população de rua para o HIV/aids a nova agenda de prevenção e os de-
mulheres vítimas de violência doméstica aumenta com a marginalização e a vio- safios das novas tecnologias.
e sexual, ampliar as redes de testes de lência a que está submetida. O grande Chequer, que até 2006 esteve à
HIV e exames ginecológicos e também desafio, portanto, quando se fala nas frente do Programa Nacional de Aids bra-
a divulgação de informações sobre pre- populações em situação de pobreza, sileiro, reclamou do excesso de demanda
venção e formas de infecção pelo vírus sobretudo as de rua, é ampliar o con- de preservativos em alguns lugares e
da aids, inclusive em escolas. ceito de redução de danos que, segundo do desabastecimento em outros, como
Na mesa-redonda Aspectos sociais Carla, não está restrito ao uso de drogas também da interrupção no fluxo de for-
da aids: práticas de prevenção com lícitas e ilícitas. “É preciso pensar nos necimento. Para ele, os anti-retrovirais
populações em situação de pobreza, abortos feitos por inúmeras meninas têm maior destaque e maior investimen-
debate promovido no penúltimo dia das populações de rua, das tatuagens e to do que o preservativo. “Não que os
do congresso, José Roberto Pereira, o piercings feitos sem nenhum cuidado, medicamentos não sejam importantes,
Betinho, integrante do Projeto Bem-Me- aumentando as chances de contamina- mas por que não se pensar numa fábrica
Quer, na periferia de São Paulo, destacou ção, e nas práticas sexuais”, lembrou. de preservativos na África?”, questionou.
alguns fenômenos sociais que aceleram a Em sua fala, Carla destacou algu- Além disso, acrescentou, pouco se escre-
disseminação do HIV, com base em cons- mas das ações do Gapa na prevenção da ve sobre o assunto, muito menos sobre o
tatações de pesquisadores que estudam o aids com populações de rua. Entre elas, preservativo feminino. “O Brasil é um dos
tema. O primeiro: o subdesenvolvimento a aproximação com o universo da rua, poucos países que têm o uso do preserva-
econômico e a pobreza; o segundo: mo- o uso da cultura hip hop e a interlocu- tivo feminino em sua política”.
bilidade, incluindo migração, trabalho ção com outros setores da sociedade. De acordo com estimativas globais
sazonal, convulsão social ou instabili- “Nossos desafios são construir ações sobre necessidades de preservativos,
dade política, que interagem freqüen- transversais, integrais e intersetoriais, informou Chequer, a população mundial
temente com a pobreza, assim como considerando os diversos aspectos des- está estimada em 6,5 bilhões, estando
a desigualdade de gênero, o terceiro sa população”, acrescentou. Para ela, 50% (3,250 bilhões) na faixa etária entre
fenômeno que aumenta a vulnerabili- é urgente construir uma proposta de 15 e 49 anos. Desses 50%, 1,625 bilhão
dade relacionada a HIV/aids. prevenção e promoção da saúde voltada são do sexo masculino, representando
Segundo Betinho, o que mais lhe para esse grupo e, sobretudo, dar-lhes 50%. Desse total da população mascu-
chamou a atenção foi o peso do baixo visibilidade social. lina, apenas 50% usam preservativo, o
ou nenhum poder aquisitivo como uma Para melhorar a prevenção das que corresponde a um total de 812,5
das principais causas, atualmente, de DST/aids, Betinho defende que se milhões de homens. Para atender a essa
vulnerabilidade para o HIV/aids. Depois da dê mais informação aos estudantes, população, estima-se a necessidade de
pobreza vêm a violência doméstica e se- melhor orientação em assuntos re- um preservativo por semana. Para as
xual, o desemprego, a falta de instrução, lacionados ao preconceito contra as 52 semanas do ano, seriam necessários
o uso abusivo de álcool e de drogas, a de- pessoas vivendo com HIV/aids e mais 42,250 bilhões de preservativos. No
sigualdade de gênero, o tráfico de drogas, conhecimento sobre o tipo de contato entanto, salientou o coordenador do
a criminalidade, a homofobia, a falta de que nos tornam vulneráveis. “É nesse Unaids, a produção mundial de 2006 foi
articulação comunitária e o preconceito. sentido que o Projeto Bem-Me-Quer de 15,356 bilhões. “Ou seja, houve um
“Todos esses fatores estão intimamente vem atuando”, informou. déficit estimado em 27 bilhões”.
ligados à pobreza”, ressaltou. Em sua opinião, há mais desafios Não apenas há falta de preser-
Ao destacar os índices da pobreza a serem enfrentados na prevenção: a vativos, como também insuficiente
divulgados pelo Instituto de Pesquisa escassez de materiais e mídias para disponibilidade de serviços de tes-
Econômica Aplicada (Ipea) — dos populações empobrecidas, a falta de tagem e aconselhamento no mundo.
186.770.562 brasileiros, 53,9 milhões recursos para ações e a ausência de “Avançamos muito no Brasil, mas o
vivem abaixo da linha da pobreza (até organizações que atuem nesse sentido, mundo ainda está muito aquém a esse
R$ 140 per capita/mês) e 20 milhões a dificuldade em encontrar profissionais respeito”, disse. Segundo relatório da
abaixo da linha da miséria (indigência: e educadores que queiram trabalhar Unaids, 0,65% da população de adultos
até R$ 60/mês) —, ele advertiu para o em comunidades carentes, a baixa no mundo tem acesso ao teste de HIV,
alto número de pessoas sujeitas à in- adesão de voluntários multiplicadores 4% a ações de redução de danos para
fecção ou já infectados pela aids sem a e a relutância das escolas públicas em usuários de drogas, 9% à prevenção da
devida assistência, pois boa parte não veicular material sobre sexualidade e transmissão vertical, 9% a preservati-
tem acesso aos serviços públicos. distribuição de insumos. “É preciso sen- vos, 11% a programas de intervenção
É situação das populações em- sibilizar as instituições religiosas sobre para homens que fazem sexo com ho-
pobrecidas de rua, afirmou a segunda prevenção, ampliar a orientação sobre mens e 16%, a programas de governo
palestrante da mesa, Carla Almeida, o uso abusivo de álcool e outras drogas voltados para a aids.
coordenadora do Grupo de Apoio à Pre- e fomentar a intersetorialidade entre Chequer destacou também a po-
venção à Aids (Gapa) do Rio Grande do saúde, educação, assistência social, breza como fator de aumento da epide-
Sul. “Não temos notificação do números transporte e cultura”, conclamou. mia de aids no mundo e sua feminização.
de infectados e óbitos associados ao “Muitas vezes preparamos a mulher para
vírus em relação a essa população, já FALTA PRESERVATIVO prevenir a aids no filho e não a tratamos
que a maioria não tem acesso aos ser- NO MUNDO enquanto paciente”, lembrou. Para ele,
viços de saúde”, afirmou. Ao chamar a Na Conferência Cenário interna- a prevenção é também dificultada no
atenção para o fato de que esse grupo cional: os desafios para a prevenção das mundo porque exige enfoque multisse-
populacional é invisível para a socie- DST/Aids, Pedro Chequer, coordenador torial e intersetorial, envolve parceiros
dade, ela questionou: “Como construir do Programa de Aids das Nações Unidas públicos, privados e movimentos sociais
ações preventivas para pessoas que não para o Cone Sul (Argentina, Paraguai e e não é tão apelativa ou mobilizadora
são reconhecidas como cidadãs?” Uruguai), falou no último dia do con- quanto medicamentos e vacinas.
RADIS 53 • JAN/2007
[ 24 ]
Algumas ações estão em construção Há outros estudos em andamento prevenir a transmissão do HIV, que
e estudo na tentativa de contenção da na África, como a barreira cervical, atenderiam apenas à população femi-
epidemia no mundo, informou Chequer. considerando-se que a infecção no nina, mas importantes para a África,
Uma delas é a circuncisão masculina trato genital feminino ocorre mais onde a aids atinge 70% das mulheres;
como forma de conter a transmissão do freqüentemente no colo do útero. e com as vacinas. “Os obstáculos para
HIV. Estudo realizado no Quênia e em A profilaxia pré-exposição com anti- se encontrar a vacina que contenha a
Uganda, na África oriental — cujos re- retrovirais é também alvo de estudos aids são vários”, disse. O HIV tem alta
sultados estarão disponíveis neste 2007 no exterior. “Há pesquisas usando os variabilidade genética, há dificuldades
—, vem mostrando que uma parcela de medicamentos tenofovir mais entri- de produção de anticorpos neutralizan-
homens circuncidados não transmite citabina”, contou. “Mas é preciso tes e ausência de um modelo animal
o HIV. Para Chequer, embora estudos avaliar isso com muito cuidado, ou adequado, informou. Isso sem contar
como esses sejam salutares, eles aten- estaremos medicalizando o mundo”, com a dificuldade de acesso a medica-
dem a um grupo específico, requerem alertou o especialista. mentos em determinadas regiões, como
serviços cirúrgicos especializados e E há mais estudos: por exemplo, a África Subsaariana onde, dos 40% de
podem levar a pensar que a circuncisão com microbicinas, ou seja, produtos habitantes infectados pelo HIV, 70% não
é uma vacina contra a aids. químicos aplicados na vagina para têm acesso a medicamentos.
Os números no mundo
m 2006, foram registradas por dia todos nos países pobres. Isso significa 1996 para 29,8 a cada 100 mil habitan-
E 11 mil novas infecções pelo HIV, e
os países mais atingidos estão locali-
que, a cada minuto, uma criança com
menos de 15 anos se infecta com o vírus
tes em 2005. Entre as mulheres esse
aumento foi ainda maior: no mesmo
zados no Leste Asiático, no Leste Euro- e outra morre. São 500 mil meninos e período, cresceu de 6,0 para 17,3.
peu e na Ásia Central. Nestas regiões, meninas mortos ao ano pela aids — fora Entre homens e mulheres com
o aumento no número de casos novos os milhões que se tornam órfãos todos mais de 60 anos, a incidência de
foi 21% mais alto do que em 2004. Na os anos devido à doença. casos, que era de 5,9, passou para
América Latina, a epidemia se mantém 8,8 nos homens e de 1,7 para 4,6 nas
estável, com 1,7 milhão de pessoas AS TAXAS BRASILEIRAS mulheres. O crescimento pode estar
vivendo com HIV/aids na região. É o Se, por um lado, cresceram os associado ao uso amplo dos medica-
que constatou o Relatório do Programa números da aids em algumas regiões mentos contra disfunção erétil e ao
Conjunto das Nações Unidas sobre o e grupos, por outro, houve alguma fato de que esta população nasceu
HIV/aids (Unaids), divulgado em 21 redução, a exemplo da taxa da trans- num mundo sem aids.
de novembro, que serve de referência missão vertical no Brasil. Segundo o Aumento expressivo foi igual-
para quem trabalha diretamente na Boletim Epidemiológico da Aids de mente conferido no grupo das mulhe-
resposta à epidemia. 2006, a redução na taxa de transmissão res com mais de 30 anos, confirmando
Segundo a Unaids, um total de do HIV durante a gestação, o parto ou a feminização da epidemia. Em 1996,
39,5 milhões de pessoas vive com a amamentação foi de 51,5% entre foram notificados 1.527 casos de aids
HIV/aids no mundo, ou seja, 2,6 mi- 1996 e 2005. entre mulheres de 30 a 34 anos. Oito
lhões a mais do que em 2004 — dado O país também apresentou bons anos depois, esse número saltou para
que representa 400 mil pessoas a mais resultados quanto à taxa de preva- 2.426 casos. Do total registrado em
do que há dois anos. Ainda de acordo lência, que desde 2000 está em 0,5%, 2006, 94% foram transmitidos por
com relatório, o número de novas confirmando que as ações de preven- relações heterossexuais.
infecções foi de 140 mil, aumentando ção têm conseguido reduzir a taxa de Embora o relatório do Unaids
para 4,3 milhões em 2006, e 65 mil é crescimento da doença. Além disso, tenha constatado aumento no núme-
o número de pessoas que perderam a no Brasil, um terço da população já ro de novos casos entre os jovens no
vida em função da doença. realizou o teste para o HIV e uma em mundo — pessoas entre 15 e 24 anos
Do total de pessoas com HIV, cada três pessoas vivendo com HIV representam 40% dos 4,3 milhões de
63% estão na África Subsaariana. conhece sua sorologia. Para conter novas infecções em 2006 —, dados
Uma região claramente atingida pela a proliferação dos efeitos da aids, o do Boletim brasileiro revelaram uma
epidemia de aids — entre 2004 e 2006, Brasil disponibilizou em 2006 R$ 1 bi discreta queda entre os adolescentes
houve aumento de 1 milhão de novos para compra de medicamentos anti- de 13 a 19 anos: de 2,0 para 1,4 de
casos. Na região, foram também retrovirais. “É uma vitória termos 1996 para 2005. Entre adultos jovens,
registrados 24,7 milhões de casos de estabilizado a taxa de incidência de de 19,2 para 13,3.
aids, o que representa dois terços do aids no Brasil, mas precisamos estar O mesmo aconteceu entre os ho-
total mundial. Além disso, cerca de atentos e não podemos passar a idéia mossexuais, registrando apenas 2.026
três quartos das mortes de adultos e de que com tratamento pode-se evitar novos casos da doença em 2005, e usu-
crianças causadas pela aids em 2006 a prevenção”, salientou Mariângela ários de drogas injetáveis, apresentan-
ocorreram na região, que concentrou Simão na apresentação do Boletim, do redução de 72% do total de casos.
2,1 milhões de mortes por aids, de um em novembro do ano passado. Dado, que na opinião de especialistas,
total mundial de 2,9 milhões. Nem todas as taxas, entretanto, representa redução extraordinária e
Outras vítimas da epidemia são as apresentaram redução. Na população um ganho para os 400 programas de
crianças, confirma o relatório do Unai- idosa masculina, entre 50 e 59 anos, a prevenção promovidos com usuários
ds: mais de 2,3 milhões de casos, quase taxa de incidência passou de 18,2 em de drogas injetáveis no Brasil.
RADIS 53 • JAN/2007
[ 25 ]
Norte 1.149 396 473 610 723 807 913 1.112 1.319 1.425 1.957 1.900 897 13.681
Rondônia 137 62 56 71 84 69 127 128 186 182 171 202 132 1.607
Acre 46 1 6 13 22 31 22 31 41 37 55 55 18 378
Amazonas 291 93 114 190 219 291 289 303 396 382 494 561 264 3.887
Pará 525 186 233 249 300 290 328 479 520 616 952 856 385 5.919
Amapá 26 17 21 36 25 44 37 48 65 43 69 73 29 533
Tocantins 72 27 28 34 53 56 57 70 73 87 99 86 44 786
Nordeste 7.061 1.692 2.137 2.462 3.023 2.969 3.299 3.515 4.168 4.697 5.141 5.486 2.101 47.751
Maranhão 527 146 191 214 293 271 336 360 400 526 705 667 256 4.892
Piauí 211 77 79 101 94 115 175 170 176 176 273 284 92 2.023
Ceará 1.143 345 344 380 643 563 556 577 652 848 891 761 316 8.019
Rio Grande
379 74 112 133 183 136 162 172 152 209 137 325 142 2.316
do Norte
Paraíba 490 125 140 153 198 250 243 245 261 288 331 314 139 3.177
Pernambuco 1.698 396 565 595 773 664 731 886 1.171 1.035 1.074 1.418 515 11.521
Alagoas 400 89 122 162 125 138 147 177 185 239 201 263 94 2.342
Sergipe 293 86 82 98 103 114 119 89 106 162 151 175 84 1.662
Bahia 1.920 354 502 626 611 718 830 839 1.065 1214 1.378 1.279 463 11.799
Sudeste 68.322 15.443 16.919 17.879 19.112 16.831 17.667 16.166 18.820 20.178 18.755 17.184 6.634 269.910
Minas Gerais 5.745 1.701 1.743 1.847 1.835 1.836 2.460 1.915 2.681 3.068 2.738 2.853 1.066 31.488
Espírito Santo 758 213 249 354 405 424 470 519 640 642 660 613 251 6.198
Rio de Janeiro 14.771 3.008 3.668 4.178 4.316 3817 4.177 4.071 4.659 5.296 5.709 5.108 2.089 64.867
São Paulo 47.048 10.521 11.259 11.500 12.556 10.754 10.560 9.661 10.840 11.172 9.648 8.610 3.228 167.357
Sul 9.768 3.284 3.967 4.728 5.817 5.385 6.560 6.687 7.536 7.781 6.979 6.416 2.731 77.639
Paraná 2.506 927 1.153 1.459 1.541 1.570 1.775 1.687 1.859 1.914 1.649 1.574 562 20.176
Santa Catarina 2.502 981 1.139 1.163 1.485 1.349 1.600 1.706 1.815 1.782 1.788 1.477 708 19.495
Rio Grande
4.760 1.376 1.675 2.106 2.791 2.466 3.185 3.294 3.862 4.085 3.542 3.365 1.461 37.968
do Sul
Centro-Oeste 4.079 1.202 1.293 1.584 1.416 1.285 1.685 1.652 2.022 2.492 2.369 2.156 851 24.086
Mato Grosso
980 244 281 291 299 260 275 289 396 454 421 427 190 4.807
do Sul
Mato Grosso 578 203 294 346 296 208 401 373 493 614 674 540 186 5.206
Goiás 1.416 483 402 568 496 475 617 674 724 779 797 736 307 8.474
Distrito Federal 1.105 272 316 379 325 342 392 316 409 645 477 453 168 5.599
Brasil 90.379 22.017 24.789 27.263 30.091 27.277 30.124 29.132 33.865 36.573 35.201 33.142 13.214 43.3067
Fonte MS/SVS/PN-DST/AIDS
Notas 1 — Casos notificados no Sinan e registrados no Siscel até 30/6/2006 e no SIM de 2000 a 2005; Dados preliminares para os anos de 2000 a 2006.
2 — Para os anos de 1980 a 1994, consultar edições anteriores do Boletim Epidemiológico (www.aids.gov.br/, menu Área Técnica/Epidemiolo-
gia/Boletim Epidemiológico.
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ENTREVISTA
Mariângela Simão
19 anos usavam preservativos na Nas regiões Sul e Sudeste, veri- também no manejo clínico básico do
primeira relação sexual. Agora, fica-se uma estabilização. Por outro soropositivo, que são as pessoas que
esses índices subiram para 52%. lado, há aumento nas regiões Norte, têm o vírus não-manifestado.
Outros estudos mostram até 65% de Nordeste e Centro-Oeste. A epidemia
uso de preservativo nessa faixa de é maior no Sul e no Sudeste porque Qual o enfoque da “Prevenção
idade. Fica claro que o jovem está são regiões mais populosas e onde o PositHIVa”?
tendo outro comportamento, pois vírus apareceu primeiro. De qualquer Hoje, temos 175 mil pessoas em
começa sua vida sexual num mundo forma, há vários tipos de epidemia tratamento da aids no Brasil. Essas
com aids. O que era diferente anos no país. Isso porque, na medida em pessoas têm acesso a medicamentos,
atrás. Ou seja, os adultos mais ve- que a epidemia foi se interiorizando, que o governo federal produz e dis-
lhos começaram a vida sexual numa tomou outro rumo. tribui. Mas as pessoas não precisam
época em que não havia o vírus, ou apenas de remédio. Elas têm outras
ele era desconhecido. tantas necessidades. A aids é uma do-
ença crônica que precisa ser tratada
Ou seja, as pessoas mais velhas estão
desprevenidas?
No início para a vida toda. Até que se ache a
cura, é necessário um acompanha-
As relações estáveis, mais fre-
qüentes entre pessoas com mais ida-
de, têm influência no aumento dos
da epidemia, mento diferenciado. Depois de um
longo período de terapia, já sabemos
dos efeitos adversos da medicação e
índices da aids entre adultos mais
velhos. Outro motor de mudança de
eram 26 homens com da necessidade de melhorarmos as
estratégias de adesão dos pacientes.
comportamento sexual neste grupo
é o uso dos medicamentos para dis- aids para cada 10 Temos um estudo que mostra que
85% dos pacientes tomam medica-
função erétil, que estão trazendo a
essa população mais oportunidades.
Lembro de uma campanha de massa
mulheres. Há 3 anos, mento regulamente.
Há necessidades específicas que
precisam ser revistas. Uma criança
no Sul do Brasil que fizemos anos
atrás, mostrando que 15% das pes-
eram 15 homens para que nasceu com aids na década de
90 é hoje um adulto jovem que vive
soas testadas durante a campanha
tinham mais de 65 anos. E nós espe- cada 10 mulheres. com o vírus. Ele quer ter relação afe-
tiva, emprego, deseja alcançar seus
rávamos que houvesse menos gente
nessa faixa etária. Conversando
com um senhor do movimento de
Entre as meninas de sonhos, mas ainda enfrenta muita
discriminação como conseqüência
da desinformação. É comum ainda
idosos da região, ele disse: “Agora,
com esses remédios, o idoso tam-
13 a 19 anos, a relação a sociedade como um todo ter a
aids como coisa do outro. É preciso
bém fica com aids”. Ou seja, quem
faz sexo, em tese, corre risco de
ser infectado.
homem/mulher é entender que todos nós que temos
vida sexual ativa podemos contrair
o vírus. Então, a campanha está
Uma sociedade
mais velha
e com saúde
“Nunca antes houve participa- Social à Pessoa Idosa; Financiamento e
oi divulgado em dezembro o
F
ção tão intensa das pessoas idosas e Orçamento Público; Educação, Cultura,
relatório final da 1ª Conferência seus representantes na luta por seus Esporte e Lazer; Controle Democrático,
Nacional dos Direitos da Pessoa direitos”, disse. o Papel dos Conselhos.
Idosa, organizada no primeiro se- O documento enfatiza que a con- Todas as 290 deliberações cons-
mestre de 2006 pela Secretaria Especial ferência nacional, precedida por 27 tam dos Anais. “A conferência na-
dos Direitos Humanos da Presidência da conferências estaduais e numerosas mu- cional foi a celebração da terceira
República e o Conselho Nacional dos Di- nicipais, contou com 725 participantes idade em torno de seus sonhos e
reitos do Idoso (CNDI). Com 277 páginas — conselheiros, gestores das três esferas projetos, afastando a idéia de que
em cuidadosa edição — que até poderia de governo, representantes de usuários chegando à velhice nada mais se
servir de modelo para futuros eventos e de entidades prestadoras de serviços, faz”, disse Telles.
— é um dos mais completos na história de instituições internacionais e de uni- A partir das deliberações da con-
das conferências temáticas. versidades públicas e particulares. “Em ferência, sobretudo no que se referia
Profissionais, pesquisadores e todo o processo participaram quase 10 à saúde do idoso, a política nacional
ativistas da área bem que mereceram mil pessoas”, destacou Telles. acrescentou dois valiosos instrumentos
esse cuidado todo: afinal, 2006 foi um O relatório, cujo título oficial é Anais para o atendimento a esse grupo de ci-
ano frutífero para este campo essencial da 1ª Conferência Nacional dos Direitos dadãos: a Caderneta de Saúde da Pes-
da saúde pública. Em outubro, já havia da Pessoa Idosa, acompanha os oito eixos soa Idosa e a internação domiciliar.
sido assinada pelo presidente Lula e o temáticos da conferência: Ações para
ministro da Saúde, Agenor Álvares, a Efetivação dos Direitos da Pessoa Idosa; UM LIVRETO ESTRUTURANTE
Política Nacional da Saúde do Idoso, Violência contra Idosos; Saúde da Pessoa O primeiro é um livreto no qual os
que confirmou algumas das deliberações Idosa; Previdência Social; Assistência profissionais do setor, ao atenderem um
aprovadas na conferência — entre elas, idoso, deverão anotar todas as informa-
a construção da Rede Nacional de Pro- ções relativas a sua saúde. O objetivo
teção e Defesa da Pessoa Idosa (Renadi), De acordo com o Instituto Brasi- principal é acompanhar cada indivíduo
compromisso originalmente firmado por leiro de Geografia e Estatística, atendido no SUS e identificar idosos
governo, entidades de defesa do idoso e a população idosa, ou seja, com em risco. “É um instrumento aparente-
conselhos de controle social. mais de 60 anos, está estimada mente simples, mas estruturante para a
A nova política é um retrato do em 17,7 milhões. A cada ano, 650 Atenção Básica”, afirmou Telles, ressal-
Pacto pela Saúde, assinado também mil novos idosos são incorpora- tando que com a caderneta é possível,
em 2006 pelo Ministério da Saúde e dos à população brasileira. As por exemplo, identificar um processo de
os conselhos estaduais e municipais, maiores causas de mortalidade demência e tratá-lo precocemente.
conforme ressaltou o coordenador da entre idosos em nosso país são os As cadernetas estão sendo distribuí-
área técnica de Saúde do Idoso do mi- acidentes vasculares cerebrais. das às secretarias de Saúde do Distrito
nistério, José Luiz Telles. Integrante do Somente em 2004, 11,70% das Federal, das capitais e dos municípios
CNDI e pesquisador da Fiocruz, Telles mortes entre pessoas acima de com mais de 500 mil habitantes. Os
considera tanto a conferência quanto a 60 anos foram provocadas por pequenos municípios recebem o caderno
assinatura da política dois importantes doenças cerebrovasculares. das secretarias estaduais. Estão sendo
momentos para a população idosa. entregues, primeiramente, a idosos
RADIS 53 • JAN/2007
[ 29 ]
cadastrados no programa Saúde da profissional de saúde: o Caderno de Aten- A proposta requer que gestores
Família, no momento da consulta ou da ção Básica em Envelhecimento e Saúde e profissionais de saúde tracem pla-
visita domiciliar. A previsão é que sejam da Pessoa Idosa. “A publicação oferece ao nejamento adequado e determinem
atendidos, num primeiro momento, 73% profissional de saúde instrumentos para prioridades, como o acompanhamento
da população idosa cadastrada. atender bem essa parcela da população”, diferenciado em cada situação. Além
O segundo instrumento é a interna- contou Telles. “É um material de referên- disso, acrescentou Telles, é preciso
ção domiciliar, cujo objetivo é atender cia para capacitação local que não está incorporar às ações o antigo conceito
os pacientes que precisam de cuidados limitado a passar remédio”. da Organização Mundial de Saúde de
especializados, mas não da internação Com essas iniciativas, a Política Na- envelhecimento ativo, que permite,
hospitalar. Recebem atendimento, por- cional do Idoso traz uma novidade: dis- sobretudo ao grupo dos idosos mais frá-
tanto, em sua própria casa. O objetivo tingue o idoso independente e autônomo geis, melhores condições de saúde.
dessa iniciativa é que o SUS proporcione do que apresenta algum nível de fragi- “Vale lembrar que a sociedade
aos idosos um atendimento humanizado lidade. “Consigo com elas identificar o brasileira está envelhecendo, é um
que acelere sua recuperação, permitin- idoso que sai para fazer suas compras, fato irreversível que vai interferir em
do maior autonomia aos pacientes e às como também aquele que nem quer sair todas as dimensões da vida humana”,
famílias durante o tratamento. O aten- de casa”, salientou o coordenador. Não alertou Telles. “Precisamos nos prepa-
dimento no lar é feito por equipes de querer sair de casa não é “coisa normal rar para a velhice como uma grande
profissionais formadas por um médico, de velho”, asseverou. É preciso avaliar conquista.” (K.M.)
um enfermeiro e um auxiliar ou técnico e tratar esse idoso, pois muitas vezes
de enfermagem em visitas periódicas. uma simples queixa desse tipo pode
Outro meio de avaliação do pacien- indicar sérios problemas de saúde, como O relatório final da 1ª Conferência Nacional
te de idade previsto pela Política Nacio- a depressão, ou sinalizar outros, como dos Direitos da Pessoa Idosa pode ser solicita-
nal da Saúde do Idoso é direcionado ao hipertensão ou diabetes. do ao CNDI por e-mail: cndi@sedh.gov.br.
A saúde na política
e a política na saúde
Esse sentimento é que vem im- anunciou a agenda desta retomada entanto, manteve a mesma proposta
pulsionando a iniciativa de revita- da tradição de debate político no do ponto de vista econômico — en-
lização. De um lado, o esforço de Movimento Sanitário: no contexto da tão, os movimentos sociais foram
criar propostas de enfrentamento dos aprovação pelo Ministério da Saúde do paralisados não pelo enfrentamento
déficits do próprio SUS e, de outro, a projeto do Cebes “Reforma Sanitária com o inimigo, mas porque ficaram
tentativa de se recuperar a ambiên- em Debate", haverá reuniões mensais sem saber o que fazer com aquele
cia política das lutas por melhorias de análise de conjuntura, que se estranho amigo no poder...”
do sistema. “O país se vê diante de prolongarão na internet e serão siste- Para Sonia, diante de mais um
encruzilhadas que se expressam em matizadas com a publicação de livros governo Lula o Movimento Sanitário
conflitos visíveis de projetos estraté- e material didático. Também haverá a já tem distância suficiente para se
gicos para o país”, afirmou o diretor formalização anual do Encontro Nacio- manter crítico na busca do avanço da
da Ensp. “Se na origem a Reforma nal de Conjuntura e Política. reforma. “Então, a proposta do Cebes
Sanitária foi vista como parte de um é colocar, como questão central, a saú-
processo de transformação política e de na política e a política na saúde”. O
construção da democracia, talvez seja
o momento de retomarmos o esforço
“É preciso criar que explica essa dissociação entre os
governantes no poder e o interesse da
para que o conjunto das lutas volte a
ser potencializado num movimento”.
uma perspectiva população, que conhece a importância
da saúde?, perguntou.
Agora, com uma diferença, ressalvou: de solidariedade Na busca das respostas, o debate
“Certamente esse movimento se de- inicial foi dedicado à situação interna-
senvolverá de maneira interpartidária, latino-americana cional. A pesquisadora Sarah Escorel,
mas não será suprapartidário, porque que coordena o Observatório de Con-
não estará acima dos projetos distintos com projetos juntura da Ensp/Fiocruz, chamou a
que hoje disputam espaço no país”. atenção para a derrota do presidente
concretos, como na Bush nas eleições para o Congresso
PODER DE FOGO MAIOR
O novo presidente da Abrasco, questão ambiental, americano e para as eleições recentes
na América Latina, com governos de
José da Rocha Carvalheiro (FSP/USP),
em clima de nostalgia, fez passar de
que afeta esquerda que têm sido tachados de
populistas. Paradoxalmente, nesse pro-
mão em mão uma fotografia antiga
de integrantes da associação, muitos
especialmente a cesso, o Brasil assume “papel imperia-
lista”, a partir dos braços da Petrobrás
presentes no auditório. E destacou que
alguns deles, hoje “inseridos formal-
população pobre” no exterior. Sonia Fleury agregou que
2006 chega ao fim com a esquerda go-
mente e radicalmente no governo”, vernando 75% da América Latina. “Isso
são obedientes “às lógicas de relacio-
(Ary Carvalho) não significa uma identidade latino-
namento do poder”. O “poder de fogo” americana, mas indica a insatisfação
maior do grupo tem um elemento Sonia citou frase recente do popular com as políticas conservadoras
novo: os parlamentares que freqüen- cientista político Marco Aurélio No- e o fracasso do modelo neoliberal”.
tavam as reuniões do movimento têm gueira sobre a atualidade político- Para ela, cabe ao Brasil papel não só nas
hoje a Frente Parlamentar da Saúde. social — “muita movimentação e relações comerciais, mas de estímulo
“Não vamos abandonar a discussão pouco movimento” —, que, para ela, ao avanço das políticas sociais.
dos mecanismos de gestão, de finan- expressa a necessidade de retomada Edmundo Gallo, da Fiocruz/Bra-
ciamento, a defesa intransigente dos do debate: “Fizemos movimentação sília, observou que é importante que
princípios do SUS”, exortou. Mas pediu com movimento na construção de o Brasil aproveite o momento favorá-
que se debatam temáticas novas, como uma sociedade democrática, com um vel, intervindo no contexto da saúde
a batalha que se trava neste momento projeto que costurava as diferentes internacional, e anunciou um conjunto
no INPI contra a concessão de patentes propostas”, lembrou. “Temos projeto de ações regionais importantes, entre
de anti-retrovirais (ver súmula na pá- ainda?” Os sanitaristas, disse, viveram eles o recente 1º Encontro Internacio-
gina 10). “Há terrenos que trilhamos uma década de resistência ao projeto nal Pró-Rede Pan-Amazônica de Ciên-
do ponto de vista acadêmico, mas não neoliberal do Estado, de redução do cia, Tecnologia e Inovação em Saúde,
temos concretamente transformado gasto público na área social, de valo- com participação de representantes
em bandeiras de luta política”. rização da visão monetária. “Em vez dos nove estados da Amazônia Legal,
Depois de Áquilas Mendes, vice- de continuarmos críticos no sentido além de Peru, Bolívia e Uruguai. “É im-
presidente da Abres, “a parceira mais de fazer a reforma avançar, ficamos portante estudarmos o que acontece
jovem entre as instituições do Movi- como defensores intransigentes do nos países latino-americanos, inclusive
mento Sanitário, pois só entrou em SUS”, resumiu. “Depois dos governos para identificar o que representa essa
1989”, tomou a palavra a recém-eleita liberais, passamos a um governo esquerda”, concordou Áquilas, lem-
presidente do Cebes, Sonia Fleury, que que seria o nosso governo, que, no brando que os governos são diferentes
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e o Brasil deve estar atento para não sição, que deriva do não-entendimento “emparedamento”: por exemplo,
assumir papel “subimperialista”. do que houve com a saúde”. quem se apropria hoje dos recursos
Henri Jouval, da Opas/OMS, para Na parte nacional do debate, da saúde?, questionou. Do dinheiro
quem “a saúde não é mais nacional, Sonia Fleury criticou a crença hegemô- do ReforSUS, prosseguiu, quanto foi
é internacional, pela globalização”, nica neoliberal de que só se destrava a para a rede pública, quanto para a
destacou: se aqui a saúde está fora da economia com corte de gastos sociais rede privada? “Temos que discutir
agenda política, no exterior está cada e benefícios como os da Previdência. isso de frente, o SUS como um grande
vez mais presente, por se tratar de “Isso ruiu, mas não aparece um projeto sistema de compras”, indignou-se.
área de concentração e mobilização de de desenvolvimento que inclua inves- “O orçamento da saúde não é a
capital e recursos tecnológicos. timento, emprego e distribuição de expressão de uma política, mas um
“O que há em comum é a rejei- renda”, desabafou, lembrando que é conjunto de programas, parece uma
ção às reformas neoliberais na área preciso mostrar que saúde não é gasto, árvore de natal”.
de saúde”, aparteou Antônio Ivo, “e o mas investimento.
papel do Brasil é importante não para Gallo retomou a palavra para UM NOVO MODELO
exportar modelos, mas para manter apontar, como saída, o diálogo entre Sobre a antiga proposta de Sonia
presentes os princípios que regem o o pensamento sanitário e o pensa- Fleury, de resgate da seguridade social
SUS”. Paulo Gadelha, vice-presidente mento econômico. Ele recordou que como núcleo aglutinador da problemá-
de Desenvolvimento Institucional e a área econômica só fala em cortar tica social, a começar pela organiza-
Gestão do Trabalho da Fiocruz, des- gastos, e cortou R$ 1,78 bilhão da ção de uma conferência nacional sobre
tacou que em fóruns como a Organi- saúde. Em fins de novembro, contou, o tema, Jouval foi contundente. “O
zação Mundial do Comércio estão se reuniu-se com a Frente Parlamentar que alavancou o SUS foi a seguridade
dando alguns debates fundamentais da Saúde para discussão do orça- social: capitalizar a Previdência é
para o campo da saúde. mento da União. Os parlamentares desqualificar o SUS”. Por isso, defende
começaram falando da urgência de se um plano de resistência em defesa
SOLIDARIEDADE REGIONAL recuperar o valor cortado. “Quando da Previdência. Lenaura concordou,
O vice de Serviços de Referência se sugeriu, porém, que se retiras- afirmando que há “um claro retorno”
e Ambiente da Fiocruz, Ary Carvalho, sem as emendas parlamentares ao ao sistema de seguro social como nos
contou que o 3º Simbravisa, em de- orçamento, que somam R$ 2 bilhões tempos dos institutos, graças ao ex-
zembro, conclamou os sanitaristas a na área da saúde, até os mais pro- cesso de normatização de condutas e
debater a grave questão ambiental que gressistas alegaram que não dá para à falsa idéia de que há déficit no setor.
se desenha com a instalação de uma recompor orçamento por aí, porque A seguridade também foi defendida
indústria de celulose no Rio Uruguai, temos que responder aos prefeitos, a por Ilma Noronha, do Icict/Fiocruz.
que afetará não somente a Argentina, nossas bases parlamentares...” Para ela, este pode ser o chamariz de
que está mobilizada em protesto, Gallo condenou duramente essas um novo modelo de previdência, mais
mas toda a região. “É preciso criar emendas, totalmente desconectadas inclusiva e equânime.
uma perspectiva de solidariedade das políticas prioritárias de investi- Paulo Elias mudou um pouco o
latino-americana em cima de projetos mento, e menos ainda conectadas às tom ao dizer que um segundo aspecto
concretos para aglutinação das for- políticas de desenvolvimento e inte- central, depois do financiamento,
ças, como na questão ambiental, por gração regional. Mesmo no governo é a gestão. “Temos modalidades de
exemplo, que afeta especialmente a é difícil, como constatou quando era gestão alternativa, há um movimento
população pobre”. Ele mencionou o diretor de Investimentos do ministé- na saúde sobre isso, mas não se dis-
relatório PNUD-2006 sobre a escassez rio. Citou como exemplo o projeto do cute”, reclamou. “Enquanto isso, o
de água no planeta, “uma coisa cho- QualiSuS: a iniciativa regrediu porque que se percebe é que a administração
cante”: 1,1 bilhão vivem com menos o Banco Mundial não quis saber de in- direta não dispõe de meios para fazer
de 5 litros de água por dia, geralmente tegração regional ou desenvolvimento a gestão, essa é a questão”. Para ele,
obtida a grandes distâncias. tecnológico, só queria pôr dinheiro “o problema da reforma do Estado não
“Não adianta discutir saúde sem para construir unidade ou comprar está colocado na área do SUS”. E deu
associá-la à questão social e à redução equipamento. “É o que o projeto faz exemplo: a reforma feita pela Secre-
efetiva da pobreza”, completou Le- hoje”, lamentou. “Então, precisamos taria de Saúde de São Paulo. “Ouço
naura Lobato, da Universidade Federal dominar essas questões objetivas nes- pessoas falando disso com um grau de
Fluminense. Paulo Elias, da Faculdade se projeto acadêmico”. desinformação imenso — muitas vezes
de Medicina da USP, desafiou o movi- Ligia Bahia, da UFRJ, foi voz as críticas às organizações sociais de
mento sanitário a “pensar a natureza discordante: “A saúde se justifica não saúde, as OSSs [Radis 43], são mais
da saúde” hoje, área de acumulação por ser investimento, não me agrada aos méritos do que aos problemas,
de capital — uma mercadoria. “É um esse economicismo, devemos defender que são muitos”, afirmou. “Temos que
erro grande a contradição entre polí- a saúde porque é um direito”, propôs. debater a reforma do Estado, pois os
tica econômica e política social: não É preciso discutir que visões políticas críticos dos modelos de gestão não
pode persistir essa linha de contrapo- tirariam a saúde desta espécie de oferecem alternativa”.
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A advogada Lenir Santos, espe- bloco histórico de forças compro- não externa, como se fosse alheia ao
cialista em direito sanitário e nos metidas com o desenvolvimento das cotidiano que vivemos”.
aspectos legais da gestão, concordou. políticas sociais, com o rompimento Chico Braga, da Ensp, concluiu
“Realmente temos que discutir a ges- da dicotomia conservadora entre a que o encontro já rendeu pautas
tão do SUS em geral e, em especial, economia e o social, deve focalizar importantes: financiamento, gestão,
a hospitalar”, disse. Segundo ela, quatro pontos essenciais: financia- emendas parlamentares, seguridade
há duas crises, uma instalada e uma mento, mix público e privado, acesso social. Para ele, o campo da esquerda
anunciada. A crise instalada é a do Rio e controle social. não tem projeto de gestão. “Mas,
de Janeiro: os hospitais que ofereciam por conta da crise dos institutos (do
resultados melhores porque tinham Câncer, de Cardiologia, de Trauma-
fundações de apoio têm data marcada “A saúde se to-Ortopedia), surge essa discussão,
— 1º de janeiro, por determinação do premida pela urgência”, acrescentou.
TCU — para encerramento do modelo. justifica não por Lenir interveio para esclarecer que
Ela lembrou que 50% da mão-de-obra existe, sim, um projeto de gestão
destes hospitais vêm das fundações ser investimento; antigo, que funciona bem em diversas
de apoio — e 13 mil funcionários de
hospitais universitários são dessas devemos defender instituições — a fundação estatal com
personalidade jurídica de direito pri-
fundações. “A crise mostra que fun-
dação de apoio não é a solução em
a saúde porque é vado [ela detalhou o tema em artigo
recente, “Da reforma do Estado à
hipótese alguma”. Outro problema
grave, para ela, é que quase todas
um direito” reforma da gestão hospitalar federal:
algumas considerações”, cuja íntegra
as fundações de apoio detêm grande pode ser lida em www.idisa.org.br/].
parte do patrimônio da apoiada. “É (Lígia Bahia) “Todos os serviços sociais se gerem
uma crise instalada, e tem de haver da pior maneira, fazem os controles
uma resposta para isso, vamos ter Ao consolidar esse trecho do mais burros, desqualificados, e para
que discutir gestão”. debate, Sonia Fleury mostrou-se quê?”, indagou. “Para não dar certo!
A outra crise, a anunciada, é atenta aos matizes da problemática Daí criam-se os instrumentos parale-
a das OSs. “Só vai dar problema 10 da gestão. “Fizemos a mais profun- los: fundações de apoio, OSs, tudo
anos depois de instalada, quando da reforma democrática do Estado, isso”, analisou. “Queremos retomar
começarem as ações trabalhistas”. mas a questão gerencial ficou uma o Estado dentro do Estado, e não fora
Segundo a advogada, todas as entida- bandeira neoliberal”, disse. “Ago- do Estado, como a reforma do Bresser
des já estão com ações trabalhistas. ra, temos dificuldade de assumir — queremos fazer para dentro”.
Quem vai arcar com isso? E quais são medidas para aumentar a eficiência A sanitarista e ex-deputada Lúcia
as respostas? “Sem respostas com e a eficácia, e temos que fazer Souto abriu longa discussão sobre o
segurança jurídica, teremos casu- isso, essa bandeira não pode ser da quadro político a partir deste segundo
ísmos”, afirmou. “Quem tem força direita”. E perguntou: o que pode mandato do presidente Lula. Vários
política legaliza a situação e passa no ser feito para coadunar uma gestão debatedores analisaram as perspec-
Congresso; então, temos que discutir mais autônoma, mais eficiente, mais tivas de um governo de coalizão com
as fundações, que chamávamos go- eficaz e responsável da saúde com o PMDB e se debruçaram sobre temas
vernamentais e hoje estão batizadas os mecanismos de controle social? como reforma política e eleitoral,
de fundações estatais. “Não podemos pegar os instrumentos democratização da mídia e da gestão,
Segundo Lenir, o contrato de gerenciais neoliberais em detrimento mudança na percepção das privati-
autonomia, previsto na Emenda da nossa proposta; senão, estaremos zações — que perderam o caráter de
Constitucional 19, de 1998, poderia abrindo mão da reforma democrática valor positivo na campanha eleitoral
modernizar a gestão, mas os sanita- que fi zemos para fazer a reforma — e, especialmente, a composição do
ristas nem se deram conta dele. “Se gerencial”, declarou. “Temos que Ministério Lula: todos reforçaram a
não aprofundarmos isso, pode-se co- tentar avançar para combinar o que tradicional reivindicação dos sanita-
meçar a achar que é terceirização, e for possível dos dois”. ristas de que o ocupante da pasta da
não é”. Lenir propôs ainda um debate Saúde tenha compromisso com o SUS
sobre o terceiro setor, que na opinião A BANDEIRA DA ÉTICA e competência técnica.
dela pode ser complementar, jamais Para Sonia, é preciso propor A mesa concluiu que seria im-
substitutivo, como na reforma do Es- ainda a questão da ética pública. “Na possível, diante da amplitude das
tado do ex-ministro Bresser Pereira, saúde, é grotesca nossa convivência sugestões e da clara necessidade de
pela qual os serviços não-exclusivos com pessoas que não trabalham o aprofundamento dos temas, o enca-
do Estado seriam substituídos pelo tempo que deveriam trabalhar, que minhamento imediato de propostas.
terceiro setor. Carlos Otávio Morei- cobram por fora, que fazem milhões O debate continua.
ra, da Ensp/Fiocruz, disse que essa de coisas absurdas”, disse. “A bandeira
tentativa de reconstituição de um da ética pública tem que ser nossa, e * Colaborou Marinilda Carvalho
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serviço
EVENTOS fornecidos pelo SUS na rede pública contemporâneo, além das formas em
de saúde, assim como os direitos de que ocorre essa incorporação. De-
3º ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO quem compra remédios diretamen- bruça-se também sobre as interfaces
POPULAR E SAÚDE te em farmácias e drogarias. Trata políticas e técnicas dos processos de
dos tipos de medicamentos, de sua formulação e implementação de três
utilização correta, dos riscos da au- redes de informação em saúde no Bra-
tomedicação, do papel de médicos e sil: a Rede Interagencial de Informação
farmacêuticos e da responsabilidade para a Saúde (Ripsa), a Rede Nacional
de governos e planos de saúde. Na de Informações em Saúde (RNIS) e o
cartilha, as entidades deixam claro Cartão SUS.
que defendem a proibição de qual-
quer propaganda de medicamento
no Brasil (inclusive aqueles de venda EDUCAÇÃO E SAÚDE
livre), criticam a falta de transparên-
cia da política de preços e abordam Trabalho, educa-
a quebra de patentes como forma de ção e saúde (vol. 4,
ampliação do acesso. nº 2), da Escola Po-
A cartilha está disponível no site litécnica de Saúde
do Cremesp www.cremesp.org.br, no Joaquim Venâncio,
ob o tema “Conhecimentos e práti-
S cas para a saúde e a justiça social”,
o evento tem como objetivo de promo-
link Publicações.
LANÇAMENTOS
traz dois artigos que
tratam da história
da formação dos
ver intercâmbio e sistematização de trabalhadores — “O
conhecimentos, experiências, saberes SAÚDE INDÍGENA ensino de saúde pública no Brasil: os
e práticas de educação popular e saú- primeiros tempos no Rio de Janeiro”,
de nos serviços de saúde, nas escolas, Povos indígenas no de Luiz Antônio de Castro Santos e
nos domicílios e nas comunidades. Brasil 2001/2005, Lina Faria; e “Políticas públicas em
Em sua terceira edição, o encontro do Instituto So- trabalho, educação e tecnologia:
é promovido pela Rede de Educação ciambiental (ISA), uma história em movimento”, de
Popular e Saúde, pelo Departamento reúne 178 artigos Marlene Ribeiro. Há textos sobre a
de Metodologia de Ensino da UFSCar e assinados, 200 ima- relação entre cidadania, politecnia e
pelo Grupo de Pesquisa Práticas Sociais gens fotográficas, emancipação e uma entrevista com o
e Processos Educativos. 36 mapas e depoi- professor Yves Schwartz, diretor cien-
Data 9 a 11 de março de 2007 mentos de índios, tífico do Departamento de Ergologia
Local Universidade Federal de São analisando os conflitos de terras, a da Universidade de Provence (França),
Carlos, São Carlos, São Paulo preservação da biodiversidade nas que mantém laços de cooperação com
Mais informações terras indígenas e a ameaça do agro- grupos de pesquisa na Fiocruz nas
Tel. (16) 3351-8372 ou 3351-8373 negócio a esses povos. Destaca ainda áreas de saúde pública, trabalho e
E-mail encontroeps@power.ufscar.br a demografia, as línguas e a saúde ambiente desde os anos 90.
Site www.ufscar.br/encontroeps dos índios. Essa é a décima edição da Para acessar os textos comple-
publicação, que anteriormente era tos da revista, consulte: www.epsjv.
INTERNET produzida pelo Centro Ecumênico de fiocruz.br/revista.
Documentação e Informação (Cedi).
CARTILHA DOS MEDICAMENTOS
ENDEREÇOS
Conselho INFORMAÇÃO
O Regional
de Medicina
EM SAÚDE
Informação e saú-
ISA — Loja Virtual
Site www.socioambiental.org/loja
do Estado de, uma ciência e Editora Fiocruz
de São Paulo suas políticas em Av. Brasil, 4.036, sala 112
(Cremesp), uma nova era, de Manguinhos
o Conselho Maria Alice Fernandes CEP 21040-361 • Rio de Janeiro, RJ
Regional de Branco, publicado Tel. (21) 3882-9039 e 3882-9006
Farmácia do pela Editora Fiocruz, E-mail editora@fiocruz.br
Estado de São Paulo (CRF-SP) e o é baseado na tese Site www.fiocruz.br/editora
Instituto Brasileiro de Defesa do de doutorado da au-
Consumidor (Idec) acabam de lançar tora, em que analisa a trajetória da Escola Politécnica de Saúde
a cartilha Medicamento: um direito política nacional de informação em Joaquim Venâncio
essencial. Direcionada a usuários e saúde até anos recentes, abordando Tel (21) 3865-9853
consumidores, a publicação aborda o a emergência do conceito de rede e E-mail revtes@fiocruz.br
direito de acesso aos medicamentos sua crescente incorporação ao mundo
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Pós-tudo
Obesidade:
consumo e produção
público, por sua vez, mesmo tendo aces-
Vivian Braga so a informações sobre saúde, continua
consumindo mais alimentos ricos em
s dados divulgados pelo IBGE calorias e pobres em nutrientes.