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Capit 2207 by Aen Me rf cen pede Acre Oni in Paes 198g ems ig Ba 208. A ARTE EM SEU LABIRINTO ‘Afonso Medeiros Sem titulo IT Nasa ap Seana md efrias, nati pe El at Os critérios de definigho da arte vém sendo descon- truidos polos préprios artistas desde meados do século XX seguindo'o compasco da Revolurao Industrial. Ate i, nada de mais, [a que também cabe aos especialis- tas de cada campo profissional determinar o que & 0 hao 6 da sua algada, Mas o resultado mais visivel dessa Gesconstrusae, que se acelera na contemporancidade, que 0 campo de atuagae do artista le consequente- mente de sua produgael encontra-se cada vez mais Slargado, mavel e impreciso, a ponto néo sé de diluir paulatinamente o ser social do artista, como de gerar Pimpossiblidade de definigao da arte, numa querele @pistemnologica que ndo da sinais de cansaco - todas a5 Sutras profigssex modernas ¢ urbanas, vivendo mais ov menos sob a agide das rmesmas influéncias histdricas © Socials, neo padacem desse tipo (Jo agudo de descon- forte iy Mesmo considerando que a arte no 6 uma das fer: ramentas prediletas a2 f22d0 instrumental, ponho, des- Gea. o dedo na ferida: 3 quem serve essa impossibil dade de definicdo do campo da arte? Particularmente, 2 todos oo seus provissionais, do artista 20 marchand Protesides sob 02 drapeados barracos do sistema da as 105, de prestigio. c : estaria embutido em suas primeiras manifestacses. & 6 A definigéo da arte 1968) & 0 titulo de uma coleti- nea de encaios do esteta @ escrito italiana Umberto eo, que rene alguns de seus trabathos escritos entre 1958 + 1963. 0 titulo € enganador. pois 0 préprio Eco Cerlarece na introduce que sua intengso, mais do que Sisculieva detinigdo ea arte", abordar o problema da fdefiniedo da arte’ partic de” "instrumentes fornecidos: Dela estética especulativa™ para “dar forma’ as mais, ” avancadas experimentagies da arte naquele momento SYnomento este que muitos tebricos da arte assinalam ‘como a transi¢ao entre modernismo e pés-modernismo ‘ou entre madernigade ¢ contemporaneidade. Ezcritas num momento em que alguns procedi mentos, noje em dia enfelxados sab a rubrica de “arte Contemparanea”, estavarn nascendo, algumas das per Eepedes de Bea expressas nesse livro ainda sao perti- entes, Sea intengao de Eco née era definira arte, mas, mais. pertinentemente, igerscrutar © contemporsneo para dele sbstrair seus “porques, essa tarefa pare- Feito heredtea stualmente que, passados quarenta e {ras anos da primeira edigSo desses escritos, defender O estado de indefinicso de arte, sobretudo 3 partir da Gvalanche de métodos, técnicas, processos, desloca- Mentos e apropriagoes verificados ne arte contempora~ fea, tornou-se um cliché tanto na academia quanto fora Belg A arte 6 tao variada e multiforme que nao s2o pou- os os que repetem atualmente que "arte é tudo” - um frantra jb introjetado tanto no senso comum quanto no Senso académico = e, convennames, esta € @ mancira mais preguicosa de enfrentar a questdo. Entretanto, qualquer profissional da arte lacadémico ou nol escalado para julgar 0 mento de projetos artis- ficos saberd dizer'se um dado projeto é "de arte” ou no. ambém devernos considerar que qusisquer discursos: limmpresso ou nol de © sabre arte expressam escolhas, diferenciagBes, diseriminacées e, portant, 9a0 juizos \Vervais e/ou visuals de ¢ sabre arte que @ definem de Biguma maneira, Por outro lado, se criticos e historia Gores sentem-se impotentes para definir seu campo de Stuacao, os curadores, marchandse galeristes parecem no tubear na escolha dos produlos que entrarso no Creuita das mostras ¢ das feras, Se “tudo é arte”, ndo faz sentido reiterar certas praticas e condenar outras 20, tdesterro pare além das frenteiras da arte. Mas o fato & (gue alguem decide o que & ¢0 que néo é arte, eo pudor dos teoricos erm defin-is sé incrementa g poder dos ad- ministradores da arte, além de fazer do “tudo € arte” o ote ideal para a mercantilisms iconatégico que, come todos sebemes, comumente ignora procecimentos éti- cose adora lucros a qualquer custo. Nisto reside, talve2, maior dos temores de jovens artistas ressabiados com ® sistema, o de serem (ransformados em fast food ar~ fistice-estética, Nesse eentida, © considerando-se que Dd deslocamento e a apropriagao sao os recursos téeni- Cos mais privilegiados nes cursos universitirios de arte pode-se prever [sem querer ser “apacaliptico” e muito fnenos "ntegrado"l que tais cursos loge deixarao de ser io arte” para eanverterem-se em cursos de, marketing e propaganda. Um artiste que ignora procedimentos de Butopromosae ou 9 que & network arrisca-se 2 invsibi- lidade profissional - como, de resto, qualquer profissio- nana atualidade. Essos consideracdes me levam, pretiminarmente, & duas hipdteses: I) estamos dlante de casulsmos, onde esos e medidas mudam constante e convenientement® {es lado na gangorta dos valores [simbdlicas e econdmi- cos), tratando-se, pura e simplesmente, de ardit inte fectual ou entao f2!"arte" é ur sentimento que, quand Ianifeste, sabemas distinguir de outros sentimentes Eom conseguir explicéslo =e assim, teremos forse- Samente que concoréar com tantos pensadores que = Gefenderam como um tipo de conhecimento da orden Go puramente sensivel e dependente oxclusivamen- te de gosto e da cultura pessoal ~ gosto e cultura que Convenhamos, podem ser sedutoramente embalados ¢ iimpostos, De qualquer maneira, estas hipéteses nao ig- hnoram o fato de que toda idele de arte é distingutvel no tempo histérico ¢ no sspazo social Em As invosdes bérbaras (2003), de Denys Arcand, hé uma cena que pode servir de explicagae para 8 oscila- [20 desse gangarra de valores. Os amigos [professc- Fes}. reunides diante de um belg [aga em torno do leita Ge morte do pratagonista (Remy). camentam: Fomos do, (| Comecamos sendo existencialis- tas... Tinhamos lids Camus © Sartre. [..] Depois lemos Marcuse e nos tomamos marxistas, marxistas-Leninis ” 95, rotskistas, macisias. Lemos Soljnitsyn e mudames de ideia, Passamos 2 estruturalists. [1] feministas, desconstrucionistas. Howve algum ismo" que no ado- Famoe? Cretinismol”. A autoironia diante cos sucess ‘vas colectes prét-a-porter do mundo intelectual expoe © cinisma dos personagens, mas nie faz concessoes 3 Eretinice. Em cutra cena, durante o almoga, conversa ‘A inteligancia nao ¢ ume qualidade individual, come se costuma pensar", e citam encontros.privlegiados fa histéria das ideias no Oeidente: Euripedes, Sofo- Clas, Aristotanes, Socrates e Plataa (Atenas, 416 a.C Leotard, Michelangelo, Rofael e Maquiavel IFlorenca, ‘goal; Adams, Franklin, Jefferson, Washington, Harte ton @ Madison Iriladeltia, 1776/17871. Coneluindo, um deles diz: "a inteligencia desapareceu e nao querenda ‘Ser possimista, as vazes ela se ausenta par um tempo Esses didlogos, sem distarcar o tom de nostalgia diante dda austncia de inteligéncias privilegiacas e socialmente ‘convergentes na atualidade eitam George Bush ¢ Silvio Berlusconil,revelam exemplarmente o desencanto des Intelectuais com a lida acacémica e sua inutllidade na- uele momento em que a consciéncia de finitude diante da morte nao pode mais ser escamoteada, Numa atitude similar, Frederico Morais, na introdu- gio de Arte do que eu e vocé chamamos arte(2002), qua- ‘Se ern tom de desabato, canfessa que “Depois de exercer durante 40 anos a critica de arte, deve dizer, come Mario de Andrade, que eu tembem fio sei mais © que € arte. Jovens, somos multe afir- ‘matives, mas 8 medida que amadurecemos as dividas ‘aumentam e jg née temas certeza de nada, Aarte conti- ‘ua existinds, ¢ sua morte, tantas vezes anunciada, nao carrey, Mas'se a sinto viva © necesséria, nao sei maiz como defii-ta" (2002, p. 12. Citando varios artistas, citicos e historiadores nessa Introdusse, eproprisdamente intitulaga Para que ser vem definigées de arte? Fraderica Marais suger® = pre- cariedade conceitual sabre a configuraggo e os limites So campo da arte pera, em saguida, elencar ofocentas mabey eimasuge ne aes SNe. ‘estavamos suficientemente sébrios. Tinha- ve ccgameteratastancte vents efeoaeaaterssn eterna Suro i997. p. 9. “a Guattari faleceu no ano seguinte © Deleuze quatro anos, depois, Mas 0 mais importante nesta citarao, creio, & 0 fato de admitirom que a questsa deve ser posta no momento em que se atinge @ ponte do "no-estilo™ Isto quando a capacidade de (vanscender os “ismos” ou 3 identicades estlisticas que compdem a historia das mentalidades ~ as quais todos nés nos filamos em al- gum memento da vida, tal coma foi expresso naquelas tages de As imasées birbaras -, ode emergir serm 0s entraves das acoes e reacdes puristas. Algm disso, hd que se destrutar decse “momento de graca queé 3 valhice e da “soberana liberdade" que ela oferece. Tal- vez num ato que nao ¢ assim tao fatho, Deleuze e Gua- {lari inieiam seus exemplos de momento “em que tocas bs peyos da maquina se combinam para enviar porvie drm trago que alravesse as eras" nao com 0s filésofos, mas com 0s artistas: Ticiane, Turner e Monet, res mi- notaures que reconfiguraram 0 (aoirinto da arte e que produziram slgumas de suas meihores obras durante B velhice. Pera o erica e curador brasileiro, contradizendo percepedo dos filésofos franceses, @ maturidade ¢ 0 Fromento em que jé no se ter cerveza de nada ~ 9 que faa deisa de ser outra maneira de serenar os Bnimos, Nao é perturbador o contraste entre a excitarao cos ois Fidsofos e 0 desanimo do critico brasileiro diante dda velhice eda tarelo de revisitar/radefinir seus respec tivos campes de trabalho? ‘Sem s¢ incamadar muito com 2s vis8es ambivalen- tes sobre a maturdade © a velhice, a postura desses intelectuais dlante de seus respactivos campos de co- ‘nhecimento & diametraimente opasta: de um lado, um profissional da arte que, mesmo depois de décadas de Enfrentamento com 0 seu objeto de estudos, sente-se ‘cada vez mais impotente para defini-o, embara perce: bbendo que arte continua “viva e necesséria’: de outro, dois profissionais da flosofia que sugerem que a defini- {glo de seu objeto de estudos @ algo que talvez sé possa er feita depois de uma longe trajetéria. Por que, com 2 © pessar do tempo, o fidsofo se impSe essa questlo 0 {ue € 2 flozotale profesional da arte desiste dela (o Gue é a artel? Uma primeira a vaga resposta reside no {ato de que arte nao‘ flosotia,embore se passa hloso- far através Ga arte © postiar siraves da flosotia sem {que ambas, percar suas respectivas eapecilicdadea, Rios pereebo também que o flbsofa tem a necessicads de desconfiar das sombres, de inquirir 0 lusco-tuseo, enguanto que para oprofissionsl.gs artes anaitecer eo ‘tvorecer $40 passagens sutventementeexplctas em Si mesmes, 0 fideo intul enquanto o artista presser tee ambas slo formas leitimas © igualmentedignes do conhecimento de sie do mundo, Arte Filosolia so tentes cfferentes, cade uma apropriads adaptavel aos diveraos graus de mlopia, hipermetropia, astigmatism f visto canada ~ quando se tem aa mesma tempo vie fas desaas degenerescénciosvicusis [como eu) userse tentes muttfocais Gutre possivel resposta encontra-se no fato de cue Deleuze Guattai enfventaram a tarefa de gefinira flo: folla cnirastando-a coma ciénca.e com aarte, uma agitagao discreta, & mela-noite™ Pare mutos Gos pra- iissionaie de erte, controsts-ls com outros compos 40 onhecimanto € um procedimento de risco quase nunce nfrantado, muita menos de madrugada. Se a identda- de de qualquer coisa pode ser delineade no contronto com outros identidadse ou se 0 sujeto 26 se pereebe noxercicio da alteidade, entao estamos ciante de um os motives da alegad impossiblidade de definr 9 que Glare: reluténcia de mottos de seus profiesionais em perceb-lo através de contrastes, E esta & uma tarela Paniculormente complexe se considerarmos oe tentt= ‘aside tutelagem da arte por parte de cutras discpines Desta percensao sucede Uma terceira possibiede de resposte: alguns métodos e objetos de vias cen {ios foram paridos das entranhss da flosaia mesmo Gus este posteriorments seja tratada apenas come ‘rere ama de leit), enquanto ate tem sus auoc8o rel Vindicada nBo 36 pel flosoie, mas também pela hts a Fa, pela socotogia, pel entrapologia« pel pecolagia Mjara citarros apenas ae madrastas mais Obvis. Em cuires palavras, historicamente a flosofia se entende Como doadora de Srgios (até, pelo menos, que esses Stguos/saberes se tornem independentes|, enquano a Site é percebide mutes vezzs como uma feceptora de Stgdos'e Wens{usdes de outros saberes. Oe qualauer raneira, arte efllosotia podem ser considerades coro Gelanice que, emnbora dversas, s8o expressoes inequi Socae das mesmas leis que regem o universo. ‘Existe um estar llosdtice para além do fazer da Fi- \csota? Mulls daem gue sim Exist Um estar aristico trtra-Arte? Poucos ousariem dizer que neo. Mas a Arte Ermuito mals célere na ebsergao daquilo que the & es- tranho da que a Filosefia na feconhecimento do que é Sineo sos seus limites Msteriees e idecbatcos, Telvez ‘qui estej cutra metho para sousadia dos profesinals aa Mosel ern detinir seu corpo de atuagdo ed pust= lnimidae ds profsianais doe em aur ¢ etme. fnio arte quanto fiosofa ~ como qualquer produ- to do engenno'humana = tao canstractos Mstoreos TGeckigicas:£ por lave mesma, € necessério assinalar trols uma coisa comum tonto & historia da arte quanto Shistore-do flosofia (pelo menos nas ofciais ou cand Tieas}vo moda eurocentrice de percebé-las enarrd-las, Gua recusa em reconhecer plenamente as contribuigbes itnpreseindivets de outras formas de pensarnento, Oas- Constr o ebo etnocentrica das historias da arte e da fitsofia acrescenta mais urn matva para o transi entre fronteiras e, consequentemente, exge urn folego que as SSpechltades tates endo comportem ‘Num tom quase iceonante emrelarSo ao seu desen- canto [que cel anteriormentel, Frederica Morais resgata Sua atvidade e supere seu cansaco ao afirmar, no fnal Ge sgtonteante itreduck de sev tira, que brecisg corager para avancar, sempre ras on ce, quem sabe até aquela mao que o homer do necth- $5 dbkou impressa ao limo da gruta,e tertar, uma vez thois: decitrar 0 mistario da arte” Morais, 2002 20) “ E assirn percebo, feliz, uma possibildade de conciiaeSo Entre Morals, Deleuze/Guattari eas minhas expectatives. Para aciiter meu trabalho, daqul em clanterezorre- seitver por outra, as ctapBes compllades palo critica € Sliragor minero, mas & necessdrio peracrutarimedio- {amen ae ligranas embuildes no titute de seu iva, Toterindo-se diretamente ume das famosas faa die Marcel Duchamp (de que arte tudo aqullo que ele 3 qualquer cutra pessoa decida chamar de arte, Fre- Gerice Morais escotne come titulo de seu livro algo que Seu como uina sentenca: Arte ¢ 0 que eu e voce cha~ ‘Shamnos sie" e, ssimn, aparenterente tora rarefeta @ Toure angests om defn oque é ete. Mas, antes que bs mentee que sofram ve ejacularéo precoce e SUSpy- Fenn alviadas eiante dessa suposte sentengs, fagamos Gitteyercico de lcure eas entrelinhae desse tuto 1d “aus do tala €.obviamente, 0 critica e curedor mix nei. voce", claramente,oleiior que tem 9 lvra em Iados. quem ¢ leitor presumido por Morsis? Pricrite- Tamente’ agucle que se nteressa por arte, que é urn ‘tnt e/ou especilista Gz arte ov que é um j3 do al- erateteue vers dar no mesmo. Considerando-se Que Ieate paso scesso d letura encontra-se restringico par (Efos'fatores e que soo escansos os fruidores de livros Velsobre arte, os leitores do lvro de Morais certamerte fazer parte de uma minora de aficionadas. Assim, no {Glau absurée dzer queo eu" eo voce” doula S80 fremarcs de ume mesma tribo, qual se, a dos aman- {eilespecatste/aicionadon das artes suas. ‘a paric dessa leitura do thule fe se ela nao for imper- sinantel shrmar que varte €0 que ee voce chamamos ‘Sendo equates dizer que qualquer pessoa possa no- rears detinira are aque estabelece uma fnae tale Ineanseerte rola com 9 ucarao de Duchamp a8 ‘Team por que nomear algo e fezer valer essa nomnea- [Bod iadlo dé um contrato foclat ena um ato arbitréric $e cada indviduo, sea ale quer fer. Corroberando esta posslbligede de interpreteedo do titulo do lvre de Mo- Pe seu subtituo & 60" defngdes Sobre artes osisteme s a rte =a rin dl astride tits 6 ee Chiitas, "hdelinigBo das espécies da arte fetas por artistas ¢ espectalstas ententa edetathade, expressonde quais- Guer continvidades, adaptagbes, upturas, retomadas, Stettarese cssidéncias stngindo ume tal feria nom= falsta ne seculo X%, que s6 poderia redundsr na hipe= Tiniagse ce signo arte na sua consequent diugeo {ine s pen citar, mesmo que nde exaustiamente, 0s Parodg: euimenin, acalg gape au ation 9 Extensde getactea ecadtcs de delinigdo de arte. Respi= re fundo, caro leitor. : ‘ Knernedliica, arte amerniana, arte marajoars, arte tapajeniea, arte pré-colombiane, arte dedalica, arte elie, re mica, arte asic, arte elena. Src paleoerista, arte romana, arte copa, ging, are Gankine, tan asuko/noroyion, arte caralngia, hear “fol yammatova, romanicc, normando, goto, gotico ibimeiante, kariaturasiaal tudor, renaseimento, a2u~ chiimomojamarjiéel, maneiismo, barroco, regéncia f2eoes, neoberreco, hispano-mourisco, usocmaurisc, ‘ovidet arto colonia, manoatino,jnino, elsabetane. Georgians, jsccbetano, mudsjar,pombelinc, paladians- Ho" ercbiiemo, academicisme, euoenismo, eoclass Covimpeno, ramantismo, pré-rafaelismo, resismo. art engage, impressionism, pés-impression'smo, site {inh diislonisma, simbolleme, ofierno, orenialismo, Srinvesu artes, asismo,expressionise, prima Vimo, modernism, cublemo, cubiemo onatica, cbis- tho siatetien, cublamo fie, cuba-futuriome, american Seene painting. voriceme, ciacionisme, dadatsme, fu- {uname aeropiture, neve sachlehkel. consirutwismo, tellmmema, ars accureta, suprematigme, art brut surre: smo, neo-romentiema, vanguards, ealieme magico, feallerpesociallsta, pau-bras, funcionlismo, realism fantastico. abstrecionismo, abstrarso Uric, arte bo- ‘Rértea, ylirsiamo, estadentisms, eutorisma, nlm, Site cinética, techiamo, arte degenerada, neoplasticis- te, slomentarismo, nesexpressionisme, bad pointing, 6 neodadaisme, neorresliemo, brutalismo, concretisme, Informalisme, expressionisme abstrato, action painting, zap art, neoconeretismo, behavier art, pés-madernismo, othe povera, arte cancsitual, minimal art. hiper-realis mmo figuragae erica, {and at, ecletismo, realism fei, Fibtidismo, transvanguarda, ‘mail art, realismo social Die comternporanea, erte multimisia, arte sutodestruti- o, arte feminina, homoarte E mais uma infinidade de escolas © grupos mais ou menos coesos: Escola de Pérgamo, Escola Danubiane, Escola de Fontainebleau, Escola de Haarlem, Escola fe Utreent, Fdson Piver School, Escola de Barbizon, Escola de Pont-Aven, Escola de Haia, Escola de Paris, Scuola Metafisica, Escola de Nova lorque, Kitchen Sink ‘School, Arts and Crafts, Nazarenos, Grupo Grimm, Gru po Section ¢'Or, London Group, Ashcarn School, New English Art Club, Berliner Sezession, Groupe du Bateau: “Lovoir, Der Blaue Relter, Die Brucke, Bauhaus, Cercle et corré, Ulm, De Stil, Banbryols, Grupo Santa Helene, Nacleo Bernardell, Grupo Selbi, Grupo Zero, Grupa Ze- bra, Cobra, Fluxus, Groupe de Recherche d'Art Visuel, Prove, Geragao 80, Young British Artists e centenas de et ceteras ‘Nesta longa lista, os movimentos, periodizagdes, gf eros, escolas e grupos ora revelar tendéncias intrin~ Zecas as artes visuals, ora tendéncias culturais amplas: 3¢\vezes, 80 movimentos nomeados pelos préprics aftistas &, em Outras, 280 eliquetas eplicadas retros~ Peclivamente, consttuinda-se. camo indicios de uma Eestogia da arte que, de fato, ainda nao foi devidamente ‘Sebogada porque muitas espécies de Imagens do géne- fo arte, sonretudo as que escapam a clessificardo orto ‘dena Igue padece de Um darwinisme caothol ainda nfo foram suftientemente estudadas e “catalogadas". so- terradas que estao pela indiferenca ou pela ignorancia. Nesta lista tarnbem 2e pode perceber que a perio- dizocde © os “isms” privlegiados pela historia da arte {radicional ea prépria ideia de vanguarda” tém algo em ‘Comumn 380 telealogias baseadas ne nocao de progres a 0 continue, na crengade que os objetivas itimos ~que sbjetivos? ~ organizam os passos Incertos da hurman- dade, Sea arte nBo 8 um género metaisicn, se ela € Corformadora de mundose cilidades,entao multas de Suas eapécies foram extintas quando certas condigbes mbientais, que hes garantiom a sobrevivéncta form alteradas profundamente. Nesoe sentido, a prose” ime sobre s morte da arte de fuuristas, dedaistas,le- ttasengletas, entre autos, tem 9 nut rao de er ‘arte morred, talver por causa de aigume perir= bacao burguesa em seu Sesenvalvimente: \briondrio catsada por ancmaliae e mds formagSes ~ numa just ficatva méciea de cardter teratolégic, Alguns airmam Que fol suicide, cutros, que fo! por pure senilaade. In- Aependentemente da causa morte dodo o status pale- entoldpico da arte, podemas parafrasear aquele acagio Popular segundo 6 qual a morte doreinéo é a morte do feinado: arte morta, arte posta:-€, entao, 2 noede de progresso” deve ser substulda pela de ‘evelucao" (no sentido darwinistal para que a escavacso do passado, Tevelando ae eausas de extinedo ou da mutagbo Ge a= gumas especies, nos sjuse'a compreenger os modos de Sobrexivencia © adaptacdo do genero arte Portanto, qualquer tentative de definicdo de arte pre- cisa considerar a multiplicdade de vebes e conteytos ue se sobrepbem ac longo de sua evolucso gendtica ara, 2 exemplo da “arqueolagia do Seber que Michel Foucault igae-t9Bal aplicou ao cecurso Mistérco, pers rater 0 saber" da are: ‘De que mansira Um Gnico e mesmo projeto péde- -se manier © constitu, pare tants espirtos diferentes e sucessivos, um horizonte nico, que mode de aes0 8 fue suporte implics 9 jogo das transmissdes, das re= {omadas, dos eaquecimentos ¢ das repeticdes; come a triger pode estender seu reinado bem além de si pré= Frise ating oquele destecho que amare ee dev ~2 pro- Elema nfo & mais ofundamento que se perpetua,e im as ransformagdes que valem como fundagso.erenovay Gao dos tundamentos” (Foucault, 2004, pe Eis, ngs palavras de Foucault, um projet epistemslé- gico foscinante para o compe da arte: ndo mais persistir fs questao do fundamento que se perpetua” ~ que eu Caracterizaria na suposta fundarnentacao transcenden- fal =. mas nas. transtormagses que vaiem como fund Gao b renovagaa dos fundamentos". Trata-se de promo ‘Jer uma inversio na airerao positivsta-idealista que e fistéra ea flosofia impuseram a ecologia da arte. Defi. hr’ arte seria, portanto, uma tarefa que comecaria ne Camedia mais recente [eontemporaneal de seu terreno © Se gprofundaria na sscavacio de seus substratos, num ‘erdadeiro trabalne arquealsgico. Como um edificio em permanente construcio e reconstrucae, com andares, Etima e abaixo da superficie © onde os alicerces si0 Sempre reavaliadas, a arte # ume mgradia precéria que ‘nao permite instalagbes definitivas I'c desfecho que j2~ mais se Jeu’. Suas fundagbes também se encantram um terrena mavediga, que, grosso modo, pode ser Getinige come = camada visivel que encobre a {ricco erie dus placas tectonics, igulmente poerosas: 2 Por "racio- entenda-se 0 apolineo,o equilbrio simé- trigo, a razdo cientifica como intuigao da naturezal, 8 trosiégice, 2 emagzo recionalizada, come nos classicis~ fos e hes cubismos, Por “emagao" entenda-se 0 dioni- Siaco, 0 equilforio assimnétrico, a razdo estética [como immaginagao da naturezal, a pornaldgica, arazao emocio- malizada coma nos barrecas e nos romantismas, Como Impuisos interagentes, complementares e dinémicas, 0 racionalismo-apolinea-erasidgico e 0 emocionalisma- dionisiaco-pornaldgieo estabelecem um dialogismo Com permanentes confronts, contaminaydes mutuas, Galternanclas na histéria das mentalidades [préticas € conceituais) artistica-estéticas, ‘oncordando com a pereepeao de Friedrich Niet~ sche {#844-1900), ern 0 nascimento da tragédia (1871). apolines 2.9 dionislaco sée antagdnicos, mas aquels 2 erigide sobre os alicerces deste. Assim, o padroci- To.dos nilistas expe o embate no coraeao da prépria cultura cléssica grega, fazendo desmoronar a ideia de ‘serenidade’ igus certes, tradicdes [socréticas e crists) quiseramm molar camo "a" heranca que os gregos, via tines, (egarem cultura oetdental Armethar forma de perceber s relagao entre apalinene dionisiaco 60 sim= Este chines tarsbem presente na cultura coreana © na Japonese) doyine doyeng, onde obscura yin} e olumi- fso lyenal se sxstern em ralagdo urn 20 cutfo © cada Urn eoftedt o principio do outro simbolizando indie Mflsade, a interdependnci, a complementariedade, 0 Ginamsimo © 9 alternancla dae forces que sustentam propria ida ern quatequer de suss dimensses ~ndo fo Porlacauo que Nietzsche fol acusado de ‘esatsmo™ por Zeus primetros detratores ‘Karte go € meramente a sucesséo de estos tdci case perlovos enfenados pela (ges neor. Ele &, mals Spropradamente, a manifestacao de impuisos e velo- Heo-que emnergern e submergem constante © interai- Varnente na consciancia Humane, Em tovos es épocas de arte podem ser verificadas tanto a abstragao quanto STigurosdo do entondimente: tanto a tendencia de ss Terutladedo Légica quanto a de estruturasao aleatéria Sreacice de penamento; tanto 9 tentativa de sfasta- frento quanta 2 tentative de aprosimacso da nature- Jago reaiiade; tanto a aderéncia @ aparéncie quanto Fressenclas tanto osubjetve quanto o objetivo: tanto 9 Snattico quanto. lrico, Mesma que ligando diletica- mente objetos © procedimentos dstantes nos tempos Tinos egpoces, s¢ as relagees ado capazes de produzir Semidos'na plasticidade de mente humane ‘A Guporifee contemportnes da arte no & aquela qua pinta, bord, apropra, interfere, esculpe, perform, Sonecta, desconecta, desenha, berrd, constréi, des Constral, reconstrOy desir Instala, desnstala, deses- {obliza, detine, redefine, captura, recaptura, autoriza, desautonsa, mata eressuscia toda e qualquer espécie de arte? E tudo 20 mesmo tempo, uma liguiticarao do Gniem @ do aranns no aqui-e-agora? A arte contempo- tinea no Vea com a Unearidede temporal ou narra, Exstamente por essa jlto de eer da arte conternpe- ranea, o artista 4 cada vex mais uma especie de esti {a de designer, de arquiteto, de diretor, de maestro ~ ‘iver seja exatamente por esse motivo que Takashi Mu- rakar insiste para que ndo se faca distingso entre suse stividedes de artista e de designer. O artista contarnpo- Faneo é aquele que arregimenta saberes, que projeta ou Girige um set ou Uma erquestracao, tornau-se um per: Sader da obra, Certas obras de artistas aproximamn-ce ‘mais da obra de estlistas, no sentide de que séo obras TLanceitos, n&o necessariamente "vestiveis/vendéveis ‘mae destinadas » estabelacer tendéncias (como “espl- Fito" de ume colegéale, assim, se distancia do prét- "porter da arte. Mesmo assim, e ciferentemente do ‘Srquitete, do designer # do esllisia, o artista continua a no se preocupar cam a utlidada imediata do que cria Etampaueo até intereazado em responder aos apelos préticos da vida, Do outra lade desea convergéncia en: {re estes protissioneis, quando arquitetos, designers & tstlistas pouco se imgcrtam comma funcionaligade de Suas criactes, normaimente criam coisas que s80 Ime. diatamente percebigas « entendidas como arte, © que logo sto expostas em galerias e museus de arte Na raretagao do atiidade do artista (istanciando-se do ‘corte e costura” ou da artesenial enos interisios de outras ativdades profissionais com o campo ds arte, encontram-se variados motives para a maleadildade do concelte de arte na entemporaneidade, o que levou Abraham Molles a afizmar: “Olarteta nao (uta mat com a matéra, mas com a dais (Qu com a administracao. Nao faz mais cbras, propte ideias para fazer obras” (Molles; em Morais, 2002, 1471.0 artista Fa € mais caracterizado como o feforda obra, mas como 0 idealizadorda mesmae, assim, aabra de arte & mais uma ‘questio de dealzacao mental projetada pela artista er téc micas, objetas e processos que ele nao domina, emenos um pensamento plasmedo ne materia par urn unico indicus, Eonvenhamos, entretanto, ue esse estado de coisas nao se \enfics eomante nos limites temporais da conterporanel- {dade srstico-eatatica, erbera a defina exemplarmente, st Projetando esse jeto atual de ser da arte no retrovisor do tempo, a historia da arte deve ser muito mais que his tra de eatilos, de movimentos, de artistas, de obras, de tcnicas, de continuidades ou de ruptures... histéra da arte seu aller ego ou Seu espirito de Piginaligo:acrit~ 2 de arte -deveris ser considerada coma um dos varios fios da imensa tela que 6 historia das mentalidades. ‘A arte contempernes no exige mais aprendizagem, mas aprencizagens; nae mais especialidede, mas espe Cllidades, nao unifermidade, mes plurorrigade: nao ‘corréneia, mas concarréncias. Dessa maneirs, aarte na ‘contemporaneidade é polimérfica, politica e polissémi ‘car quanto mais hibrifizada, mais intrincada 6 sua tele de aignificactes, Mas existl algure momento em que 3 arte nao foi multifacetade em algum sentide? Ou, melhor Sizend, com os inatramenios crcos disponivesstual- Mente nao seria possival alirmar que a arte sempre fol plural em termos de formas, discursos e signficados? Como heterogénese conceitual, @ criagdo artistica no respeita fronteiras. No entanto, sua criacao e recepedo hance foram tao segmentadas ¢ dependentes da media~ (Gao de epecialictas como agora. Fis, talvez, 0 maior dos Paradonos da arte na slualidade, tanto para os artistes ‘usnto para os demas profissionais da arte Os romantismosie os modernismes nas artes ajude- ram a formatar a ideologi da juventude, da inconstancia eda petulane'a, e, nesse perspective, a maturidace tor- favs um problema, O rite da genialidade é avesso 8 s0- Grevivdnelae & depuragae que 8tempe impbe a qualquer producao. Eiseo pede exolicar néo somente 0 desejo sem fim palo novo nas artes ~ o desejo recalcado e sublimado na eterna expectativa, numa espécie de goze permanen- tomenta adiade ~ como provavelmente indicas rendncia Conceitual aos herizontes mais alargados. Nao seria esse 8 contingéncia mais relavante do ser contemporéneo? ‘os Setanta @ quatro anos, 9 artists japans Katsushi- xa Hokual (760-8481 exprssou sus aspiardo de viver “ olees Snes. no posto ave ee acrescentou 20 pr Steir volume ae seu As com vistes do Monte Fj 1836 Mil izando * Desde ‘0s Seis anos de idade eu tenho o hébito de dosent todos os tpos de coisas, Embore eu theese Seee0s Intense desenhos até meus cnquenta anos, a mjoe meus rabathos fetes antes do meu septs ter rierndriereaientevle pena ser considers aero oade do ceonta eres que su vim entender Barut forma oe onal, naslose peres e 2 Natl a ge'fames varvres.Consequenterente, com aids- {g28 Se fumtae ele ou terel feta mals mats progress soe otecnta eu ters chegndo macs pura do essencio Sooke Se cen onoa, ere ating um nivel magic. fos arto dex cada pono cad nha agua vd ES55 aus peci'oce meu pésteros que observer se See Se frracts® okatoi em Math Fores 199. B ls okussi viveu citenta @ nove anos. Sue vontade de aprouimarise do essancia da rt, so hd negociar cory Freee ara possul ta, corrbore a pareepedo de De remBe tar Sobre‘ “estado de gre’ ea soberane trase ia que vabice proporcina e, om carta mesic, reer eaee eludenca Morar wa, cama ternbem se pose contrat fs patos de Hokus ha nelas 92869089 Besoe8 Sore tapasse v eriacor. que aqui vida pro- ge ute do conae rca de fneude do humane. Trans- ae ane centngenclos temporaiseculluras nas Quis ender ahosano Gate rremedavelmerte submerso 6 20 roo ta deseo roo do ncanfessavel de todo ar SLES tado nsiecust Nenmurn oss trabelha exclo- se ica coms percepsdo os mies de seus tempos Sears Entetonts a vontade do now @ do inaucto © ReTaletos da goeso novecetsta Ge proaresso © ge ras da descargvcontun sland as opie. ree ga poets ocr frances, amado por multe Fae ueserads cries de are, j6 denuneiava bm 155 28 Teese de asimutaplo oe ascendércias © dercen- ss déncias artiticas por parte dos dedlogos do prograsso: “Transportads para a order da imaginacso (houve uns audaciosos # maniacos da logica que tentaram faze “Ip], 2 ideia do pragreseo ergue-se com um absurdo gi Ggantesco, um grotesca que chega a ser pavoroso, A tese Fi nao é sustentavel. Os factos sso por demais palodveis, por demais conhecidos. Zambam do sofisma e enfren- famena imperturbavelmente. Na ordem postica e artist ta, todo 0 Pevaladar earamente ter um precursor. Toda 2 fioragdo & espentinea, individual [..] Oartista s6 radica emsimesme, Aos séeulaefuturas ndo promete mais cue 85 suas proprias obras. $6 6 caugao de si proprio. Morre Sem flhes. Ela foi oseure, o seusacerdateco seu Deus (Bauselaire, 2006. p. 58 ‘Se Charles Baudelaire (1821-1867) fosse reancalde) mado na stualidade, prevaveimente experimentaria uma Seneagho de deja 7, ‘As pintures rupestres de S#o Raimundo Nonato no Piaul ado arte. A Grande Onda de Kanagawa (1839-1 de Katsushika Hokusai, é arte, Os parangolés de Helio Gicica séo arte. O xtaze de Santa Tereza (i6as-£2), de Gian Lorenzo Bernin, é arte, Os Guerreiras de Qin Sh Huangaile2%0 a..| séo arte. LH.0.0.2, {919 de Marcel Duenamp, ¢ arte. As eadeiras Anemona |2000} e Sushi V {2003}, dos irmaos Campana, sto arte. A Catedral de Be. lm (1782), € arte. As performances de pintura vaginal de Shigeko Kubota séo arte. 0 painel funerério fio Kalabari da Nigeria (século XX €arte. As ninfeias de Claude Monet S80 arte, O Todat-i (745) de Nara € arte. Os murais de Pompéie sao arte, A Guernica 937), de Pablo Picasso, & ante. As fotografias de Alair Gomes Séo arte. Aintervencio Saniiéria ou Santusrio 12003], de Lucia Gomes no Aterro Go Aurs, € arte, Os afrescos da Capele Sistina sso arte Acerdmica marajaara é arte, Os grafites de Os Gémeos ‘Seo arte, Akira, manga (1982) e animé (1988), de Katsuhi- Fo Otome, sao arte. 0 Sono (1866), de Gustave Coubert, & ey ‘arte, As raupas “playmebil” [A costura do invsivel2004), de dum Nakao, s80 arte, Broadway Boagie-Woogie 92 13), de Plet Mondrian, é arte. Os murais de Diego Rivera $80 arte, O manto tupinamba exposte na mostra Brasil '500(2006) é arte. Os mantos de Bispo do Rosério sao arte ues Figuras i953), de Francis Bacon, é arte. Os objetos eas nstalacdes de Cilgo Meireles s80 arte, China, China ~ Bust 34 1999), de Ah Xian, 6 ate. Los Caprichos 1799), de Francisco de Goya, s8o arte. Lacuna in Testimony (2003), ‘de Navjt Altaf, @ arte. As pinturas de Lucien Freud 580 arte. Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, & arte. ‘Las Meninas (1656), de Diogo Velézquez, é arte. Os Sima lgcros 1982-84), de Regina Siveirs, sé0 arte. 0 Ovo da Serpents [i977), de Ingmar Bergman, é arte. As perfor= mances de Vito Acconcl sao arte. Ommatila (2004), ide Rashid Rana, & arte. As obras de Lina Bo Bardi sic ane. A Catedral de Brasil (1960), de Oscar Niemeyer, & rte, Osjardins de Burle Marx sao arte. Nirvana (19971, de Mori Mariko, € arte, As fotomontagens de Yuri Firmeza no livro-objete Relarde (2005) sao arte. My Lonesome Co- ‘wbay 1998), de Murakami Takashi, € arte. As poesias vi- uals de Philadelpho Menezes so arte. O corpo de Orlan Gare, Biashots ¢ Egoshots (210), de Flavya Mutran, 580 arte, Quando todos calar (2009), de Borna Reale, € arte. 0 Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral, e Bambi 1942), de Walt Disney, s80 arte. (0 fora” que Sophie Calle levou do amante por e-mail tornousee obra de arte [Take Cara of Yourself, 2007) ‘Todos estes exemplos poder serinseridos em uma ou mais destas formas: Toy Art, objeto, Body art, performan e, pichagao, cinema, arte postal, desenno, video- arte, (grafte, gravure, web art, pintura, escultura, fotografia, fapegaria, nstalacSo, viceoinstalagao, performance-ins talacao, intervensao, cerémica, shedo, arte digital, video: game, ‘mossico, olografia, quadrinhos, emakimona, fotonovela, kekemone, ro de srtista, roupa de artista, wearable art. Esquec! alguma das chamadas artes v= ss Os tempos eos esparos da arte sa miltiplos @ muitas veres justapostos; os suportes, os materias, as técnicas -05 procedimentos da arte expandem-se em progres 50 geometrica; ¢ 6 expressces artsticas s80 infinites , multas das vezes,reincidantes ~ a mutagio ecolégica ta arte contemperdnea ainda € um projeto inconcluso. Nesta perspactiva e tal como induzi anteriormente, 6 preciso considerar também que multas das concepctes Sinda vigentes de artista, de arte e de seu sistema nas~ ‘Ceram, pelo menos ne Ocidente, junto com a capitalisma ‘2. modernidade ~ e como estes, tem ura assorbrosa Eapacidade de mimetismo, osmose e sobrevivancia, Mas note-se que o que ests consagrade como arte nem sempre € produgao do um artista (ou considera- to coma tal por seus contemporsneos). Nomear a arte fe seu pradutor é uma prerrogatie do sistema da arte am stus inumerdveis {entaculos © modos de sedurdo. Sete” € uma etigueta, uma grife do sistema simbético, ums condacoragdo pelos relevantes services prestados a esce sistema, “Arte” é também pura especulacao, 6 fashion, business, royalties, commodities, acSes susce~ tiveie aoe altos e balkos das bolsac de valores, apesar [ou 4b revelial da critica acida de artistas medernistas e pés- “modernistas a0 mercado da arte. Desde as vanguardas istéricas que os profiesionata da arte vem propugnando antiarte, nas 9 cisterna & tao maledvel dinsmico e ci- fico que o “anti” rapidamente é transformado em “prs [artel “0 mercado, fete um buraco negro, abserve toda qualquer matéria & qual se posea aplicer 0 invSlucro de Sate". 0 artista, sobretudo na contemporanaiade, 6 58 sais uma pega de repasicdo nessa imensa engrenagem (Que 63 mats-valia do Signo esttico calcada na iconofagia ontemporsnes. Persenutanco a histéria do conhecimento artistica/astéx tice, percebe-se que hé urn consenso sobre a defnicao da arte que passa pela conjugacdo de irésverbos: fazer conhe- ter, exprimir [canferie Pareyson, 1997; Bos, 2000). Embora Esse consenso seja berdada no decorrer deste ersaio, ou evo advertr desde logo que os modos dessa corjugario 56 rio arrefecern e muito menas esgotam a angdstia que nos Besalta quando nos vernos dante da questao “por que é rte?" pois, em primeito lugar, todo fzer é expressio de tm conhecimenta, © due signiica dizer que esse trindmio pouco diz sobre a especticiade da arte. arte é um fazer, Erm, mas ndo qualquer fazer. A natureza do fazer da arte é 8 poclica, evatarnente do jato que Benedito Nunes exprimiu ‘pdiesidsignfica um produzir que dé forma, um fabricar aque engencra, uma clare Que arganiza, dens e instaure (mn realigage nova, um ser" [Nunes 200 p20. Instaurer um nava ser & exataments aquile que oletor esta pensandor € criar no sertigo de formatar. E s6 existe tm jeto de ertarsreformular humanamente a matéria. N3o tyiste cragao a partir go nada, nem mesmo através da pO {éncia cradera que o homer strbulu aos douses. Segundo ‘mito Tupinamba, es hemens nao foram eriados pelo Velho, ‘sculpidos em troncoa de arvores? © Deus judetco-cristéo 30 criou 0 hamem “a sua imagem e serethanga”, dando Uma forma espectica & argile naquil que poderiamos cha trae de "e hurmana come fruto ée um puro ato narcsista’? Na cultura yoruba, Oxalé nao € aquele que determina ama~ tlria-prima basica de qual ser flta a esséncia de cada ser humana? E nao fei Prometeu ['aquele que pensa antes"l 0 ‘riadar do primeiro homem [feito de barrel que, num ato de insuberdinayae a Zeus, deu gos homens o fogo do cu? Portanto, nem mesmo a cistivdade que o humane oroje~ tourno divine preseindlu da ratéria para fazer, expressar ¢ Conhecer, Entratanta, como & que o fazer da arte se torna a ‘xpressao de um confecimenta? Esta questao, como todas, se outras que ja deram as caras por aqu. necesita devago~ Tosidade, de vagabundager, de civagarao, ‘Os anseios 8 ractios que a arte os provoca em seu (a birinto, sobretudo a partir do ponte de vista da contempo- Foneidade, podem muito bem ser expressos através de O (que serd° (i978), de Chico Buarque, na voz de Milton Nas Eimento, Sem receta, som remédia, sem medida, sem jet ‘de cissimulare sem dieito de recusar, rach nada de mais Surpreendentementa parturoador do que a arte entre todos fs engenhos earimanhas de humeniaade Arte é endo é Aqueles que acharam - e ainda ha quem ache ~ que ‘arte é incompativel com 0 conceito ou que postizar nao é teorizar, esquecem de algo essencial: no s80 as formas, o= volumes, as linhas, a5 corss, as texturas, 35 palavras, os sons, os rtmos, os movimentes, os supor~ fos ou as tecnicas que promoveme arte... S30 a5 elas! Mas as ideas s80 jogos ou logos de artficio da lingue- gem. Ja howe quem defendasse que “a arte & mais inte- ressante que @ vida", Pelo menos desde os futuristas, Cos dadaistes, ngo falta quem detenda que "a vida é ‘mais interessante que.a arte” e tudo [sso ¢ variaggo do Tapetisissimo adagio. “a arte imita a vide ou a vida mits Barte?”. Todos estao corretos, 8 que a arte, tal como 8 ‘ida, as vezes ¢ interessante ¢, em outras, desinteres- Sante poste dono: coleclonador) a0 contrario, Costumma parir As artes nfo slo pattides, paréquias ou sindicatos. E ‘muita menos, tem currais eletorats. ‘A arte nio é um latifindio com muros indevasséveis fe, muito menos, pode ser um terrtéria guardado por Gapatazes armados até os dentes. A arte é antifeudal: Films carta de alforria; 6a revolte contra o pelourinho, De norte a sul e de Leste a oeste, a arte é, ao mesmo tempo, imaginacao, designardo, descrigao, teatraliza- $80, simulagao e significagao de mundos, € a indUstria de reciclagem da meméria, nem sempre ecclogica- ‘arte é um jeito de refazer a humanidade. Nao pare metherdcla ou pioré-ta, mas simplesmente pete prazer Ge reconatituiro que - todos saber, inclusive os artis~ tas neo tem ito, ‘Aarte periodicamente renova suas mandingas, seus ritunie, sues litanias # exegeses. Revogando manda TAaatSs e dogmas, comumente nos deixa em estado ca- Gatanico, sem que tenhamos direito # qualquer tipo de tajelanga: A arte prescinde de fode © qualquer ordena- cae rcramental interna ou externa e, por isso mesmo, sao g uma questa de fé caga e faca amolada, Arte nao Prraligigo, embora tenha muitos figis que, aos domnin= Gos, nao fotam 26 igrejas, 9s ferreiros, 9s Sinagogas ou Seirnesquitas. mas os museus que, atualmente, pare- em parques de diverséo. Artistas podem até ser as “antenas da raga” [comme quote Eare’Bound), mas ease cepacidade de captacso Geintisveh edo indizivel nda se dirige 96 a0 futuro, mas {Smbdm ae presente a0 passadout os bons creas wae eeeies gue, percobendo essa sintonia, ager come TREES ss Melegratsta. Entretanto, nem ertista een entice sao demiurgas. Censequentemente, 2s Sorat ge ambos trpouce sto oréculas que reeronder quer ease 9 quaauer pergunta. Aarts nfo tem bola Seettthi endo fossul peceres de prediqao, Neo pro: ese cinsora passa, eventuaimante, set ierpreteda eee itcesagio = tal como tartos outros signes na a- fureza'e ne cultura ‘Aarte pode ser intoricacdo, Inflamagae, urticéria,vi- rote. sineer. Pode ser venena, mas também pode Ser im remédio [as vezes amargo), balsamo, copaiba ou um cha alucinégeno. Tuso depends da dose, mas nao exis tem médicos ou pajés que possam fazer a proscrigao ‘exata, 56 nos resta a automedicacao, com todos 0s ris- Aarte no é 56 intenglo do artista ou a certiicagdo do especialista, Arte & um contrato afetivo firmado en treo artista e sou pablice, £ 66.8 partir desse contrato de cessdo @ apropriagdo que ela pode efetivarente ser ‘chemada de obra de arte Criaglo e fruigéo podem até ser atos pessoals, mas, nesies momentas, estamos sempre acompanhados de tmuitas vozes, Tnemérias @ herancas que, mesma con fermadas na pessoalidade, nunca sé0 exclusivas do in- divieus, arte nao é um corpo caste pudico que, guardan- dosse pgra o prometida, recuse a careia gu sralte da rtica€ um corpo que, depois de gover da cari eco: Breviver estaicamente ao acaite, exbe orguihosaments pele tetuada de does eamores para sobrevivers con lingéncia de seus amantes algores, Amor é fogo que arde sem se ver de Luiz Vaz de Ca- mes le 1524-1980), ¢ ure das mais belase precisas de finigses sobre o amor, com aquela precisa = tanto no sentido de “necessaria” quanto no de “rigor” ede per~ {eigao" que 86 0s grandes poetas de quaisauer tingua- gens conseguem exerciter. J que comecei este ensaia falando de amor e de amr pala arf, faei a substitu Jade pala “amor” pla pataera ste" nesse poem Seine doeragio de apropnagaoe eslacemento (20 tpt Cols ane esntemporane, Arta &fogo que arde sem se ver. 6 ferida que déi, endo se sente; um contentamento descontente, (dor que desatina sem doer. um ndo querer mais que bem querer: um andar eoltério enire a gent nunca contentar-se de contente & Um cuider que ganha om se perder. querer estar prese por vontade; @servir @ quer vence, o vencedor; &tercom quem nos mata, lealdade, Mas como causar pode seu favor hos coragbes humanos amizade, Se tho contrdria a2) é 2 mesma Arte? lafonso Luiz Camaes de Medeiros, 2011) 19

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