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Portugal: locus horrendus florestal.

Desde a política de florestação intensiva de pinhal do século XIX passando


pela do Estado novo e do mais recente recurso eucaliptal, a contradição com
D.Dinis o lavrador que teve o mínimo de sensibilidade com as nossas
características mediterrânicas, demonstra-nos uma paisagem carbonizada sem
paralelo.
O pseudo sistema florestal, na sua maior parte privado, que se esquece das
espécies arbóreas tipicamente mediterrânicas como o Quercus (Sobreiro e os
vários tipos de Carvalhos), as Fagáceas da qual a Azinheira e a Faia são os
exemplares mais conhecidos, entre outras que constituem o coberto
biogeográfico original e espontâneo de todo o mediterrânico, e, por isso mais
adequadas ao nosso clima quente e seco dos verões.
Assim apesar das monoculturas intensivas de pinhal e eucaliptal, estas
deverão ser intervaladas pelas espécies acima referidas que se apresentam
como um verdadeiro mecanismo de retardamento de propagação das ignições
entre os pinhos e os eucaliptos. Com efeito, se existir um eficaz ordenamento
florestal, é possível criar faixas florestais acabando com coexistência entre
pinheiro e eucalipto (espécies não autóctones ou nativas) entremeando-as com
Quercus e Fagáceas que estão mais preparadas para se protegerem e
atrasarem a propagação dos incêndios.
Se acaso repararmos no exemplar Sobreiro, verificamos que a sua casca, a
vulgar cortiça, é a capa protectora que esta árvore dispõe para se proteger dos
incêndios. Uma verdadeira especialização muito esquecida pelos proprietários
que só vêm nela um recurso económico. Falando nisso, os sobreiros
portugueses, apesar de velhos, são responsáveis por sermos, ainda, o primeiro
produtor mundial de cortiça. Algo raro mas que está em risco de deixar de ser
porque a nossa política de reflorestação não mais tem passado por aqui. Como
tal, estamos em risco de perder essa hegemonia se não agirmos já porque já
vamos tarde.
Nos próximos dois anos vai ser necessário reflorestar as áreas queimadas, vai
ser necessário haver melhor consciência florestal. Não adianta apontar o dedo
aos responsáveis, até que as pessoas só acham que o governo é o
responsável. Isto num contexto de que 69% da nossa área florestal é privada.
Só a Suécia é que tem mais área privada, nível europeu. Nisto não vejo grande
culpa no Estado. Toca aos privados agir, informarem-se, responsabilizarem-se
pelo que é seu e alertarem os seus vizinhos. Os locus horrendus têm que
acabar.

Filipe Silveira Nunes


Geografia, odenamento do território.

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