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PGEM – Biblioteca Esotérica Virtual


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W.Scott-Elliot
ATLÂNTIDA E LEMÚRIA, continentes desaparecidos

Sumário

Prefácio................................................................................................................................... 2
A HISTÓRIA DA ATLÂNTIDA........................................................................................... 6
LEMÚRIA, O CONTINENTE DESAPARECIDO ............................................................. 45
Prefácio............................................................................................................................. 45
O CONTINENTE DESAPARECIDO DA LEMURIA ................................................... 45
Dados extraídos de antigos registros ................................................................................ 52
Duração provável do continente da Lemúria.................................................................... 52
Os mapas .......................................................................................................................... 52
Os répteis e as florestas de pinheiros................................................................................ 54
O reino humano ................................................................................................................ 56
Tamanho e consistência do corpo do homem................................................................... 56
Órgãos de visão ................................................................................................................ 58
Descrição do homem lemuriano ....................................................................................... 58
Processos de reprodução................................................................................................... 59
Raças lemurianas que ainda habitam a terra..................................................................... 61
O pecado dos sem-mente.................................................................................................. 61
Origem dos macacos pitecóide e antropóide .................................................................... 62
Origem da linguagem ....................................................................................................... 63
A primeira vida roubada ................................................................................................... 63
As artes ............................................................................................................................. 64
Mestres da raça lemuriana ................................................................................................ 65
As artes continuaram ........................................................................................................ 66
Grandes cidades e estátuas ............................................................................................... 67
Religião............................................................................................................................. 67
Destruição do continente .................................................................................................. 68
Origem da raça atlante...................................................................................................... 69
Uma loja de iniciação ....................................................................................................... 70
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Prefácio
Para os leitores não familiarizados com o progresso alcançado recentemente pelos diligentes
estudantes de ocultismo ligados à Sociedade Teosófica, o significado do relato aqui contido
seria mal compreendido sem uma explanação preliminar.

A civilização ocidental, em sua pesquisa histórica, sempre dependeu de algum tipo de registro
escrito. Quando os dados literários são escassos, às vezes monumentos de pedra e restos fósseis
têm sido encontrados, fornecendo-nos algumas evidências confiáveis, ainda que inarticuladas, a
respeito da antiguidade da raça humana; mas a cultura moderna perdeu de vista ou tem
negligenciado possibilidades relacionadas com a investigação de eventos passados que
independem das evidências falíveis que nos foram transmitidas pelos antigos escritores. Sendo
assim, atualmente, a humanidade em geral é tão pouco sensível aos recursos da capacidade
humana que, até agora, para a maioria das pessoas, a própria existência, mesmo enquanto
potencialidade de poderes psíquicos, que alguns de nós exercem conscientemente o dia todo, é
desdenhosamente negada e ridicularizada. A situação é lamentavelmente ridícula do ponto de
vista daqueles que apreciam as probabilidades da evolução, pois, desse modo, a humanidade
mantém-se obstinadamente distante de um conhecimento que é essencial para seu próprio
progresso ulterior. O desenvolvimento máximo de que é suscetível o intelecto humano,
enquanto ele próprio negar todos os recursos da sua consciência espiritual mais elevada, nunca
poderá ser mais do que um processo preparatório, comparado com aquele que poderá atingir
quando as faculdades forem suficientemente ampliadas para entrar em contato consciente com
os planos ou aspectos superfísicos da Natureza.

Para qualquer pessoa que tenha paciência para estudar os resultados divulgados pela
investigação psíquica durante os últimos cinqüenta anos, a realidade da clarividência como
fenômeno ocasional da inteligência humana deve estabelecer-se numa base sólida. Para estes
que, mesmo sem serem ocultistas - isto é, estudantes dos aspectos mais sublimes da Natureza,
em posição de obter melhor ensino do que alguns livros podem oferecer -, somente se utilizam
de dados registrados, uma declaração da parte de outros acerca da incredulidade na
possibilidade da clarividência estará no mesmo nível da notória incredulidade africana em
relação ao gelo. Mas as experiências de clarividência, que se acumularam nas mãos dos que a
estudam em conexão com o mesmerismo, nada mais fazem senão provar a existência, na
natureza humana, da capacidade de conhecer fenômenos físicos distantes no espaço ou no
tempo, de um modo que nada tem que ver com os sentidos físicos. Os que têm estudado os
mistérios da clarividência em conexão com o ensinamento teosófico são capazes de perceber
que os recursos básicos dessa faculdade colocam-se além de suas mais humildes manifestações,
abordadas pelos pesquisadores mais simples, tal como os recursos dos grandes matemáticos
superam os do ábaco. Há, de fato, muitas espécies de clarividência, as quais, sem exceção,
assumem facilmente seus lugares quando apreciamos a maneira como a consciência humana
atua nos diferentes planos da Natureza. A faculdade de ler as páginas de um livro fechado, de
discernir objetos com os olhos vendados ou objetos que estão distantes do observador é uma
faculdade completamente diferente daquela empregada no conhecimento de eventos passados.
A respeito deste último, fazem-se necessárias aqui algumas palavras a título de esclarecimento,
a fim de que o verdadeiro caráter do presente tratado sobre a Atlântida possa ser compreendido.
Contudo, aludo às outras formas simplesmente para que esta necessária explicação não corra o
risco de ser interpretada como uma teoria completa da clarividência, em todas as suas
variedades.
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Podemos ter uma melhor compreensão da clarividência relacionada com eventos passados
considerando, em primeiro lugar, os fenômenos da memória. A teoria da memória que a
relaciona com uma imaginária reorganização de moléculas físicas de matéria cerebral, que
prossegue a cada instante de nossas vidas, não se apresenta como plausível a ninguém que
possa ascender um degrau acima do nível de pensamento do inflexível materialista ateu. A
todos os que aceitam, mesmo como uma hipótese razoável, a idéia de que o homem é algo mais
do que uma carcaça em estado de animação, deve ser razoável a hipótese de que a memória tem
que ver com aquele princípio suprafísico no homem. Em suma, sua memória é uma função, não
do plano físico, mas de algum outro plano. As imagens da memória imprimem-se, sem dúvida,
em algum agente não-físico e são acessíveis, em circunstâncias comuns, ao pensador
incorporado, graças a algum esforço que este faça, embora tão inconsciente de seu caráter
preciso quanto o é acerca do impulso cerebral que aciona os músculos do seu coração. Os
eventos com os quais ele teve relação no passado estão fotografados pela Natureza em alguma
página imperecível, de substância suprafísica, e, através de um esforço interior apropriado, ele é
capaz de trazê-los de volta, quando deles necessita, para dentro do campo de algum sentido
interior, o qual reflete sua percepção no cérebro físico. Nem todos somos capazes de fazer esse
esforço igualmente bem, tanto que a memória às vezes é obscura mas, mesmo na experiência da
pesquisa mesmeriana, a ocasional superexcitação da memória sob a ação do mesmerismo é um
fato conhecido. As circunstâncias demonstram claramente que o registro da Natureza é
acessível, caso saibamos como recuperá-lo, mesmo quando nossa capacidade de empreender
um esforço para essa recuperação estiver, de algum modo, aperfeiçoada, sem que tenhamos um
conhecimento aperfeiçoado do método empregado. E, a partir dessa reflexão, podemos chegar,
através de uma simples transição, à idéia de que os registros da Natureza não são, de fato,
coleções isoladas de propriedade individual, mas constituem a memória universal da própria
Natureza, sobre a qual diferentes pessoas estão em condições de traçar esboços, de acordo com
suas respectivas capacidades.

Não estou afirmando que esta conclusão seja uma consequência lógica, necessária, dessa
reflexão. Os Ocultistas reconhecem-na como uma realidade, mas o meu propósito atual é
mostrar ao leitor não-Ocultista o modo como o Ocultista talentoso chega aos seus resultados,
sem pretender resumir todos os estágios do seu progresso mental nesta breve explanação. A
literatura Teosófica deve ser consultada detalhadamente por aqueles que procuram uma
elucidação mais ampla das perspectivas magníficas e das demonstrações práticas de seu ensino
em muitas direções que, no decorrer do desenvolvimento Teosófico, têm sido expostas ao
mundo para benefício de todos os que são aptos a delas tirar proveito.

A memória da Natureza é de fato uma unidade estupenda, assim como, num outro sentido, toda
a Humanidade poderá constituir uma unidade espiritual, se ascendermos a um plano
suficientemente elevado da Natureza, em busca da esplêndida convergência onde se alcança a
unidade sem a perda da individualidade. No entanto, para a Humanidade comum representada
no momento pela maioria, no primitivo estágio de sua evolução, as capacidades espirituais
interiores, que se estendem além daquelas das quais o cérebro é um instrumento de expressão,
encontram-se ainda muito pouco desenvolvidas para habilitá-la a entrar em contato com
quaisquer outros registros nos vastos arquivos da memória da Natureza, exceto aqueles com os
quais tiveram contato individual no ato de sua criação. O cego esforço interior que essas
pessoas são capazes de fazer, não evocará, via de regra, quaisquer outros. Contudo, temos
conhecimento, ha vida ordinária, de esforços que são um pouco mais eficazes. A "Transmissão
de Pensamento" é um exemplo modesto. Nesse caso, as "impressões na mente" de uma pessoa,
as imagens da memória da Natureza com as quais ela está em conexão normal, são captadas por
outra que, em condições favoráveis, embora inconsciente do método utilizado, tem o poder de
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atingir a memória da Natureza um pouco além do âmbito com o qual ela própria está em
conexão normal. Embora superficialmente, essa pessoa começou a exercitar a faculdade da
clarividência astral. Este termo pode ser usado convenientemente para denotar a espécie de
clarividência que ora me empenho em elucidar; a espécie que, em alguns de seus mais
magníficos desenvolvimentos, foi empregada para levar a cabo as investigações que serviram
de fundamento à compilação deste relato acerca da Atlântida.

Na verdade, não há limite para os recursos da clarividência astral nas investigações


concernentes à história do passado da Terra, quer estejamos interessados nos eventos que
sobrevieram à raça humana em épocas pré-históricas, quer no desenvolvimento do próprio
planeta ao longo dos períodos geológicos que antecederam o advento do homem, ou mesmo
nos eventos mais recentes, cujos relatos em voga têm sido distorcidos por historiadores
negligentes ou perversos. A memória da Natureza é totalmente exata e precisa. Tempo virá, tão
certamente quanto a precessão dos equinócios, em que o método literário da pesquisa histórica
será posto de lado como obsoleto em relação a toda obra original. As pessoas entre nós que são
capazes de exercitar a clarividência astral com plena perfeição - mas que ainda não foram
chamadas às funções mais elevadas, vinculadas ao fomento do progresso humano, a respeito do
qual as pessoas comuns, nos dias atuais, sabem ainda menos do que um camponês hindu sabe
acerca de uma reunião ministerial - são ainda muito poucas. Aqueles que estão a par do que
essas poucas pessoas podem fazer e a que processos de treinamento e autodisciplina elas têm se
submetido na busca de ideais interiores, dentre os quais a obtenção da clarividência astral é
apenas uma circunstância individual, são muitos, mas ainda uma pequena minoria, se
comparados com o mundo culto moderno. Mas com o passar do tempo, e dentro de um futuro
mensurável, alguns de nós têm razão para acreditar que o número dos que são capazes de
exercer a clarividência astral aumentará bastante para ampliar o círculo dos que estão
conscientes de suas capacidades, até que este venha a abranger, daqui a umas poucas gerações,
toda a inteligência e cultura da humanidade civilizada. Entrementes, este volume é o primeiro a
se evidenciar enquanto ensaio pioneiro do novo método de pesquisa histórica. É divertido, para
todos os que se preocupam com ele, pensar em como, inevitavelmente, será confundido -
embora por um curto espaço de tempo e pelos leitores materialistas, incapazes de aceitar a
franca explicação aqui fornecida a respeito do princípio sobre o qual ele foi elaborado - com
um produto da imaginação.

Para benefício dos que são capazes de ser mais intuitivos, talvez fosse bom dizer uma palavra
ou duas que possam impedi-los de supor que a pesquisa histórica feita por meio da
clarividência astral é um processo que não envolve problemas e nem se depara com obstáculos,
pelo fato de lidar com períodos centenas de milhares de anos distantes do nosso. Cada fato
relatado neste volume foi obtido pouco a pouco, com muito cuidado, no curso de uma
investigação na qual mais de uma pessoa qualificada vem se empenhando, nos intervalos de
outras atividades, há alguns anos. E para favorecer o sucesso de seu trabalho, foi-lhes permitido
o acesso a alguns mapas e a outros registros que foram preservados dos remotos períodos em
questão - aliás, em custódia mais segura do que a daquelas turbulentas raças que, nos breves
intervalos de lazer entre guerras, ocupavam-se, na Europa, com o desenvolvimento da
civilização, duramente perseguida pelo fanatismo que, por tanto tempo durante a Idade Média,
considerou sacrílega a ciência.

A tarefa tem sido árdua mas, de qualquer modo, o esforço será reconhecido como amplamente
compensador por todos os que forem capazes de reconhecer o quanto uma compreensão
apropriada de épocas antigas, tal como a época da Atlântida, faz-se necessária para uma
compreensão adequada do mundo atual. Sem este conhecimento, todas as especulações
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concernentes à etnologia são fúteis e enganosas. Sem a chave fornecida pelo caráter da
civilização atlante e pela configuração da Terra nos períodos atlantes, o processo de
desenvolvimento da raça humana é caótico e confuso. Os geólogos sabem que as superfícies da
terra e dos oceanos devem ter mudado repetidamente de lugar durante o período em que, como
é sabido pela localização de vestígios humanos em vários estratos, as terras eram habitadas. E,
contudo, por falta de um conhecimento preciso sobre as datas em que essas mudanças
ocorreram, eles rejeitam toda a teoria de seu pensamento prático e, à exceção de certas
hipóteses postuladas pelos naturalistas que se dedicam ao Hemisfério Sul, geralmente se
empenham em conciliar a migração das raças com a configuração atual da Terra.

Desse modo, o absurdo se instala em todo o retrospecto; e a sinopse etnológica permanece tão
vaga e obscura que não consegue substituir as concepções incipientes a respeito do início da
Humanidade, as quais ainda dominam o pensamento religioso e retardam o progresso espiritual
da nossa era. A decadência e o desaparecimento final da civilização atlante são,
respectivamente, tão instrutivos quanto sua ascensão e glória; creio assim ter atingido o
principal propósito para o qual fui solicitado: apresentar esta obra para o mundo, através de
breve explanação introdutória; e se o seu conteúdo for insuficiente para fornecer uma
compreensão de sua importância aos leitores a quem ora me dirijo, esse efeito dificilmente seria
atingido através de ulteriores recomendações minhas.

A. P. SINNETT 1896
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A HISTÓRIA DA ATLÂNTIDA
Um Esboço Geográfico, Histórico e Etnológico

A amplitude do assunto que se nos apresenta será mais bem compreendida considerando-se
a quantidade de informações que podem ser obtidas a respeito das várias nações que
constituem nossa grande quinta raça ou raça árica.

Desde a época dos gregos e dos romanos tem-se escrito continuas obras* sobre os povos
que, sucessivamente, ocuparam o palco da História. As instituições políticas, as crenças
religiosas, os hábitos e costumes domésticos e sociais, tudo tem sido analisado e catalogado
em inúmeras obras que, em muitas línguas, registram, para nosso benefício, a marcha do
progresso.

Além do mais, é preciso lembrar que, da história dessa quinta raça, possuímos apenas um
fragmento - o registro dos últimos descendentes da sub-raça céltica e das primeiras
linhagens do nosso tronco teutônico.

Porém, as centenas de milhares de anos que decorreram desde a época em que os primeiros
áricos deixaram sua terra natal, nas costas do mar asiático central, até a época dos gregos e
dos romanos testemunharam a ascensão e queda de inúmeras civilizações. Da primeira sub-
raça da nossa raça árica, que habitou a índia e colonizou o Egito em épocas pré-históricas,
não sabemos praticamente nada, e o mesmo pode-se dizer dos povos caldeu, babilônico e
assírio, que constituíram a segunda sub-raça - pois os fragmentos à nossa disposição, obtidos a
partir de hieróglifos ou de inscrições cuneiformes, encontrados em tumbas egípcias e em placas
babilônicas, decifrados recentemente, por certo não podem ser considerados como formadores
da História. Os persas, que pertenceram à terceira sub-raça ou sub-raça iraniana, deixaram, é
verdade, alguns poucos traços mais, mas das civilizações mais primitivas da quarta sub-raça, ou
sub-raça céltica, não temos absolutamente nenhum registro. Somente com o surgimento dos
últimos ramos deste tronco céltico, a saber, os povos grego e romano, é que chegamos aos
períodos históricos.

A um período em branco do passado soma-se também um do futuro, pois das sete sub-raças
necessárias para completar a história de uma grande raça-raiz, somente cinco, até agora,
chegaram a existir. A nossa própria quinta sub-raça, ou sub-raça teutônica, já se desdobrou em
muitas nações, mas ainda não completou seu curso, enquanto as sexta e sétima sub-raças, que
se desenvolverão nos continentes da América do Norte e do Sul, terão milhares de anos de
história a dar ao mundo.

Sintetizar, em poucas páginas, informações a respeito do progresso do mundo durante um


período que, no mínimo, deve ter sido tão extenso quanto o acima referido é, por esse motivo,
uma tentativa que, necessariamente, não pode ultrapassar os limites de um ligeiro esboço.

Um registro do progresso da Humanidade durante o período da quarta raça ou raça atlante deve
abarcar a história de muitas nações, bem como registrar a ascensão e queda de muitas
civilizações.

Além disso, durante o desenvolvimento da quarta raça, em mais de uma ocasião ocorreram
catástrofes, numa escala que ainda não foi experimentada durante a existência da nossa atual
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quinta raça. A destruição da Atlântida foi motivada por uma série de catástrofés das mais
variadas espécies, desde grandes cataclismos, onde territórios e populações inteiras pereceram,
até os comparativamente insignificantes deslizamentos de terra, tais como os que ocorrem hoje
em dia em nossas costas. Uma vez iniciada a destruição, pela primeira grande catástrofe, não
houve mais intervalos entre os deslizamentos menores que, lenta porém incessantemente,
continuaram a destruir o continente. Quatro grandes catástrofes sobressaem, em magnitude, a
todas as outras. A primeira ocorreu durante o mioceno, cerca de 800.000 anos atrás. A segunda,
de menor consequência, ocorreu há, aproximadamente, 200.000 anos. A terceira, há cerca de
80.000 anos, foi a mais descomunal e destruiu tudo o que restava do continente atlante, com
exceção da ilha à qual Platão deu o nome de Posseidones e que, por sua vez, submergiu na
quarta e última grande catástrofe, no ano de 9564 a.C.

As declarações dos mais antigos escritores e da pesquisa científica moderna igualmente


confirmam a existência de um antigo continente, ocupando o local da Atlântida desaparecida.

Antes de passar ao exame do assunto em si, convém analisar rapidamente as fontes em geral
reconhecidas por fornecerem dados corroborativos. Elas podem ser agrupadas nas cinco
categorias seguintes:

Primeira, as provas das sondagens do fundo do mar. Segunda, a distribuição da fauna e da flora.
Terceira, a similaridade de língua e do tipo etnológico. Quarta, a similaridade de crença, ritual e
arquitetura religiosas. Quinta, os depoimentos dos antigos escritores, as tradições de raças
primitivas e as antigas lendas a respeito do dilúvio.

Portanto, em primeiro lugar, temos as provas das sondagens do fundo do mar, que podem ser
resumidas em poucas palavras. Graças principalmente às expedições das canhoneiras britânica
e americana, a Challenger e a Dolphin (embora a Alemanha também tenha participado desta
exploração científica), o fundo do Oceano Atlântico está agora totalmente mapeado, tendo-se
constatado a existência de uma imensa cordilheira de grande altitude no médio Atlântico. Esta
cordilheira estende-se para o sudoeste, mais ou menos a partir de 50°, latitude norte, em direção
à costa da América do Sul; em seguida, para o sudeste, em direção à costa da África, mudando
outra vez de direção, perto da ilha da Ascensão, seguindo então diretamente para o sul, rumo a
Tristão da Cunha. A cordilheira ergue-se, de forma quase perpendicular, cerca de 2.743 m
acima das profundezas do oceano, enquanto Açores, São Paulo, Ascensão e Tristão da Cunha
formam os picos dessa terra que ainda continuam acima das águas. Para sondar as mais
profundas regiões do Atlântico, foi necessário um prumo de 3.500 braças, ou seja, 6.400 m,
mas as partes mais altas da cordilheira estão apenas a uns 200 m, ou pouco mais, abaixo da
superfície.

As sondagens também demonstraram que a cordilheira está coberta de detritos vulcânicos,


cujos vestígios foram encontrados de um lado a outro do oceano, até as costas americanas. Na
verdade, o fato de que o fundo do oceano, particularmente perto dos Açores, foi palco de
distúrbios vulcânicos numa escala gigantesca, e isso dentro de um período perfeitamente
mensurável da era geológica, está conclusivamente provado pelas investigações realizadas
durante as expedições acima citadas.

O sr. Starkie Gardner é da opinião que, durante o eoceno, as ilhas Britânicas faziam parte de
uma imensa ilha ou continente, que estendia-se na direção do Atlântico, e "que uma grande
extensão de terra existiu outrora onde hoje existe o mar, e que a Cornualha, as ilhas Scilly e
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Anglo-Normanda, a Irlanda e a Bretanha formam o que restou de seus cumes mais altos"
(Pop. Sc. Review, julho de 1878).

Segunda. - A comprovada existência, em continentes separados por vastos oceanos, de espécies


idênticas ou similares de fauna e flora constitui o constante enigma dos biólogos e botânicos.
Contudo, se existiu no passado uma ligação entre esses continentes, permitindo a natural
migração desses animais e plantas, o enigma está decifrado. Atualmente, os fósseis de camelos
são encontrados na índia, África, América do Sul e Kansas; no entanto, uma das hipóteses dos
naturalistas, geralmente aceita, é a de que todas as espécies de animais e plantas originaram-se
em apenas uma parte do globo e, deste centro, gradualmente invadiram as outras regiões. Sendo
assim, como explicar a ocorrência desses fósseis, sem a existência de uma passagem por terra
em alguma época remota? As descobertas nas camadas fósseis do Nebraska parecem também
provar que o cavalo originou-se no hemisfério ocidental, pois essa é a única parte do mundo
onde se tem descoberto fósseis demonstrativos das várias formas intermediárias, identificadas
como precursoras do cavalo atual. Portanto, seria difícil explicar a presença do cavalo na Euro-
pa, exceto pela hipótese da existência de uma passagem por terra entre os dois continentes, já
que não resta dúvida quanto à presença do cavalo, em estado selvagem, na Europa e na Ásia,
antes de sua domesticação pelo homem, a qual poderia remontar praticamente à Idade da Pedra.
O gado e o carneiro, como agora sabemos, possuem ancestrais igualmente remotos. Darwin
descobre gado domesticado na Europa, pertencente à mais remota era da Idade da Pedra, e que,
num período muito anterior, teria evoluído de formas selvagens, semelhantes ao búfalo da
América. Fósseis do leão descobertos nas cavernas da Europa também foram encontrados na
América do Norte.

Passando agora do reino animal ao vegetal, parece que a maior parte da flora européia, da
época miocena - encontrada, principalmente, nas camadas fósseis da Suíça -, existe até hoje na
América e, algumas espécies, na África. Contudo, deve-se ressaltar que, enquanto a maior
incidência dessas espécies ocorra no leste americano, muitas delas não são encontradas na costa
do Pacífico. Isso parece demonstrar que essas espécies penetraram no continente americano
pelo lado do Atlântico. O professor Asa Gray afirma que dos 66 gêneros e das 155 espécies
existentes na floresta a leste das Montanhas Rochosas, somente 31 gêneros e 78 espécies são
encontradas a oeste dessas elevações.

Todavia, o maior de todos os problemas é a bananeira. O professor Kuntze, eminente botânico


alemão, pergunta: "De que maneira esta planta" (nativa da Ásia tropical e da África), "que não
poderia resistir a uma viagem através da zona temperada, foi transportada para a América?"
Como ele assinala, a planta não tem sementes, não pode ser propagada através de chantões e
tampouco possui um tubérculo que pudesse ser transportado facilmente. Sua raiz é semelhante
a uma árvore. Para transportá-la, seria necessário um cuidado especial, e ela não resistiria a
uma viagem longa. A única maneira pela qual ele pode explicar o aparecimento desta planta na
América é supondo que ela deve ter sido transportada pelo homem civilizado, numa época em
que as regiões polares possuíam um clima tropical! Ele acrescenta: "Uma planta cultivada que
não possui sementes deve ter sido submetida a um processo de cultivo durante um período
muito longo . . . talvez seja correio inferir que essas plantas foram cultivadas já no início do
período diluviano." Por que - pode-se perguntar - esta inferência não nos deveria remeter a
tempos ainda mais remotos, e quando existia a necessária civilização para o cultivo da planta,
ou condições climáticas e materiais para o seu transporte, a menos que houvesse, em alguma
época, uma ligação entre o Velho Mundo e o Novo?
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O professor Wallace, em sua deleitável obra Island Life, assim como outros autores, em obras
muito importantes, formulou engenhosas hipóteses para explicar a identidade da flora e da
fauna em terras bastante distantes entre si, e para o seu transporte através do oceano, mas
nenhuma é convincente e todas apresentam diversas lacunas.

Sabe-se muito bem que o trigo, tal como o conhecemos, nunca existiu num estado
verdadeiramente selvagem, e não há nenhuma evidência de que tenha se originado de espécies
fósseis. Cinco variedades de trigo já foram cultivadas na Europa, na Idade da Pedra -uma delas,
descoberta nos "povoados lacustres", conhecida como trigo egípcio, fez Darwin argumentar que
os lacustres "ou ainda mantinham relações comerciais com algum povo do sul, ou tinham
originalmente vindos do sul como colonos". Ele conclui que o trigo, a cevada, a aveia, etc. são
provenientes de várias espécies hoje extintas, ou de tal modo alteradas que escapam à
identificação; neste caso, afirma ele: "O homem deve ter cultivado cereais desde um período
consideravelmente remoto." Tanto as regiões em que essas espécies extintas floresceram, como
a civilização que as cultivou por meio de inteligente seleção, foram ambas supridas pelo
continente perdido, cujos colonizadores transportavam-nas para o leste e para o oeste.

Terceira. - Da flora e da fauna, voltamo-nos agora para o homem:

Língua. - O idioma basco mantém-se isolado entre as línguas européias, não tendo afinidade
com nenhuma delas. De acordo com Farrar, "nunca houve alguma dúvida de que esta língua
diferente, preservando sua identidade num recanto ocidental da Europa, entre dois poderosos
reinos, assemelha-se, em sua estrutura, às línguas aborígines do vasto continente oposto
(América), e apenas a estas" (Families of Speech, p. 132).

Ao que parece, os fenícios foram o primeiro povo do hemisfério oriental a usar o alfabeto
fonético, sendo seus caracteres considerados simples sinais para os sons. É um fato curioso que,
em data igualmente remota, encontremos um alfabeto fonético na América Central, entre os
maias do Yucatán, cujas tradições atribuem a origem de sua civilização a uma terra situada do
outro lado do mar, para leste. Lê Plongeon, a maior autoridade neste assunto, escreve: "Um
terço desta língua (o maia) é puro grego. Quem levou o dialeto de Homero para a América? Ou
quem levou para a Grécia o dos maias? O grego descende do sânscrito. O maia também? Ou
seriam eles contemporâneos?" Mais surpreendente ainda é encontrar treze letras do alfabeto
maia apresentando uma nítida relação com os sinais hieroglíficos egípcios, referentes às
mesmas letras. E provável que a forma mais primitiva do alfabeto fosse hieroglífica, "a escrita
dos deuses", como os egípcios a chamavam, que, mais tarde, na Atlântida, desenvolveu-se em
fonética. Seria natural admitir que os egípcios foram uma antiga colônia da Atlântida (como
realmente foram) e que levaram consigo o tipo primitivo de escrita, que assim deixou seus
traços em ambos os hemisférios, ao passo que os fenícios, que eram navegadores, obtiveram e
assimilaram a forma posterior do alfabeto durante suas viagens comerciais aos povos do oeste.
Há mais um detalhe que deve ser mencionado, a saber, a extraordinária semelhança entre
muitas palavras da língua hebraica e palavras, que mantêm exatamente o mesmo significado, do
idioma dos Chiapenecs - um ramo da raça maia, entre os mais antigos da América Central. A
lista dessas palavras encontra-se em North Americans of Antiquity, p. 475.

A similaridade de língua entre os diversos povos selvagens das ilhas do Pacífico foi utilizada
como argumento por escritores que tratam desta matéria. A existência de línguas semelhantes
entre raças separadas por léguas de oceano, que, no período histórico, não possuíam nenhum
meio de transporte para atravessá-las, é certamente um argumento a favor da descendência de
uma única raça, que ocupava um único continente. Contudo, este argumento não pode ser
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utilizado aqui, pois o continente em questão não era a Atlântida, mas a ainda mais remota
Lemúria.

Tipos Etnológicos. - Dizem que a Atlântida, como veremos, foi habitada pelas raças vermelha,
amarela, branca e negra. Está agora provado, pelas pesquisas de Lê Plongeon, de De
Quatrefages, de Bancroft e outros, que populações negras do tipo negróide existiram, até
mesmo em épocas recentes, na América. Muitos dos monumentos da América Central são
decorados com rostos negros, e alguns dos ídolos encontrados destinaram-se, nitidamente, a
representar negros, com crânios pequenos, cabelos curtos e crespos e lábios grossos. O Popul
Vuh, discorrendo sobre a primeira pátria do povo guatemalteco, diz que "homens negros e
brancos" viviam juntos nessa terra feliz, "em grande paz", falando "uma só língua". (Ver
Bancroft, Native Roces, p. 547.) O Popul Vuh prossegue, relatando como o povo emigrou de
sua pátria ancestral, como sua língua se alterou e como alguns se dirigiram para o leste,
enquanto outros viajaram para o oeste (para a América Central).

O professor Retzius, em seu Smithsonian Report, considera que os primitivos dolicocéfalos da


América são quase parentes dos guanchos das ilhas Canárias e dos habitantes do litoral
atlântico da África, aos quais Latham chama de atlantidae-egípcios. O mesmo formato de
crânio é encontrado nas ilhas Canárias, distantes da costa africana, e nas Pequenas Antilhas,
afastadas da costa americana, embora, em ambas, a cor da pele seja pardo-avermelhada.

Os antigos egípcios descreviam a si mesmos como homens vermelhos, com um aspecto muito
semelhante ao encontrado atualmente entre algumas tribos de índios americanos.

"Os antigos peruanos", diz Short, "pelos numerosos exemplares de cabelos encontrados em
suas tumbas, parecem ter sido uma raça ruiva."

Um fato notável a respeito dos índios americanos, que constitui um enigma constante para os
etnólogos, é a grande variação de cor e de compleição verificada entre eles. Da cor branca das
tribos Me-nominee, Dacota, Mandan e Zuni, muitas das quais possuem cabelos ruivos e olhos
azuis, até quase a negrura da raça negra dos Karos do Kansas e das já extintas tribos da
Califórnia, as raças índias passam por todas as variações de vermelho-acastanhado, cobre,
verde-oliva, canela e bronze. (Ver Short, North Amerícans of Antiquity, Win-chell, Pre-
Adamites e, Catlin, Indians of North America', ver também Atlantis, de Ignatius Donnelly, que
coletou grande número de dados sobre este e outros assuntos.) Veremos dentro em pouco como
a diversidade de compleição no continente americano é explicada pelos originais matizes da
raça da Atlântida, o continente materno.

Quarta. - No México e no Peru, nada parece ter surpreendido mais os primeiros aventureiros
espanhóis do que a extraordinária similaridade entre as crenças religiosas, os rituais e os
emblemas, estabelecidos no Novo Mundo, e aqueles do Velho Mundo. Os padres espanhóis
viam essa similaridade como uma obra do demônio. O culto da cruz pelos nativos, bem como
sua presença constante em todas as edificações e cerimônias religiosas, era a causa principal do
seu assombro; na verdade, em parte alguma - nem mesmo na índia e no Egito - este símbolo era
motivo de tanta veneração do que entre as tribos primitivas dos continentes americanos, embora
o significado básico de seu culto fosse idêntico. No Ocidente, como no Oriente, a cruz era o
símbolo da vida - às vezes, da vida física, mais amiúde, da vida eterna.

Do mesmo modo, em ambos os hemisférios os cultos do disco ou círculo solar e da serpente


eram universais. Mais surpreendente ainda é a similaridade do significado da palavra "Deus"
11
nas principais línguas do Oriente e do Ocidente. Compare o sânscrito "Dy-aus" ou "Dyaus-
pitar", o grego "Theos" e Zeus, o latino "Deus" e Júpiter, o celta "Dia" e "Ta", pronunciado
"Thyah" (aparentando afinidade com o egípcio Tau), o hebraico "Jah" ou "Yah" e, por fim, o
mexicano "Teo" ou "Zeo".

Os rituais de batismo foram praticados por todas as nações. Na Babilônia e no Egito, os


candidatos à iniciação nos Mistérios eram, antes de tudo, balizados. Tertuliano, em seu De
Baptismo, afirma que, aos balizados era prometido "a regeneração e o perdão de todos os
perjúrios". As nações escandinavas praticavam o batismo de crianças recém-nascidas; e se nos
voltarmos para o México e o Peru, encontraremos o batismo de crianças como um cerimonial
solene, consistindo de aspersão de água, do sinal da cruz e de orações para que o pecado fosse
levado (lavado) pela água (ver Humboldt, Mexican Researches, e Prescott, México).

Além do batismo, as tribos do México, da América Central e do Peru assemelhavam-se às


nações do Velho Mundo em seus rituais de confissão, absolvição, jejum e casamento,
realizados por sacerdotes através da união das mãos. Elas praticavam até mesmo uma
cerimônia semelhante à Eucaristia, na qual comiam bolos com a marca do Tau (uma forma
egípcia de cruz). O povo chamava esses bolos de carne de seu Deus, o que os assemelha aos
bolos sagrados do Egito e de outras nações orientais. Do mesmo modo que essas nações, os
povos do Novo Mundo também possuíam ordens monásticas, masculinas e femininas, nas quais
a quebra dos votos era punida com a morte. Tal como os egípcios, eles embalsamavam seus
mortos, cultuavam o sol, a lua e os planetas, mas, além disso, adoravam uma Divindade
"onipresente, conhecedora de todas as coisas... invisível, incorpórea, um Deus de completa
perfeição" (ver Sa-hagun, Historia de Nueva Espana, livro VI).

Também tinham sua deusa virgem-mãe, a "Nossa Senhora", cujo filho, o "Senhor da Luz", era
chamado "Salvador", o que vem estabelecer uma correspondência exata com Isis, Béltis e
muitas outras deusas-virgens do Oriente, com seus filhos divinos.

Seus rituais do sol e culto do fogo assemelhavam-se aos dos antigos celtas da Grã-Bretanha e
da Irlanda - e, tal como estes últimos, denominavam-se "filhos do sol". Uma arca, ou argha, era
um dos símbolos sagrados universais, que encontramos tanto na índia, na Caldéia, na Assíria,
no Egito e na Grécia, como entre os povos celtas. Lord Kingsborough, em sua obra Mexican
Antiquities (vol. VIU, p. 250), afirma: "Assim como entre os hebreus a arca era uma espécie de
templo portátil, onde, acreditava-se, a divindade estava continuamente presente, também entre
os mexicanos, cheroquis e índios de Michoacán e Honduras, a arca era objeto da mais profunda
veneração, considerada tão sagrada que só os sacerdotes podiam tocá-la."

Quanto à arquitetura religiosa, descobrimos que, em ambas as margens do Atlântico, uma das
mais antigas edificações sagradas é a pirâmide. Por mais obscuros que sejam os usos para os
quais essas construções foram originalmente projetadas, uma coisa é certa: estavam
estreitamente vinculadas a alguma idéia ou conjunto de idéias religiosas. A identidade do
traçado entre as pirâmides do Egito e as do México e da América Central é por demais
surpreendente para ser uma simples coincidência. De fato, algumas das pirâmides ame-

23ricanas - a maioria - terminam abruptamente, com um topo achatado; contudo, segundo


Bancroft e outros, muitas das pirâmides encontradas em Yucatán, particularmente aquelas
próximas a Palenque, possuem um topo pontiagudo, no mais genuíno estilo egípcio, ao passo
que, por outro lado, temos algumas pirâmides egípcias em forma de escada e com o topo
achatado. Cholula foi comparada aos grupos de Dachour, de Sakkara e à pirâmide escalonada
12
de Mé-dourn. Semelhantes em orientação, em estrutura e mesmo nas galerias e câmaras
internas, esses misteriosos monumentos do Oriente e do Ocidente atestam uma origem comum,
a partir da qual seus construtores traçaram seus projetos.

As imensas ruínas de cidades e templos no México e Yucatán estranhamente também se


assemelham às do Egito, sendo as ruínas de Teotihuacán freqüentemente comparadas às de
Karnak. O "arco falso" - fiadas de pedras, levemente sobrepostas umas às outras - é encontrado,
com a mesma forma, na América Central, nas mais antigas construções da Grécia e nas ruínas
etruscas. Os maund builders, tanto dos continentes orientais como ocidentais, ergueram
túmulos semelhantes para seus mortos, os quais foram depositados em esquifes de pedra
também semelhantes. Ambos os continentes possuem seus enormes mounds da serpente;
compare-se o do condado de Adams, em Ohio, com o primoroso mound da serpente descoberto
em Argyllshire, ou com o exemplar menos perfeito de Avebury, em Wilts. Até mesmo a
escultura e a decoração dos templos da América, do Egito e da índia têm muito em comum,
enquanto algumas das decorações murais são absolutamente idênticas.

Quinta. - Só resta agora resumir alguns depoimentos prestados pelos antigos e alguns dados
extraídos das tradições de povos primitivos e das antigas lendas diluvianas.

Aelian, em sua Varia Historia (vol. Hl, cap. XVm) afirma que Teopompo (400 a.C.) registrou
um encontro entre o rei da Frigia e Sileno, no qual este último referiu-se à existência de um
grande continente do outro lado do Atlântico, maior que a Ásia, a Europa e a Líbia juntas.

Proclo cita um trecho de um antigo escritor que se refere às ilhas existentes no mar que ficava
do outro lado das Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar), afirmando que os habitantes de
uma dessas ilhas possuíam uma crença, que lhes fora legada por seus antepassados, a respeito
de uma enorme ilha, chamada Atlântida, que, por um longo tempo, governou todas as ilhas do
oceano Atlântico.

Marcelo menciona sete ilhas no Atlântico e afirma que seus habitantes conservam a lembrança
de uma ilha muito maior, a Atlântida, "a qual, por longo tempo, exerceu domínio sobre as ilhas
menores".

Diodoro de Sicília relata que os fenícios descobriram "uma grande ilha no oceano Atlântico,
além das Colunas de Hércules, a vários dias de viagem da costa africana".

Contudo, a maior autoridade nesse assunto é Platão. No Timeu ele alude ao continente insulano,
enquanto o Crítias ou Atlântico é nada menos que um relato detalhado da história, artes, usos e
costumes do povo. No Timeu ele menciona "uma poderosa força bélica, partindo do mar
Atlântico e alastrando-se com fúria hostil por toda a Europa e Ásia. Por esse tempo, o mar
Atlântico era navegável e havia uma ilha antes da desembocadura que é chamada por vocês de
Colunas de Hércules. Mas essa ilha era muito maior do que a Líbia e toda a Ásia juntas, e
proporcionava fácil acesso às outras ilhas vizinhas. Além disso, era igualmente fácil passar
daquelas ilhas para todos os continentes que se limitavam com o mar Atlântico".

O Crítias fornece tantos dados valiosos que se torna difícil selecioná-los; o trecho abaixo, por
exemplo, menciona as riquezas materiais do país: "Eles também tinham todas as coisas
necessárias à subsistência, as quais, tanto numa cidade como em qualquer outro lugar, são tidas
como benéficas aos propósitos da vida. Na verdade, em virtude de seu extenso império,
supriam-se de muitas coisas provenientes dos países estrangeiros; mas a ilha fornecia-lhes a
13
maior parte de tudo o que necessitavam. Em primeiro lugar, a ilha provia-os de minerais
extraídos do solo em estado sólido, dos quais alguns eram fundidos; o oricalco, que hoje em dia
raramente é mencionado, mas que outrora era muito conhecido, também era extraído do solo
em muitas partes da ilha, sendo considerado o mais nobre dos metais, à exceção do ouro. Além
disso, tudo quanto as florestas forneciam para os construtores, a ilha produzia em abundância.
Havia, outrossim, suficientes pastagens para animais selvagens e domésticos, bem como um
número prodigioso de elefantes. Havia pastagens para todos esses animais, que se alimentavam
nos lagos, rios, montanhas e planícies. Do mesmo modo, havia alimento suficiente para as
espécies maiores e mais vorazes de animais. Além disso, todos os tipos de odoríferos que a
terra, atualmente, nutre, sejam raízes, gramíneas, bosques, sucos, resinas, flores ou frutos - isso
tudo a ilha produzia, e fartamente."

Os gauleses possuíam costumes da Atlântida, os quais foram compilados pelo historiador


romano Timagenes, que viveu no século I a.C. Parece que três povos distintos habitaram a
Gália. A princípio, populações indígenas (provavelmente os remanescentes de alguma raça
lemuriana); em segundo lugar, os invasores provenientes da longínqua ilha de Atlântida e, em
terceiro, os gauleses áricos (ver Pre-Adamites, p. 380).

Os toltecas do México reconstituíram seu próprio passado a partir de um marco inicial chamado
Atlan ou Aztlan; os astecas também sustentaram ter se originado de Aztlan (ver Bancroft,
Native Roces, vol. 5, pp. 221 e 321).

O Popul Vuh (p. 294) menciona uma visita que os três filhos do rei dos Quichés fizeram a uma
terra "no leste, situada nas costas do mar de onde tinham vindo seus pais", da qual trouxeram,
entre outras coisas, "um sistema de escrita" (ver também Bancroft, vol. V, p. 553).

Entre os índios da América do Norte, há uma lenda muito popular, segundo a qual seus
antepassados vieram de uma terra situada "na direção do nascer do sol". Segundo o Major J.
Lind, os índios de lowa e Dacota acreditavam que "todas as tribos de índios tinham sido,
outrora, uma só tribo e que, juntas, haviam habitado uma ilha . situada na direção do nascer do
sol". Dali, elas atravessaram o mar "em enormes esquifes, nos quais os dacotas do passado
flutuaram durante semanas, para finalmente alcançarem a terra firme".

Os livros centro-americanos afirmam que uma parte do continente americano estendia-se para
bem distante, oceano Atlântico adentro, e que essa região foi destruída por uma série de
terríveis cataclismos, separados por longos intervalos. Três deles são freqüentemente
mencionados (ver Baldwin, Anciení America, p. 176). Uma curiosa confirmação disso
encontra-se numa lenda dos celtas da Grã-Bretanha, segundo a qual uma parte de seu país, que
outrora estendia-se Atlântico adentro, foi destruída. Três catástrofes são mencionadas nas
tradições galesas.

Diz-se que Quetzalcóatl, a divindade mexicana, veio do "oriente distante". Ele é descrito como
um homem branco, com uma enorme barba (os indígenas da América do Norte e do Sul são
imberbes). Ele criou as letras e organizou o calendário mexicano. Depois de ensinar-lhes muitas
artes e lições pacíficas, ele partiu para o leste, numa canoa feita de couro de serpente (ver
Short, North Americans of Antiquity, pp. 268-271). A mesma história é contada a respeito de
Zamna, o criador da civilização em Yucatán.

Resta apenas tratar da admirável uniformidade das lendas diluvianas em todas as partes do
globo. Quer sejam antigas versões da história da Atlântida desaparecida e de sua submersão, ou
14
eco de uma importante parábola cósmica outrora ensinada e mantida em reverência em
algum centro comum, de onde se difundiram por todo o mundo, isso não nos diz respeito no
momento. Por enquanto, basta-nos demonstrar a aceitação universal dessas lendas. Seria um
desperdício inútil de tempo e espaço examinar, minuciosamente e uma a uma, essas lendas
diluvianas. Basta dizer que na índia, na Caldéia, na Babilônia, na Média, na Grécia, na
Escandinávia, na China, entre os hebreus e entre as tribos celtas da Grã-Bretanha, a lenda é
abso-

27lutamente idêntica em seus pontos essenciais. E o que encontraremos, se nos voltarmos para
o Ocidente? A mesma história, preservada em todos os detalhes pelos mexicanos (cada tribo
tendo a sua versão), pelos povos da Guatemala, Honduras, Peru e por quase todas as tribos de
índios norte-americanos. Seria ingênuo sugerir que a mera coincidência explicaria essa
identidade fundamental.

O trecho abaixo transcrito, extraído da tradução de Lê Plongeon do célebre Manuscrito Troano,


que pode ser visto no Museu Britânico, certamente proporcionará uma conclusão adequada a
esta questão. O Manuscrito Troano parece ter sido escrito há cerca de 3.500 anos, entre os
maias do Yucatán, e sua descrição da catástrofe que submergiu a ilha de Posseidones é a
seguinte: "No ano 6 Kan, no II9 Muluc do mês Zac, ocorreram terríveis terremotos, que con-
tinuaram, sem interrupção, até o 13- Chuen. A região das colinas de lodo, a terra de Mu, foi
sacrificada: sendo erguida por duas vezes, desapareceu de súbito durante a noite, enquanto a
bacia era continuamente sacudida por forças vulcânicas. Estas, confinadas, fizeram a terra
afundar e erguer-se diversas vezes e em vários lugares. Por fim, a superfície cedeu e dez
regiões foram violentamente separadas e dizimadas. Incapazes de resistir à força das
convulsões, afundaram, com seus 64.000.000 de habitantes, 8.060 anos antes de este livro ser
escrito."

Hoje, porém, tem sido devotado espaço suficiente aos fragmentos de depoimentos - todos mais
ou menos convincentes - que estão, até agora, em poder da Humanidade. Aos interessados em
se dedicar a uma Unha especial de investigação, as várias obras acima mencionadas ou citadas
poderão ser consultadas.

O assunto em questão agora poderá ser abordado. Os fatos aqui coletados, extraídos, como
foram, de registros contemporâneos que, por sua vez, foram compilados e transmitidos através
das épocas que teremos de abordar, não se baseiam em hipóteses ou conjecturas. O autor pode
não ter alcançado uma compreensão exata dos fatos e, portanto, pode tê-los desfigurado
parcialmente. Contudo, os registros originais poderão ser examinados por aqueles que se en-

contram devidamente qualificados, e os que estão dispostos a empreender o treinamento


necessário poderão conseguir licença para examinar e conferir.

Todavia, ainda que todos os registros ocultos fossem acessíveis à nossa inspeção, é preciso
compreender que um esboço que tenta resumir numas poucas páginas a história de raças e
nações, cujo desenvolvimento se estende, pelo menos, durante centenas de milhares de anos,
não poderia deixar de ser fragmentário. Entretanto, qualquer relato acerca desse assunto - ainda
que desconexo - não deixa de ser algo inédito e, portanto, de amplo interesse para a Humanida-
de em geral.

Entre os documentos acima mencionados, há mapas referentes a vários períodos da história da


Humanidade, e a permissão de obter cópias - mais ou menos completas - de quatro desses
15
mapas foi o grande privilégio do autor. Todos os quatro retraíam a Atlântida e as terras
adjacentes em diferentes épocas da sua história. Essas épocas correspondem, aproximadamente,
aos períodos que medeiam as catástrofes acima mencionadas e, a esses períodos assim
representados pelos quatro mapas associar-se-ão, naturalmente, os registros da raça atlante.

Entretanto, antes de iniciar a história da raça, seriam úteis algumas observações a respeito da
geografia das quatro diferentes épocas:

O primeiro mapa representa a superfície terrestre do globo há cerca de um milhão de anos,


quando a raça atlante estava em seu apogeu e antes da ocorrência da primeira grande
submersão, cerca de 800.000 anos atrás. O próprio continente da Atlântida, como se pode
observar, estendia-se desde um ponto situado alguns graus a leste da Islândia até mais ou
menos o local onde hoje fica o Rio de Janeiro, na América do Sul. Abrangendo o Texas e o
golfo do México, os estados do sul e do leste da América, inclusive o Labrador, ele estendia-se
através do oceano até as ilhas européias - Escócia e Irlanda e uma pequena porção do norte da
Inglaterra, formando um de seus promontórios -, enquanto suas regiões equatoriais abrangiam o
Brasil e toda a extensão do oceano, até a Costa do Ouro, na África. Os fragmentos dispersos de
que, finalmente, se formaram os continentes da Europa, da África e da América, bem como os
vestígios do ainda mais antigo e outrora extenso continente da Lemúria, também podem ser
vistos nesse mapa. Os vestígios do ainda mais remoto continente hiperbóreo, que foi habitado
pela segunda raça-raiz, também são visíveis e, tal como a Lemúria, em cor azul.

Como se pode observar pelo segundo mapa, a catástrofe de 800.000 anos atrás provocou
grandes alterações na configuração terrestre do globo. O grande continente está agora
despojado de suas regiões setentrionais, e sua porção remanescente encontra-se mais dilacerada
ainda. O continente americano, agora em fase de crescimento, está separado de seu continente
materno, por uma falha, a Atlântida, e esta já não abrange as terras ora existentes, mas ocupa a
maior parte da depressão atlântica, desde mais ou menos 50° de latitude norte até uns poucos
graus ao sul do equador. Os assentamentos e elevações da superfície terrestre em outras partes
do globo também foram consideráveis - as ilhas Britânicas, por exemplo, agora fazem parte de
uma imensa ilha, que também abrange a península escandinava, o norte da França, todos os
mares intermediários e alguns mares circundantes. Pode-se constatar que as extensões dos
vestígios da Lemúria sofreram mutilações ainda maiores, enquanto a Europa, a África e a
América tiveram seus territórios acrescidos.

O terceiro mapa mostra os efeitos da catástrofe ocorrida há mais ou menos 200.000 anos. Com
exceção das fendas nos continentes atlante e americano e a submersão do Egito, pode-se
observar como os assentamentos e as elevações da superfície terrestre nessa época foram
relativamente insignificantes; na verdade, o fato de esta catástrofe nunca ter sido considerada
como uma das maiores transparece no trecho acima transcrito do livro sagrado dos
guatemaltecos -onde apenas três grandes catástrofes são mencionadas. Contudo, a ilha
escandinava aparece, agora, unida ao continente. A Atlântida encontra-se agora dividida,
formando duas ilhas, conhecidas pelos nomes de Ruta e Daitya.

O caráter extraordinário da convulsão natural que ocorreu há cerca de 80.000 anos fica
evidenciado pelo quarto mapa. Daitya, a menor e mais meridional das ilhas, já desapareceu
quase totalmente, ao passo que, de Ruta, apenas resta uma ilha relativamente pequena,
Posseidones. Este mapa foi compilado há cerca de 75.000 anos e, sem dúvida, representa
razoavelmente a superfície terrestre do globo, desde esse período até a submersão definitiva de
Posseidones, em 9564 a.C., embora, durante esse período, devam ter ocorrido pequenas
16
alterações. Notar-se-á que os contornos da superfície terrestre começaram, então, a assumir,
aproximadamente, a mesma aparência que possuem hoje, embora as ilhas Britânicas ainda esti-
vessem unidas ao continente europeu, o mar Báltico não existisse e o deserto do Saara formasse
uma parte do fundo do oceano.

Quando se aborda a formação de uma raça-raiz é indispensável alguma referência à temática


bastante mística acerca dos Manus. No Relatório nº 26 da Loja Maçônica de Londres, fez-se
uma referência ao trabalho realizado por esses Seres sublimes, que abrange não só o
planejamento dos tipos de todo o Manvantara como também supervisiona a formação e
educação de cada raça-raiz, sucessivamente. O seguinte trecho refere-se a esse plano: "Também
há os Manus, cujo dever consiste em atuar de modo semelhante em cada raça-raiz de cada
Planeta do Círculo, o Manu-Semente, planejando o aperfeiçoamento do tipo que cada sucessiva
raça-raiz inaugura, e o Manu-Raiz, realmente encarnando entre a nova raça na qualidade de
guia e mestre, a fim de dirigir o desenvolvimento e garantir o aperfeiçoamento."

A maneira pela qual a necessária segregação das espécimes selecionadas é efetuada pelo Manu
encarregado, bem como seu subsequente cuidado com a comunidade em desenvolvimento,
pode ser abordada num futuro relatório. Uma informação bastante simples quanto ao modo de
proceder será suficiente aos nossos propósitos.

Foi, naturalmente, de uma das sub-raças da terceira raça-raiz, que habitava o continente
conhecido pelo nome de Lemúria, que se efetuou a segregação destinada a produzir a quarta
raça-raiz.

A fim de acompanhar as principais etapas do processo histórico dessa raça, através dos quatro
períodos representados pelos quatro mapas, convém dividir o assunto nos seguintes tópicos:

1. Origem e localização territorial das diferentes sub-raças.

2. As instituições políticas que, respectivamente, elas desenvolveram.

3. Suas migrações para outras partes do mundo.

4. As artes e ciências desenvolvidas.

5. Os usos e costumes adotados.

6. O desenvolvimento e o declínio de idéias religiosas.

Em primeiro lugar, portanto, uma lista dos nomes das diferentes sub-raças:

1. Rmoahal

2. Tlavatli

3. Tolteca

4. Turaniana primitiva

5. Semita original
17

6. Acadiana

7. Mongólica

Faz-se necessária uma explicação acerca do princípio pelo qual esses nomes são escolhidos.
Nos casos em que os etnólogos atuais descobriram vestígios de uma dessas sub-raças, ou
mesmo identificado pequena parte de uma delas, o nome que lhes deram é utilizado a bem da
clareza; contudo, no caso das duas primeiras sub-raças, dificilmente foram deixados quaisquer
vestígios para que a ciência deles se apoderasse e, desse modo, foram adotados os nomes pelos
quais elas mesmas se designavam.

O período representado pelo Mapa nº l mostra como era a superfície terrestre do globo há cerca
de um milhão de anos, mas a raça rmoahal surgiu há quatro ou cinco milhões de anos, no
período em que grandes porções do vasto continente meridional da Lemúria ainda existiam,
enquanto o continente da Atlântida não havia assumido as dimensões que, finalmente, atingiria.
Foi num contraforte desta terra lemuriana que a raça rmoahal nasceu. Pode-se localizá-lo,
aproximadamente, a 7° de latitude norte e 5° de longitude oeste, e uma consulta a qualquer atlas
moderno revelará que sua localização coincide com a atual costa de Achanti. Era uma região
quente e chuvosa, habitada por enormes animais antediluvianos, que viviam em pântanos
juncosos e florestas tímidas. Os fósseis dessas plantas atualmente são encontrados nas jazidas
de carvão. Os nnoahals eram uma raça morena - sendo sua pele da cor do mogno. Sua altura,
naqueles tempos remotos, era de, aproximadamente, 3 a 3,5 m - na verdade, uma raça de
gigantes - mas, ao longo dos séculos, sua estatura foi gradualmente diminuindo, tal como se
deu com todas as outras raças, e, mais tarde, vamos encontrá-los reduzidos à estatura do
"homem de Furfooz". Por fim, migraram para as costas meridionais da Atlântida, onde
travaram contínuos combates com as sexta e sétima sub-raças dos lemurianos, que então
habitavam essa região. Em seguida, uma grande parte da tribo mudou-se para o norte, enquanto
o restante estabeleceu-se no local e uniu-se aos aborígines lemurianos negros. Como
consequência, não restou, neste período - o período do primeiro mapa -, nenhuma linhagem
pura no sul e, como veremos, foi dessas raças morenas, que habitavam as regiões equatoriais e
o extremo sul do continente, que os conquistadores toltecas subseqüentemente se abasteciam de
escravos. Contudo, o restante da raça alcançou os promontórios do extremo nordeste, contíguos
à Islândia, e, vivendo nessa região por incontáveis gerações, foi aos poucos assumindo uma
coloração mais clara, até que, no final do período do primeiro mapa, deparamo-nos com um
povo razoavelmente louro. Posteriormente, seus descendentes tornaram-se súditos, ao menos
nominalmente, dos reis semitas.

O fato de terem habitado nessa região por inúmeras gerações não implica que aí se tenham
estabelecido ininterruptamente, pois certos fatores os obrigavam, de tempos em tempos, a se
dirigirem para o sul. Sem dúvida, o frio das épocas glaciais influiu de modo semelhante sobre
as outras raças; contudo, a fim de evitar digressões, apenas algumas informações devem ser
aqui incluídas.

Sem entrar na questão das diferentes rotações que a Terra executa, ou da variação de graus da
deslocação de sua órbita, cuja combinação é, às vezes, considerada a causa das épocas glaciais,
o fato é que - como já foi admitido por alguns astrônomos - uma curta época glacial ocorre,
aproximadamente, a cada 30.000 anos. Além dessas, porém, houve duas ocasiões na história da
Atlântida em que a grande extensão de gelo despovoou, não só as regiões setentrionais, como
também, ao invadir a maior parte do continente, forçou todos os seres vivos a migrar para as
18
terras equatoriais. A primeira delas ocorreu durante a época dos rmoahals, há cerca de
3.000.000 de anos, e a segunda, durante o domínio dos toltecas, cerca de 850.000 anos atrás.

No que se refere a todas as épocas glaciais, deve-se dizer que, embora os habitantes das terras
setentrionais tenham sido forçados a migrar, durante o inverno, para o sul, afastando-se da zona
de gelo, era nessa zona que ficavam os grandes povoados, para os quais podiam retomar no
verão e onde, devido à caça, acampavam até que o frio do inverno os forçasse a se dirigir
novamente para o sul.

O lugar de origem dos tlavatli, ou segunda sub-raça, foi uma ilha ao largo da costa ocidental da
Atlântida. O local está assinalado no primeiro mapa com o algarismo 2. Dali eles se espalharam
pela Atlântida propriamente dita, sobretudo através do centro do continente, deslocando-se,
contudo, gradualmente para o norte, em direção à faixa litorânea voltada para o promontório da
Groenlândia. Fisicamente, constituíam uma raça robusta e resistente, de cor vermelho-
acastanhada, mas não tão altos quanto aos rmoahals, a quem impeliram mais ainda para o norte.
Sempre foram um povo amante das montanhas, e seus principais povoados situavam-se nas
regiões montanhosas do interior. Comparando-se os Mapas l e 4, verificar-se-á que sua
localização era mais ou menos contínua à região que, mais tarde, tornou-se a ilha de
Posseidones. Neste período do primeiro mapa, eles também ocuparam - como já foi
mencionado - as costas setentrionais, enquanto uma mistura de raça tlavatli com a tolteca
habitava as ilhas ocidentais, que, mais tarde, participaram da formação do continente
americano.

A seguir, temos a raça tolteca, ou terceira sub-raça, que constituiu um desenvolvimento


esplêndido. Governou todo o continente da Atlântida por milhares de anos, com grandes
recursos materiais e muito brilho. Na verdade, esta raça era de tal modo dominante e dotada de
vitalidade, que as uniões com as sub-raças vizinhas não conseguiram alterar-lhe o tipo, que
ainda permaneceu essencialmente tolteca; e, centenas de milhares de anos mais tarde,
encontramos uma de suas remotas linhagens governando, magnificamente, no México e Peru,
muito., anos antes que seus degenerados descendentes fossem conquistados pelas mais ferozes
tribos astecas do norte.

Essa raça também tinha uma pele vermelho-acastanhada, embora fosse mais vermelha, ou mais
acobreada, que a dos tlavatli. Sua estatura também era elevada, medindo em torno de 2,5 m
durante o período de seu domínio absoluto; contudo, assim como ocorreu com todas as raças,
foi sofrendo uma redução, até atingir o tamanho médio de hoje em dia. O tipo foi um
aperfeiçoamento das duas sub-raças anteriores, possuindo uma feição séria, bastante acentuada,
bem parecida com a dos antigos gregos. O lugar aproximado de origem dessa raça pode ser
observado no primeiro mapa, assinalado com o algarismo 3. Sua localização ficava perto da
costa ocidental da Atlântida, a cerca de 30° de latitude norte, e, toda a região circunvizinha,
incluindo a maior parte da costa ocidental do continente, foi habitada por uma raça tolteca pura.
Contudo, como veremos ao tratarmos da organização política, seu território finalmente
ampliou-se por todo o continente, e foi de sua grande capital, situada na costa oriental, que os
imperadores toltecas estenderam seu domínio a quase todas as nações.

Essas três primeiras sub-raças são conhecidas como as "raças vermelhas" e, entre elas e as
quatro seguintes, não houve, a princípio, muita mistura de sangue. Essas quatro, embora
diferindo consideravelmente entre si, foram chamadas de "amarelas", e esta cor pode
caracterizar de maneira apropriada a tez dos turanianos e mongólicos, mas os semitas e
acadianos eram brancos.
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A turaniana, ou quarta sub-raça, originou-se no lado oriental do continente, ao sul da região


montanhosa habitada pelo povo tlavatli. Esse local está assinalado, no Mapa n2 l, com o
algarismo 4. Desde sua origem, os turanianos eram colonizadores e muitos deles migraram para
as terras situadas a leste da Atlântida. Nunca foram uma raça completamente dominante no seu
continente de origem, embora algumas de suas tribos e linhagens tenham se tornado razoa-
velmente poderosas. As grandes regiões centrais do continente, situadas a oeste e ao sul da
região montanhosa dos tlavatlis, constituíam seu habitat especial, embora não exclusivo, pois
repartiam essas terras com os toltecas. As curiosas experiências políticas e sociais realizadas
por essa sub-raça serão abordadas mais adiante.

Quanto à semita original, ou quinta sub-raça, os etnólogos têm estado um tanto confusos, como
de fato é extremamente natural que estejam, considerando os dados por demais insuficientes
que possuem para se orientar. Essa sub-raça surgiu na região montanhosa que formava a mais
meridional das duas penínsulas nordésteas, as quais, como vimos, correspondem, atualmente, à
Escócia, à Irlanda e a alguns dos mares adjacentes. No Mapa n- l, o local está assinalado com o
algarismo 5. Nesta menos atraente porção do grande continente a raça se desenvolveu e
floresceu, mantendo-se durante séculos independente dos agressivos reis sulistas, até que, aos
poucos e em grupos, começaram a se espalhar em várias direções e a colonizar outras regiões.
É preciso lembrar que, na época em que os semitas subiram ao poder, centenas de milhares de
anos haviam transcorrido e o período do segundo mapa já havia sido atingido. Eram uma raça
turbulenta e descontente, sempre em guerra com seus vizinhos, sobretudo com o império cada
vez mais amplo dos acadianos.

O lugar de origem da sub-raça acadiana, ou sexta sub-raça, será encontrado no Mapa nº 2


(assinalado com o algarismo 6), pois foi após a grande catástrofe de 800.000 anos atrás que esta
raça surgiu. O local ficava na região oriental da Atlântida, mais ou menos no centro da grande
península, cuja extremidade sudeste estendia-se em direção ao velho continente. Pode-se
localizá-lo aproximadamente a 42° de latitude norte e a 10° de longitude leste. Contudo, os
acadianos não permaneceram por muito tempo em sua terra de origem, invadindo o continente
da Atlântida, que, nessa época, já sofrera uma redução de suas dimensões. Eles travaram
inúmeras batalhas terrestres e navais com os semitas, onde foi utilizado um grande número de
frotas pelos dois combatentes. Por fim, há cerca de 100.000 anos, derrotaram definitivamente
os semitas e, a partir de então, estabeleceram uma dinastia acadiana na antiga capital semita e,
durante séculos, governaram o país com sabedoria. Tornaram-se grandes comerciantes,
navegadores e colonizadores, estabelecendo muitos núcleos que serviam de pontos de ligação
com terras distantes.

A sub-raça mongólica, ou sétima sub-raça, parece ter sido a única que não teve absolutamente
nenhum contato com seu continente de origem. Originária das planícies da Tartária (local
assinalado com o algarismo 7, no segundo mapa), a cerca de 63° de latitude norte e 140° de
longitude leste, desenvolveu-se diretamente dos descendentes da raça turaniana, a quem
suplantou paulatinamente por quase toda a Ásia. Essa sub-raça multiplicou-se de tal modo que,
hoje em dia, a maior parte dos habitantes da Terra pertencem, tecnicamente, a ela, embora
muitas de suas subdivisões estejam tão profundamente alteradas com o sangue de raças mais
primitivas que mal se distinguem delas.

Instituições Políticas. - Num resumo como este seria impossível descrever como cada sub-raça
se subdividiu, posteriormente, em nações, cada qual com seu tipo e características distintos.
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Tudo o que se pode tentar aqui é esboçar, em linhas gerais, a variedade de instituições
políticas que se sucederam ao longo das grandes épocas da raça.

Embora reconhecendo que cada sub-raça, bem como cada raça-raiz, está destinada a
permanecer, em alguns aspectos, num nível mais elevado do que aquela que a antecedeu, a
natureza cíclica do desenvolvimento deve ser compreendida como um condutor da raça à
semelhança do homem que, passando pela infância, juventude e atingindo a maturidade, retorna
de novo à infância da velhice. Evolução significa, necessariamente, máximo progresso, ainda
que o retrocesso de sua espiral ascendente pareça fazer da história da política ou da religião um
relato não só do desenvolvimento e do progresso, mas também da degradação e da decadência.

Portanto, quando se afirma que a primeira sub-raça iniciou-se sob a mais perfeita forma de
governo concebível, deve-se compreender que isso se deu antes em virtude das necessidades de
sua infância do que dos méritos de sua maturidade. Os rmoahals eram incapazes de desenvolver
um programa de governo fixo, e tampouco atingiram um nível de civilização tão elevado
quanto o alcançado pelas sexta e sétima sub-raças lemurianas. Contudo, o Manu que efetuou a
segregação encarnou, de fato, na raça e governou-a como rei. Até mesmo quando deixava de ter
uma participação efetiva no governo da raça, governantes Adeptos ou Divinos, quando os
tempos assim o exigiam, ainda garantiam o futuro da comunidade em sua tenra idade. Como é
do conhecimento dos estudantes de Teosofia, nossa humanidade ainda não atingira o necessário
estágio de desenvolvimento que lhe permitisse gerar Adeptos inteiramente iniciados. Portanto,
os governantes acima mencionados, inclusive o próprio Manu, eram, necessariamente, fruto da
evolução em outros sistemas de mundos.

O povo tlavatli mostrou alguns sinais de avanço na arte de governar. Suas várias tribos ou
nações eram governadas por chefes ou reis que, geralmente, eram investidos de sua autoridade
através da aclamação do povo. Naturalmente, os indivíduos mais vigorosos e os guerreiros mais
destemidos eram, então, os escolhidos. Um império considerável finalmente se estabeleceu
entre eles, onde um rei tornou-se o chefe nominal, embora sua suserania consistisse mais num
título honorário do que numa autoridade real.

Foi a raça tolteca que desenvolveu o mais alto grau de civilização e organizou o mais poderoso
império de todos os povos atlantes, estabelecendo pela primeira vez o princípio da sucessão
hereditária. A princípio, a raça dividiu-se em vários e pequenos reinos independentes, que
lutavam constantemente entre si, e todos em guerra com os rmoahals-lemurianos do sul. Estes
últimos foram gradualmente conquistados e dominados - muitas de suas tribos foram
escravizadas. Entretanto, cerca de um milhão de anos atrás, esses reinos independentes uniram-
se numa grande federação e reconheceram um imperador como chefe. Naturalmente, isso se
deu através de grandes guerras, mas resultou em paz e prosperidade para a raça.

Deve ser lembrado que a Humanidade sempre foi dotada, em sua grande maioria, de atributos
psíquicos e, nessa época, os indivíduos mais desenvolvidos tinham se submetido ao
aprendizado necessário nas escolas de ocultismo, tendo obtido vários estágios de iniciação -
alguns, inclusive, haviam alcançado o grau de Adeptos. O segundo desses imperadores era um
Adepto e, por milhares de anos, a dinastia Divina governou não só todos os reinos nos quais a
Atlântida estava dividida, mas também as ilhas ocidentais e a porção meridional do território
adjacente, situado a leste. Quando necessário, essa dinastia era fornecida pela Casa de Iniciados
mas, por via de regra, o poder era legado de pai para filho, sendo todos mais ou menos
qualificados; em alguns casos, o filho recebia um grau adicional das mãos do pai. Durante todo
esse período, os governantes Iniciados mantiveram-se vinculados à Hierarquia Oculta que
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governa o mundo, submetendo-se às suas leis e atuando em harmonia com seus desígnios.
Essa foi a idade de ouro da raça tolteca. O governo era justo e generoso; as artes e ciências
eram cultivadas - na verdade, aqueles que trabalhavam nesses setores, guiados como foram pela
ciência oculta, alcançaram resultados extraordinários; as crenças e rituais religiosos ainda eram
relativamente puros - na verdade, a civilização da Atlântida alcançara, nessa época, seu apogeu.

Mais ou menos 100.000 anos após esta idade de ouro, iniciou-se a degeneração e o declínio da
raça. Muitos dos reis tributários, e um grande número de sacerdotes e súditos, deixaram de usar
suas faculdades e poderes de acordo com as leis estipuladas por seus governantes Divinos,
cujos preceitos e conselhos eram agora desrespeitados. Seus vínculos com a Hierarquia Oculta
se romperam. O engrandecimento pessoal, a obtenção de riqueza e poder, a humilhação e ruína
de seus inimigos tornaram-se, cada vez mais, o alvo para o qual seus poderes ocultos estavam
dirigidos: desse modo, afastados de seu emprego lícito e utilizados para a obtenção de todos os
tipos de propósitos egoístas e malévolos, inevitavelmente esses poderes conduziram ao que
devemos chamar de bruxaria.

Envolta como esta palavra está pelo ódio, cuja associação foi gradualmente produzida, durante
séculos de superstição e ignorância, pela credulidade, por um lado, e pela impostura, por outro,
consideremos por um momento seu significado real e as terríveis consequências que sua prática
sempre acaba trazendo ao mundo.

Em parte por suas faculdades psíquicas, que ainda não tinham se extinguido nas profundezas da
materialidade, para a qual a raça em seguida decaiu, e em parte por seus conhecimentos
científicos, obtidos durante esse apogeu da civilização atlante, os membros mais intelectuais e
vigorosos da raça foram aos poucos alcançando uma compreensão cada vez maior acerca da
atuação das leis da Natureza, bem como um controle cada vez maior de algumas de suas forças
ocultas. A profanação desse saber e seu emprego para fins egoístas é o que constitui a bruxaria.
As terríveis consequências de tal profanação também estão suficientemente exemplificadas
pelas horríveis catástrofes que se desencadearam sobre a raça. A partir do momento em que a
magia negra foi posta em prática, ela estava destinada a se propagar em círculos cada vez mais
amplos. Assim, uma vez afastado o guia espiritual supremo, o princípio kâmico, que era o
quarto, atingiu naturalmente seu zênite durante a quarta raça-raiz, afirmando-se cada vez mais
na Humanidade. A luxúria, a brutalidade e a ferocidade foram aumentando, e a natureza animal
do homem foi assumindo seu aspecto mais abjeto. Desde os primórdios, o que dividiu a raça
atlante em duas facções inimigas foi uma questão moral, e o que já havia começado na época
dos rmoahals acentuou-se terrivelmente na era tolteca. A batalha de Armagedon é travada
repetidas vezes em cada idade da história do mundo.

Deixando de se submeter ao sábio governo dos imperadores Iniciados, os seguidores da "magia


negra" sublevaram-se e elegeram um imperador rival que, depois de muitas lutas e conflitos,
expulsou o imperador branco de sua capital, a "Cidade dos Portais Dourados", e assumiu o
trono.

O imperador branco, expulso para o norte, reinstalou-se numa cidade fundada originalmente
pelos tlavatli, na extremidade meridional da região montanhosa que, nessa época, era a sede de
um dos reis tributários toltecas. Esse rei recebeu com alegria o imperador branco e colocou a
cidade à sua disposição. Havia outros reis tributários que também permaneceram leais a ele,
mas a maioria transferiu sua vassalagem ao novo imperador, que reinava na antiga capital.
Entretanto, essa lealdade não durou muito tempo. Os reis tributáveis constantemente
reivindicavam sua independência, e contínuas batalhas eram travadas em diferentes pontos do
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império, recorrendo-se largamente à prática de bruxaria a fim de suplementar os poderes de
destruição que os exércitos possuíam.

Esses eventos ocorreram cerca de 50.000 anos antes da primeira grande catástrofe.

Dessa época em diante as coisas foram de mal a pior. Os bruxos usavam seus poderes de um
modo cada vez mais arrojado, e um grupo cada vez maior de pessoas adquiria e praticava essa
terrível "magia negra".

Veio então a horrível punição, onde pereceram milhões e milhões de pessoas. A grande
"Cidade dos Portais Dourados" tornara-se, nessa época, um perfeito antro de iniquidade. As
ondas precipitaram-se sobre ela e exterminaram seus habitantes, e o imperador "negro" e sua
dinastia caíram para sempre. O imperador do norte e os sacerdotes iniciados, de todas as partes
do continente, há muito tempo estavam conscientes dos funestos dias que se aproximavam, e as
páginas seguintes falarão das muitas migrações, lideradas pelos sacerdotes, que precederam
esta catástrofe, bem como das que se deram em épocas posteriores.

O continente estava, então, bastante dilacerado. Mas a porção atual de território submerso de
modo algum representava o dano provocado, pois os vagalhões varreram grandes extensões de
terra, transformando-as em pântanos abandonados. Regiões inteiras tornaram-se estéreis,
permanecendo desertas e sem plantações por muitas gerações.

Além disso, a população restante recebera uma terrível advertência. Levaram-na a sério e,
durante certo tempo, a bruxaria foi menos freqüente entre eles. Passou-se um longo período,
antes que se estabelecesse um novo governo eficaz. Por fim, depararemos com uma dinastia
semita de bruxos entronizada na "Cidade dos Portais Dourados", mas nenhuma autoridade
tolteca destacou-se durante o período do segundo mapa. Ainda havia um número considerável
de populações toltecas, mas pouco restava de seu puro sangue no continente de origem.

Entrementes, na ilha de Ruta, no período do terceiro mapa, uma dinastia tolteca novamente
ascendeu ao poder e governou, através de seus reis tributários, uma grande porção da ilha. Essa
dinastia devotava-se à magia negra. E importante salientar que essa prática tomou-se, durante
todos os quatro períodos, cada vez mais predominante, até culminar na inevitável catástrofe
que, em grande medida, purificou a terra do mal monstruoso. Deve-se também ter em mente
que, até a destruição final, quando Posseidones desapareceu, um imperador ou rei Iniciado - ou
ao menos alguém que conhecia a "boa lei" -, governou em alguma parte do continente insular,
atuando sob a orientação da Hierarquia Oculta, a fim de refrear, onde fosse possível, os bruxos
malignos e orientar e instruir a pequena minoria que ainda estava disposta a levar uma vida
pura e saudável. Nos últimos dias, esse rei "branco" era, via de regra, eleito pelos sacerdotes -
ou seja, pelos poucos que ainda seguiam a "boa lei".

Pouco resta a ser dito sobre os toltecas. Em Posseidones, a população de toda a ilha era mais ou
menos mesclada. Dois reinos e uma pequena república, localizada a oeste, dividiam a ilha entre
si. A região norte era governada por um rei Iniciado. No sul, o princípio hereditário também
fora substituído pela eleição popular. As dinastias raciais aristocráticas estavam acabando, mas
reis de linhagem tolteca ocasionalmente subiam ao poder, tanto no norte quanto no sul, embora
o reino setentrional fosse constantemente invadido pelo seu rival sulista, que conquistava para
si uma parte cada vez maior de seu território.
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Esta abordagem, até certo ponto minuciosa, da situação política na época dos toltecas,
exime-nos de uma análise pormenorizada das principais características políticas das quatro sub-
raças seguintes, já que nenhuma delas atingiu o apogeu alcançado pelos toltecas - na verdade, a
degeneração da raça já havia começado.

Ao que tudo indica, foi a tendência inata da raça turaniana que a levou a desenvolver uma
espécie de sistema feudal. Cada chefe era supremo em seu próprio território e o rei era apenas o
primas inter pares. Os chefes que compunham o conselho de estado ocasionalmente
assassinavam o rei, substituindo-o por um deles. Eram uma raça violenta e bárbara, bem como
brutal e cruel. O fato de que, em alguns períodos de sua história, uma grande quantidade de
mulheres participassem de suas guerras é indicativo dessas características.

Contudo, o fato mais interessante de sua história está na estranha experiência que
empreenderam em sua vida social, que, não fosse por sua origem política, melhor se
enquadraria na seção destinada aos "usos e costumes". Os turanianos sofriam constantes
derrotas nas batalhas travadas com seus vizinhos toltecas, muito mais numerosos; assim,
tinham como meta principal o aumento da população. Para tanto promulgaram leis que
retiravam de cada homem a responsabilidade de sustentar a família. O Estado cuidava e provia
a subsistência das crianças, que eram consideradas propriedade sua. Isso contribuiu, sem
dúvida, para o aumento do coeficiente de natalidade entre os turanianos, e a cerimônia do
casamento passou a ser desprezada. Os laços da vida familiar e o sentimento de amor entre pais
e filhos logicamente foram destruídos, o que levou o sistema a um verdadeiro fracasso total,
sendo finalmente abandonado. Outras tentativas de encontrar soluções socialistas para
problemas econômicos, que até hoje nos afligem, foram experimentadas e abandonadas por
essa raça.

Os semitas originais, que eram uma raça belicosa, saqueadora e enérgica, sempre teve uma
inclinação pela forma patriarcal de governo. Seus colonizadores, que geralmente levavam uma
vida nômade, adotaram essa forma de governo de modo quase exclusivo, mas, como vimos,
desenvolveram um considerável império durante o período do segundo mapa e invadiram a
grande "Cidade dos Portais Dourados". Entretanto, acabaram sendo obrigados a recuar diante
do crescente poder dos acadianos.

Foi no período do terceiro mapa, cerca de 100.000 anos atrás, que os acadianos afinal
derrotaram o poderio semita. Essa sexta sub-raça era um povo muito mais obediente às leis do
que seus predecessores. Mercadores e navegadores, viviam em comunidades sedentárias e,
naturalmente, criaram uma forma oligárquica de governo. Uma de suas características, da qual
Esparta é o único exemplo recente, era o sistema dual de governo, onde dois reis governam a
mesma cidade. Talvez em consequência de sua aptidão naval, o estudo das estrelas tomou-se
uma atividade característica, tendo essa raça realizado grandes progressos na astronomia e na
astrologia.

O povo mongólico foi um aperfeiçoamento de seus vizinhos ancestrais, originários do selvagem


tronco turaniano. Nascidos, como eram, nas vastas estepes da Sibéria Oriental, nunca tiveram
qualquer contato com o continente-mãe e, sem dúvida por causa de seu ambiente, tornaram-se
um povo nômade. Mais psíquicos e mais religiosos do que os turanianos, de quem descendiam,
a forma de governo para a qual tenderam exigia um suserano que exercesse o poder supremo,
não só como governante territorial mas também como sumo sacerdote.
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Emigrações. Três causas contribuíram para provocar as emigrações. A raça turaniana, como
vimos, estava, desde sua origem, imbuída do espírito de colonização, o que ela levou a cabo
numa escala considerável. Também os semitas e acadianos eram, até certo ponto, raças
colonizadoras.

Com o passar do tempo, a população também tendia cada vez mais a ultrapassar os limites de
subsistência. Por conseguinte, a miséria se instalava, de modo semelhante, entre os menos
prósperos de cada raça, que se viram obrigados a procurar um meio de vida em países menos
populosos. Deve-se ter em mente que, quando os atlantes atingiram seu apogeu na era tolteca, a
proporção de habitantes por quilômetro quadrado no continente da Atlântida provavelmente era
comparável, embora não excedesse, à que se verifica atualmente na Inglaterra e Bélgica. De
qualquer modo, é claro que os espaços vagos disponíveis para colonização eram mais abundan-
tes naquela época do que na nossa, embora a população total do mundo - que no momento
[1986], não deve ser superior a 1,2 ou 1,5 bilhão de habitantes - atingisse naqueles dias a
grande cifra de aproximadamente 2 bilhões de habitantes.

Por fim, havia as emigrações lideradas por sacerdotes, que ocorreram antes de cada catástrofe -
e as quatro grandes catástrofes, acima mencionadas, não foram as únicas. Os reis e sacerdotes
Iniciados que observavam a "boa lei" estavam, de antemão, cientes das calamidades iminentes.
Portanto, cada um deles tornou-se um centro de advertência profética, acabando por liderar
grupos de colonizadores. Deve-se observar aqui que, nos últimos dias, os governantes do país
indignaram-se profundamente com essas emigrações lideradas pelos sacerdotes, as quais
tendiam a empobrecer e despovoar seus reinos, e os emigrantes eram obrigados a embarcar
secretamente durante a noite.

Acompanhando, mais ou menos, as rotas de emigração que, sucessivamente, foram seguidas


por cada sub-raça, inevitavelmente acabaremos chegando às terras que seus respectivos
descendentes hoje ocupam.

Quanto às emigrações mais antigas, temos de recuar até a época dos rmoahals. É preciso
lembrar que apenas a porção da raça que habitava as costas nordésteas conservava seu sangue
puro. Atacados em suas fronteiras meridionais e expulsos mais para o norte pelos guerreiros
tlavatlis, começaram a penetrar no território vizinho, situado a leste, e no promontório da
Groenlândia, que ficava mais próximo ainda. No período do segundo mapa, não havia mais
nenhum rmoahal de sangue puro no já então reduzido continente-mãe, mas o promontório
setentrional do continente, que se erguia a oeste, bem como o já mencionado cabo da
Groenlândia e o litoral ocidental da grande ilha escandinava estavam ocupados por eles. Havia
também uma colônia, na região situada ao norte do mar asiático central.

Naquele tempo, a Grã-Bretanha e a Picardia faziam parte da ilha escandinava, embora a própria
ilha se tornasse, no período do terceiro mapa, parte do crescente continente europeu.
Atualmente, é na França que os restos mortais desta raça têm sido encontrados, nos estratos
quaternários, e o espécime braquicéfalo, de cabeça arredondada, conhecido como o "homem de
Furfooz", pode ser considerado como uma degeneração do tipo da raça em seu declínio.

Muitas vezes obrigados, devido às inclemências de uma época glacial, a se dirigirem para o sul,
muitas vezes impelidos para o norte pela ganância de seus vizinhos mais poderosos, os
remanescentes dessa raça, dispersos e degradados, podem ser encontrados hoje entre os atuais
lapões, embora mesmo neste caso tenha havido uma mistura de sangue. Contudo, estes
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enfraquecidos e atrofiados espécimes da Humanidade são descendentes diretos da raça negra
de gigantes que surgiu nas terras equatoriais da Lemúria, há quase cinco milhões de anos.

Os colonizadores tlavatlis parecem ter se espalhado por todas as direções. No período do


segundo mapa, seus descendentes estavam instalados nas costas ocidentais do então crescente
continente americano (Califórnia), bem como nas costas do extremo sul (Rio de Janeiro).
Também podemos encontrá-los nas regiões litorâneas orientais da ilha escandinava, embora
muitos deles se tivessem aventurado pelo oceano, contornando a costa da África e alcançando a
índia, onde, num processo de miscigenação com a população indígena lemuriana, formaram a
raça dravídica. Mais tarde, essa raça misturou-se, por sua vez, com a raça árica, ou quinta raça,
de onde a complexidade tipológica encontrada hoje na índia. De fato, temos aqui um claro
exemplo da dificuldade extrema de decidir qualquer questão de raça pela evidência meramente
física, pois seria perfeitamente possível que egos da quinta raça encarnassem entre os
brâmanes, egos da quarta raça entre as castas inferiores, e alguns retardatários da terceira raça
entre as tribos montesas.

No período do quarto mapa, encontramos uma nação tlavatli ocupando as regiões meridionais
da América do Sul, de onde se pode deduzir que os patagônios provavelmente tiveram uma
remota ascendência tlavatli.

Restos mortais dessa raça, assim como dos rmoahals, têm sido encontrados nos estratos
quaternários da Europa central, e o doli-cocéfalo "homem de Cro-Magnon"* pode ser
considerado um típico espécime da raça em sua decadência, ao passo que os "povos lacustres"
da Suíça constituíam um ramo ainda mais primitivo e não totalmente puro. Atualmente, os
únicos povos que podem ser citados como espécimes de sangue razoavelmente puro dessa raça
são algumas tribos pardas de índios da América do Sul. Os birmaneses e siameses também
possuem sangue tlavatli nas veias, embora tenham se misturado com a estirpe mais nobre de
uma das sub-raças ancas, cujo sangue é, portanto, dominante.

* Os estudiosos de geologia e paleontologia devem saber que essas ciências consideram o "homem de Cro-Magnon" anterior ao
"homem de Furfooz", e considerando-se que essas duas raças seguiram lado a lado, por vastos períodos de tempo, pode muito
bem ser possível que o esqueleto do indivíduo de "Cro-Magnon", embora representativo da segunda raça, tenha se sedimentado
nos estratos quaternários milhares de anos antes que o "homem de Furfooz" vivesse na Terra.

Chegamos, assim, aos toltecas. Eles emigraram sobretudo para o oeste. As costas próximas do
continente americano estavam, no período do segundo mapa, povoadas por uma raça tolteca
pura, enquanto a maioria dos que permaneceram no continente-mãe tinha o sangue muito
misturado. Foi nos continentes da América do Norte e do Sul que essa raça se disseminou e
floresceu; aí, milhares de anos mais tarde, os impérios do México e do Peru seriam fundados. A
grandeza desses impérios é um assunto da História, ou ao menos da tradição, que tem à sua
disposição inúmeras evidências, entre as quais as magníficas ruínas arquitetônicas. Pode-se
notar aqui que, embora o império mexicano tenha sido, durante séculos, vasto e poderoso em
todos os aspectos que nossa civilização atual considera como tal, ele nunca atingiu o apogeu
alcançado pelos peruanos há cerca de 14.000 anos, sob o governo dos soberanos inças. No que
diz respeito ao bem-estar geral do povo, à justiça e beneficência do governo, à divisão
igualitária da posse da terra e à vida simples e religiosa dos habitantes, o império peruano
daquela época poderia ser considerado como um eco tradicional, porém débil, da idade de ouro
dos toltecas no continente-mãe da Atlântida.
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O índio pele-vermelha típico da América do Norte ou do Sul, é o melhor representante atual
do povo tolteca, mas naturalmente não se compara ao indivíduo altamente civilizado da raça em
seu apogeu.

O Egito deve ser agora mencionado, e o estudo dessa matéria deve fornecer um importante
esclarecimento a respeito de sua primitiva história. Embora o primeiro povoamento desse país
não tenha sido, no sentido estrito da palavra, uma colônia, foi da raça tolteca que,
posteriormente, foi aliciado o primeiro grande contingente de emigrantes, destinados a se
misturarem com o povo aborígine e a dominá-lo.

Em primeiro lugar, houve a transferência de uma grande Loja de Iniciação, cerca de 400.000
anos atrás. A idade de ouro dos toltecas há muito terminara. A primeira grande catástrofe já
ocorrera. A degradação moral do povo e a conseqüente prática das "magias negras" estavam se
tornando mais acentuadas e se disseminavam por toda parte. Fazia-se necessário um ambiente
mais puro para a Loja Branca. O Egito estava isolado e sua população era escassa. Por isso, foi
escolhido. A colonização servia, assim, ao seu propósito e, não perturbada por condições
adversas, a Loja de Iniciados realizou seu trabalho por, aproximadamente, 200.000 anos.

Cerca de 210.000 anos atrás, no tempo propício, a Loja Oculta fundou um império - a primeira
"Dinastia Divina" do Egito - e principiou a ensinar o povo. Foi então que o primeiro grande
grupo de colonizadores foi trazido da Atlântida e, em alguma época, durante os 10.000 anos
que precederam a segunda catástrofe, as duas grandes pirâmides de Giseh foram construídas,
em parte para proporcionar Salas de Iniciação permanentes, mas também para atuar como casa
do tesouro e santuário de algum grande talismã de poder durante a submersão, que os Iniciados
sabiam ser iminente. O Mapa nº 3 retrata o Egito nessa época, submerso. E ele assim
permaneceu por um considerável período, mas quando tornou a emergir foi outra vez povoado
pelos descendentes de muitos de seus antigos habitantes, que tinham se refugiado nas
montanhas abissínias (que no Mapa D- 3 aparecem como uma ilha), bem como por novos
grupos de colonos atlantes, vindos de várias regiões do mundo. Uma considerável imigração de
acadianos ajudou, então, a alterar o tipo egípcio. Esta é a era da segunda "Dinastia Divina" do
Egito - na qual os Adeptos Iniciados foram, novamente, os governantes do país.

A catástrofe de 80.000 anos atrás deixou, uma vez mais, o país submerso, mas dessa vez foi
apenas uma onda temporária. Quando esta refluiu, a terceira "Dinastia Divina" - mencionada
por Maneio — começou seu governo, e foi durante o reinado dos primeiros reis dessa dinastia
que o grande templo de Karnak, e uma grande parte das mais antigas construções que ainda
podem ser vistas no Egito, foram erigidas. Na verdade, excetuando-se as duas pirâmides,
nenhuma outra construção no Egito é anterior à catástrofe de 80.000 anos atrás.

A submersão definitiva de Posseidones fez com que um outro vagalhão atingisse o Egito. Essa
calamidade também foi apenas temporária, mas pôs fim às "Dinastias Divinas", pois a Loja de
Iniciados transferira suas sedes para outras terras.

Vários aspectos não mencionados aqui já foram tratados em Transaction of the London Lodge,
"The Pyramids and Stonehenge".

Os turanianos, que no período do primeiro mapa colonizaram as regiões setentrionais do


território situado logo a leste da Atlântida, ocuparam, no período do segundo mapa, suas
regiões litorâneas meridionais (que incluíam o Marrocos e a Argélia atuais). Também vamos
encontrá-los vagando em direção ao oriente, povoando tanto as costas ocidentais como orientais
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do mar asiático central. Finalmente, seus grupos deslocaram-se ainda mais para o leste e, nos
dias de hoje, o chinês do interior é o tipo que mais se aproxima dessa raça. Um curioso
capricho do destino, a respeito de uma das ramificações ocidentais desta raça, deve ser
mencionado. Apesar de dominados durante séculos pelos seus vizinhos toltecas, mais
poderosos, estava reservado a um pequeno ramo do tronco turaniano a conquista e a ocupação
do último grande império construído pelos toltecas, pois os brutais e pouco civilizados astecas
possuíam o puro sangue turaniano.

Houve dois tipos de emigrações semitas: primeiro, as motivadas pelo impulso natural da raça;
segundo, aquela emigração especial, efetuada sob direta orientação do Manu; pois, por mais
estranho que possa parecer, o núcleo destinado a ser desenvolvido na nossa grande raça árica,
ou quinta raça, não foi escolhido dentre os toltecas, mas sim, entre os dessa sub-raça violenta e
anárquica, embora vigorosa e energética. A razão, sem dúvida alguma, repousa na característica
manásica, com a qual o número 5 é sempre associado. A sub-raça desse número foi
inevitavelmente desenvolvendo o poder e a inteligência de seu cérebro físico, embora à custa
das percepções psíquicas; contudo, esse desenvolvimento do intelecto, em níveis infinitamente
mais elevados, é ao mesmo tempo a glória e a meta prefixada de nossa quinta raça-raiz.

Analisando, em primeiro lugar, as emigrações naturais, constatamos que, no período do


segundo mapa, enquanto ainda restavam nações poderosas no continente-mãe, os semitas
espalharam-se tanto para o oeste como para o leste - a oeste, para as terras que hoje formam os
Estados Unidos, explicando o porquê de o tipo semítico ser encontrado em algumas das raças
índias; e a leste, para as costas setentrionais do continente vizinho, que formava tudo o que
então havia da Europa, da África e da Ásia. O tipo dos egípcios antigos, bem como de outras
nações adjacentes, foi, até certo ponto, alterado por essa linhagem semita original; contudo,
com exceção dos judeus, os cabilas menos escuros das montanhas argelinas são, no momento,
os únicos representantes da raça relativamente pura.

As tribos resultantes da segregação efetuada pelo Manu para a formação da nova raça-raiz
finalmente encontraram seu caminho para as regiões litorâneas meridionais do mar asiático
central, onde foi fundado o primeiro grande reino árico. Quando o Relatório acerca da origem
de uma raça-raiz for escrito, verificar-se-á que muitos dos povos aos quais costumeiramente
chamamos semíticos, na verdade são, quanto ao sangue, áricos. O mundo também será
esclarecido a respeito do que consiste a reivindicação dos hebreus de serem considerados um
"povo escolhido". Em poucas palavras, pode-se afirmar que eles representam um vínculo
anormal e artificial entre as quarta e quinta raças-raízes.

Os acadianos, apesar de se tornarem, finalmente, os governantes supremos no continente-mãe


da Atlântida, originaram-se, como vimos no período do segundo mapa, no continente vizinho -
seu habitat específico ficava na região ocupada pela bacia do Mediterrâneo, mais ou menos
onde atualmente fica a ilha da Sardenha. A partir deste centro, avançaram para o oriente,
ocupando as regiões que, posteriormente, formaram as costas do Levante, e chegaram até a
Pérsia e a Arábia. Como já vimos, eles também ajudaram a povoar o Egito. Os antigos etruscos,
os fenícios, incluindo os cartagineses e os sumério-acadianos, eram ramificações desta raça,
embora os bascos de hoje, provavelmente, tenham uma porcentagem bem maior de sangue
acadiano correndo em suas veias.

Uma referência aos antigos habitantes de nossas ilhas pode ser oportuna aqui, pois foi na
primitiva era acadiana, cerca de 100.000 anos atrás, que a colônia dos Iniciados, que fundaram
Stonehenge, desembarcaram nessas praias - sendo "essas praias", naturalmente, as praias da
28
parte escandinava do continente da Europa, como demonstra o Mapa nº 3. Parece que os
sacerdotes iniciados e seus discípulos pertenciam a uma linhagem bastante antiga da raça
acadiana - eram mais altos, mais bonitos e mais espertos do que os aborígines da região, que
eram uma raça muito miscigenada e, em sua grande maioria, remanescentes degenerados dos
rmoahals. Como os leitores do Transaction of the London Lodge, em "Pyramids and
Stonehenge", devem saber, a rude simplicidade de Stonehenge foi planejada para servir de
protesto contra os ornamentos extravagantes e a exagerada decoração dos templos existentes na
Atlântida, onde os habitantes prosseguiam com o degradante culto de suas próprias imagens.

Os mongóis, como vimos, nunca tiveram nenhum contato com o continente-mãe. Nascidos nas
vastas planícies da Tartána, durante muito tempo suas emigrações se limitaram às grandes
extensões dessas regiões; por mais de uma vez, porém, tribos de origem mongólica
atravessaram o estreito de Bering, passando, assim, do norte da Ásia para a América. A última
dessas emigrações - a dos k'i-tans, há uns 1.300 anos - deixou rastos, que alguns cientistas
ocidentais puderam seguir. A presença de sangue mongol em algumas tribos de índios norte-
americanos também foi admitida por vários etnólogos. Sabe-se que tanto os húngaros como os
malaios são ramificações dessa raça, enobrecida, no primeiro caso, por uma estirpe de sangue
árico, degradada, no segundo, pela miscigenação com os exaustos lemurianos. Contudo, o fato
interessante sobre os mongóis é que seus últimos descendentes ainda estão em pleno vigor - na
verdade, ainda não atingiram seu apogeu - e a nação japonesa ainda tem muita história a
oferecer ao mundo.

Artes e Ciências. - Deve-se, antes de tudo, reconhecer que nossa própria raça árica tem,
naturalmente, conquistado resultados muito maiores, em quase todos os campos de atividade,
do que os atlantes. No entanto, mesmo onde eles fracassaram em alcançar o nosso nível, o
relato de seus feitos serve para demonstrar o alto grau de desenvolvimento atingido pela sua
civilização. Por outro lado, a qualidade de suas conquistas científicas, nas quais nos excederam,
são de uma natureza tão deslumbrante que não podemos deixar de nos surpreender diante desse
desenvolvimento desproporcional.

As artes e ciências, tal como praticadas pelas duas primeiras raças, eram, naturalmente, bastante
rudimentares, mas não é nosso propósito seguir o progresso alcançado por cada sub-raça em
separado. A história da raça atlante, bem como da raça árica, foi entremeada com períodos de
progresso e de decadência. Às épocas de cultura seguiram-se períodos anárquicos, durante os
quais todo o desenvolvimento artístico e científico se perdia, e esses períodos eram, por sua
vez, sucedidos por civilizações que atingiam níveis ainda mais elevados. Naturalmente, serão
desses períodos de cultura que tratarão as observações seguintes, entre os quais se distingue,
sobretudo, a grande era tolteca.

A arquitetura, a escultura, a pintura e a música eram praticadas na Atlântida. A música, mesmo


nos períodos de maior brilho, era rudimentar e os instrumentos bastante primitivos. Todas as
raças atlantes gostavam das cores, e matizes brilhantes decoravam o interior e o exterior de suas
casas. Contudo, a pintura, enquanto arte pura, nunca se firmou realmente, embora se ensinasse,
nos últimos dias, algum tipo de desenho e pintura nas escolas. Por outro lado, a escultura, que
também era ensinada nas escolas, era muito praticada e sua qualidade foi excepcional. Como
veremos mais adiante, na seção destinada à "Religião", tornou-se uma prática comum, desde
que se tivesse recursos para tanto, colocar num dos templos uma imagem de si próprio.
Essas imagens eram, algumas vezes, esculpidas em madeira ou numa pedra resistente e
escura, semelhante ao basalto; entre os ricos, porém, tornou-se moda esculpir suas estátuas
29
em metais preciosos, tais como o oricalco, o ouro ou a prata. Geralmente, conseguia-se
uma imagem razoável do indivíduo e, em alguns casos, alcançava-se uma semelhança
notável.

Contudo, a arquitetura era, sem dúvida, uma das artes mais praticadas. Suas construções
consistiam em estruturas maciças, de proporções gigantescas. As moradias nas cidades não
eram como as nossas, compactamente aglomeradas nas ruas, uma ao lado da outra. Do
mesmo modo que suas casas rurais, algumas erguiam-se cercadas por jardins, outras
separadas por lotes de terrenos comuns, mas todas eram estruturas isoladas. No caso dos
edifícios mais importantes, quatro blocos circundavam um pátio central, no meio do qual
geralmente erguia-se uma das fontes, cuja quantidade na "Cidade dos Portais Dourados" fez
com que esta recebesse uma segunda denominação, a de "Cidade das Águas". Não havia,
como hoje, mercadorias expostas nas ruas para venda. Todas as transações de compra e
venda eram efetuadas de modo particular, exceto em datas estabelecidas, quando se
realizavam grandes feiras públicas nos espaços livres das cidades. Todavia, a principal
característica da habitação tolteca era a torre que se erguia em um dos cantos ou no centro
de um dos blocos. Uma escada espiral, construída do lado externo, conduzia aos andares
superiores, e uma cúpula pontiaguda encimava a torre - esta parte mais elevada geralmente
era usada como observatório. Como já foi mencionado, as casas eram decoradas com cores
brilhantes. Algumas eram ornamentadas com esculturas, outras com afrescos ou desenhos
decorativos. Os espaços das janelas eram preenchidos com algum artigo Manufaturado,
semelhante ao vidro, mas menos transparente. Os interiores não eram guarnecidos com os
elaborados detalhes de nossas habitações modernas, mas a vida era altamente civilizada em
seu gênero.

Os templos eram edifícios enormes, assemelhando-se, mais do que quaisquer outros, às


gigantescas construções egípcias, porém construídos num estilo ainda mais prodigioso. As
colunas que sustentavam o teto raramente eram circulares, sendo, em sua maioria,
quadradas. Na época da decadência, os corredores estavam rodeados por inúmeras capelas,
onde se encontravam as estátuas dos habitantes mais importantes. Essas capelas laterais
eram às vezes de um tamanho considerável, a fim de comportar toda uma comitiva de sa-
cerdotes, que alguns homens especialmente importantes tinham a seu serviço para o culto
cerimonial de sua imagem. Tal como as residências particulares, os templos nunca estavam
completos sem as torres encimadas por domos, que naturalmente guardavam suas res-
pectivas proporções em tamanho e magnificência. Elas eram utilizadas como observatórios
astronômicos e para o culto do sol.

Os metais preciosos eram muito usados na decoração dos templos, cujos interiores eram
freqüentemente não apenas marchetados mas chapeados de ouro. Valorizava-se altamente o
ouro e a prata mas, como veremos mais adiante, ao abordarmos o assunto da moeda
corrente, a finalidade do uso desses metais era artística e nada tinha que ver com o sistema
monetário, embora a enorme quantidade então fabricada pelos químicos - ou devíamos hoje
em dia chamá-los alquimistas -, deva tê-los afastado da categoria de metais preciosos. Esse
poder de transmutação de metais não era universal, mas era tão largamente conhecido que
se fabricavam enormes quantidades. Na verdade, a fabricação dos metais almejados pode
ser considerada como um dos empreendimentos industriais daquela época, através dos
quais os alquimistas ganhavam a vida. O ouro era bem mais admirado do que a prata e,
conseqüentemente, fabricado numa escala muito maior.
30

Educação. - Algumas palavras acerca do idioma introduzirá adequadamente um comentário


a respeito da instrução ministrada nas escolas e nas faculdades da Atlântida. Durante o
período do primeiro mapa, o tolteca era a língua universal, não apenas em todo o
continente, mas também nas ilhas ocidentais e naquela porção do continente oriental que
reconhecia o governo do imperador. Vestígios dos idiomas rmoahal e tlavatli sobreviviam, é
verdade, em regiões remotas, assim como os idiomas celta e galês sobrevivem hoje entre nós,
na Irlanda e no País de Gales. A língua tlavatli foi a base usada pelos turanianos, que
introduziram tantas modificações que, com o tempo, criaram uma língua inteiramente diversa;
por sua vez, os semitas e acadianos, adotando uma base tolteca, modificaram-na, cada um a seu
modo, e criaram, assim, duas variações divergentes. Desse modo, nos últimos dias de
Posseidones, havia várias línguas inteiramente distintas - embora todas pertencessem a um tipo
aglutinante -, pois só na época da quinta raça é que os descendentes dos semitas e acadianos
desenvolveram uma língua flexiva. Entretanto, através de todas as épocas, a língua tolteca
manteve razoavelmente sua pureza, e o mesmo idioma falado na Atlântida, na época de seu
esplendor, foi usado, com ligeiras alterações, milhares de anos mais tarde, no México e no
Peru.

As escolas e faculdades da Atlântida, na grande era tolteca, bem como nos posteriores períodos
de cultura, eram mantidas pelo Estado. Embora se exigisse que todas as crianças passassem
pelas escolas primárias, a educação subsequente diferia bastante. As escolas primárias
constituíam uma espécie de processo de seleção. As crianças que demonstrassem verdadeira
aptidão para o estudo, juntamente com as crianças das classes dominantes, que naturalmente
possuíam maiores habilidades, eram escolhidas para as escolas superiores, mais ou menos com
doze anos de idade. A leitura e a escrita, consideradas como simples preliminares, já lhes
tinham sido ensinadas nas escolas primárias.

Mas a leitura e a escrita não eram consideradas necessárias à maioria dos habitantes, que
tinham de passar a vida cultivando a terra, ou então nos ofícios Manuais, cuja prática era
requerida pela comunidade. Por essa razão, a grande maioria das crianças era imediatamente
conduzida às escolas técnicas que melhor conviessem às suas diversas aptidões. Entre as
escolas técnicas, as principais eram as agrícolas. Alguns ramos da mecânica também faziam
parte da educação, ao passo que nas regiões mais afastadas e próximas do litoral incluíam-se a
caça e a pesca. Desse modo, todas as crianças recebiam a educação ou treinamento que lhes
fosse mais apropriado.

As crianças com aptidões superiores que, como vimos, tinham aprendido a ler e a escrever,
recebiam uma educação mais elaborada. As propriedades das plantas e suas qualidades de cura
constituíam um importante ramo de estudo. Nessa época não havia médicos reconhecidos como
tais - todo homem Instruído sabia alguma coisa de medicina, bem como de cura magnética.
Também ensinavam-se química, matemática e astronomia. O treinamento nessas matérias en-
contra sua analogia entre nós, mas o objetivo para o qual os esforços dos professores se
dirigiam era o desenvolvimento das faculdades psíquicas dos alunos e sua instrução acerca das
forças ocultas da Natureza. As propriedades ocultas das plantas, dos metais e das pedras
preciosas, bem como os processos alquímicos de transmutação, estavam incluídos nessa
categoria. Com o passar do tempo, porém, isso tornou-se cada vez mais o poder individual, ao
qual Bulwer Lytton dá o nome de vril, descrevendo exatamente sua ação em The Corning Roce,
que as faculdades destinadas ao ensino superior dos jovens da Atlântida ocupavam-se
particularmente em desenvolver. A mudança marcante, ocorrida por ocasião da decadência da
raça, consistiu em que, em vez de o mérito e a aptidão serem considerados decisivos para a
31
promoção aos mais altos graus de instrução, as classes dominantes, que se tomavam cada vez
mais exclusivistas, apenas permitiam que seus próprios filhos se graduassem no mais alto nível
de ensino, o que lhes proporcionava um grande poder.

Num império como o dos toltecas, era natural que a agricultura recebesse especial atenção. Não
só os trabalhadores aprendiam seu ofício nas escolas técnicas, como também havia faculdades
onde se ministrava, aos estudantes habilitados, o conhecimento necessário para levar a cabo
experiências de cruzamentos de animais e de plantas.

57Como os leitores de literatura teosófica devem saber, o trigo não tem sua origem neste
planeta. Foi uma dádiva do Manu, que o trouxe de outro planeta, situado além de nosso
sistema solar. Mas a aveia e alguns de nossos outros cereais são resultados dos cruzamentos
entre o trigo e as ervas nativas da terra. Ora, as experiências que produziram esses
resultados foram realizadas nas escolas agrícolas da Atlântida. Essas experiências foram,
sem dúvida, orientadas por um conhecimento superior. Contudo, a mais notável façanha
dos agricultores atlantes foi o desenvolvimento da pacobeira ou bananeira. No seu estado
selvagem original, ela era um melão alongado, com pouquíssima polpa, porém repleta de
sementes, como é o caso do melão. Naturalmente, só após séculos (se não milhares de anos)
de continua seleção e eliminação que a atual planta sem sementes foi desenvolvida.

Entre os animais domesticados da era tolteca, havia uma espécie semelhante a uma anta
muito pequena. Naturalmente, alimentava-se de raízes ou ervas; mas, como os porcos de
hoje, com os quais se assemelhavam em vários aspectos, não era lá muito limpo e comia
tudo o que aparecesse em seu caminho. Animais maiores, semelhantes ao gato, e ancestrais
do cachorro, parecidos com um lobo, também podiam ser encontrados ao redor das
habitações humanas. Parece que os carros toltecas eram puxados por animais um pouco
parecidos com pequenos camelos. Os atuais lhamas peruanos provavelmente são seus
descendentes. Os ancestrais do alce irlandês também vagavam pelas encostas dos morros,
do mesmo modo que nosso gado montanhês, demasiado selvagem para permitir uma apro-
ximação fácil mas, mesmo assim, sob o controle do homem.

Constantes experiências eram feitas relativas à criação e ao cruzamento de diferentes


espécies de animais e, por mais curioso que nos possa parecer, o calor artificial era muito
utilizado para estimular seu desenvolvimento a fim de que os resultados do cruzamento de
raças e da hibridação pudessem ser verificados num espaço de tempo mais curto. Também
foi adotado o uso de diferentes luzes coloridas nos compartimentos onde se realizavam
essas experiências, a fim de se obter resultados variados.

Esse controle e moldagem das formas animais, sujeitos à vontade humana, leva-nos a um
tema bastante surpreendente e muito misterioso. Já mencionamos o trabalho realizado pelos
Manus. Pois bem, é na mente do Manu que se originam todos os aperfeiçoamentos no tipo
e as potencialidades latentes em cada forma de vida. A fim de desenvolver minuciosamente
os aperfeiçoamentos nas formas de vida animal, a ajuda e a cooperação do homem foram
requeridas. As espécies anfíbias e os répteis, que então existiam em abundância, tinham
quase completado seu curso e estavam prontas para adotar a forma de um tipo mais
desenvolvido, pássaro ou mamífero. Essas formas constituíam a matéria-prima rudimentar
que se encontrava à disposição do homem, e a argila estava pronta para assumir qualquer
formato que as mãos do oleiro conseguissem moldar. As experiências acima mencionadas
32
foram empreendidas principalmente com os animais que se encontravam num estágio
intermediário; e, sem dúvida, os animais domesticados, tal como o cavalo, que hoje prestam
tanto serviço ao homem, são o resultado dessas experiências, nas quais os homens daquela
época aluaram em cooperação com o Manu e seus ministros. Todavia, não demorou para
que essa cooperação se desfizesse. O egoísmo acabou prevalecendo, e a guerra e a discórdia
puseram fim à Idade de Ouro dos toltecas. No momento em que os homens, em vez de
trabalharem lealmente, com o mesmo objetivo, sob a orientação de seus reis Iniciados,
começaram a se atacar mutuamente, os animais que, sob os cuidados do homem, poderiam
assumir aos poucos formas cada vez mais úteis e domesticadas, abandonados à orientação
de seus próprios instintos, acabaram seguindo o exemplo de seus monarcas e começaram a
se atacar. Na verdade, alguns já haviam sido treinados e utilizados pelos homens em suas
expedições de caça; assim, os animais semidomesticados semelhantes ao gato, acima
mencionados, tornaram-se naturalmente os ancestrais do leopardo e do jaguar.

Um exemplo daquilo que algumas pessoas podem se sentir tentadas a considerar uma teoria
fantástica, que embora não venha talvez elucidar a questão, chamará pelo menos a atenção para
a moral encerrada neste suplemento ao nosso conhecimento quanto ao modo misterioso pelo
qual se deu nossa evolução. Parece que o leão poderia ter uma natureza mais dócil e um aspecto
menos feroz se os homens dessa época tivessem concluído a tarefa que lhes fora dado executar.
Se ele está ou não destinado a, finalmente, "deitar-se com o cordeiro e a comer palha como o
boi", o destino que lhe estava reservado, tal como foi imaginado por Manu, ainda não tinha sido
realizado, pois a imagem era a de um animal possante, porém domesticado - um animal forte,
com a espinha dorsal em linha horizontal, olhos grandes e inteligentes, projetado para atuar
como um servo muito possante do homem em trabalhos de tração.

A "Cidade dos Portais Dourados" e seus arredores devem ser descritos antes de passarmos à
apreciação do maravilhoso sistema pelo qual seus habitantes se supriam de água. Situava-se,
como já vimos, na costa oriental do continente, próxima do mar, e cerca de 15° ao norte do
equador. Um campo lindamente arborizado, semelhante a um parque, circundava a cidade.
Espalhadas por uma ampla área dessa região ficavam as casas de campo das classes mais abas-
tadas. A oeste, estendia-se uma cadeia de montanhas, de onde vinha a água que abastecia a
cidade. A própria cidade foi construída nas encostas de uma colina que se erguia cerca de 152
m acima da planície. No topo dessa colina ficava o palácio e os jardins do imperador, de cujo
centro jorrava da terra um fluxo incessante de água, que, depois de abastecer o palácio e as
fontes dos jardins, fluía em todas as direções, despencando em forma de cachoeiras e formando
um canal ou fosso que circundava as terras adjacentes ao palácio, separando-as, assim, da
cidade, que se estendia mais abaixo, em cada face da colina. A partir desse canal, quatro regos
conduziam a água, passando pelas quatro zonas da cidade, até as cachoeiras que, por sua vez,
formavam outro canal circundante, situado num nível mais baixo. Havia três desses canais
dispostos em círculos concêntricos, entre os quais o mais exterior e inferior ainda se encontrava
acima do nível da planície. Um quarto canal situado nesse nível mais inferior, porém com um
traçado retangular, recebia os constantes fluxos de água e, por seu turno, despejava-os no mar.
A cidade alcançava uma parte da planície, estendendo-se até a margem desse enorme fosso
mais exterior, que a circundava e a defendia através de uma linha de pequenos canais, cuja
extensão abrangia uns 200 km2.

Veremos, assim, que a cidade se dividia em três grandes zonas, cada uma cercada por seus
canais. A zona mais alta, abaixo dos jardins do palácio, caracterizava-se por uma pista circular
de corridas e amplos jardins públicos. A maioria das casas dos funcionários da corte também
ficava nessa zona, onde havia ainda uma instituição da qual não temos paralelo nos tempos
33
modernos. O termo "Casa dos Estrangeiros", entre nós, dá uma impressão de desprezo e
sugere um ambiente sórdido; tratava-se, porém, de um palácio que hospedava todos os
estrangeiros que porventura chegassem à cidade, onde eram tratados, pelo tempo que
desejassem ficar, como hóspedes do Governo. As casas separadas dos habitantes e os diversos
templos espalhados pela cidade ocupavam as outras duas zonas. No período áureo da
civilização tolteca, parece não ter havido uma pobreza propriamente dita - até mesmo os
escravos que, em grande número, estavam à disposição de quase todas as famílias,
alimentavam-se e vestiam-se muito bem - mas havia algumas famílias relativamente pobres,
que moravam ao norte da zona mais baixa, bem como além dos limites do canal mais exterior,
perto do mar. Os habitantes dessa região dedicavam-se, em sua grande maioria, à navegação, e
suas casas, embora separadas, eram construídas mais perto umas das outras do que nas demais
regiões.

Pode-se deduzir, do que foi dito acima, que os habitantes dispunham de um abundante estoque
de água pura e limpa, que circulava incessantemente por toda a cidade, enquanto as zonas mais
altas e o palácio do imperador eram protegidos por uma série de fossos, cada um num nível
mais alto que o outro à medida que se aproximavam do centro.

Assim sendo, não é necessário um conhecimento profundo de mecânica para perceber quão
estupendas devem ter sido as obras necessárias para fornecer esse abastecimento, pois a
"Cidade dos Portais Dourados", em seu período áureo, abrigava, dentro do espaço
compreendido por seus quatro fossos circulares, mais de dois milhões de habitantes. Nenhum
sistema semelhante de abastecimento de água foi alguma vez empreendido, quer na Grécia, em
Roma, ou mesmo nos tempos modernos - de fato, é bastante duvidoso que nossos mais hábeis
engenheiros, mesmo às custas de imensas fortunas, conseguissem produzir tal resultado.

Será interessante descrever algumas de suas principais características. O abastecimento era


extraído de um lago situado entre as montanhas a oeste da cidade, numa altitude acima de 792
m. O aqueduto principal, que era de seção oval e media 15 m por 9 m, levava a água, através do
subsolo, a um enorme reservatório em forma de coração, situado bem abaixo do palácio - na
verdade, na própria base da colina onde se erguiam a cidade e o palácio. A partir desse
reservatório, um poço perpendicular, com cerca de 152 m de altura, atravessava a rocha maciça
e dava passagem à água, que jorrava nos jardins do palácio, de onde era distribuída por toda a
cidade. Do reservatório central, também partiam diversos canos, destinados a fornecer água
potável e a suprir as fontes públicas de vários setores da cidade. Naturalmente, também havia
sistemas de comportas para controlar ou interromper o abastecimento das diferentes regiões.

Pelo acima mencionado, qualquer pessoa com algum conhecimento de mecânica deduzirá que a
pressão no aqueduto subterrâneo e no reservatório central, de onde a água naturalmente subia
até o pequeno lago nos jardins do palácio, devia ser enorme e, por conseguinte, o poder de
resistência do material utilizado na sua construção era extraordinário.

Se o sistema de abastecimento de água na "Cidade dos Portais Dourados" era maravilhoso,


deve-se admitir que os métodos atlantes de locomoção eram muito mais magníficos, pois era
utilizado uma espécie de veículo-voador, embora não fosse um meio de transporte público que
pudesse ser usado a qualquer hora. Os escravos, os servos e as classes inferiores, cujo trabalho
era Manual, tinham de percorrer a pé as rotas que levavam à zona rural, ou fazer esse percurso
em carroças primitivas, de rodas grossas, puxadas por estranhos animais. Os barcos aéreos
podem ser considerados como os transportes particulares dessa época, ou melhor, os iates
particulares, levando-se em conta o número relativo dos que os possuíam, pois a produção
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desses veículos deve ter sido sempre difícil e dispendiosa. Por via de regra, não eram
planejados para acomodar muitas pessoas. Muitos deles eram construídos com apenas dois
lugares; outros tinham espaço para seis ou oito passageiros. Nos últimos dias, quando a guerra e
a discórdia puseram fim à Idade de Ouro, navios de guerra aéreos substituíram em grande
escala os navios de guerra normais - à medida que o potencial de destruição daqueles revelou-
se muito mais eficaz. Esses navios eram planejados para transportar o equivalente a cinqüenta
combatentes e, em alguns casos, comportavam até cem homens.

O material com que esses barcos aéreos eram construídos era madeira ou metal. Os primeiros
foram construídos de madeira - as tábuas utilizadas eram muitíssimo finas, mas a injeção de
alguma substância, que, embora não lhes aumentasse materialmente o peso, fornecia-lhes uma
resistência análoga à do couro, proporcionava a necessária combinação de leveza e rijeza.
Quando o metal foi utilizado, geralmente era uma liga - dois metais brancos e um vermelho
entravam nessa mistura. O resultado era um metal branco, semelhante ao alumínio, e até
mesmo mais leve no peso. Sobre a estrutura básica do barco aéreo estendia-se uma folha grande
desse metal, que, em seguida, era ajustada à forma e, onde necessário, soldada eletricamente.
Contudo, quer fossem construídos de metal ou de madeira, a superfície exterior era
aparentemente inconsútil e perfeitamente lisa; além disso, brilhavam no escuro, como se
tivessem sido revestidos por uma tinta fosforescente.

Quanto à forma, assemelhavam-se a um barco, mas eram invariavelmente cobertos, pois,


quando no auge da velocidade, não seria nada cômodo, mesmo que fosse seguro, permanecer
no convés superior. Seu mecanismo de propulsão e de direção podia ser acionado em ambas as
extremidades.

Mais curioso ainda, porém, é a energia que os impulsionava. A princípio, parece que o vril
pessoal supria a força motriz - se era usado em combinação com algum dispositivo mecânico,
pouco importa -, sendo substituído, mais tarde, por uma força que, embora gerada de um modo
que desconhecemos, operava, não obstante, através de dispositivos mecânicos. Na verdade,
essa força era de uma natureza etérica. Sem dúvida, os dispositivos mecânicos não eram
exatamente idênticos em cada uma das embarcações. A seguinte descrição refere-se a um barco
aéreo, no qual, em certa ocasião, três embaixadores do rei que governava a região setentrional
de Posseidones viajaram até o palácio do reino meridional. Uma forte e pesada arca de metal,
situada no centro do barco, era o gerador. Dali a força fluía através de dois grandes tubos
flexíveis até as duas extremidades da embarcação, bem como através de oito tubos suplemen-
tares que, fixados nas amuradas, iam da proa até a popa. Estes tinham aberturas duplas, uma
voltada para cima e a outra para baixo. Quando a viagem estava prestes a se iniciar, abriam-se
as válvulas dos oito tubos da amurada que estavam voltadas para baixo - as demais válvulas
permaneciam fechadas. Precipitando-se através dessas válvulas, a corrente chocava-se tão
violentamente contra a terra, que impelia o barco para cima, enquanto o próprio ar continuava a
fornecer o suporte necessário. Quando se alcançava uma altitude suficiente, acionava-se o tubo
flexível dessa extremidade da embarcação voltada para a direção oposta à desejada, ao mesmo
tempo que, pelo fechamento parcial das válvulas, reduzia-se a corrente que se precipitava
através dos oito tubos verticais, até se obter o mínimo de corrente necessário à Manutenção da
altitude alcançada. A grande intensidade da corrente, sendo agora dirigida através do amplo
tubo voltado na direção da popa, com uma inclinação de aproximadamente 45°, além de ajudar
a manter a altitude, também fornecia a grande força motriz que impulsionava a embarcação
através do ar. A pilotagem se efetuava pela descarga da corrente ao longo desse tubo, pois a
menor alteração do sentido dessa corrente provocava uma alteração imediata no rumo da
embarcação. Mas não era necessário uma inspeção constante. No caso de uma viagem longa, o
35
tubo podia ser fixado, de modo que não era preciso manejá-lo até que o percurso estivesse
quase concluído. A velocidade máxima alcançada era de mais ou menos 160 km por hora; o
percurso nunca era feito em linha reta, mas sempre em forma de longas ondulações, ora
aproximando-se, ora afastando-se do solo. A altitude em que as embarcações faziam seu
percurso era de apenas poucas centenas de metros - na verdade, quando altas montanhas
surgiam na Unha de rota, era necessário mudar o curso e contorná-las. O ar mais rarefeito não
fornecia o suporte necessário por muito tempo. Os morros de cerca de 300 m eram os mais
altos que conseguiam transpor. O modo pelo qual se detinha a embarcação, quando esta
chegava ao seu destino -o que também podia ser feito em pleno voo -, era através da liberação
de uma quantidade da corrente pelo tubo que ficava na extremidade do barco voltada para o
local de chegada; a corrente, chocando-se com o solo ou com o ar frontal, atuava como um
freio, enquanto a força propulsora de trás era gradualmente reduzida pelo fechamento da
válvula. Resta ainda explicar a razão da existência dos oito tubos, fixados nas amuradas,
voltados para cima. Estavam mais relacionados com os combates aéreos. Tendo uma força tão
poderosa à sua disposição, os navios de guerra, naturalmente, dirigiam a corrente uns contra os
outros. Entretanto, isso podia destruir o equilíbrio do navio atingido e virá-lo de borco - sem
dúvida, uma situação que permitia à embarcação inimiga desferir ataques com seu esporão.
Havia também o perigo de ser precipitado ao solo, a menos que se providenciasse,
imediatamente, o fechamento e a abertura das válvulas necessárias. Em qualquer posição que a
embarcação se encontrasse, os tubos voltados para o solo eram, naturalmente, aqueles pelos
quais a corrente deveria se precipitar, ao passo que os tubos voltados para cima deviam
permanecer fechados. O modo pelo qual a embarcação virada de cabeça para baixo podia ser
endireitada, retomando à posição original; era através do uso dos quatro tubos num dos lados da
embarcação apontados para baixo, enquanto os outros quatro, do lado oposto, eram mantidos
fechados.

Os atlantes também tinham embarcações marítimas que eram impulsionadas por uma energia
análoga à acima mencionada, mas a força da corrente que, neste caso, demonstrou ser mais
eficaz era menos densa do que a utilizada nos barcos aéreos.

Usos e Costumes. - Houve, sem dúvida, tanta variedade nos usos e costumes dos atlantes, em
diferentes épocas de sua história, quanto tem havido entre as várias nações que compõem a
nossa raça árica. Não vamos acompanhar aqui a variação dos padrões durante o passar dos
séculos. Os comentários que seguem procurarão abordar apenas as características principais
que diferenciam seus hábitos dos nossos, e estes serão selecionados, na medida do possível,
entre a grande era tolteca.

Com respeito ao casamento e ao relacionamento entre os dois sexos, já mencionamos as


experiências realizadas pelos turanianos. Os costumes polígamos prevaleceram, em diferentes
períodos, entre todas as sub-raças; na época dos toltecas, porém, embora a lei permitisse duas
esposas, um grande número de homens tinha apenas uma. Tampouco as mulheres - como
ocorre nos países onde atualmente prevalece a poligamia - eram consideradas inferiores, e não
eram nem um pouco oprimidas. Sua posição social era perfeitamente igual à dos homens,
embora a aptidão que muitas delas manifestavam para adquirir a energia vril, elevassem-nas à
mesma categoria, e até acima, do outro sexo. Na verdade, essa igualdade era reconhecida desde
a infância, e nas escolas ou faculdades os dois sexos não eram separados. Meninos e meninas
aprendiam juntos. Além disso, essa era a regra, e não a exceção, para que a completa harmonia
imperasse nas famílias duplas, e as mães ensinavam seus filhos a procurar amor e proteção nas
outras esposas do pai, sem discriminação. Tampouco as mulheres eram impedidas de participar
do governo. Às vezes participavam das assembléias administrativas e, ocasionalmente, eram
36
escolhidas pelo imperador Adepto para representá-lo nas diversas províncias, como
soberanas regionais.

O material de escrita dos atlantes consistia em finas lâminas de metal, com uma superfície
branca semelhante à porcelana, sobre a qual eram escritas as palavras. Também tinham recursos
para reproduzir o texto, colocando sobre a lâmina escrita uma outra chapa fina de metal
previamente mergulhada em algum Líquido. Desse modo, o texto impresso na segunda chapa
podia ser reproduzido à vontade em outras lâminas, e um grande número delas, agrupadas,
formava um livro.

Em seguida, devemos citar um costume que difere consideravelmente do nosso no que


concerne à escolha do alimento. Trata-se de um assunto desagradável, mas que não pode ser
omitido. Geralmente a carne dos animais era posta de lado, embora devorassem as partes que
nós nos abstemos de comer. Também bebiam o sangue -muitas vezes ainda quente do animal -,
bem como preparavam vários cozidos com ele.

Entrementes, não se deve pensar que eles não tivessem alimentos mais leves e mais saborosos
ao nosso paladar. Os mares e rios forneciam-lhes peixes, cuja carne comiam, embora muitas
vezes num grau tão adiantado de decomposição que nos causaria náusea. Cultivavam em larga
escala os mais diversos cereais, com os quais faziam pães e bolos. Também bebiam leite e
comiam frutas e vegetais.

É verdade que uma pequena minoria dos habitantes jamais adotou os repulsivos costumes
acima mencionados. Tal era o caso, por todo o império, dos reis e imperadores Adeptos, bem
como dos sacerdotes iniciados. Estes tinham hábitos inteiramente vegetarianos, muito embora
um grande número de conselheiros do imperador e de funcionários da corte apenas fingissem
preferir essa alimentação mais pura, pois freqüentemente satisfaziam às escondidas seus gostos
mais grosseiros.

As bebidas fortes não eram desconhecidas nessa época. Durante algum tempo, uma bebida
alcoólica fermentada e muito forte esteve em voga. Mas era capaz de provocar em quem a
ingerisse uma excitação tão perigosa que se promulgou uma lei proibindo, em absoluto, o seu
consumo.

As armas de guerra e a caça diferiram consideravelmente, de acordo com a época. Em geral, as


espadas e lanças, arcos e flechas foram suficientes aos rmoahals e aos tlavatlis. Os animais que
caçavam, nesse período bastante remoto, eram os mamutes de pelos longos e lanosos, os
elefantes e os hipopótamos. Também havia muitos marsupiais, bem como sobreviventes de
tipos intermediários - alguns semi-répteis e semimamíferos, outros semi-répteis e semipássaros.

O uso de explosivos foi adotado numa época antiga e, em épocas posteriores, foi sendo
aperfeiçoado. Parece que alguns eram feitos para explodir através do choque e outros depois de
um certo intervalo de tempo mas, nos dois casos, a destruição da vida resultava, provavelmente,
da liberação de algum gás venenoso, e não do impacto de projéteis. De fato, esses explosivos
devem ter se tornado tão poderosos nos últimos tempos da Atlântida que temos notícias de
companhias inteiras de homens destruídas em combate pelo gás nocivo produzido pela
explosão de uma dessas bombas acima de suas cabeças, lançadas por alguma espécie de
alavanca.
37
Vamos considerar agora o sistema monetário. Durante as três primeiras sub-raças, pelo
menos, não se conhecia um sistema monetário oficial. Havia, é verdade, pequenas peças de
metal ou de couro, estampadas, com um determinado valor, que eram usadas como fichas.
Eram perfuradas no centro, amarradas juntas, de modo a formarem um cinto e geralmente
usadas ao redor da cintura. Mas cada homem era, por assim dizer, o seu próprio cunhador e a
ficha de metal ou de couro por ele fabricada e trocada com outro homem, pela aquisição de
alguma mercadoria, significava apenas um reconhecimento pessoal da dívida, tal como existe,
entre nós, a nota promissória. Nenhum homem estava autorizado a fabricar essas fichas em
quantidade maior do que fosse capaz de compensar através da transferência dos bens em seu
poder. As fichas não circulavam como moedas, embora o portador da ficha tivesse meios de
avaliar, com exatidão, os recursos de seu devedor através da faculdade de clarividência que, em
maior ou menor grau, todos possuíam; em caso de dúvida, essa faculdade era utilizada na
apuração da veracidade dos fatos.

Contudo, é preciso registrar que, nos últimos dias de Posseidones, foi adotado um sistema
semelhante à nossa circulação monetária, e a montanha tríplice, que podia ser avistada da
grande capital meridional, era a imagem favorita na cunhagem oficial.

No entanto, o sistema fundiário é o assunto mais importante desta Seção. Entre os rmoahals e
os tlavatlis, que viviam sobretudo da caça e da pesca, a questão da terra praticamente não
existia, embora houvesse um sistema de cultivo aldeão na época dos tlavatlis.

Foi com o aumento da população e com o desenvolvimento da civilização, nos primeiros anos
da era tolteca, que a terra, pela primeira vez, tornou-se algo pelo qual valia a pena lutar. Não é
nosso propósito reconstituir o sistema ou descrever a pobreza do sistema predominante nos
períodos turbulentos anteriores ao advento da Idade de Ouro. Mas os registros dessa época
proporcionam matéria de reflexão do maior interesse e importância, não só aos economistas
políticos, mas a todos os que estimam o bem-estar da raça.

Deve-se ter em mente que a população vinha aumentando de modo constante e que, sob o
governo dos imperadores Adeptos, chegara à enorme cifra já citada; naqueles dias, porém, a
pobreza e a miséria eram coisas jamais imaginadas e esse bem-estar social devia-se, sem
dúvida, em parte ao sistema fundiário.

Não só a terra e seus produtos eram considerados propriedades do imperador, mas também
todos os rebanhos e animais. O país dividia-se em diversas províncias ou regiões, e cada
província tinha, à sua frente, um dos reis auxiliares, ou vice-reis nomeados pelo imperador.
Cada vice-rei era responsável pelo governo e bem-estar de todos os habitantes sob o seu
domínio. O cultivo da terra, a colheita dos produtos e a pastagem dos rebanhos eram de sua
alçada, bem como a administração daquelas experiências agrícolas anteriormente mencionadas.

Cada vice-rei tinha à sua volta um conselho de consultores e coadjutores agrícolas, que, entre
outras coisas, deviam ser versados em astronomia, pois, nessa época, esta não era uma ciência
improdutiva. Estudava-se e tirava-se o maior proveito possível das influências ocultas sobre a
vida vegetal e animal. Também o poder de produzir chuva à vontade não era, então, algo
incomum, e os efeitos de uma era glacial em mais de uma ocasião foram parcialmente neutra-
lizados nas regiões setentrionais do continente, através da ciência oculta. O dia apropriado para
o início de cada atividade agrícola era, é claro, devidamente calculado e o trabalho era realizado
por funcionários, cuja função consistia em supervisionar cada detalhe.
38
Os produtos colhidos em cada região ou reino eram, em geral, ali consumidos, embora, às
vezes, os governantes organizassem trocas de alguns produtos.

Depois que se separava uma pequena porção para o imperador e para o governo central da
"Cidade de Portais Dourados", os produtos de toda a região ou reino eram divididos entre os
habitantes -o vice-rei local e sua comitiva de funcionários recebiam naturalmente as maiores
porções, mas o mais inferior dos trabalhadores agrícolas recebia o bastante para assegurar-lhe a
subsistência e o bem-estar. Qualquer aumento da capacidade produtiva da terra ou de suas ri-
quezas minerais era proporcionalmente dividido entre todos os interessados - desse modo, era
do interesse geral tomar o fruto do trabalho coletivo tão lucrativo quanto possível.

Esse sistema foi bastante eficaz durante muito tempo. Contudo, à medida que o tempo passava,
a negligência e o egoísmo foram se insinuando. Os que tinham o dever de supervisionar foram
transferindo cada vez mais suas responsabilidades para seus funcionários subalternos e, com o
tempo, tornou-se raro os imperadores interferirem ou interessarem-se por alguma atividade.
Esse foi o início dos maus tempos. Os membros da classe dominante, que a princípio
dedicavam todo o seu tempo aos devedores públicos, começaram a imaginar um modo de
tornar suas vidas particulares mais agradáveis. A intemperança estava a caminho.

Um motivo em particular causou grande descontentamento entre as classes mais baixas. Já


mencionamos o método pelo qual os jovens da nação eram selecionados para as escolas
técnicas. Ora, era sempre a alguém da classe superior, cujas faculdades psíquicas tinham sido
devidamente desenvolvidas, que cabia a seleção das crianças, a fim de que cada uma recebesse
a devida instrução e, finalmente, se dedicasse à ocupação para a qual fosse mais qualificada.
Mas quando os que eram dotados de visão clarividente, a única que tornava possível essa
seleção, transferiram suas funções para subalternos destituídos desses atributos psíquicos,
resultou que as crianças eram muitas vezes forçadas a rotinas injustas, e aquelas cuja aptidão se
inclinava em determinada direção viam-se, freqüentemente, destinadas a uma ocupação que as
desgostava e na qual, por conseguinte, raramente obtinham sucesso.

Foram muitos e variados os sistemas fundiários que se seguiram, em diferentes partes do


império, à dissolução da grande dinastia tolteca. Mas não é necessário descrevê-los. Nos
últimos dias de Posseidones, quase todos haviam sido substituídos pelo sistema de propriedade
particular, que tão bem conhecemos.

Já nos referimos, no tópico "Emigrações", ao sistema fundiário prevalecente no glorioso


período da história peruana durante o poderio Inça, cerca de 14.000 anos atrás. Um pequeno
resumo desse assunto pode ser interessante para demonstrar a fonte de onde sem dúvida
derivaram as bases desse sistema, bem como para citar as variações adotadas neste sistema um
tanto mais complexo.

Todos os direitos sobre a terra eram, em primeiro lugar, conferidos ao Inça, mas metade dela
era cedida aos agricultores, que logicamente constituíam a maioria da população. A outra
metade era dividida entre o Inça e os sacerdotes, que observavam o culto do sol.

Com a renda de suas terras, especialmente divididas, o Inça tinha de sustentar o exército,
conservar as estradas de todo o império e manter todo o mecanismo de governo. Este era
administrado por uma classe dirigente especial, em sua maioria composta por parentes do
próprio Inça, representantes de uma civilização e de uma cultura bem superiores às da maior
parte da população.
39

A quarta parte restante - "as terras do sol" - não só provia a subsistência dos sacerdotes, que
dirigiam o culto público em todo o império, como também se destinava à educação do povo nas
escolas e colégios; além disso, garantia o futuro de todas as pessoas doentes e fracas e de cada
habitante (afora, é claro, a classe dirigente, para quem não havia interrupção de trabalho) que
atingia a idade de quarenta e cinco anos, idade estipulada para a suspensão do árduo trabalho da
vida e para o início do lazer e do divertimento.

Religião. - O único assunto que ainda nos resta tratar é a evolução das idéias religiosas. Entre a
aspiração espiritual de uma raça simples porém rude e o ritual degenerado de um povo
intelectualmente culto, mas espiritualmente morto, existe um abismo que só o termo religião,
usado no seu sentido mais amplo, pode transpor. Todavia, é o processo consecutivo de geração
e degeneração que tem de ser investigado na história do povo atlante.

Deve-se ter em mente que o governo sob o qual surgiram os rmoahals foi descrito como o mais
perfeito dos governos concebíveis, pois o próprio Manu atuou como rei. A lembrança desse go-
vernante divino foi, naturalmente, preservada nos anais da raça e, no devido tempo ele chegou a
ser considerado um deus entre um povo que era, por natureza, psíquico e tinha, portanto,
vislumbres daqueles estados de consciência que transcendem nosso estado de vigília habitual.
Conservando esses atributos superiores, era muito natural que esse povo primitivo adotasse
uma religião que, embora de modo algum representasse uma filosofia elevada, nada tinha de
ignóbil. Mais tarde, essa fase de crença religiosa tomou-se uma espécie de culto aos
antepassados.

Os tlavatlis, embora herdeiros da reverência e do culto tradicionais a Manu, foram ensinados


pelos instrutores Adeptos sobre a existência de um Ser Supremo, cujo símbolo era reconhecido
como o sol. Assim, desenvolveram uma espécie de culto ao sol, cuja pratica era celebrada no
alto dos morros. Nesses locais, eles construíram enormes círculos de monolitos aprumados, que
se destinavam a simbolizar o curso anual do sol, embora também fossem utilizados para
observar o curso dos astros, sendo dispostos de tal modo que, para quem estivesse no altar-mor,
o sol nasceria, no solstício de inverno, atrás de um desses monolitos e, no equinócio da
primavera, atras de outro, e assim por diante, durante o ano todo. Esses círculos de pedra
também eram usados em observações astronômicas ainda mais complexas, relacionadas com as
mais distantes constelações.

Já vimos, no tópico referente às emigrações, como uma sub-ra-ça posterior - os acadianos -


retornou a essa primitiva construção de monolitos, na edificação do Stonehenge.

Embora os tlavatlis fossem dotados de uma capacidade de desenvolvimento intelectual um


tanto maior do que a da sub-raça anterior, seu culto ainda era de um tipo muito primitivo.

Na época dos toltecas, com a difusão mais ampla de conhecimentos e, mais particularmente,
com o posterior estabelecimento de um sacerdócio iniciado e de um imperador Adepto,
crescentes oportunidades foram oferecidas ao povo para a obtenção de uma concepção mais
verdadeira do divino. A minoria que estava disposta a tirar total proveito do ensino oferecido,
após ser posta à prova e apreciada, sem dúvida era admitida nas ordens dos sacerdotes, que
então constituíam uma grande confraria oculta. Contudo, não estamos interessados aqui nesses
poucos que sobrepujaram a grande maioria da humanidade e estavam dispostos a enveredar
pelos caminhos das ciências ocultas; o tema geral do nosso estudo é, antes, as religiões
praticadas pelos habitantes da Atlântida.
40

As classes inferiores da sociedade daquela época não tinham, é claro, o poder de se alçar às
alturas filosóficas do pensamento - como, aliás, não o tem a grande maioria dos habitantes do
mundo atual. A abordagem mais aproximada que um professor, por talentoso que fosse, poderia
fazer, ao tentar transmitir qualquer idéia a respeito da inominável essência do Cosmos, presente
em todas as coisas, era necessariamente comunicada na forma de símbolos e, como era de se
esperar, o sol foi o primeiro símbolo adotado. Como ocorre também em nossos dias, o
indivíduo mais culto e com inclinações espiritualistas veria através do símbolo e poderia, às
vezes, divisar, com as asas da devoção, o Pai de nossos espíritos,

A razão e o centro do anseio de nossas almas,


Objeto e refúgio do fim da nossa jornada —

enquanto os mais vulgares não veriam outra coisa senão o símbolo, e o cultuariam, assim como
a Madona esculpida ou a imagem de madeira do crucificado são hoje veneradas em toda a
Europa católica.

A adoração do sol e do fogo tornaram-se então o culto, e para sua celebração construíram-se
templos magníficos nos quatro cantos do continente da Atlântida, mais particularmente, porém,
na grande "Cidade dos Portais Dourados" - o ofício era executado pela comitiva de sacerdotes
mantida pelo Estado para esse fim.

Nessa época remota não se permitia nenhuma imagem da Divindade. O disco solar era
considerado o único emblema apropriado de Deus e, como tal, era usado em todos os templos,
onde em geral colocava-se um disco dourado de modo a captar os primeiros raios do sol
nascente durante o equinócio da primavera ou o solstício de verão.

Um exemplo interessante da sobrevivência quase intata desse culto ao disco solar pode ser visto
nas cerimônias xintoístas do Japão. Segundo essa doutrina, qualquer outra representação da Di-
vindade é considerada ímpia, e até mesmo o espelho circular de metal polido fica oculto ao
olhar do público, salvo por ocasião das cerimônias. Contudo, ao contrário das suntuosas
decorações dos templos da Atlântida, os templos xintoístas caracterizam-se por uma total
ausência de decoração - a uniformidade do requintado acabamento da singela carpintaria não é
quebrada por nenhum entalhe, pintura ou adorno.

No entanto, o disco solar não permaneceu como o único emblema admissível da Divindade. A
imagem de um homem - um homem arquetípico - foi, em épocas posteriores, colocada nos
templos e adorada como a mais sublime representação do divino. De certo modo, isso poderia
ser considerado um retorno ao culto rmoahal de Manu. Até então, a religião era relativamente
pura e a confraria oculta da "Boa Lei" naturalmente fazia o possível para conservar no coração
do povo o ardor pela vida espiritual.

Contudo, estava se aproximando a época maligna na qual não restaria nenhuma idéia altruística
para salvar a raça das profundezas do egoísmo, onde estava fadada a submergir. A deterioração
do conceito ético foi o prelúdio inevitável da perversão do espírito. As mãos de cada homem
lutavam unicamente por ele próprio e seus conhecimentos serviam apenas a fins egoístas, até
tornar-se uma crença estabelecida a de que, no universo, não havia nada que fosse maior ou
superior aos próprios homens. Cada um era a sua própria "Lei, Senhor e Deus", e o próprio
culto nos templos deixou de ser o culto a algum ideal para tornar-se a mera adoração do
homem, tal como ele era conhecido e visto. Como está escrito no Livro de Dzyan, "Então a
41
Quarta cresceu em orgulho. Dizia: nós somos os reis; somos os Deuses. . . . Construíram
enormes cidades. Construíram-nas de terras e metais raros, e dos fogos vomitados, da pedra
branca das montanhas e da pedra preta modelaram suas próprias imagens em seu tamanho e
semelhança, e adoraram-nas." Capelas foram dispostas nos templos, nas quais a estátua de cada
homem, feitas de ouro ou prata, ou esculpida em pedra ou madeira, era venerada por ele
próprio. Os homens mais ricos dispunham de séquitos inteiros de sacerdotes para o culto e a
Manutenção de suas capelas, e faziam-se oferendas a essas estátuas, como se fossem deuses. A
apoteose do eu não poderia ir mais longe.

É preciso lembrar que toda idéia religiosa verdadeira que alguma vez penetrou na mente do
homem foi-lhe conscientemente sugerida pelos instrutores divinos ou pelos iniciados das Lojas
ocultistas, os quais, ao longo de todos os períodos históricos, têm sido os guardiões dos
mistérios divinos e das ocorrências dos estados supra-sensíveis de consciência.

Geralmente, só de um modo muito lento é que a humanidade se torna capaz de assimilar


algumas dessas idéias divinas, ao passo que os crescimentos monstruosos e as terríveis
distorções, exemplificadas por cada religião existente, têm sua origem na própria natureza mais
inferior do homem. Na verdade, tem-se a impressão de que nem sempre ele esteve em
condições de receber o conhecimento acerca dos simples símbolos sob os quais se ocultava a
compreensão da Divindade, pois na época da hegemonia turaniana parte desse conhecimento
foi erroneamente divulgada.

Vimos como a vida e a luz, enquanto atributos do sol, foram, em tempos remotos, usados como
símbolo para despertar na mente das pessoas tudo o que elas fossem capazes de conceber
acerca do grande Criador. Contudo, outros símbolos de maior profundidade e significado mais
real eram conhecidos e guardados pelos sacerdotes. O conceito de uma Trindade na Unidade
era um desses símbolos. As Trindades de significação mais sagrada nunca foram reveladas ao
povo, mas a Trindade que personificava os poderes cósmicos do universo como Criador,
Preservador e Destruidor tornou-se publicamente conhecida na época dos turanianos de um
modo um tanto irregular. Essa idéia foi ainda mais materializada e degenerada pelos semitas,
que a transformaram numa Trindade estritamente antropomórfica, consistindo de pai, mãe e
filho.

É preciso mencionar ainda um outro fato bastante terrível que ocorreu na época dos turanianos.
Com a prática da bruxaria, muitos dos habitantes, é claro, tornaram-se conscientes da existência
de elementais poderosos - criaturas que tinham sido criadas ou ao menos animadas pelas
próprias e poderosas vontades dos habitantes, as quais, à medida que eram direcionadas para
fins maléficos, produziram naturalmente os elementais de poder e malignidade. Os sentimentos
humanos de reverência e culto tinham degenerado tanto que os homens realmente começaram a
adorar essas criações semiconscientes de seu próprio pensamento maligno. O ritual pelo qual se
cultuava esses seres foi, desde o início, manchado de sangue e, sem dúvida, cada sacrifício
oferecido em seus altares conferia vitalidade e persistência a essas criações vampirescas - a tal
ponto que, mesmo hoje em dia, em várias partes do mundo, os elementais formados pela
vontade poderosa desses antigos bruxos atlantes ainda continuam a exigir seu tributo de
inocentes comunidades aldeãs.

Embora iniciado e largamente praticado pelos brutais turanianos, parece que esse ritual
manchado de sangue nunca se difundiu entre as outras sub-raças; todavia, os sacrifícios
humanos parecem não ter sido raros entre alguns ramos semitas.
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No grande império tolteca do México, o culto do sol - praticado por seus antepassados -
ainda era a religião nacional, embora as oferendas incruentas à sua Divindade benéfica,
Quetzalcóatl, consistissem simplesmente de flores e frutos. Só com o advento dos astecas
selvagens é que se acrescentou, ao inocente ritual mexicano, o sangue de sacrifícios humanos,
que banhava os altares de seu deus da guerra, Huitzilopochtli, e a extração do coração das
vítimas no cume do Teocáli pode ser vista como uma sobrevivência direta do culto aos
elementais de seus ancestrais turanianos da Atlântida.

Pode-se observar então que, tal como em nossos dias, a vida religiosa do povo abrangia as mais
variadas formas de crença e culto. Desde a pequena minoria que aspirava à iniciação e tinha
contato com a mais elevada vida espiritual - que sabia que a boa vontade para com todos os
homens, o controle do pensamento e a pureza de vida e ações eram as preliminares necessárias
à obtenção dos mais elevados estados de consciência e dos mais amplos campos de visão -,
inumeráveis estágios de decadência conduziram desde o culto mais ou menos irracional das
energias cósmicas, ou dos deuses antropomórficos, até os ritos sangrentos do culto aos
elementais, passando pelo ritual degenerado, porém de grande aceitação, no qual cada homem
adorava sua própria imagem.

Não se deve esquecer que estamos tratando apenas da raça atlante, de modo que seria
inoportuna qualquer referência relativa ao culto ainda mais infame do fetiche que então existiu
- como ainda existe - entre os degradados representantes dos povos lemurianos.

Ao longo dos séculos, portanto, os vários rituais constituídos para celebrar essas diversas
formas de culto continuaram existindo, até a submersão derradeira de Posseidones, quando um
grande número de emigrantes atlantes já haviam estabelecido, em terras estrangeiras, os vários
cultos do continente-mãe.

Reconstituir a ascensão e acompanhar minuciosamente o progresso das religiões antigas, que


no período histórico floresceram em formas tão diversas e antagônicas, seria uma tarefa
bastante difícil, mas o esclarecimento que isso traria às questões de importância transcendente
poderá, algum dia, induzir à tentativa.

Concluindo, seria inútil tentar resumir o que já está por demais resumido. Antes, vamos esperar
que o precedente possa servir como texto, a partir do qual seja possível desenvolver histórias
acerca dos diversos ramos das várias sub-raças - histórias que possam, analiticamente, abordar
as evoluções políticas e sociais que, aqui, foram expostas de modo bastante fragmentário.

Todavia, uma palavra ainda pode ser dita sobre essa evolução da raça - esse progresso que toda
criação, com a humanidade à frente, está sempre destinada a alcançar, século a século, milênio
a milênio, manvantara a manvantara e kalpa a kalpa.

A descida do espírito à matéria - esses dois pólos da substância eterna una - é o processo que
abrange a primeira metade de cada ciclo. Ora, o período estudado nas páginas anteriores - o
período durante o qual a raça atlante estava percorrendo sua trajetória - foi exatamente o ponto
médio ou crítico deste manvantara atual.

O processo de evolução que se tem estabelecido em nossa atual quinta raça - isto é, o retorno da
matéria ao espírito - manifestou-se, nessa época, em apenas uns poucos casos individuais
isolados -precursores da ressurreição do espírito.
43
Mas o problema, que todos os que têm se dedicado de algum modo a esta matéria devem ter
constatado estar ainda à espera de uma solução, está no surpreendente contraste verificado nas
características da raça atlante. Ao lado de suas paixões brutais, de suas inclinações animais
degradadas, estavam suas faculdades psíquicas, sua intuição divina.

A solução deste enigma aparentemente insolúvel repousa no fato de que a construção da ponte
fora então apenas iniciada - a ponte do manas, ou mente, destinada a ligar, no indivíduo aperfei-
çoado, as forças do animal, que se dirigem para o alto, ao espírito do Deus, que, num
movimento crítico dirige-se para baixo. O atual reino animal revela um campo da natureza onde
a construção dessa ponte ainda não se iniciou e, mesmo entre a humanidade nos tempos da
Atlântida, a conexão era tão frágil que os atributos espirituais tinham pouco poder de controle
sobre a natureza animal mais inferior. O tipo de mente que possuíam era capaz de acrescentar
prazer à satisfação dos sentidos, mas não tinha o poder de vitalizar as faculdades espirituais
ainda adormecidas que, no indivíduo aperfeiçoado, precisarão tornar-se o monarca absoluto.
Nossa metáfora da ponte pode levar-nos um pouco mais além, se a considerarmos atualmente
em processo de construção, porém destinada a permanecer incompleta, para a humanidade em
geral, durante incontáveis milênios - na verdade, até que a Humanidade tenha completado mais
um ciclo dos sete planetas e o grande Quinto Curso esteja a meio caminho de sua trajetória.

Embora tenha sido durante a segunda metade da terceira raça-raiz e o início da quarta que o
Manasaputra desceu para dotar de mente a maior parte da Humanidade, que ainda estava sem a
centelha, foi tão fraco o fogo que ardeu durante toda a era atlante que se pode dizer que foram
poucos os que atingiram os poderes do pensamento abstraio. Por outro lado, os atlantes
conseguiram um ótimo desempenho mental no campo da realidade concreta e, como vimos, foi
nas atividades práticas do seu cotidiano, especialmente quando suas faculdades psíquicas eram
direcionadas para os mesmos objetos, que eles alcançaram resultados notáveis e estupendos.

É preciso também lembrar que o Kama, o quarto princípio, alcançou sem dúvida o ápice do seu
desenvolvimento durante a quarta raça. Isso explicaria os níveis de vulgaridade animal em que
mergulharam, enquanto o ciclo, aproximando-se de seu nadir, inevitavelmente acentuou esse
movimento decadente, de modo que há pouco para se surpreender quanto à perda gradual das
faculdades psíquicas da raça e sua degradação rumo ao egoísmo e ao materialismo.

Tudo isso deve ser visto como parte do grande processo cíclico, em obediência à lei eterna.

Nós todos atravessamos aqueles péssimos dias, e as experiências que então acumulamos
contribuíram para formar as qualidades que ora possuímos.

Contudo, um sol mais radiante brilha agora sobre a raça anca, mais do que aquele que
iluminava a vereda de seus antepassados atlantes. Menos dominados pelas paixões dos
sentidos, mais abertos à influência da mente, os homens da nossa raça obtiveram, e estão
obtendo, um controle mais firme do conhecimento, um alcance intelectual mais amplo. Este
arco ascendente do grande ciclo manvantárico naturalmente conduzirá um número cada vez
maior de pessoas rumo à entrada do Caminho Oculto e emprestará um encanto cada vez maior
às oportunidades transcendentes que ela oferece ao contínuo fortalecimento e purificação do
caráter - fortalecimento e purificação não mais dirigidos pelo mero esforço espasmódico e
constantemente interrompidos por atrações enganosas, mas orientados e vigiados, a cada passo,
pelos Mestres da Sabedoria, de modo que a escalada, uma vez iniciada, não será mais hesitante
e incerta, mas conduzirá direto à meta gloriosa.
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Também as faculdades psíquicas, bem como a intuição divina, perdidas por um tempo,
mas ainda heranças legítimas da raça, aguardam apenas o esforço individual para serem
readquiridas, o que fornecerá ao caráter da espécie uma compreensão ainda mais profunda e
poderes mais transcendentes. Desse modo, as ordens dos instrutores Adeptos - os Mestres
da Sabedoria - sempre devem ser fortalecidas e renovadas, e mesmo entre nós, hoje,
certamente estão alguns deles, indistinguíveis, salvo pelo imortal entusiasmo que os
impulsiona, e que, antes que se estabeleça a próxima raça-raiz neste planeta, erguer-se-ão
como Mestres da Sabedoria para ajudar a raça em seu progresso ascendente.
45

LEMÚRIA, O CONTINENTE DESAPARECIDO

Prefácio

O propósito deste ensaio não é tanto apresentar uma informação surpreendente a respeito do
continente desaparecido da Lemúria e seus habitantes, mas confirmar, pelos dados obtidos
através da Geologia e do estudo da distribuição relativa de animais e plantas existentes e
extintos, bem como dos processos de evolução física observados nos reinos inferiores, os fatos
relatados em A Doutrina Secreta e em outras obras referentes a essas terras hoje submersas.

O CONTINENTE DESAPARECIDO DA LEMURIA

Geralmente é reconhecido pela ciência que o que é hoje terra seca na superfície do nosso globo
foi, certa vez, o fundo do oceano, e o que é hoje o fundo do oceano foi, certa vez, terra seca.
Em alguns casos, os geólogos têm sido capazes de especificar as porções exalas da superfície
terrestre onde esses afundamentos e sublevações da crosta ocorreram e, embora o continente
desaparecido da Atlântida tenha, até agora, recebido um escasso reconhecimento por parte do
mundo científico, o consenso geral de opiniões há muito tem sugerido a existência, em alguma
época pré-histórica, de um vasto continente meridional, ao qual foi conferido o nome de
Lemúria.

Dados fornecidos pela geologia e pela relativa distribuição de animais e plantas existentes e
extintos

"A história do desenvolvimento do globo terrestre mostra-nos que a distribuição de terra e água
em sua superfície está sempre e continuamente mudando. Em consequência das mudanças
geológicas da crosta terrestre, ocorreram elevações e depressões do solo em toda parte, às vezes
mais fortemente acentuadas num lugar, às vezes em outro. Embora ocorram de modo tão lento
que, no decurso de séculos, o litoral venha à tona ou afunde apenas alguns centímetros, ou
mesmo apenas alguns milímetros, ainda assim seus efeitos são enormes no decurso de longos
períodos de tempo. E longos períodos de tempo - imensuravelmente longos - é o que não falta
na história do globo terrestre. Durante o decorrer de muitos milhões de anos, desde que a vida
orgânica passou a existir na Terra, a terra e a água têm lutado perpetuamente pela supremacia.
Continentes e ilhas submergiram no mar e novas terras vieram à tona. Lagos e mares, len-
tamente, surgiram e secaram, e novas depressões de água apareceram devido ao afundamento
do solo. Penínsulas tornaram-se ilhas em virtude da submersão dos estreitos istmos que as
ligavam ao continente. Por causa da considerável elevação do leito do mar, as ilhas de um
arquipélago tornaram-se os picos de uma contínua cadeia de montanhas.

Desse modo, o Mediterrâneo foi, numa determinada época, um mar interior, quando, no local
do estreito de Gibraltar, um istmo ligou a África à Espanha. A Inglaterra, mesmo durante a
história mais recente da Terra, quando o homem já existia, esteve diversas vezes ligada ao
continente europeu e dele separada. E até mesmo a Europa e a América do Norte estiveram
diretamente ligadas. Antigamente, o mar do Sul formava um grande Continente Pacífico, e as
inúmeras ilhotas que hoje se encontram espalhadas por esse oceano eram simplesmente os
picos mais elevados das montanhas que atravessavam esse continente. O oceano Índico
46
formava um continente que se estendia desde o arquipélago de Sonda, ao longo da costa
meridional da Ásia, até a costa leste da África. Sclater, um cidadão inglês, deu a esse antigo e
imenso continente o nome de Lemúria, devido aos animais semelhantes ao macaco que nele
habitavam; por outro lado, esse continente é de grande importância, por ser o provável berço da
raça humana, que, com toda probabilidade, teve aí seu primeiro estágio de desenvolvimento a
partir dos macacos antropóides.1 A

1. Haeckel está perfeitamente correto ao conjeturar que a Lemúria foi o berço da raça humana, tal como esta hoje existe, mas não
foi a partir dos macacos antropóides que a espécie humana se desenvolveu. Mais adiante será feita uma referência a respeito da
posição real que o macaco antropóide ocupa na Natureza.

importante prova que Alfred Wallace forneceu, com a ajuda de fatos cronológicos de que o
atual arquipélago malaio consiste na realidade de duas partes completamente diferentes, é
particularmente interessante. A parte ocidental, o arquipélago indomalaio, que abrange as
grandes ilhas de Bornéu, Java e Sumatra, outrora estava ligada, pela Malaca, ao continente
asiático e, provavelmente, também ao continente lemuriano, há pouco mencionado. Por outro
lado, a parte oriental, o arquipélago austromalaio, que abrange Celebes, as Molucas, Nova
Guiné, as ilhas Salomão, etc., estava, outrora, diretamente ligada à Austrália. Os dois
segmentos formavam, em tempos passados, dois continentes separados por um estreito mas,
atualmente, a maior parte deles encontra-se abaixo do nível do mar. Wallace, apoiado apenas
em suas acuradas observações cronológicas, foi capaz de determinar, com grande precisão, a
localização desse antigo estreito, cuja extremidade meridional passa entre Bali e Lomboque.

Portanto, desde que a água líquida existiu na Terra, os limites entre a água e a terra têm mudado
incessantemente, e podemos afirmar que os contornos de continentes e ilhas nunca permanece-
ram, nem por uma hora, ou antes, nem por um minuto, exatamente os mesmos, pois as ondas se
quebram, eterna e perpetuamente, na beira da praia; e por mais que a terra perca, nesses lugares,
em extensão, em outros ela ganha pela acumulação do lodo, que se condensa em pedra sólida e
novamente se ergue acima do nível do mar, como terra nova. Nada pode ser mais errôneo do
que a idéia de um contorno fixo e inalterável de nossos continentes, tal como nos é incutido, em
nossa adolescência, pelas deficientes lições de Geografia, destituídas de fundamento
geológico.2

O nome Lemúria, como acima foi relatado, foi originalmente adotado pelo sr. Sclater, em
consideração ao fato de que foi provavelmente nesse continente que os animais do tipo
lemuróide se desenvolveram.

2. Ernst Haeckel, History of Creaúon, 2? ed., 1876, vol. I, pp. 360-62.

Sem dúvida, escreve A. R. Wallace, "trata-se de uma suposição legítima e altamente provável,
bem como de um exemplo do modo pelo qual um estudo da distribuição geográfica de animais
pode capacitar-nos a reconstruir a geografia de uma era antiga. . . . Ele [esse continente]
representa o que foi, provavelmente, uma primitiva região zoológica, em alguma época
geológica passada; mas como foi essa época e quais eram os limites da região em questão,
somos totalmente incapazes de dizer. Supondo-se que abrangia toda a área atualmente habitada
por animais lemuróides, devemos demarcar sua extensão desde o oeste da África até a
Birmânia, sul da China e Celebes, uma área que, possivelmente, ele outrora ocupou".3

"Já tivemos ocasião", afirma Wallace em outro lugar, "de sugerir uma antiga ligação entre essa
sub-região (da Etiópia) e Madagáscar, a fim de explicar a distribuição do tipo lemuriano, bem
como algumas outras curiosas afinidades entre os dois países. Este ponto de vista é sustentado
47
pela geologia da índia, que nos apresenta o Ceilão e o sul da índia consistindo sobretudo em
granito e antigas rochas metamórficas, ao passo que a maior parte da península é de formação
terciária, com algumas áreas isoladas de rochas secundárias. Portanto, é evidente que, durante a
maior parte do período terciário,4 o Ceilão e o sul da índia eram limitados, ao norte, por uma
considerável extensão de mar e, provavelmente, faziam parte de um vasto continente, ou de
uma grande ilha meridional. Os inúmeros e notáveis casos de afinidade com a Malaia exigem,
contudo, uma aproximação mais estreita entre essas ilhas, o que provavelmente ocorreu num
período posterior. Quando, mais tarde ainda, as grandes planícies e planaltos do Industão
estavam formados e efetuou-se uma permanente comunicação por terra com a rica e altamente
desenvolvida fauna himalaia-chinesa, deu-se uma rápida imigração de

3. Alfred Russell Wallace, The GeographicalDistribution of Animais - with a study of the relations of living and extinct Faunas
as elucidating the past changes of the Earth's Surface. Londres, Macmillan & Co., 1876, vol. I, pp. 76-7.

4. O Ceilão e o sul da índia realmente eram limitados, ao norte, por uma considerável extensão de mar, mas isso se deu numa
época bem anterior ao período terciário.

novos tipos e muitas das espécies menos diferenciadas de mamíferos e pássaros se extinguiram.
Entre os répteis e os insetos a competição foi menos árdua, ou então as espécies mais antigas
estavam por demais bem adaptadas às condições locais para serem expulsas; assim, é apenas
entre esses grupos que encontramos um número considerável daquilo que, provavelmente,
constitui os remanescentes da antiga fauna de um continente ao sul, agora submerso.5

Depois de afirmar que, durante todo o período terciário e talvez durante grande parte do
secundário, a maior parte das terras do globo se concentrava provavelmente no hemisfério
norte, Wallace prossegue: "No hemisfério sul, parece ter havido três consideráveis
concentrações terrestres muito antigas que, de tempos em tempos, variaram em extensão,
mantendo-se sempre, porém, separadas umas das outras e representadas, aproximadamente,
pela atual Austrália, África do Sul e América do Sul. Através desses sucessivos fluxos e
refluxos das ondas de vida foi que elas, cada qual por seu turno, uniram-se temporariamente
com alguma região do território setentrional." 6

Muito embora Wallace tenha negado, posteriormente, a necessidade de postular a existência


desse continente, aparentemente em defesa de algumas de suas conclusões que foram criticadas
pelo Dr. Hartlaub, seu reconhecimento geral acerca das ocorrências de afundamentos e
sublevações da crosta em muitas regiões da superfície terrestre, bem como as inferências que
ele extrai a partir das reconhecidas relações da fauna existente e extinta, acima citadas,
permanecem sem dúvida, inalteradas.

Os trechos abaixo, extraídos de um artigo muito interessante escrito pelo sr. H. F. Blandford e
lido numa reunião da Sociedade Geológica, abordam o assunto de um modo bem mais
detalhado 7:

5. Wallace, Geographical Distribution, etc., vol. I, pp. 328-9.

6. Wallace, Geographical Distribution, etc., vol. II, p. 155.

7. H. F. Blandford, "Sobre a idade e as correlações do grupo de plantas existentes na índia e a existência anterior de um
continente indo-oceânico", ver Quarterly Journal of the Geológica! Society, vol. 31, 1875, pp. 534-540.

"As semelhanças entre os fósseis de animais e plantas do grupo de Beaufort, da África, e os


de Panchets e Kathmis, da índia, são de tal modo surpreendentes que chegam a sugerir a
48
existência anterior de uma ligação terrestre entre os dois territórios. Mas a semelhança
das faunas fósseis africana e indiana não se extingue com os períodos permiano e triásico.
As camadas vegetais do grupo de Uitenhage forneceram onze espécies de plantas, duas das
quais o sr. Tate identificou com as plantas indianas de Rajmahal. Os fósseis indianos do
jurássico ainda não foram classificados (com umas poucas exceções), mas afirma-se que o
Dr. Stoliezka mostrou-se muito impressionado com as semelhanças entre certos fósseis de
Kutch e as espécies africanas; e o Dr. Stoliezka e o sr. Griesbach provaram que, dos fósseis
do cretáceo do rio Umtafuni, em Natal, a maioria (vinte e duas das trinta e cinco espécies
descritas) é idêntica às espécies do sul da índia. Ora, o grupo de plantas existentes na índia
e o de Karroo, bem como parte da formação de Uitenhage, na África, são, com toda
probabilidade, originárias de água doce, ambos indicando a existência de uma grande área
de terra ao redor, cuja devastação deu origem a esses sedimentos. Esse território ligava,
sem interrupção, essas duas regiões? E há algum indício, na atual geografia física do
oceano Índico, que poderia sugerir sua provável posição? Além disso, qual era a ligação
entre esse território e a Austrália, cuja existência durante o período permiano deve ser
igualmente pressuposta. E, finalmente, há alguma peculiaridade na fauna e flora existentes
na índia, na África e nas ilhas situadas entre esses dois territórios que servisse de suporte à
idéia de uma ligação anterior mais direta do que a que agora existe entre a África, o sul da
índia e a península malaia? A especulação aqui formulada não é inédita, pois há muito tem
sido assunto de reflexão de alguns naturalistas hindus e europeus. Entre esses, eu poderia
citar meu irmão [Sr. Blandford] e o Dr. Stoliezka. Suas especulações fundamentam-se na
afinidade e parcial identidade das faunas e floras de tempos remotos, bem como na
existente conformidade de espécies que levou o sr. Andrew Murray, o sr. Searles, o
estudante V. Wood e o Professor Huxley a deduzirem a existência de um continente do
mioceno, que ocupava uma parte do oceano Índico. Na verdade, meu único objetivo neste
ensaio consiste em tentar fornecer alguma explicação e ampliação adicionais à concepção
do seu aspecto geológico.

"Quanto à evidência geográfica, um rápido olhar para o mapa revelará que, desde as
cercanias da costa oeste da índia até as ilhas Seychelles, Madagáscar e Maurícia, estende-se
uma série de atóis e bancos de coral, entre os quais o banco Adas, as ilhas Laquedivas,
Maldivas, o arquipélago Chagos e a Saya de Mulha, o que indica a existência de uma ou
várias cadeias de montanhas submersas. Além disso, as ilhas Seychelles, segundo o sr.
Darwin, erguem-se sobre um banco extenso e mais ou menos plano, com uma profundidade
de trinta a quarenta braças; desse modo, embora hoje parcialmente circundadas por recifes,
podem ser consideradas como um prolongamento da mesma Unha de crista submersa. Mais
para o oeste, as ilhas Cosmoledo e Comore são formadas de atóis e ilhas circundados por
uma linha de recifes de coral, paralela à costa, que nos levam bastante perto das atuais
costas da África e de Madagáscar. Essa cadeia de atóis, bancos e recifes parece indicar a
posição de uma antiga cadeia de montanhas que, possivelmente, formava a espinha dorsal
de uma região das remotas eras paleozóica e mesozóica e da era terciária, mais recente,
assim como o sistema alpino e himalaio formam a espinha dorsal do continente eurásico, e
as Montanhas Rochosas e os Andes, a das duas Américas. Como é conveniente dar a esse
território mesozóico um nome, eu proporia o de Indo-Oceânico. [Contudo, o nome dado
pelo sr. Sclater, ou seja, Lemúria, é o que, geralmente, tem sido mais adotado.] O Professor
Huxley, apoiando-se em dados paleontológicos, sugeriu a existência de uma ligação ter-
restre nessa região (ou, mais exatamente, entre a Abissínia e a índia) durante o mioceno. Do
49
que foi dito acima, pode-se constatar que eu pressuponho a sua existência desde uma
época muito mais remota.8

8. Uma consulta aos mapas revelará que a estimativa do Sr. Blandford é a mais correia das duas.

Quanto à sua depressão, a única evidência atual relaciona-se com sua extremidade
setentrional, e mostra que ela se encontrava nessa região posteriormente às grandes
inundações do Deccan. Essas enormes camadas de rocha vulcânica estão notavelmente no
plano horizontal, a leste das cordilheiras de Gates e Sakyádri, mas a leste destas começam a
inclinar-se em direção ao mar, de modo que a ilha de Bombaim é formada pelas partes mais
elevadas da formação. Isso indica apenas que a depressão em direção a oeste ocorreu na era
terciária; nesse sentido, a inferência do Professor Huxley, segundo a qual isto se deu após a
época miocena, é completamente compatível com a evidência geológica."

Depois de citar inúmeros exemplos detalhados acerca da estreita afinidade de grande parte
da fauna existente nos territórios em estudo (leão, hiena, chacal, leopardo, antílope, gazela,
galinha-anã, abetarda indiana, muitos moluscos da terra e, notavelmente, o lêmure e os
pangolim), o autor prossegue:

"Assim, a paleontologia, a geografia física e a geologia, assim como com a distribuição de


animais e plantas existentes, oferecem também seu testemunho sobre a antiga e estreita
ligação entre a África e a índia, incluindo as ilhas tropicais do oceano Indico. Esse território
Indo-Oceânico parece ter existido pelo menos desde o remoto período permiano,
provavelmente (como assinalou o Professor Huxley) até o fim do período mioceno;9 a
África do Sul e a índia peninsular são o que ainda resta desse antigo território. Ele não pode
ter sido absolutamente contínuo durante todo esse longo período. Na verdade, as rochas
cretáceas da índia meridional e da África do Sul e os leitos marinhos jurássicos das mesmas
regiões provam que algumas de suas partes, por períodos mais longos ou mais curtos, fo-
ram invadidas pelo mar; mas qualquer quebra de continuidade não foi, provavelmente,
prolongada; as pesquisas do Sr. Wallace no arquipélago oriental têm demonstrado como um
mar, por mais estreito

9. Partes do continente permaneceram, naturalmente, mas acredita-se que o desmembramento da Lemúria ocorreu antes
do início da época eocena.

que seja, pode oferecer um obstáculo intransponível à migração de animais terrestres. Na


era paleozóica, esse território deve ter estado ligado à Austrália e, na era terciária, à
Malásia, visto que as espécies malaias, com afinidades africanas, são em muitos casos
diferentes daquelas da índia. Conhecemos até agora muito pouco acerca da geologia da
península oriental para podermos afirmar de que época data sua ligação com o território
Indo-Oceânico. O Sr. Theobald apurou a existência de rochas triásicas, cretáceas e
numulíticas na cordilheira da costa árabe; e sabe-se da ocorrência de rochas calcárias do
período carbonífero ao sul de Moulmein, enquanto a cordilheira a leste do Irrauádi é
formada por rochas terciárias mais jovens. Daqui se concluiria que um segmento
considerável da península malaia deve ter sido ocupado pelo mar durante a maior parte do
mesozóico e do eoceno. Rochas, que servem de suporte a plantas, da época de Raniganj
foram identificadas na formação dos contrafortes externos do Siquin, no Himalaia;
portanto, o antigo território deve ter ultrapassado um pouco o norte do atual delta
gangético. Carvão, tanto do cretáceo como do terciário, é encontrado nos montes Khasi, e
50
também no Alto Assam, mas, em ambos os casos, está associado aos leitos marinhos; de
modo que se poderia concluir que, nessa região, os limites da terra e do mar oscilaram um
pouco durante o período cretáceo e o eoceno. Ao noroeste da índia, a existência de grandes
formações dos períodos cretáceo e numulítico, que atravessam o Belochistão e a Pérsia,
penetrando na estrutura do Himalaia noroeste, prova que nos períodos mais recentes da era
mesozóica e do eoceno, a índia não tinha comunicação direta com a Ásia ocidental; ao
mesmo tempo, as rochas jurássicas de Kutch, da cordilheira de Salt e do norte do Himalaia
demonstram que, no período precedente, o mar cobria grande parte da atual bacia fluvial do
Indo; e as formações marinhas triásicas, carboníferas e ainda mais recentes do Himalaia
indicam que, desde as épocas mais primitivas até a elevação daquela imensa cadeia, grande
parte de sua atual localização esteve, durante muito tempo, coberta pelo mar.

"Resumindo as observações aqui apresentadas, temos:

"lº - O grupo de plantas existentes na índia são encontradas desde o remoto período
permiano até os últimos anos do período jurássico, indicando (salvo alguns casos, e
localmente) a ininterrupta continuidade de terra e condições de água doce, que podem ter
predominado desde tempos muito mais remotos.

"2º _ No remoto período permiano, como na época pós-pliocena, um clima frio predominou
nas regiões de baixa latitude e, sou levado a crer, em ambos os hemisférios,
simultaneamente. Com o declínio do frio, a flora e a fauna réptil do período permiano
disseminaram-se pela África, pela índia e, possivelmente, pela Austrália; ou a flora pode ter
existido na Austrália um pouco mais cedo e, desse lugar, ter se disseminado.

"3º - A índia, a África do Sul e a Austrália estavam ligadas, no período permiano, por um
continente Indo-Oceânico; e os dois primeiros países permaneceram ligados (no máximo,
com apenas breves interrupções) até o fim da época miocena. Durante os últimos anos
desse período, essa região também estava ligada à Malaia.

"4º - De acordo com alguns autores anteriores, considero que a localização desse território
era demarcada pela série de recifes e bancos de coral que hoje existem entre o mar árabe e a
África oriental.

"5º - Até o final da época numulítica não existia nenhuma ligação direta (exceto,
possivelmente, por curtos períodos) entre a índia e a Ásia ocidental."

No debate que se seguiu à leitura do ensaio, o Professor Ramsay "concordou com a opinião
do autor quanto à junção da África com a índia e Austrália em eras geológicas".

O Sr. Woodward "ficou satisfeito ao descobrir que o autor acrescentara mais provas,
derivadas da flora fóssil do grupo mesozóico -da índia, em corroboração das opiniões de
Huxley, Sclater e outros quanto à existência, no passado, de um antigo continente hoje
submerso (a "Lemúria"), existência essa há muito tempo pressagiada pelas pesquisas de
Darwin acerca dos recifes de coral".

"Dos cinco continentes hoje existentes", escreve Ernst Haeckel na sua extensa obra The
History of Creation,10 "nem a Austrália, nem a América e tampouco a Europa podem ter
51
sido esse lar primevo [do homem], ou o chamado 'Paraíso', o 'berço da raça humana'. A
maioria das circunstâncias indicam a Ásia meridional como o local em questão. Além da
Ásia meridional, o único dos outros atuais continentes que poderia ser considerado sob esse
aspecto é a África. Mas há várias circunstâncias (especialmente fatos cronológicos)
sugerindo que o lar primitivo do homem foi um continente que hoje se encontra submerso
no oceano Índico e que se estendia ao longo do sul da Ásia, como ela é atualmente (e talvez
ligando-se diretamente a ela), prolongando-se, para o leste, até as distantes índia e ilhas da
Sonda e, para o oeste, até Madagáscar e as costas do sudeste da África. Já mencionamos
que na geografia animal e vegetal muitos fatos tornam a antiga existência de um continente
ao sul da índia bastante provável. Sclater deu a esse continente o nome de Lemúria, devido
aos semimacacos que o caracterizavam. Ao admitirmos que a Lemúria foi o lar primevo do
homem, facilitaremos sobremodo a explicação da distribuição geográfica das espécies
humanas pela migração."

Numa obra posterior, The Pedigree of Man, Haeckel postula a existência da Lemúria em
alguma era primitiva da história da Terra como um fato reconhecido.

O trecho abaixo, extraído dos escritos do Dr. Hartlaub, pode servir de conclusão a esta parte
dedicada a algumas provas referentes à existência da Lemúria, o continente desaparecido:11

"Há cinqüenta e três anos, Isidore Geoffroy St. Hilaire observou que, se tivéssemos de
classificar a ilha de Madagáscar levando-se em conta apenas considerações de ordem
zoológica, deixando-se de lado sua localização geográfica, poderíamos demonstrar que ela

10. Vol. II, pp. 325-6.

11. Dr. G. Hartlaub, "On the Avifauna of Madagáscar and the Mascarene Islands", ver The Ibis, Periódico Trimestral de
Ornitologia - Série 4*, Vol. I, 1877, p. 334.

não é nem asiática nem africana, mas bastante diferente desses dois continentes, sendo
quase um quarto continente. Poderíamos provar ainda que este quarto continente se
diferenciaria, quanto à sua fauna, muito mais da África - que se encontra tão próxima - que
da índia - que está tão longe. Com essas palavras, cuja exatidão e fecundidade as pesquisas
mais recentes tendem a trazer à plena luz, o naturalista francês formulou, pela primeira vez,
o interessante problema, para cuja solução foi há pouco proposta uma hipótese com bases
cientificas, pois esse quarto continente de Isidore Geoffroy é a 'Lemúria' de Sclater - aquele
território submerso que, abrangendo partes da África, deve ter se estendido a grande
distância na direção leste, passando pelo sul da índia e pelo Ceilão, e cujos picos mais
elevados divisamos nos cumes vulcânicos de Bourbon e Maurícia e na cordilheira central
da própria Madagáscar - os últimos refúgios da já extinta raça lemuriana que, em tempos
passados, o povoou."

No caso em questão, havia apenas um modelo arruinado de terracota e um mapa muito mal
conservado e amarrotado, de modo que a dificuldade de reconstituir a lembrança de todos
os detalhes e, conseqüentemente, de reproduzir cópias exatas foi enorme.

Fomos informados de que os mapas atlantes eram feitos, nos dias da Atlântida, pelos
poderosos Adeptos, mas não sabemos se os mapas lemurianos foram modelados por alguns
52
dos instrutores divinos nos dias em que a Lemúria ainda existia, ou se em tempos poste-
riores, na época atlante.

Contudo, embora resguardando-se de depositar excessiva confiança quanto à absoluta


exatidão dos mapas em questão, quem transcreveu dos antigos originais acredita que estes
possam, em seus pormenores mais importantes, ser considerados aproximadamente
correios.

Dados extraídos de antigos registros

Os outros dados que temos quanto à Lemúria e seus habitantes foram extraídos da mesma
fonte e da mesma maneira que nos tornaram possível a redação d'A História da Atlântida.
Também neste caso o autor teve o privilégio de obter cópias de dois mapas, um cor-
respondente à Lemúria (e aos territórios limítrofes) durante o período da maior extensão
atingida pelo continente, o outro mostrando seus contornos após seu desmembramento
pelas grandes catástrofes, mas muito antes de sua destruição definitiva.

Jamais se sustentou que os mapas da Atlântida fossem exatos quanto a um único grau de
latitude ou longitude, mas, a despeito da enorme dificuldade de se obter informações no
presente caso, deve-se mencionar que a exatidão destes mapas da Lemúria é mais precária
ainda. No primeiro caso, havia um globo, um bom baixo-relevo de terracota, e um mapa de
pergaminho, ou de algum tipo de pele, muito bem conservado, permitindo, assim, uma
ótima reprodução.

Duração provável do continente da Lemúria

Um período de, aproximadamente, quatro a cinco milhões de anos corresponde,


provavelmente, à duração do continente da Atlântida, pois foi mais ou menos nessa época
que os rmoahals, a primeira sub-raça da Quarta Raça-Raiz que habitou a Atlântida,
surgiram numa porção do continente lemuriano, que, nesse tempo, ainda existia.
Relembrando que, no processo evolucionário, o algarismo quatro invariavelmente
corresponde não só ao nadir do ciclo mas também ao período de mais curta duração, quer
no caso de um Manvantara quer no de uma raça, pode-se supor que o total de milhões de
anos que se pode atribuir à duração máxima do continente da Lemúria deve ser muitíssimo
maior do que aquele que corresponde à duração da Atlântida, o continente da Quarta Raça-
Raiz. No caso da Lemúria, porém, não se pode estipular nenhum período de tempo, nem
mesmo com uma precisão aproximada. As épocas geológicas, tanto quanto são conhecidas
pela ciência moderna, constituem um instrumento de referência contemporânea mais
adequado, e dele lançaremos mão.

Os mapas

Mas nem mesmo épocas geológicas, deve-se dizer, são atribuídas aos mapas. Contudo, se
nos fosse permitido fazer uma inferência a partir dos dados de que dispomos, o mais antigo
53
dos dois mapas lemurianos, ao que parece, corresponde à configuração do globo terrestre
desde o período permiano até o período jurássico, passando pelo triásico, ao passo que o
segundo mapa, provavelmente, corresponde à configuração do globo terrestre desde o
período cretáceo até o período eoceno.

Pode-se deduzir, a partir do mais antigo dos dois mapas, que o continente equatorial da
Lemúria, na época de sua maior extensão, quase circundava o globo, estendendo-se, então,
desde o local onde hoje se situam as ilhas do Cabo Verde, a uns poucos quilômetros da
costa de Serra Leoa, de onde se projetava para o sudeste, através da África, Austrália, ilhas
da Sociedade e de todos os mares interpostos, até um ponto, a poucos quilômetros de
distância de um grande continente insulano (mais ou menos do tamanho da atual América
do Sul), que se prolongava através do oceano Pacífico, abrangendo o cabo Horn e partes da
Patagônia.

Um fato notável, observado no segundo mapa da Lemúria, é o grande comprimento e, em


alguns lugares, a excessiva estreiteza do canal que separava os dois grandes blocos de terra
nos quais o continente, nessa época, tinha sido dividido. Deve-se observar que o canal hoje
existente entre as ilhas de Bali e Lomboque coincide com uma porção do canal que então
dividia os dois continentes. Pode-se constatar ainda que esse canal avançava para o norte
pela costa oriental de Bornéu, e não pela ocidental, como supôs Ernst Haeckel. No que diz
respeito à distribuição da fauna e da flora e à existência de muitas espécies encontradas
tanto na índia como na África, relacionadas pelo Sr. Blandford, pode-se observar que, entre
algumas regiões da índia e grandes trechos da África havia, durante o período do primeiro
mapa, uma ligação por terra e que uma comunicação semelhante também foi parcialmente
mantida no período do segundo mapa. Além disso, uma comparação dos mapas da
Atlântida com os da Lemúria demonstrará que sempre houve uma comunicação por terra,
ora numa época, ora noutra, entre regiões bastante diferentes da superfície terrestre hoje
separadas pelo mar, de modo que a atual distribuição da fauna e da flora nas duas
Américas, na Europa e nos países orientais, que tem sido um verdadeiro enigma para os
naturalistas, pode ser facilmente explicada.

A ilha indicada no mapa lemuriano mais antigo, localizada a noroeste do extremo


promontório daquele continente e diretamente a oeste da atual costa da Espanha, foi,
provavelmente, um centro de onde proveio, durante muitas épocas, a distribuição da fauna e
da flora acima mencionada. Pode-se perceber - e este é um fato muito interessante - que
essa ilha deve ter sido do começo ao fim o núcleo do subsequente grande continente de
Atlântida. Ela existia, como vemos, nesses mais remotos tempos lemurianos. No período do
segundo mapa, estava unida ao território que, anteriormente, fazia parte do grande
continente lemuriano; e, de fato, nessa época ela recebera tantos acréscimos de território
que poderia ser mais apropriadamente considerada um continente do que uma ilha. Ela foi a
grande região montanhosa da Atlântida em seus primórdios, quando a Atlântida abrangia
grandes extensões de terra que hoje se tornaram as Américas do Sul e do Norte. Ela
permaneceu a região montanhosa da Atlântida na sua decadência, e a de Ruta, na época de
Ruta e Daitya, e praticamente constituiu a ilha de Posseidones - o último fragmento do
continente da Atlântida -, cuja submersão definitiva ocorreu no ano de 9564 a.C.

Comparando-se estes dois mapas com os quatro mapas da Atlântida, verifica-se ainda que a
Austrália, a Nova Zelândia, Madagáscar, porções da Somália, o sul da África e a
54
extremidade meridional da Patagônia são territórios que, provavelmente, existiram
durante todas as catástrofes que se sucederam desde os primeiros anos do período
lemuriano. O mesmo pode-se dizer das regiões meridionais da índia e do Ceilão, salvo uma
submersão temporária do Ceilão na época de Ruta e Daitya.

É verdade que, atualmente, ainda existem extensões de terra que pertenceram ao continente
hiperbóreo, muito mais antigo; são, naturalmente, as mais antigas regiões conhecidas na
face da terra: a Groenlândia, a. Islândia, Spitzbergen, a maior parte das regiões ao norte da
Noruega e da Suécia e a extremidade setentrional da Sibéria.

Os mapas mostram que o Japão permaneceu acima da água, quer como ilha, quer como
parte de um continente, desde a época do segundo mapa lemuriano. A Espanha também
existia, sem dúvida, desde esse tempo. A Espanha é, portanto, provavelmente, com exceção
da maior parte das regiões setentrionais da Noruega e da Suécia, o território mais antigo da
Europa.

O caráter indeterminado das afirmações feitas toma-se necessário pelo nosso conhecimento
de que aí ocorreram afundamentos e elevações de diferentes porções da superfície terrestre
durante épocas situadas entre os períodos representados pelos mapas.

Por exemplo, sabemos que, logo após a época do segundo mapa lemuriano, toda a
península malaia submergiu e assim permaneceu por longo tempo, mas uma subsequente
elevação dessa região deve ter ocorrido antes da época do primeiro mapa atlante, pois o que
é hoje a península malaia nele aparece como parte de um grande continente. De modo
análogo, em épocas mais recentes, ocorreram repetidos afundamentos e elevações de menor
importância bem próximos da minha terral natal, e Haeckel está perfeitamente correto ao
dizer que a Inglaterra - ele poderia, com maior precisão, ter dito as ilhas da Grã-Bretanha e
Irlanda, que naquela época, estavam unidas - "tem sido repetidamente ligada ao continente
europeu, e repetidamente dele apartada".

A fim de tornar o assunto mais claro, anexamos a este texto uma tabela, fornecendo uma
história condensada da vida animal e vegetal em nosso globo, equiparada - segundo
Haeckel - aos estratos de rocha que lhe são coetâneos. As outras duas colunas fornecem as
raças humanas coetâneas e os grandes cataclismos que são do conhecimento de estudiosos
do Ocultismo.

Os répteis e as florestas de pinheiros

Pode-se observar nessa tabela que o homem lemuriano viveu na época dos répteis e das
florestas de pinheiros. Os monstruosos anfíbios e os fetos gigantescos do período permiano
ainda medravam nos climas úmidos e moderadamente quentes. Os plesiossauros e
ictiossauros existiam em grande número nos tépidos pântanos do período mesolítico, mas,
com o secamente de muitos dos mares interiores, os dinossauros - os monstruosos répteis
terrestres - gradualmente tornaram-se a espécie dominante, enquanto os pterodáctilos -os
sáurios que desenvolveram asas semelhantes às do morcego - não só rastejavam pela terra
como também voavam pelo ar. Destes, o menor era mais ou menos do tamanho de um
pardal; o maior, no entanto, com uma envergadura superior a cinco metros, excedia o maior
55
dos pássaros hoje existentes. A maior parte dos dinossauros -os Dragões - eram terríveis
animais carnívoros, répteis colossais que chegavam a ter de doze a quinze metros de
comprimento.12 Escavações posteriores revelaram esqueletos de dimensões ainda maiores.
Consta que o professor Ray Lankester, numa reunião da Royal Institution, a 7 de janeiro de
1904, referiu-se a um esqueleto de brontossauro com vinte metros de comprimento,
descoberto numa jazida de eólito, na região meridional dos Estados Unidos da América.

Como está escrito nas estâncias do arcaico Livro de Dzyan, "Animais com ossos, dragões
das profundezas e diabos-marinhos voadores somaram-se as criaturas rastejantes. Os que
rastejavam no chão ganharam asas. Os aquáticos, de pescoços longos, tornaram-se

12. Ernst Haeckel, History of Creation, Vol. II, pp. 22-56.

os progenitores das aves do ar". A ciência moderna registra o seu endosso. "A classe dos
pássaros, como já foi observado, está tão estreitamente associada aos répteis quanto à
estrutura interna e ao desenvolvimento embrionário, que, sem dúvida, originaram-se de um
ramo dessa classe. ... A derivação de pássaros a partir dos répteis ocorreu, pela primeira
vez, na época mesolítica, mais exatamente durante o triásico".13

No reino vegetal, essa época também conheceu o pinheiro e a palmeira que, gradualmente,
substituíram os gigantescos fetos. Nos últimos anos da época mesolítica, apareceram pela
primeira vez os mamíferos, mas os restos fósseis do mamute e do mastodonte, seus
representantes mais primitivos, encontram-se, sobretudo, nos estratos posteriores,
correspondentes aos períodos eoceno e mioceno.

Estratos de Rocha Profundida Raças Humanas Cataclismos Animais Vegetais


de dos
Estratos em
metros

Laurenciano 21.300 Primeira Raça- Animais Florestas de


Cambriano Raiz que, sendo sem crânio algas gigan-
Siluriano Astral, não tescas e
> Arquilíftico ou poderia deixar outras talo
Süuriano restos fôsseis fitas

Devoniano 12.800 Segunda Raça- Peixes Florestas de


Carbonífero Raiz, que era fetos
Permiano Etérica
> Paleolítico ou
Primário

Triásico 4.500 Terceira Raça- Considera-se que a Répteis Florestas de


Jurássico Raiz Lemúria pereceu pinheiros e
Cretáceo ouLemuriana antes do início do palmeiras
> Mesolítico ou período eoceno
Secundário

Eoceno 1.500 Quarta Raça- O principal continente Mamíferos Florestas de


Mioceno Raiz ou Atlante da Atlãntída foi árvores
Plioceno destruído no período deciduifólia
> Cenolítico ou mioceno, cerca de s
Terciário 800.000 anos atrás.
56
Segunda grande
catástrofe, cerca de
200.000 anos atrás.
Diluvial ou 152 Quinta Raça- Terceira grande ca- Mamíferos Florestas
Pleistoceno Aluvial Raiz ou Árica tástrofe, cerca de mais cultivadas
> Quaternário ou 80.000 anos atrás. diferenciad
Antopolítico Submersão definitiva os
de Posseidones em
9564 a.C.

O reino humano

Antes de fazer qualquer referência ao que, mesmo nesta época primitiva, deve ser chamado
de o reino humano, é preciso deixar claro que nenhum daqueles que, no momento atual,
podem apresentar uma razoável dose de cultura mental ou espiritual podem pretender ter
vivido nessa época. Foi apenas com o advento das três últimas sub-raças dessa Terceira
Raça-Raiz que o menos desenvolvido do primeiro grupo de Pitris Lunares principiou a
retomar à encarnação, enquanto o mais avançado dentre eles não nasceu antes das primeiras
sub-raças do período atlante.

Na verdade, o homem lemuriano, ao menos durante a primeira fase da raça, deve ser
considerado muito mais como um animal, destinado- a atingir o gênero humano, do que um
humano, segundo a nossa compreensão do termo; pois, embora o segundo e terceiro grupos
de Pitris, que constituíram os habitantes da Lemúria durante suas quatro primeiras sub-
raças, tenham alcançado suficiente auto-consciência no Manvantara Lunar para diferenciá-
los do reino animal, ainda não tinham recebido a Centelha Divina que os dotaria de mente e
individualidade - em outras palavras, que os tornaria verdadeiramente humanos.

13. Ernst Haeckel, History of Creation, Vol. II, pp. 226-7.

Tamanho e consistência do corpo do homem

A evolução dessa raça lemuriana constitui, portanto, um dos mais obscuros bem como um
dos mais interessantes capítulos do desenvolvimento do homem, pois durante esse período
ele não só atingiu a verdadeira natureza humana, mas também seu corpo passou por
enormes mudanças físicas, enquanto os processos de reprodução por duas vezes foram
alterados.

Para se compreender as surpreendentes afirmações que terão de ser feitas a respeito do


tamanho e da consistência do corpo do homem nesse período primitivo, deve-se ter em
mente que, enquanto os reinos animal, vegetal e mineral prosseguiam seu curso normal
neste quarto globo, durante o Quarto Ciclo deste Manvantara, foi ordenado que a
humanidade deveria recapitular, numa sequência rápida, as várias etapas que sua evolução
57
atravessara durante os ciclos anteriores do atual Manvantara. Assim, os corpos da
Primeira Raça-Raiz, nos quais estes seres quase desprovidos de mente estavam destinados a
adquirir experiência, ter-nos-iam parecido gigantescos espectros - caso, é claro, nos fosse
possível vê-los, pois seus corpos eram formados de matéria astral. As formas astrais da
Primeira Raça-Raiz foram então gradualmente envolvidas por um invólucro mais físico.
Muito embora a Segunda Raça-Raiz possa ser chamada de física -sendo seus corpos
compostos de éter -, eles seriam igualmente invisíveis à visão tal como esta existe hoje.

Essa síntese do processo de evolução foi ordenada, segundo nos informaram, a fim de que
Manu e os Seres que o auxiliavam pudessem obter os meios para aperfeiçoar o tipo físico
de natureza humana. O mais elevado desenvolvimento que o tipo até então atingira era a
imensa criatura, semelhante ao macaco, que existira nos três planetas físicos - Marte, Terra
e Mercúrio - durante o Terceiro Ciclo. Na época da afluência de vida humana à Terra, neste
Quarto Ciclo, naturalmente um determinado número dessas criaturas semelhantes ao
macaco aqui se encontrava - o resíduo deixado no planeta durante seu período de
obscurecimento. Sem dúvida, essas criaturas uniram-se à crescente maré humana assim que
a raça tornou-se inteiramente física. Nesse caso, seus corpos não podem ter sido totalmente
postos de lado; eles podem ter sido utilizados, pela maior parte dos entes pouco
desenvolvidos, para propósitos de reencarnação, mas o que se exigia era um melhoramento
desse tipo, e isso era mais facilmente obtido por Manu, através da elaboração, no plano
astral em primeiro lugar, do arquétipo originalmente formado na mente do Logos.

Portanto, da Segunda Raça Etérica desenvolveu-se a Terceira -a Lemuriana. Seus corpos


tornaram-se materiais, sendo compostos de gases, líquidos e sólidos, que constituem as três
subdivisões mais inferiores do plano físico, mas os gases e líquidos ainda predominavam,
pois suas estruturas vertebradas ainda não haviam se solidificado, tal como as nossas, em
ossos e, portanto, não podiam manter-se eretos. Na verdade, seus ossos eram tão flexíveis
quanto os dos bebês hoje em dia. Somente em meados do período lemuriano o homem
desenvolveu uma sólida estrutura óssea.

Para explicar a possibilidade do processo pelo qual a forma etérica evoluiu para uma forma
mais física, e a forma física de ossos moles finalmente desenvolveu-se numa estrutura tal
como a que o homem hoje possui, é necessário apenas aludir ao átomo físico permanente.14
Contendo, como contém, a essência de todas as formas através das quais o homem passou
no plano físico, ele continha, portanto, a potencialidade de uma estrutura física de ossos
duros, tal

14. Para uma explicação adicional dos átomos permanentes em todos os planos, bem como das potencialidades neles contidas, no que
toca aos processos de morte e renascimento, ver Man's Place in Universe, pp. 76-80.

como a que foi alcançada durante o curso do Terceiro Ciclo, bem como a potencialidade de
uma forma etérica e todas as fases intermediárias, pois é preciso lembrar que o plano físico
consiste em quatro graus de éter, bem como em gases, líquidos e sólidos - que tantos se
inclinam a considerar como os únicos constituintes do físico. Assim, cada etapa do
desenvolvimento foi um processo natural, pois foi um processo que havia sido consumado em
épocas bastante remotas, e a Manu e aos Seres que o auxiliavam bastou juntar ao átomo
permanente a espécie de matéria apropriada.
58
Órgãos de visão

Os órgãos de visão dessas criaturas, antes que elas desenvolvessem ossos, eram de natureza
rudimentar; ao menos essa era a condição dos dois olhos dianteiros, com os quais procuravam
obter seu aumento no chão. Mas havia um terceiro olho na parte posterior da cabeça, cujo
resíduo atrofiado é hoje conhecido como a glândula pineal. Esta, como sabemos, é agora
exclusivamente um centro de visão astral, mas na época da qual estamos falando era o centro
principal, não só da visão astral mas também da visão física. Consta que o professor Ray
Lankester, aludindo aos répteis já extintos numa conferência na Royal Institution, chamou a
atenção para "o tamanho do orifício parietal no crânio, o que revela que, nos ictiossauros, o
olho parietal ou pineal, no alto da cabeça, deve ter sido muito grande". A esse respeito ele
chegou a dizer que o gênero humano era inferior a esses enormes lagartos marítimos, "pois
tínhamos perdido o terceiro olho, que poderia ser observado no lagarto comum, ou melhor, no
grande lagarto azul do sul da França".15

Um pouco antes da metade do período lemuriano, provavelmente durante a evolução da terceira


sub-raça, esse gigantesco corpo gelatinoso lentamente começou a se solidificar e os membros
de

15. O Standard, 8 de janeiro de 1904.

ossos moles desenvolveram uma estrutura óssea. Essas criaturas primitivas eram agora capazes
de se manter cretas e os dois olhos na face tornaram-se gradualmente os órgãos principais da
visão física, embora também o terceiro olho ainda permanecesse, até certo ponto, um órgão de
visão física, o que se deu até o fim da época lemuriana. Naturalmente, ele continuava sendo um
órgão da visão psíquica, como ainda é um foco potencial. Essa visão psíquica continuou a ser
um atributo da raça, não só durante todo o período lemuriano, mas também nos dias da
Atlântida.

Um curioso fato a se notar é que, quando a raça alcançou, pela primeira vez, o poder de
permanecer e de se movimentar numa postura ereta, também podia andar para trás, com quase
a mesma facilidade com que andava para a frente. Isso pode ser explicado, não só pela
capacidade de visão que o terceiro olho possuía, mas sem dúvida também pela curiosa
protuberância nos calcanhares, que será em breve mencionada.

Descrição do homem lemuriano

O que se segue é uma descrição de um homem que pertenceu a uma das últimas sub-raças -
provavelmente à quinta. "Sua estatura era gigantesca, algo em torno de 3,5 a 4,5 m. Sua pele
era bastante escura, de cor pardo-amarelada. Ele tinha a mandíbula inferior alongada, um rosto
estranhamente achatado, olhos pequenos, porém penetrantes, e localizados curiosamente muito
separados um do outro, de modo que podia ver tão bem lateralmente como de frente, enquanto
o olho na parte posterior da cabeça - onde, naturalmente, os cabelos não cresciam - também lhe
possibilitava enxergar nessa direção. Ele não tinha testa; em seu lugar havia algo parecido a um
rolo de carne. A cabeça inclinava-se para trás e para cima, de modo um tanto curioso. Os
braços e as pernas (sobretudo os primeiros) eram .mais compridos do que os nossos e não
podiam ser perfeitamente esticados nos cotovelos ou nos joelhos; as mãos e os pés eram
enormes e os calcanhares projetavam-se para trás, de modo canhestro. Vestia-se com um manto
59
folgado, feito de uma pele semelhante à do rinoceronte, porém mais escamosa,
provavelmente a pele de algum animal que nós agora conhecemos apenas através de seus restos
fósseis. Ao redor da cabeça, onde o cabelo era bem curto, era amarrado um outro pedaço de
pele enfeitada com borlas de cores vermelha-escuro, azul e outras. Na mão esquerda, segurava
um bastão pontudo que, sem dúvida, era usado para defesa ou ataque. Esse bastão era mais ou
menos da altura de seu próprio corpo, isto é, 3,5 a 4,5 m. Na mão direita, amarrava a
extremidade de uma longa corda, feita de alguma espécie de trepadeira, com a qual conduzia
um réptil imenso e horrendo, parecido com o plesiossauro. Na verdade, os lemurianos
domesticavam essas criaturas e treinavam-nas para aproveitar sua força na caça a outros
animais. O aspecto desse homem produzia uma sensação desagradável, mas não era de todo in-
civilizado, sendo um espécime comum e típico de sua época."

Muitos eram ainda menos humanos na aparência do que o indivíduo aqui descrito, mas a sétima
sub-raça desenvolveu um tipo superior, embora muito diferente de qualquer homem existente
no tempo atual. Embora conservando a mandíbula inferior projetada, os grossos lábios pesados,
a face achatada e os olhos de aspecto misterioso, eles tinham, por esse tempo, desenvolvido
alguma coisa que poderia ser chamada de testa, ao passo que a curiosa projeção do calcanhar
fora consideravelmente reduzida. Num ramo desta sétima sub-raça, a cabeça poderia ser
descrita como quase oviforme - sendo a menor extremidade do ovo a parte superior, com os
olhos bem separados e muito próximos do alto da cabeça. A estatura diminuirá sensivelmente e
o aspecto das mãos, dos pés e dos membros de modo geral tomara-se mais semelhante aos dos
negros de hoje. Esse povo desenvolveu uma importante e duradoura civilização, dominando por
milhares de anos a maioria das outras tribos que viviam no vasto continente lemuriano; e,
mesmo no final, quando a degeneração racial parecia prestes a surpreendê-lo, conseguiu mais
uma nova vida e poder através da miscigenação com os rmoahals - primeira sub-raça dos
atlantes. A progênie, embora mantendo, como é natural, muitas características da Terceira
Raça, na verdade pertencia à Quarta Raça e, assim, naturalmente obteve uma nova força de
desenvolvimento. A partir desse tempo, seu aspecto geral tornou-se bastante parecido com o de
alguns índios americanos, exceto pela pele, que tinha uma curiosa coloração azulada,
inexistente hoje em dia.

Contudo, por mais surpreendentes que possam ser as mudanças no tamanho, na consistência e
na aparência físicas do homem durante esse período, as alterações no processo de reprodução
são ainda mais espantosas. Uma alusão aos métodos que hoje prevalecem entre os reinos mais
inferiores da natureza pode nos auxiliar no estudo do assunto.

Processos de reprodução

Após citar os processos mais simples de procriação pela auto-divisão e pela formação de gemas
(gemação), Haeckel prossegue: "Um terceiro modo de procriação assexuada, o da formação de
gemas germinativas (polisporogonia), está intimamente associado à formação de gemas. No
caso dos organismos inferiores, imperfeitos, entre os animais, especialmente no caso de animais
e vermes semelhantes a plantas, muitas vezes descobrimos que, no interior de um indivíduo
composto de muitas células, um pequeno grupo de células separam-se daquelas que as
circundam e que esse pequeno grupo isolado gradualmente se desenvolve num indivíduo que se
torna semelhante ao ser de origem e, mais cedo ou mais tarde, sai de dentro dele. ... A formação
de gemas germinativas é, evidentemente, um tanto diferente da verdadeira produção por
gemação. Mas, por outro lado, está associada a um quarto tipo de procriação assexuada, que é
quase uma transição para a reprodução sexual, isto é, a formação de células-germinativas
60
(monosporogonia). Neste caso, já não é um grupo de células, mas uma única célula que se
separa das células circundantes no interior do organismo gerador e que se toma mais
desenvolvida após ter saído do ser de origem. ... A procriação sexual ou anfigônica
(anfigonia) é o método usual de procriação entre todos os animais e plantas mais
superiores. É evidente que ele só se desenvolveu num período mais recente da história da
Terra e a partir da procriação assexuada aparentemente, em primeiro lugar, a partir do
método de procriação pelas células-germinativas.... Nas principais formas de procriação
assexuada acima mencionadas - cissiparidade, formação de gemas, gemas germinativas e
células germinativas - a célula, ou o grupo de células que se separou era capaz, por si
mesmo, de se desenvolver num novo indivíduo, mas no caso da procriação sexuada, a
célula deve, primeiro, ser fecundada por uma outra substância generativa. O esperma
fecundador deve, primeiro, misturar-se com a célula germinativa (o óvulo), antes que esta
possa se desenvolver num novo indivíduo. Essas duas substâncias generativas, o esperma e
o óvulo, são produzidas por um só indivíduo hermafrodita (hermafroditismo) ou por dois
indivíduos diferentes (separação sexual).

A mais simples e mais antiga forma de procriação sexual é através de indivíduos de sexo
duplo. Isso ocorre na grande maioria das plantas, porém apenas numa minoria dos animais,
tais como nos caracóis de jardim, nas sanguessugas, nas minhocas e em muitos outros
vermes. Entre os hermafroditas, cada indivíduo produz dentro de si materiais de ambos os
sexos - óvulos e esperma. Na maior parte das plantas superiores, cada flor contém tanto o
órgão masculino (estames e antera) como o órgão feminino (estilete e semente). Cada
caracol de jardim produz, numa parte de sua glândula sexual, óvulos e, em outra parte,
esperma. Muitos hermafroditas podem autofecundar-se; em outros, no entanto, é necessária
a fecundação recíproca de dois hermafroditas para provocar o desenvolvimento dos óvulos.
Este ultimo caso é, evidentemente, uma transição para a separação sexual.

A separação sexual, que caracteriza o mais complicado dos dois tipos de reprodução sexual,
desenvolveu-se evidentemente a partir do estado hermafrodita, num período recente da
história orgânica do mundo. No momento, esse é o método universal de procriação dos
animais superiores. ... A chamada reprodução virginal (partenogênese) oferece uma forma
interessante de transição da reprodução sexual à formação assexuada de células
germinativas, que em grande parte se lhe assemelha. .. . Neste caso, as células germinativas,
que também aparecem e são formadas exatamente como as células-ovo, tornam-se capazes
de se desenvolverem em novos indivíduos, sem que para isso haja necessidade da semente
fecundada. Os mais extraordinários e instrutivos dos diferentes fenômenos partenogenéticos
são fornecidos por aqueles casos nos quais as mesmas células germinativas, caso sejam
fecundadas ou não, produzem espécies diferentes de indivíduos. Entre nossas abelhas de
mel comuns, um indivíduo macho (um zangão) nasce dos óvulos da rainha, caso o óvulo
não tenha sido fecundado; caso o óvulo tenha sido fecundado, nasce uma fêmea (uma
rainha ou uma abelha operária). A partir disso, pode-se concluir que, de fato, não há grande
distância entre a reprodução sexuada e a assexuada e que esses dois tipos de reprodução
estão diretamente associados.16

Ora, o fato interessante relacionado com a evolução do homem da Terceira Raça, na


Lemúria, é que seu modo de reprodução passou por etapas bastante semelhantes a alguns
dos processos acima descritos. Os termos empregados em A Doutrina Secreta são: nascido
do suor, nascido do óvulo e andrógino.
61

"Quase sem sexo, em seus remotos primórdios, tornou-se bissexual ou andrógino; muito
gradualmente, claro. A passagem da primeira à última transformação exigiu inúmeras
gerações, durante as quais a célula simples que se originou do mais primitivo antepassado
(o dois em um), desenvolveu-se primeiro num ser bissexual; em seguida, a célula,
tornando-se um óvulo regular, emitiu uma criatura unissexual. O gênero humano da
Terceira Raça é o mais misterioso de todas as cinco raças até agora desenvolvidas. O
mistério do

16. Ernest Haeckel, The History of Creation, 2- ed., Vol. I, pp. 193-8.

"Como", relacionado com a geração dos sexos separados, deve, é claro, estar muito obscuro
aqui, pois, sendo este um assunto para um embriologista, um especialista, a presente obra
só pode fornecer um ligeiro esboço do processo. Mas é evidente que os indivíduos da
Terceira Raça começaram a se separar e a sair de suas cascas ou ovos pré-natais como
bebês do sexo masculino e feminino, séculos após o surgimento de seus antigos
progenitores. E com o decorrer dos períodos geológicos, as sub-raças recém-nascidas
começaram a perder suas aptidões natais. Perto do fim da quarta sub-raça, o bebê perdia a
faculdade de andar, tão logo se libertava de sua casca; e, pelo fim da quinta, o gênero
humano nascia sob as mesmas condições e pelo mesmo processo de nossas gerações
históricas. Naturalmente, isso exigiu milhões de anos.17

Raças lemurianas que ainda habitam a terra

Não será demais repetir que as criaturas quase desprovidas de mente que habitavam esses
corpos, tal como foi acima descrito, durante as primeiras sub-raças do período lemuriano,
mal podem ser consideradas inteiramente humanas. Foi só após a separação dos sexos,
quando seus corpos tinham se tornado densamente físicos, que eles se tornaram humanos,
mesmo na aparência. Deve-se lembrar que os seres dos quais estamos falando, embora
abrangendo os segundo e terceiro grupos de Pitris Lunares, também devem ter sido
recrutados, em grande número, do reino animal daquele Manvantara (o Lunar). Os
remanescentes degenerados da Terceira Raça-Raiz que ainda habitam a Terra podem ser
observados nos aborígines da Austrália, nos ilhéus de Andaman, em algumas tribos
montesas da índia, nos fueguinos, nos bosquímanos da África e em algumas outras tribos
selvagens. As entidades que hoje habitam esses corpos devem ter pertencido ao reino
animal na parte inicial deste Manvantara. Provavelmente, foi durante a evolução da raça
lemuriana e antes que a "porta fosse fechada", impedindo a subida do grande número de
entidades que nela se aglomeravam, que elas alcançaram o reino humano.

17. TheSecretDoctrine,Vo\. II, p. 197.

O pecado dos sem-mente


62
Os atos vergonhosos dos homens desprovidos de mente, por ocasião da primeira
separação dos sexos, foram muito bem relatados pelas estâncias do antigo Livro de Dzyan.
Nenhum comentário é necessário.

"Durante a Terceira Raça, os animais sem ossos cresceram e se transformaram:


converteram-se em animais com ossos; suas châyas tomaram-se sólidas.

"Os animais foram os primeiros a se separar. Começaram a procriar. O homem duplo


também se separou. Ele disse: 'Façamos como eles: unamo-nos e procriemos.' E assim
fizeram.

"E aqueles que não possuíam a centelha tomaram para si imensas fêmeas de animais. Com
elas geraram raças mudas. Eles próprios eram mudos. Mas suas línguas se desataram. As
línguas de sua progênie permaneceram mudas. Eles geraram monstros. Uma raça de
monstros encurvados, cobertos de pêlo vermelho, que andavam de quatro. Uma raça muda
para silenciar sua vergonha." (E um antigo comentário acrescenta: 'Quando a Terceira se
separou e pecou, procriando homens-animais, estes [os animais] tornaram-se ferozes, e os
homens e eles mutuamente destrutivos. Até então, não existia pecado, nem vida roubada.')

"Vendo isso os Lhas, que não tinham construído homens, choravam, dizendo: 'Os Amanasa
(sem mente) macularam nossas futuras moradas. Isto é Karma. Habitemos em outras.
Ensinemo-los melhor, a fim de que não suceda o pior.' E assim fizeram.

"Então todos os homens foram dotados de Manas. E viram o pecado dos sem-mente."

Origem dos macacos pitecóide e antropóide

A semelhança anatômica entre o homem e o mais desenvolvido dos macacos, tão


freqüentemente citada pelos darwinistas, de modo a sugerir algum ancestral comum a ambos,
propõe um problema interessante, do qual a solução adequada pode ser encontrada na expli-
cação esotérica da gênese das raças pitecóides.

Ora, nós concluímos, a partir de A Doutrina Secreta,18 que os descendentes desses monstros
semi-humanos, acima descritos como provenientes do pecado dos "sem-mente", tendo através
dos séculos diminuído de tamanho e se tornando fisicamente mais densos, culminaram, no
período mioceno, numa raça de macacos, da qual, por sua vez, descendem os atuais pitecóides.
Com esses macacos do período mioceno, porém, os atlantes dessa época repetiram o pecado
dos "sem-mente" - desta vez com plena responsabilidade, e os resultantes do seu crime são as
espécies de macacos hoje conhecidas como antropóides.

Tudo leva a crer que, no advento da Sexta Raça-Raiz, esses antropóides obterão encarnação
humana, sem dúvida nos corpos das raças mais inferiores que então existirem na Terra.

A região do continente lemuriano onde ocorreu a separação dos sexos e onde tanto a quarta
como a quinta sub-raças floresceram pode ser observada no mais antigo dos dois mapas. Ela
ficava a leste da região montanhosa da qual a atual ilha de Madagáscar fazia parte, ocupando
assim uma posição central ao redor do menor dos dois grandes lagos.
63
Origem da linguagem

Como relatam as Estâncias de Dzyan acima transcritas, os homens daquela época, embora
houvessem se tornado inteiramente físicos, ainda continuavam mudos.

18. Vol. II, pp. 683 e 689.

Naturalmente, os ancestrais astrais e etéricos desta Terceira Raça-Raiz não tinham necessidade
de produzir uma série de sons a fim de transmitir seus pensamentos, vivendo, como viviam,
num estado astral e etérico; contudo, quando o homem se tornou físico, não podia permanecer
mudo por muito tempo. Fomos informados de que os sons que esses homens primitivos
emitiam, a fim de expressarem seus pensamentos, eram, a princípio, formados apenas de
vogais. Com o lento decorrer da evolução, gradualmente os sons consonantais começaram a ser
usados, mas o desenvolvimento da linguagem, desde o princípio até o final do continente da
Lemúria, nunca ultrapassou a etapa monossilábica. A atual língua chinesa é a única
descendente direta da antiga língua lemu-riana19, pois "toda a raça humana tinha, naquele
tempo, uma só linguagem e um só lábio".20

Na classificação das línguas elaborada por Humboldt, a chinesa, como sabemos, é chamada
isolante, por distinguir-se da aglutinante, mais evoluída, e da flexiva, ainda mais evoluída. Os
leitores da História da Atlântida devem se lembrar de que muitas línguas diferentes se
desenvolveram naquele continente, mas todas eram do tipo aglutinante, ou, como prefere Max
Müller, combinatório, embora o desenvolvimento ainda mais importante da linguagem
reflexiva, nas línguas árica e semítica, tenha sido reservado à nossa própria era da Quinta Raça-
Raiz.

A primeira vida roubada

A primeira ocasião de pecado, a primeira vida roubada - mencionada no antigo comentário das
Estâncias de Dzyan acima transcrito - pode ser considerada como indicativa do comportamento
que então se instalou entre os reinos humano e animal, o qual, desde

19. No entanto, deve-se observar que o povo chinês descende, principalmente, da quarta sub-raça, ou raça turaniana, da Quarta
Raça-Raiz.

20. The Secret Doctrine, Vol. II, p. 198.

então, tem atingido terríveis proporções, não só entre homens e animais, mas entre as diferentes
raças humanas. E isso abre uma via de reflexão muito interessante.

O fato de reis e imperadores considerarem necessário ou apropriado, em todas as ocasiões


oficiais, apresentarem-se com o traje de uma das subdivisões combatentes de suas forças
armadas é um indício significativo da apoteose alcançada pelas qualidades combativas no
homem! O costume, sem dúvida, data de uma época em que o rei era o chefe guerreiro e sua
realeza era reconhecida unicamente em virtude de ele ser o guerreiro mais eminente. Mas agora
que a Quinta Raça-Raiz está em ascendência, cuja principal característica e função é o
desenvolvimento do intelecto, poderíamos supor que o atributo dominante da Quarta Raça-Raiz
não deveria ser ostentado com tanto alarde. Mas a era de uma raça sobrepõe-se parcialmente à
outra e, como sabemos, embora as principais raças do mundo pertençam à Quinta Raça-Raiz, a
64
grande maioria de seus habitantes ainda pertence à Quarta; portanto, tem-se a impressão de
que a Quinta Raça-Raiz ainda não superou as características da Quarta Raça-Raiz, pois a
evolução humana se efetua de modo bastante gradual e lento.

Seria interessante resumir aqui a história desse conflito e dessa matança desde sua gênese, na
Lemúria, há milhões de séculos.

A partir dos dados já fornecidos pelo autor, parece que o antagonismo entre homens e animais
desenvolveu-se em primeiro lugar. Com a evolução do corpo físico do homem, naturalmente
um aumento apropriado para esse corpo tomou-se uma necessidade urgente, de modo que, além
do antagonismo criado pela necessidade de autodefesa contra os animais ferozes dessa época, o
desejo de alimento também impeliu os homens à matança e, como vimos acima, um dos
primeiros usos que eles fizeram de sua mentalidade em formação foi treinar animais para
agirem como perseguidores, durante a caçada.

Uma vez despertado o elemento de luta, em breve os homens começaram a utilizar armas
ofensivas uns contra os outros. As causas de agressão eram, naturalmente, idênticas àquelas que
hoje existem nas comunidades selvagens. A posse de qualquer objeto desejável por um de seus
semelhantes era motivo suficiente para um homem tentar toma-lo à força. Tampouco a luta se
limitava a atos individuais de agressão. Como ocorre entre os atuais selvagens, bandos de
saqueadores podiam atacar e pilhar as comunidades que viviam em aldeias distantes das suas. A
guerra na Lemúria, porém, nunca foi além dessas proporções, conforme fomos informados,
mesmo no fim de sua sétima sub-raça.

Estava destinado aos atlantes desenvolver o esquema de combate em linhas organizadas - reunir
e treinar exércitos e construir esquadras. Na verdade, este esquema de combate foi a
característica fundamental da Quarta Raça-Raiz. Durante todo o período atlante, como
sabemos, a luta armada foi a ordem do dia, e travavam-se constantes batalhas terrestres e
navais. E esse princípio de luta tornou-se tão profundamente arraigado na natureza humana
durante o período atlante que, mesmo hoje, a mais intelectualmente desenvolvida das raças
áricas está militarmente preparada para lutar entre si.

As artes

Para traçar o desenvolvimento das artes entre os lemurianos, temos de começar pela história da
quinta sub-raça. A separação dos sexos estava, então, totalmente concluída e o homem habitava
um corpo inteiramente físico, embora ainda de estatura gigantesca. A guerra ofensiva e
defensiva com os monstruosos animais carnívoros já se iniciara e os homens começaram a
viver em cabanas. Para construí-las, abatiam árvores e empilhavam-nas de maneira rude. A
princípio cada família vivia isolada na sua própria clareira aberta na selva, mas logo
descobriram que, para se defenderem das feras, era mais seguro agruparem-se e viverem em
pequenas comunidades. As cabanas, que eram feitas com rudes troncos de árvores, passaram a
ser construídas com pedras grandes e arredondadas, enquanto as armas com que atacavam ou se
defendiam dos dinossauros e de outras feras eram lanças de madeira afiada, semelhantes ao
bastão que o homem, cujo aspecto foi descrito anteriormente, empunhava.

Até essa época, a agricultura ainda não era conhecida e a utilidade do fogo não havia sido
descoberta. O alimento de seus ancestrais sem ossos, que se arrastavam pela terra, eram coisas
que eles podiam encontrar no chão ou logo abaixo da superfície do solo. Agora que andavam
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eretos, muitas das árvores silvestres proviam sua subsistência com nozes e frutas, mas seu
aumento principal era a carne dos animais que matavam, retalhavam e devoravam.

Mestres da raça lemuriana

Ocorreu então um evento significativo, cujas consequências foram muito importantes para a
história da raça humana. Um evento, aliás, de grande significado místico, pois seu relato traz à
luz Seres que pertenciam a sistemas de evolução inteiramente diferentes e que, não obstante,
vieram, nessa época, juntar-se à nossa humanidade.

O lamento dos Lhas, "que não tinham construído homens", ao verem suas futuras moradas
contaminadas é, à primeira vista, dificilmente compreensível. Embora a descida desses Seres
nos corpos humanos não seja o evento principal que temos a referir, devemos tentar, antes, uma
explicação de sua causa e consequência. Ora, tudo leva a crer que esses Lhas eram a
humanidade mais altamente desenvolvida de algum sistema de evolução que completara seu
curso numa época pertencente a um passado infinitamente remoto. Eles tinham alcançado um
elevado estágio de desenvolvimento em seu conjunto de mundos e, desde sua dissolução,
passaram os séculos intermediários na bem-aventurança de algum estado nirvânico. Mas seu
karma necessitava agora de retornar a algum campo de ação e de causais físicas e, como ainda
não tinham aprendido inteiramente a lição da compaixão, sua tarefa temporária consistia então
em tornarem-se guias e mestres da raça lemuriana, que nessa época precisava de toda ajuda e
orientação que eles pudessem dar.

Contudo, outros Seres também se dedicaram à tarefa - neste caso, voluntariamente. Vieram do
esquema de evolução que tem Vênus como seu único planeta físico. Esse esquema já alcançou
o Sétimo Ciclo de seus planetas no seu Quinto Manvantara; sua humanidade, portanto,
encontra-se num nível muito mais elevado do que o alcançado pelos homens comuns deste
planeta. Eles são "divinos", ao passo que somos apenas "humanos". Os lemurianos, como vi-
mos, estavam então apenas a um passo da autêntica natureza humana. Foi para suprir uma
necessidade temporária - a educação da nossa humanidade infantil - que esses Seres divinos
vieram - assim como nós, possivelmente daqui a séculos, também poderemos ser designados
para prestar ajuda a seres que, em Júpiter ou Saturno, tenham dificuldade em atingir a natureza
humana. Sob sua orientação e influência, os lemurianos rapidamente atingiram o
desenvolvimento mental. A atividade de suas mentes, com sentimentos de amor e reverência
para com aqueles que reconheciam ser infinitamente mais sábios e mais poderosos que eles,
naturalmente fez surgir tentativas de imitação; assim, o desenvolvimento necessário quanto ao
crescimento mental foi conquistado, o que transformou o revestimento mental superior num
veículo capaz de transportar as características humanas de uma vida a outra, garantindo desse
modo essa expansão da Vida Divina que dotou o receptor com a imortalidade individual.
Segundo as palavras das antigas Estâncias de Dzyan, "Então todos os homens foram dotados de
Manas".

Contudo, deve-se registrar uma significativa diferença entre a vinda dos Seres sublimes do
esquema de Vênus e a daqueles descritos como a humanidade mais altamente desenvolvida de
algum sistema anterior de evolução. Os primeiros, como vimos, não estavam sob nenhum
estímulo kármico. Vieram como homens, para viver e trabalhar entre eles, mas não lhes era
exigido que assumissem suas limitações físicas, estando em condições de se munirem de
veículos que lhes fossem apropriados.
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Por outro lado, os Lhas precisavam realmente nascer nos corpos da raça, tal como esta
existia então. Melhor teria sido, tanto para eles como para a raça, se não tivesse havido
hesitação ou demora da parte deles em se dedicarem à sua tarefa kármica, pois o pecado dos
sem-mente teria sido evitado, bem como todas as suas consequências. Além disso sua tarefa
teria sido bem mais fácil, pois consistia não só em procederem como guias e mestres, mas
também em aperfeiçoarem o tipo racial - em suma, em desenvolverem a forma semi-humana,
semi-animal, então existente, no futuro corpo físico do homem.

E preciso lembrar que, até então, a raça lemuriana era constituída pelos segundo e terceiro
grupos de Pitris Lunares. Mas agora que eles estavam se aproximando do nível alcançado pelo
primeiro grupo de Pitris na cadeia lunar, tornava-se-lhes necessário retornar de novo à
encarnação, o que eles fizeram durante as quinta, sexta e sétima sub-raças (na verdade, alguns
só foram nascer no período atlante), de modo que o impulso dado ao progresso da raça foi uma
força cumulativa.

As posições ocupadas pelos seres divinos da cadeia de Vênus eram, naturalmente, as de


governantes, instrutores de religião e professores de artes, e é nesta última qualidade que uma
alusão às artes por eles ensinadas vem ajudar este nosso estudo da história dessa antiga raça.

As artes continuaram

Sob orientação de seus divinos mestres, o povo começou a aprender o uso do fogo e os meios
pelos quais podiam obtê-lo, a princípio, através da fricção e, mais tarde, pelo uso de pederneiras
e ferro. Foi-lhes ensinado a explorar metais, a fundi-los e a moldá-los e, em vez de madeira
pontuda, eles agora começavam a usar lanças com ponta de metal pontiagudo.

Também lhes foi ensinado cavar e arar o solo e a cultivar as sementes do grão silvestre até
aprimorá-los. Esse aperfeiçoamento, levado a cabo, através das vastas épocas que decorreram
desde então, resultou na evolução dos vários cereais que hoje possuímos -cevada, aveia, milho,
painço, etc. Contudo, deve-se registrar aqui uma exceção. O trigo não foi desenvolvido neste
planeta, como os outros cereais. Foi um presente dos seres divinos, que o trouxeram de Vênus,
já pronto para servir de aumento ao homem. Mas o trigo não foi o único presente. A única
espécie entre os animais, cujo tipo não foi desenvolvido em nossa cadeia de mundos, é a
abelha. Também ela foi trazida de Vênus.

Em seguida, os lemurianos começaram a aprender a arte de fiar e tecer tecidos com os quais
faziam suas roupas. Estas eram fabricadas com o áspero pêlo de alguma espécie de animal hoje
extinto, mas que guardava certa semelhança com os atuais lhamas, dos quais foi,
provavelmente, o ancestral. Como já vimos, as vestes primitivas do homem lemuriano eram
mantos de pele tirada dos animais que ele matava. Nas regiões mais frias do continente, essas
vestes ainda eram usadas, mas agora ele aprendera a curtir e a adornar a pele, embora de modo
rudimentar.

Uma das primeiras coisas ensinadas ao povo foi o uso do fogo no preparo do alimento e, quer
se tratasse da carne de animais que matavam ou de grãos de trigo triturados, seu modo de
cozinhar era bastante idêntico ao que sabemos existir hoje entre as comunidades selvagens.
Com referência ao presente do trigo, tão maravilhosamente trazido de Vênus, os governantes
divinos sem dúvida perceberam as vantagens de, imediatamente, produzir esse alimento para o
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povo, pois sabiam que levaria muitas gerações antes que o aperfeiçoamento das sementes
silvícolas pudesse fornecer um suprimento adequado.

Durante o período das quinta e sexta sub-raças, o povo era rude e bárbaro, e os que tiveram o
privilégio de entrar em contato com seus mestres divinos foram, naturalmente, insuflados com
sentimentos de reverência e culto, a fim de serem ajudados a erguerem-se acima do seu estado
selvagem. Além disso, a constante afluência de seres mais inteligentes, vindos do primeiro
grupo de Pitris Lunares, que estavam então iniciando seu retorno à encarnação, ajudou na ob-
tenção de um estado mais civilizado.

Grandes cidades e estátuas

Durante o período mais recente, correspondente às sexta e sétima sub-raças, eles aprenderam a
construir grandes cidades. Sua arquitetura parece ter sido ciclópica, correspondendo aos corpos
gigantescos da raça. As primeiras cidades foram construídas naquela extensa região
montanhosa do continente que, como pode ser visto no primeiro mapa, incluía a atual ilha de
Madagáscar. Uma outra grande cidade é descrita em A Doutrina Secreta21 como tendo sido
inteiramente construída de blocos de lava. Ela ficava a uns 50 km a oeste da atual ilha de
Páscoa e posteriormente foi destruída por uma série de erupções vulcânicas. As estátuas
gigantescas da ilha de Páscoa - medindo, em sua grande maioria, cerca de 8 m de altura por 2,5
m de largura - provavelmente foram projetadas para representar não só as feições mas também
a altura dos que as esculpiram ou, talvez, as de seus ancestrais, pois é provável que as estátuas
tenham sido erguidas nos últimos séculos dos atlantes-lemurianos. Pode-se observar que,
durante o período do segundo mapa, o continente do qual a ilha de Páscoa fazia parte fora
fragmentado e a própria ilha de Páscoa tornara-se uma ilha comparativamente menor, apesar
das dimensões consideravelmente grandes que ela conserva hoje em dia.

Civilizações de relativa importância surgiram em diferentes partes do continente e das grandes


ilhas, onde os habitantes ergueram cidades e viveram em comunidades organizadas; grandes
tribos, porém, que também eram parcialmente civilizadas, continuaram a levar uma vida
nômade e patriarcal, ao passo que, outras regiões do

21. Vol. II, p. 317.

território - em muitos casos, as menos acessíveis, como em nosso tempo - foram povoadas por
tribos de tipo extremamente inferior.

Religião

Com uma raça de homens tão primitiva, no melhor dos casos, havia muito pouco a lhes ser
ensinado no campo da religião. Algumas regras simples de conduta e os preceitos mais
elementares de moralidade eram tudo o que eles podiam compreender ou praticar. É verdade
que, durante a evolução da sétima sub-raça, seus instrutores divinos ensinaram-lhes uma forma
primitiva de culto e transmitiram-lhes o conhecimento de um Ser Supremo, cujo símbolo era
representado pelo sol.
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Destruição do continente

Ao contrário do destino da Atlântida, que foi submersa por enormes vagalhões, o continente da
Lemúria pereceu pela ação vulcânica. Foi devastado pelas cinzas ardentes e pela poeira incan-
descente de inúmeros vulcões. Terremotos e erupções vulcânicas, é verdade, introduziram cada
uma das grandes catástrofes que surpreenderam a Atlântida, mas depois que a terra foi sacudida
e dilacerada, o mar avançou impetuosamente e completou o trabalho, e a grande maioria dos
habitantes morreu afogada. Os lemurianos, por outro lado, pereceram principalmente
queimados ou asfixiados. Outro contraste marcante entre o destino da Lemúria e o da Atlântida
foi que, enquanto quatro grandes catástrofes completaram a destruição desta última, a Lemúria
foi lentamente devastada por incêndios que se espalharam pelo continente, pois, a partir do
instante em que o processo de desintegração começou, até o fim do período do primeiro mapa,
não houve interrupção da atividade causticante e, numa parte ou noutra do continente, a ação
vulcânica permaneceu constante, e a consequência inevitável disso foi o afundamento e o
desaparecimento total do território, assim como aconteceu com a ilha de Krakatoa, em 1883.

A erupção do monte Pelée, que causou a destruição de Saint-Pierre, a capital da Martinica, foi
tão parecida com as séries de catástrofes vulcânicas do continente da Lemúria que uma
descrição fornecida por alguns sobreviventes dessa ilha pode ser interessante: "Uma imensa
nuvem negra irrompeu subitamente da cratera do monte Pelée e precipitou-se com incrível
velocidade, sobre a cidade, destruindo tudo - habitantes, casas e vegetação - que encontrava em
seu caminho. Em dois ou três minutos ela atravessou a cidade, que se transformou num monte
de ruínas em chamas. Em ambas as ilhas [Martinica e São Vicente] as erupções caracterizaram-
se pela súbita liberação de imensas quantidades de poeira incandescente, misturada com vapor,
que desceu pelas íngremes encostas com velocidade sempre crescente. Em São Vicente, essa
poeira acumulou-se em muitos vales, atingindo uma profundidade de mais ou menos 30 a 60 m
e, meses após as erupções, ainda estava muito quente, e as chuvas pesadas que então caíram
sobre ela causaram enormes explosões, produzindo nuvens de vapor e poeira que se projetavam
a uma altura de 450 até 600 m, enchendo os rios de lama negra e fervente." O capitão Freeman,
do Roddam, falou da "impressionante experiência que ele e seu grupo tiveram na Martinica.
Uma noite, quando estavam numa pequena chalupa, ancorados a cerca de um quilômetro e
meio de Saint-Pierre, a montanha explodiu de uma forma que, aparentemente, era uma exata
repetição da erupção original. Não foi inteiramente sem aviso; por isso, eles puderam navegar,
imediatamente, de 2 a 3 km para mais longe, o que, provavelmente, os salvaria. Na escuridão,
viram o pico incandescer com uma brilhante luz vermelha; logo em seguida, com explosões
estrondosas, enormes pedras incandescentes foram projetadas e rolaram pelas encostas. Após
alguns minutos, ouviu-se um longo ruído retumbante e, logo a seguir, uma avalanche de poeira
incandescente precipitou-se para fora da cratera e rolou pela encosta com uma velocidade,
segundo eles, de aproximadamente 160 km por hora, com uma temperatura de 1.000°C. Quanto
à provável explicação destes fenômenos, o capitão Freeman disse que não foi vista lava alguma
jorrando dos vulcões, mas apenas vapor e uma fina poeira quente. Os vulcões eram, portanto,
do tipo explosivo; e de todas as suas observações, ele concluiu que a ausência de derramamento
de lava devia-se ao fato de o material do interior da cratera ser parcialmente sólido ou, pelo me-
nos, bastante viscoso, de modo que não podia fluir como uma torrente comum de lava. Desde o
regresso do capitão Freeman, esta teoria tinha recebido impressionante confirmação, pois sabia-
se então que, no interior da cratera do monte Pelée, não havia nenhum lago de lava derretida,
mas que um sólido pilar de rocha incandescente estava se erguendo lentamente, formando um
grande monte cônico, pontiagudo, até elevar-se, finalmente, acima do antigo cume da
montanha. Sua altura era de, aproximadamente, 300 metros e crescera lentamente, à medida
que fora forçado para cima pela pressão de baixo, enquanto, de vez em quando, ocorriam
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explosões de vapor, desalojando grandes pedaços de seu topo ou de suas encostas. O vapor
era liberado do interior dessa massa à medida que ela esfriava e, nesse momento, a rocha
entrava num estado perigoso e altamente explosivo, de modo que, cedo ou tarde, teria de
ocorrer uma explosão que despedaçaria uma grande parte dessa massa, convertendo-a numa
poeira fina e incandescente".22

Uma consulta ao primeiro mapa lemuriano mostrará que, no lago situado a sudeste da extensa
região montanhosa, havia uma ilha cujas dimensões não ultrapassavam as de uma grande
montanha. Essa montanha era um vulcão muito ativo. As quatro montanhas que se encontravam
a sudoeste do lago também eram vulcões ativos, e foi nessa região que começou a dilaceração
do continente. Os cataclismos sísmicos que se seguiram às erupções vulcânicas causaram ta-
manho estrago que, durante o período do segundo mapa, uma grande porção da parte sul do
continente estava submersa.

22. The Times, 14 de setembro de 1903.

Uma característica marcante da superfície do território nó começo da época lemuriana era o


grande número de lagos e pântanos, bem como os inúmeros vulcões. O mapa, naturalmente,
não registra todos esses detalhes, mas apenas algumas das grandes montanhas que eram
vulcões e alguns dos maiores lagos.

Um outro vulcão, na costa nordeste do continente, começou seu trabalho de destruição


numa data remota. Os terremotos completaram a dilaceração e parece provável que o mar
indicado no segundo mapa, penteado de pequenas ilhas a sudeste do atual Japão, indique a
área dos distúrbios sísmicos.

Pode-se observar, no primeiro mapa, que havia lagos no centro do atual continente insular
da Austrália - lagos onde a terra hoje se mostra bastante seca e crestada. Durante o período
do segundo mapa, esses lagos desapareceram e parece natural supor que, durante as
erupções dos grandes vulcões situados a sudeste (entre as atuais Austrália e Nova
Zelândia), as regiões onde esses lagos se encontravam devem ter sido de tal modo
devastadas pela poeira vulcânica incandescente que as inúmeras nascentes secaram.

Origem da raça atlante

Em conclusão deste esboço, uma alusão ao processo pelo qual a Quarta Raça-Raiz surgiu
será bastante apropriada para encerrarmos aquilo que conhecemos acerca da história da
Lemúria, encadeando-se à história da Atlântida.

Como já foi registrado por outras obras anteriores que abordaram esta matéria, o núcleo
destinado a se tornar a nossa grande Quinta Raça-Raiz ou árica foi escolhido a partir da
quinta sub-raça, ou raça semítica, da Quarta Raça-Raiz. Contudo, não foi antes da época da
sétima sub-raça na Lemúria que a humanidade se desenvolveu o bastante,
psicologicamente, para justificar a escolha de indivíduos aptos a se tornarem os pais de uma
nova Raça-Raiz. Assim,, foi da sétima sub-raça que se deu a segregação. A princípio, a
colônia se instalou na região hoje ocupada pelo Achanti e pela Nigéria ocidental. Uma
consulta ao segundo mapa mostrará essa região como um promontório situado a noroeste
da ilha-continente, abrangendo o cabo da Boa Esperança e partes da África ocidental.
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Tendo sido resguardada, por gerações, de qualquer mistura com um tipo mais inferior, a
colônia viu o número de seus habitantes aumentar gradualmente, até chegar a época em que
estava pronta a receber e a transmitir o novo impulso à hereditariedade física, que o Manu
estava destinado a revelar.

Os estudiosos de Teosofia estão cientes de que, até hoje, ninguém pertencente ao nosso
gênero humano teve condições de incumbir-se da sublime função de Manu, embora esteja
determinado que o estabelecimento da futura Sexta Raça-Raiz será confiado à orientação de
um dos nossos Mestres de Sabedoria - aquele que, embora pertencendo ao nosso gênero
humano, atingiu, não obstante, um nível bastante elevado na Hierarquia Divina.

No caso em consideração - o estabelecimento da Quarta Raça-Raiz -, foi um dos Adeptos,


vindo de Vênus, que se incumbiu dos deveres de Manu. Naturalmente, ele pertencia a uma
ordem bastante elevada, pois deve-se compreender que, dos Seres que vieram do sistema de
Vênus como governantes e mestres da nossa humanidade ainda infantil, nem todos se
encontravam no mesmo nível. É esta circunstância que fornece uma razão para o notável
fato que, a título de conclusão, pode ser mencionado - a saber, que existiu, na Lemúria, uma
Loja de Iniciação.

Uma loja de iniciação

Naturalmente, a Loja não foi fundada com o objetivo de beneficiar a raça lemuriana.
Alguns deles, suficientemente desenvolvidos, foram, é verdade, ensinados pelos Gurus
Adeptos, mas a instrução de que necessitavam limitava-se à explicação de alguns
fenômenos físicos, tal como o fato de que a Terra se move ao redor do sol, ou à explicação
do aspecto diferente que os objetos físicos assumiam quando expostos, alternadamente, à visão
física e à visão astral.

A Loja foi fundada, naturalmente, em benefício daqueles que, embora dotados com os
extraordinários poderes de transferir sua consciência do planeta Vênus para a nossa Terra e de
munir-se, enquanto aqui permaneciam, de veículos apropriados às suas necessidades e ao
trabalho que deviam executar, estavam ainda seguindo o curso de sua própria evolução.23 Em
seu benefício - em benefício daqueles que, tendo iniciado o Caminho, haviam alcançado apenas
os graus mais inferiores, foi que se fundou essa Loja de Iniciação.

Embora, como sabemos, a meta da evolução normal seja muito maior e mais gloriosa do que,
do nosso atual ponto de vista, se pode conceber, ela não é, de modo algum, sinônimo daquela
expansão de consciência que, associada à purificação e ao enobrecimento do caráter - e que só
através dessa associação se toma possível -, constitui as alturas às quais conduz o Caminho da
Iniciação.

A investigação acerca do que representa essa purificação e enobrecimento do caráter, bem


como o esforço para compreender o que essa expansão de consciência realmente significa, são
assuntos que foram tratados em outras obras.

Por ora, basta assinalar que o estabelecimento de uma Loja de Iniciação em benefício de Seres
que vieram de um outro esquema de evolução é uma indicação da unidade de objetivos e de
propósitos no governo e na orientação de todos os esquemas de evolução criados pelo nosso
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Logos Solar. Além do curso normal do nosso próprio esquema, há, nós sabemos, um
Caminho pelo qual Ele pode ser diretamente alcançado, o qual, a cada filho de homem, em seu
progresso através dos tempos, é permitido ser informado e, se assim escolher,

23. As alturas por eles alcançadas terão seu correspondente quando a nossa humanidade, daqui a um período de tempo
incalculável, tiver alcançado o Sexto Ciclo da nossa cadeia de mundos e, nessa época longínqua, os mesmos poderes
transcendentes serão usufruídos pelo mais comum entre os homens.

trilhá-lo. Achamos que também foi assim no esquema de Vênus, e presumir que é ou será assim
em todos os esquemas que fazem parte de nosso sistema Solar. Este Caminho é o Caminho da
Iniciação e o fim a que ele conduz é idêntico para todos, e esse fim é a União com Deus.

FIM

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