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A AFETIVIDADE NUMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E

MÉDIO DE CAMPO LARGO


Luciane do Rocio Durigan
Emérico Arnaldo de Quadros
lucianelu@univeb.com.br

Trabalho apresentado na 7ª semana pedagógica 2010 – Entre a educação e a inclusão e I


Encontro de Psicologia e Educação: Implicações no processo de ensino aprendizagem
(realizado pelo departamento de Educação da Fafipar, Paranaguá. ISSN 2177-546X
Na escola, um bom ajustamento afetivo se torna condição necessária ao
pleno desenvolvimento do aluno. Para que esta se torne um ambiente favorável, o
professor tem um importante papel, pois a forma como o professor se relaciona
com o aluno reflete nas relações do aluno com o conhecimento e nas relações
aluno-aluno. Nessa relação afetuosa entre professor e aluno, o professor não
pode perder de vista a tarefa de formação de um ser humano crítico e capaz de
intervenções na sociedade. Essa tarefa muitas vezes pode se tornar um desafio,
pois a grande maioria dos professores teve uma formação que não levou em conta
esses aspectos da aprendizagem e fica difícil enxergar o aluno em sua totalidade
e concretude. Sabe-se através da vivência do dia a dia escolar desta
pesquisadora que as inúmeras situações vividas pelos educadores e alunos no
cotidiano escolar, tendem gerar um clima de tensão e muito desgaste.
Professores e alunos levam para a sala de aula uma história de vida, as
influências de seu grupo, seu estado emocional. Seus processos afetivos foram
construídos ao longo de sua história pessoal, inserida numa condição histórico-
cultural específica.
É preciso estabelecer uma sintonia para que as conquistas sejam obtidas
de ambos os lados. Aspectos como a comunicação, que desenvolve a escuta, a
empatia e o entusiasmo; como a motivação, que eleva o interesse, o engajamento
e a confiança; como a autonomia, que permite a criatividade, flexibilidade e a
capacidade de adaptação; perseverança, paciência e otimismo, proporcionam
uma aprendizagem significativa e estimulam a inteligência emocional para essa
aprendizagem.
Estamos vivendo num momento de inquietações. As relações sociais estão
sendo influenciadas pelos meios de comunicação e das novas tecnologias que
nos incentivam ao consumismo, ao imediatismo e ao individualismo. Os ritmos de
vida estão acelerados. A vida cotidiana no espaço pedagógico é influenciada por
essa atmosfera.
Faz-se necessário que o cotidiano da escola, leve alunos a construírem
personalidades mais autônomas, justas e solidárias, a serem mais conscientes de
si e de seus próprios sentimentos, a construírem uma vida pessoal e coletiva mais
feliz.
Tem-se observado um desvio nesse percurso quando verificamos
professores extremamente desmotivados, aulas maçantes e alunos
desinteressados e com baixo rendimento escolar, fruto de pouco interesse e
empenho e não por dificuldades de aprendizagem.
Na experiência profissional desta pesquisadora como pedagoga,
apresentaram-se como surpreendentes algumas atitudes de alunos e professores
que se referiam ao outro como verdadeiros inimigos a serem vencidos,
desconsiderando-se totalmente os aspectos de cumplicidade que é essencial na
relação de professor-aluno para uma aprendizagem significativa.
O desafio é identificar as possíveis causas desses desencontros na relação
professor e alunos e indicar alternativas para que haja harmonia entre as partes e
êxito nos objetivos propostos no processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, o
professor tem a difícil tarefa de numa diversidade de relações existentes no dia a
dia de uma escola, estimular o desejo de aprender.
Na visão de Sobral:
“Quando o professor se dispõe a ensinar e o aluno a aprender, vai se formando
uma corrente de elos afetivos que propicia uma troca entre ambos, onde a
motivação, a boa vontade e o cumprimento dos deveres acabam deixando de ser
tarefas árduas para o aluno. Criatividade, interesse e disposição para esclarecer
dúvidas, funcionam como estímulo para o professor” (SOBRAL, 2007, p.4)
O objetivo dessa pesquisa é identificar os motivos pelos quais alunos
entram em sintonia no processo educativo e indicar quais os aspectos do trabalho
docente considerados importantes pelos alunos em sua vida escolar.
Metodologia e Resultados
Foi aplicado um questionário com questões abertas e fechadas a 113
(cento e treze) alunos de um Colégio Estadual de Ensino Fundamental e Médio,
em Campo Largo, sendo 56 (cinqüenta e seis) alunos de duas 5ª séries do Ensino
Fundamental no período da tarde e 57 (cinqüenta e sete) alunos de dois 2º anos
do Ensino Médio no período da manhã. A pesquisa foi realizada em novembro de
2009. Após a aplicação do formulário, obtiveram-se os seguintes resultados: nas
quintas séries ao serem perguntados sobre o melhor professor que tiveram, a
maior incidência de respostas ( 21 alunos) apontou para o professor da 4ª série,
sendo seguido da 5ª série, com 16 citações. No 2º ano do Ensino Médio, 11
alunos responderam que o melhor professor que já tiveram foi na série em que
estavam estudando no ano de 2009, ou seja, no 2º ano do Ensino Médio, sendo
citados também professores da 7ª e 8ª com 7 respostas para cada série.
Em relação a matéria que este professor “especial” lecionava, nas 5ª séries
obteve-se que a maioria os alunos (32 anos) situou todas as das séries iniciais,
isto porque nas séries iniciais um único professor é responsável por todas as
matérias da grade curricular. Nos 2º anos do Ensino Médio a maioria (12 alunos)
também optou por citar todas as matérias do Ensino Fundamental, porém a
disciplina de história também foi muito citada, sendo lembrada por 11 alunos.
Ao recordarem sobre o seu melhor professor e o que mais lhes chamam a
atenção, os alunos da 5ª série responderam em sua maioria (24 alunos) que ele
era legal. ”Legal” é difícil de definir, porém em segundo lugar o fato de ser
brincalhão foi citado por 14 alunos. Outras lembranças que apareceram foram:
carinho, bondade, alegria, felicidade, explicar bem as matérias, dentre outras.
Para os alunos do 2º ano do Ensino Médio, 14 alunos lembram-se de seu
professor “especial” como uma pessoa brincalhona, alegre, com carisma e bom
humor. O fato do professor dar boas explicações, ter facilidade para ensinar foi
apontado por 11 alunos. Outras características foram lembradas: paciência,
vontade de ensinar, simpatia, afeto, dentre outras.
Numa questão fechada (alternativa “sim” e “não”) sobre as características
de um professor especial, os alunos das 5ª séries apontaram para: ele era
exigente, costumava cobrar tarefas e atividades, explicava bem a matéria, não
ficava conversando outros assuntos fora do conteúdo da aula, era pontual, quase
não faltava. A maioria dos alunos (49 alunos) discordou da afirmação que o
professor sempre dava um jeito deles ficarem ser fazer nada e 47 alunos
discordaram que o professor “especial” dava nota para todo mundo. Houve
incidência da maioria das respostas afirmando que o professor “especial” dava
exemplos do dia a dia, era brincalhão, costumava passar tarefa para casa, era
amigo de todos os alunos, pedia opinião dos alunos, usava metodologias
diferentes em suas aulas. Os alunos concordaram que a maioria ficava quieta
durante as explicações e que o professor ouvia os alunos, sempre os elogiando e
que alguma vez conversou com alunos em situações fora de sala de aula. A
maioria assinalou “não” para as alternativas: era criterioso e muito detalhista nas
avaliações, era sério, não demonstrava emoções, demonstrava que mandava na
sala e deixava que os alunos andassem pela sala. Houve unanimidade entre os
alunos da 5ª série pesquisados ao afirmar que o professor “especial” demonstrava
amizade pelos alunos.
Na mesma questão os alunos do 2º ano do Ensino Médio assinalaram na
maioria “sim” para as alternativas: era exigente, costumava cobrar tarefas e
atividades, explicava bem as matérias, era pontual, quase não faltava, dava
exemplos do dia a dia, era brincalhão, era sério, não demonstrava emoções,
costumava passar tarefa para casa, era amigo de todos os alunos, pedia opinião
aos alunos, usava metodologias diferentes em suas aulas, a maioria dos alunos
ficava quieta durante as explicações, sempre elogiava os alunos e alguma vez
conversou com alunos em situações fora de sala de aula. Na alternativa “não”, a
maioria dos alunos apontou para as questões de que o professor sempre dava um
jeito dos alunos ficarem ser fazer nada, que ele deixava os alunos andarem pela
sala de aula e que ele dava nota para todo mundo. Diferentemente dos alunos da
5ª série, a maioria dos alunos do Ensino Médio citou que o professor “especial”
ficava conversando outros assuntos, fora do conteúdo de aula, que era criterioso e
exigente nas avaliações, demonstrava que mandava na sala. Dois pontos devem
ser destacados: na alternativa “demonstrava amizade pelos alunos” apenas 2
alunos do total assinalaram “não”, o que representa uma grande maioria para a
resposta “sim” e na alternativa “sabia ouvir os alunos” apenas um aluno assinalou
o “não”, o que representa quase a unanimidade.
Numa questão aberta onde os alunos teriam que descrever as
características de um professor considerado especial, a maioria dos alunos da 5ª
série, 28 alunos, afirmou que é explicar bem a matéria; ser brincalhão foi citado
por 20 alunos, ser legal por 13 alunos e fazer atividades diferentes em sala de
aula foi lembrada por 11 alunos. Outras características foram citadas: ter bom
humor, pedir opinião para os alunos, ser amigo dos alunos, ter calma e paciência,
dentre outras.
Ao descreverem as características de um professor considerado especial, a
maioria dos alunos do Ensino Médio (21 alunos) citou como dar aulas
descontraídas, ser brincalhão, extrovertido. Explicar bem a matéria foi apontado
por 13 alunos, ser amigo dos alunos por 10 e saber ouvir os alunos por 9 alunos.
Outras características foram lembradas: adotar metodologias diferentes, ter
criatividade, ter autoridade, dominar a turma, ser simpático, ajudar o aluno, dentre
outras.
Ao serem perguntados sobre a maior dificuldade no relacionamento
professor-aluno, a maior incidência das respostas foi para o aluno que não presta
atenção nas aulas, faz bagunça, não respeita o professor (33 respostas).
Professores que gritam, xingam, não respeitam os alunos, que tem mau humor
foram citados por 23 alunos. Outras citações a respeito do professor também
devem ser consideradas: professor que não dá atenção para o aluno, professor
que não explica direito, professor chato e “grosso”, professor que não chama a
atenção dos alunos, que cobra a tarefa mesmo sem o aluno entendê-la, professor
que fala mal de aluno.
Sobre a mesma questão, dificuldade no relacionamento entre professor-
aluno, 8 dos alunos pesquisados do 2º ano do Ensino Médio apontaram para a
falta de respeito entre aluno/ professor e professor/aluno, 7 alunos citaram o fato
do professor querer mandar na sala de aula, 5 alunos afirmaram ser o fato dos
professores não ouvirem os alunos, 4 descreveram sobre a antipatia entre
professor e aluno e outros 4 sobre professores sem tolerância , com mau humor.
Outras características foram descritas: muita exigência, que não foi definida por
parte de quem; falta de educação dos alunos, falta de paciência do professor se o
aluno não sabe algo, misturar os problemas pessoais com profissionais,
grosserias, recusa do professor em dar explicações, falta de liberdade entre
professor e aluno, o professor não gostar da matéria que leciona, falta de
autoridade entre professor e aluno, diferença de idade entre professor e aluno
(diferença entre gerações), falta de interesse do professor, dentre outras.
A partir da apresentação dos dados é possível perceber que o professor
das séries iniciais é marcante para o aluno, pois foi grande a incidência desse
professor como o melhor que os alunos já tiveram. Esse fato deve-se, com
certeza, ao tempo que esses professores têm com os alunos e consequentemente
maior vínculo, pois na maioria das escolas esses professores são responsáveis
por ministrar todas as disciplinas da matriz curricular. Estando mais tempo com os
alunos, é possível criar laços de afeto, confiança e amizade que certamente fazem
a diferença no processo ensino-aprendizagem.
Quando recordam o melhor professor, o que mais chama a atenção dos
alunos é que ele era “legal”. A qualidade legal é difícil de definir, porém se
observarmos que logo em seguida aparecem as características: brincalhão,
alegre, carinhoso, bondade, felicidade, podemos constatar que a alegria é uma
característica importante para os alunos. Paulo Freire afirma que a alegria é
indispensável no espaço pedagógico:
“É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como
amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria,
gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência
na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura
à justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista”.(FREIRE,
2009,p.120)
É importante cuidar para que a sala de aula tenha um ambiente acolhedor.
Vygotsky afirma que “do ponto de vista psicológico, o mestre é o organizador do
meio social educativo, o regulador e o controlador de sua interação com o
educando”. (VYGOTSKY, 2004, p.65). Segundo o autor, quando fazemos algo
com alegria, vamos continuar tentando fazer a mesma coisa, contudo se fazemos
algo com repulsa, no futuro procuraremos por todos os meios, interromper essa
ocupação.
Os alunos da 5ª série responderam em sua unanimidade que um professor
“especial” demonstra amizade pelos alunos e na 2ª série apenas 2 alunos do total
não assinalaram essa opção. Os educadores devem ver os educandos não como
nomes na lista de chamada, mas como indivíduos com potencialidades e
históricos diferentes, indivíduos com sentimentos. O aluno é fruto de um tempo e
espaço histórico e isso não pode ser negligenciado. O educador deve ver o aluno
como um ser em formação, um ser que possui sentimentos, afetos, percepções. O
relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de troca, de
solidariedade.
É impossível realizar um trabalho de qualidade onde não existe respeito
mútuo entre os envolvidos. Na escola, seria interessante que fosse usada uma
metodologia dialógica, onde fosse trabalhada a cooperação e a vivência em grupo,
onde fosse incentivado o confronto pacífico das idéias entre professor e aluno.
Nesse sentido, Gadotti explica
“O educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na
posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de
quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é
portador do conhecimento mais importante: o da vida”. (GADOTTI,
1999, p.2)
Ao serem perguntados sobre a maior dificuldade no relacionamento entre
professor e aluno, os alunos de 5ª série citaram o aluno que não presta atenção,
que faz bagunça e não respeita o professor. A escola com seus instrumentos: giz
e quadro negro, não consegue atrair os alunos que estão mergulhados num
mundo de tecnologia e mídia. Quando o professor não diversifica suas técnicas de
ensino, propõe trabalhos desinteressantes, exagera nas aulas expositivas e sem
atrativos acaba gerando desinteresse e baixo rendimento dos alunos. Muitas
vezes o aluno não consegue estabelecer um significado para aquilo que está
aprendendo.
Com relação a indisciplina dos alunos, Abrahim (2009) afirma que na
maioria das vezes, ela surge da falta da perspicácia do professor em cativar seus
alunos. Porém, segundo a autora, ninguém é indisciplinado porque gosta, por
opção ou por vontade, as pessoas reagem segundo reflexos do meio em que se
encontram. Para Abrahim, as causas mais comuns de indisciplina dos alunos são:
classes numerosas, instalações materiais inadequadas, falta de laboratórios, de
oficinas e de materiais didáticos e humanos, preparação deficiente de diretores,
falta de didática dos professores, impontualidade do professor. Outras causas
teriam origem no próprio comportamento do aluno que podem ser de ordem
biológica, social ou psicológica. De acordo com a autora, causas de natureza
biológica poderiam ser a desnutrição, esgotamento físico, verminose,
hipertireodismo, problemas visuais e auditivos. As de natureza social poderiam ser
o nível social da família (ou muito alto, ou muito baixo), a abdicação da família
quanto às suas responsabilidades educativas e a influência dos inúmeros veículos
de comunicação que pregam um realismo ilusório e excessiva liberdade de
expressão. As causas de origem psicológica são as de ordem emocional como a
perda de um ente querido, separação dos pais e ainda os distúrbios neurológicos,
déficits de inteligência, imaturidade perceptomotora.
Ainda sobre a questão da maior dificuldade no relacionamento entre
professor e aluno, os alunos também citaram os professores que gritam, xingam,
não respeitam os alunos, com mau humor, professor chato e “grosso”, professor
que fala mal dos alunos e também a recusa do professor em dar explicações.
Essas afirmações dos alunos nos remetem a uma preocupação, pois no processo
de mediação que o professor exerce na relação que estabelece com o aluno, as
posturas, gestos e conteúdos verbais são determinantes e têm implicações diretas
no aluno, tanto no nível cognitivo, quanto no afetivo. Uma frase mal formulada ou
maldosa do professor pode ter claras implicações na autoestima do aluno. A
autoestima pode ser entendida como os sentimentos derivados da avaliação que o
indivíduo faz sobre si mesmo.
Nesse sentido, Prandini afirma:
“... autoestima e autoconceito da pessoa do aluno estão fortemente relacionados
com que o aluno sente como aprendente. Trabalhar a autoestima significa,
então, fazer com que ele aprenda, perceba que aprendeu, sinta orgulho de ter
aprendido e,a partir daí, sinta-se capaz de aprender mais.” (PRANDINI,2004,p.38)
Muitas vezes o professor é a única pessoa que pode reconhecer no aluno
um ser dotado de sonhos, desejos e vontade de mudar a história de sua
existência.
Mais significativo que um beijo do professor, é saber que o professor
identifica seu trabalho entre vários na sala de aula, que a conhece entre tantos e
demonstra se preocupar com seu desempenho. Tratar o aluno com afeto não
significa tratá-lo com beijos, abraços ou procurando agradá-lo, pois a afetividade
não se restringe apenas no contato físico. Como salienta Dantas (1993) conforme
a criança vai se desenvolvendo, as trocas afetivas vão ganhando complexidade,
as manifestações da “afetividade da lambida”, substituem-se por outras de
natureza cognitiva, tais como o respeito e a reciprocidade
Exemplos de atitudes com afetividade seriam conversar com o aluno fora
da sala de aula, oferecer-lhe ajuda quando achar necessário, elogiar quando for
preciso, fazer com que o aluno observe que alguém está percebendo sua
existência na sala de aula e no mundo. Nessa relação de afetividade ganham o
professor e o aluno.
A má vontade do professor em dar explicações obriga muitas vezes, ao
aluno com interesse, a tirar dúvidas com colegas. Ao aluno com pouca motivação,
é mais um motivo para afastar-se do conteúdo ensinado, levando cada vez mais a
apatia para a sala de aula. Assim acontece o “pacto da mediocridade”: o professor
finge que ensina e o aluno finge que aprende. Um conteúdo mal explicado ou
explicado com má vontade pode refletir em aversões para a vida acadêmica do
aluno.
O uso do autoritarismo fragiliza a relação. Professores que controlam o
grupo com atitudes arbitrárias, que não sabem exercer a autoridade em sala de
aula, usando de elementos como provas difíceis ou notas baixas para exercer
controle sobre os alunos, prevalecendo a lei do mais forte sobre o mais fraco
estão prejudicando a aprendizagem de seus alunos. Para um relacionamento que
leve á aprendizagem é preciso que haja a prática democrática e uma estreita
interação com os alunos. O aluno que se sente aceito pelo professor manifesta
entusiasmo e interesse pelos estudos.
Os professores que dominam mal o conteúdo trabalham muitas vezes
inseguros. E sem cair no generalismo, podemos citar alguns professores
acadêmicos que ainda não cursaram as disciplinas da licenciatura e assumem
turmas sem o devido preparo. O aluno percebe a fragilidade do professor e
começa a testá-lo emocionalmente e até mesmo em questões do conteúdo. O
interesse do aluno aparece quando o professor conhece o que está ensinando,
que há espaço para a flexibilidade do pensamento, no convívio com a diversidade
e a tolerância.
O ato de ensinar requer um envolvimento por parte do professor nos
aspectos cognitivos e afetivos dos alunos. Requer recursos humanos, materiais
suficientes, um Projeto Político Pedagógico construído de forma coletiva e
coerente após profunda reflexão de todos os envolvidos neste processo. Contudo
não podemos esquecer que a função do professor é ensinar e a do aluno é
aprender e que não existe aluno ideal. Professores que gostam do que fazem e
que são comprometidos com sua profissão, são entusiastas e servem de
referência para os alunos. Com certeza despertarão o prazer pela descoberta do
conhecimento, levando os alunos a autorealização, a fim de construir um mundo
mais justo, onde haja respeito entre as pessoas, colaborando com a natureza e
com o convívio entre as pessoas.
Referências

ABRAHIM, Daniele Salvalagio. A relação professor-aluno: uma história de


amizade. 2009. 79f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Paulista
“Júlio de Mesquita Filho! – UNESP, 2009.

DANTAS, Heloysa. Emoção e ação pedagógica na infância: contribuição de


Wallon. Temas em Psicologia, Sociedade Brasileira de Psicologia, São Paulo, n.3,
p. 73-76, 1993

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à Prática


Educativa. 39 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1999.
PRANDINI, R. C. A. R. A constituição da pessoa: integração funcional. In
MAHONEY, A. A. ; ALMEIDA,L. R. (orgs.) A constituição da pessoa na
proposta de Henri Wallon, S.P., Ed. Loyola,2004.

SOBRAL, Maria de Lourdes. A influência da afetividade no ambiente


pedagógico. Interfaces de saberes, vol. 7, n.2, 2007. Disponível em
http://veterinariosnodiva.com.br/books/afetividade-ambiente-pedagógico.pdf. Acesso em
16 de out.2009.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia Pedagógica. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,


2004.

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