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DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
INTRODUÇÃO.
1 – A Firmeza da Fé.
1 – A Igreja Primitiva.
2 – A Reforma.
3 - A América Latina.
IV - BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO.
1 – A FIRMEZA DA FÉ.
A justificação pela fé provoca no cristão a segurança da salvação já
alcançada pelo trabalho de Cristo. Ela possui o caráter de firmar o cristão no
caminho de Jesus. Promove, ainda, a convicção frente aos desafios provocados
pela missão. Essa firmeza se torna, então, no princípio básico da vida cristã.
Aulén nos faz perceber que o homem volta-se para Deus e isto o leva a se
comprometer com Ele, de modo que seu crer não é simplesmente porque lhe dá
vantagens, mas porque lhe dá disposição a não negar o amor divino.
"É evidente para a fé que a atividade do amor divino não pode ser
julgada ou avaliada segundo padrões humanos. Não cabe ao homem
decidir, a partir do ponto de vista do seu próprio poder, o que é e o que
não é obra do amor divino. A fé sabe muito bem que o amor divino
pode esconder-se na ira, malgrado esta pareça diametralmente oposta
àquele. Não se atreve a interpretar os modos de agir do amor divino
baseado no desenvolvimento histórico. Não esquece que Deus não só
é Deus revelado mas também o Deus que, nas circunstâncias da vida
terrena, se esconde do homem. A firmeza da fé, apegando-se ao amor
divino não obstante o testemunho dos eventos terrenos, tem sempre
um tom de apesar de."
Vê-se com clareza que o cristão depende totalmente de Deus e não pode
pensar em ser autor de sua própria salvação pelas obras. Pelo Espírito Santo e pelo
efeito da redenção de Cristo ele aprende a agir nesta dependência e torna-se capaz
de agir fazendo o bem, o que a lei não fazia; significa renunciar a toda força humana
para depender somente da força de Deus para entrar na prática da fé pelos
desafios: da missão, do serviço, da ação social, etc.
A motivação é tão importante quanto a ação, pois Deus não está apenas
interessado em que fazemos, mas o porquê fazemos, isto em razão de que o cristão
pode estar cheio de atividades, mas se elas são geradas por motivações erradas
nada valem. Assim, a motivação para o serviço deverá ser buscada com muito
cuidado e ponderação, agindo somente pela ação do Espírito Santo.
O hino que Paulo consagra a Cristo em Fl 2:6-11 nos mostra que Cristo veio
como servo, manifestou sua preocupação com a salvação de todos os homens e do
homem como um todo. Este exemplo divino revela em primeiro lugar, a sua
importância; em segundo lugar que este exemplo divino deve ser seguido por todo
"cristão" que tem sua vida em Cristo, manifestando o mesmo espírito de serviço. A
motivação certa para o serviço é a humildade com o próximo.
Jesus Cristo é o maior exemplo de servo, "pois o próprio Filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos" (Mc
10:45). E além de ser exemplo ensina a humildade e serviço e diz a seus discípulos:
"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também." (Jo
13:15). Assim o Senhor quer que a motivação para o serviço esteja Nele e todos são
convidados a seguir seu exemplo.
"A capacidade de fazer boas obras de algum modo não provém dos
crentes, mas inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que sejam
para isso habilitados, além da graça que já receberam, é necessário
que recebam a influência efetiva do mesmo Espírito Santo para operar
neles tanto o querer como o realizar segundo o seu beneplácito;
contudo, não devem por isso torna-se negligentes, como se não
fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos
especialmente pelo Espírito; pelo contrário, devem esforçar-se por
dinamizar a graça de Deus que está neles."
3 - SOMOS A JUSTIÇA DE DEUS
Este termo justiça sofreu muitas alterações através do tempo, até chegar-se à
sua compreensão. “Justiça, no Antigo Testamento, é libertar os fracos e oprimidos.
Ora, ser justo é pegar o que está embaixo e colocar no mesmo nível dos de cima,
quando há um grande desnível. Assim, ser justo é favorecer o lado mais fraco. É
libertar os oprimidos”. Também encontramos esta evolução no Novo Testamento e
em toda a doutrina social da igreja primitiva.
1 – A IGREJA PRIMITIVA.
Outro aspecto que podemos ver no livro de Atos, que mostra a Igreja Primitiva
como uma igreja justificada, também retra as ações econômicas de forma
organizada Atos fala da ação de por em comum tudo o que os irmãos possuíam:
"Vendiam suas propriedades e seus campos e partilhavam o resultado entre todos
segundo as necessidades de cada qual" (At 2,44; cf. At 4,34). Este livro cita, em
particular, o caso de Barnabé, que possuía um campo: vendeu-o e deu a soma aos
Apóstolos (Atos 4,36-37). Seu nome refletia seu caráter, sua fé, sua vida justificada,
um líder cristão que era notável pela sua bondade (11:24).
A interpretação desta ação de por em comum os bens é difícil. Podemos
entendê-la como uma instituição de ação social para auxiliar os indigentes em suas
necessidades, a maneira comum da assistência social na Sinagoga. Isso faz alusão
ao serviço das viúvas (At 2:6,1). Lucas parece fazer referência a algo mais, a uma
verdadeira caixa comum onde os cristãos depositavam suas ofertas . Isso nos
parece hoje menos impressionante, pois descobrimos que tal uso existia entre os
sadocitas (saduceus). Já vimos como a narração de Lucas assume certo colorido
essênio. É possível que se tenha inspirado na descrição da comunidade de Qumrân.
Devemos considerar que essa experiência não dura muito tempo, pois a
igreja de Jerusalém vai depender das igrejas gentílicas, mas essa dependência,
segundo Champlin, dá-se devido ao fato de serem elas vítimas das perseguições
que os crentes judeus sofrem, e assim eles têm seus bens confiscados e
desmanteladas as suas fontes de ganho.
"Diakonea é um termo geral para serviço, ele não é específico, a não ser que
receba um adjetivo como "pastoral", "social", político", 'médico" ou outro.
Todos os cristãos, sem exceção, sendo seguidores daquele que veio "não para
ser servido, mas para servir", são chamados para ministrar, ou melhor, para
darem suas vidas em ministério."
A igreja Primitiva aprendeu o ensino de Jesus pelo qual todos são chamados
a servir ao próximo. E é neste sentido que eles imitaram a Cristo, pois serviram com
liberalidade. O apóstolo Paulo dá um passo decisivo para o avanço missionário
mostrando sua concepção social na evangelização. Sua teoria e prática reflete, em
primeiro lugar por nações que estão distantes, e necessitam serem alcançadas, e
em segundo lugar pelo tratamento que dá aos pobres. Todos seus programas vão
derivar destes dois aspectos.
Paulo se apresenta em sua tarefa missionária sem nenhum prestígio que possa lhe
conferir superioridade, ou seja, Paulo esconde-se de sua cultura para se identificar com o
povo. Este era o ponto de partida, pois os pobres o eram tanto de bens materiais como
também de cultura. Sua condição não lhes permitia acesso à cultura grega. Assim, a opção
que Paulo e foi justamente daquilo que ele iria ensinar. Deus rejeita o poder da cultura e
escolhe aqueles que são mais fracos, para confundir os sábios (1Co 1:27). É um fato inegável
sua preocupação com os pobres (Gl 2:9-10). Desta forma, ensina a liberdade, faz dos cristãos
servos uns dos outros pela caridade (Gl 5:13). E, para o apóstolo, a lei de Deus é a caridade,
esta simbolizando o serviço mútuo, o amor a Deus e ao próximo.
Todos estes argumentos nos mostram que a igreja primitiva se preocupava com as
necessidades das pessoas, tinham não apenas o desejo de levar o reino de Deus adiante, mas
entendeu que para ser igreja justificada precisava ser instrumento de justificação, por isso na
sua prática assumiu à sua responsabilidade de fazer ação social.
2 – A REFORMA.
Todos estes argumentos mostram que Lutero lutou para que os necessitados
fossem amparados e que, pela fé, o cristão estivesse livre das exigências da Lei.
Mas nem todos os protestantes concordaram com essa função tão limitada, dizendo
que é inadequada para suas necessidades. E também não podem negar a
preocupação que Lutero teve com os mais fracos e desamparados, e que o cristão
justificado se torna livre para poder, através da fé, viver uma vida de serviço
decorrente do amor a Deus.
Calvino tem como princípio básico nesta área que em Cristo não há mais nem
escravos nem livres, pois Cristo aboliu todas as divisões de classes. Isso significa
que o cristão vive a fé autêntica quando toma consciência da influência do seu meio
social, mas ainda assim encontra seus irmãos numa fraternidade que exclui toda
discriminação. Por isso Calvino considera que na escala de valores de Deus não há
nenhuma correspondência entre o valor espiritual e o valor moral de um homem e
sua riqueza ou pobreza. Bieler comenta o seguinte pensamento de Calvino: "Somos
todos ricos em relação a alguém. O rico tem uma missão econômica de providenciar
ao mais pobre parte de sua riqueza, de tal maneira que o pobre deixa de ser pobre e
ele mesmo deixe de ser rico."
Esta igualdade pregada pelo reformador tem como objetivo levar os membros
do corpo de Cristo à restauração social do mundo, uma vez que pela fé o crente em
Cristo está restaurado na sua dignidade de filho de Deus, reconstitui sua justa
relação com o próximo. Calvino devolve ao cristianismo a comunhão espiritual que
Cristo estabelece entre os membros de seu corpo, fazendo com que estes supram
as necessidades uns dos outros. Esta igualdade é da vontade de Deus. Conforme
Calvino,
"A vontade de Deus é que haja tal analogia e igualdade entre nós.
Cada um socorra os indigentes na medida de suas possibilidades, a
fim de que alguns não sofram necessidades enquanto outros têm em
supérflua abundância".
A preocupação de Calvino de que a igreja tivesse esta prática fez com que ele
recriasse o serviço diaconal, assim como era na igreja primitiva. Mas sempre
advertiu que todos são responsáveis uns pelos outros. Esta preocupação diaconal
da Reforma fica clara com o comentário de Bieler;
3 - A AMÉRICA LATINA.
Sabemos que ainda há muito para ser feito, pois há um abismo entre os ricos
e os pobres na América Latina. Por isso, queremos mostrar os sinais presentes na
igreja protestante da América Latina, que assumiu seu chamado de ser igreja
justificada e sua presença no meio do povo tem significado muito importante para as
classes menos desfavorecidas. Este fato é histórico e que não se pode negar, pois
dificilmente encontraremos um lugar onde o protestantismo chegou, onde os
missionários não tenham lutado para diminuir a injustiça mediante trabalhos sociais.
Citamos como exemplos o estabelecimento de hospitais, orfanatos, asilos, alívio da
fome e numerosos trabalhos que são do conhecimento comum e até hoje não
cessaram. Portanto estas são evidências de que, apesar das dificuldades e
divergências que a igreja enfrentou, sua presença está marcada pela fé que
testemunha a ação de Deus através desta igreja justificada.
Neste sentido o Dr. Russel Shedd chama a atenção dizendo que a teologia da
libertação vai ocupar um espaço nesta época, pelo fato do não-envolvimento dos
cristãos conservadores ou melhor os evangélicos, terem se retirado dos campos
evangelisticos, uma vez que não se mostram consistentes na experiência interior e
que, agora depois de um tempo, começa renovar-se a preocupação com a justiça
social.
Assim, nesta exposição colocamos apenas alguns fatores para afirmar que os
cristãos precisam voltar a mostrar estas características que marcaram a
evangelização protestante na América Latina.
Como resultado deste trabalho a Igreja passou a ocupar uma posição melhor na
comunidade, já que este ficou conhecido pela ampla divulgação na imprensa. Aumentou
também o número de participantes na igreja.
Sabemos que não iremos resolver os graves problemas que eles enfrentam na escola,
no lar e na sociedade, mas com certeza esta pequena contribuição será a oportunidade que
muitos destes menores terão para mudarem o curso de suas vidas com uma nova perspectiva.
Londrina é uma cidade com quase quinhentos mil habitantes, de acordo com
o último Censo de 1991, do IBGE, a cidade possui 52,0 % de suas crianças
morando em lares com renda de até um salário mínimo mensal, 27,9% destas
crianças moram em favelas dentro da cidade, e mais 14,7% em favelas rurais.
Considerando também a condição inadequada de água, esgoto, energia elétrica,
temos outras famílias em situação um pouco melhor mas que enfrentam da mesma
forma, dificuldades econômicas, que afetam diretamente a formação educacional de
seus filhos.
Desta forma, diakoneo era uma palavra muito empregada na época de Jesus,
e a igreja guardou essa palavra grega para designar responsabilidades sociais. A
igreja primitiva vai instituir o ofício dos diáconos, anos posteriores ao da narrativa de
Atos 6, pois esta passagem é precursora do ofício diaconal. E a este respeito
Nordstokke escreveu:
"Neste texto de Atos, os sete escolhidos para "diaconar" às mesas não
são chamados de diáconos. Suas atividades também não se
restringiram a este trabalho específico, porque vemos alguns, mais
tarde, se destacando na diaconia da palavra. Por isso, também não
podemos indicar esta passagem Bíblica como fundamentação para a
instituição do ministério diaconal público, contínuo e representativo de
hoje".
O cristianismo nasce com esta idéia de que o serviço tinha como importância
e função edificar o Corpo. Assim, a diversidade nos serviços, que correspondem às
adversidades de serviços (1Co 12:4). Paulo emprega didasko em Rm 12:7,
referindo-se a que um cargo, dentro da igreja, é um Dom. Paulo emprega a palavra
grega charisma significando um revestimento pessoal com a graça de Deus para o
serviço do Corpo de Cristo, para a edificação, multiplicando o amor, a esperança e a
fé. Ou seja o significado deste revestimento espiritual especial para a vida da
comunidade, têm os aspectos que olham para dentro, e outros que olham para fora.
Como diz Ray C Stedman: “A clara intenção de Deus é que através da igreja
verdadeira o mundo possa ver Jesus Cristo em ação”. Todos os dons na igreja estão
a serviço da vida e é assim que cada membro deste corpo é útil.
Existe uma diferença entre diaconia e ação social, que deve ficar clara: a
Diaconia é serviço e tem fundamento na fé, no exemplo de Jesus Cristo; já a ação
social ou assistência social, tem como ação profissional técnica com dimensões
políticas, apoiam-se em teorias e práticas. Ação social muitas vezes tem se
transformado em ações paternalistas, relacionadas apenas com primeiras damas, e
a assistência social é dever do Estado, mas tem sido feita também por organizações
não governamentais que trabalham na perspectiva social.
É necessário que a igreja justificada reflita sobre estas duas ações, uma vez
que para fazer o serviço social da igreja seja necessário a parte técnica e prática.
Podemos dizer que a igreja tem que ter o cuidado de saber qual o tipo de
assistência que o povo necessita, a fim de que ela não caia no erro de ser
paternalista, mas sim transformadora.
Vê-se então que o cristão justificado que está ativamente preocupado com a
justiça social não se preocupa apenas com o "sagrado", mas também com o
"secular". Sua preocupação com a comunidade é tão abrangente quanto a de Jesus.
John Stott completa esta idéia dizendo que o cristão que ama seu próximo não fica
apenas conversando, planejando e orando, como os religiosos, mas sai a serviço do
seu próximo para promover-lhe tanto o suprimento espiritual quanto o físico.
Uma das coisas que torna relevante a justificação pela fé consiste no tipo de
visão que ela nos dá do mundo. A justificação inspira esperança básica na vida.
Havendo esperança, esta se transforma em serviço. Esta ação gerada nos leva ao
mundo para ajudarmos as pessoas a se alimentarem do verdadeiro "Pão", o Cristo
que não está na cruz, que tendo morrido uma vez pelo pecado, agora vive. Em
outras palavras, uma vida justificada leva o "Pão da vida" ao mundo.
IV – BIBLIOGRAFIA
ALVES, Rubens. História da Teologia na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1981.
COLEMAN, Willian L. Manual dos Tempos e Custumes Bíblicos. Belo Horizon-te: Betania,
1991, Pg 171 e 172.
LEWIS, Norman. VO Ide é Com Você.. São Paulo: Leitor Cristão, 1967.
MARSHAL, I. Howard. Atos dos Apóstolos. São Paulo: Mundo Cristão, 1985
OLIVEIRA, Aureo R. Igreja e Seus Ministérios. São Paulo: Reformanda. Vl. II, 1990.
SHEDD, Russel. A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida Nova,
1984.
STEDMAN, Ray C. Igreja Corpo Vivo de Cristo. São Paulo: Mundo Cristão, 1987.
STOTT, Jhon R.W. O Cristão em uma Sociedade não Cristã. São Paulo: Betânia, 1989.