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ROBERT W. OLSON — Secretário do Ellen G. White Estate em Washington, D.C.

1888: Desfecho,
Frutos e Lições
Foi a sessão de 1888 boa ou ruim za, e creio que estas reuniões resultarão em
para a Igreja? grande bem. Não conhecemos o futuro, mas
Como podeis beneficiar-vos das sentimos que Jesus está ao leme e não
reações e conselhos de Ellen White? naufragaremos.”4
Havia outros que viam tanto o lado positivo
como o negativo da sessão. Três semanas
sessão da Associação Geral realiza­ após o término desta, W. C. White escreveu

A da em Mineápolis, Minnesota, em
ao recém-eleito presidente da Associação Ge-
ral, que ainda estava na Europa: “Os delega­
1888, transformou-se no maior ponto decisidos
vo da história da Igreja Adventista do Sétimo
­ que ficaram até o fim da reunião levaram
impressões bastante diversas. Muitos acha­
Dia. Nossa mudança de rumo efetuou-se va­ vam que foi uma das reuniões mais proveito­
garosamente durante os três anos que se se­ sas a que já haviam assistido; outros, que ela
guiram à conferência. Durante esse tempo, os foi a conferência mais infeliz já realiza­
persistentes esforços de Ellen White, A. T. Jo­ da.”5 **
nes e E. J. Waggoner ajudaram a levar a Igreja Sem dúvida, aquela sessão levou a reações
do espírito de debate e do legalismo de anos diversas. Alguns achavam que a sessão foi
precedentes, para um realce sobre a justifica­ ruim — muito ruim. Outros, que foi boa — mui-
ção pela fé na justiça de Jesus Cristo. to boa. O que tornou a reunião tão má? e o
Essa mudança de direção, porém, não foi que a tornou tão boa?
resultado da conferência de Minnesota. Em
muitos sentidos, o encontro de Mineápolis foi
um desastre. A Igreja foi ao fundo, espiritual­ * Todas as citações dos manuscritos e car­
mente, naquela sessão. Ellen White tas de E. G. White deste artigo foram tirados
considerou-a “a mais triste experiência de mi- da obra em quatro volumes: Ellen G. White
nha vida”1 e "a mais dolorosa prova de mi- 1888 Materiais, publicada em 1987 pelo El-
nha vida”.2 É a única sessão da Associação len G. White Estate, Washington, D.C.
Geral, na história adventista, que foi assinala­ ** Todas as citações de cartas deste arti-
da por rebelião aberta contra Ellen White por go, não pertencentes a E. G. White, são tira­
parte de um grande número de nossos minis- das da obra em dois volumes: 1888 Supple-
tros. Ela chegou ao ponto de perguntar a si mentary Materiais, publicada em 1988, pelo
mesma se Deus não iria chamar ainda outro Ellen G. White Estate, Washington, D.C.
movimento. Com respeito a muitos dos dele­
gados, declarou ela: “Como reformadores O lado negativo
eles haviam saído das igrejas denominacio­
nais, mas agora desempenhavam um papel Durante vários anos, antes do início da ses­
semelhante ao que as igrejas desempenha­ são, desenvolveram-se entre dois grupos de
ram. Esperávamos que não houvesse neces- líderes da Igreja, diferenças pessoais e animo-
sidade de outra saída.”3 * sidades. Os irmãos de Battle Creek eram lide­
Em que pese, porém, a sua profunda an­ rados por George I. Butler, presidente da As­
gústia pelo espírito de descrença manifesta­ sociação Geral, e Uriah Smith, editor da Re­
do por muitos, Ellen White previu com confian- view and Herald. Do lado desses homens es­
ça que de algum modo o Senhor venceria, e tavam vários presidentes de associação, em
muitos benefícios adviriam do encontro. Em particular os Pastores R. M. Kilgore de Illinois,
4 de novembro, no último dia da conferência, J. H. Morrison de Iowa, R. A. Underwood de
ela escreveu a sua nora: “Já falei aproxima­ Ohio e I. D. Van Horn de Michigan, bem co-
damente umas vinte vezes com muita franque- mo certo número de luzes menores.
4 O MINISTÉRIO/MAIO.JUN./1988
O outro grupo era dirigido por E. J. Wag­ que distribuiu aos delegados, quando estes
goner e A. T. Jones, que serviam não só co- se reuniram em Battle Creek para a sessão da
mo co-editores da Signs of the Times, mas Associação Geral, em novembro daquele ano.
também como professores de Bíblia no Nesse opúsculo, Butler escreveu: “O escritor
Healdsburg College. Entre seus amigos esta­ admite considerável surpresa que durante o
vam W. C. White, S. N. Haskell e C. H. Jones. último ano, ou talvez dois anos, o assunto (da
Iniciaimente, as divergências entre estes lei em Gálatas) se tenha tornado bem salien­
dois grupos giravam em torno da interpreta- te, nas instruções dadas aos que se estão pre­
ção de duas passagens das Escrituras. Os ir- parando no Healdsburg College para traba-
mãos do leste criam que os hunos fossem um lhar na Causa; também nas lições impressas
dos dez reinos de Daniel 7, e que a lei “orde­ no lnstructor, destinadas a nossas Escolas Sa­
nada” de Gálatas 3:19-25 era o sistema ceri­ batinas fora do país, e em inúmeros outros ar­
monial judaico. Os irmãos do oeste, por outro tigos argumentativos na Signs of the Times,
lado, eram favoráveis aos Alemanni em lugar nossa revista missionária pioneira, levando as-
dos Hunos, e afirmavam que a lei ordenada sim estes pontos de vista amplamente ao pú-
em Gálatas era a lei moral. blico leitor que não está familiarizado com a
O fato de Waggoner e Jones serem com­ nossa fé. Dessa maneira, ingentes e repetidos
parativamente jovens — na faixa dos trinta — esforços têm sido feitos no sentido de afirmar
enquanto Butler e Smith estavam na casa dos que a lei moral é o assunto de que trata o
cinqüenta, serviu para exacerbar a situação. apóstolo nos textos mais salientes de seu ar­
Butler achava impossível crer que aqueles gumento na carta aos Gálatas....
dois “jovens inexperientes, que haviam aca­ “Protestamos resolutamente contra a apre-
bado de sentar-se na cadeira editorial, pudes­ sentação de pontos de vista controvertidos da
sem entender melhor a Bíblia do que ele.6 maneira indicada, concernentes a assuntos
A indisposição entre os dois lados começou sobre os quais nosso povo não está de
quando Waggoner publicou seu ponto de vis- acordo.”10
ta sobre Gálatas 3, em Signs of the Times de Na Conferência Geral de 1886, uma comis-
11 de setembro de 1884. Sua explicação de são teológica de nove membros foi indicada
que a lei ordenada era o código moral, con­ para estudar o ponto em discussão, o que eles
trariava frontalmente a interpretação aceita por fizeram imediatamente. Alguma coisa da ten­
Butler e Smith, bem como pela maioria dos ad- são produzida entre os dois grupos de líde-
ventistas daquele tempo. Acontece que o pai res da Igreja pode ser percebida pela carta
de E. J. Waggoner, J. H. Waggoner, havia to- de Butler a Ellen White, escrita logo depois do
mado posição semelhante 30 anos antes. O encerramento da reunião. “O irmão E. J. Wag­
Pastor Waggoner defendera em 1845 que goner continuava... alimentando o conflito”,
“nem uma só declaração” de Gálatas “referia- escreveu ele. “Foi organizada a comissão teo­
se à lei cerimonial ou lei levítica”. A epístola, lógica. ... Quatro ficaram a favor do Signs:
escreveu ele, “trata tão-somente da lei Haskell, Whitney, Wilcox e Waggoner, e cin­
moral”.7 co contra: Smith, Canright, Covert, J. H. Mor­
Aparentemente, Ellen White pôs fim à pri- rison e eu. tivemos um debate de várias ho­
meira controvérsia, ao afirmar que a interpre­ ras, mas nenhum dos lados ficou convencido.
tação de Waggoner estava errada.8 Durante A questão era se deveriamos levar isto à
as próximas três décadas a questão da lei em Conferência e envolver em luta um grande pú-
Gálatas não recebeu muita atenção; ao me- blico ou não. Não pude recomendá-lo, pois
nos o assunto não provocou nova polêmica. achei que seria mais desastroso e resultaria
Smith, Butler e os demais estavam certos de apenas em acaloramento e debate.”11
que Gálatas 3:19 se referia ao sistema cerimo­ A confrontação pública não pôde ser total-
nial. Criam também que Ellen White defendia mente evitada naquela reunião; passou-se
este ponto de vista, uma vez que ela havia re­ uma resolução dirigida a Waggoner, enquanto
jeitado a posição de J. H. Waggoner.9 outra foi anulada. A conferência votou pedir
Agora o Waggoner mais moço, em certo aos editores adventistas “que não permitissem
sentido havia tirado a luva e deliberadamen­ que pontos de vista não defendidos por uma
te reviveu a controvérsia. Ele esboçou sua po- expressiva maioria de nosso povo... fossem
sição numa série de nove artigos publicados publicados em nossas revistas denominacio­
na revista Signs de 8 de julho a 2 de setem­ nais, como se fossem as doutrinas aceitas por
bro de 1886. Butler sentiu-se provocado. Ele este povo, antes que fossem examinados e
considerou os artigos uma afronta a sua lide- aprovados pelos irmãos experientes da
rança. Resolveu pôr fim à questão de uma vez liderança”.12
na sessão da Associação Geral de 1886. De Contudo, a resolução de Butler, que apela­
pressa, produziu um panfleto de 85 páginas, va para que houvesse uma censura da Signs
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pelo fato de ter publicado os nove artigos so­ mos dois dias examinando a história dos
bre Gálatas no começo daquele ano, foi rejei­ diversos reinos que desempenharam uma
tada. Butler lamentou: “Por justa razão, acho parte no desmembramento de Roma; e um
que ela devia ter sido aprovada, mas seria dia, no exame da Lei em Gálatas do Pastor
muito desagradável para o irmão Haskell e al- Butler, e outros tópicos que tratam dessa
guns outros, que fosse dita ainda que uma só questão, no término dos quais o Pastor Wag­
palavra, dizendo que a Signs havia cometido goner leu alguns manuscritos que ele prepa­
erro.’’13 rara em resposta ao panfleto do Pastor Bu­
Num esforço para conseguir unidade e um tler. ... No final de nosso estudo, o Pastor
pouco de paz, Ellen White, que estava na Eu- Waggoner perguntou-nos se seria correto que
ropa, escreveu aos contendores, tanto de um ele publicasse seus manuscritos, e na próxi­
lado como do outro e lhes apontou as falhas. ma Conferência Geral os colocasse nas mãos
Ela levou Waggoner e Jones a procurarem de- dos delegados, como o fez o Pastor Butler
senvolver suas idéias diante dos alunos de com os seus. Achamos que seria correto, e
Healdsburg College e a publicá-las para o o animamos a mandar imprimir 500
mundo.14 Depois, seis semanas mais tarde, exemplares.”18
após ler as primeiras páginas do panfleto de Com o apoio de seus irmãos, Waggoner pu­
Butler sobre Gálatas, Ellen White o admoes­ blicou seu livro The Gospel in the Book of Ga­
tou: “Acho que você foi muito contun­ latians (O Evangelho no Livro de Gálatas), e
dente.’’15 levou consigo um bom suprimento quando foi
Como deferência a Ellen White, a sessão da para Mineápolis.
Associação Geral de 1887 foi realizada em Oito semanas antes da conferência iniciar-
Oakland, Califórnia, a apenas uns dez quilô­ se, Ellen White instou com seus irmãos para
metros de sua casa em Healdsburg. Evitou- que se lembrassem do seu cristianismo na
se a discussão pública sobre a questão de Gá- próxima reunião. Aos “irmãos que se reuni­
latas, mas, de acordo com o Pastor Butler, rão na Associação Geral”, escreveu ela: “Que
houve algumas discussões particulares sérias cada alma se despoje agora da inveja, do ciú­
sobre o assunto. Ele informou mais tarde a El- me, da ruim suspeita, e mantenha o coração
len White: "Na Conferência Geral de Oakland em íntima união com Deus. Se todos fizerem
no último ano ele (Waggoner) reuniu-se em isso, terão a arder-lhes no altar do coração
particular com alguns dos nossos ministros pa- aquele amor do qual Cristo lhes falou. Todos
ra falar sobre este assunto e leu-lhes uma lon­ os grupos terão a bondade e a ternura cris­
ga análise que preparara, baseada no meu tãs. Não haverá nenhuma contenda; pois os
panfleto, e procurou por todos os meios en­ servos de Deus não devem contender....
genhosos que pôde, introduzir seu ponto de “A correta interpretação das Escrituras não
vista sobre o assunto.... Não tenho nenhuma é tudo o que Deus requer. Ele não Se com­
evidência de que o Pastor E. J. Waggoner ou praz apenas em que conheçamos a verdade,
aqueles que o seguem tenham a idéia de de­ mas... devemos pôr em prática, no trato com
sistir, mas penso que eles ainda se propõem os nossos semelhantes, o Espírito daquele que
a lutar por isso até um fim amargo.”16 nos deu a verdade.”19
A discussão pública da questão de Gálatas De qualquer maneira, formou-se um concei­
e outros pontos controvertidos já não podia to errado quanto aos temas a serem apresen-
agora ser evitada. Na verdade, no início de tados na reunião que precedería a Conferên­
1887 Ellen White já a havia reconhecido co- cia Geral. De acordo com W. C. White, Butler
mo inevitável. Ela disse a Butler naquela oca- lhe escrevera uma carta na qual “dava uma
sião: “A questão agora já foi exposta de ma- lista dos assuntos que ele achava que deve­
neira tão plena perante o povo, por vós mes- riam ser levados em consideração. Entre es­
mos e também pelo Dr. Waggoner, que deve tes, mencionava especialmente os dez reinos
ser enfrentada ampla e diretamente em dis­ e a lei de Gálatas.... O Pastor Butler se es­
cussão aberta.... Distribuístes vosso panfle­ queceu, e não admite que tenha escrito tal car-
to; é natural que o Dr. Waggoner tenha tam- ta em alguma ocasião.’’20
bém uma oportunidade, da mesma forma que Waggoner e Jones vieram bem preparados
tivestes. Acho que nem tudo é ordenado por com sua munição teológica e histórica, mas,
Deus. Mas irmãos, não devemos cometer ne- por alguma razão, Uriah Smith e seus com­
nhuma injustiça”.17 panheiros não fizeram nenhum preparativo es-
Em julho de 1888, na preparação para a pecial. Trouxeram, contudo, várias centenas
reunião de Mineápolis, Waggoner, Jones, W. de cópias do panfleto de Butler sobre Gála-
C. White e mais alguns ministros da Califór­ tas, as quais distribuíram entre os
nia, reuniram-se por vários dias em um retiro delegados.21
na montanha. W. C. White escreve: “Passa­ Infelizmente, o apelo de Ellen White em fa-
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vor da bondade e compaixão foi grandemen­ a sessão começar, por causa da conhecida
te ignorado, quando a comissão ministerial se amizade que sabiam existir entre seu filho e
reuniu na quarta-feira, 10 de outubro, uma se- Waggoner e Jones. Eles estavam certos de
mana antes da sessão de abertura da Asso- que ela fazia parte da “conspiração” da Cali-
ciação Geral. As palestras de Jones sobre os fórnia. Essas desconfianças se lhes confirma­
dez reinos, apresentadas no segundo dia da ram na mente quando ela apoiou fortemente
reunião, resultaram em discussões que às ve- a Waggoner em suas mensagens sobre justi­
zes se tornavam acrimoniosas. Serena, a irmã ficação pela fé. Foi responsabilizada pela as­
White confiava em que um bom espírito vies­ sociação. A respeito dessa mudança de ati-
se afinal a prevalecer. No sábado à noite, 13 tude para com ela, escreveu Ellen White: “Era
de outubro, ela pregou sobre o amor de Deus evidente que nossos irmãos estavam desilu­
e depois fez apelo para testemunhos. “Mui- didos. Eles haviam perdido a confiança na ir­
tos deram testemunho”, escreveu ela, “de mã White, não porque a irmã White houvesse
que aquele foi o dia mais feliz de sua vida.... mudado, mas porque outro espírito se apode­
Aquela foi uma ocasião de refrigério para mui- rara deles e os controlava.”25
tas almas, mas ele não continuou em A irmã White caracterizou a atitude do gru-
alguns.”22 po Butler-Smith como rebelião. Ela declarou:
Ellen White culpou tanto o Pastor Butler co- “A posição e a obra que Deus me confiou nes­
mo o Pastor Smith por obstruírem o caminho, ta conferência foram menosprezadas por qua-
de maneira que a verdade e a luz fossem tra­ ze todos. A rebelião foi geral. Seu curso foi um
tadas como hóspedes indesejáveis. Às insulto ao Espírito de Deus.”26
2:30 h da manhã de 15 de outubro, ela es- “Os irmãos têm gracejado, criticado, co­
creveu a Butler: “Não me sinto nenhum pou- mentado, desmerecido, apanhado e escolhi­
co constrangida em dizer que foi trazido para do um pouco e recusado muito, até que os
esta reunião, não um espírito de esforço para testemunhos não significassem nada mais pa-
obter a luz, mas de obstrução do caminho, pa- ra eles.”27
ra que não penetre um raio nos corações e A rejeição de Ellen White foi seguida pela
mentes do povo, mediante algum outro con­ rejeição de tudo o que ela defendia, incluin­
duto que não seja aquele que decidistes ser do as apresentações de Waggoner sobre jus-
o conduto apropriado.”23 tificação pela fé. A Butler, escreveu ela: “De
Quando a comissão ministerial foi absorvi­ um modo geral, o espírito dos ministros que
da na sessão da Associação Geral, as apre­ vieram a esta reunião é de rejeição da luz.”28
sentações incluíram mensagens mais podero­ Parece que a maioria dos 96 delegados foi in­
sas da parte de Waggoner sobre a justifica­ fluenciada por esse espírito de cinismo e des­
ção pela fé em Cristo; estas, porém, foram vis- crença. Notai as palavras citadas na ocasião:
tas com desconfiança pelo grupo de Butler e “Quase todos” haviam rejeitado a autoridade
Smith. Smith certamente expressou os senti- da profetisa; “de modo geral os ministros” se
mentos de muitos, quando declarou: “Pode­ opunham à nova luz. Lamentavelmente, a pro­
riamos concordar com os seis temas prelimi­ fetisa foi obrigada a escrever estas declarações
nares do irmão Waggoner sobre justificação; quase inacreditáveis: “Em Mineápolis, Deus
eu mesmo teria sido o primeiro a exultar com deu preciosas gemas da verdade a Seu po-
eles, não tivesse de há muito sabido que ele vo em novo engaste. Esta luz do Céu foi rejei­
desejava pavimentar o caminho para suas po­ tada por alguns com toda a obstinação que
sições sobre Gálatas.”24 os judeus manifestaram ao rejeitar a
As discussões sobre a lei em Gálatas leva­ Cristo.”29
ram os irmãos do leste e do oeste a se afasta­ As implicações dessas atitudes pecamino­
rem mais do que nunca. Os agravos existen­ sas são atordoantes, quando consideradas.
tes tornaram-se ainda piores, quando os dois Ellen White reputou nossos pais espirituais co-
lados se confrontaram com seus pontos de mo responsáveis, pelo menos até certo pon-
vista opostos. Uma das conseqüências mais to, pelo prolongamento de nossa longa noite
lamentáveis do espírito acrimonioso revelado de sofrimento. Declarou ela: “Satanás... os im­
por Butler, Smith e outros para com Waggo­ pediu de obter aquela eficiência que poderia
ner e Jones, foi que aquelas animosidades fo- pertencer-lhes ao levarem a verdade ao mun-
ram dirigidas também contra Ellen White. A es­ do, como os apóstolos a proclamaram após
sa altura, estava em jogo uma questão mais o dia de Pentecostes. A luz que devia ilumi­
importante do que os dez reinos ou a lei no nar toda a Terra com a sua glória foi resistida,
livro de Gálatas: a aceitação ou rejeição de El- e em grande parte por causa da ação dos
len White como mensageira do Senhor. nossos próprios irmãos, retirou-se do
Na verdade, os homens de Butler-Smith já mundo.”31
desconfiavam da Sra. White mesmo antes de Os sermões de Waggoner sobre salvação
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por meio da fé na justiça de Cristo, deram uma promessas foram examinadas. Eu O vi aí
nota que há muito tempo estivera ausente dos como meu Salvador pessoal e ali me convertí
sermões dos pastores adventistas. A maioria de novo. Todas as dúvidas de que meus pe-
dos conversos adventistas veio de outras igre­ cados estavam realmente perdoados foram
jas cristãs, e sua aceitação de Cristo foi tida afastadas, e desde então jamais duvidei de mi-
como certa. Os pastores adventistas prega­ nha aceitação como um perdoado filho de
vam muito mais sobre a lei e o sábado do que Deus.”37
sobre Cristo. Eles se tornaram contendores ca­ Esta espécie de encontro divino deve ter si-
pazes que se orgulhavam de sua habilidade do experimentada por mais do que uns pou­
de superar numa discussão seus opositores cos apenas, pois Ellen White declarou: “Cons­
que guardavam o domingo. Os sermões de tantemente o Espírito do Senhor vinha à reu­
Waggoner eram diferentes. Ele se concentra­ nião com poder convincente, a despeito da
va em Cristo — Sua divindade, Sua humani- descrença manifestada por alguns dos
dade e Sua justiça, que Ele nos oferece co- presentes.”38
mo um dom. Neste novo realce, Waggoner ti- A fim de que não se perdessem os benefí­
nha o total apoio de Ellen White. Ela disse aos cios desse novo realce sobre Cristo e Sua jus-
delegados: “Vejo a beleza da verdade na tiça, Ellen White, Jones e Waggoner passaram
apresentação da justiça de Cristo em relação os próximos três anos dirigindo reavivamen-
à lei, conforme o doutor nos tem exposto.... tos em reuniões campais e em nossas igrejas
O que tem sido apresentado se harmoniza maiores em todo o país. Havia ainda muita
perfeitamente com a luz que Deus achou por oposição, especialmente em Battle Creek,
bem dar-me durante todos os anos de minha mas houve muitas vitórias. Com referência a
experiência.”32 dois destes reavivamentos Ellen White lembra­
“Em Mineápolis”, disse ela mais tarde, va: “Trabalhamos — e alguns sabem quão ar-
“Deus outorgou preciosas gemas da verda- duamente — creio que uma semana inteira,
de a Seu povo em novo engaste.”33 “Em indo pela manhã e à tarde, a Chicago, a fim
Sua grande misericórdia, o Senhor enviou a de podermos introduzir aquelas idéias na
Seu povo uma mensagem mais preciosa por mente dos irmãos....
meio dos Pastores Waggoner e Jones.”34 “Eles acham que devem confiar em sua
As mensagens foram como águas vivas às própria justiça e nas próprias obras, e olhar
muitas almas sedentas que se achavam pre­ para si mesmos, e não se apropriar da justiça
sentes. W. C. White considerou os sermões de de Cristo e introduzi-la na vida e no caráter....
Waggoner o ponto decisivo de sua vida.35 Passou-se uma semana antes que houvesse
Sete anos depois da conferência A. O. Tait ain- uma oportunidade e o poder de Deus viesse
da estava sentindo o fulgor. “Positivamente, sobre aquela congregação como uma maré
há ainda em Battle Creek um certo número de montante. Digo-vos, ele devia tornar livres os
homens que não vê luz na bendita verdade homens; devia apontar-lhes o Cordeiro de
quanto à justiça de Cristo, que nos tem sido Deus que tira o pecado do mundo.
enviada como chuveiro de bênçãos desde a “E lá em South Lancaster houve o podero-
Associação Geral de Mineápolis. Achei aquela so toque do Espírito de Deus. Há ali alguns
doutrina precisamente o alimento de que mi- que estiveram naquela reunião. Deus revelou
nha pobre alma necessitava, aqui em Mineá­ Sua glória; e cada aluno do colégio foi trazi­
polis, e me convertí naquela reunião; e, des- do à porta ali em confissão, e houve o toque
de então, me tenho regozijado na luz.”36 do Espírito de Deus. E a mesma coisa acon-
Perto de meio século depois, C. C. McRey­ teceu de lugar em lugar; por toda parte onde
nolds ainda olhava retrospectivamente para a estivemos, vimos o toque do Espírito de
sessão de Mineápolis como uma experiência Deus.”39
verdadeiramente memorável e abençoada. Com o passar do tempo, muitos — talvez
Ele se lembrava: “No final da quarta ou quin­ a maioria — dos que haviam pecado tão per-
ta lição do Pastor Waggoner, eu era um pe­ tinazmente em Mineápolis, confessaram sua
cador vencido e arrependido. Sentia que só culpa e pediram perdão ao Senhor. Isto incluiu
podia vencer com o Senhor. Retirei-me para não só os Pastores Butler e Smith, como tam-
um bosque; não quis jantar; passei a tarde bém os líderes que os apoiavam. A atitude ex­
ajoelhado e sobre meu rosto diante do Senhor pressa pelo Pastor I. D. Van Horn, ao escre-
com minha Bíblia. Cheguei ao ponto de crer ver a Ellen White em 1893, é típica: “Estou
na promessa feita por Deus em Sua Palavra, realmente envergonhado da parte que de­
de perdão para os meus pecados, e de que sempenhei no ‘gracejo’, na ‘sátira’, no ‘sarcas­
isto dizia respeito tanto a mim como a qual- mo’ e no ‘chiste’, nos quais fomos tão indul­
quer pecador. Sua promessa em I São João gentes eu próprio e outros do mesmo quarto
1:9; Isa. 1:18; Gál. 1:4e Tito 2:14 e muitas das naquela reunião de Mineápolis. Foi muito er-
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rado — tudo errado — e deve ter sido ofensi­ “ninguém pode fazer este trabalho por outro.
vo ao Senhor que testemunhou tudo. Gosta­ Cumpre-nos humilhar individualmente a alma
ria que tudo fosse apagado da minha diante de Deus e lançar fora nossos
memória.”40 ídolos.”43
Além desses reavivamentos, foram realiza­ Em segundo, devemos “orar sem cessar”
das por nossos ministros em Battle Creek, en- (I Tess. 5:17). Não podemos dar-nos ao luxo
tre 1889 e 1891, três reuniões ou classes bí­ de negligenciar nossa vida de oração sequer
blicas, totalizando 46 semanas. Essas reuniões por um dia. O Pastor C. C. McReynolds des­
deram também realce especial ao assunto da creve o espírito de falta de oração em Mineá­
justificação pela fé. A. T. Jones e E. J. Wag­ polis. “Estávamos ouvindo um bom relatório
goner encontravam-se entre os instrutores sobre a irmã White. Dizia que ela era favorá-
dessas classes, e eles foram também os ora­ vel ao Pastor Waggoner, e que ele era um dos
dores principais na maioria das sessões da As­ seus prediletos. Despertou-se então o espíri­
sociação Geral durante toda a década de to de controvérsia e, quando os delegados
1890. Os livros Caminho Para Cristo, O Maior voltaram da última reunião do dia, só se ou­
Discurso de Cristo, O Desejado de Todas as via murmúrio, acompanhado de gargalhada
Nações e Parábolas de Jesus, de Ellen Whi- e gracejo, e se faziam alguns comentários bas­
te, com seu enfoque sobre o ministério de Cris- tante desagradáveis; não prevalecia nenhum
to, Seus ensinos e Seu caráter, foram publi­ espírito de solenidade. Apenas uns poucos
cados entre 1892 e 1900. Podemos agrade­ não tomavam parte na hilaridade. Não foi ob­
cer a Deus porque, começando com a confe­ servada a hora de culto, e nada mais da sole­
rência de Mineápolis, o assunto da justifica­ nidade que deveria ter sido sentida e mani­
ção pela fé na justiça de Cristo veio a festada numa ocasião como aquela estava
ocupar um lugar mais amplo na mente e na presente.”44
experiência dos Adventistas do Sétimo Dia. Visto que muitos delegados não mantinham
constante comunhão com Deus, abriu-se a
Sete lições para os nossos dias porta para que Satanás lhes controlasse, por
algum tempo, a mente. Eles não possuíam ne-
Não devemos terminar com a narração dos nhuma defesa contra as suas tentações. Não
males e das virtudes da reunião de Mineápo- devemos permitir que um capítulo tão triste
lis. Precisamos aprender lições importantes da se repita.
experiência de nossos antepassados. Preci- Em terceiro lugar, devemos aprender a
samos realçar estas lições, meditar sobre elas, amar a todos os nossos irmãos, entre os quais
e agir de conformidade com elas, do contrá­ os que não participam de nossas interpreta-
rio estaremos em perigo de repetir os erros ções pessoais das Escrituras. Referindo-se a
que eles cometeram um século atrás. Mineápolis, Ellen White lamentou: “A diver­
Em primeiro lugar, “Devemos humilhar in­ gência na aplicação de umas poucas passa­
dividualmente nossa alma diante de Deus e gens bíblicas faz os homens se esquecerem
lançar fora nossos ídolos.”41 Alguns têm per­ de seus princípios religiosos. Elementos se or­
guntado se a Igreja Adventista do Sétimo Dia ganizam, provocando uns aos outros por meio
deveria hoje, numa ação da Associação Ge- de paixões humanas a se oporem de manei-
ral, pedir desculpa formal ao Senhor pelos pe- ra áspera e condenatória a tudo que não es-
cados de nossos irmãos de Mineápolis. Ellen teja de acordo com suas idéias. Este espírito
White jamais pediu uma ação dessa espécie. não é de cristão, mas de outro.”45
Ela reconhecia a responsabilidade da lideran- Ela admoestou os irmãos: “A. T. Jones e o
ça em corrigir os males e em dar à Igreja o Dr. Waggoner defendem pontos de vista so-
tom espiritual apropriado. Mas nos 27 anos bre alguns aspectos doutrinários que todos
que ela viveu depois da reunião de Mineápo- admitem não serem questões vitais.... É uma
lis não sugeriu sequer uma vez que devêsse­ questão vital, porém, se somos cristãos, se te-
mos aprovar uma ação oficial na qual nos dis­ mos um espírito cristão, e se somos verdadei­
sociássemos formalmente da atitude não cristã ros, abertos, francos uns com os outros.”46
manifestada por muitos em Mineápolis. Instou, A lei em Gálatas e os dez reinos de Daniel
contudo, com as pessoas envolvidas, para 7 não eram “questões vitais” — não negociá­
que confessassem seus pecados. Advertiu: veis, como o sábado e as doutrinas do juízo
“As palavras e atos de todos quantos toma­ investigativo. Elas figuravam naquela espécie
ram parte nesta obra permanecerão registra­ de interpretações bíblicas na qual se deve to­
das contra eles, até que confessem seu er- lerar alguma liberdade de crença. É correto
ro.”42 “Arrependimento”, disse ela, ”é o pri- ser indiferente para com nossos irmãos e ir-
meiro passo a ser dado por todos aqueles que mãs cujos pontos de vista não são iguais aos
devem voltar-se para Deus.” E insistia em que nossos, em questões que todos concordam
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não serem vitais? Manifestar um espírito não indivíduo, deve ser apresentada ao povo, pa-
cristão para com as pessoas da Igreja que di­ ra que a estudem e a considerem cabalmen­
ferem de nós nestas questões e em outras se­ te. E impossível falar demasiadamente sobre
melhantes, é repetir o espírito de Mineápolis. o tema, nem com demasiado ardor.”52
Pouco antes da reunião de Mineápolis, Ellen É provável que todos os delegados de Mi­
White exortou os irmãos: “O que se necessi­ neápolis insistissem em que acreditavam na
ta é da iluminação do Céu, para que ao olhar­ doutrina da justificação pela fé em Cristo. Mui-
mos no rosto dos nossos irmãos, possamos tos, porém, não agiam nem pareciam estar de
dizer: Estes são os que foram comprados pe- acordo com isto, quer na conferência de 1888,
lo preço do sangue de Cristo. Eles Lhe são quer nos meses subseqüentes. Dirigindo-se à
preciosos à vista. Devo amá-los como Cristo sessão da Associação Geral de 1889, Ellen Whi-
me amou.”47 te declarou: “A verdaderia religião, a única reli­
Certamente é um bom conselho para gião da Bíblia, que ensina o perdão através dos
nós hoje. méritos de um Salvador crucificado e ressurre­
Em quarto lugar, devemos examinar pes­ to; que defende a justificação pela fé no Filho
soalmente as Escrituras, e não permitir que ou- de Deus, tem sido menosprezada, difamada e
tros pensem por nós. Em Mineápolis, Ellen ridicularizada. Tem sido denunciada como le­
White pôde notar que muitos dos nossos pas­ vando a arrebatamento e fanatismo.”53
tores estavam simplesmente seguindo a orien- Mesmo o pensamento de Uriah Smith so-
tação dos Pastores Butler e Smith na com- bre o assunto, parece ter sido não muito cla-
preensão das Escrituras. Eles não estavam fa- ro às vezes. Por exemplo, em editorial na Re­
zendo seu próprio julgamento. A lealdade à view de 11 de junho de 1889, ele escreveu:
liderança — uma virtude recomendável — “A lei é espiritual, santa, justa e boa, o padrão
torna-se uma grave fraqueza quando levada divino de justiça. A perfeita obediência a ela
a seguir cegamente a liderança em todas as trará justiça perfeita, e esta é a única maneira
circunstâncias. pela qual pode alguém alcançar a justiça....
Em 19 de outubro, Ellen White advertiu os “Há uma justiça que podemos obter, a fim
delegados: “Não acrediteis em qualquer coi- de ver o reino do Céu, a qual é chamada de
sa simplesmente perque outros dizem que é ‘justiça nossa’, e essa justiça vem pelo fato de
a verdade. Tomai vossa Bíblia e examinai-a estarmos em harmonia com a lei de Deus. Em
por vós mesmos.”48 Deut. 6:24 e 25, lemos: 'E o Senhor nos orde-
Em 24 de outubro ela apelou novamente: nou que fizéssemos todos estes estatutos, pa-
“Desejo que os homens moços tomem uma ra temer ao Senhor nosso Deus, para o nos-
posição, não porque alguém a tomou, mas so perpétuo bem, para nos guardar em vida,
porque compreenderam a verdade por si como no dia de hoje. E será para nós justiça
mesmos.”49 quando tivermos cuidado de fazer todos es­
E em 3 de novembro, último sábado da con­ tes mandamentos perante o Senhor nosso
ferência, ela apelou uma vez mais aos irmãos: Deus, como nos tem ordenado.’ O Senhor não
“Devemos estar preparados para investigar lhes mandaria fazer aquilo para o que Ele não
as Escrituras com mentes desarmadas, com havia feito provisão adequada; e, se eles o fi­
reverência e imparcialidade. Convém orarmos zessem, isto lhes seria justiça.”54
sobre questões de divergências em pontos de Uma semana depois de publicado este edi-
vista das Escrituras.”50 torial, alguém perguntou a Ellen White: “O que
No dia seguinte, 4 de novembro, Ellen White esse artigo do irmão Smith na Review quer di-
escreveu a sua nora: “Os ministros têm sido zer?” Ela respondeu publicamente: “Ele não
a sombra e o eco do Pastor Butler por aí, des- sabe a respeito do que está falando; ele vê as
de que seja saudável e para o bem da Cau- árvores como homens andando.... É impos­
sa.... O Pastor Butler... acha que sua posi­ sível exaltarmos a lei de Jeová, a menos que
ção lhe confere tal poder que sua voz é infalí­ nos apoderemos da justiça de Jesus Cristo.”55
vel. Tirar isto da cabeça dos irmãos tem sido Em seu extenso manuscrito, “Olhando re­
um assunto difícil.”51 Não caiamos na arma­ trospectivamente para Mineápolis”, escrito
dilha de pôr um homem onde só Deus deve pouco depois do término da conferência, El-
estar. len White declarou: “Dou testemunho de que
Quinto, devemos realçar a justificação pela a mais preciosa luz esteve a resplandecer das
fé em nossa pregação; deveriamos tornar o Escrituras na apresentação do grande assunto
assunto claro como o cristal para o povo, e da justiça de Cristo em relação com a lei, o
estar certos de que nós mesmos desfrutamos qual deve ser constantemente conservado
de um relacionamento salvífico com Jesus diante do pecador como sua única esperan-
Cristo. Ellen White exortou: “A fé na justiça de ça de salvação....
Jesus Cristo, em benefício da alma de cada “É um estudo que pode exigir o esforço da
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mais elevada inteligência humana, que o ho- Esta rejeição temporária da voz profética foi
mem, caído, enganado por Satanás; que tomou prejudicial não só à experiência cristã de Uriah
o lado da questão pertencente a Satanás; pos- Smith, mas teve também um efeito ondulante
sa ser ajustado à imagem do Filho do infinito e solapador na confiança de outros. Ellen Whi-
Deus — esse homem será semelhante a Ele, te lembrou-lhe que ele não poderia anular as
para que, em virtude da justiça de Cristo con­ conseqüências já disseminadas de sua in-
cedida ao homem, caído mas redimido, Deus fluência. Ela apelou: “Depois de sua atitude
o ame, assim como amou ao Seu Filho.... ter abalado as mentes e a fé nos testemunhos,
“Este é o mistério da piedade. Esta figura é o que você ganhou? Se você recuperar sua
do mais alto valor. Deve-se meditar sobre ela, fé, como poderá remover a impressão de des­
usá-la em cada sermão, pendurá-la na parede crença que semeou em outras mentes?”60
da memória, pronunciá-la por lábios humanos, Quão melhor é que estejamos firmes em nos-
e deve ser investigada por seres que experi­ sa convicção da evidência que Deus nos deu,
mentaram e conheceram que o Senhor é bom. de que Ellen White foi Sua profetisa!
Ela deve ser a base de cada sermão.”56 Como item número sete, mantenhamos nos-
Dificilmente a irmã White poderia ter-se ex­ sa confiança na Igreja Adventista do Sétimo
pressado com mais clareza e mais decidida­ Dia. Esta é a organização eclesiástica à qual
mente do que quando disse: “O ponto que se refere Apoc. 12:17. Não há nenhuma ou­
mais me tem impressionado a mente durante tra. Embora Ellen White tenha revelado dúvi­
anos é a imputada justiça de Cristo.... da quanto a isto em Mineápolis, ela não con­
“Não há ponto sobre o qual se deva demo­ servou aquelas dúvidas por muito tempo. An-
rar com mais empenho, repetir mais freqüen­ tes que deixasse aquela cidade, ela escreveu
temente, ou tornar mais impressivamente gra­ a sua nora: “Tremo ao pensar o que teria si-
vado na memória de todos, do que a impos­ do desta reunião se não tivéssemos estado
sibilidade de merecer o homem caído algu- ali.... Deus operaria de alguma forma para im­
ma coisa por suas boas obras. A salvação é pedir este espírito trazido à reunião, que teve
apenas mediante a fé em Jesus Cristo.”57 um poder controlador.... Mas não estamos
Em sexto lugar, não devemos “desprezar nem um pouco desanimados. Confiamos no
as profecias” (I Tess. 5:20). Se tão-somente Senhor Deus de Israel. A verdade triunfará e
houvesse Uriah Smith dado atenção a este pretendemos triunfar junto com ela.”61
conselho em Mineápolis, ter-se-ia poupado a Pelo resto de sua vida, Ellen White continuou
si mesmo e a muitos outros de sofrimento. O a dar esta mesma nota de confiança no movi-
maligno, porém, convenceu a Smith de que mento do advento. Nos anos 90, o “régio po-
Ellen White se contradissera. Ela havia dito em der” na administração da Associação Geral ar­
1856, que o ponto de vista de J. H. Waggo­ rancou dela as incisivas palavras: “A voz de
ner sobre Gálatas três estava errado. Agora, Battle Creek... já não é a voz de Deus”;62 “A
em 1888, ela parecia apoiar o Waggoner mais igreja está em estado laodiceano. A presen-
jovem, que possuía essencialmente o mesmo ça de Deus não está no meio dela.”63 Foi,
ponto de vista de seu pai. porém, capaz de dizer ao mesmo tempo:
Na verdade, Ellen White não tomou posição “Deus está à frente da obra, e porá tudo em
sobre Gálatas 3, na conferência de Mineápo- ordem. Se alguma coisa necessitar ser acer­
lis. De maneira inteligente, ela evitou tomar tada, na direção da obra, Deus atentará para
partido quanto a este assunto. Na realidade, isto, e operará no sentido de corrigir tudo o
ela indicou que sua compreensão dessa pas­ que estiver errado. Tenhamos fé em que Deus
sagem era, em alguns aspectos, diferente da está dirigindo a nobre embarcação que leva­
que possuía o Dr. Waggoner.58 rá a salvo ao porto o Seu povo.”64
Smith, porém, não deu atenção. Ele se per­ Os baluartes de Satanás jamais triunfarão.
mitiu demorar-se sobre o que considerava fos­ A vitória estará do lado da mensagem do ter-
sem erros de Ellen White. Sua indiferença pa- ceiro anjo. Como o Capitão das hostes do Se-
ra com a profetisa de Deus continuou por mais nhor fez cair os muros de Jericó, assim triun­
de dois anos. Finalmente, em 7 de janeiro de fará o povo que guarda os mandamentos do
1891, ele fez uma confissão cabal. Dela es- Senhor, e todos os elementos de oposição se-
creveu Ellen White: “O irmão Smith... rão derrotados.”65
segurou-me a mão quando deixava a sala, e “Sinto-me encorajada e abençoada quan­
disse: ‘Se o Senhor me perdoar pela tristeza do penso que o Deus de Israel ainda está
e pesares que lhe tenho trazido, afirmo-lhe que guiando Seu povo, e que continuará a estar
esta será a última vez. Eu manterei suas mãos com ele até ao fim.”66
erguidas.’... Raramente o Pastor Smith der­
ramava lágrimas, mas ele chorou, e sua voz
ficou embargada.”59 Referências: 1-66.

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