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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Departamento de Engenharias

A TECNOLOGIA COMO AUXILIAR NA


AGRICULTURA BIOLÓGICA EM ESTUFA

Magda Alina da Costa Duarte Simões

Vila Real, 2007


Dissertação submetida por Magda Alina da Costa
Duarte Simões à Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro para a obtenção do grau de Mestre em
Tecnologias das Engenharias, sob a orientação do Prof.
Doutor Salviano Filipe Silva Pinto Soares, Professor
Auxiliar do Departamento de Engenharias da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e a co-
orientação do Prof. Doutor Carlos Manuel José Alves
Serôdio, Professor Auxiliar do Departamento de
Engenharias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro.
À minha família
AGRADECIMENTOS

Gostaria de Agradecer ao Professor Doutor Salviano Filipe Silva

Pinto Soares, na qualidade de orientador deste trabalho pela sua inteira

disponibilidade pelos seus ensinamentos científicos pelo incentivo

sempre constante pela confiança ao longo deste trabalho, que em muito

contribuíram para que este fosse possível.

Ao Professor Doutor Carlos Manuel José Alves Serôdio agradeço

todo o apoio prestado no decorrer do trabalho.

Ao Professor Doutor Raul Morais agradeço todas as facilidades

concedidas para a realização deste trabalho.

Ao Eng. Miguel Fernandes agradeço a simpatia com que sempre

me atendeu quando foi solicitado

Aos Professores Luís e Anabela Aguiar agradeço as sugestões no

sentido de melhorar o texto do trabalho.

Aos meus pais, marido e irmãs obrigada por todo o incentivo

apoio e carinho que mantiveram no decorrer deste trabalho

Finalmente gostaria de agradecer a todas as pessoas que de uma

forma indirecta contribuíram para o meu trabalho, o meu sincero

obrigada.

Vila Real, Julho de 2007


Magda Alina da Costa Duarte Simões
RESUMO

Quando se fala de agricultura biológica, entende-se uma forma


de produzir que respeita ao máximo os ciclos biológicos, exclui a
quase totalidade de produtos químicos de síntese como adubos,
pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos alimentares para
animais e utiliza a luta biológica como um auxiliar no combate
contra pragas e doenças. Trata-se de uma forma de produção onde o
solo é entendido como um sistema vivo que desenvolve as
actividades de organismos úteis, organismos esses em interacção
com as plantas que tanta importância têm também na manutenção da
própria estrutura e dos equilíbrios micro orgânicos dos solos.
Podemos, numa perspectiva holística, encarar a agricultura biológica
como um meio de enfrentarmos o problema do relacionamento do
Homem com a Natureza.
Nesta dissertação pretende-se demonstrar como a ciência pode
ser também um auxiliar de inegável importância no contexto da
actual agricultura, nomeadamente na forma de produzir biológica. O
objectivo consiste em proporcionar um suporte tecnológico que
facilite a produção em ambiente controlado. Tratando-se de produção
biológica, a opção pela tecnologia como auxiliar tem suma
importância, uma vez que se por um lado se privilegia a prevenção
em detrimento dos tratamentos, por outro admite-se uma abordagem
não intrusiva, ideal em ambientes agrícolas.
São estudadas duas culturas em estufa, nomeadamente as do
Cravo e da Gerbera, e é apresentado um sistema de estações sem-fios
com acesso remoto que vai permitir ao produtor biológico
monitorizar parâmetros ambientais, tais como, a temperatura ou a
humidade. A avaliação de todos estes parâmetros gera um sistema de
alertas que ao auxiliar a decisão do produtor pode condicionar a
aplicação modulada a realizar nas culturas, quando as referidas
condições ambientais se revelarem propícias ao aparecimento de
pragas ou doenças, ou coloquem em risco quer a sustentabilidade
energética do próprio sistema quer a produção, como acontece no
caso em que se atingem os máximo e mínimo biológicos para a
cultura em causa.

ABSTRACT

When we talk about organic agriculture, we must understand it as


procedure that respects biological cycles, rejects all kinds of chemical
products like fertilizers, pesticides, growth regulators and alimentary
additives for animals and uses biological processes to help fight
plagues and diseases. This procedure develops useful organisms’
activities, which interact with plants of extreme importance to maintain
the soil’s own structure and its micro organic balances. We may
consider, in a holistic perspective, biological farming as a manner to
address the problem: the relationship between Man and Nature.
It is our intention to show how science can also be helpful to
modern farming, particularly as far as biological farming is concerned.

The purpose is to offer a technological support that facilitates the


production in a controlled environment. In biological production
technology is a useful and important option, because on the one hand
prevention is preferred to treatment, on the other hand a non intrusive
action is also possible, ideal in farming environments.
Two greenhouse productions were studied: the Dhianthus sp, and
Gerbera sp, and we will introduce a wireless system with remote
access that will allow the biological farmer to use environmental
elements as temperature or humidity. The evaluation of all these
elements help an alert system to make decisions, which may condition
the modulated application in the productions when the given
environmental conditions turn out to be favourable to plagues or
diseases, or may endanger the energetic maintenance of the system
itself or the production, as for instance when we achieve the biological
minimum and maximum of the farming we are studying.
iv

Índice

ÍNDICE DE FIGURAS vi

ÍNDICE DE TABELAS viii

CAPÍTULO.1 - INTRODUÇÃO 1
1.1 Enquadramento 1
1.2 Motivação 3
1.3 Objectivo do trabalho 4
1.4 Estrutura do trabalho 4

CAPÍTULO 2 - AGRICULTURA BIOLÓGICA 6


2.1 A Política agrícola comum e a preservação do ambiente 6
2.1.1 O modo de produção biológico 10
2.2 Perspectiva histórica 14
2.3 A agricultura biológica versus agricultura convencional 19
2.4 Definição de agricultura biológica 22
2.4.1 O que indicam as estatísticas 25
2.4.2 O que indicam as estatísticas em Portugal 27
2.4.3 Legislação, certificação e controlo 31
2.4.4 Produtos fitofarmacêuticos 34

CAPÍTULO 3 - SENSORES EM ESTUFAS 38


3.1 Definição de um sensor: classificação 38
3.2 Características dos sensores 41
3.2.1 Características estáticas 42
3.2.2 Características dinâmicas 50
3.2.3 Condições ambientais 52
3.3 Grandezas físicas a controlar 54
3.4 Sensores de temperatura 54
3.4.1 Expansão de um liquido, de um gás ou de um sólido (sistema 56
termométricos de enchimento)
3.4.1.1 Termómetros bi-metálicos 56
3.4.2 Métodos baseados no potencial eléctrico produzido por materiais 56
diferentes em contacto (ou pares termoeléctricos)
3.4.2.1 Efeito termoeléctrico 57
3.4.3 Métodos de radiação 60
3.4.3.1 Pirómetros ópticos 60
3.4.4 Alteração da resistência eléctrica com a temperatura 61
3.4.4.1 RTD 61
3.4.4.2 Termístores(Thermal Resistores) 63
3.4.4.2.1 Negative Temperature Coefficient (NTC) 64
3.4.4.2.2 Positive Temperature Coefficient (PTC) 65
v

3.5 Sensores de humidade 67


3.5.1 Mecânicos 67
3.5.2 Bolbo húmido e bolbo seco 68
3.5.3 Sensores por condensação 69
3.5.4 Sensores capacitivos 70
3.5.5 Sensores resistivos 72
3.5.6 Sensores de húmidade do solo 72
3.6 Sensores para medida da radiação solar 73
3.6.1 Fotoresistências 76
3.6.2 Fotodíodo 77
3.7 Sensores de Medição da Concentração de Dióxido de Carbono 78
3.8 Estação meteorológica 80

CAPÍTULO 4 - AGRICULTURA BIOLÓGICA EM AMBIENTE 82


CONTROLADO
4.1 Produção em ambiente controlado 83
4.1.1 Tipos de estufas agrícolas – sua classificação 84
4.1.2 Crescimento e desenvolvimento das plantas num ambiente 86
controlado
4.2 Aparecimento de doenças e pragas nas culturas 91
4.2.1 Luta biológica – Organismos auxiliares das culturas 93
4.2.2 Medidas para combater o aparecimento de doenças e pragas nas 96
culturas
4.3 Caracterização de algumas culturas em estufa 98
4.3.1 A cultura do cravo: características edafo-climáticas 99
4.3.1.1 Práticas culturais numa plantação de cravos 100
4.3.1.2 Doenças e pragas na cultura do cravo 105
4.3.1.2.1 Pragas mais frequentes 105
4.3.1.2.2 Doenças mais frequentes 109
4.3.2 A cultura da gerbera: características edafo-climáticas 113
4.3.2.1 Particularidades da plantação da gerbera 115
4.3.2.2 Pragas mais frequentes 116
4.3.2.3 Doenças mais frequentes 117

CAPÍTULO 5 - A TECNOLOGIA COMO AUXILIAR NÃO INTRUSIVO 120


NA AGRICULTURA BIOLOGICA
5.1 Solução tecnológica de apoio à decisão 121
5.2 Alertas de sobrevivência 123
5.3 Alertas de doença 125
5.3.1 Alertas de Doença- Caso do Cravo 125
5.3.2 Alertas de Praga- Caso da Gerbera 126

CAPÍTULO 6 - RESULTADOS 128


Conclusões e trabalho futuro 128
ACRÓNIMOS 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 133
vi

Índice de Figuras

Figura 2.1 - Direcções do desenvolvimento da agricultura 20


Figura 2.2 - Percentagem de área ocupada pela agricultura biológica na União 27
Europeia
Figura 2.3 - Números da Agricultura Biológica afecta à Agricultura Biológica 28
em Portugal Continental
Figura 2.4 - Percentagem da área ocupada pela agricultura Biológica em 28
Portugal Continental por regiões
Figura 2.5 - Evolução da área afecta à agricultura Biológica em Trás-os-Montes 29
Figura 2.6 - Evolução das áreas das culturas de produção Biológica em Trás- 29
os-Montes
Figura 2.7 - Símbolo Europeu de Agricultura Biológica 34
Figura 3.1 - Diagrama funcional generalizado de um sensor 38
Figura 3.2 - Diagrama de blocos da estrutura de um sensor 41
Figura 3.3 - Relação entre a entrada/saída de um sensor ideal e real 43
Figura 3.4 - Curva característica ideal de um sensor e erro de sensibilidade 43
Figura 3.5 - Precisão de um sensor 44
Figura 3.6 - Erro de calibração de um sensor 45
Figura 3.7 - Curva de histerese 46
Figura 3.8 - Curva característica ideal de um sensor em função da curva medida 46
mostrando o erro de lineridade
Figura 3.9 - Saturação num sensor 47
Figura 3.10 - Repetitibilidade 48
Figura 3.11 - Resolução 48
Figura 3.12 - Impedância de saída de um sensor 49
Figura 313 - Tempo de subida(esquerda) e descida(direita) 50
Figura 3.14 - Damping 52
Figura 3.15 - Princípio da temperatura 57
Figura 3.16 - Coeficiente de Seebeck dos termopares mais comuns 58
Figura 3.17 - Protecções das resistências de platina 62
Figura 3.18 - Variação da resistência em função da temperatura num NTC 64
Figura 3.19 - Símbolos usuais de NTC 64
Figura 3.20 - Exemplo de um NTC 64
Figura 3.21 - Variação da resistência em função da temperatura num PTC 65
Figura 3.22 - Símbolos usuais de PTC 65
Figura 3.23 - Exemplo de um PTC 65
Figura 3.24 - Função de transferência dos PTC e dos NTC comparadas com os 66
RTD
Figura 3.25 - Psicrómetro 68
Figura 3.26 - Sensores de humidade por condensação 69
Figura 3.27- Sensor capacitivo de humidade 71
Figura 3.28 - Sensores capacitivos de humidade 71
Figura 3.29 - Sensores capacitivos de humidade 72
Figura 3.30 - Sensores C-Probe: da esquerda volumétrico, da direita 73
tensiométrico
vii

Figura 3.31 - LDR típica e respectiva característica resistência R(Ω) vs 77


iluminação Ev (lux)

Figura 3.32 - Característica corrente (µA) vs irradiação (mW/cm2) típica de um 78


fotodíodo
Figura 3.33 - Ilustração do sensor-transmissor de CO2 GMP 111 da Vaisala 80
(versão difusão)
Figura 4.1 - Joaninha de 7 pintas adulta 94
Figura 4.2 - Ovos de joaninha amarelos acabados de nascer canto esquerdo e 94
larvas acabadas de nascer no canto superior esquerdo, no meio dos afídeos em
folha de malva
Figura 4.3 - Joaninha de 7 pintas (larva) comendo um piolho da macieira 94
Figura 4.4 - Diagrama representativo dos compassos de plantação escolhidos 101
na cultura do cravo
Figura 4.5 - Sistema de tutoragem aplicado numa estufa de cravos 103
Figura 4.6 - Cronologia das operações culturais do craveiro 104
Figura 4.7 - Estrago causado numa flor do cravo por Tripes (Frankliniella 106
occidentalis)
Figura 4.8 - Ciclo da vida dos Tripes 106
Figura 4.9 - Ciclo de vida de Tetranychus sp 108
Figura 4.10 - Corte transversal do caule do cravo afectado pelo Fusarium 110
Figura 4.11 - Sintomas iniciais causados pelo fungo Fusarium oxysporum f. Sp. 110
dianthi
Figura 4.12 - Flores do cravo afectadas por Botrytis cinerea 112
Figura 4.13 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura do 113
craveiro
Figura 4.14 - Cronologia das operações culturais da gerbera 116
Figura 4.15 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura da 118
Gerbera
Figura 5.1 - Aspecto genérico da interface gráfica do sistema 122
Figura 5.2 - Máximo biológico para a gerbera ultrapassado 123
Figura 5.3 - Máximo biológico para a gerbera ultrapassado: geração do alerta 124
pelo sistema
Figura 5.4 - Alerta “Limites Biológicos para o Cravo” 124
Figura 5.5 - Alerta de Fusarium 125
Figura 5.6 - Risco de ocorrência de doença Fusarium: geração do alerta pelo 126
sistema
Figura 5.7 - Alerta de Tetranychus urticae gerbera 126
Figura 5.8 - Risco de ocorrência de doença Tetranychus: geração do alerta pelo 127
sistema
viii

Índice de Tabelas
Tabela 3.1 - Subdivisão do espectro da radiação óptica de acordo com o 74
standard DIN5031, parte 7
Tabela 3.2 - Resumo das principais grandezas energéticas e fotométricas 75
Tabela 3.3 - Dados técnicos do IRGA GMP111 8fornecido pelos fabricantes) 80
Tabela 4.1 - Temperaturas óptimas para a cultura do cravo 100
Tabela 4.2 - Resumo das temperaturas e seus efeitos na gerbera 114
Tabela 4.3 - Resumo dos parâmetros passíveis de gerar alerta de doenças e 118
pragas no cravo e na gerbera
Tabela 4.4 - Alerta para o mínimo biológico para o cravo/gerbera 119
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO
Quando se fala de agricultura, não se trata apenas de falar dos
problemas técnicos como sejam, fertilizar os campos, que produtos
escolher ou como combater os insectos nocivos às culturas de forma a
tornar rentável as produções. Trata-se sim de falar de uma forma de
estar perante a vida, perante a natureza, com a energia, com o
trabalho, com toda engrenagem que move o sistema de quem decide e
organiza o futuro da humanidade, que é também o nosso futuro. É
pois importante saber qual o caminho a seguir, sabendo que se torna
crucial uma nova relação com o equilíbrio biológico do planeta,
baseado no respeito e na reciprocidade, ao contrário da exploração
unívoca dos recursos por parte do homem.
É possível, hoje em dia, encontrar na ciência uma aliada neste tipo
de desenvolvimento quer pelas tecnologias que existem ao dispor bem
como das aplicações que se podem fazer dessas mesmas tecnologias.
O desenvolvimento exponencial da indústria electrónica a partir de
meados do século passado conduziu, não só, à miniaturização dos
dispositivos de medida bem como tornou possível realizar sistemas
computacionais evoluídos com capacidades de comunicações sem-
fios tornando possível uma visão inovadora sobre questões eternas,
como é caso da relação da Homem com a Natureza.

1.1 Enquadramento

A interdependência das várias formas de vida torna-se


fundamental, influencia os equilíbrios do planeta, determinando todas
as relações existentes na natureza. Por exemplo, uma lagarta não
come certas plantas porque estas foram capazes de sintetizar venenos
Capítulo 1. Introdução 2

que as matam, por outro lado, existem insectos que se tornaram


resistentes a tais venenos e continuam a comer essas plantas. Nesse
processo não se inclui apenas o mimetismo animal, os espinhos das
plantas, entre outros, mas também as harmoniosas relações mantidas
entre polinizadores e plantas, entre insectos que defendem certas
plantas em troca de hospitalidade e de alimento.
O homem depende da evolução paralela de outras espécies.
Apesar de não se encontrar na situação de parasita, sobrevivendo
portanto mesmo no caso em que se extingam algumas espécies
animais ou vegetais, ele é indubitavelmente um predador,
conseguindo destruir para além das suas necessidades efectivas.
Embora a extinção de uma espécie não seja julgada moralmente
como um facto condenável, esta pode representar um problema
quando se trata de uma espécie representativa para um determinado
equilíbrio. A proximidade de centrais nucleares que pode provocar
mutações genéticas em determinadas plantas ou a existência de vários
insecticidas que acabaram por eliminar insectos úteis deixando assim
os nocivos livres para destruir as colheitas, constituem apenas dois
factos que contribuem para a perturbação dos equilíbrios evolutivos
que pode perfeitamente voltar-se contra nós.
Podemos mesmo dizer que se cultivar biologicamente, poupar
energia e pensar de um modo eficiente pode ser nos nossos dias uma
questão de opção de vida, de gosto ou mesmo de clarividência,
chegará certamente a altura em que se tornará uma irrefutável
necessidade e uma obrigatoriedade. Aliando deste modo o
conhecimento actual da tecnologia apropriada podemos poupar os
nossos recursos ainda existentes.
Podemos efectivamente reverter a situação actual conseguindo
produzir de uma forma sustentável e rentável produtos com o auxílio
das novas tecnologias, informatizando as explorações com recurso a
sensores que monitorizam os factores ambientais e permitam a
prevenção de doenças e pragas maximizando assim a produção, sem
recorrer a uma produção agressiva e destrutiva em termos futuros.
Capítulo 1. Introdução 3

1.2 Motivação

A agricultura biológica encontra-se em crescimento: cinco por


cento da área agrícola útil do país já é ocupada com produção
biológica, o que revela um interesse crescente pelas culturas amigas
do ambiente. Apesar da produção biológica não se encontrar ainda
vocacionada para a floricultura existe já um despertar para a
importância de produzir de forma biológica nomeadamente as
aromáticas. Segundo dados divulgado pela Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica (AGROBIO) em 2005, para a expansão da
superfície biológica no Algarve contribuíram muito as plantas
aromáticas que de três hectares em 2004 passaram a ocupar em 318
em 2005. Dados como estes permitem-nos pensar que existe
receptibilidade em termos de mercado para a “floricultura biológica”
[Marques 06].
Depois dum século profícuo em realizações tecnológicas e de
acordo com as preocupações ambientais das sociedades desenvolvidas
na manutenção da biodiversidade como garante da sustentabilidade
dos ecossistemas, recorre-se hoje com naturalidade à monitorização
ambiental já possível em tempo real. O auxiliar provido pela
disponibilidade tecnológica e os avanços na área das
telecomunicaçoes digitais pode constituir a mais valia importante para
a geraçao de sistemas de alerta que auxiliem a aplicação modulada às
culturas em produção.

Poderemos no entanto colocar a seguinte questão:

“Como poderão as novas tecnologias auxiliar a agricultura


biológica?”.

De diversas formas, no trabalho apresentado em concreto as


tecnologias utilizadas, permitem auxiliar nomeadamente na prevenção
de doenças em agricultura biológica em estufa uma vez que nesta
forma de produção é norma não se recorrer a químicos de síntese mais
Capítulo 1. Introdução 4

generalizados na produção em estufa convencional e dado que as


condições específicas de um ambiente de estufa propiciam o
aparecimento de doenças e pragas. É pois importante actuar na
prevenção das doenças e das pragas que atacam as culturas. O uso de
redes de sensores agregados a estações sem-fios, permitem uma
leitura de alguns parâmetros ambientais que influem no crescimento
saudável das plantas e o seu posterior envio para um computador
preparado que recebe toda a informação pode enviar sinais de alerta
por Short Message Service (SMS).
O utilizador pode conhecer as condições dos parâmetros
ambientais da sua estufa à distância, bem como antecipar possíveis
aparecimentos de doenças em ambiente de estufa o que, para quem
pratica agricultura biológica é de bastante utilidade, já que nesta
forma de produzir existe uma restrição grande de produtos
fitofarmacêuticos.

1.3 Objectivo do trabalho

O objectivo principal deste trabalho consiste em apresentar um sistema, que


de um modo automático permita identificar antecipadamente o conjunto de
premissas ou regras (Temperatura, Humidade, por exemplo), passíveis de gerar
um ambiente susceptível ao aparecimento de doenças e pragas em estufa. Este
sistema, ao permitir ao utilizador uma economia em tratamentos preventivos bem
como curativos, é um auxiliar tecnológico valoroso permitindo obter uma melhor
gestão de todos os recursos existentes na forma de produzir biológica.
A caracterização do estado da arte será realizada sob a perspectiva
da epidemiologia, obtendo-se assim uma caracterização das principais
doenças que condicionam o processo de produção/qualidade da
produção em estufa de duas culturas específicas: o Cravo e a Gerbera.

1.4 Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em 6 capítulos. No primeiro capítulo é feita uma


introdução ao trabalho propriamente dito.
Capítulo 1. Introdução 5

No segundo capítulo, faz-se uma abordagem da agricultura biológica, sua


evolução ao longo dos tempos, legislação organização e controlo, sendo
referenciada a sua importância num desenvolvimento sustentável.
No terceiro capítulo, são estudados os vários tipos de sensores utilizados na
monitorização dos factores ambientais em estufa.
No quarto capítulo, é feita uma abordagem generalizada dos diferentes tipos
de estufas mais utilizados em agricultura, bem como da produção de agricultura
biológica em estufa. É referido também as condições passíveis de gerar o
aparecimento de pragas e doenças bem como algumas das formas existentes para
através da prevenção as evitar ou minimizar. É também neste capítulo que é
realizada uma caracterização de duas culturas, nomeadamente a cultura do Cravo
e da Gerbera.
No capítulo quinto, é focada a tecnologia como um auxiliar não intrusivo no
ambiente de uma estufa agrícola.
No sexto capítulo são apresentadas as conclusões, perspectivando-se outros
trabalhos que poderão desenvolver-se dentro desta mesma temática.
CAPÍTULO 2

AGRICULTURA BIOLÓGICA

A agricultura é uma actividade económica que se caracteriza por um


processo produtivo que depende dos ciclos naturais, mas que os influencia
ao utilizar um vasto leque de elementos livremente existentes na própria
natureza. Ao domesticar espécies animais e vegetais selvagens e ao
recorrer a um conjunto de processos naturais que envolvem o
aproveitamento de energia solar e do ciclo hidrológico, a agricultura utiliza
como factores de produção um conjunto de recursos naturais que lhe são
essenciais: o solo, a água, o ar e o património genético.
Estes recursos ao contrário do que se possa imaginar não existem de uma
forma ilimitada na natureza, pois por exemplo, 1cm de solo pode levar até
100 anos a formar-se, apenas 2% da água do planeta é doce, o oxigénio
que respiramos é produzido por plantas e todas as variedades de plantas e
raças de animais que produzimos derivam de espécies existentes na
natureza que se vão extinguindo a um ritmo acelerado [MADRP00].

2.1 A Política agrícola comum e a preservação do ambiente

A Política Agrícola Comum (PAC) foi criada em 1961, sustentada pela


França, que desempenhou um papel preponderante na sua criação e
desenvolvimento. Os seus princípios assentavam, na unidade dos
mercados, preferência comunitária, solidariedade financeira [Fontaine96].
No entanto ao longo da sua história, a PAC foi obrigada a evoluir
consideravelmente, para enfrentar os novos desafios a que foi sendo
confrontada. Primeiro, atingir os objectivos do 39º artigo do Tratado
[CCE87]: melhorar a produtividade, garantir um nível de vida equitativo à
população agrícola bem como a segurança do abastecimento a preços
adequados e depois controlar os desequilíbrios quantitativos. Por último,
Capítulo 2. Agricultura Biológica 7

tomou uma direcção nova, baseada na combinação de descidas de preços e


de ajudas compensatórias.
Naturalmente que o mundo em que vivemos hoje, passados 46 anos é
notoriamente diferente. Numa análise sumária, poderíamos dizer que a
PAC, no que diz respeito ao objectivo da auto-suficiência alimentar da
comunidade, foi uma política demasiadamente bem sucedida tendo
originado uma produção excedentária, mas logicamente bem sucedida, ao
originar elevadas produções devido à incapacidade de escoar esses
produtos no mercado, o que torna um aspecto que poderia ser sinónimo de
desenvolvimento num questão bastante actual e que tem originado diversos
problemas em todas as áreas da produção agrícola. Desta acumulação de
excedentes resultaram naturalmente custos elevados para a comunidade,
esforço orçamental que apesar de tudo não impediu que os rendimentos
agrícolas continuassem a diminuir e que um elevado número de
agricultores abandonasse a terra.
Em Fevereiro de 1991, a Comissão Europeia lançou um debate em toda
a comunidade acerca da PAC, e em consequência foram apresentadas
propostas legislativas para uma reforma que vieram a ser aprovadas em
Conselho, em 1992, sobre a presidência portuguesa. A Comunidade
apresentou propostas concretas com vista a promover uma melhor
orientação da produção agrícola tendo em conta as exigências relativas ao
ambiente, bem como a necessidade de assegurar ao mundo rural condições
favoráveis para a manutenção do equilíbrio entre os objectivos económicos
e de conservação do meio rural.
A reforma da PAC, teve por objectivo aprofundar e ampliar a reforma
de 1992, [Fontaine96] substituindo as medidas de apoio dos preços por
ajudas directas e acompanhando esse processo através de uma política
rural coerente. Surgiram deste modo novos desafios, tanto internos como
externos:
• O mercado mundial agrícola apresentava perspectivas de
crescimento intenso, com preços compensadores. Os preços
da PAC ao frisar níveis demasiado elevados para incorporar
os compromissos internacionais e tirar partido da expansão
do mercado mundial, corriam o risco de ver reaparecer
Capítulo 2. Agricultura Biológica 8

excedentes, com custos orçamentais insuportáveis e de perder


quotas do mercado mundial e comunitário;
• O apoio agrícola sendo repartido desigualmente, segundo os
produtores e as regiões, resultava num ordenamento
deficiente do espaço rural e o respectivo declínio da
actividade agrícola em certas regiões, enquanto que noutras,
práticas agrícolas demasiado intensivas induziam poluição e
uma segurança alimentar reduzida.

A agricultura europeia repousa na sua diversidade: recursos naturais,


métodos de exploração, competitividade, rendimentos e tradições. Com os
alargamentos sucessivos, a gestão da PAC tornou-se demasiado complexa,
burocrática, e por vezes de difícil compreensão. Equacionam-se novos
mecanismos de modo a criar modelos descentralizados, que concedam maior
grau de liberdade aos Estados-Membros, sem distorcer a concorrência, sem
risco de nacionalização da PAC, mas com critérios comuns claros e medidas
de controlo rigorosas [IDRHa04]. Em relação à política rural as medidas
visam:
• o reforço do sector agrícola e florestal, procurando promover
produtos agrícolas de qualidade. Prevêem-se também, acções
relativas ao estabelecimento dos jovens agricultores e às
condições de reforma antecipada;
• o melhoramento da competitividade das zonas rurais,
sobretudo com o objectivo de melhorar a qualidade de vida
da comunidade rural e criar novas fontes de rendimento para
os agricultores e as suas famílias;
• a preservação do ambiente e do património rural europeu
através de medidas agro-ambientais, tais como a Agricultura
Biológica.
Para reforçar a integração das questões ambientais na PAC, previu-se
igualmente estender os pagamentos compensatórios, tradicionalmente a
favor das zonas menos favorecidas, às zonas onde a agricultura é limitada,
devido a condicionantes ambientais específicas [IDRHa04].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 9

A economia portuguesa tem vindo a atravessar um ciclo fraco, por


vezes de crescimento nulo. Dos três motores ditos clássicos do crescimento
económico, Investimento, Exportações, Consumo interno, são os dois
primeiros que falham, [CONFAGRI05]. Na agricultura portuguesa eles
também têm falhado, e no consumo interno, os nossos agricultores são
confrontados com uma concorrência cada vez mais intensa. Para citar
apenas um exemplo, segundo dados da Confederação Nacional das
Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola (CONFRAGRI), de Janeiro
a Dezembro de 2003 o nosso défice da produção agrícola nas trocas
intracomunitárias atingiu 1.935,4 milhões de euros. No mesmo período o
nosso défice agro-alimentar foi de 473,5 milhões de euros. No total um
défice de 2.408,9 milhões de euros.
Esta contribuição negativa da nossa agricultura para a Balança
Comercial tem ainda uma outra faceta: a dependência alimentar externa.
Esta é, no campo da produção agrícola de 73,1 % das necessidades, no
nosso caso. Se incluirmos as indústrias agro-alimentares este défice
alcançou, em 2000, a ordem dos 81%. Uma simples comparação com
Estados-Membros mais próximos ou da mesma dimensão territorial é
elucidativa: Espanha 46,5 %; Grécia + 48, 7% (exportador líquido); Irlanda
51,9%; Dinamarca + 7,0 % (exportador líquido).
O nosso problema alimentar tem assim, uma vertente financeira, trata-
se de diminuir a despesa, e uma rural, pois ao pretendermos desenvolver a
nossa agricultura estaremos concerteza a assegurar um desenvolvimento
rural. Mas a redução da componente dependência alimentar através do
aumento da competitividade interna, ajuda apenas a diminuir as
importações para um patamar aceitável e só por si não é suficiente para o
objectivo principal do reequilíbrio da Balança Comercial.
Teremos portanto, que actuar ganhando competitividade externa para as
nossas exportações agrícolas. Um dos caminhos será o de concentrar os
programas dos Quadros Comunitários de Apoio (QCA), nas principais
potencialidades da nossa agricultura (produtos, regiões e empresas). Neste
campo podemos referir a importância de todos os trabalhos desenvolvidos
na área agrícola que envolvam os diferentes ramos da ciência, como é o
caso da utilização da tecnologia na Agricultura Biológica, como forma de
Capítulo 2. Agricultura Biológica 10

desenvolvimento de uma agricultura que necessita de um incentivo para


aumentar a sua produtividade e competitividade.
Aumentar as exportações e diminuir as importações deverá constituir
uma das facetas do nosso objectivo principal que permitirá por em marcha
os dois motores já referenciados anteriormente, exportações e consumo
interno, o que propiciará o terceiro motor, o investimento.
A Agricultura Biológica, como um dos desígnios da PAC, aliada ao
desenvolvimento tecnológico, apresenta grandes potencialidades a nível
económico, uma vez que não se trata apenas de produzir de uma forma
diferente da convencional, mas sim de uma forma de produzir que tem já
um mercado muito próprio e em expansão [Eurostat02] e que com as
devidas medidas comunitárias poderá permitir incrementar as
potencialidades regionais aos agricultores que optem por produzir de forma
biológica mais competitiva em contraste com a agricultura tradicional de
subsistência. Pretende-se desta forma reeducar as pessoas para uma forma
de alimentação saudável que ao mesmo tempo preserve o meio ambiente.

2.1.1 O modo de produção biológico

No âmbito da agricultura europeia tem vindo crescentemente a impor-se


o Modo de Produção Biológico de produtos vegetais e animais [IDRHa05].
A sociedade em geral, no seu dia a dia, começa a dar maior atenção e
importância às questões relacionadas com o ambiente e à sua contribuição
para a qualidade de vida que pretendemos sempre melhorar.
Admite-se que a utilização intensiva de produtos químicos na agricultura
quer para fertilização dos solos, quer para tratamentos, influenciou a procura
crescente de alguns consumidores mais atentos à preservação e protecção do
ambiente à procura de produtos alimentares mais naturais e sem resíduos
químicos pois observa-se um interesse cada vez maior por, produtos de
qualidade, onde se abrangem realidades tão diversas como os produtos
regionais, os com marca de qualidade e também os de origem produção
biológica [AGROBIO05].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 11

Seguindo esta tendência, a reforma da PAC, aprovada no âmbito da


Agenda 2000, reforça o papel que a agricultura deve desempenhar na
preservação do ambiente, e na protecção dos recursos naturais em particular
[MADRP00]. Estes recursos são essenciais a todos os processos que
sustentam as formas de vida na terra e são, evidentemente determinantes
para o equilíbrio e qualidade do meio em que vivemos. Protege-los é, não só
uma condição para a viabilidade técnica e económica da actividade agrícola
como também, uma forma de garantir a prazo a qualidade ambiental que nos
é essencial. Deste modo a forma como a agricultura usa os recursos naturais
pode ter efeitos negativos sobre os mesmos, sendo a escolha dos sistemas de
produção e das práticas culturais que os caracterizam fundamental para
evitar a sua degradação.
No domínio ambiental, a prática de uma agricultura intensiva tem
contribuído para a poluição das águas e para o esgotamento dos solos
[Moreno91]. Neste contexto, o mundo agrícola deverá efectuar profundas
modificações na sua maneira de trabalhar, em especial nas zonas agrícolas
menos competitivas, que necessitariam de desenvolver mercados e sectores
economicamente rentáveis para as explorações, confrontadas com as naturais
desvantagens estruturais em relação às explorações modernas do tipo
industrial. Esta problemática afecta um grande número de explorações
familiares para as quais o desenvolvimento e a valorização de produções
específicas podem constituir uma alternativa economicamente interessante
tanto do ponto de vista da diversificação dos produtos, como na investigação
das características próprias da região, nos métodos de preparação dos
produtos ou na introdução de novos métodos de produção.
Apesar de se falar muito de agricultura biológica a sua prática não resulta
tão actual como possa parecer, remonta já desde a antiguidade, Catão 234-
149 AC. Senador do Estado Romano [Pereira89]. No entanto, não existe
ainda a nível governamental uma atitude concreta nesta matéria,
mascarando-se o assunto, entregando-se a “mão alheia“ a grande
responsabilidade de educar, ajudar e incentivar as boas práticas agrícolas.
Deste modo, os conceitos, princípios e objectivos da agricultura
biológica têm sido discutidos e definidos por organismos privados do sector,
Capítulo 2. Agricultura Biológica 12

nomeadamente a nível mundial através da International Federation of


Organic Agriculture Movements (IFOAM), [IFOAM04].
A IFOAM foi fundada em 1972 em Versailles, França por cinco
organizações pioneiras: Nature et Progrès (França), Soil Association
(Inglaterra), Swedish Biodynamic Association (Suécia), Soil Associacion of
South Africa (África do Sul) e Rodale Press (USA).
A IFOAM integra mais de 700 organizações em 104 países e publica
periodicamente para todo o mundo as normas básicas de agricultura
biológica. Representa um movimento mundial de agricultura biológica, que
propõe uma plataforma de intercâmbio global e de cooperação, através de
inúmeras conferências internacionais, continentais e regionais e as
publicações Ecology&Farming bem como os resumos das conferências, cujo
objectivo principal reside em coordenar o conjunto de movimentos de
agricultura biológica em todo o mundo.
A Agricultura Biológica aparece assim como uma possível solução para
os problemas ambientais e económicos que efectivamente já existem.
Procurando adaptar-se respeitando os ritmos da natureza, embora sob ponto
de vista alimentar mantém-se afastada das regras ditadas pela produção
industrial que apenas procura produzir rápido sem pensar nas consequências
futuras.
Destaca-se actualmente o revirar de uma página e o interesse cada vez
mais notório de pensar de uma forma sustentável. Apesar do alerta já ter sido
lançado nomeadamente na Cimeira do Rio, quando as autarquias de todo o
mundo foram desafiadas a iniciar Agendas 21 Locais, definida como uma
estratégia de envolver as pessoas e instituições de uma região na
identificação dos seu próprios problemas ambientais, sociais e económicos,
bem como das soluções mais eficazes para responder a esses mesmos
problemas [O.E.03].
Podemos já verificar no terreno casos concretos em Portugal como é
exemplo o projecto do pelouro do Ambiente da Câmara Municipal do Porto,
no sentido de criar Hortas Comunitárias junto de alguns bairros municipais,
tendo como objectivo, citando um dos responsáveis pelo projecto, “motivá-
los para o cultivo de produtos hortícolas biológicos“ [Marques06]. De um
modo semelhante, mas noutro quadrante do país, a Escola Secundária da
Capítulo 2. Agricultura Biológica 13

Moita aderiu ao projecto designado Horta Biológica na Escola. Trata-se de


uma iniciativa da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica
(AGROBIO), patrocinada pelo programa Ciência Viva do Ministério da
Ciência e Tecnologia, este projecto envolve vinte escolas. Projectos como
estes permitem ter esperança num futuro melhor, pois para além do aspecto
educativo podemos contar com todos os alunos que participaram no projecto
para se tornaram eles próprios, agentes da mudança.
Não se trata, como por vezes se admite, em readaptar velhas técnicas de
produção, mas sim da união de esforços, quer ao nível político, quer ao nível
local bem como ao nível científico, para trazer o conhecimento, a ciência ao
campo, onde a sua ajuda será preciosa.
Ao nível académico, têm-se desenvolvido trabalhos que permitem
optimizar factores de produção integrando-os de uma forma ainda mais
rentável na produção biológica. Exemplo disso resulta o projecto
Fertilização de Culturas em Agricultura Biológica e Avaliação do Processo
Pós-colheita dos Produtos [UTAD05]. Este projecto tem como objectivo
avaliar a produção e a aquisição de materiais orgânicos nas explorações de
horticultura biológica da região de Entre Douro e Minho, inventariar práticas
correntes de fertilização e demonstrar processos de compostagem de
resíduos agro-florestais para utilização na agricultura biológica que
minimizem as perdas de azoto por volatilização ou por lixiviação durante o
processo de compostagem.
Este projecto é financiado pelo programa PO AGRO Medida 8.1.A
parceria deste projecto é constituída por algumas entidades como por
exemplo, a Universidade do Algarve a Universidade do Porto e a
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com vista à apresentação de
uma solução, ambientalmente correcta, para o aproveitamento dos matos e
de outros resíduos agro-florestais e ainda para a diminuição dos fogos
florestais.
Começam hoje em dia a proliferar outras actividades que permitem um
maior contacto dos consumidores com os produtos de produção biológica,
como são exemplo as feiras biológicas, onde os produtores levam
directamente ao consumidor os seus produtos [AGROBIO06].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 14

No que diz respeito à certificação ambiental, existe ainda uma lacuna


neste processo, não havendo uma rigorosa fiscalização. A iniciativa de
certificar tem partido quase que exclusivamente de organizações não
governamentais, que estabelecem os seus critérios próprios de certificação, o
que para a agricultura, refere-se a produtos biológicos. Em Portugal esse
controlo e certificação fica a cargo de dois organismos privados que são a:
SOCERT - PORTUGAL, CERTIFICAÇÃO ECOLÓGICA, LDA e a
SATIVA - DESENVOLVIMENTO RURAL, LDA [Ferreira02].

2.2 Perspectiva histórica

A preocupação com a agricultura remonta desde a antiguidade onde


homens de Estado e intelectuais em vez de um laboratório altamente
tecnicista apoiavam-se apenas na sabedoria do bom senso, que recorria
fundamentalmente a três estratégias: terreno inculto, estrume orgânico e
adubos verdes [Pereira89].
Naturalmente que desde essa época muitos factores vieram a contribuir
para todas as vertentes que surgiram na agricultura no decorrer dos tempos.
No entanto, a preocupação com a produção não se colocava no passado
como factor primordial, uma vez que o impacto que o homem podia
desenvolver nos seus confrontos com a terra e com os seus trabalhos estava
muito ligado à tracção exercida pelos animais ou seja a forças que
provinham directamente da natureza.
O aparecimento das máquinas foi o primeiro passo para a presente
capacidade do homem de modificar uma paisagem sem ter em atenção a sua
origem, o segundo passo está inteiramente ligado à Revolução Industrial que
foi a introdução dos químicos para todo e qualquer fim na produção agrícola
[Carson62].
Os métodos tradicionais pareciam não bastar para tornar produtiva a terra
aos níveis de crescimento do número de bocas a alimentar. Por outro lado a
nascente química agrícola parecia capaz de fornecer ritmos muito mais
rápidos que os normais ciclos de fertilidade natural, exercendo a sedução de
uma ciência nova capaz de produzir efeitos rápidos.
Capítulo 2. Agricultura Biológica 15

O uso maciço dos produtos químicos para o combate quer às infestantes


quer aos insectos bem como a utilização exaustiva dos terrenos, criam
efeitos colaterais de tal maneira negativos [Ferreira02], que cada vez mais
pessoas se encontram a combater essa tendência e a estudar, formulando e
questionando as diversas hipóteses de colocar os conhecimentos científicos
em harmonia com o equilíbrio natural.
Ao analisar-se a expansão da agricultura biológica, torna-se evidente que
os elementos de ordem sociológica foram determinantes no período inicial,
passando mais tarde os factores de ordem económica a assumir um papel
mais relevante.
Verifica-se essencialmente na década de 60 do séc. XX, uma grande
adesão por movimentos intelectuais, influenciada por movimentos de
pensamento espiritualistas, por vezes mesmo esotéricos, inspirados em
elementos de filosofias orientais onde a relação homem/natureza é
considerada mais de um ponto de vista de complementaridade e simbiose do
que agressão e opressão [Indrio95].
Boussingault (1802-1887), tornou-se conhecido pela contestação às
teorias da lei da restituição de Liebig, no que diz respeito ao princípio
enunciado na sua teoria mineral que defende que todo o vegetal se nutre de
alimentos inorgânicos ou minerais [Pereira89]. Justus Von Liebig difundiu a
ideia de que o aumento da produção agrícola seria directamente proporcional
à quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo.
No início do século XX, Louis Pasteur (1812-1895), Serge Winogradsky
(1856-1953) e Martinus Beijerinck (1851-1931), precursores da
microbiologia dos solos, entre outros, contribuíram com mais fundamentos
científicos que fizeram uma contraposição às teorias de Liebig ao provarem
a importância da matéria orgânica nos processos produtivos agrícolas.
Contudo, mesmo com o aparecimento de factos científicos a respeito dos
equívocos de Liebig, os impactos das suas descobertas tinham extrapolado o
meio científico ganhando força nos sectores produtivo, industrial e agrícola,
abrindo um amplo e promissor mercado: o de fertilizantes artificiais ou seja
de síntese [Indrio95].
Na medida em que certos componentes da produção agrícola passaram a
ser produzidos no meio industrial, ampliaram-se as condições para o
Capítulo 2. Agricultura Biológica 16

abandono dos sistemas de rotação de culturas e da integração da produção


animal à vegetal que passaram a ser realizadas separadamente. Tais factos
deram início a uma nova fase da história da agricultura, que ficou conhecida
como Segunda Revolução Agrícola [Indrio95].
São também parte desse processo o desenvolvimento de motores de
combustão interna e a selecção e produção de sementes. Estas inovações
foram responsáveis por sensíveis aumentos nos rendimentos das culturas
[Indrio95].
Albert Demolon (1881-1954), presidente da academia de Agricultura
Francesa é referenciado como sendo pioneiro da agricultura biológica
[Pereira89]. Os seus estudos efectuados sobre solos permitiram levá-lo a
afastar-se das teorias de Justus Von Liebig e a insistir no papel fundamental
do húmus e na importância do estrume orgânico na manutenção da
fertilidade do solo. André Voisin, (1902-1964), dedicou-se ao estudo da
influência dos oligo-elementos no desenvolvimento das plantas. Ehrenfried
Pfeiffer (1897-1961), sob a orientação de Rudolf Steiner implementou o
método agronómico chamado biodinâmico.
A agricultura biodinâmica ou biológico-dinâmica nasceu sob a
inspiração de Rudolf Steiner [Indrio95], em resultado das oito conferências
que proferiu em Koberwitz em 1924. A biodinâmica distingue-se de forma
nítida no campo da agricultura biológica propriamente dita. Na realidade
quem a pratica não está propriamente interessado nos métodos biológicos de
produção agrícola mas é geralmente um seguidor da doutrina fundada por
Rudolf Steiner, a antroposofia, a teoria do corpo vital de Steiner exprime a
necessidade de introduzir na ciência, que preside hoje à actividade agrícola
um sopro de vida espiritual. Defende uma harmonia entre a terra e o cosmos
restituindo um equilíbrio mais natural ao mecanismo de visão moderna da
vida. O termo Biodinâmico é a composição de duas palavras; Biológico e
Dinâmico:
• Biológico, referindo-se a uma agricultura inerente à
natureza, que impulsiona os ciclos vitais, seja através de uma
adubação verde, consórcios e rotações de culturas,
agrossivicultura e integração das actividades agrícolas com a
natureza.
Capítulo 2. Agricultura Biológica 17

• Dinâmico, refere-se ao conhecimento e aplicação pelo


produtor dos ritmos formativos e de crescimento da Natureza
o que na prática agrícola ocorre através da utilização dos
preparados, do estudo dos ritmos astronómicos e da
estruturação da paisagem agrícola.
No curso de agricultura de Rudolf Steiner relata que “adubar consiste em
vivificar a terra”. Steiner descreve a forma de produzir preparados a partir
de plantas medicinais, minerais, estrume, explicando os seus efeitos. Os
preparados são substâncias, designadas por Rudolf Steiner, que são usadas
em proporções “dinâmicas”, “dinamizantes”, ou seja em pequenas
quantidades, considerando-se que uma parte mesmo pequeníssima de uma
determinada substância em determinadas condições, activará com a sua
energia uma quantidade de matéria imensamente maior se nela for
mergulhada. Os preparados constituem o ponto da máxima diferenciação
entre a biodinâmica e a agricultura biológica [Indrio95].
Sir Albert Howard, agrónomo inglês ex-director do instituto da Indústria
Vegetal, estudou os efeitos da adubação nos rendimentos em quantidade e
em qualidade de culturas e aperfeiçoou uma técnica de adubação. Os seus
trabalhos resultam na base do método inglês agrobiológico e do método
francês conhecido por método Lemaire-Boucher.
No Japão, Mokiti Okada introduz o conceito de agricultura natural em
1935, tendo iniciado os seus trabalhos de experimentação em 1936 data
também do seu primeiro artigo. Sobre o assunto, em 1948, Okada defende
que a prosperidade dos seres humanos e de todas as formas de vida podem
ser assegurados pela preservação do ecossistema, respeitando as leis da
natureza e sobretudo respeitando o solo. Okada declarou que “a própria
natureza no seu estado puro e original é a ’verdade‘ assim os seres humanos
ao tentarem fazer algo na vida, deveriam tomar a natureza como modelo, a
aprendizagem deste princípio é a base do sucesso de todo o
empreendimento”.
Quer no Japão como no Brasil, a Fundação - Centro Internacional de
Pesquisas e Desenvolvimento da Agricultura Natural dá continuidade às
ideias e trabalhos desenvolvidos por Okada [Ferreira02].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 18

Kervran, membro da Academia das Ciências de Nova Iorque, candidato


ao prémio Nobel em 1975, publica desde 1962 os resultados dos seus
trabalhos sobre transmutações. Em 1989, o Conselho Nacional de Pesquisa
(NRC), um órgão formado por representantes da Academia Nacional de
Ciências, da Academia Nacional de Engenharia e do Instituto de Medicina,
todos dos Estados Unidos da América, dedicou-se a um estudo detalhado
sobre a agricultura alternativa. Este trabalho culminou com a publicação do
relatório intitulado Alternative Agriculture um dos principais
reconhecimentos da pesquisa oficial a esta tendência da produção agrícola
[Pereira89].
Em Portugal, Luís Alberto Vilar, agricultor, foi das primeiras pessoas
que em 1976, começou a divulgar a agricultura biológica através dos seus
artigos que publicava no O Século e na colecção Agro-Sanus [Ferreira02].
Em 1985 é fundada a associação de produtores, consumidores e
ambientalistas (AGROBIO), a partir dessa data começaram a surgir
associações de âmbito regional, iniciou-se na Beira Interior (ARABBI),
depois no Algarve (SALVA) e nos Açores (NATURA), entre muitas outras
que existem hoje em dia.
Em 1992, com a Conferência Mundial da ECO92, conferência das
Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro, Brasil, ressurge o conceito de sustentabilidade, este conceito de
desenvolvimento sustentável, foi apresentado em 1987 no relatório O Nosso
Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento (presidida pela Noruega), que manifestou uma nova ordem
mundial que expressa a vontade das nações de conciliar ou reconciliar o
desenvolvimento económico e o meio ambiente, em integrar a problemática
ambiental ao campo da economia.
Mais do que um conceito que orienta de maneira imediata acção e
decisão, a sustentabilidade manifesta em primeiro lugar uma problemática de
aspectos múltiplos (científico, político, ético) oriunda da emergência de
problemas ambientais em escala planetária e principalmente da percepção do
risco subjacente [O.E. 03].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 19

2.3 A Agricultura biológica versus agricultura convencional

A agricultura que tem vindo a ser praticada até aos dias de hoje, visa
acima de tudo a produção deixando para segundo plano a preocupação com a
conservação do meio ambiente e a respectiva qualidade dos alimentos.

Ao falarmos de agricultura biológica, convém desmistificar um pouco o


termo, que para muitas pessoas ainda significa, a ausência de químicos na
produção, e produção de menor qualidade, nomeadamente em termos de
aparência (“fruto com bicho”).

Outra ideia que surge frequentemente é que a agricultura biológica já era


a praticada pelos nossos antepassados, apenas pelo facto de não usarem os
ditos químicos. A agricultura biológica é bem mais do que isso, na verdade
ela apenas não utiliza os químicos de síntese, pois pretende utilizar os que a
própria natureza fabrica, como recorre a técnicas que utilizam
conhecimentos científicos, de forma a conseguir integrar a agricultura no
ecossistema, tentando não alterar a biodiversidade existente, produzindo
obviamente frutos de excelente qualidade.

Poderíamos enumerar uma lista exaustiva de problemas que advêm de


más práticas agrícolas, com consequências nefastas para o ambiente e
consequentemente para o próprio ser Humano, no entanto serão abordados
apenas alguns, que permitirão referenciar a necessidade de uma mudança.

O sistema de monocultura referenciado na Fig.2.1 [Indrio95], praticado


pela agricultura convencional (Agricultura Industrializada), favorece o
aparecimento de pragas, doenças e ervas invasoras, contribuindo assim para
que o agricultor tenha que utilizar produtos químicos para conseguir
produzir. Esse sistema, também provoca uma rápida perda de fertilidade do
solo, pois facilita a erosão, reduz a actividade biológica e esgota a reserva de
alguns nutrientes [Indrio95, Ferreira02]. Os produtos agrícolas utilizados são
na sua maioria derivados directa ou indirectamente do petróleo, o que resulta
num alto custo energético para sua obtenção, ocasionando um balanço
energético negativo, ou seja, a energia produzida pela cultura é menor que a
energia gasta para sua produção.
Capítulo 2. Agricultura Biológica 20

ECOLOGICAMENTE MERCADOS LOCAIS E


ECONOMICAMENTE REGIONAIS- AUTONOMIA
E SOCIALMENTE TECNOLÓGICA
ESTÁVEL POUCOS DESPERDÍCIOS
(EM. SOLAR, EÓLICA)

BASEADA EM
PROCESSOS NATURAIS
PARA UMA LONGA VARIANTES RÚSTICAS
FERTILIDADE CONSOCIAÇÕES

AGRICULTURA
BIOLÓGICA POLICULTURA

DIRECÇÕES DO DESENVOLVIMENTO DA
AGRICULTURA MODERNA

AGRICULTURA
MONOCULTURA
INDUSTRIALIZADA

GRANDES EMPRESAS
INDUSTRIAIS, MÃO-DE-OBRA
BASEADA EM ASSALARIADA
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
E EM PRODUTOS
QUÍMICOS
VARIEDADES SELECCIONADAS
PARA ALTO RENDIMENTO

ECOLOGICAMENTE
ECONOMICAMENTE MERCADOS DISTANTES
E SOCIALMENTE TECNOLOGIAS COM GRANDES
INSTÁVEL DESPERDÍCIOS, ENERGIAS NÃO
RENOVÁVEIS (PETRÓLEO)

Fig. 2.1 – Direcções do desenvolvimento da agricultura

Assim sendo, o agricultor estará sempre dependente das grandes


empresas, para comprar sementes, fertilizantes, insecticidas ou herbicidas, e
quem acaba por ficar com a maior parte do lucro são estas grandes estruturas
empresariais.
De um modo semelhante, na produção animal também ocorrem os
mesmos problemas. Os animais são vistos como mini indústrias de produção
de alimentos e não como seres vivos, sofrendo muitas vezes maus-tratos
pelos produtores.
Ficam confinados a locais minúsculos, às vezes no escuro, sendo alguns
alimentados à força, ou mesmo mutilados. Os animais para crescerem e
engordarem mais rápido, produzirem mais leite, tomam antibióticos em
grandes quantidades, afectando grandemente a qualidade dos alimentos
Capítulo 2. Agricultura Biológica 21

obtidos, que podem conter resíduos dessas substâncias e prejudicar a saúde


de quem os consome.
Em resumo, a agricultura convencional utiliza muitas práticas
prejudiciais ao ambiente, tais como a queima dos restolhos e a mobilização
de inversão (reviramento do solo), que se efectuam para controlar as
infestantes e preparar a cama de sementeira. Estas técnicas aumentam
consideravelmente a erosão e a compactação do solo [Ferreira02],
contaminando as águas superficiais com sedimentos, fertilizantes e
pesticidas. Para além disso ao diminuírem o conteúdo em matéria orgânica e
fertilidade do solo, e aumentarem a emissão de dióxido de carbono (CO2)
para a atmosfera, contribuem não só para o aquecimento global do planeta,
mas também para a diminuição da biodiversidade [MADRP00].
A agricultura biológica por sua vez, reage a esta realidade atacando o
problema nos seus pontos fundamentais, ou seja, a relativa autonomia em
relação aos grandes mercados, a variedade das culturas (em contraste com a
monocultura), o respeito pelo equilíbrio biológico, bem como a conservação
da fertilidade do solo, Fig.2.1.
Numa empresa, como é normal, o factor económico é importante. No
entanto, actualmente há que pensar que não importa apenas quadruplicar a
produção se para isso se está a colocar em risco a fertilidade do solo, uma
vez que isso trará consequências a médio e longo prazo nas futuras
produções. Estamos pois a falar de um recurso natural, limitado, perecível,
de recuperação possível mas lenta, o solo [Costa91]. Ao falarmos de
fertilidade estamos de facto a abordar a questão central entre o problema que
separa em grande parte as duas formas de produzir.
A fertilidade pode ser definida, como a capacidade do solo para
alimentar, no sentido mais amplo as culturas nele instaladas [Santos91].
Se reflectirmos um pouco, tudo na natureza acontece através de lentos
processos que transformam, elaboram, decompõem e repõem, e não apenas
por acrescento ou subtracção de elementos. Como referiu, Lavoisier, “na
Natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma” [Lavoisier74].
Deste modo, o processo químico intervindo sem respeitar os ritmos da
natureza na sua tentativa de a substituir, limita-se a fornecer ao terreno
substâncias, ou seja, acrescenta elementos que rapidamente se dissolvem na
Capítulo 2. Agricultura Biológica 22

água os quais, de facto, vão exercer momentaneamente a sua função, mas


rapidamente desaparecerão.
Se pensarmos então na outra forma de produzir, na agricultura biológica,
o agricultor intervém também sobre a natureza, só com uma grande
diferença, existe por parte deste um respeito pelos seus ciclos, seus
processos, respeitando os tempos que ela lhe impõe: a diversidade das
culturas, as rotações e o adubamento com estrumes tratados, demonstrando
bem a permuta que este faz com o meio, e não a sua substituição.

2.4 Definição de agricultura biológica

A Agricultura Biológica, também é conhecida como “Agricultura


Orgânica” no Brasil “Organic Agriculture”, “Organic Farming” em países
de língua inglesa, “Agricultura Ecológica” em Espanha, “Nature Farming”
no Japão e na Dinamarca.
Pode ser definida de diversas maneiras devido à multiplicidade das
características envolvidas. Segundo a Food and Agricultural Organisation
(FAO), “Agricultura biológica é um sistema holístico, que promove e
melhora a saúde do ecossistema agrícola, ao fomentar a biodiversidade, os
ciclos biológicos e a actividade biológica do solo. Privilegia o uso de boas
práticas de gestão da exploração agrícola, em lugar do recurso a factores
de produção externos, tendo em conta que os sistemas de produção devem
ser adaptados às condições regionais. Isto é conseguido, sempre que
possível, através do uso de métodos culturais, biológicos e mecânicos em
detrimento da utilização de materiais sintéticos.” (Codex Alimentarius
Comission, FAO/WHO (Food and Agricultural Organisation/World Health
organisation, 1999) [AGROBIO04].
A agricultura biológica engloba sob um ponto de vista ambiental, social
e económico, todos os sistemas que promovem a produção de alimentos e
fibras sãos. Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do solo a nível local
como chave para uma produção de sucesso. Ao respeitar a capacidade
natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar a qualidade em todos
os aspectos da agricultura e do ambiente. A Agricultura Biológica reduz
substancialmente a utilização de factores de produção externos, através da
Capítulo 2. Agricultura Biológica 23

não utilização de fertilizantes e pesticidas químicos de síntese, nem produtos


fitofarmacêuticos.
Em vez disso, permite às poderosas leis da natureza aumentar os
rendimentos agrícolas e a resistência às doenças, e está de acordo com
princípios globalmente aceites, enquadrados em contextos culturais,
geoclimáticos e socio-económicos locais [IDRHa90].
A base para o sucesso do sistema biológico é um solo sadio, bem
estruturado, fértil (macro e micronutrientes disponíveis às plantas em
quantidades equilibradas), com bom teor de húmus, água e ar e boa
actividade biológica, pois é o solo e não o adubo que deve nutrir a planta
[Costa91]. O solo deve estar sempre coberto para evitar erosão [Ferreira02].
No sistema de produção biológico recorre-se ao cultivo múltiplo e à
rotação de culturas, tornando-as menos susceptíveis ao aparecimento de
pragas e agentes patogénicos dificultando também o aparecimento de plantas
invasoras, devido à diversidade dos organismos do agro-ecossistema
desenvolvido [Ferreira02].
O controlo de ervas invasoras, pragas e doenças é feito através de
controlo biológico recorrendo à solarização (desinfecção do solo pelo calor
produzido pelo sol), e à criação e largadas de inimigos naturais e/ou
armadilhas.
Deve utilizar-se de forma adequada todas as máquinas de uso agrícola
para não se danificar a estrutura e a vida do solo.
A integração da agricultura com a criação animal na propriedade é de
extrema importância, pois o estrume pode ser transformado em composto,
normalmente designado por húmus, muito importante para a agricultura
biológica. Os animais devem preferencialmente consumir ração produzida na
própria propriedade, ter instalações adequadas e optarem por um pastoreio
livre [Ferreira02].

Podemos resumir algumas das vantagens da Agricultura Biológica:

• Ausência de poluição do solo e dos lençóis freáticos pelos


pesticidas;
Capítulo 2. Agricultura Biológica 24

• Aumento da diversidade biológica tanto ao nível botânico


como zoológico;
• Manutenção da estrutura e dos equilíbrios microrgânicos do
solo;
• Redução da perda dos elementos minerais graças ao papel
privilegiado atribuído à matéria orgânica;
Prioridade dos equilíbrios naturais que permitam proteger as culturas através de
métodos de defesa naturais, em vez de uma utilização regular dos pesticidas;
Máxima utilização dos recursos naturais locais e de recursos renováveis;
Redução do conteúdo energético dos factores de produção e logo da dependência
externa da agricultura;
De um ponto de vista económico este tipo de produção menos intensiva e menos
orientada para a obtenção de elevados rendimentos, pode permitir um melhor
controlo das superproduções.

Por outro lado a agricultura biológica pode necessitar de mais mão-de-


obra, o que no actual contexto económico, em que se verifica um elevado
índice de desemprego, resulta numa mais valia tendo em conta o quadro de
defesa do espaço rural, e o facto de numerosas regiões estarem ameaçadas
pela desertificação. A reconversão de uma exploração agrícola tradicional
para a agricultura biológica representa uma operação necessária envolvendo
conhecimentos técnicos [IDRHa04].
De uma forma resumida podemos dizer que a agricultura biológica, é
ecológica uma vez que se baseia no ecossistema agrário recorrendo a
práticas culturais tais como, rotações de culturas, adubos verdes,
consociações, luta biológica contra pragas e doenças, fomentando o
equilíbrio e a biodiversidade. É um tipo de agricultura holistica, uma vez que
fomenta a interacção dinâmica entre o solo, as plantas, os animais e os seres
humanos, considerados como uma cadeia indissociável, em que cada elo
afecta os restantes. A agricultura biológica é sustentável, uma vez que
procura manter a fertilidade do solo a longo prazo, preservando os recursos
naturais, minimizando todas as formas de poluição que possam advir de
práticas agrícolas, recicla restos de origem vegetal ou animal de forma a
devolver nutrientes à terra, minimizando o uso de recursos não renováveis,
Capítulo 2. Agricultura Biológica 25

defende a ideia de depender de recursos renováveis em sistemas agrícolas


organizados a nível local, deste modo exclui quase na totalidade a utilização
dos produtos químicos de síntese como adubos, pesticidas, reguladores de
crescimento e aditivos alimentares para animais. Podemos definir a
agricultura biológica, também como sociavelmente responsável, uma vez
que une os agricultores e os consumidores na responsabilidade de produzir
alimentos e fibras de forma ambiental, social e economicamente sã e
sustentável, preserva a biodiversidade e os ecossistemas naturais, permite
aos agricultores uma melhor valorização das suas produções e uma
dignificação da sua profissão, garantindo aos consumidores a possibilidade
de escolherem consumir alimentos de produção biológica, sem resíduos de
pesticidas de síntese e consequentemente melhores para a saúde humana e
para o ambiente.

2.4.1 O que indicam as estatísticas

A apreensão do consumidor, provocada pelas crises no sector alimentar e


pelo progresso tecnológico, nomeadamente a modificação genética e a
irradiação dos alimentos, deram lugar a preocupações sérias acerca da
segurança alimentar e a uma exigência cada vez maior de garantias de
qualidade e de informações pormenorizadas acerca dos métodos de
produção. Além disso, a consciência dos prejuízos ambientais irreversíveis,
resultantes de práticas que provocaram a poluição do solo e das águas, a
depauperação de recursos naturais e a destruição de ecossistemas frágeis,
levaram a opinião pública a exigir uma atitude mais responsável
relativamente ao património natural comum. Neste contexto, a agricultura
biológica, antes considerada como actividade de interesse marginal ao
serviço de um mercado reduzido, surge agora como um sistema de
exploração, não só capaz de produzir alimentos sãos, mas também
respeitador do ambiente.
Apesar dos alimentos resultantes da produção biológica atingirem, quase
sempre, preços superiores aos dos produzidos de modo convencional, o
número de consumidores dispostos a pagar mais caro por garantias de
Capítulo 2. Agricultura Biológica 26

qualidade e segurança aumentou [Eurostat02]. Os alimentos biológicos,


antes dificilmente disponíveis fora das lojas especializadas e de mercados
locais, encontram-se agora mais frequentemente nas prateleiras das
principais cadeias de supermercados, em toda a Europa. A variedade de
produtos disponíveis aumentou também de tal modo que o consumidor pode
agora, razoavelmente, esperar encher o seu cabaz de compras semanal
exclusivamente com produtos biológicos, quando à escassos anos a gama se
limitava a produtos hortícolas, carne, produtos lácteos e avícolas, e fruta. A
expansão do mercado de consumo constitui, assim, para os agricultores, um
dos principais estímulos para a conversão das suas explorações ao modo de
produção biológico.
O número de explorações que produziam segundo este modo de
produção, ou que se encontravam em período de conversão, e que em 1985
era de 6300, tinha, em 1998, excedido as 100000 [Eurostat02]. A situação
difere, no entanto, de Estado-Membro para Estado-Membro. Existem
factores relevantes que permitem o crescimento da agricultura biológica,
nomeadamente a crescente consciencialização por parte dos consumidores
que algo está errado, na forma de produzir quer dos vegetais como dos
animais, e nas crescentes preocupações ambientais.
Apesar de representar apenas cerca de 3 % da superfície agrícola útil
(SAU) em 2000, a agricultura biológica constitui, na realidade, um dos mais
dinâmicos sectores agrícolas na União Europeia. Entre 1993 e 1998, o sector
da agricultura biológica desenvolveu-se a uma taxa anual de cerca de 25 %,
calculando-se que desde então essa taxa tenha aumentado para cerca de 30%,
Fig. 2.2.
Capítulo 2. Agricultura Biológica 27

Fig. 2.2- Percentagem de área ocupada pela agricultura biológica na União Europeia em
2000

2.4.2 O que indicam as estatísticas em Portugal

A criação de Associações de Agricultura Biológica, em Portugal, a partir


de 1985, teve um importante papel na defesa e desenvolvimento da produção
biológica, mas foi sobretudo a partir de 1997 que se verificou uma maior
adesão dos agricultores a este modo de produção, em consequência não só
das medidas agro-ambientais, com ajudas directas aos agricultores, mas
também como resposta a uma maior procura, pelos consumidores, de
produtos provenientes da agricultura biológica.
Portugal tinha, no final do ano 2000, cerca de 50000 ha em produção
biológica, em que 41% da área era ocupada pelo olival. A produção
biológica envolvia, à data, um total de 763 operadores certificados, como se
pode verificar pela análise da Fig. 2.3 [IDRHa02].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 28

90000 85912

80000 70857
70000
60000
47974 50002 TOTAL NACIONAL DE
50000 OPERADORES
BIOLÓGICOS
40000
29622
30000 ÁREA AFECTA Á
AGRICULTURA
20000 12193 BIOLÓGICA( ha)
9182
10000 2799 983 1059
763
73 240 278 564 750
0
1993 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Fig. 2.3- Números de Agricultura Biológica e Área Afecta à Agricultura Biológica em


Portugal Continental

Existem diferenças significativas nas áreas ocupadas pela agricultura


biológica em Portugal como se pode observar pela análise da Fig. 2.4, onde
se verifica que a maior percentagem de área ocupada de agricultura biológica
se situa no Alentejo, e que a menor percentagem constitui a área
correspondente ao Entre Douro e Minho.

Fig. 2.4 - Percentagem da área ocupada pela Agricultura Biológica em Portugal Continental
por regiões
Capítulo 2. Agricultura Biológica 29

A evolução do sector em Trás-os-Montes tem sido crescente, notando-se


um aumento verificado a partir de 1994, com a aplicação das Medidas Agro-
Ambientais (Regulamento CEE n.º 2078/92 e um decréscimo em 1996
devido à mudança do sistema de controlo, Fig. 2.5

Fig. 2.5 - Evolução da área afecta à Agricultura Biológica em Trás-os-Montes

No que diz respeito às culturas envolvidas, a evolução apresenta-


se positiva ao longo dos anos na área (ha) ocupada pelo olival, seguida pelas
pastagens e pelos frutos secos, menos significativa no entanto, apesar de
presente encontram-se as produções de Plantas aromáticas, hortícolas,
fruticultura, culturas arvenses, Fig. 2.6.

Fig. 2.6 - Evolução das áreas das Culturas de Produção Biológica em Trás-os-Montes
Capítulo 2. Agricultura Biológica 30

As estatísticas relativas ao crescimento do sector biológico, embora


eloquentes, reflectem apenas parte da realidade agrícola. Outros tipos de
sistemas de exploração contribuem também para a conservação do ambiente
e para a produção de alimentos seguros e de qualidade. Um exemplo
particularmente representativo é o da produção integrada, cujo objectivo
consiste em gerir explorações de forma sustentável e altamente produtiva,
utilizando da melhor forma os mecanismos biológicos existentes nos
sistemas agrícolas e pecuários.
Este tipo de agricultura, no entanto, não exclui totalmente a utilização de
fertilizantes e pesticidas, e não está regulamentado nem sujeito a um regime
de controlo imposto por lei. Em vez disso, baseia-se na redução dos factores
de produção externos e em métodos fitossanitários mais naturais que os
utilizados na agricultura intensiva. A produção agrícola integrada reforça os
aspectos positivos das técnicas culturais, procurando reduzir activamente os
seus efeitos negativos.
Os seus princípios foram delineados pela European Initiative for
Sustainable Development in Agriculture, e assentam na produção de
alimentos, fibras e matérias-primas de qualidade e em quantidade suficiente,
para satisfazer as exigências da sociedade, manter empresas agrícolas
viáveis, cuidar do ambiente, conservar os recursos naturais [Eurostat02].
Na prática, a produção agrícola integrada exige dos agricultores mais
planificação e a utilização de técnicas de maneio correctas na sua actividade
produtiva. Os agricultores podem reduzir o uso de insecticidas, por exemplo,
semeando variedades resistentes e diversificando as culturas da rotação. Os
sistemas de maneio dão prioridade à saúde e conforto dos animais, evitando
o stress, atribuindo a devida atenção ao bem-estar dos animais na
alimentação, manuseamento, alojamento e transporte. Os agricultores devem
ainda compreender melhor as repercussões do estado físico-químico dos
solos na sua exploração, e adoptar técnicas culturais que minimizem a
erosão, a poluição e a deterioração da estrutura do solo. Os nutrientes
presentes no solo são extraídos pelas culturas, e é necessário, por
conseguinte, devolvê-los ao solo de maneira responsável, através de
aplicações equilibradas de matéria orgânica e fertilizantes minerais,
incluindo resíduos orgânicos e materiais resultantes da compostagem.
Capítulo 2. Agricultura Biológica 31

Uma vez que as explorações utilizam energia proveniente de


combustíveis fósseis limitados, a produção agrícola integrada procura
aumentar a eficiência na utilização de energia, e reduzir as perdas. Muitos
resíduos das explorações agrícolas são poluentes dos solos, da água e da
atmosfera, e devem por conseguinte ser reutilizados ou reciclados, sempre
que possível. As explorações agrícolas abrigam também grande quantidade
de espécies animais selvagens, procurando-se, na produção integrada,
conservar e melhorar o habitat destas espécies.

2.4.3 Legislação, certificação e controlo

A agricultura biológica está regulamentada, na União Europeia desde


1991, pelo regulamento (CEE) n.º 2092/91 de 24 de Julho. Este regulamento,
que tem vindo a sofrer algumas alterações através de outros [Reg. (CE) n.º
1488/97 de 29.07.97 e Reg. (CE) n.º 473/2002 de 16.03.02], indica quais as
substâncias activas autorizadas neste modo de produzir, bem como as
condições da sua utilização.
O crescimento da agricultura biológica abriu novas perspectivas de
emprego, ao nível da produção, transformação e serviços afins, para além
das vantagens ambientais, este sistema de exploração pode produzir
benefícios significativos tanto para a economia como para a coesão social
das zonas rurais. A disponibilidade de apoio financeiro e de outros
incentivos à reconversão das explorações por adopção do modo de produção
biológico destina-se a contribuir para um crescimento ainda maior do sector
e a apoiar as actividades empresariais ao longo de toda a cadeia de produção
de alimentos.
O Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do conselho de 24 de Junho de 1991,
Anexo 1 [IDRHa91], salienta a necessidade eminente de um sistema de
rotulagem e controlo de todas as normas a que a produção biológica obriga,
”considerando que um quadro de normas comunitárias de produção,
rotulagem e de controlo permitirá proteger a agricultura biológica, desde
que o referido quadro constitua uma garantia de condições de concorrência
Capítulo 2. Agricultura Biológica 32

leal entre os produtores dos produtos que ostentam as referidas indicações e


impeça o anonimato no mercado dos produtos biológicos, assegurando a
transparência em todos os estádios da produção e transformação,
conduzindo assim a uma maior credibilidade dos referidos produtos aos
olhos dos consumidores“ [IDRHa91].
A regulamentação do regime de controlo a que está sujeita a agricultura
biológica inclui a exigência de registos pormenorizados. Diversas iniciativas
destinadas a melhorar a recolha e a disponibilidade de dados estatísticos
agrícolas foram também lançadas pela Eurostat, o organismo oficial de
divulgação de dados da União Europeia.
Estes instrumentos analíticos são hoje utilizados para diversos fins. Além
de indicarem tendências e assinalarem riscos e oportunidades na actividade
agrícola, auxiliando os responsáveis políticos, fornecem também preciosas
indicações aos grupos de consumidores que procuram informações precisas
acerca da produção e transformação de alimentos.
Um dos elementos da reforma da PAC iniciada no final da década dos
anos 80 foi o reconhecimento do papel fundamental que a agricultura
biológica podia desempenhar na realização dos novos objectivos então
definidos, tais como a diminuição dos excedentes, o fomento da qualidade e
a integração de medidas de conservação do ambiente nas práticas agrícolas
[IDRHa91].
Para firmar a confiança dos consumidores, no entanto, a agricultura
biológica necessitava, evidentemente, de uma regulamentação estrita que
abrangesse a produção e a qualidade, bem como medidas de prevenção da
referência abusiva à produção biológica. Actualmente, os consumidores
exigem cada vez mais o acesso à informação quanto ao modo de produção
dos alimentos que consomem – "da exploração até à mesa" – procurando
garantias de que todas as precauções foram tomadas no respeitante à
segurança e à qualidade, em cada uma das etapas do processo.
Foi, por conseguinte, introduzida regulamentação que assegurasse a
autenticidade dos métodos utilizados na agricultura biológica,
regulamentação que hoje constitui um conjunto exaustivo de normas
abrangendo a produção agrícola e pecuária, bem como a rotulagem,
Capítulo 2. Agricultura Biológica 33

transformação e comercialização dos produtos biológicos. Estas normas


regem também a importação de produtos biológicos para a União Europeia.
A primeira regulamentação em matéria de agricultura biológica foi
elaborada em 1991, regulamento (CEE) n.º 2092/91. Desde a sua adopção,
em 1992, numerosas explorações em toda a Comunidade foram
reconvertidas, adoptando o modo de produção biológico. O período de
conversão, para agricultores que desejem identificar oficialmente os seus
produtos como biológicos, é de dois anos, no mínimo, para a sementeira de
culturas anuais, e de três anos, para as perenes [IDRHa02].
Em Agosto de 1999 foram também acordadas normas relativas à
produção, rotulagem e inspecção para as espécies animais mais importantes
(bovinos, ovinos, caprinos, equinos e aves de capoeira), regulamento (CE)
n.º 1804/99. O acordo abrange também questões como a alimentação, a
prevenção sanitária e assistência veterinária, bem-estar dos animais, sistemas
de maneio e gestão de pastagens.
Os organismos geneticamente modificados (OGM) e os produtos deles
derivados são explicitamente excluídos do modo de produção biológico,
Regras de produção, artigo 6º, alínea d) [IDRHa03]. O regulamento aplica-se
também às importações de países terceiros de produtos resultantes da
agricultura biológica, cuja produção esteja subordinada a critérios e sistemas
de controlo reconhecidos como equivalentes pela UE.
Igualmente importantes são os procedimentos de controlo associados a
estes regulamentos, que condicionam a referência ao modo de produção
biológico ao registo dos produtores junto do organismo de controlo
competente do respectivo país. Estes organismos, por sua vez, são
designados e regulamentados por autoridades que têm por missão verificar a
respectiva capacidade de administração dos regimes de controlo, de forma
justa e eficaz, Sistemas de controlo, artigo 8º [IDRHa03].
O controlo abrange todas as fases do processo de produção, incluindo a
armazenagem, a transformação e o acondicionamento. As explorações são
inspeccionadas pelo menos uma vez por ano, sendo também efectuadas visitas
sem aviso prévio. As sanções por infracção a qualquer das normas incluem a
retirada do direito à referência ao modo de produção biológico para o produto
em causa, e penalidades mais severas para transgressões mais graves. São
Capítulo 2. Agricultura Biológica 34

exigidos registos meticulosos que incluem, para os produtores pecuários,


registos completos dos respectivos sistemas de maneio.
O organismo oficial competente em matéria de Agricultura Biológica é a
Direcção Geral De Desenvolvimento Rural- DGDRural, existindo em Portugal
reconhecidos, dois Organismos Privados de Controlo (OPC), a Socert-
Portugal, Certificação Ecológica, LDA e a Sativa, Desenvolvimeto Rural,
LDA, já anteriormente mencionados.
Em Março de 2000, a Comissão Europeia criou um símbolo, ver Fig. 2.7,
com a menção "Agricultura Biológica - Sistema de Controlo CE", regulamento
(CEE) n.º 2092/91 do Conselho (Legislação consolidada), a utilizar
voluntariamente por produtores cujos sistemas e produtos tenham sido
declarados, na sequência de inspecções, conformes à regulamentação da UE.
Ao comprar produtos com este símbolo, os consumidores estão seguros de
que; pelo menos 95% dos ingredientes foram produzidos segundo o modo de
produção biológico, satisfazendo as normas do regime de controlo oficial, o
produto, em embalagem selada, provém directamente do produtor ou do
preparador, e ostenta o nome do produtor, do preparador ou do vendedor e o
nome ou código do organismo de inspecção [IDRHa91].

Fig. 2.7- Símbolo Europeu de Agricultura Biológica

2.4.4 Produtos fitofarmacêuticos

Em produção biológica, para controlo de pragas e doenças, deve


privilegiar-se o recurso a meios de protecção cultural, biológicos e
biotécnicos e só em último caso recorrer ao uso de produtos
fitofarmacêuticos. Estes estão restringidos a alguns tipos de produtos, não
estando autorizados os de síntese [IDRHa91].
Capítulo 2. Agricultura Biológica 35

Publicado em 1962, Primavera Silenciosa (Silent Spring) de Rachel


Carson, foi a primeira obra a detalhar os efeitos adversos da utilização dos
pesticidas e insecticidas químicos sintéticos, iniciando o debate acerca das
implicações da actividade humana sobre o ambiente e o custo ambiental
dessa contaminação para a sociedade humana. A autora advertia para o
facto de que a utilização de produtos químicos para controlar pragas e
doenças interferiam com as defesas naturais do próprio ambiente natural e
acrescentava: «.. "Nós permitimos que esses produtos químicos fossem
utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre seu efeito no solo,
na água, animais selvagens e sobre o próprio homem"....»
A mensagem era directamente dirigida para o uso indiscriminado do
Dicloro-Difenil-Tricloraetano (DDT) barato e fácil de fazer, foi aclamado
como o pesticida universal e tornou-se o mais amplamente utilizado dos
novos pesticidas sintéticos antes que seus efeitos ambientais tivessem sido
intensivamente estudados. Com a publicação de "Primavera Silenciosa", o
debate público sobre os produtos químicos continuou através dos anos 60
do século passado, e algumas das substâncias listadas pela autora foram
proibidas ou sofreram restrições.
Cabe realçar que colocar o tema da utilização dos químicos na
agricultura, antes restrita aos círculos académicos e publicações técnicas,
no centro do debate público, foi, sem dúvida, o maior mérito de Rachel
Carson, como pioneira na denúncia dos danos ambientais causados por tais
produtos.
Hoje em dia, os químicos encontram-se disseminados na agricultura
convencional, como uma solução de curto prazo para a infestação de
pragas e doenças e sabe-se que o veneno residual destes produtos actua
sobre a membrana, o citoplasma ou sobre o núcleo da célula. A sua acção
dependerá da função desta célula, que responderá alterando as suas
reacções, secreções, velocidade de reacções; estimulando ou inibindo
reacções específicas [AGROBIO05].
Os fertilizantes solúveis de um determinado ponto de vista são bons, pois
são de fácil aplicação, as plantas apresentam rápida resposta e produzem
mais, logo a área cultivada pode ser reduzida. Mas na verdade existem
muito mais desvantagens que vantagens no uso desse tipo de prática pois
Capítulo 2. Agricultura Biológica 36

provocam perda de fertilidade do solo, causando acidificação, mobilização


de elementos tóxicos, imobilização de nutrientes, mineralização e redução
rápida da matéria orgânica, consequentemente aumento da erosão.
Ocorrem também desequilíbrios minerais no solo, pois as adubações e
calagens são feitas com azoto, fósforo e potássio (NPK) e calcário
respectivamente, o que promove a existência desigual de micronutrientes.
Deste modo os desequilíbrios bioquímicos nas plantas são também
inevitáveis.
Os alimentos obtidos têm pior qualidade nutricional e biológica, ou seja,
são carentes em determinadas vitaminas, minerais, aminoácidos essenciais
e substâncias que prolongam a vida de prateleira dos produtos. Sem contar
que provocam excesso de água e de nitratos, entre outros. Os nitratos são
convertidos pelos animais em nitrosaminas, que são substâncias
potencialmente cancerígenas [MADRP00].
A aplicação desses fertilizantes deve ser constante, pois exactamente por
serem solúveis (principalmente os nitratos e fosfatos), são rapidamente
"retirados" do solo pela chuva, e as consequências disso são poluição e a
eutrofização das águas (acumulação de nutrientes, sobretudo fósforo e
azoto, que pode levar ao desenvolvimento excessivo de algas e outras
espécies).
Como a grande maioria das terras cultivadas possuem sistema de
monocultura e recebem adubações minerais, necessitam da aplicação
constante também de químicos. As consequências disso são muito
parecidas com as da adubação mineral, mas com agravantes: os químicos
podem muitas vezes matar insectos polinizadores, prejudicando a produção
e também os inimigos naturais das pragas e agentes patogénicos,
ocasionando o seu ressurgimento em maior quantidade, tornando os
prejuízos ainda maiores. Podem também causar o aparecimento de outra
praga, antes secundária, a quebra da cadeia alimentar; e ainda gerar
resistência na população das pragas.
Além destas consequências da utilização de químicos na agricultura e
fertilizantes sintéticos, existem outras de carácter económico e social,
como os altos gastos e a dependência às grandes indústrias, com a
Capítulo 2. Agricultura Biológica 37

necessidade de repetidas aplicações e o balanço energético negativo devido


às grandes quantidades de produtos utilizados.
A Produção biológica é regida por normas bastante inflexíveis emitidas
pela União Europeia, regulamento (CEE) n.º 2092/91 e respectivas
actualizações. Existem modificações constantes, em vários domínios,
como por exemplo, em matéria de fertilizantes, produtos fitossanitário,
aditivos e auxiliares tecnológicos, sementes e outro tipo de material de
propagação vegetativa, substâncias que podem ser usadas na alimentação
animal, regras de importação entre outras.
A lei Portuguesa obriga à homologação de todos os produtos cujo
objectivo seja a sua comercialização tendo em vista a protecção das
culturas, Anexo II Fertilizantes e correctivos do solo, B, 2ª alteração 4.3.01
regulamento 436/01.
São muitas as razões para que no presente e no futuro as Política
Europeias venham a estabelecer medidas muito concretas a nível
comunitário, responsabilizando todos os intervenientes no processo da
produção tendo em vista um desenvolvimento sustentável, no qual a
agricultura Biológica assenta perfeitamente. Saliente-se neste caso a
medida aprovada pelo governo Português de estímulo à Agricultura
Biológica em Novembro de 2006 que prevê um investimento de 60
milhões de euros neste tipo de prática cultural [IDRHa06].
CAPÍTULO 3

SENSORES EM ESTUFAS
Grande parte da actividade humana é fundamentada, de algum modo, na
quantificação. O conhecimento, depende muito das noções quantitativas da
realidade, adquiridas através de medições de todos os tipos. Na ciência, desde os
ramos da engenharia até à medicina, recorre-se frequentemente aos sensores, para
medir variáveis do universo que estudam.
Segundo [Jones77],
“A ciência é arte de projectar, construir e aplicar aparelhos e sistemas físicos
para estender, refinar, substituir ou ultrapassar as capacidades sensoriais,
perceptivas ou comunicativas do homem”.
A instrumentação electrónica necessária em aplicações com sensores pode
claramente ser definida a partir desta afirmação.

3.1 Definição de um sensor: classificação

Um sensor pode definir-se como um sistema projectado e construído para


manter relações funcionais com propriedades de determinadas variáveis físicas, e
que inclui meios e formas de comunicação com o exterior. O estabelecimento e
conservação dessas relações funcionais estão fundamentalmente associados com o
comportamento constante do sensor. De um modo geral podemos dizer que
qualquer sensor é composto por um ou vários dos elementos funcionais
esquematizados no diagrama de blocos da Fig. 3.1 [Jones77].

Fig. 3.1 Diagrama funcional generalizado de um sensor


Capítulo 3. Sensores em Estufas 39

Os elementos de entrada são constituídos pelos elementos (ou grupos de


elementos) que reagem à propriedade física ou ao estado da variável a medir e
realizam assim a primeira operação da medida, fornecendo informações aos
elementos intermédios.
Os elementos intermédios ou condicionadores de sinal recebem a saída dos
elementos de entrada e “preparam” o sinal de forma conveniente de modo a “ser
entendido” pelos instrumentos de registo (saída) utilizados. Os elementos de saída
constituem os meios de registo dos dados recebidos dos elementos intermédios.
Pode definir-se um sensor ou transdutor como sendo, todo o dispositivo ou
equipamento que transforma uma forma de energia noutra forma de energia
[Jones77]. Ou em instrumentação eléctrica/electrónica, todo o dispositivo ou
equipamento que converte qualquer grandeza física não eléctrica (temperatura,
calor, pressão, por exemplo), numa grandeza eléctrica como tensão, corrente,
resistência, bobine ou um condensador. Estes parâmetros podem ser depois
descritos em termos de amplitude, frequência, e fase.
Existem várias abordagens na classificação de sensores. Podem ser
classificados com base no princípio eléctrico de funcionamento, na grandeza física
a medir ou na propriedade que é medida, ou em função da aplicação a que se
destinam.
No que diz respeito à sua aplicação, eles podem ser de três tipos: de
observação e vigilância de processos e operações, de controlo de processos ou de
análise experimental em ciência e engenharia [Jones77].
Os sensores de observação e vigilância de processos e operações, são
utilizados essencialmente para observação. Por exemplo, os termómetros, os
barómetros, os anemómetros, são utilizados pelos meteorologistas para
observarem as condições ambientais (temperatura, pressão, velocidade do vento),
não sendo as suas leituras utilizadas em qualquer função de controlo (no sentido
usual, de alteração voluntária dessas condições ambientais).
No segundo tipo, de controlo de processos, o sensor é um componente de um
sistema de controlo, em geral automático. Por exemplo, no caso de um sistema de
aquecimento central, ele deve incluir necessariamente um sensor capaz de medir a
temperatura (para ser possível o seu controlo), e caso se pretenda efectuar um
controlo de um processo mais complexo deve dispor-se de várias medidas de
outros parâmetros tais como, a pressão, a temperatura, a velocidade, as corrente ou
Capítulo 3. Sensores em Estufas 40

tensão eléctricas, entre outras, para que por intermédio das suas leituras se obtenha
uma ideia do estado actual do processo e desta forma definir a estratégia de acção
para que ele evolua de forma desejada.
Nos de terceiro tipo, análise experimental em ciência e engenharia, o trabalho
de investigação científica e tecnológica requer frequentemente uma grande
quantidade trabalho experimental a fim de testar hipóteses científicas, formular
relações empíricas, analisar a composição de materiais, etc. Os sensores usados
com essa finalidade devem ser de elevada precisão e de excelentes características
de funcionamento.
Outro processo de classificação de acordo com o IEEE (Institute of Electrical
Electronics Engineers) [IEEE05], consiste na divisão em dois grandes grupos:
• Passivos: geram directamente sinais eléctricos em resposta a um
estímulo externo, ou seja a energia do estímulo de entrada é convertida
pelo sensor numa energia de saída sem necessidades de potências
adicionais, como exemplo termoeléctricos, piroeléctrico,
piezoeléctrico.
• Activos:: auto-alimentados, necessitam de uma fonte externa para
operarem que normalmente se designa por sinal de excitação.
Designam-se por vezes por paramétricos, pois as suas propriedades
modificam-se em resposta a efeitos externos e essas propriedades
podem ser depois convertidas em sinais eléctricos. Como exemplo
para estes sensores temos o termistor que é uma resistência sensível à
temperatura. Este sensor não gera qualquer sinal mas fazendo passar
através dele uma corrente eléctrica (sinal de excitação) pode medir-se
a resistência em ohms e directamente relacionar-se com a temperatura.

O mecanismo associado à interpretação duma grandeza a medir por um sensor


é sumariado com mais detalhe através dos diagramas de blocos da Fig. 3.2:
Capítulo 3. Sensores em Estufas 41

Sinal
ESTRUTURA DE UM SENSOR
da variável
Ambiente
Sensoriada

Sinal Interface Selecção Condicionamento Interface Sinal


de com o do Elemento de de de
Entrada Ambiente Sensorial Sinal Saída Saída

Fig. 3.2 Diagrama de blocos da estrutura de um sensor.

Interface com o ambiente: “Sente” a presença de um fenómeno externo


representado de uma forma geral por uma característica física, (não se excluem
propriedades químicas ou biológicas): Detecção.

Selecção: Selecciona e mede uma propriedade do estímulo externo.

Processamento de Sinal: Transforma o sinal de entrada no sinal correspondente


de saída que expresso na forma analógica, digital ou modelado. Algum
condicionamento de sinal (interpretação e modificação) pode ser necessário
(Ex: linearização, conversão A/D, filtragem, limitação, entre outros)

Interface de saída: passa o sinal directamente a um sistema de controlo, a um


sistema de armazenamento ou a um utilizador capaz de o processar: Comunicação

Os custos de um sistema de medida, desde a compra à utilização são fortemente


afectados pela precisão requerida, pela complexidade do equipamento, pelos custos
de manutenção, pela facilidade de teste e pelos tempos médios de não utilização
devido a avarias. Podem fazer-se importantes economias pela apreciação cuidadosa
da precisão requerida na prática. Neste sentido, definem-se de seguida algumas
propriedades que permitem interpretar as especificações de um sensor, permitindo a
sua correcta utilização.

3.2 Características dos sensores

A conversão da energia de entrada num sensor envolve vários passos até se


produzir um sinal eléctrico. Deste modo podem definir-se um conjunto de
Capítulo 3. Sensores em Estufas 42

características denominadas estáticas que especificam apenas as relações entre a


entrada e a saída.
Quando os problemas de medição estão relacionados com entidades que
variam rapidamente, as relações dinâmicas entre a entrada e a saída devem ser
tidas em conta. Os sensores podem ser então modelados por equações diferenciais,
e os parâmetros dessas equações diferenciais exprimem as características
dinâmicas dos instrumentos. Em algumas aplicações as quantidades a medir são
constantes ou variam lentamente, podendo nesta situação as características
dinâmicas serem desprezadas [Fraden93].

3.2.1 Características estáticas

- Função de transferência –
A função de transferência Sfs = f (estímulo) é uma expressão matemática que
estabelece uma relação entre o sinal de entrada (estímulo) e o sinal de saída
(resposta). Idealmente deveria existir uma proporcionalidade entre o estímulo e a
resposta de forma a simplificar todo o processo de aquisição, condicionamento e
controlo dos sistemas, Sfs ideal na Fig. 3.3. Na realidade, na maior parte dos casos
e para todos os valores da grandeza a medir, esta propriedade não se verifica pois
existem sempre intervalos onde as não-linearidades são inevitáveis (+Δ, -Δ), Sfs real
na Fig. 3.3. Na maior parte dos casos, a estratégia consiste em utilizar o sensor em
zonas de funcionamento onde o seu comportamento é linear, ou onde a não-
linearidade não condiciona de uma forma grave o funcionamento de todo o
processo. É claro, que tudo isto deve ser um compromisso entre o objectivo final
da aplicação e a grandeza que se pretende medir.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 43

resposta limites de precisão

Sfs

Sfs ideal

Sfs real

estímulo

Fig. 3.3 Relação entre a entrada/saída de um sensor ideal e real.

- Sensibilidade -
A sensibilidade de um sensor é o menor valor de entrada que provoca alteração
na saída. Pode ser definida como o declive S = ΔY / ΔX da curva característica
(recta) de saída do sensor, Fig. 3.4. Alguns autores chamam-lhe ganho incremental
ou factor de escala. O inverso da sensibilidade é o coeficiente de deflexão ou
sensibilidade inversa.

f(x)
erro de sensibilidade
Ymax

curva ideal

gama dinâmica
(gama total)

ΔY
b •
ΔX
S = ΔY / ΔX

0,0

Ymin

Fig. 3.4 Curva característica ideal de um sensor e erro de sensibilidade


Capítulo 3. Sensores em Estufas 44

- Erro de Sensibilidade -
O erro de sensibilidade é o desvio em relação ao declive ideal da curva
característica (na Fig. 3.4 a tracejado).

- Gama -
A gama de um sensor corresponde aos valores máximo e mínimo da grandeza
de entrada que pode ser medida pelo sensor, eixo dos XX’ na Fig. 3.4.

- Gama de saída (fim de escala de saída) -


Diferença entre o sinal de saída medido com o impulso de entrada máximo e
impulso de entrada mínimo, (Ymax-Ymin), Fig. 3.4.

- Precisão -
Representa uma medida da proximidade do valor medido com o valor real de acordo
com um intervalo de incerteza. Idealmente o erro de medida deve tender para zero
(δ →0), Fig. 3.5.

resposta limites de precisão

Sfs
x – valor de entrada
z – ponto da função de transferência ideal
y – valor de saída ideal
+Δ Z – ponto da função de transferência real
y’ – valor de saída obtido

z’ – valor da função de transferência ideal para y’
Sfs ideal x’ – valor de entrada idealmente correspondente y’
y z δ – erro da medida
z´ Z
y´ Sfs real

x´ x
estímulo
δ
Fig. 3.5 Precisão de um sensor.

- Erro de calibração -
Imprecisão admitida pelo fabricante. É um erro sistemático, ou seja, manifesta-
se sempre da mesma forma. O erro cometido na leitura de A2 leva a que a recta seja
determinada incorrectamente o que implica um erro na especificação do sensor, Fig.
3.6. Este erro é a diferença entre o resultado da medição e o valor real da quantidade
Capítulo 3. Sensores em Estufas 45

medida, igual a Δ. De notar que este erro, de acordo com as especificações do


fabricante pode ser totalmente compensado.

resposta

A2
(Δ ) erro de calibração
A 2 -Δ

A
Sfs calibração
a1
Sfs real
a
estímulo
S1 S2
Fig. 3.6 Erro de calibração de um sensor.

- Exactidão -
A exactidão de um sensor corresponde à diferença máxima verificada entre o
verdadeiro valor (o qual deverá ser medido por uma referência) e o valor indicado
à saída do sensor. A exactidão pode ser expressa como percentagem da gama
dinâmica do sensor, ou em termos absolutos.

- Histerese -
Diferença entre a média dos erros em pontos correspondentes de medida
quando estes são aproximados por sentidos opostos (isto é valores crescentes e
valores decrescentes do medido x e y respectivamente). Pode ser provocada por
folgas, fricção, ou pelas características magnéticos dos materiais.
Idealmente, um sensor é capaz de medir as variações do parâmetro de entrada,
independentemente da sua diminuição ou aumento. A histerese é uma medida
desta propriedade. A Fig. 3.7, mostra uma curva típica de histerese. É de notar a
importância do sentido em que a variação é feita.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 46

resposta

Sfs
y
• •x

h
histerese

estímulo

Fig. 3.7 Curva da histerese

- Não linearidade -
Linearidade: quando a sensibilidade se mantém constante para todo o domínio
de valores medidos o instrumento de medida é linear. Se assim não for, o sensor é
não linear e o máximo desvio de linearidade é frequentemente expresso como uma
percentagem do valor máximo da escala (γ), Fig. 3.8.
Normalmente utiliza-se o sensor sempre na zona linear, já que em geral gerir não
linearidades não é tarefa fácil como já foi referido atrás. O erro de não linearidade é
especificado para sensores cuja função de transferência pode ser aproximada por
uma linha recta. Este erro γ, define-se como sendo o máximo desvio verificado entre
a função de transferência real e a função de transferência linearizada. É
normalmente especificada como uma percentagem da gama de valores de entrada,
como se pode verificar na Fig. 3.8.

resposta
curva ideal

curva medida

erro
máximo
(γ)

estímulo

Fig. 3.8 Curva característica ideal de um sensor, em função da curva medida, apresentando o
erro de linearidade
Capítulo 3. Sensores em Estufas 47

- Saturação -
Apesar de certas regiões poderem ser consideradas lineares, para determinados
níveis do sinal de entrada a saída não produz o sinal desejado. Todos os sensores
têm limites de funcionamento a partir dos quais perdem a sua linearidade. A zona de
saturação é uma dessas zonas, Fig. 3.9.

resposta

estímulo
Zona aproximadamente linear Zona de saturação

Fig. 3.9 Saturação num sensor

- Repetitibilidade -
É uma medida da semelhança de um conjunto de medidas da mesma
quantidade, feitas pelo mesmo observador, nas mesmas condições, pelos mesmos
métodos e com os mesmos instrumentos.
O erro de repetitibilidade Δ é causado pela incapacidade do sensor reproduzir o
mesmo sinal em condições idênticas de medida dos valores referentes ao teste_1 e
teste_2 da Fig. 3.10. É normalmente especificado como uma percentagem da gama
de valores de saída (FS).
Capítulo 3. Sensores em Estufas 48

resposta

teste_2

teste_1

estímulo

Δ FS
100%

Fig. 3.10 Repetitibilidade.

- Banda morta -
Incapacidade que um sensor tem para medir uma gama específica do estímulo de
entrada. Para esta gama normalmente a saída é zero.

- Resolução -
É o menor incremento da medida que pode ser detectada com precisão pelo
sensor, θ na Fig. 3.11. Esta especificação corresponde à variação incremental do
parâmetro mais pequena que pode ser detectada no sinal de saída. Tal como a
exactidão, a resolução pode ser expressa tanto como uma fracção da leitura (gama
dinâmica na Fig. 3.4) ou em termos absolutos. A resolução descreve os incrementos
mínimos que podem ser sentidos pelo sensor.

SFs

estímulo

Fig. 3.11 Resolução


Capítulo 3. Sensores em Estufas 49

- Offset -
O erro de offset de um sensor é definido como o valor da saída existente, quando
à partida se esperaria que o seu valor fosse nulo. Ou seja, é a diferença entre o
verdadeiro valor de saída e o valor especificado em determinadas condições. No
exemplo descrito pela Fig. 3.4, o erro de offset seria caracterizado por uma recta
(curva característica) com declive (sensibilidade) igual ao declive ideal, mas com
ordenada na origem diferente de zero.

- Impedância de saída -
A impedância de saída de um sensor (Zout) é importante para o projecto do
circuito de interface com o sistema de medida. Saída em tensão, Zout deve ser baixa,
Fig. 3.12 A; Saída em corrente: Zout deve ser alta, Fig. 3.12 B.

Zout
V Zin Zout Vs V Zin
Vs

Sensor Circuito de Sensor Circuito de


interface interface

Fig. A- Saída em tensão Fig. B- Saída em corrente

Fig.3.12 Impedância de saída de um sensor

- Excitação -
Sinal eléctrico necessário para activar as operações do sensor. As características
de excitação especificam qual o estímulo eléctrico necessário ao funcionamento de
um sensor. Nalguns casos a especificação da frequência e estabilidade é necessária
ao sinal de excitação.

- Faixa de actuação -
É o intervalo de valores de grandeza em que pode ser usado o sensor, sem
destruição ou imprecisão descontrolada.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 50

Sob as condições estáticas atrás definidas, um sensor é completamente descrito


através das características enunciadas. No entanto, quando o estímulo de entrada
varia, a resposta do sensor pode não conseguir acompanhar a variação com perfeita
fidelidade. Por esta razão faz-se referência a algumas características dinâmicas dos
sensores.

3.2.2 Características dinâmicas


A transição instantânea entre o estado de repouso e um outro é fisicamente
impossível. A existência de um erro dinâmico associado à medida é inevitável e
podemos acrescentar aos erros estáticos os erros dinâmicos devidos precisamente à
dependência temporal da resposta do sensor em condições de variação no estímulo
de entrada.

- Tempo de resposta -
O estado da saída dos sensores não varia imediatamente quando ocorre uma
alteração na entrada. Esta mudança de estado é feita durante um período de tempo,
designado por tempo de subida, representado por T1, na Fig. 3.13. O tempo de
resposta pode ser definido como o tempo necessário para a saída de um sensor variar
do seu estado anterior, para um valor final de estabelecimento, dentro de uma banda
de tolerância em torno do novo valor. Este conceito é de alguma forma diferente do
conceito de constante de tempo T do sistema, o qual pode ser definido de forma
análoga à definição do tempo de carga de um condensador através de uma
resistência.

saída saída
T1 T2
K2 %

K1 % T banda de tolerância

tempo
tempo

Fig.3.13 Tempo de subida (esquerda) e descida (direita)


Capítulo 3. Sensores em Estufas 51

As curvas da Fig. 3.13 mostram os dois tipos de tempo de resposta. A curva da


esquerda representa o tempo de subida T1, considerando uma função degrau
(variação positiva ) à entrada do sensor, enquanto que a curva da direita
representa o tempo de descida T2 (T1 e T2 podem não ser iguais) como resposta à
função degrau (variação negativa ), usada como parâmetro à entrada do sensor.

- Atraso -
Tempo que demora entre a aplicação do sinal de excitação ao sensor e o
momento em que começa a operar com a precisão desejada.

- Linearidade dinâmica -
A linearidade dinâmica de um sensor é a sua capacidade de medir variações
rápidas que possam ocorrer nos valores do parâmetro de entrada do mesmo. As
características de distorção da amplitude e da fase, bem como o tempo de resposta
são importantes na determinação da linearidade dinâmica.

- Resposta em frequência -
Especifica a forma, em módulo como em fase, com que o sensor reage a uma
mudança em frequência do impulso de entrada.

- Frequência de corte inferior -


Valor mínimo de frequência do estímulo para que o sensor produza a saída.

- Desfasamento -
Específica o atraso/avanço entre a saída e a entrada.

- Frequência de ressonância -
Número expresso em Hertz (Hz) onde a saída do sensor aumenta
consideravelmente.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 52

- Damping -
Progressiva redução ou supressão de oscilação no sensor com uma resposta de
ordem superior a 1.

sub-amortecido
S A
C
B

F criticamente amortecido
sobre-amortecido

Fig.3.14 Damping

O factor de damping num sistema que oscile pode ser expresso através do
parâmetro:
F A B
Factor de damping= = = .
A B C

Para além das características estáticas e dinâmicas, podem existir outros factores
também importantes para caracterizar sistemas que envolvam sensores. Como
exemplo, temos as condições de armazenamento que têm de ser levadas em conta
quando se utilizam sensores de humidade, como vamos ver a seguir.

3.2.3 Condições ambientais

- Condições de armazenamento -
Especificam as condições necessárias para o armazenamento dos sensores
quando estes estão desactivados para que as suas características se mantenham
inalteradas, tais como: a temperatura máxima e mínima, as condições de humidade,
pressão, ou a presença de gases ou fumos.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 53

As condições de armazenamento representam limites não operacionais, onde o


sensor não deve ser usado durante esse período de tempo, pois não altera as suas
características. Normalmente as condições de armazenamento incluem o maior e
menor valor de temperatura e o valor máximo de humidade relativa para essas
temperaturas.

- Estabilidade a curto e a longo prazo -


Está relacionada com a estabilidade e o envelhecimento dos sensores. As
características de estabilidade a longo prazo estão muitas vezes interligadas com as
condições de funcionamento.

- Temperatura ambiente -
A gama de temperaturas ambientes às quais o sensor possui a sua precisão
própria é importante em muitas situações para a determinação da verdadeira
precisão da medida.

- Erro de auto-aquecimento -
Erro introduzido pelo aquecimento próprio do sensor que pode afectar
significativamente a sua precisão. É normalmente fortemente dependente das
condições de refrigeração a que está sujeito.

- Confiança ou fiabilidade -
A confiança é a capacidade com que um sensor realiza a sua função para
determinadas condições, num determinado período de tempo. É expressa em termos
estatísticos como a probabilidade que o dispositivo tem de funcionar sem erros ao
longo dum intervalo de tempo específico ou um número finito de utilizações.
A fiabilidade dá-nos uma medida da capacidade que um sensor tem de cumprir
uma dada função sob dadas condições de funcionamento durante um determinado
período de tempo. É normalmente expressa como a probabilidade de um dispositivo
funcionar sem falhas num intervalo de tempo. Embora muito importante, é
raramente especificada pelos fabricantes talvez por ser muito difícil de definir.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 54

3.3 Grandezas físicas a controlar


A qualidade e quantidade de produção num ambiente controlado estão
directamente relacionadas com factores tais como a: radiação solar, humidade do ar,
temperatura do ar, composição química do ar, idade da planta, qualidade da água de
irrigação ou a características do solo. No entanto, o controlo de todos estes factores
em termos económicos torna-se por vezes inviável sendo comum restringir o
conjunto de variáveis de controlo às necessárias para as culturas e problemas
específicos.
Deste modo, é importante que se identifiquem correctamente as grandezas
físicas que são essenciais para o processo de monitorização ambiental nas estufas.
Como variáveis mais comuns com grande importância no sistema temos a:
temperatura do ar interior (afecta as funções metabólicas da cultura), temperatura do
ar exterior (afecta a temperatura do ar interior através da ventilação e condução),
humidade do ar interior (afecta a transpiração e o mecanismo de controlo térmico
das plantas), humidade do exterior (afecta a humidade do ar interior através da
ventilação), velocidade do ar (uniformiza o clima e promove a polinização),
radiação solar (interfere na fotossíntese, e gera uma carga térmica durante os
períodos de calor) e o dióxido de carbono (vai afectar a fotossíntese) [Alpi91].
Em seguida, será feita referência aos sensores mais utilizados na medida destas
grandezas, ou seja, sensores de temperatura, de humidade, de concentração de CO2 e
de radiação solar.

3.4 Sensores de temperatura


Temperatura e calor são dois conceitos de conteúdos bem diferentes. Pode
definir-se temperatura como o grau de calor. O termo calor emprega-se em geral
para exprimir a quantidade de energia térmica.

As moléculas constituintes das substâncias encontram-se constantemente em


movimento. Quanto mais rápido é o seu movimento, mais quente se encontra o
corpo. Este facto pode ser descrito como um potencial térmico, ou como uma
energia efectiva da substância. O grau de temperatura (ou simplesmente
temperatura) é o número dado a esse atributo.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 55

A quantidade de calor que um corpo contém depende não só da sua temperatura


mas também da sua massa e da natureza da substância de que é constituído. O calor
pode ser transferido de um corpo para o outro: um corpo A está mais quente que um
corpo B se, colocado em contacto, o calor circula de A para B.

Para medir a temperatura de um corpo é necessário, antes de mais, estabelecer


alguns pontos fixos de grau de calor, relativamente aos quais se possa referir a
temperatura. A escala prática de temperatura, internacionalmente estabelecida em
1968 [Doebelin83], baseia-se num número de pontos fixos (nos quais se fizeram
um certo número de observações de medida). Esses pontos fixos são ligados por
interpolações através do uso de instrumentos que têm o mais elevado grau de
repetitibilidade. Os pontos fixos são estabelecidos pela obtenção de estados de
equilíbrio especificados entre as fases de substâncias puras.

Os principais sensores que permitem medir temperaturas baseiam-se nos


seguintes princípios:
• Expansão de um líquido, de um gás ou de um sólido (sistema
termométricos de enchimento);
• Potencial eléctrico, produzido por materiais diferentes em contacto-
termoelectricidade (pares termoeléctricos ou termopares);
• Intensidade da radiação total ou da radiação de um feixe de
comprimento de onda particular, emitida por um corpo aquecido
(pirómetro de radiação).
• Alteração da resistência eléctrica (termómetros de resistência,
termistores).

Como já foi referido anteriormente a temperatura ambiente constitui um


parâmetro de extrema importância no sistema estufa-cultura, uma vez que afecta
grandemente a fisiologia da planta em questão. Na indústria os mais utilizados são
os sensores resistivos, os semicondutores e os termopares [Santos98].enquanto que
em estufas praticamente não se utilizam termopares [Santos98].
Capítulo 3. Sensores em Estufas 56

3.4.1 Expansão de um líquido, de um gás ou de um sólido


(sistema termométricos de enchimento)
Muitos sensores de temperatura utilizam de uma forma directa ou indirecta o
fenómeno da expansão térmica das substâncias sólidas, líquidas ou gasosas. Apenas
será feita referência ao caso das sólidas. O princípio da expansão do sólido é
utilizado sobretudo nos termómetros bi-metálicos. Quando um sólido é aquecido,
aumenta o seu volume (aumenta o comprimento, largura e a altura). O aumento de
qualquer uma das dimensões depende da sua grandeza inicial, l0, do aumento de
temperatura t, e do coeficiente de expressão térmica linear, α.
O coeficiente de expressão linear pode ser definido como o aumento do
comprimento por unidade de comprimento quando a temperatura aumente 1ºC.
Logo, se a temperatura de uma peça de comprimento l0 é aumentada de 0ºC a
tºC, o novo comprimento lt será dado por;
lt = l0 + l0αt = l0 (1+αt)
O valor de α varia de substância para substância.

3.4.1.1 Termómetros bi-metálicos


Duas lâminas de metais A e B com diferentes coeficientes de expansão linear αA
e αB, à mesma temperatura, são ligadas uma à outra. Uma variação de temperatura
provoca uma expansão diferente em cada uma das lâminas e o conjunto das duas é
submetido a uma deflexão cuja forma depende do modo como foram ligadas.
Estes termómetros são muito utilizados para a medir a temperatura normalmente
associadas a sistemas de controlo “on-off”. Por exemplo, os aquecedores de
ambiente poderiam ser equipados com termóstatos baseados neste princípio.

3.4.2 Métodos baseados no potencial eléctrico produzido por


materiais diferentes em contacto (ou pares termoeléctricos)
Capítulo 3. Sensores em Estufas 57

3.4.2.1 Efeito termoeléctrico

Junção térmica A Junção térmica A

T1 T2
T1 T2

E
B B B B
I
Ο Ο

Voltímetro Amperímetro

Termopar

Fig. 3.15 Princípio da temperatura

Se dois fios de materiais diferentes A e B se ligam num circuito como o da Fig.


3.15, com uma junção à temperatura T1 e a outra à temperatura T2, um voltímetro de
impedância interna infinita detecta uma força electromotriz (f.e.m.) E, ou caso se
ligue um amperímetro ao circuito, pode medir-se uma corrente I. A amplitude de E
depende dos materiais de que são constituídos os fios metálicos, de T1 e T2. A
corrente I obtém-se dividindo E pela resistência total do circuito, incluindo a
resistência interna do amperímetro.
Se no circuito circula uma corrente, quer dizer que se gera potência eléctrica,
esta potência advém do calor absorvido do meio circundante. Tem-se aqui a
conversão directa de energia calorífica em energia eléctrica. Este efeito é reversível.
Se aplicarmos, através de uma fonte externa, uma tensão a um termopar (ou uma
corrente) provocar-se-á a circulação de calor. Uma junção fornece calor (fica mais
quente que o meio ambiente), outra junção absorve-o (fica mais fria que o
ambiente). O efeito par termoeléctrico é usado sobretudo como elemento sensor da
temperatura. No entanto, este princípio pode ser usado para a geração de potência
eléctrica, para aquecimento e arrefecimento [Doebelin83].
A relação global entre tensão e as temperaturas T1 e T2., que é a base das medidas
termoeléctricas de temperatura, chama-se efeito de Seebeck. É aproximadamente
proporcional à diferença (T1 - T2), para pequenas diferenças de temperatura,
E = α (T1 - T2) , T2 > T1
À constante α dá-se o nome de coeficiente de Seebeck, α depende da natureza dos
materiais constituintes do termopar e da temperatura , Fig. 3.16.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 58

100

coeficiente de
E
seebeck α 80
T
J
60 região linear

40
K
R
20
S
0
-500 0 500 1000 1500 2000

temperatura ºC

Fig. 3.16 Coeficiente de Seebeck dos termopares mais comuns

Para o termopar tipo K, existe no entanto uma gama apreciável de temperaturas


para as quais α é quase constante.
As temperaturas T1 e T2 são as das junções, enquanto que com o uso do
termopar, pretende-se medir a temperatura de um corpo em contacto com o termo-
junção. Estas duas temperaturas não são exactamente as mesmas se o termopar é
percorrido por uma corrente. Neste caso liberta-se ou absorve-se calor na junção,
que deverá assim estar mais quente ou mais fria, que o meio circundante cuja
temperatura está a ser medida. Este efeito aquecedor ou refrigerador está
relacionado com o efeito de Peltier [Doebelin83]. Quando circula corrente, o calor é
absorvido na junção quente (exigindo que ela fique mais fria que o meio
circundante), e é libertado na junção fria (tornando-a mais quente que o meio
circundante). No entanto estes efeitos de aquecimento e arrefecimento são
desprezáveis (eles são proporcionais à corrente) quando a corrente é a produzida
pelo termopar em conjunto com o sensor. De qualquer modo, e para diminuir este
efeito, deve ligar-se o termopar a um amplificador de instrumentação com alta
impedância de entrada (1 a 100 MΩ).
Um outro efeito reversível de circulação de calor, o efeito de Thomson mais
tarde Lord Kelvin, influencia a temperatura dos condutores entre as junções.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 59

Quando circula corrente num condutor submetido a um gradiente de temperatura


(a temperatura varia ao longo do seu comprimento), verifica-se nele uma
transmissão de calor das zonas mais quentes para as zonas mais frias. O efeito
Thomson consiste em que se liberta calor em qualquer ponto em que o sentido da
corrente é o mesmo que o da transmissão de calor, enquanto se verifica a absorção
de calor em qualquer ponto em que os sentidos da corrente e da transmissão de calor
são opostos. Como este efeito depende da corrente, ele é bastante diminuído se o
termopar se liga a um circuito de alta impedância de entrada (circulará corrente
desprezável, o efeito é desprezável). É de salientar também que a corrente que
circula no termopar, devido ao efeito de Joule, gera o calor I2R, e portanto tende a
aumentar a temperatura do circuito relativamente ao meio circundante. Em todos os
casos verifica-se que se deve usar equipamento de medida de E de alta impedância
de entrada, para minorar os erros devido aos efeitos indicados.
A f.e.m. gerada no termopar é devida aos efeitos de Peltier e de Thomson. As
f.e.m. de Peltier, localizadas nas junções, são proporcionais às diferenças de
temperatura das junções. A f.e.m. de Thomson, distribuída ao longo dos condutores
entre as duas junções, é proporcional á diferença dos quadrados das temperaturas
das junções. A f.e.m. seria dada por,
E= α1 (T2 – T1 ) + α2 (T22 – T12 ) ,T2 > T1

No entanto em termos práticos não se verifica exactamente esta equação. Um


termopar de um dado material deve ser calibrado em toda a sua gama de
temperaturas (em que é usado). Apenas interessa conhecer a f.e.m. global,
independentemente dos efeitos de Peltier e Thomson.
As medidas de temperatura através de termopares são baseadas na calibração
empírica do termopar e nas chamadas leis termoeléctricas [Doebelin83] ou leis
termopares.
Como vantagens apresentam uma boa robustez, não requerem alimentação, não
existe o auto-aquecimento, apresentam baixo custo, respondem a gamas de
temperatura elevadas. Como desvantagens possuem baixa precisão, são não lineares,
estabilidade baixa, exigem um circuito de condicionamento do sinal relativamente
dispendioso.Com o objectivo de minorar a baixa precisão muitas vezes associam-se
em série (termopilhas).
Capítulo 3. Sensores em Estufas 60

3.4.3 Métodos de radiação


Em todos os métodos de medida de temperatura referidos, o sensor do
instrumento de medida está em contacto físico com o corpo cuja temperatura se
pretende medir e além disso ele deve ser colocado a essa mesma temperatura. Este
facto pode colocar algumas dificuldades: por um lado, tratando-se de temperaturas
muito elevadas o sensor pode deteriorar-se ou mesmo fundir, e por outro, se o corpo
está em movimento, é mais conveniente um princípio de medida que não exija o
contacto do sensor com o corpo.Para resolver problemas deste tipo, desenvolveram-
se instrumentos baseados na medida da radiação emitida pelos corpos. São
normalmente designados por, pirómetros de radiações, termómetros de radiação, ou
pirómetros ópticos.Os sensores de temperatura por radiação utilizam o espectro de
comprimento de onda de [0.3 , 40] μm.Todos os corpos (sólidos, líquidos, gasosos)
a uma temperatura acima de 0º K (zero absoluto) emitem radiação electromagnética
dependente da temperatura. O radiador térmico ideal chama-se “corpo negro”.

O corpo negro absorve completamente qualquer radiação que o atinge e emite a


quantidade máxima de radiação térmica possível para uma dada temperatura. O
conceito de corpo negro é uma abstracção matemática, no entanto, os corpos físicos
podem ser constituídos de modo a aproximá-los [Doebelin83].

3.4.3.1 Pirómetros ópticos


A radiação do corpo, cuja temperatura se quer medir, é focada num certo tipo de
detector de radiação que produz um sinal eléctrico correspondente. Estes detectores
dividem-se em térmicos e fotónicos.

Detectores térmicos
São projectados para absorver o máximo de radiação em todos os
comprimentos de onda. Podem ser constituídos por, Resistance
Temperature Detector (RTD), termistores ou termopares Os detectores
térmicos piroeléctricos possuem uma resposta mais rápida que se deve
ao facto da sua saída ser proporcional à variação temporal da
temperatura do detector;
Capítulo 3. Sensores em Estufas 61

Detectores fotónicos
A radiação de entrada (fotões) liberta electrões da estrutura do
detector, produzindo-se assim um efeito eléctrico mensurável. Estes
acontecimentos ocorrem a uma escala de tempo atómica ou molecular,
obtendo-se tempos de resposta muito rápidos. Os detectores fotónicos
do tipo fotocondutivos (sulfato de chumbo) possuem uma resistência
eléctrica que varia com o nível de radiação de entrada. As células
fotovoltaicas, também chamadas fotocélulas de barra, são constituídas
por uma camada fotosensível de alta impedância, colocada entre duas
camadas de material condutor, quando a célula é exposta à radiação
aparece entre as duas camadas condutoras uma diferença de potencial
eléctrico [Doebelin83]. Nos detectores fotoelectromagnéticos
(antimónio de irídio) utiliza-se o efeito de Hall. Um cristal
semicondutor submete-se a um forte campo magnético, aplicando-se a
radiação a uma das faces. Desenvolve-se uma diferença de potencial
entre os terminais do cristal.

3.4.4 Alteração da resistência eléctrica com a temperatura


A resistência eléctrica de muitos materiais varia com a temperatura. Este facto
constitui a base da construção de muitos sensores de temperatura.
Os materiais de que se constroem esses sensores são de dois tipos:
• Condutores, Resistance Temperature Detector (RTD);
• Semicondutores, Termístores (NTC, PTC).

3.4.4.1 RTD
Baseiam-se na variação crescente da resistência de um elemento condutor, com a
variação crescente da temperatura. Ou seja, todos os RTD têm um coeficiente de
temperatura positivo.

A variação da resistência com a temperatura T, para a maior parte dos metais,


pode ser representada pela equação [Jones77]

R= Ro (1+ a1T + a2T2+ ... anTn)


Capítulo 3. Sensores em Estufas 62

onde Ro é a resistência à temperatura To= 0ºC. O número de termos do polinómio, n,


depende do material, da precisão requerida e da gama de temperatura a ser
considerada.

A platina de [–260, 1000]ºC, o níquel de [–80, 320]ºC, o cobre [-200, 260]ºC e


as ligas de níquel/ferro 70%Ni/30%Fe, de [–100, 230]ºC são os materiais mais
usados na construção destes sensores. Destes metais, a platina é o material mais
utilizado na construção de RTD, por apresentar uma relação temperatura-resistência
estável e linear para uma gama razoável de temperaturas, em que o seu coeficiente
de variação da resistência com a temperatura de 0.00385 ohms/ºC, na gama de [0,
100]ºC. O níquel, embora de maior sensibilidade, tem características
acentuadamente não lineares e variáveis com o tempo [Mansion83]. No entanto
como possui o maior coeficiente de temperatura [Fraden93], permite realizar sondas
(sensores) económicas quando nos interessa apenas uma gama estreita de
temperaturas.

Em meios industriais, tendo em atenção cada caso, as sondas de platina devem


ser envolvidas por materiais de protecção contra esforços mecânicos externos ou
internos, Fig. 3.17.

revestimento de núcleo de cerâmica fios de ligação


vidro fio bobinado

fios de ligação

fios de
cerâmica
ligação enrolamento
a) b)
c)

Fig. 3.17- Protecções das resistências de platina

Para detectar a variação da resistência da sonda e a transformar em tensão,


usam-se fundamentalmente dois métodos:
• A ponte de wheatstone e seus derivados;
• Método dos quatro fios.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 63

A técnica das pontes é o método mais clássico para tratar o sinal da RTD. Em
aplicações digitais, computorizadas, a técnica do “ohmímetro de 4 fios” é no entanto
a mais utilizada. Há que referir no entanto que a precisão da medida é afectada pelo
auto-aquecimento do sensor devido à corrente que o percorre (RI2), induzindo assim
um erro de medida. Para reduzir este efeito um dos métodos a utilizar consiste em
aplicar impulsos breves de corrente, outro método consiste em aplicar uma corrente
de baixa amplitude.
Como vantagens os RTD apresentam; boa precisão (±0.1 ºC a ±0.5ºC), boa
estabilidade, boa linearidade numa larga faixa de temperaturas, boa imunidade ao
ruído, possuem uma inércia térmica adequada a muitos processos (constantes de
tempo 1s a 30s). Como desvantagens, podemos referir que os detectores resistivos
de temperatura, apresentam uma robustez limitada (pouco adequada para altas
temperaturas e sensível a cargas mecânicas), o custo elevado, a necessidade de uma
fonte de alimentação, a existência do erro de auto-aquecimento e a baixa variação da
resistência coma temperatura (0.4Ω por cada ºC).

3.4.4.2 Termístores (Thermal Resistores)


Os termístores (temperature resistor) são feitos de materiais semicondutores
sólidos (óxidos de ferro, cobalto, manganésio), moídos, misturados em proporções
adequadas, comprimidos num corpo cerâmico, podendo também ser construídos
com misturas de semicondutores com metais.
Os termistores possuem estabilidade e precisão idênticas aos RTD, no entanto
enquanto que os condutores RTD são quase lineares, os termístores são
acentuadamente não lineares. Podendo o coeficiente de variação da resistência com
a temperatura ser negativo (NTC) ou positivo (PTC).
Normalmente para a medida da temperatura utilizam-se os termistores do tipo
NTC, enquanto que os PTC são mais utilizados em termóstatos ou em equipamentos
de segurança térmicos uma vez que apresentam uma característica resistência-
temperatura que vai variar de forma brusca a partir de uma dada temperatura
podendo assumir valores entre os [–20, 120]ºC, dependendo dos materiais utilizados
na construção do PTC.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 64

A relação resistência-temperatura é geralmente dada pela expressão:


β(1/T – 1/To)
R= Ro e R – resistência à temperatura T
Ro – resistência à temperatura TO
β – constante característica do material, oK
e – base natural logarítmica
T, To – temperatura absoluta, oK

Para a temperatura de referência, To é normalmente 25ºC e β é da ordem de


4000.

3.4.4.2.1 Negative Temperature Coefficient (NTC)


Os termístores que possuam um coeficiente de temperatura negativo, ou seja,
onde o aumento da temperatura se traduz numa diminuição da resistência designam-
se por NTC.
Utilizam misturas de manganésio, níquel, cobalto, ferro ou titânio e têm uma
elevada condutância a alta temperatura pelo que muitas vezes são designados por
condutores quentes, Fig. 3.18.
Na Fig. 3.19 são apresentados os símbolos mais usais para os NTC e na Fig.
3.20 é apresentada uma fotografia de um NTC.

Fig. 3.20 Exemplo de um NTC

Fig. 3.18 Variação da resistência em função da temperatura num NTC

Fig.3.19 Símbolos usuais de NTC


Capítulo 3. Sensores em Estufas 65

3.4.4.2.2 Positive Temperature Coefficient (PTC)


Quando, o aumento da temperatura se traduz num aumento da resistência, os
termistores chamam-se PTC, Fig. 3.21.
Os PTC, na sua grande maioria utilizam misturas de titanato de bário e têm uma
elevada condutância a baixa temperatura pelo que muitas vezes são designados por
condutores frios. Na Fig. 3.22, são apresentados os símbolos mais usais para os PTC
e na Fig.3.23 é apresentada uma fotografia de um PTC.

Fig. 3.23 Exemplo de um PTC

T
Fig. 3.21 Variação da resistência em função da temperatura num PTC

Fig. 3.22 Símbolos usuais de PTC

Os NTC são utilizados principalmente para:


- Termóstatos e detectores de incêndios;
- Medição da temperatura.
Os PTC são utilizados principalmente para:
- Protecções térmicas;
- Estabilização de tensão.Na realidade, todos os metais podem ser
considerados PTC, no entanto os seus coeficientes de resistividades com a
temperatura (TCR) são pequenos e variam pouco com temperatura [Fraden93]. Pelo
Capítulo 3. Sensores em Estufas 66

contrário, os PTC de cerâmica para determinadas temperaturas têm um TCR que


depende fortemente da temperatura.
Na Fig. 3.24 são apresentadas três curvas relativas à variação típicas de um
RTD, NTC e um PTC. A expressão matemática que modela o comportamento destas
curvas não é fácil de obter e normalmente são especificados pelos fabricantes alguns
pontos e limites que se admitem representativos para o comportamento das curvas: o
ponto de resistência mínimo R25, a temperatura de transição Tt (coincide
aproximadamente com o ponto de Curie do material), representa a temperatura em
que a resistência começa a mudar rapidamente.
O TCR pode ser definido através da seguinte fórmula
1 ΔR
α= ⋅
R ΔT
O coeficiente α, muda significativamente com a temperatura, é especificado na
Fig. 3.24 através do ponto x, que representa o ponto onde a derivada é mais elevada,
ou seja, onde para uma pequena variação de temperatura existe uma grande variação
do valor de resistência.

PTC

NTC

Resistência
•x RTD

m
R25
• Tt T0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Temperatura ºC

Fig. 3.24 Função de transferência dos PTC e dos NTC comparadas com os RTD

Os termístores em comparação com os RTD são mais baratos e mais sensíveis, e


são particularmente práticos para sistemas computorizados de aquisição de dados.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 67

Deve no entanto evitar-se submetê-los a temperaturas mais elevadas que as


especificadas, pois deterioram-se facilmente [Mansion83].

Podemos resumir como vantagens dos termístores, a boa precisão ( <± 0.1% a
100º C), a sensibilidade elevada, as reduzidas dimensões, os tempos de resposta
pequenos (0.1 a 5s) e a imunidade ao ruído. Como desvantagens apresentam uma
robustez limitada, as gamas de temperaturas medidas estão em geral limitadas ao
intervalo [-100, 150]ºC, necessitam de uma alimentação externa, os problemas com
as não linearidades quando se utilizam circuitos de condicionamento analógicos

3.5 Sensores de humidade


Medir humidade através de sensores pode ser realizada com métodos indirectos
através da comparação de temperatura usando um psicrómetro, ou com métodos
directos usando higrómetros.
Genericamente os sensores para humidade podem ser do tipo: capacitivo,
resistivo, condutivos, ou ópticos. Os sensores ópticos para gases detectam pontos de
orvalho de temperatura enquanto que, os higrómetros ópticos para solventes
orgânicos operam perto dos infra-vermelhos.
Actualmente, são mais usados dois tipos de sensores para medir a humidade do
ar em aplicações agrícolas, os psicrómetros e os sensores capacitivos.

3.5.1 Mecânicos
Este tipo de sensor aproveita a alteração das dimensões que sofrem certos
materiais na presença de humidade. Aqueles que sofrem mais alterações são
algumas fibras orgânicas e sintéticas, como é por exemplo o cabelo humano. Ao
aumentar a humidade relativa, as fibras aumentam de tamanho e alongam-se. Logo
esta deformação deve ser medida tendo em atenção à proporcionalidade com o
aumento da humidade relativa
São baratos e usados normalmente apenas para indicação de valores
aproximados, ou seja para valores não precisos.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 68

3.5.2 Bolbo húmido e bolbo seco


Estes psicrómetros baseiam-se fundamentalmente na medição da temperatura,
para a partir dela indirectamente se deduzir a quantidade de água evaporada presente
numa mistura gasosa. A ideia consiste em dispor de dois sensores iguais.
Um deles mede a temperatura da mistura (temperatura do bolbo seco), e o outro
mede a temperatura de superfície de uma película de água que se evapora de forma
adiabática (temperatura de bolbo húmido). Este último tem o bolbo envolvido em
algodão humedecido em água, daí o nome. As moléculas de água presente no
algodão absorvem a energia necessária para se evaporarem do bolbo do termómetro,
baixando a temperatura em alguns graus comparando-se assim com o termómetro de
bolbo seco. Ao conhecer o valor de ambas as variáveis é possível determinar a
humidade relativa, basta recorrer às equações, tabelas e gráficos psicrométricos.
Num ambiente saturado, a quantidade de moléculas de água que se evaporam do
bolbo húmido é equivalente às que condensam.
Utilizam-se dois sensores de temperatura: um exposto às condições atmosféricas
(ao ambiente) e o outro protegido que serve como referência. O vapor de água na
atmosfera provoca um efeito de arrefecimento no sensor exposto e é possível
relacionar a diferença entre os dispositivos medidos com a humidade do ar.
São relativamente caros mas são precisos. Permitem boa estabilidade durante largos
períodos de tempo.

Fig.3.25 Psicrómetro.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 69

Os psicrómetros, Fig. 3.25, possuem uma boa precisão e comparativamente com


os sensores capacitivos apresentam um melhor desempenho para humidades do ar
próximas da saturação, no entanto, dado o seu princípio de funcionamento não deve
ser aplicado para temperaturas do ar muito baixas. Se ocorrer contaminação da
torcida (poeiras, entre outras.) ou se esta não se encontrar convenientemente
humedecida existirá a possibilidade de ocorrência de erros significativos. Outra
desvantagem prende-se com o facto de necessitar uma vigilância periódica do
sensor, uma vez que será necessário manter o depósito onde está imersa a torcida
com água.

3.5.3 Sensores por condensação


Outra variável que permite calcular a humidade relativa é a temperatura do
ponto de orvalho. Para medir esta variável usa-se um dispositivo que se descreve na
Fig. 3.26
Um espelho com uma superfície polida é arrefecido enquanto o vapor de água
no ar condensa-se nessa superfície. A temperatura para a qual a condensação ocorre
é determinada pela quantidade de vapor de água no ar. Ou seja, mede-se a
temperatura para a qual o vapor de água condensa na superfície e pode relacionar-se
com a humidade relativa.
Estes sensores são caros, muito sensíveis e normalmente utilizam-se para
medições precisas, quando se pretende registar pequenas variações ou quando se
quer usar toda a gama de variação de humidade relativa [0, 100]% Hr.

Entrada de ar
5a

3 1 -
2 Amplificador
(K)

Sendo;
1= Resistência de aquecimento
2= Espelho Saída de ar 5b
Regulador
3= Zona de refrigeração de potência
4= Fonte luminosa
5= (a, b), foto-resistências
Fig.3.26 Sensor de humidade por condensação
Capítulo 3. Sensores em Estufas 70

3.5.4 Sensores capacitivos


Os sensores capacitivos permitem medir com grande precisão um número
elevado de grandezas físicas, tais como: a humidade, a posição, o deslocamento, a
velocidade e a aceleração linear ou angular de um objecto, a concentração de gases,
detectar a proximidade de objectos, a presença de água e de pessoas, entre outros.
Um sensor capacitivo é um condensador que exibe uma variação do valor
nominal da capacidade em função de uma grandeza não eléctrica. Uma vez que um
condensador consiste basicamente num conjunto de duas placas condutoras
separadas por um dieléctrico, as variações no valor da capacidade podem ser
provocadas por redução da área frente a frente e da separação entre as placas, ou por
variação da constante dieléctrica do material.
Hoje em dia, existe uma grande variedade de aplicações que utilizam sensores
capacitivos, de forma discreta e integrada. Por exemplo, são bastante comuns os
sensores capacitivos de pressão, (caso dos microfones), os de aceleração, de
humidade, uns detectando as variações na espessura do dieléctrico, outros na
alteração na constante dieléctrica.
A detecção da variação da capacidade é geralmente efectuada através da
medição da carga acumulada, por exemplo através da aplicação de uma tensão
constante, ou então indirectamente através da variação da frequência de oscilação ou
da forma de onda à saída de um circuito, do qual o sensor é parte integrante. Na Fig.
3.27, apresenta-se o esquema simplificado de um sensor capacitivo para a humidade.
São constituídos por materiais cerâmicos ou poliméricos que reagem à humidade
alterando as suas propriedades eléctricas, ou seja são sensores electrónicos que
variam a capacidade eléctrica em função da humidade.
O material absorve vapor de água da atmosfera e a água reduz a capacidade do
material. Existe uma redução linear da capacidade à medida que a humidade relativa
aumenta.
Estes sensores são os mais usados na indústria e em meteorologia, pois são de
fácil construção, acessíveis em termos de preço, e são fiáveis e precisos.
Se usarmos a mistura gasosa como dieléctrico entre as placas do condensador, este
valor por ser determinado por:

A
C= ⋅ε
d
Capítulo 3. Sensores em Estufas 71

Onde C é o valor da capacidade, A é a área das placas, d é a distância entre as


placas do condensador e ε representa a constante dieléctrica.

Fig.3.27 Sensor capacitivo de humidade

Na Fig.3.27 ilustra-se o esquema de um sensor capacitivo de humidade designado


sensor higrométrico. O dieléctrico é neste caso constituído por uma película fina de
um material simultaneamente isolador e higroscópico, o qual, dada a natureza
porosa encontra-se em contacto com o ambiente cuja humidade relativa se pretende
medir.

Fig.3.28 Sensores capacitivos de humidade

Actualmente, os sensores capacitivos são os mais utilizados nos sistemas de


aquisição de dados e controlo de estufas, o que se deve ao facto de serem baratos,
apresentarem reduzidas dimensões e de não necessitarem de manutenção, apenas de
operações de calibração que em média são efectuadas uma vez por ano.
Como desvantagem, são influenciados pelas condições ambientais (secção
3.2.3), ou seja, após serem molhados possuem respostas lentas de recuperação, são
menos precisos para humidades do ar próximas da saturação.
Estes sensores devem ser colocados numa cápsula porosa, normalmente em
teflon ou malha de aço para evitar a contaminação do sensor pelo pó e químicos
presentes na estufa, este procedimento apesar de reduzir a velocidade de resposta do
sensor permite aumentar significativamente a sua vida útil.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 72

3.5.5 Sensores resistivos


Existe um vasto conjunto de sensores resistivos designados por químio-
resistências. Nestes componentes, a resistividade é uma função da concentração de
agentes químicos presentes no ambiente em que se encontram imersos. As
químio-resistências utilizadas na medição da humidade relativa do ar designam-se
por higro-resistências. Também são usados na detecção de gases como o monóxido
de carbono, o hidrogénio, o dióxido de azoto, o etanol, o metano, o fumo de cigarro,
entre outros. As químio-resistências são em geral construídas a partir da deposição
de um óxido metálico num material inerte como o óxido de silício mas também
podem ser construídos a partir de certos cristais orgânicos ou polímeros condutores.
Em geral, este tipo de resistências apresenta um coeficiente de variação
negativo.
A resistência em AC destes dispositivos (impedância) altera-se à medida que
reage com a atmosfera.
O material mais comum para estes sensores são polímeros que permitem obter
boa precisão nas medidas e são pouco influenciáveis pela temperatura e
contaminação.
São sensores que estão muito difundidos dado ao seu preço e performance, e a
saída de alguns pode ser afectada pela frequência quando se usam circuitos AC
devido à alteração da impedância.

Fig. 3.29 Sensor capacitivo de humidade

3.5.6 Sensores de humidade do solo


Estes sensores utilizam a condutividade da terra, e são particularmente
importantes na agricultura, permitindo fazer por exemplo o controlo da rega numa
exploração [Valente98].
A medição contínua da água disponível para a planta nos diversos níveis de
profundidade, permite visualizar com nitidez o comportamento dinâmico da água no
solo. Deste modo pode ser visível a diferente intensidade de extracção de água pelas
raízes activas da planta ao longo de um dia
Capítulo 3. Sensores em Estufas 73

Existem diversos tipos de sensores de humidade do solo (tensiométricos e


volumétricos).

Fig. 3.30 Sensores C-Probe: da esquerda volumétrico, da direita tensiométrico

O sensor da esquerda é um sensor volumétrico, ou seja, mede o volume de água


no solo, a diferentes profundidades. Os sensores são colocados num tubo, com um
comprimento variável, consoante a profundidade que se pretenda efectuar a recolha
dos dados. Esta pode ser efectuada a qualquer profundidade e a uma distância entre
sensores de 10 cm. A sonda de humidade C-Probe utiliza um sistema de telemetria,
para transmitir os dados via rádio do campo para o escritório automaticamente com
uma taxa de amostragem definida pelo utilizador.
Os sensores de temperatura e os de humidade, deverão ser protegidos no interior
e no exterior da estufa da incidência directa dos raios solares, das variações do ar e
da precipitação de modo a que as medidas sejam afectadas o menos possível. Para
este efeito utilizam-se escudos de radiação, constituídos por discos metálicos
sobrepostos pintados a branco e distanciados entre si de 1 cm. Todos os discos, à
excepção do que fica na parte superior, têm um orifício central sendo o sensor
colocado no interior. O seu desempenho está relacionado com a sua capacidade em
manter uma circulação adequada de ar pelo sensor que varie pouco com o clima.

3.6 Sensores para medição da radiação solar


Dada a importância da radiação solar para o crescimento das plantas a sua
monitorização é fundamental. Para as plantas a radiação que interessa medir situa-se
Capítulo 3. Sensores em Estufas 74

na faixa dos [400, 700]nm, que representa a radiação que influencia directamente a
fotossíntese [Teixeira83].
A radiação óptica é entendida como parte do espectro electromagnético na gama
de comprimentos de onda entre os 100nm e 1nm sendo esta banda de radiação
óptica ainda dividida em três sub-bandas: Ultravioletas (UV), Radiação Visível
(Luz), e os Infravermelhos (IV). As bandas de UV e IV encontram-se divididas em
três subgrupos A, B e C e a gama visível nas suas cores relevantes. Como se pode
verificar na tabela 3.1 (de acordo com o standard DIN5031, parte 7)

Gama dos comprimentos de onda Designação


100nm-280nm UV-C
280nm-315nm UV-B
315nm-380nm UV-A
380nm-440nm Luz- Violeta
440nm-495nm Luz- Azul
495nm-558nm Luz-Verde
558nm-640nm Luz- Amarelo
640nm-750nm Luz-Vermelho
750nm-1,4μm IV-A
1,4μm-3μm IV-B
3μm-1nm IV-C

Tabela 3.1- Subdivisão do espectro da radiação óptica de acordo com o Standard


DIN5031, parte 7

A expressão luz refere-se à radiação óptica que o olho humano consegue


percepcionar [Chappell78].
De acordo com o tipo de estufa pode ser necessário a medição da radiação na
faixa dos ultravioletas e infravermelhos, tendo em conta, que a primeira radiação
danifica as plantas enquanto que a segunda fornece uma medida das perdas por
irradiação.
O Sol é a principal fonte de radiação, e tem aproximadamente a distribuição
espectral de um corpo negro, com uma temperatura de 6000 oK. Esta radiação vai
Capítulo 3. Sensores em Estufas 75

sofrendo consecutivas alterações em determinadas bandas, à medida que penetra na


atmosfera, relativas à absorção por parte da água (H20), e do dióxido de carbono
(CO2) [Santos98].
A sensibilidade espectral ou resposta relativa, constitui uma das características
mais importante na escolha de um sensor de radiação.
A sensibilidade está dividida em dois tipos, a sensibilidade espectral, S(λ), e a
sensibilidade total, St.
A sensibilidade espectral representa a sensibilidade do transdutor face ao
comprimento de onda, supondo o raio incidente monocromático. A sensibilidade
total é a sensibilidade do transdutor que recebe um sinal óptico que não é
monocromático.
As grandezas referentes à radiação dividem-se em grandezas fotométricas,
relativas à radiação visível (afectadas do índice v), e grandezas energéticas, relativas
ao conteúdo energético da radiação.
Resumo das principais grandezas energéticas e fotométricas

Grandezas
Grandezas Energéticas Símbolo Unidade Símbolo Unidade
fotométricas

Potência radiada Φ W Fluxo luminoso Φv lm

Energia Q J Energia luminosa Qv lm.s

Intensidade
Intensidade I W/sr Iv lm/sr =cd
luminosa

Radiância L W/ m2. sr Luminância Lv cd/ m2

Irradiação E W/ m2 Iluminação Ev lm/m2= lux

Tabela 3.2- Resumo das principais grandezas energéticas e fotométricas

A potência radiada (Φ) e o fluxo luminoso (Φv) descrevem a potência total


radiada para o espaço por uma fonte luminosa. Estes valores relacionam-se com a
fonte. As suas unidades são o Watt (W) para a potência radiada e lumen (lm) para o
fluxo luminoso.
A energia e a energia luminosa são produto do fluxo luminoso pelo tempo t. As
unidades são o Joule (J) para a energia e o lm por segundo para a energia luminosa,
Capítulo 3. Sensores em Estufas 76

Intensidade energética (I) e intensidade luminosa (Iv) medem a potência radiada


numa determinada direcção sobre um ângulo sólido unitário (em steradiano, sr) e
também se relacionam com a fonte luminosa. As unidades são o W/sr para a
intensidade energética e o lm/sr = candela (cd) para a intensidade luminosa.
A radiância (L) e a luminância (Lv) são medidas da superfície da fonte de luz.
Tal como a intensidade energética e luminosa, estes valores são características da
fonte de luz e também relacionadas com a área unitária da fonte. As unidades são o
W/m2 .sr para a radiância e cd/m2 para a luminância.
A irradiação (E) e iluminação (Ev) são medidas relativas ao detector e as
unidades são o W/m2 para a irradiação e lm/m2 = lux para a iluminação [Santos98].
Os sensores usados para medir a intensidade luminosa, como é o caso da
radiação solar são denominados de sensores fotoeléctricos. Existem essencialmente
dois tipos de detectores: os fotocondutores resistivos (fotoresistências) e os
fotocondutores semicondutores.

3.6.1 Fotoresistências
As fotoresistências ou células fotocondutivas, Light Dependent Resistor
vulgarmente conhecidas por LDR são dispositivos resistivos caracterizados por uma
variação da sua resistência quando sujeitas à influência de um fluxo incidente.
O mecanismo de funcionamento apoia-se na fotocondução, resultante de um
efeito fotoeléctrico interno que consiste na libertação de cargas eléctricas no
material fotocondutor sob a influência da radiação incidente com o correspondente
aumento da sua condutividade.
Dependendo da resposta espectral desejada para o dispositivo os materiais
utilizados para a construção de LDR's podem ser variados. O material mais comum
é no entanto o sulfito de cádmio (CdS) que apresenta uma forte resposta foto-
condutiva cuja sensibilidade espectral está limitada entre os 300nm e os 880nm com
um máximo nos 550nm, resultando similar à sensibilidade do olho humano.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 77

104

103

102

10

10 102 103 104


E(lux)

Fig. 3.31 LDR típica e respectiva característica resistência R(Ω) vs iluminação Ev(lux)

Da análise da Fig. 3.31, podemos verificar que a relação da resistência com a


radiação incidente é uma relação exponencial. Outras características são: tempos de
resposta elevados, grande sensibilidade à temperatura. De notar que estas
características são alteradas ao longo do tempo e apresentam uma grande variação
da sua resistência.

3.6.2 Fotodíodo
Os fotodíodos podem ser classificados como fotocondutores, apesar de
apresentarem funcionamento e desempenho diferentes.
O fotodíodo pode operar em dois modos: o modo fotocondutivo e o modo
fotovoltaico. Quando a junção p-n de um fotodíodo é polarizada inversamente, o
fotodíodo opera no modo fotocondutivo, comportando-se como uma fonte de
corrente controlada pelo fluxo incidente na junção, apresentando uma relação
bastante linear entre o fluxo incidente e a fotocorrente gerada. Em situação de
ausência de luminosidade, existe uma corrente de fugas que é independente da
tensão inversa aplicada e que é principalmente devida à geração térmica de
portadores de carga. A característica fotocorrente/irradiação típica de um fotodíodo
está representada na seguinte Fig. 3.32.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 78

100

20

µA 10

2.0
1.0

0,2

0.1
0.1 0,2 1.0 2.0 10 20 100
mW/cm2

Fig. 3.32 Característica corrente (µA) vs irradiação (mW/cm2) típica de um


fotodíodo

Quando não existe qualquer polarização externa, o fotodíodo funciona no modo


fotovoltaico apresentando aos seus terminais uma tensão proporcional ao fluxo
incidente na sua junção, como se pode verificar na Fig. 3.32 Esta acção é utilizada
em células solares para produzir conversores luz-tensão para alimentações a energia
solar.
Os fotodíodos possuem pequenas dimensões, são robustos e apresentam uma
resposta linear face ao fluxo incidente sendo o seu custo bastante reduzido. A sua
sensibilidade espectral depende do material semicondutor utilizado no seu fabrico.
Actualmente, a maior parte dos sensores de radiação são baseados em fotodíodos
fabricados com materiais que oferecem a resposta relativa desejada face aos
comprimentos de onda de interesse. São também muitas vezes aplicados filtros
sobre a junção para que incida sobre esta apenas a radiação duma determinada gama
de comprimentos de onda.

3.7 Sensores de medição da concentração de dióxido de


carbono
O dióxido de carbono (CO2), vai influenciar o crescimento das plantas uma vez
que a fotossíntese vai utilizá-lo juntamente com a água e com a luz para formar os
açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos necessários ao desenvolvimento das
Capítulo 3. Sensores em Estufas 79

plantas. A concentração deste gás no ar livre é de aproximadamente 330 partes por


milhão (ppm), mas num ambiente de estufa o seu valor vai sofrer consecutivas
oscilações. Durante a noite pode atingir valores da ordem dos 500 ppm, enquanto
que durante o dia devido à fotossíntese e à baixa renovação do ar pode chegar aos
200 ppm, influenciando a produção de matéria vegetal. Caso se proporcione um
aumento da concentração deste gás na estufa, quando em simultâneo se verifiquem
condições favoráveis de temperatura e de radiação, conseguiremos um maior
desenvolvimento das plantas.
A injecção de dióxido de carbono pode fazer-se por processos naturais ou
artificiais. Caso se opte por um processo natural deve abrir-se periodicamente as
janelas ou ligar os sistemas de ventilação para permitir a renovação do ar, os
inconvenientes deste método prendem-se com o facto de ao mesmo tempo alterar o
controlo da temperatura e humidade, não sendo também possível desta forma
enriquecer o meio com uma concentração de dióxido de carbono superior a 330ppm.
Caso se opte por processos artificiais pode fazer-se por dois métodos, utilizando os
gases resultantes da combustão do gás propano ou natural, utilizado nos
queimadores do sistema de aquecimento, ou recorrendo ao dióxido de carbono puro
armazenado em botijas. O método que utiliza a combustão tem como desvantagem o
facto de produzir outros gases poluentes, como o CO, SO2, provocando também um
aquecimento do ar que pode ser indesejável.
Existem vários sensores para medida da concentração de gases (CO2, CO, SO2 ,
entre outros) podendo de acordo com o tipo de tecnologia empregue ser
classificados de semicondutores resistivos, electroquímicos, de condutividade
térmica e analisadores de gases.
No caso das estufas, a monitorização do dióxido de carbono é maioritariamente
feita com Infra-red Gas Analysers (IRGAs) que detecta a absorção da radiação
infravermelha pelas moléculas de dióxido de carbono. Por norma as concentrações
de CO2 que interessam medir estão compreendidas entre 200 e 1000ppm.
Os IRGAs empregam métodos ópticos para medir a energia absorvida por um
gás a determinados comprimentos de onda da região dos Infravermelhos (IV),
tipicamente entre 1 e 10μm.
Capítulo 3. Sensores em Estufas 80

Figura 3.33 Ilustração do sensor-transmissor de CO2 GMP 111 da Vaisala (versão de difusão)

Os elementos constituintes deste sensor-transmissor como se pode ver na Fig.


3.33, são a fonte de emissão de radiação infravermelha, uma câmara para
amostragem do gás a analisar (que pode ser alimentada por difusão através de uma
membrana porosa ou por aspiração), um filtro óptico que é seleccionado de acordo
com o comprimento de onda à qual ocorre a maior absorção da radiação IV pelo
CO2 e um detector de infravermelhos. Este dispositivo possui ainda um circuito de
condicionamento e transmissão de sinal. A concentração de dióxido de carbono é
determinada através da medida da radiação IV que chega ao detector, que será tanto
menor quanto maior for a concentração desse gás na câmara de amostragem.
Este tipo de sensores tem geralmente uma elevada precisão, boa estabilidade no
tempo, resposta rápida e baixos coeficientes de temperatura e humidade.
Características técnicas do GMP 111 que constam do seu manual de operação.
Gama de medida: 0 a 3000 ppm de CO2 Saídas: 0/4 a 20mA e 0 a 10 V
Precisão a 20º C: inferior a ± 2% do Alimentação: 18 a 30 V(120 mA)
valor medido
Dependência com a temperatura: ± Tempo de resposta: 50s
3%ppm CO2/ºC
Estabilidade: inferior a ±150 ppm Alarmes (relé): 400, 600, 800 e
CO2/ano 1000ppm

Tabela 3.3- Dados técnicos do IRGA GMP111 (fornecido pelo fabricante)

3.8 Estação meteorológica


Como já foi referido, o ambiente do interior da estufa é fortemente influenciado
pelo ambiente exterior, podendo ser necessário quando se pretende um rigor de
Capítulo 3. Sensores em Estufas 81

controlo obter as indicações dos parâmetros ambientais do exterior. Deste modo, é


normal proceder à instalação, próximo da zona da estufa, de um conjunto de
sensores, que vão medir precisamente a temperatura e humidade do ar, radiação
solar, velocidade e direcção do vento e a precipitação.
Para realizar a medição do vento utiliza-se normalmente um anemómetro de
conchas. Com a deslocação do ar é transmitido um movimento de rotação a um veio.
A velocidade de rotação pode ser medida recorrendo a sensores ópticos, entre
outros. As gamas de medida destes sensores situam-se entre os 0 a 80ms-1.
A medida da precipitação ou simplesmente da sua detecção, em controlo
ambiental de estufas, prende-se com o facto de que a medida deste parâmetro
permite detectar quando as características de transmissão radiométrica da cobertura
se alteram. Uma vez que as trocas de energia radiante na região de grandes
comprimentos de onda, são limitadas pela presença do filme de água.
Para o efeito pode utilizar-se um udógrafo, este permite determinar a quantidade
de precipitação geralmente em mm/h, apresentando como limitação o facto de não
permitir determinar o inicio da precipitação bem como a contagem da água retida no
depósito depois de terminada a precipitação.
No capítulo 5 apresentamos uma solução integrada que utiliza um conjunto de
sensores de entre os aqui descritos, que mais se utilizam numa produção em
ambiente controlado. O desafio consiste em, fazendo uso da electrónica de sensores,
assistir o utilizador de forma a que ao monitorizar a evolução de uma determinada
cultura, nomeadamente a do Cravo e da Gerbera, possa prever situações de pragas e
doenças de modo a poder usar as boas práticas agrícolas referenciadas na
Agricultura Biológica.
CAPÍTULO 4

AGRICULTURA BIOLÓGICA EM AMBIENTE


CONTROLADO

Em Hortofloricultura biológica existe uma grande preocupação em realizar todas


as medidas preventivas para evitar o aparecimento de pragas e doenças, tentando
colocar a planta nas suas condições óptimas climatológicas, uma vez que os
tratamentos fitossanitários não se fazem de uma forma regular e constante, mas
apenas quando surgem focos de determinadas pragas/doenças.
Existem porém práticas culturais que podem ajudar o desenvolvimento das
plantas, como por exemplo o Mulching [Ferreira02]. Esta prática agrícola consiste
em cobrir o solo com um material geralmente orgânico destinado a proteger o solo e
eventualmente fertilizá-lo. Em produção biológica este Mulching pode fazer-se com
areia, cujas vantagens são diversas: permite diminuir as perdas por evaporação de
água do solo, protege o solo dos rigores do clima e diminui o crescimento de ervas
daninhas (são plantas que surgem no local onde não são desejadas). A rega é
idêntica à agricultura convencional, com a pequena diferença de existir uma
separação maior dos gotejadores das plantas, para que estas desenvolvam mais o seu
sistema radicular tornando-as por sua vez mais fortes.
Existem outras medidas de carácter preventivo a que podemos recorrer, como
por exemplo: a colocação de portas duplas, malhas mosquiteiras espessas, placas
cromotrópicas, entre outras. Pode também cultivar-se ao redor da estufa plantas
úteis como por exemplo a espirradeira, de nome científico Nerium olleander L. uma
vez que esta planta contém matérias activas de grande toxicidade, principalmente
nas folhas, que faz diminuir a entrada de algumas pragas na estufa [Marques99].
Durante este capítulo é feita uma abordagem das diversas pragas e doenças nas
culturas do Cravo e Gerbera, referindo medidas existentes para as combater
nomeadamente a utilização de organismos auxiliares das culturas. É feita uma
referência à produção em ambiente controlado onde se abordam questões
relacionadas com o crescimento e desenvolvimento das plantas e se apresentam os
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 83

diferentes tipos de estufas agrícolas que mais se utilizam na prática da floricultura


apenas para se enquadrar uma possível aplicação do sistema, demonstrando assim,
de que modo as novas tecnologias podem contribuir como auxiliar à produção
biológica em ambiente controlado depois se serem identificados os parâmetros
relevantes.
Naturalmente que colocar as plantas no seu chamado óptimo climatológico não é
tarefa fácil pois existem diversas variáveis que se encontram relacionadas entre si e
que interferem nesse óptimo para cada espécie, no entanto, a evolução constante da
tecnologia, já referida no capítulo anterior, quer na área dos sensores electrónicos
bem como na da informática, é permitido chegar ao produtor com uma tecnologia
“limpa”, não intrusiva, que lhe pode assegurar maior facilidade no tratamento das
suas culturas bem como acesso a muitas outras informações cruciais ao seu correcto
desenvolvimento. Desta forma o agricultor pode dispor de um auxiliar limpo, não
biológico mas tecnológico que vai servir os fins biológicos de determinada cultura,
como no capítulo seguinte iremos apresentar.

4.1 Produção em ambiente controlado


Num artigo da revista de hortofloricultura Italiana, Gorini define da seguinte
forma uma estufa: “uma construção de madeira ou ferro ou outro material, coberta
por vidro, normalmente com aquecimento, que por vezes está iluminada
artificialmente e onde se podem cultivar hortaliças precoces, flores e plantas
verdes, em épocas em que as temperaturas e luz do local em que se está a cultivar
seriam insuficientes para o seu crescimento e sua frutificação“ [Alpi91].
Nos nossos dias, para além da necessidade óbvia do controlo da protecção física
das culturas, é possível gerir todo este processo físico das culturas, ou seja, o seu
crescimento e desenvolvimento bem como fazer prevenção quer ao nível de
possíveis ataques de pragas ou ao aparecimento de doenças. Esta nova abordagem,
será extremamente útil para quem pretende desenvolver uma agricultura “limpa”.
No capítulo seguinte, propomos um sistema de apoio à decisão que ao recorrer à
utilização de sensores para medição de parâmetros ambientais gera por software um
conjunto de alertas de manutenção e sobrevivência. Como se trata de uma actividade
económica, a optimização dos recursos envolvidos pode ser potenciada através do
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 84

uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) permitindo assim uma


melhor gestão de todo o sistema de uma estufa.

4.1.1 Tipos de estufas agrícolas – sua classificação


O desenho e posterior construção da estufa, terão como linhas orientadoras
determinados objectivos tais como, a precocidade da colheita, o aumento da
produção bem como a qualidade do produto final de modo a existir competitividade
quer no mercado interno quer no externo.
Na sua realização, devem ponderar-se os factores externos e internos à mesma.
Em primeiro lugar delimitam-se as características externas, as quais estão
estreitamente relacionadas às condições climáticas onde se pretende construir a
estrutura, ou seja: as características químicas, físicas e físico-químicas do solo, o
abastecimento e qualidade da água de rega, bem como outros factores tais como a
existência de energia eléctrica, boa rede rodoviária e ainda a orientação da estrutura
que está intimamente relacionada com a direcção dos ventos dominantes. Só depois
se pensa nos factores internos, devendo ter obviamente em consideração todos os
factores ambientais que o caracterizam, a destacar a evolução da temperatura e
humidade relativa, a concentração de dióxido de carbono, o período de geadas, a
intensidade da radiação solar, a duração do dia.
De um ponto de vista técnico na escolha da estrutura a construir, deve-se ter
também em consideração o custo, a durabilidade, a resistência mecânica, a
transmissão à radiação de curto e longo comprimento de onda.
A classificação das estufas é normalmente feita de acordo com o tipo de
estrutura e material de cobertura e de construção, bem como o tipo de suporte das
raízes e fornecimento de água e nutrientes. As estruturas mais empregues na
construção de estufas, são do tipo capelar, hemi-cilíndrico (podendo ou não possuir
pé direito) e do tipo gótica [Matallana89].
As estruturas do tipo hemi-cilindricas, são as mais utilizadas na nossa agricultura
e floricultura. As suas áreas cobertas normalmente não excedem os (9x40m2), por
questões que se prendem com a eficiência do processo de ventilação natural. No
caso de se pretender uma área superior pode interligar-se uma outra estrutura igual.
Estas estufas possuem uma estrutura em ferro galvanizado, cravados ao solo com
cimento, distanciados de 2 a 3 metros, aos arcos são acoplados esticadores de arame
para facilitar a colocação da cobertura que nestes casos é normalmente constituída
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 85

por filmes de plástico, já que a colocação do vidro não seria muito prática. A
escolha do filme é feita em função das suas propriedades de transmissão à luz solar,
térmicas e de durabilidade.
Regra geral, utiliza-se o polietileno normal que apresenta uma reduzida
durabilidade (cerca de um ano). Quando se pretende maior durabilidade opta-se por
polietileno térmico com estabilizador de ultra violetas (UV) (aproximadamente três
anos). Ambos têm como inconveniente o facto de obrigar periodicamente a
substituição da cobertura.
O arrefecimento é feito normalmente por ventilação natural, através da abertura
e fecho das janelas, podendo também ser efectuado automaticamente. Os sistemas
de aquecimento são simples tendo como principal função evitar a congelação das
plantas.
A estufa capelar é uma construção que utiliza estruturas em ferro galvanizado,
alumínio ou aço, e para a cobertura é utilizado vidro ou placas de policarbonato.
Possui uma grande longevidade e uma boa transmissão da radiação solar, no entanto
como inconvenientes podemos apontar o elevado investimento inicial. Estas estufas
são mais eficientes do ponto de vista energético, uma vez que o seu tipo de
construção permite obter um maior volume de ar.
Comparativamente com a estufa do tipo hemi-cilíndrica, a estufa capelar
consegue uma maior área de cultivo para a mesma área coberta, uma vez que,
devido à curvatura das estruturas hemi-cilíndrica, as linhas de cultura mais próximas
das paredes laterais deverão ficar mais afastadas para que possam desenvolver-se de
uma forma adequada. As estufas capelares são muito utilizadas pelos produtores de
flores, utilizando um maior número de equipamentos de condicionamento
ambiental, sistemas de aquecimento, arejamento natural e forçado, enriquecimento
de dióxido de carbono, iluminação artificial, injectores de nutrientes, entre outros.
Em relação ao tipo de suporte para o desenvolvimento das raízes, este nem
sempre necessita de ser o solo podendo ser substituído por um substrato inerte, que
vai fixar as raízes e onde são injectados sob a forma de gotejadores ou de uma
solução nutriente circulante a água e os nutrientes necessários ao correcto
desenvolvimento das plantas. São chamadas estufas Hidropónicas. O termo
hidropónico tem origem do grego, hidro→água e ponos→trabalho, que significa
trabalho na água ou alimentação recorrendo à água. A utilização desta técnica de
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 86

produção ajuda a resolver alguns problemas de solos sem aptidão agrícola ou


ocasionados por fungos melhorando o aproveitamento dos fertilizantes.
Apresenta como inconvenientes o elevado custo e exigência de pessoal
qualificado.

4.1.2 Crescimento e desenvolvimento das plantas num


ambiente controlado
As condições inerentes à climatologia e ecologia definem a importância das
características ambientais de uma certa zona e estabelecem a sua atitude para
cultivar em estufa, sob o ponto de vista económico. Este ambiente que se pode
chamar de exterior, vai determinar se é ou não possível instalar uma determinada
estufa, qual a sua orientação, entre outros aspectos. No entanto o ambiente relevante
para fins de cultivo é o ambiente interior, o qual obviamente se relaciona com o do
exterior [Matallana89].
Existem dois processos principais que vão contribuir para a diferença entre o
ambiente exterior e o ambiente interior das estufas. Um diz respeito à influência que
a cobertura exerce nas trocas do ar entre o interior e o exterior, uma vez que esta
reduz as trocas de ar e diminui a velocidade local do ar. Deste modo o vapor de água
resultante da evaporação do solo e da transpiração das plantas e a energia absorvida
não são libertados para a atmosfera ficando retidos no interior da estufa, bem como
as trocas de dióxido de carbono como o ar exterior vão ser reduzidas. O outro diz
respeito à interacção da cobertura da estufa com a radiação solar, e prende-se com o
facto da cobertura ser parcialmente transparente à radiação de pequeno comprimento
de onda e parcialmente opaca à radiação de grande comprimento de onda, que
constitui o chamado “Efeito de Estufa”. Esta interacção determina a radiação que é
absorvida pela cobertura e pelos componentes opacos da estrutura e a que é
transmitida às plantas (pequeno comprimento de onda), ao solo, equipamentos e
outros materiais presentes.
Só uma pequena parte da radiação solar que entra na estufa vai ser absorvida
pelas plantas que a transformam directamente em energia através do processo de
fotossíntese. A restante vai ser convertida em calor, dando ainda origem à
evaporação da água, dado que a cobertura da estufa é opaca à radiação térmica (de
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 87

grande comprimento de onda), que por sua vez é emitida por todos os objectos que
interceptam a radiação solar, o que faz com que as trocas de energia radiante térmica
com o exterior sejam reduzidas.
A quantidade e qualidade da produção em estufa estão dependentes de diversos
factores tais como: a temperatura, humidade e composição química do ar, a escolha
da variedade e idade da cultura entre outras como foi referido anteriormente. Resulta
pois importante identificar todas as variáveis que são de extrema importância no
processo de crescimento e desenvolvimento das plantas numa estufa.
Convém ter presente que a resposta a um factor ambiental está sempre muito
influenciada por outros parâmetros ambientais, por exemplo, a dependência da
fotossíntese à intensidade da radiação solar, é diferente em função da temperatura a
que se encontram as plantas. Assim deve pensar-se na planta como um sistema em
equilíbrio em que um factor presente em quantidades limitantes, vai limitar também
a utilização de outros recursos. Na ausência de luz a absorção do dióxido de carbono
atmosférico é praticamente nula, mesmo em condições de iluminação muito fraca a
quantidade de gás fixada pela fotossíntese pode ser muito inferior à libertada pela
respiração [Teixeira83].
Como fonte primária de carbono e energia para a planta, o processo
fotossintético desempenha um processo determinante no crescimento das plantas.
A resposta da fotossíntese à temperatura está muito influenciada por outros
factores ambientais nomeadamente a intensidade luminosa e a concentração de
dióxido de carbono. Enquanto que num ambiente ao ar livre a interacção entre os
diferentes factores ambientais ocorre de tal forma que facilita o crescimento
equilibrado de um conjunto de plantas, numa estufa por efeito mesmo da cobertura e
como consequência de intervenções de climatização e mesmo das práticas culturais,
podem ocorrer situações de desequilíbrio no crescimento da cultura. É possível por
exemplo que a superfície total das plantas seja excessiva durante o ciclo de
desenvolvimento no que diz respeito à disponibilidade de energia solar. Uma
situação similar pode verificar-se com as culturas de ciclo Outono-Inverno, as quais
iniciam o seu ciclo quando a disponibilidade de energia solar é tal que permite um
bom crescimento vegetativo, no entanto chegam a completar o seu ciclo quando a
radiação total diária sofre um decréscimo, logo a relação entre a fotossíntese e a
respiração pode ser desfavorável. Operações culturais que permitam evitar um
excessivo crescimento vegetativo durante a primeira fase do ciclo de
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 88

desenvolvimento e um controlo cuidado da temperatura, são indispensáveis para


evitar uma diminuição da produção bem como um decréscimo da qualidade.
O aumento de humidade pode produzir modificações no crescimento e
desenvolvimento das plantas, bem como aparecimento de doenças de origem
fúngica, e consequentemente decréscimo na produção. Uma diminuição do teor de
água nas folhas reduz a taxa fotossintética e tal diminuição é devida a um
decréscimo da quantidade de dióxido de carbono fixado por unidade de superfície
foliar.

Se tivermos em conta a equação geral da fotossíntese,

CO2 + H2O luz (CH2O) + O2 (1)


planta

pode concluir-se ser a água um factor limitante em relação à fotossíntese, na medida


em que é um substrato da referida reacção.
Na realidade a oxidação da água é que vai fornecer os electrões necessários à
fixação do dióxido de carbono. A humidade atmosférica desempenha um papel
preponderante no processo de transpiração foliar, sobre o potencial hídrico foliar e
sobre a temperatura das folhas realizando essa influência através de funções
primárias da planta, como a fotossíntese, a absorção e transporte de água e sais
minerais. O movimento de água do solo até à atmosfera, através da planta, pode ser
visto como um fluxo dependente dos processos metabólicos, desde um ponto - o
solo, com um potencial hídrico mais elevado, a outro – a atmosfera, com um
potencial hídrico mais baixo, através de uma sequência de compartimentos,
caracterizados por possuírem condutâncias específicas.
Logicamente que a planta não assiste pacificamente a todo o processo pois
intervém activamente numa sequência do processo na mediação da folha –
atmosfera. É contudo muito natural que no interior de uma vegetação se formem
gradientes muito mais complexos, por exemplo, a transpiração de uma folha tende a
aumentar a pressão de vapor hídrico à volta das folhas adjacentes e
consequentemente a reduzir a sua intensidade de transpiração. Devido a baixa
permeabilidade aos gases por parte da epiderme foliar, as trocas gasosas entre a
folha e a atmosfera vão ocorrer através dos estomas, que constituem autênticas
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 89

válvulas mecânicas capazes de responder com grande versatilidade às variações do


ambiente através de uma regulação excelente e muito complexa.
A equação da transpiração de uma folha pode ser simplificada e dada pela
seguinte expressão [Alpi91]:

T= Cs*ΔW.
Cs corresponde à condutância estomática ao vapor de água e ΔW à diferença de
pressão de vapor de água entre espaços celulares da folha e a atmosfera. A regulação
estomática modifica muito a transpiração de uma folha em função de ΔW. Enquanto
que para valores de Cs constantes a transpiração aumenta de forma proporcional ao
aumentar ΔW, por efeito da regulação estomática tal efeito de proporcionalidade
apenas se verifica para valores de ΔW moderados.
Numa planta a troca entre o vapor de água com a atmosfera está inevitavelmente
ligada ao nível dos estomas com as trocas de dióxido de carbono.
Para absorver o dióxido de carbono e ter aberto os estomas, a folha vai perder
água, [Alpi91]. Se a perda de água conduzir a um potencial hídrico excessivamente
negativo a planta vai fechar os seus estomas com a consequente redução na absorção
de dióxido de carbono.
A humidade relativa do ar exerce uma influência directa na transpiração nos
mecanismos de regulação térmica das plantas, na condutância dos estomas e na
incidência de determinadas doenças ou pragas. Como efeitos negativos apresentam-
se: desidratações devido à evaporação excessiva, redução da fotossíntese em
consequência de uma diminuição da condutância dos estomas ou o aparecimento de
doenças por fungos (botritis) ou pragas em consequência de um excesso de
humidade. A nível de problemas fisiológicos este excesso de humidade intervém na
absorção de cálcio, provocando uma carência neste elemento [Alpi91].
As plantas captam da atmosfera o carbono sob a forma de dióxido de carbono
(CO2), as quais combinam este gás com a água (H2O) e com a luz, sintetizando deste
modo as substâncias orgânicas, através de um processo biológico chamado de
fotossíntese conforme a reacção química (1). Pelo facto da maior parte das estufas se
encontrarem fechadas mais horas ao dia do que abertas, a concentração de CO2 vai
diminuindo no interior da estufa (as plantas vão utilizá-lo para realizar a
fotossíntese). Assim os valores de dióxido de carbono no interior da estufa vão
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 90

variar durante o dia, sendo os seus valores superiores durante a noite decrescendo
durante a manhã.
Para corrigir essas oscilações podemos utilizar quer meios naturais quer
artificiais. No primeiro caso trata-se de abrir com alguma assiduidade as janelas para
que se possibilite a circulação e renovação do ar da estufa, o que nem sempre é
possível dado às variações de temperatura que isso provoca. Quando falamos em
corrigir de uma forma artificial falamos na combustão de certos produtos (petróleo,
propano, gás natural, etc.) em estufas ou através de queimadores difusores podendo
ser também feita a introdução do CO2 sob a forma pura e de neve carbónica.
Se a concentração de dióxido de carbono se apresentar diminuta as
consequências para as plantas são obvias: perda de produção por diminuição na
síntese dos hidratos de carbono e aumento da foto-respiração. Caso contrário, se os
seus valores se encontrarem excessivamente elevados as consequências para as
plantas serão, danos fisiológicos e associado a temperaturas elevadas danos
térmicos.
O grau de humidade de um terreno influencia o crescimento das plantas a sua
produção e a qualidade das suas flores. As exigências de água não são as mesmas
quando se cultiva uma planta em estufa ou quando a planta cresce em campo aberto.
É de salientar a importância da quantidade e qualidade de água disponível no
sistema radicular das plantas, pela absorção dos nutrientes, regulação térmica e
sanidade da própria planta (doenças), caso de excesso de humidade ou em caso de
défice pela desidratação das plantas.
Concluímos então que a influência positiva ou negativa que a variação de um
factor ambiental exerce sobre o rendimento de uma cultura está sempre influenciada
pela interacção que se estabelece entre todos os parâmetros ambientais que fazem
parte do microclima de uma estufa. Note-se por exemplo, a influência da
temperatura sobre um organismo tão complexo como uma planta que não se limita à
regulação das reacções bioquímicas pois quando sujeita aos extremos pode mesmo
ter influência na estrutura física bem como nas funções das membranas
[Teixeira83].
No ambiente de uma estufa, e no que à temperatura diz respeito, torna-se
importante reduzir as oscilações, uma vez que estas serão decisivas no crescimento
das plantas no seu interior. Os valores ambientais devem ser regulados de acordo
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 91

com os valores considerados ideais para a cultura praticada, como vamos abordar na
secção 4.3 em que estudaremos dois tipos de culturas.
Mais importante ainda para que a cultura não sofra danos irreparáveis é que
esses valores permaneçam dentro dos limites quer inferior como superior. Estes
limites, como seria de esperar vão variar de espécie para espécie. No caso das
plantas se encontrarem expostas a limites inferiores de temperatura do ar, os efeitos
podem ser, deformações ou mesmo morte com congelamento dos tecidos. Caso
contrário, se a exposição seja a temperaturas próximas do seu limite superior, os
efeitos podem reflectir-se na danificação dos tecidos vegetais por desidratação
[Alpi91].
No capítulo seguinte, em que apresentamos alguns resultados sobre a
monitorização de duas culturas o Cravo e a Gerbera num ambiente controlado,
voltaremos a fazer referência a este assunto que está intimamente relacionado com a
geração de alertas por parte do sistema informático para o utilizador nos casos em
que se verifiquem riscos para a produção em causa.

4.2 Aparecimento de doenças e pragas nas culturas


Em agricultura, podemos definir praga como sendo todo o organismo animal
nocivo para as plantas e doença, como uma perturbação da fisiologia vegetal que
ocasiona um efeito desfavorável na actividade da planta [Amaro82].
O número de pragas e doenças nas culturas agrícolas tem vindo a aumentar de
ano para ano [Ferreira02]. São diversas as razões para esse aumento, muitas das
quais da responsabilidade do próprio agricultor:
ƒ A utilização de variedades mais sensíveis a doenças e pragas;
• Antes da plantação, resulta muito importante uma escolha correcta da
variedade a plantar uma vez que a extrema sensibilidade de algumas
variedades cultivadas reduz a sua utilização em agricultura biológica.
ƒ Cultura fora de época;
• A produção das culturas em estufa fora da época de crescimento normal da
cultura, diminui a sua resistência a pragas e doenças.
ƒ Redução das rotações;
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 92

• A redução das rotações que normalmente acontece em produção forçada


com o cultivo de um número reduzido de culturas, faz aumentar as pragas
e doenças.
ƒ Resistência aos pesticidas;
• A resistência das pragas e doenças aos pesticidas tem vindo a aumentar.
Acontece muitas vezes que a praga para além de não ser combatida vai
acabar por ser favorecida, quando pela aplicação destes produtos se
destróiem os auxiliares (organismos que auxiliam o agricultor no combate
a pragas e doenças) que naturalmente poderiam combater essas pragas.
ƒ Destruição e afastamento dos auxiliares;
• A grande toxicidade dos pesticidas utilizados na agricultura tradicional
origina com que muitos dos auxiliares das culturas, como por exemplo as
joaninhas que auxiliam no combate ao pulgão, sejam mortos. Em
agricultura biológica existe um grande respeito pelos auxiliares das
culturas pelo que os produtos utilizados obedecem a normas bastante
rígidas, [(CE) n.º 1488/97 n.º 1073/2000, n.º 436/2001 e n.º 473/ 2002]
[IDRHa04].
ƒ Fertilização excessiva;
• A utilização massiva de fertilizantes à base de azoto tornam as plantas
muito sensíveis ao ataque de pragas, uma vez que o azoto estimula o
crescimento vegetativo. Ao ser aplicado em excesso origina um rápido
crescimento das partes vegetais das plantas, de resulta tecidos vegetais
frágeis e desde logo sensíveis ao ataque dos inimigos das culturas
nomeadamente das pragas do tipo “picadoras-sugadoras” como é o caso
dos afídeos, cochonilhas e mosca branca.
ƒ Material de propagação vegetativo doente, plantas e sementes;
• Algumas doenças propagam-se facilmente por semente, como por
exemplo na batata o míldio, enquanto que outras propagam-se através dos
enxertos como é o caso da escoriose na videira.
ƒ Práticas culturais incorrectas;
• Para além do referido anteriormente existem práticas culturais que ajudam
ao aparecimento das pragas e doenças nas culturas, tais como: restos de
culturas doentes não retirados do terreno ou utilizados na cultura seguinte
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 93

mas que não foram correctamente decompostos, estrumes enterrados


frescos sem a correcta decomposição podem contaminar o terreno com
sementes de ervas infestantes, com doenças e pragas, estufas muito
fechadas de dia e à noite, originando deficiente arejamento e compasso de
plantação muito apertado o que ocasiona um deficiente arejamento
principalmente em ambiente de estufa.

4.2.1 Luta Biológica - Organismos auxiliares das culturas


Os auxiliares das culturas têm como função combater as pragas e as doenças,
podendo ser predadores (organismos que necessitam do consumo de mais de um
indivíduo normalmente capturado como presa, para completar o seu
desenvolvimento, possuindo vida livre em todos os seus estados móveis), ou
parasitóides (organismos, normalmente insectos, que se desenvolvem total ou
parcialmente à custa de um organismo de outra espécie, acabando por provocar a
sua própria morte, tendo vida livre na forma adulta) [Amaro82].
Os organismos auxiliares são inúmeros e diversificados. Os insectos aparecem
em maior número, surgindo outros grupos não menos importantes como os, ácaros,
os vertebrados- aves, mamíferos, répteis, batráquios e os microorganismos
[Amaro82]. Dentro do grupo dos insectos podemos referir a importância das
joaninhas, das crisopas, percevejos predadores. No grupo dos ácaros, os ácaros
fitoseídeos, e as aranhas. Nas aves, a coruja, o chapim, a toutinegra, alvéola, pisco e
a andorinha. No grupo dos mamíferos encontramos o ouriço, musaranho, a toupeira
e os morcegos. No grupo dos batráquios temos o sapo e a salamandra. Nos répteis
temos por exemplo a lagartixa, a osga, o licranço e as cobras. No grupo dos
microorganismos, temos a bactéria Bacillus thuringiensis, fungo Beauveria
bassiana, o nemátodo Steinernema carpocapse, vírus GV Cydia pomonella.
Os auxiliares podem ser considerados de “limpeza” quando entram em
actividade depois do aparecimento da praga não impedindo que esta ultrapasse o
nível económico de ataque (intensidade de ataque dum inimigo da cultura a que se
devem aplicar medidas limitativas ou de combate para evitar o risco de
aparecimento de prejuízos superiores ao custo das medidas de luta a adoptar,
acrescidos dos efeitos indesejáveis que estas últimas possam causar). Neste caso só
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 94

mais tarde conseguem dominar a praga, mas depois desta já ter causado algum
prejuizo.
Os auxiliares de “protecção” entram em actividade no início do ataque da praga
mantendo-a abaixo do nível económico de ataque.
As funções que cada auxiliar desempenha quer de protecção como de limpeza
vão depender não só do próprio, como da praga e da cultura em causa. Um auxiliar
pode apresentar funções de limpeza em relação a uma determinada praga e de
protecção em relação a outra praga. Por exemplo, os percevejos mirídeos são de
protecção no combate ao aranhiço vermelho e de limpeza em relação aos afídeos em
macieira. As joaninhas são auxiliares principalmente de limpeza.
As joaninhas das 7 pintas são as mais conhecidas (Coccinella septempunctata),
uma vez que se trata da espécie mais abundante e por isso do conhecimento geral
[Carvalho86]. Os adultos, Fig. 4.1 e as suas larvas, Fig. 4.2, são predadores
energéticos na primavera, chegando a comer até 60 afídeos por dia, Fig. 4.3.

Fig. 4.1- Joaninha de 7 pintas adulta

Fig. 4.2- Ovos de joaninha,

amarelos acabados de nascer no

canto inferior direito, e larvas

Fig. 4.3- Joaninha de 7 pintas (larva)

comendo um piolho da macieira

A sua eficácia é tanto mais importante quanto maior a precocidade da sua


actividade (temperaturas superiores a 12º C, local de hibernação próximo da
cultura), evitando-se deste modo o crescimento excessivo de afídeos [Ferreira02].
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 95

A grande parte das joaninhas é predadora de afídeos: as joaninhas de duas pintas


(Adalia bipunctata) chegam a comer até 60 afídeos por dia, as de dez pintas (Adalia
decempunctata) e as de catorze pintas (Propylea quatuordecimpunctata) comem até 30
afídeos por dia, e a joaninha do género Scymnus (inclui várias espécies) come até 10
afídeos por dia.
Das predadoras de cochonilhas existem as pertencentes ao género Chilocorus
(predadora apenas de cochoninhas) e ao género Exochomus (predadoras de cochoninhas
e afídeos).
As joaninhas pertencentes ao género Stethorus, são muito mais pequenas que as
anteriores, totalmente negras, os adultos e as suas larvas são predadores energéticos no
combate ao aranhiço vermelho.
Torna-se necessário para se efectuar produção biológica, realizar observações
regulares dos auxiliares, das pragas e doenças de modo a avaliar capacidade de eliminar
ou atenuar o ataque por parte dos auxiliares. Existem vários métodos de observação:
ƒ Observação visual;
• Representa uma observação directa, onde muitas vezes é necessário o
recurso a lupa de bolso, este método é aplicável a todas as culturas.
ƒ O método das pancadas;
• Consiste em dar três pancadas no ramo com tubo de borracha e recolha de
todos os auxiliares que caírem sobre um pano branco e utiliza-se
normalmente em pomares. A rede caça borboletas, permite a recolha de
insectos em voo sobre a cultura, aplicável em cereais e pastagens.
ƒ Aspiração;
• Utilização de um aspirador de dorso, utilizado essencialmente em cereais,
pastagens e trabalhos de investigação.
ƒ O método de captura no solo;
• Pode ser de balde ou copo enterrado, com abertura ao nível do solo e água
no fundo, é aplicável a todas as culturas. A captura pela cor, utiliza
armadilhas cromotrópicas (de cor) amarelas ou azuis em placa, com cola
ou prato com água, pode ser utilizado em todas as culturas.
ƒ Captura com fio colante;
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 96

• Constituem armadilhas de arame e cola sobre a cultura. Neste método é


apanhado todo o ser que passar sem se utilizar o factor cor (pode recorrer-
se a este método em todas as culturas).
A utilização de câmaras localizadas na estufa que permitem realizar a respectiva
detecção das alterações das plantas enviando toda essa informação para o computador
que fará o registo e respectivo alerta, através da Internet em [Xin98], constitui, de um
modo análogo, uma abordagem em que a tecnologia pode ser vista como um auxiliar à
produção biológica que faz uso recorrente dos auxiliares naturais como medidas
preventivas.

4.2.2 Medidas para combater o aparecimento de doenças e pragas nas


culturas
As práticas culturais como forma de combate contra pragas e doenças constituem o
mais antigo processo de combate dos inimigos das culturas.
As medidas culturais podem classificar-se em directas e indirectas [Ferreira02].
As medidas de luta cultural indirectas são medidas que o agricultor desenvolve no
decurso da sua actividade, pois correspondem a operações necessárias à cultura, que
devem ser feitas com o objectivo de as proteger. Entre estas medidas contam-se:
• A escolha da espécie a cultivar; a correcta selecção da variedade que é de
extrema importância uma vez que em agricultura biológica existem normas
muito específicas de protecção de plantas que não permitem a utilização de
pesticidas de síntese (substância ou mistura de substâncias utilizadas para
prevenir ou combater espécies nocivas, e ainda, substâncias usadas como
reguladores de crescimento), existindo uma legislação comunitária a
respeitar.
• Rotações (sequência de culturas no mesmo terreno ao longo dos anos) e
consociações (cultivo de pelo menos duas espécies de plantas ao mesmo
tempo no mesmo terreno); a rotação das culturas anuais evita os inimigos
das culturas, principalmente os que se mantêm no solo de uns anos para os
outros.
• A consociação quer pela repelência quer pelo favorecimento dos auxiliares
resulta num importante meio de combate.
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 97

• Fertilização do solo; a fertilização resulta bastante importante como meio de


luta, uma vez que uma planta bem nutrida é uma planta mais resistente
[Vidalie92]. A fertilização pode contribuir também para eliminar
determinadas pragas e doenças, através de práticas correctas como acontece
com a compostagem. A fermentação a quente existente nesta técnica
(temperaturas até 60-70º C) contribui para a destruição de organismos
patogénicos bem como de muitas sementes de ervas infestantes.
• Rega; as técnicas de rega podem ser responsáveis pela disseminação de
doenças, a rega por aspersão é a técnica que mais favorece a disseminação
de determinada doença [Arbelaez00].
• Densidade, compasso, desfolha e arejamento num ambiente de estufa são
práticas culturais importantes a respeitar uma vez que muitas pragas e
doenças tornam-se incontroláveis por excesso de humidade e por falta de
arejamento. Deste modo, para o sucesso da produção biológica em estufa
resulta necessário utilizar compassos de plantação largos e não descurar a
abertura da estufa.
Nas medidas de luta cultural directas, existem as medidas por acção
mecânica, acção do calor e por acção sonora.
• As medidas por acção mecânica, compreendem a eliminação de focos de
doenças, de pragas ou infestantes, destruição de restos de culturas infestadas
com doenças e eliminação de plantas hospedeiras e de infestantes por
monda manual ou mecânica (armadilhas contra ratos ou redes contra aves,
por exemplo).
• As medidas por acção do calor podem ser de dois tipos: a termoterapia por
meio de ar quente ou água quente que permite a diminuição de vírus e a
solarização do solo que consiste numa desinfecção do solo em consequência
do calor produzido pelo sol resultando num conjunto de acções: aumento de
calor pelo sol, aumento da humidade pela rega efectuada, aumento dos gases
voláteis (metano, dióxido de carbono, entre outros) e aumento dos
organismos antagonistas (fungos, bactérias) em relação aos patogénicos
causadores de doenças. Consegue-se um aumento da temperatura de um
solo solarizado não só à superfície como também à profundidade
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 98

(conseguem-se temperaturas superiores a 39º C a 40 cm durante algum


tempo) [Ferreira02].
• Nas medidas por acção sonora, são utilizados por exemplo para afugentar
aves, ruídos artificiais ou reprodução de sons naturais de aflição.
• Incluem-se ainda nestas medidas a técnica das plantas armadilha, que
consiste em utilizar plantas que inibem ou matam fungos, nematodos ou
insectos: temos como exemplo as plantas do género Tagetes contra algumas
espécies de nemátodos [Ferreira02]. De acordo com estudos efectuados em
França o Tagetes patula é mais eficaz contra os nemátodos que o Tagetes
erecta, uma vez que a sua raiz é fasciculada, densa e ramificada, ocupando
melhor o solo que o Tagetes erecta que tem uma raiz pivotante. As
chamadas plantas bancos constituem também um método com bastante
interesse especialmente em estufas. Uma planta banco é uma planta de uma
família diferente daquela que pretendemos proteger, logo planta-se
antecipadamente entre as linhas da cultura que pretendemos proteger. A
planta introduzida vai servir de hóspede para uma praga inócua à cultura
desejada e sobre esta praga desenvolvem-se as populações de parasitas que
protegeram as plantas da cultura desejada, caso estas sejam alvo de algum
ataque de pragas [Porcuna03].
As medidas de luta cultural directa podem agora contar com a tecnologia como
auxiliar nesse combate pois, como propõe este trabalho, através da monitorização
em conjunto com um sistema de alerta pretende-se agir de modo a que as condições
conhecidas para o aparecimento das pragas e doenças não ocorram.

4.3 Caracterização de algumas culturas em estufa


As razões da escolha das duas culturas, do cravo e da gerbera, relacionam-se
entre outros, com o facto de se aspirar aliar o interesse económico ao ecológico e
científico. Do ponto de vista económico, o cravo é uma espécie cultivada em estufa
com bastante interesse, tanto em termos de área como em termos económicos.
Embora sujeito às variações normais de acordo com a época e com a qualidade da
flor, este produto tem escoamento garantido. Segue-se o gladíolo, a gerbera e a rosa,
embora com menor expressão. A produção de gerbera tem vindo a aumentar
consideravelmente, por exemplo no Montijo a sua produção é considerada das
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 99

maiores da Península Ibérica [Gomes06], constituindo assim um produto com


potencial de desenvolvimento. Do ponto de vista científico e ecológico diz respeito
à inovação, quer tecnológica, quer de um modo diferente de fazer floricultura, a
floricultura biológica. Pretende-se ao longo deste trabalho, como já referido, encarar
a tecnologia como um auxiliar “limpo” da produção em constante sinergia com o
meio ambiente envolvente.

4.3.1 A cultura do cravo: características edafo-climáticas


O cravo (Dianthus caryophyllus L.) pertence à família das Caryophyllaceae e ao
género Dianthus. O nome Dianthus vem do grego e significa “Flor Divina”
[Melida89].
É uma planta perene de base lenhosa, com caules que podem atingir os 80 cm de
altura, sistema radicular bem desenvolvido e superficial. As variedades Europeias
possuem folhas estreitas e ponteagudas com caules com entre-nós muito curtos e
elevado número de pétalas. As variedades Americanas, possuem as folhas mais
largas, um cálice alongado, caules mais grossos, muito bem adaptadas ao
crescimento em estufa. Os híbridos apresentam cores vivas, caules compridos e
grossos, folhas mais largas e boa adaptação à estufa. Os cultivares miniatura ou
multiflores possuem folhagem pequena, porte mais pequeno de vigor reduzido e
haste floral muito ramificada [Arbelaez00].

ƒ Características edáficas
O cravo é uma planta bastante versátil adaptando-se com facilidade a
diferentes tipos de solos. Prefere no entanto, solos com uma boa drenagem, ou
seja, solos arenosos ou franco-arenosos aos argilosos ou de origem calcária. Os
valores de pH óptimos situam-se na ordem dos 6,5 a 7,5.

ƒ Características climáticas
• Temperatura
Apesar do cravo suportar valores de temperatura negativos durante um
determinado período de tempo sem congelar (~ -3ºC), a formação de
gemas florais pára abaixo dos 8ºC e acima dos 25ºC. A temperatura de
0ºC é perigosa para o cravo causando deformações nas pétalas, a
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 100

temperatura mínima a manter-se é de 4ºC e devem evitar-se temperaturas


superiores a 36ºC. Na Tab. 4.1 apresentam-se as temperaturas ideais para
a sua produção [Vidalie92].

Temperaturas óptimas
Diurna Nocturna
Inverno [15,18]ºC [10,12]ºC
Verão 21ºC 12ºC

Tabela 4.1- Temperaturas óptimas para a Cultura do Cravo

• Luminosidade
Representa um factor predominante tanto para o crescimento como para
a floração, determinando a rigidez do caule bem como o tamanho e número
de flores. Torna-se necessário cuidado dobrado quer na escolha da
orientação da estufa, quer na escolha do material de cobertura da mesma
[Arbelaez00].
• Humidade relativa
Os valores ideais rondam os [60,70]%. Durante o verão as humidades
relativas baixas [30,40]% são prejudiciais. Devemos ter humidades relativas
próximas das ideais atendendo a que por um lado, para valores mais
elevados podem surgir doenças que a seguir iremos referir, tais como a
Fusarium e a Botritis cineria e por outro, para valores de humidade relativa
inferior a 60% a qualidade da flor é influenciada negativamente. No verão o
sistema de micro aspersão é indispensável para manter a humidade relativa
elevada e em associação à abertura da estufa, faz diminuir a temperatura no
interior da estufa para valores próximos dos ideais conforme indica a Tab.
4.1.

4.3.1.1 Práticas culturais numa plantação de cravos


Devem realizar-se diversas operações culturais tais como:
• Preparação do terreno e operações prévias;
Mobilização do solo a uma profundidade de 30 a 40 cm; Incorporação da
fertilização de fundo; Mobilizações superficiais; Desinfecção do solo
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 101

(dependente dos antecedentes culturais) recorrendo à solarização (luta


cultural directas); Armação do terreno; Instalação da tubagem de rega
gota a gota; Instalação da malha de plantação.
• Plantação;
A planta do cravo fica no solo em média cerca de dois anos. Pode no
entanto ficar mais (até quatro anos) ou menos (apenas um ano),
dependendo das opções de quem produz e do aparecimento de doenças
nomeadamente de fungos no solo que inviabilizem a produção obrigando
a um levantamento de toda a plantação a um tratamento do solo e a uma
nova plantação.

A época de plantação vai desde Março-Maio e se for realizada de Maio a


meados de Junho, obtem-se uma floração em Novembro ou início de Janeiro. Os
compassos de plantação escolhidos podem ser de 20 cm na linha e 15 cm na entre-
linha. As linhas mais interiores ficam com um espaçamento de 20cm (33
plantas/m2), ver Fig. 4.4.

Linhas de plantação Passadeira

20cm

15 cm 20 cm 15 cm 50 cm

Vista do canteiro em perfil

15 cm Planta

50 cm

Fig. 4.4 Diagrama representativo dos compassos de plantação escolhidos na cultura do cravo
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 102

A plantação encontra-se bastante simplificada uma vez que as quadrículas da


malha de plantação marca o local exacto da plantação, deixam-se as estacas
herbáceas à superfície do solo, evitando-se assim as doenças no colo da planta. Uma
vez que as raízes ainda não estão bem desenvolvidas é imprescindível regar bem o
cravo duas ou três vezes ao dia durante a primeira semana. Pode acontecer que as
estacas se tornem um pouco amarelas durante os primeiros dias, o que é normal pois
trata-se de um transplante, durante a segunda semana deve diminuir-se a rega. Com
a rega por vezes algumas estacas tombam o que implica que após esta seja
necessário ver quais as estacas que necessitam de ser novamente plantadas.
Os primeiros quinze dias são sensíveis ao ataque de alguns parasitas, pelo que é
recomendável cuidado redobrado. Este facto faz com que o sistema proposto se
possa ajustar ao longo do período da cultura para que a vigilância seja diferenciada e
o detalhe possa ser parametrizado ao longo do tempo. No Cap.5 voltamos a este
tema.

Irrigação;
A rega após a plantação efectua-se por microaspersão. A fertilização pode
efectuar-se por meio do sistema de rega gota a gota (fertirigação). Na cultura
do cravo um excesso de azoto pode causar um aumento da sensibilidade a
pragas e doenças ao mesmo tempo favorece a rebentação axilar, o fósforo
torna-se essencial no início do crescimento uma vez que favorece o
crescimento das raízes, o potássio melhora o aspecto da planta e aumenta o
seu vigor, a sua carência provoca a formação de caules débeis de fraca
consistência e fraca floração. O cravo é bastante sensível a carências de cobre,
zinco [Tejero89].
Tutoramento;
É normalmente efectuado com uma rede plástica colocada na altura da
plantação para facilitar as tarefas, esticada com auxílio de arame preso aos
tutores laterais instalados ao longo do canteiro (Fig. 4.5).
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 103

Fig. 4.5 Sistema de tutoragem aplicado numa estufa de cravos

Poda do craveiro. Atarraques, despontas;


Entende-se como desponta simples, a eliminação da dominância apical
da planta, com o objectivo de se conseguir um estímulo antecipado e mais
homogéneo dos rebentos laterais vegetativos que no futuro darão lugar a flores.
Sem a intervenção do homem a planta exibiria desde o momento da
plantação uma marcada dominância apical com tendência a formar rapidamente
órgãos reprodutivos, retardando o desenvolvimento dos rebentos laterais, uma
vez formado o botão inicia-se de uma forma gradual o desenvolvimento dos
rebentos laterais. Com o desponte estimula-se a formação dos botões laterais,
evitando o gasto energético que encerra o desenvolvimento reprodutivo,
comercialmente inútil (Fig. 4.6).
Aos 25 a 30 dias a jovem planta estará recuperada do transplante e já
começou o seu desenvolvimento radicular e aéreo, será possível visualizar já em
algumas o botão floral. No entanto se o desenvolvimento foi deficiente é
preferível adiar a desponta até aos 35 a 45 dias a contar desde o momento da
plantação. Uma desponta cedo (25 a 30 dias depois da plantação) em plantas
homogéneas e com bom desenvolvimento, permitirá uma colheita temporã e
concentrada. Os despontes tardios realizados em plantas díspares e pouco
desenvolvidas produzirão colheitas tardias e mais espaçadas no tempo. Uma
colheita concentrada é particularmente importante se pensarmos em termos de
mercado quando a produção se destina a uma época alta de procura.
Outra técnica de desponta é aquela conhecida por “desponta e meia” que
consiste em fazer uma desponta adicional na metade dos rebentos resultantes do
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 104

primeiro desponte simples. Esta operação realiza-se entre a quarta e sexta


semana depois do primeiro desponte, momento em que os rebentos apresentam
aparência vegetativa e apresentam cerca de 7 a 9 pares de folhas.
Esta técnica utiliza-se quando se pretende obter um primeiro pico muito
acentuado e um posterior período de baixa produção. Apesar de produzir uma
menor quantidade de flores durante a primeira colheita, a produção total durante
o primeiro ano apresenta-se parecida a obtida através da desponta simples.
A desponta dupla, consiste em voltar a despontar a totalidade dos
rebentos resultantes do primeiro desponte. É uma prática pouco utilizada pois
origina uma colheita tardia, prolongada no tempo mas com pouca qualidade.

Desbotoamento;
Realiza-se durante todo o período de vida da cultura, em cravos
americanos deve suprimir-se todos os botões laterais (ainda em fase de
formação) da haste floral.

Rebaixamento;
Realiza-se no fim do primeiro ano. Cortam-se as plantas 30 a 40 cm
acima do nível do solo.
Colheita;
Quando o botão começa a abrir, realizam-se dois cortes:
Corte baixo- no 3º e 4º nó (menores produções/ flores de melhor
qualidade). Corte alto – acima do 5º-7º nó (maiores produções/ flores de
qualidade inferior).

Cronologia das operações;


Plantação
Rega por aspersão
Operações Colheita
Armação do terreno
Rega gota -a- gota

Lavoura e fertilização de fundo


Desinfecção do solo 1ª Desponta 2ª Desponta

0
-4 -1 1 2 3 4 9 14 20 24
Semanas

Fig. 4.6 Cronologia das operações culturais do craveiro


Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 105

4.3.1.2 Doenças e pragas na cultura do cravo


Na limitação de pragas em agricultura biológica a prevenção resulta como já
foi referido no decorrer deste trabalho, prioritária devendo esta ter sempre a sua
essência no solo através do seu enriquecimento em matéria orgânica e em vida
microbiana que nela habita. A fertilização orgânica equilibrada resulta numa
fisiologia vegetal mais resistente ao desenvolvimento de pragas, principalmente
as picadoras-sugadoras e de doenças [Frescata04].

4.3.1.2.1 Pragas mais frequentes


Cacoecimorpha pronubana, Epichoristodes acerbella, são lepidópteros
(lagartas de borboletas) em que as suas larvas comem as folhas e perfuram os
botões florais devorando-os. Têm cerca de três a quatro gerações anuais. e o seu
controlo pode fazer-se recorrendo a um auxiliar de agricultura biológica, a
bactéria Bacillus thuringiensis.
Os Pulgões (Myzus persicae), constituem uma praga muito frequente na
cultura do cravo: normalmente picam as folhas e flores para sugar os açúcares
que são transportados pelo floema. Em estufa reproduzem-se por partenogénese,
sem necessidade de machos: todos os indivíduos são fêmeas e cada fêmea
origina mais. Quando chegam os dias curtos de Inverno os pulgões produzem
ovos, e a praga ressurge na primavera e diminui no calor do verão. O seu
controlo biológico pode ser feito, como já referido na secção 4.3.1, com o
recurso a auxiliares tais como as joaninhas.

Os Tripes (Frankliniella occidentalis), são insectos pertencentes à ordem


Thysanoptera e à família Thripidae. São pequenos insectos (0,5-5 mm podendo
chegar a 12mm) de corpo delgado que possuem um aparelho bucal do tipo
sugador, Fig. 4.7 [Arbelaez00].
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 106

Fig.4.7 Estrago causado numa flor do cravo por Tripes (Frankliniella occidentalis )

Os Tripes (Frankliniella occidentalis) são insectos pertencentes à ordem


Thysanoptera e à família Thripidae. São pequenos insectos (0,5-5 mm podendo
chegar a 12mm) de corpo delgado, possuem um aparelho bucal do tipo sugador, Fig.
4.7 [Arbelaez00].
Na Fig.4.8 estão representadas as diferentes etapas do ciclo de vida dos Tripes.
A fêmea insere os ovos entre os tecidos das folhas jovens, botões tenros e botões
florais. Os ovos são de superfície lisa e uniforme e ficam incrustados no
parênquima, a duração deste estádio é de aproximadamente 4 a 8 dias.

A- Adulto
B- Ovo
C- D- Larva
E- Pré-Pupa F- Pupa

Fig. 4.8 Ciclo da vida dos Tripes

Possuem dois estados larvares, I e II, separados entre si por uma muda. Os
recém nascidos são de cor branca passando de imediato a uma tonalidade amarelada
e não possuem asas. A larva II alimenta-se activamente começando a perder
gradualmente a sua mobilidade. Muda de cor ficando branca dirigindo-se para o solo
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 107

onde terá lugar o estádio pupal. A duração deste estádio é de cerca de 7 a 8 dias. A
pupa (imóvel), possui pequenos esboços de asas, antenas curtas, este estádio dura
cerca de 2 dias.
O adulto apresenta inicialmente tonalidades claras, adquirindo rapidamente uma
coloração “café” que se torna muito escura, alcançando a maturidade em 2 dias. Em
adulto pode chegar a durar cerca de 26 dias. As condições ambientais
principalmente de temperatura, humidade relativa elevadas e de disponibilidade de
alimento para as larvas, influem directamente sobre a duração do ciclo
[Arbelaez00].
Ao introduzirem o seu aparato bucal dentro dos tecidos, as ninfas e larvas
destroem as células da epiderme e o parênquima das folhas ao extrair a seiva e
esvaziar as células. Os adultos e larvas rasgam as paredes da epiderme com o seu
estilete, produzindo uma área necrótica e deformação da zona afectada. Se os órgãos
da planta afectados se encontram formados, originam-se áreas descoloridas e
necróticas, no entanto se são jovens, tenros, suculentos e em fase de crescimento,
junto às áreas atacadas surgem deformações causando atrofias e até a perda do botão
floral.
No caso de se tratar de um ataque directo sobre as pétalas do cravo já
desenvolvidas, acontece um fenómeno curioso, devido ao ataque do aparato bucal
do insecto, os lugares afectados, em variedades de cor vermelha ou tons mais
escuros, adquirem raios claros (branco/ creme, ver Fig.4.7). No caso das variedades
brancas e cremes adquire tons escuros (castanho).
A postura dos ovos induz lesões onde quer que a postura se realize. Se o órgão
implicado se encontra em fase de crescimento vai produzir-se uma pequena
concavidade, que faz reagir o tecido adjacente apresentando um halo esbranquiçado.
Se a postura tem lugar sobre a flor vai produzir-se alterações no processo de
formação da mesma [Arbelaez00].
As medidas preventivas são sempre as mais recomendáveis para controlar uma
praga de Tripes devendo fazer-se uma monitorização diária de todas as variáveis
climáticas que possam afectar o comportamento da praga: precipitação, temperatura,
e humidade relativa do ar. Pode ser também complementada com a aplicação de
medidas culturais, tais como, podas fitossanitárias e de renovação, eliminação de
hospedeiros alternativos, adequada preparação do solo, a utilização de barreiras
físicas, ou estratégias de monitorização com recurso a armadilhas que permitam ter
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 108

uma noção da existência da praga do estado em que se encontra e da necessidade de


tratamento.
Os Ácaros, cujos membros mais importantes pertencem à família Tetranychidae,
por sua vez membro da classe Aracnida, constituem uma praga comum no cravo
[Arbelaez00]. Os Àcaros não são segmentados e o seu corpo encontra-se claramente
dividido em regiões, Fig.4.9.

Fig. 4.9 Ciclo de vida de Tetranychus sp

Os da espécie Tetranychus cinnabarinus, passam por várias fases depois de


eclodirem do ovo e normalmente os machos possuem um ciclo de vida mais curto
que as fêmeas. Quando os Àcaros chegam a um local novo, preferem localizar-se na
página inferior da folha iniciando imediatamente a postura. Se as condições são
favoráveis, a maior parte da população adulta situa-se junto às nervuras e a teia que
eles formam permite-lhes a protecção às condições adversas do meio.
O sintoma mais frequente induzido pela presença de aranhiço vermelho resulta
no aparecimento de pontos cloróticos na superfície da folha que em alguns casos
apresenta uma tonalidade avermelhada. E naturalmente presença de teias de aranha
quer na página inferior bem como entre as plantas e estruturas da estufa.
A temperatura bem como a humidade relativa influenciam directamente o ciclo
de vida de T. cinnabarium, assim como a todos os ácaros. Tem sido demonstrado
que as temperaturas baixas e uma humidade relativa elevada, são desfavoráveis ao
desenvolvimento dos ácaros em geral [Arbelaez00].
Em outro estudo realizado, Ruiz e Mosquera (1984), determinaram a influência
da temperatura no desenvolvimento do aranhiço vermelho na cultura do cravo em
estufa. Com uma humidade relativa entre os 25 a 27%, sujeitos a temperaturas de
(17.5, 22.5, 27.5 ºC), a mais favorável ao desenvolvimento dos ácaros foi a 27.5º C,
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 109

na qual a duração total do seu ciclo foi de 11.2 dias, com uma fecundidade total de
110.5 ovos/fêmea.
A uma temperatura de 17.5ºC, o ciclo durou 27.91 dias, a fecundidade baixou a
81.12 ovos/fêmea. Os valores mínimos para T. cinnabarinus indicam que este se
mostra inactivo entre 8 a 13ºC, com excepção do estado de deutroninfa no qual a
actividade cessa a valores de 4.46ºC.
Como medidas de controlo pode recorrer-se à introdução de organismos
auxiliares (em largadas) na cultura em causa, como ácaros predadores e parasitóides
que vão combater o aranhiço vermelho. Existem várias famílias de ácaros auxiliares,
sendo a dos Fitoseídeos, a principal. Aparecem no entanto outras com algum
interesse, tais como, os Trombidídeos (predadores de ácaros e de cicadelas), os
Anastídeos (predadores de ácaros e psilas), os Estigmateídeos (predadores de ácaros
e cicadelas) e os Tideídeos (predadores de ácaros, mas pouco eficazes). Os ácaros
fitoseídeos têm cor e tamanho parecida aos ácaros praga, mas são normalmente mais
rápidos. Têm quatro a sete gerações por ano, hibernam no estado de fêmea adulta, os
seus ovos eclodem em três a quatro dias e as ninfas atingem o estado adulto em
cinco a dez dias. Como possuem muitas gerações e o período de actividade coincide
com o dos aranhiços praga, os fitoseídeos são eficazes no seu combate.

4.3.1.2.2 Doenças mais frequentes


Fusariose (Fusarium oxysporum) trata-se de uma doença que produz efeitos
graves tornando-se imperativo o seu combate. Esta doença começa de baixo para
cima, pois ao observarmos uma planta afectada podemos verificar que as folhas
inferiores estão secas enquanto que as superiores não, naturalmente que quanto
maior a progressão da doença um menor número de folhas superiores que ficam sãs.
No estado mais avançado da doença os caules apresentam fendas na parte exterior
apresentando um aspecto de lenha seca, as raízes também são afectadas
apodrecendo.
Uma vez que o fungo se encontra no solo ou outro substrato, torna-se
praticamente impossível erradicá-lo totalmente, uma vez que o fungo forma esporos
que são difíceis de eliminar por meio de métodos físicos, e químicos, podendo viver
durante largos períodos, cerca de 30 a 40 anos em ausência do hospedeiro (cravo).
Podemos reduzir o problema com recurso a medidas preventivas: substrato livre da
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 110

doença, material vegetal são, água limpa, utilização de variedades com resistência à
doença, métodos de controlo físicos e biológicos.
A doença e seu agente causal foram descritos inicialmente por Prilleux e
Delacroix em 1899, dando-lhe o nome de Fusarium dianthi. Em 1940, Snyder e
Hansen realizaram estudos taxonomicos e deram-lhe o nome de Fusarium
oxysporum forma especialis dianthi. (Fusarium oxysporum f. Sp. dianthi), a forma
que actualmente se conhece [Marquez00].
Depois de “entrar” na planta o oxysporum f. sp. dianthi, desenvolve-se no
sistema vascular da planta, os vasos em especial o xilema são bloqueados e
destruídos de forma que o transporte de água e nutrientes fica dificultado o que
conduz à murchidão da planta.
Externamente o sintoma mais visível é a descoloração das folhas, sobretudo do
lado da folha por onde o fungo penetrou. As folhas tornam-se amarelas e a parte
superior da planta enrola-se para baixo, provocando posteriormente a murchidão da
planta, e mesmo a sua morte. Internamente pode ocorrer uma descoloração
acastanhada nos tecidos vasculares, Fig. 4.10 e Fig. 4.11.

Fig.4. 10 Corte transversal do caule do cravo,


afectado pelo Fusarium

Fig. 4.11 Sintomas iniciais causados pelo fungo


Fusarium oxysporum f. Ep. Dianthi

Quando a planta sofre um ataque por Fusarium oxysporum f. Sp. dianthi as


raízes permanecem inicialmente intactas, em contraposição ao ataque de outras
espécies de Fusarium que destroem a base do caule ou as raízes.
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 111

Os factores externos, em particular a humidade e a temperatura influenciam o


desenvolvimento da doença. A temperatura óptima para o crescimento do fungo,
Fusarium oxysporum f. Sp. Dianthi é 27.5º C, no entanto o fungo pode desenvolver-
se a temperaturas entre os 15 a 30ºC [Arbelaez00].

Em conjunto, a temperatura e a humidade influenciam decisivamente sobre a


expressão dos sintomas. A baixas temperaturas e a elevada humidade relativa, a
evaporação na planta é baixa, de forma que a perda de água pode ser compensada
apesar de os vasos condutores nomeadamente o xilema se encontrar bloqueado.
Neste caso os sintomas não se expressam e a planta parecem aparentemente sãs.

Quando as temperaturas são altas e a humidade relativa baixa, acontece uma


situação inversa à anteriormente descrita. A perda de água não é compensada e as
plantas exibem claros sintomas de infecção.

Em conjunto, a temperatura e a humidade influenciam decisivamente sobre a


expressão dos sintomas. A baixas temperaturas e a elevada humidade relativa, a
evaporação na planta é baixa, de forma que a perda de água pode ser compensada
apesar de os vasos condutores nomeadamente o xilema se encontrar bloqueado.
Neste caso os sintomas não se expressam e a planta parecem aparentemente sãs.

Quando as temperaturas são altas e a humidade relativa baixa, acontece uma


situação inversa à anteriormente descrita. A perda de água não é compensada e as
plantas exibem claros sintomas de infecção.

Entre as medidas de controlo, contam-se o cuidado na higiene de cultivo


(destruições das plantas afectadas), o do pH (solo ácido detém o fungo), a utilização
de solos resistentes, o recurso a variedades resistentes à doença bem como fazendo
uso da técnica da solarização como já referido na secção 4.2.2.
Uma vez que o fungo pode ser disseminado pela água, uma medida recomendável
passa por tratar a mesma. Durante a colheita é importante desinfectar as ferramentas
utilizadas, e evitar a manipulação excessiva das plantas acabadas de colher pois
estão susceptíveis a possíveis ataques.
Existem muitos microorganismos auxiliares (designados de antagonistas), como
forma de diferenciação aos macroorganismos auxiliares. Os produtos mais utilizados
em luta biológica são, as bactérias Bacillus Thuringiensis, Pseudomonas os fungos
Beauveria spp., Trichoderma e Streptomyces e o vírus da Granulose (está até à data
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 112

deste trabalho, em processo de homologação em Portugal). Estes produtos possuem


as seguintes características de interesse para a protecção das culturas: são
específicos para a praga ou doença a combater, respeitam o meio ambiente e os
auxiliares, não deixam resíduos nos alimentos, diminuem os tratamentos
fitossanitários contra outras pragas, por exemplo, o aranhiço vermelho cujos
predadores não são destruídos [Ferreira02]. No entanto apresentam algumas
restrições que se prendem com a sua especificidade, uma acção de combate lenta
que requer um maior conhecimento da biologia da praga ou da doença em questão,
custos de investigação elevados e dificuldades na homologação. Em Portugal estão
até à data apenas homologados produtos à base de Bacillus Thuringiensis
[Ferreira02].
A Botrytis cinérea, constitui uma das doenças mais comuns nas ornamentais,
afecta sobretudo a pós-colheita, mas pode encontrar-se presente no cultivo. O
ambiente húmido e quente das estufas e as embalagens com frequência molhadas
entre as quais circula pouco ar, favorecem um rápido crescimento do fungo.
Os sintomas, são diversos, desde manchas foliares, notando-se pela presença de
um bolor cinzento, sendo nos cravos a infecção mais frequente sobre as pétalas, o
que poderá condicionar a sua comercialização, Fig. 4.12.

Fig. 4.12 Flores do cravo afectadas por Botrytis cinerea

Uma vez que este fungo é saprófito (alimenta-se de materiais vegetal em


decomposição), pode ser facilmente dissimilado em resíduos de colheita, no solo,
através de rega, pelo movimento das pessoas na estufa, na colheita e mesmo na
propagação. A idade dos tecidos expostos ao fungo e a presença de feridas são
directamente proporcionais à sua susceptibilidade, em particular nas pétalas.
Uma elevada humidade relativa e água livre sobre os tecidos, são condições para
o desenvolvimento do fungo.
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 113

Estudos realizados com filme de plástico que absorvem o infravermelho de


banda larga, do espectro, onde se estima que permitem reduzir a humidade relativa,
podem surgir como alternativas ao controlo deste fungo. Filmes que bloqueiam a
porção ultravioleta do espectro, aumentando a luz azul também inibem a
esporulação do fungo em questão [Arbelaez00].
Resumem-se na Fig. 4.13 as pragas e doenças com probabilidade de ocorrência
mais frequentes na cultura do cravo ao longo do ano.

Doenças Fusarium oxysporum f. Sp. Dianthi Botrytis cinérea

Pragas
Myzus persicae Tetranychus cinnabarinus Frankliniella occidentalis

Semanas
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 24
Fig. 4.13 Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura do craveiro

4.3.2 A cultura da gerbera: características edafo-climáticas

O género gerbera pertence à família das compostas, é constituído


aproximadamente por 50 espécies, das quais a maior parte são originárias da Africa
central e meriodional, repartindo-se o resto das espécies entre a China, Japão, Brasil.
O seu habitat original apresenta clima tropical, com uma estação seca de três meses,
temperaturas que oscilam entre ao 16ºC e 21ºC, grande luminosidade e solo de
origem granítica com elevada proporção de areia. Nos princípios do séc. XX,
obtêm-se híbridos entre as espécies G. Viridifolia e G. Jamesonii, as quais
apresentam boas características.
É uma planta herbácea, vivaz, em roseta, raiz fasciculada, apresenta um rizoma
(caule subterrâneo) de onde surgem coroas de folhas, a inflorescência em capítulo e
está sustentada por um pedúnculo sem folhas [Mcdonald03].
ƒ Características edáficas

A natureza do solo influencia de uma forma decisiva o êxito da plantação. A gerbera


exige solos ligeiros bem drenados e não calcários, estes factores contribuem para a
formação de um sistema radicular bem desenvolvido, diminuição de problemas
fitossanitários (podridão do colo) e acidentes fisiológicos (clorose fénica).
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 114

ƒ Características climáticas

• Temperatura
A temperatura para a cultura da gerbera é um factor limitante na
produção, uma vez que quer as altas bem como as baixas temperaturas
influem na qualidade floral (diâmetro do capítulo e comprimento do
pedúnculo). O ideal é que as temperaturas oscilem entre 15ºC e 21ºC:
Com uma temperatura mínima de 12ºC assegura-se uma produção
rentável mas a temperaturas inferiores a 8ºC, a vegetação paralisa. Nos
países do Norte da Europa recorre-se ao aquecimento do solo, de 20ºC a
15cm de profundidade, desta forma assegura-se uma boa produção
invernal e obtém-se um maior nível de resistência à doença Phytophora
cryptogea, causada por um fungo.
Naturalmente que a utilização de aquecimento obriga a ter em conta a
relação temperatura/luminosidade. Um excesso de luminosidade
(intensidade e duração), pode reduzir a duração em água da flor cortada.
Nestes casos deve pois recorrer-se a variedades de pedúnculos grossos.
Recomenda-se usar rede de sombreamento no verão.

Em resumo;
Temperatura Valores Efeitos

Temperatura mínima mortal < 2 ºC Danos irreparáveis

Temperatura mínima biológica 8 ºC Interrupção da actividade biológica

Temperatura óptima 15º- 21 ºC

Temperatura óptima de germinação 16- 18 ºC

Temperatura máxima biológica > 35 ºC Interrupção da actividade biológica

Tabela 4.2- Resumo das temperaturas e seus efeitos na gerbera


Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 115

• Luminosidade
A gerbera é uma planta que necessita de grande intensidade de luz
nas épocas produtivas. Durante as primeiras fases de desenvolvimento
são necessárias temperaturas moderadas (12ºC de noite e 17ºC de dia) e
dias curtos (8 horas de luz natural), estimulando-se deste modo a
produção de ramos laterais e consequentemente a produção floral.

• Humidade relativa
Os valores de humidade óptimos oscilam entre os 75% a 90%. Valores
superiores podem favorecer o aparecimento de doenças como a Botrytis.
Recomendando-se um controlo exaustivo da ventilação durante os meses
de Inverno já que a oscilação elevada entre o dia e a noite e entre
diferentes períodos podem afectar a qualidade da flor, diminuindo a sua
duração em jarra.
Valores de humidades superiores a 90% podem provocar manchas e
deformações nas flores durante o Inverno. Sendo de referenciar que um
dos problemas maiores na produção de gerbera é o da podridão das folhas,
devendo evitar-se o excesso de humidade.

• Concentração de dióxido de carbono


A aplicação de dióxido de carbono favorece o desenvolvimento da
produção de gerberas assegurando que a proporção oscile entre 300 ppm a
600 ppm.

4.3.2.1 Particularidades da plantação da Gerbera

A desinfecção do solo se necessária deverá realizar-se antes de estabelecer o


cultivo (cerca de um mês antes da plantação). A plantação deverá efectuar-se em
canteiros elevados (de 20cm de altura), separados entre si por passeios de 40cm de
largura, deve realizar-se no nosso clima no mês de Abril (fig. 4.14).
As necessidades de água no verão para a cultura da gerbera são grandes e vão
diminuindo à medida que chega o tempo frio, deve regar-se imediatamente após a
plantação evitando-se correntes de ar.
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 116

O desfolhamento constitui um dos trabalhos que mais mão-de-obra requer, cujo


objectivo principal é o de proporcionar suficiente arejamento e luz às plantas,
suprimindo regularmente as folhas velhas do contorno da planta e algumas verdes
do centro. As folhas devem ser cortadas com a mão com muita precaução para não
danificar outras partes da planta e deve-se evitar deixar pedaços do pecíolo pois
podem constituir focos de ataque de Botrytis.
A desfolha não deve ser realizada durante o Inverno, só limpar na Primavera, e
desfolhar no verão se as folhas forem demasiadas.

Cronologia das operações;

Plantação
Rega por aspersão
OperaçõesArmação do terreno Rega gota -a- gota

Lavoura e fertilização de fundo


Desinfecção do solo Colheita Colheita Descanso
Invernal

0
-4 1 4 12 28
Sema -1

Fig. 4.14 - Cronologia das operações na cultura da Gerbera.

4.3.2.2 Pragas mais frequentes

Aranhiço vermelho (Tetranychus urticae), folhas com manchas amareladas, na


página inferior surgem teias de aranha.
Mosca branca, provoca graves prejuízos, as suas dejecções líquidas fortemente
açucaradas favorecem o desenvolvimento de fungos sobre as folhas e consequentes
deformações, levando à queda das folhas.
Tripes (Frankliniella occidentalis), este insecto provoca nas pétalas pontos ou
raios brancos, as folhas apresentam manchas cinzentas a prateadas que surge quando
as temperaturas e humidades podem ser elevadas dentro da estufa (fig. 4.15)
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 117

4.3.2.3 Doenças mais frequentes


O sintoma mais comum associado ao aparecimento da Phytophthora cryptogea,
é o facto da planta ficar murcha repentinamente pois o colo do rizoma e a base do
pecíolo apodrecem. Os esporos deste fungo libertam-se sob a influência de um
choque de frio, daí a necessidade de aquecimento do solo.
Podemos combater este fungo recorrendo a medidas preventivas tais como a
escolha de boa estrutura para o solo, a boa drenagem, a escolha de material são ou a
rega com água tépida. Pode ainda recorrer-se a um cultivo sem solo, uma vez que
este fungo tem a capacidade de resistência a grandes profundidades (50-60 cm),
profundidades que dificultam as medidas de controlo por desinfecção, dado tratar-se
de um grande volume de solo. É comum a utilização na plantação de materiais
inertes e sãos, tais como a lã de rocha ou perlite [Vidalie92].
A Botrytis cinerea, surge quase sempre na base das folhas quando existe muita
humidade e elevada densidade de plantação na estufa. Causa o apodrecimento das
folhas e manchas nas flores (fig. 4.15).
Como medidas de controlo temos uma estratégia que combina o controlo
ambiental com as práticas culturais, ou seja, deve controlar-se a duração da
humidade das folhas e a humidade relativa, mantendo-se para isso um adequado
espaçamento entre as plantas, permitindo assim a circulação do ar que melhora a
ventilação.
A Verticillium é uma doença própria de épocas invernais. Esta doença provoca a
obstrução dos vasos da folha, que, ao não serem alimentadas, morrem. Normalmente
tem início nas folhas exteriores e ao ser detectada deverá proceder-se no mais curto
espaço de tempo à eliminação das folhas afectadas.
O Oídio, Erysiphae cichoracearum, propício em condições de clima seco, ataca
sobretudo no segundo ano de cultivo e manifesta-se através do aparecimento de
manchas esbranquiçadas e pulverulentas na página superior e inferior das folhas.
Na fig. 4.15 estão referenciadas as épocas do ano mais favoráveis ao
aparecimento de algumas doenças e pragas para a cultura da gerbera.
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 118

Doenças Botrytis cinerea Verticillium


Tetranychus sp
Frankliniella occidentalis
Pragas

Semanas 0 20 28 32

Fig. 4.15 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura da gerbera.

Nas tabelas 4.3 e 4.4 resumem-se alguns parâmetros possíveis de gerar alerta de
doença ou praga para as duas culturas em estudo, o cravo e a gerbera. Também se
apresentam os valores de temperatura limite biológico cujo sistema tecnológico deve
sinalizar com precisão pois podem colocar em causa todo investimento associado a
uma produção.
No capítulo seguinte, apresentamos uma realização tecnológica que ao
interpretar todas estas questões e de acordo com a especificidade da cultura em
causa (conforme cronologia associada à probabilidade de ocorrência de doenças ou
pragas Fig. 4.14) poderá, conforme já referido no ponto 4.2.2, associar-se às
medidas de luta cultural directa e constituir mais um factor que promova a aplicação
da agricultura biológica.

Tabela resumo de alguns dos parâmetros passíveis de gerar alerta de Algumas doenças e
pragas comuns ao Cravo e à Gerbera

PARÂMETROS AMBIENTAIS DOENÇAS/ PRAGAS


H.R.
27% Tetranychus sp
TEMP.
27.5º C

H.R.
> 80 % Fusarium
TEMP. Frankliniella occidentalis
27.5º C ( 15ºC a 30º C)
H.R.
> 90 % Botritis cinerea
TEMP.
> 27º C
Tabela 4.3- Resumo dos Parâmetros passíveis de gerar Alerta de Doenças e Pragas no cravo e na gerbera
Capítulo 4. Agricultura Biológica em Ambiente Controlado 119

Tabela alerta para o mínimo e máximo biológico para o Cravo/Gerbera

MÍNIMO BIOLÓGICO ALERTA


4º C CRAVO
8º C GERBERA
MÁXIMO BIOLÓGICO ALERTA
36º C CRAVO
35º C GERBERA

Tabela 4.4- Alerta para o Mínimo e Máximo Biológico para o cravo/gerbera


CAPÍTULO 5

A TECNOLOGIA COMO AUXILIAR NÃO INTRUSIVO


NA AGRICULTURA BIOLÓGICA.

Produzir sem recorrer a químicos de síntese é bastante exigente em termos de


acompanhamento por parte do agricultor, que necessita de uma maior supervisão das
suas culturas, acompanhando o seu desenvolvimento, não descurando o controlo
climático da sua estufa. Estes dois componentes, clima da estufa e cultura, em
equilíbrio vão garantir o sucesso de uma exploração biológica, cujo equilíbrio do
ecossistema é uma prioridade.
Caracterizamos no capítulo anterior algumas das pragas e doenças mais
comuns bem como as condições ambientais que as propiciam permitindo ao
produtor uma melhor gestão do seu sistema. Com o recurso a diversos
equipamentos, tais como sensores, actuadores ou sistemas que usam micro
controladores, o produtor pode controlar os factores climáticos mencionados de
acordo com as restrições referidas.
Outra vantagem inerente neste tipo de sistemas, constitui a aquisição de dados à
distância, onde o produtor pode ter acesso à informação, em qualquer local onde
este se encontrar, através de um computador portátil, ou do telemóvel ele pode
receber informações sobre as variáveis físicas, sobre as condições propícias ao
aparecimento de pragas ou doenças e enviar informações para a própria estufa,
tornando deste modo desnecessárias as deslocações permanentes do produtor à sua
estufa, o que pode ser considerada uma abordagem não intrusiva ao problema.
As estufas, como já foi referido anteriormente no Cap. 4 Secção 4.1.1, permitem,
contrariamente ao que se verifica em campo aberto, controlar o desenvolvimento e a
produção das culturas através da regulação do clima no interior das mesmas. Cabe
pois ao produtor criar as condições ideais para o seu correcto desenvolvimento,
podendo recorrer às novas tecnologias como um auxiliar na sua produção e
respectivo controlo ambiental. Com a sucessiva modernização dos sistemas de
A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 121

gestão dos processos agrícolas, torna-se essencial o uso de um número cada vez
maior e mais específico de sensores que permitam avaliar o desenvolvimento das
culturas, cujos mais usuais se apresentaram no capítulo 3.

5.1 Solução tecnológica de apoio à decisão

A instrumentação tradicional, baseada em soluções que utilizam sistemas com


fios não é a mais apropriada para estufas agrícolas tendo em conta, sobretudo, as
áreas geográficas que podem estar envolvidas, e todas as tarefas culturais
necessárias à gestão da culturas associadas aos processos agrícolas como a plantação
e recolha de flores é também dificultada pela presença de longas cablagens que
possam existir: designamos estas técnicas de não intrusivas.
O sistema que apresentamos baseado numa solução tecnológica resultou da
colaboração com o Grupo de Processamento Sinal e Biotelemetria no âmbito de um
projecto denominado Wireless-Farm aprovado e financiado pelo Plano Inovação
2006 pela PT Inovação. Os resultados apresentados derivam duma evolução que
pretende constituir uma auxiliar tecnológico através de sistema de alertas que pode
contribuir para que as melhores medidas de controlo sejam efectuadas em tempo útil
por parte do agricultor sempre de acordo com as normas da agricultura biológica.
Na Fig. 5.1 apresenta-se um aspecto genérico da interface gráfica do sistema que
dá suporte a todo o sistema. Este software comunica com uma estaca multisensorial
alimentada por energia solar [Morais05] onde se podem acoplar sensores específicos
para o controle da cultura biológica desejada. Existe uma topologia do tipo cliente
servidor que comunica sem fios cujo objectivo principal é o de criar o mínimo de
impacte na cultura em causa de modo a que a integração da tecnologia em ambientes
por vezes hostis seja o mais natural possível. No caso específico, simulavam-se
resultados sobre a monitorização da temperatura e humidade numa cultura de Cravo.
A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 122

Fig. 5.1– Aspecto genérico da interface gráfica do sistema

Um dos aspectos importantes da utilização de estufas na agricultura biológica


relaciona-se também com razões de carácter económico. Além de permitirem elevar
a produção por metro quadrado, possibilitam o cultivo de espécies agrícolas, neste
caso concreto de floricultura (Cravos e Gerberas), fora da sua época normal. Este
último facto constituir um factor económico decisivo dado que estes produtos têm
um valor comercial elevado que pode servir para rentabilizar o investimento inicial,
de uma forma mais rápida.
Isto pressupõe que o ambiente na estufa deverá ser regulado de forma a
proporcionar às plantas as condições mais favoráveis para o incremento da
qualidade e quantidade da produção. Para que o controlo do clima no interior de
uma estufa seja eficaz do ponto de vista fisiológico, é necessário a existência de um
conjunto de elementos que se caracterizem através de condições ideais para o
desenvolvimento de cada uma das culturas, como já foi referido no Cap. 4.
No entanto, por vezes, o controlo eficaz não é, neste contexto, sinónimo de
controlo rentável pois ao pretender estabelecer-se para um parâmetro o seu valor
mais apropriado para uma determinada cultura, é necessário despender energia sem
que se observe um aumento do rendimento biológico que compense os custos desta
operação. Apesar de tudo, é possível encontrarem-se valores óptimos para os
diferentes parâmetros climáticos, temperatura, humidade, concentração de dióxido
A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 123

de carbono e intensidade da luz para uma espécie agrícola ao longo do seu ciclo de
vida (plantação até à recolha da flor) mantendo-se os factores climáticos dentro de
certos limites. São precisamente essas condições óptimas que neste trabalho se
propõem estabelecer, de modo a manter cada cultura em ambiente o mais próximo
possível do ideal fazendo uso de um sistema de monitorização e um de alertas em
tempo real.

5.2 Alertas de Sobrevivência


No presente trabalho realizou-se o cruzamento dos parâmetros (temperatura e
humidade) passíveis de gerar o alerta biológico, de modo automático permitindo
evitar situações de paragem do desenvolvimento ou mesmo morte da cultura.
Um “alerta de sobrevivência” (limites biológicos ultrapassados) vai ser gerado
através de uma mensagem no ecrã do computador associado a um alarme sonoro
existindo também a possibilidade do envio de uma mensagem escrita (SMS) para o
produtor.
Na cultura da Gerbera os limites biológicos situam-se para valores de temperaturas
inferiores a 8ºC e superiores a 35º C. Na Fig. 5.2, podemos analisar uma
monitorização simulada da temperatura no interior de um estufa de dois dias típicos
de Inverno no Norte de Portugal. A temperatura no primeiro dia não ultrapassa os
limites biológicos e o sistema mantém-se em monitorização, mas adormecido. No
segundo dia, por volta do meio-dia a temperatura ultrapassa o máximo admissível
(zona crítica) e o sistema emite imediatamente os alertas (Fig. 5.3) de modo a que o
utilizador possa actuar o mais breve possível.
40

T
(oC) 35
zona
crítica
temperatura
30 interior na estufa
Fig. 5.– Alerta “Limites Biológicos para o Gerbera”
25

20

15

10

dia _1 Sinal de disparo de dia _2


0
alerta
Fig. 5.2– Máximo biológico para a Gerbera ultrapassad
A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 124

Alerta
(Limite Máximo Biológico)
T > 35oC

Fig. 5.3– Máximo biológico para a Gerbera ultrapassado: geração do alerta pelo sistema

Na Fig. 5.4 Verifica-se, agora para a cultura do Cravo, que o limite mínimo para a
temperatura é atingido o que novamente activa o sistema de alerta (T< 4oC).

30

temperatura interior na estufa


T
(oC)
25

20
zona
crítica

15

10

Sinal de disparo de
alerta
0

-5

dia _1 dia _2

Fig. 5.4 – Alerta “Limites Biológicos para o Cravo”


A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 125

5.3 Alertas de Doença


Conhecendo os parâmetros passíveis de gerar alerta de algumas doenças e pragas
bem como a sua propensão cronológica é possível deste modo criar um sistema de
alerta de potencial surgimento de determinada doença ou praga para cada uma das
culturas em causa tornando o sistema sustentável do ponto de vista ambiental.

5.3.1 Alertas de Doença- Caso do Cravo


Fusarium oxysporum f. Sp. Dianthi

Depois de “entrar” na planta o oxysporum f. sp. dianthi, desenvolve-se no


sistema vascular da planta, os vasos em especial o xilema são bloqueados e
destruídos de forma que o transporte de água e nutrientes fica dificultado o que
conduz à murchidão da planta.

Cronologicamente sabemos que esta doença tem propensão a surgir perto da 2


semana após a plantação, como podemos ver no Cap. 4 na Fig. 4.13, que nos permite
já estar em alerta nesta fase aliando este facto ao conhecimento das temperaturas e
das humidades que potenciam também o aparecimento desta doença, como podemos
ver no Cap. 4 na tabela 4.3.

O sistema vai gerar o “alerta de doença”, para o caso do Fusarium oxysporum f.


Sp. Dianthi para valores de humidades na ordem dos 80% e temperaturas entre os
]15º C, 30ºC[, permitindo ao produtor uma intervenção imediata, Fig 5.5 e 5.6.

110

HR
(%)90

70 zonas
crítica

50
Sinal de disparo de
alerta

30

10

1 722

-10

dia _1
dia _2

Fig. 5.5 – Alerta de Fusarium


A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 126

Alerta
(Doença)
Fusarirum

Fig. 5.6– Risco de ocorrência de doença Fusarium: geração do alerta pelo sistema

5.3.2 Alertas de Praga- Caso da Gerbera


O Aranhiço vermelho (Tetranychus urticae), provoca folhas com manchas
amareladas e na página inferior surgem teias de aranha.
Cronologicamente sabemos que esta praga tem propensão a aparecer perto das
35 semanas, Cap. 4 na Fig. 4.15 e cruzando esta informação com o conhecimento
das temperaturas e humidades como podemos ver na tabela 4.3 do Cap.4 que podem
induzir o seu aparecimento, o sistema vai então gerar um alerta, Fig. 5.7 e 5.8.

110

HR 90

(%)

70

50

30

T
(oC)
10

-10

Fig. 5.7 – Alerta de Tetranychus urticae Gerbera


A Tecnologia como Auxiliar não Intrusivo 127

Alerta
(Praga)
Tetranychus

Fig. 5.8– Risco de ocorrência de doença Tetranychus: geração do alerta pelo sistema
CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES E TRABALHO FUTURO

Vimos que produzir sem recorrer a químicos de síntese é bastante exigente em


termos de acompanhamento por parte do agricultor, que necessita de uma maior
supervisão das suas culturas, acompanhando o seu desenvolvimento, não
descurando o controlo climático da sua estufa.
Concluímos que ao caracterizar algumas das pragas e doenças mais comuns
bem como as condições ambientais que as propiciam permitiram ao produtor uma
melhor gestão do seu sistema fazendo recurso a diversos equipamentos, o produtor
pode controlar os factores climáticos mencionados de acordo com as restrições
referidas.
Concluímos também que outra vantagem inerente ao tipo de sistema proposto,
constitui a aquisição de dados à distância, onde o produtor pode ter acesso às
informações, em qualquer local onde este se encontrar, através de um computador
portátil, ou do telemóvel ele pode receber informações sobre as variáveis físicas,
sobre as condições propícias ao aparecimento de pragas ou doenças e enviar
informações para a própria estufa, tornando deste modo desnecessárias as
deslocações permanentes do produtor à sua estufa, o que pode ser considerada uma
abordagem não intrusiva ao problema.
Como trabalho futuro propomos a integração de outras tecnologias
complementares ao sistema, como por exemplo a informação obtida através de
câmaras de vídeo, de modo a optimizar o sistema de alertas. Note-se que por
exemplo um ataque de ácaros nos Cravos pode ser sentido através da presença do
aranhiço vermelho que pode ser claramente detectado em imagens digitais.
Outra evolução deste tipo de sistemas poderá ser a ligação a um sistema de
actuadores de modo a automatizar os sistemas de alerta.
O facto da probabilidade do aparecimento de uma praga ou doença estar
relacionado não só com a conjugação de parâmetros ambientais, conforme visto
anteriormente, mas também com a dinâmica associada a evolução da própria cultura
Conclusões e Trabalho Futuro 127

que se manifesta nas probabilidades de ocorrência desiguais, sugere que o auxiliar


tecnológico deva ser modulado ao longo de todo o ciclo de vida útil da cultura de
modo a que a decisão de informar o utilizador seja a ideal para que se tomem as
medidas de controlo de acordo com as regras da agricultura biológica.
Acrónimos 128

ACRÓNIMOS
Nesta dissertação são utilizadas abreviaturas e designações comuns apenas
apresentadas aquando da sua primeira utilização.

PAC Política Agrícola Comum

AGROBIO Associação Portuguesa de Agricultura biológica

SMS Short Message Service

MADRP Ministério da Agricultura Desenvolvimento rural e Pescas

CEE Comunidade Económica Europeia

IDRHA Instituto do Desenvolvimento Rural e Hidráulica

CONFAGRI Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do


Crédito Agrícola

IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements

CO2 Dióxido de Carbono

FAO Food and Agricultural Organisation

UE União Europeia

OGM Organismos Geneticamente Modificados

OPC Organismos Privados de Controlo

DDT Dicloro-Difenil-Tricloroaetano

IEEE Institute of Electrical Electronics Engineers

RTD Resistance Temperature Detector

NTC Negative Temperature Coefficient

PTC Positive Temperature Coefficient

UV Ultravioletas

IV Infravermelhos

LDR Light Dependent Resistor


Acrónimos 129

IRGA Infra-red Gas Analysers

H2O Molécula de Água

CE Comunidade Europeia

SAU Superfície Agrícola Útil


Referências Bibliográficas 133

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[AGROBIO04] Associação Portuguesa de Agricultura Biológica. URL: http: //


www. agrobio. pt, a definição de Agricultura Biológica.
consultado em 2004.

[AGROBIO05] Associação Portuguesa de Agricultura Biológica. URL: http: //


www. agrobio. pt, consultado em 2005.

[AGROBIO07] Associação Portuguesa de Agricultura Biológica. URL: http: //


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Banassy; L. Brader; H. G. Milaire; M. Loudes, B; A. M. P.
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Integrada, Volume I, Amaro, P. & Baggiolini, M. (Ed.),
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[Arbelaez00] Arbelaez, G.; Gempeler, P.; Botero, D.; Cheever, D.; Hunter;
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Clavel, Ediciones HortiTecnica Ltda, 2000.

[Asch82] Asch G. Et Collaborateurs: Les Capteurs en Instrumentation


Industrielle, Bordas, Paris, 1982.

[Barroso97] Barroso, M. R.; António, M..: As Actividades Estratégicas de


Trás-os-Montes e Alto Douro, o caso da floricultura situação
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