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Um Mundo Por Trás

Capítulo Um - A Lot Of
Talking:
Por que eu não queria me levantar? Ah, é. Primeiro
dia de aulas. Depois de dois meses sem aulas, aqueles
babacas iam ficar falando na minha orelha. O que fazer? Ah,
sim. O de sempre – ignorá-los. Era hora de eu levantar, ou
minha mãe iria até o quarto e ia começar a berrar comigo.
Eu sabia. É tão previsível.... literalmente. Mas não é culpa
minha. Nasci assim. Pena que não funciona como eu gostaria
que funcionasse, sabe, tipo... 'liga e desliga'... é automático.

- Já tô acordado! – gritei antes que ela


resolvesse gritar o quão irresponsável eu
sou... ou era.

Qual o problema daquela mulher? Não dava pra


relaxar um segundo? Se ela soubesse... Pelo menos uma
coisa eu fiz certo: não contei pra ninguém do meu... 'dom'.

- Lynch Owen
Altura: 1.82m
Idade: 19 anos
Olhos: azuis
Cabelo: preto –

- Acorda, menina! – eu pensava, mas a


desgraçada nem prestava atenção – odeio
quando você faz isso. Eu sei que você ta
me ouvindo, palhaça.
- Você tem que interromper todo sonho bom
que eu tenho? – respondeu ela, com maus
modos.
- Tenho, principalmente porque você precisa
de duas horas pra se arrumar pra aula.
- Ah...
- Como é horrível dividir os pensamentos
com uma garota.
- Eu ouvi isso...
- Se fosse um irmão, seria bem mais fácil. É
horrível saber como os fulanos que ficam
com ela beijam.
- Fulanos?!?!
- Ouvir ela reclamando de como é gorda, ou
que o cabelo dela é ruim é pior ainda.
- EU OUVI!
- EU SEI! VOCÊ OUVE TUDO. POSSO TER
UM SEGUNDO DE PRIVACIDADE?

- Aubrey Shaw
Altura: 1.74m
Idade: 20 anos
Olhos: castanhos
Cabelo: loiro

Will Shaw
Altura: 1.86m
Idade: 20 anos
Olhos: castanhos
Cabelo: castanho –
Terceira noite que eu acordo com um barulho de
alguma coisa caindo no chão. Já quebrei o celular, o monitor
do computador e uma boneca de porcelana. O que tá
acontecendo? Ou melhor: por que acontece enquanto eu tô
dormindo? Não deveria... meio que... desligar? É muito bom
e legal, mas... chega, né? Queria poder contar pra alguém,
mas já me consideram estranha demais sem tudo isso.
Talvez eu conte pra ele, afinal ele é meu amigo.
Não sei...

- May Davies
Altura: 1.75m
Idade: 16 anos
Olhos: verdes
Cabelo: castanho –

- Por que vocês não vão?! – perguntei entre


lágrimas – Vocês querem tanto. Vão! Não
preciso de vocês!
- Querida, você não entend... – começou
meu... pai.
- EU ENTENDI DIREITO, SIM! Já cansei de
ouvir vocês reclamarem que vocês eram
mais felizes lá. Vão. Eu posso me virar.

Me acordaram outra vez com uma discussão. Se


eles querem voltar pra lá, eles que voltem. Que tipo de pais
abandonariam uma filha?
....
Eu tô vendo isso mesmo?! Eles estão indo!

- Vão pela sombra! – gritei, tentando conter


minhas lágrimas.
- Luna Bennett
Altura: 1.67m
Idade: 15 anos
Olhos: pretos
Cabelo: preto –

Após o tiro ter estourado os miolos da filha do


prefeito, e a ligação pra polícia já feita, eu fiquei lá,
escondido. Então meu maldito celular resolveu me avisar que
estava ficando sem bateria. Ótimo!
O vulto alto da pessoa que ela mais confiava,
parado na minha frente, com uma arma apontada pro meu
rosto. Se os carros da polícia não tivessem invadido o quintal
naquele exato momento, eu provavelmente não estaria
contando essa história. Se ela pelo menos não tivesse pra eu
dar aulas particulares pra ela hoje... ele ficaria livre.
Após ser interrogado pela polícia, tomei fôlego e fui
caminhando pelas ruas. As pernas meio moles. E pensar que
no dia seguinte seria o aniversário dela. O prefeito não vai
ficar nada feliz. A filha morta no próprio quintal.
Talvez isso tivesse que acontecer, afinal... tudo
tem uma explicação.

- Seth Thomas
Altura: 1.82m
Idade: 18 anos
Olhos: castanhos
Cabelo: preto –

- Vai com calma, Andrea! – meu pai gritou.


Não dava pra me acalmar, eu estava
ansiosa demais. Era sempre assim no meu
primeiro dia na escola.
- Eu tenho que chegar cedo pra já começar a
me enturmar, pai! Corre!

'Sempre lento e reclamando. Mas que droga. O que


custa ele fazer as coisas um pouquinho mais rápido?
Primeiro dia na escola e ele quer me fazer chegar atrasada.'

- Paaaai!
- Andrea, dá pra ficar quieta um segundo?
Você tá, no mínimo, uma hora adiantada!
- Mas, pai...!
- Tá, tá!

'Finalmente! Sério. A lerdeza das pessoas me


irritam... ou será que eu sou rápida demais. Provavelmente
sou eu. Ninguém nunca soube e, dependendo de mim, nunca
saberão. Não quero ser alvo de estudos...'

- Andrea Maxwell
Altura: 1.68
Idade: 16 anos
Olhos: azuis
Cabelo: loiro –

'Será que ela tem que trazer os clientes aqui pra


casa? São tão barulhentos. Não vou conseguir dormir aqui
dentro', pensei ao me levantar da cama, pegar meu
travesseiro e ir para meu 'acampamento' no fundo de casa.
Bom, é preciso estar preparado quando o trabalho da sua
mãe envolve barulho à noite.

- Aaron Nye
Altura: 1.78m
Idade: 17 anos
Olhos: verdes
Cabelo: ruivo –

Lynch

Droga. Minhas pernas sempre me levam mais


rápido do que eu queria. Ainda mais pra faculdade. Ficar
sentado, ouvindo o professor falar, falar, falar. No intervalo,
o pessoal da escola ao lado resolve aparecer pra conversar
com a gente. Mais blá, blá, blá – aliás, deveriam parar com
esse negócio de deixar os alunos da 'facul' irem pra escola
do lado e vice-versa... eu sei que é 'bom' pra socialização
dos alunos, mas, no meu caso, é horrível.
Cá estou eu, rodeado de gente vazia, falando
coisas vazias. Será que eles acreditam mesmo que eu sou
tão distraído?! Às vezes eu acho que não, mas quem sabe.
Aliás, eu nunca entendi direito o motivo de eu ser
tão popular. Sou 'distraído', meio arrogante e nada
interessante. Eu acho que essas pessoas têm problema. Não,
não acho. Tenho certeza.
Ah, lá vem o professor com sua voz de pato. Não,
não precisa perguntar como foram as férias, seu velho
idiota. Eu não sei como eu ainda me 'surpreendo' com isso.
Eu não preciso nem prever nada pra saber que ele vai
perguntar isso. Velho inútil.
Intervalo. Finalmente! Ah... não. May...

- Lynch! Tudo bem? – disse ela, com sua


usual felicidade.
- Oi... – respondi, sem nem olhar direito.
- Lynch... Aubrey. Aubrey... Lynch – disse
ela, provavelmente me apresentando pra
tal de Aubrey
- Prazer – respondi em tom seco, e continuei
a não olhar pra elas.
- Quando se é apresentado a uma pessoa,
normalmente se olha pra essa pessoa,
sabe – disse a tal Aubrey. Não gostei dela.

Ouvi Aubrey dizer algo, entre risos, sobre seu


irmão, e se foi. Apertei o passo. May, não. Eu não mereço
isso. Acho que alguém lá em cima discorda...

- Como foram as férias, Lynch? – perguntou


ela, animada – As minhas foram ótimas...
– continuou ela, sem esperar resposta. Eu
esperava que ela tivesse se tocado que eu
nem ao menos a ouço, mas é esperar
demais. May? Nunca vai se tocar...

Blá, blá, blá... salvo pelo gongo! Ou melhor, pelo


sinal. Me despedi de qualquer jeito de May e corri pra classe.
Fui o primeiro a chegar, infelizmente.
No meio da aula eu senti uma coisa estranha. Uma
sensação já conhecida. Não lutei contra ela. Me deixei levar.
De repente eu estava em pé, num corredor meio mal
iluminado, parado perto de May, Aubrey e mais algumas
pessoas que eu não conhecia. Alguma coisa vindo na nossa
direção... Não, se desviou. May estendeu os braços e, de
alguma forma, fez a coisa mudar de direção. Eu... sorri... pra
May! Tem alguma coisa errada nisso tudo. Os outros rostos
eu não consigo enxergar. É claro que não. Só enxergo quem
eu conheço. Mas eu parecia tão bem junto com eles.
O corredor e as pessoas que eu não conheço
sumiram. Dando lugar a uma sala de repente muito abafada.
Eu tinha a imagem de May sorrindo pra mim gravada na
retina. Eu pisquei, mas pareceu se intensificar.
De novo aquela sensação. Hesitei, mas mesmo
assim a deixei tomar conta de mim. May chorando. E, antes
que eu entendesse alguma coisa, eu estava de volta à
classe. Tem alguma coisa errada. Duas visões com May em
menos de trinta segundos. Será que o meu dom está...
falhando? Com defeito? Claro que não! Eu não sou uma
máquina, mas... deve ser só uma visão errada.
A aula, que já não era interessante, se tornou
insuportável. Mas eu não entendia minha ansiedade. Eu não
poderia me consultar com ninguém. Ninguém sabia.
Ninguém compartilhava as mesmas experiências que eu.
Quando me dei por mim, já estava no meu
caminho de volta pra casa. Mas eu não queria ir pra casa...
ou queria? Não sei. Resolvi dar uma volta antes de voltar pra
casa. Atravessei a rua e segui para o parque que tinha por
ali.
No momento em que pisei no parque, pedi a Deus
que meus olhos estivessem mentindo pra mim. Me
amaldiçoei por não querer ir direto para casa. Quem estava
a minha espera? Meu carma... May.

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