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UM ESTUDO DE CASO
OBSERVAÇÃO PSICOMOTORA
INDICE
INDICE..........................................................................................................................................2
1- INTRODUÇÃO...........................................................................................................................3
2- Fundamentação Teórica...........................................................................................................5
2.1 - Unidades funcionais de Lúria...........................................................................................5
2.2 - Enquadramento da Bateria Psicomotora.........................................................................8
2.2.1 – Tonicidade................................................................................................................9
2.2.2 – Equilibração............................................................................................................11
2.2.3 - Lateralização...........................................................................................................12
2.2.4 - Noção do Corpo......................................................................................................13
2.2.5 - Estruturação Espácio-temporal...............................................................................15
2.2.6 - Práxia Global...........................................................................................................17
2.2.7 - Práxia Fina...............................................................................................................18
3- Estudo de Caso.......................................................................................................................20
3.1 - Caracterização da Criança..............................................................................................20
3.2- Perfil Psicomotor.............................................................................................................21
3.3- Programa de Intervenção................................................................................................27
4- Conclusão...............................................................................................................................31
5- Referências Bibliográficas..................................................................................................34
6- Anexos....................................................................................................................................35
Anexo I...............................................................................................................................36
Anexo II..............................................................................................................................43
Anexo III.............................................................................................................................48
Anexo IV.............................................................................................................................52
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Estudo de Caso 2010
1- INTRODUÇÃO
Assim este trabalho será iniciado por uma breve fundamentação teórica onde consta a
apresentação das unidades funcionais de Lúria, base da Bateria Psicomotora bem como
o enquadramento desta.
Num segundo ponto será desenvolvido o Estudo de Caso, começando por uma pequena
caracterização da criança, partindo para a definição do seu perfil psicomotor tendo
como base a aplicação da BPM e avançando com algumas propostas de intervenção.
Em virtude de, no presente não estar no directo com crianças, propus-me realizar este
estudo de caso com elemento de uma família que acompanho no âmbito da reinserção
social. Após contactos com os pais e professores da criança todos chegaram á conclusão
que este seria um estudo que podia ser útil também para a sinalização e posterior
encaminhamento para os apoios educativos da referida criança, facto que facilitou em
muito a minha observação e obtenção dos dados necessários para a realização do
trabalho proposto.
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Estudo de Caso 2010
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Estudo de Caso 2010
2- Fundamentação Teórica
Lúria (1973 e 1980, in Fonseca 1990) é considerado como um dos pioneiros das
ciências que estudam o sistema nervoso, tendo já dedicado mais de 40 anos ao estudo de
doentes com lesões cerebrais. Publicou inúmeras obras sobre as relações cérebro
-comportamento, e estas revolucionaram o conhecimento da neurologia e da psicologia
clássica, originando um novo ramo científico, a psiconeurologia. Ele sugere que
estudando as relações cérebro - comportamento e as relações corpo - cérebro talvez se
possa compreender melhor o que faz do homem um ser tão complexo e completo.
O cérebro humano é composto, segundo Lúria, por unidades funcionais básicas, e cada
uma delas possuindo uma função particular e peculiar. Dessa forma, Lúria (1973 in
Fonseca, 1990), dividiu o cérebro em três unidades funcionais.
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Estudo de Caso 2010
Esta primeira unidade não tem carácter de especificidade, já que a sua rede nervosa tem
a função de modificar gradualmente o estado da actividade cerebral, sem intervir nas
tarefas de processamento da informação ou de planificação da acção. Por outro lado,
esta unidade trabalha em estreita colaboração com os sistemas corticais superiores em
todas as actividades conscientes do ser humano (Fonseca, 1990), assim a sua integridade
é fundamental para todo o processo de aprendizagem.
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Estudo de Caso 2010
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A terceira unidade é fundamental para programar, regular e verificar a actividade
mental, organizando as formas mais complexas de actividades, por isso é a última
estrutura que se desenvolve, em termos filogenéticos e ontogenéticos. Encontra-se
localizada nas regiões anteriores do córtex, exactamente à frente do sulco central e da
região frontal.
É esta estrutura dinâmica que permite ao ser humano reagir activamente à informação
recebida e criar intenções, formular estratégias, programar as acções e regular o
comportamento, de forma a este corresponder aos fins para que foi organizado
(Fonseca, 1990).
As três unidades trabalham em conjunto, dependendo umas das outras, sendo que, uma
sem as outras não funciona correctamente. Elas trabalham com uma inter-relação
dinâmica.
2.2.2 – Equilibração
Para Fonseca (2001), o controle dos padrões posturais desenvolve-se, na postura bípede,
entre o primeiro e o segundo ano de vida e vão complexificando e aprimorando ao
longo da infância, conseguindo aos sete anos manter-se em equilíbrio, de olhos
fechados.
O cérebro, para estar apto e disponível para aprendizagens mais complexas, precisa de
automatizar as suas funções antigravíticas antes de processar informações simbólicas e,
como tal, transfere as funções motoras mais simples para centros automáticos. Se por
algum motivo, tal não é possível, vendo-se forçado a activar os centros superiores para
manter a postura, as funções psicomotoras mais elaboradas, como a noção do corpo, a
estruturação espácio-temporal e as práxias, perdem harmonia, precisão e eficácia
(Fonseca, 1990).
2.2.3 - Lateralização
Todos possuímos uma assimetria funcional (os movimentos realizados pelos lados
direito e esquerdo do corpo não ocorrem com a mesma frequência), que se resume ao
facto de usarmos, constantemente, mais um lado do corpo em detrimento do outro,
designando-se de lado dominante.
Para o educador mais importante do que determinar uma explicação para a dominância,
é observar se a criança apresenta uma igualdade em relação à sua lateralização e se tem
o predomínio motor de um hemicorpo, pois são aspectos preponderantes, não só na
formação da auto-imagem e na estruturação dentro do meio ambiente como no
desenvolvimento cognitivo, emocional e linguístico.
Fonseca (1990) refere ainda que podem surgir diversos problemas de orientação, de
discriminação e de exploração pelo comprometimento, do controlo do equilíbrio e por
conseguinte, das práxias e, ao mesmo tempo da organização perceptivo-espacial. Os
movimentos globais tendem a perder a precisão e a eficácia e a orientação espacial
torna-se confusa, sobretudo ao nível da manipulação de instrumentos.
Definindo-se como a organização das sensações relativas ao seu corpo relacionado com
os dados do mundo exterior, a organização do esquema corporal tem um papel
importante no desenvolvimento da criança, visto que nele tem origem as mais variadas e
diversificadas acções e cria uma sensação de confiança e de domínio, à medida que o
corpo obedece à criança.
Visualizando o seu corpo como ponto de referência para se situar e situar os objectos no
espaço e no tempo, a criança começa a compreender as noções cognitivo-verbais
relativas a noções como em cima, em baixo, dentro, fora, direita, esquerda, antes,
depois, primeiro e último, entre outras.
A criança que não consegue interiorizar o seu corpo pode apresentar problemas a nível
práxico (dissociação e coordenação dos movimentos) e gnosiológico (da representação
mental do corpo, dos objectos e do mundo) (Fonseca, 1990).
Não tendo consciência do seu próprio corpo, a criança pode experimentar dificuldades
na percepção ou controle do corpo, no equilíbrio, na coordenação e na incapacidade de
controlo respiratório.
Por último, o desenho do corpo reporta-se à representação que a criança faz do seu
corpo, através do desenho, reflectindo o seu nível de integração do esquema corporal
bem como toda a sua experiência psicoafectiva (Fonseca, 1990).
A criança toma consciência da situação dos elementos entre si e como tal, fica
capacitada para a organizar-se perante o mundo que a cerca e a organizar esses
elementos, colocando-os no lugar adequado ou movimentando-os.
É por assim dizer, que a organização espacial constitui o primeiro passo para a
abstracção. Transformamos o conhecimento do corpo em conhecimento do espaço,
primeiro intuitivamente, depois lógica e conceptualmente.
Somos capazes de situarmo-nos no meio em que vivemos através das relações espaciais
que estabelecemos entre as coisas, à base de observações e comparações e, à medida
que, aperfeiçoamos as nossas capacidades de generalização e abstracção.
Entende-se que, a estruturação espacial é inseparável da estruturação temporal nos
processos de aprendizagem, como afirma Fonseca (1990). Estão ligadas a todo o
instante, a cada movimento.
Os momentos de mudança são referenciados pela palavra tempo e nós estamos inseridos
nesses momentos. A nossa vida é uma sequência de mudanças e as nossas actividades
estão directamente ligadas à estruturação temporal.
Pela representação mental dos momentos do tempo e das suas relações, a criança atinge
uma maior orientação temporal e adquire a capacidade de trabalhar a nível simbólico.
Um educador atento perceberá que quando a criança é organizada no tempo mas não no
espaço, torna-se uma leitora pobre: demora muito tempo para ler e torna-se muito
dependente do contexto. Ao inverso tornar-se-á uma repetidora de palavras: identifica-
as mas não consegue integrá-las no tempo, cometendo omissões, adições e inversões,
que necessitam uma intervenção efectiva e assertiva.
Em síntese, através das tarefas de organização, de estruturação dinâmica, de
representação topográfica e de estruturação rítmica, propostas na BPM, como
subfactores da estruturação espácio-temporal obtêm-se dados relativos ao pensamento
relacional, às capacidades de organização e de ordenação, de sequencialização da
informação, de retenção e de revisualização, de representação, de quantificação e de
categorização (Fonseca, 1990).
Entende-se por práxia, a capacidade para planificar ou levar a efeito uma actividade
pouco habitual e, que por conseguinte, implica a realização intencional de uma
sequência de acções para atingir um fim (Ayres in Fonseca, 1992). Não é um
automatismo, mas sim um movimento voluntário e consciente, resultado de um
planeamento cortical e de um sistema de auto-regulação, ao qual corresponde uma
resposta motora harmoniosa e rítmica (Mendes & Fonseca in Fonseca, 1990).
Para se relacionar com os objectos da cultura em que vive, o indivíduo precisa mover-se
no espaço com habilidade e equilíbrio; dominar os gestos e manusear os instrumentos.
Essa capacidade é dividida em dois grupos: práxia ou coordenação global e práxia ou
coordenação fina, que constituem o sexto e sétimo factores da BPM, da terceira unidade
funcional.
A práxia global, localizada predominantemente na zona pré-motora, segundo Lúria,
citado por Fonseca (1990), encontra-se mais relacionada com as tarefas motoras
sequenciais globais, tendo como objectivo a realização e automatização de movimentos
globais complexos que envolvem vários grupos musculares, executados num certo
período de tempo.
Observando a qualidade da execução de uma tarefa motora e das suas diferentes formas
de realização, poder-se-á obter valiosas informações sobre a organização psicomotora e
entender as suas repercussões no desenvolvimento motor, afectivo e cognitivo (Fonseca
1990).
O educador deve incentivar a criança a agir de forma global perante uma situação, sem a
sua intervenção excessiva, despertando a sua espontaneidade, a sua disponibilidade
corporal e mental e contribuindo para o aprimoramento da práxia global.
A dismetria resulta da observação das duas tarefas anteriores e, define-se para uma
realização dispráxica como a “inadaptação visioespacial e visioquinestésica dos
movimentos orientados face a uma distância ou a um objecto” (Fonseca, 1990).
Esta estreita relação entre a práxia fina e a percepção visual é fundamental para o
desenvolvimento psicomotor e para as aprendizagens académicas, como a leitura, a
escrita e o cálculo, como é salientada por vários autores, nomeadamente Fonseca (1990)
e Oliveira (2008).
Este factor é constituído por três subfactores: coordenação dinâmica manual (refere-se à
dextralidade das duas mãos, à agilidade dos dedos e à sua respectiva coordenação com
as capacidades visioperceptivas, em relação à rapidez e à precisão); tamborilar
(pressupõe uma tarefa de motricidade fina, que incide sobre o estudo da dissociação
digital sequencial, envolvendo a sua localização táctilo-quinestésica e a sua motricidade
melódica, independente e harmoniosa); e velocidade-precisão (compreende duas tarefas
de coordenação práxica do lápis, envolvendo a preferência manual e a coordenação
visiográfica) (Fonseca, 1990).
3- Estudo de Caso
A Ionara Seabra é uma criança de etnia cigana com sete anos e seis meses. Nunca
frequentou estabelecimento de educação Pré-Escolar, passando grande parte dia em casa
apenas com a mãe e o irmão. Actualmente frequenta pela segunda vez o primeiro ano do
ensino básico, uma vez que não adquiriu os pré-requisitos necessários á sua transição de
ano.
A gravidez da Ionara Seabra não foi desejada mas aceite de inicio, contudo a mãe
negligenciou a gravidez desde o segundo trimestre. O parto decorreu normalmente
como podemos verificar na ficha de anamnese (anexo I).
Aos cinco anos de idade a Ionara Seabra foi internada devido a cefaleias recorrentes
tendo sido detectado períodos de ausência que poderiam sugerir situações de amnésia,
contudo não houve continuação do acompanhamento médico para diagnóstico
conclusivo.
A Ionara habita com os pais, duas irmãs e um irmão mais novo, num apartamento muito
pequeno tendo em conta o número do agregado familiar, facto que leva a que esta
partilhe o quarto com as duas irmãs, não tendo um espaço próprio.
Uma das irmãs tem diagnóstico de Esclerodermia, a outra tem um atraso global de
desenvolvimento, estando comprometida a sua progressão escolar. O irmão com apenas
três anos já revela grave atraso na aquisição da linguagem, bem como de outras
competências básicas.
A avaliação realizada pela professora titular no fim do passado ano lectivo refere que a
Ionara possui dificuldades acentuadas ao nível da concentração, atenção, compreensão e
memorização, bem como muitas dificuldades na comunicação oral e escrita e na
articulação de sons, tudo isto tendo em conta a sua idade cronológica.
Essa avaliação mostra ainda que a nível da socialização a Ionara se revelou uma criança
tímida e envergonhada com muitas dificuldades em relacionar-se com os colegas e com
os adultos com que partilha os mesmos espaços na escola. Mostra que necessita de mais
tempo para se adaptar a novos contextos e rotinas.
Esta avaliação foi reiterada pela avaliação com referência à CIF, posteriormente
realizada após o término do passado ano lectivo. (anexo II)
Segundo a referida avaliação a Ionara revela deficiência grave ao nível das funções
mentais específicas, nomeadamente nas funções de memória, atenção, psicomotoras,
emocionais, de percepção, cognitivas básicas, cognitivas de nível superior, mentais de
linguagem e de cálculo.
Após a realização de cada tarefa proposta pela BPM, cada factor e subfactor é cotado de
1 a 4. Depois realiza-se a soma e respectiva média arredondada.
Perfil
4 3 2 1
1ª Tonicidade X
Unidade Equilibração X
Lateralidade X
2ª
Unidade Noção de Corpo X
Estruturação Espaço-temporal X
3ª Praxia Global X
Unidade Praxia Fina X
Tonicidade
Factor
Psicomotor Tonicidade Total
Diadococinésia Sincinésia
Subfactores Extensibilidade Passividade Paratonia s s 2,5
Cotação 3 3 3 2 2
Equilibração
No que se refere a este factor psicomotor, a Ionara apresenta um perfil dispráxico, com
bastantes dificuldades de controlo motor.
Lateralização
Factor
Psicomotor Lateralização Total
Subfactores Ocular Auditiva Manual Pedal
4
Cotação E E E E
Noção do Corpo
Factor
Psicomotor Noção do Corpo Total
Sentido
Subfactores Cinestésic Reconhecimento Auto- Imitação Desenho
o D-E Imagem de gestos corpo 2
Cotação 3 1 3 3 2
Estruturação Espácio-Temporal
Factor
Psicomotor Estruturação Espácio-temporal Total
Subfactores Organização Estruturação Representaçã Estruturação
Espacial Dinâmica o Topográfica Rítmica 1
Cotação 2 2 1 1
Este resultado está de acordo com a visão de Fonseca (1990), que refere que o factor
lateralização e noção do corpo estão comprometidas não é possível estabelecer uma
adequada estruturação espácio-temporal.
Práxia Global
Factor
Psicomotor Práxia Global Total
Coordenação
Subfactores Óculo- Coordenação Dismetria Dissociação
manual Óculo-pedal 1
Cotação 1 2 2 1
Quadro 6 – Cotação dos factores Práxia Global
Ao nível do factor práxia global a Ionara tem um desempenho muito baixo, já esperado
devido aos resultados obtidos até aqui.
Durante as tarefas foram evidentes hesitações e momentos de paragem na realização
motora.
Como podemos observar pelos resultados obtidos na BPM, o Ionara possui limitações
em vários outros factores pelo que o seu nível de concentração e a sua capacidade de
planificar acções em novas situações encontra-se visivelmente afectada, diminuindo o
seu potencial de aprendizagem.
A Ionara apresenta um perfil dispráxico, o que, segundo Fonseca (1990), traduz uma
disfunção psiconeurológica da organização táctil e proprioceptiva, que interfere com a
capacidade de planificar acções, com repercussões no comportamento sócio-emocional
e no potencial de aprendizagem.
Práxia Fina
Factor
Psicomotor Práxia Fina Total
Coordenação Velocidade de
Subfactores Tamborilar
Dinâmica Manual precisão 1
Cotação 1 2 1
Quadro 7 – Cotação dos factores Práxia Fina
Uma vez mais podemos atestar sinais evidentes de perfil dispráxico. Durante as tarefas a
Ionara evidenciou uma velocidade - precisão limitada, bem como a coordenação
dinâmica manual, denotando-se bastantes hesitações e irregularidades na realização das
tarefas.
De acordo com Fonseca (1990), a práxia fina traduz o factor mais hierarquizado da
BPM, sendo provável que a frequência de dispraxias nas crianças com dificuldades de
aprendizagem seja mais óbvia.
O mesmo autor refere que o desenvolvimento da práxia fina é um processo de
maturação lento. Portanto não seria de esperar um resultado superior no que diz respeito
a este factor psicomotor, uma vez que este é o inequívoco produto final dos restantes
factores.
Perfil Psicomotor
4
2
0
La libr de
Es ão liza o
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Cotação
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E
o
ra
tu
tru
Factores Psicomotes
Es
Quadro 8 – Perfil Psicomotor
Perante o perfil psicomotor dispráxico com que nos deparamos, onde abundam
múltiplas áreas fracas, cumpre-nos elaborar um plano de intervenção que englobe áreas
como a tonicidade, a equilibração, a noção do corpo, a estruturação espácio-temporal, a
práxia global e a práxia fina.
Face a um cenário tão deficitário como a Ionara nos apresenta, surgiu a possibilidade de
se elaborar um plano de intervenção psicomotora em meio aquático.
A actividade aquática promove sensações de prazer e bem-estar físico, emocional e
social. Esta actividade facilita e apoia a realização de movimentos de difícil execução
em terra, promove o contacto corporal e a comunicação com outras crianças, bem como
a participação em novas situações de aprendizagem.
Assim o plano de intervenção para a Ionara em meio aquático engloba os sete factores
psicomotores.
Práxia Global e Práxia Fina – estes dois factores estão intimamente relacionados com
aspectos como a coordenação motora, a agilidade e a perícia, estando então evidentes na
aprendizagem de habilidades aquáticas. A reflexão sobre a forma de execução é também
fundamental para o desenvolvimento destes domínios.
OBJECTIVOS:
RECURSOS:
Exemplos de actividades
Relaxamento Flutuação
5m a 10m Equilíbrio nos colchões
4- Conclusão
Quando a criança demonstra através do seu corpo que está alegre, triste ou nervosa;
quando percorre o corredor para apanhar o seu brinquedo preferido, tendo a noção do
espaço que irá fazer; quando no recreio, calcula a distância e a força necessária para
chutar a bola e marcar golo na baliza do adversário; quando na folha de papel, desenha
o seu corpo e todo o espaço à sua volta estamos perante provas irrefutáveis que a
Psicomotricidade, faz parte integrante da nossa vida, desde os primeiros tempos de vida.
Actualmente, com a evolução dos conceitos das práticas psicomotoras, esta ciência é
concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação
inteligível entre a criança e o meio. Concomitantemente, define-se como um meio de
tomada de consciência, que une o corpo a todos os seus aspectos: mente, espírito,
natureza e sociedade, resultando num complexo processo de maturação, fundamental na
vida. Esta mediação corporal veicula os laços entre o corpo e a mente, entre o real e o
imaginário, entre o espaço e o tempo, valorizando a intencionalidade, a
consciencialização da acção e explorando todas as formas possíveis de expressão
(Oliveira, 2008).
Apesar de chegar o momento de dar como concluído este estudo de caso permanece a
forte sensação de “ainda haver muito a dizer e a fazer”. Reconhece-se que vários
domínios da contextualização teórica mereciam, certamente, de um maior
aprofundamento; outras correlações seriam plausíveis de se verificarem, enriquecendo o
discurso aqui produzido e quem sabe, lançar esta temática em contextos mais amplos.
Mas, no presente momento, torna-se premente uma breve síntese sobre o trabalho
dividido em duas partes principais: a primeira, de enquadramento teórico e conceptual e
a segunda de aplicação prática.
Ciente das limitações que este estudo de caso encerra em si, cumpre-me lançar um
duplo desafio a todos aqueles que forma directa ou indirecta trabalham e acompanham a
Ionara: primeiro, estando conscientes dos resultados deste estudo com base na aplicação
da BPM urge a necessidade de todos contribuírem para que a intervenção
multidisciplinar seja uma realidade. Segundo, que este estudo, se assuma como o
primeiro de muitos, extensíveis a outras crianças com possíveis dificuldades de
aprendizagem.
Retomando a metáfora da viagem presente nesta fase final, termina-se aqui o roteiro,
esperando sinceramente que a curiosidade em constatar, na prática, os aspectos citados
ao longo do trabalho, possam constituir alicerces para “novas viagens”, que suscitem
interesse e investimento em estudos semelhantes, que se acreditam serem de
reconhecido cariz utilitário para vários profissionais de Educação.
5- Referências Bibliográficas
FICHA DE ANAMNESE
1 - Dados de identificação
Profissão: Desempregada
Tm 933346936
Tm 968301847
2 – História Sócio-familiar
Nº de divisões da casa: 3
A criança dorme em quarto próprio ? Não Se não, com quem compartilha o quarto, e
quais os motivos ( falta de espaço, medo de dormir sozinha) ? Falta de espaço tendo em conta o
número de elementos do agregado familiar.
Outros: Irmãos
Diabetes
Alcoolismo
Tuberculose
Toxicodependência
Epilepsia
D. Cardíacas
Def. Visual
Def. Auditiva
Def. Motora
Def. mental
Paralesia cerebral
3 – Antecedentes pessoais:
Gestações anteriores : 2
Gravidez:
Desejada
Não aceite
Vigiada X
Sem intercorrências
Parto:
Obstétricas:___________________________________________________________
Teve convulsões:Não
Observações:________________________________________________________________
Alimentação:
Dificuldades:
Dentição: Tardia
Sono:Actualmente
4 – Desenvolvimento global
4.1 – Psicomotor:
4.2 - Linguagem:
Revela:
Outras situações :
Observações:
5 – Autonomia
Alimentação:
Higiene:
Controle vesical diurno X Controle vesical nocturno X Controle anal X
Despir / vestir :
Despe-se/ veste-se sozinho ( incluindo botões e fecho ) Necessita de ajuda no que diz respeito
a botões e atacadores
6 – História clinica:
6.1 -Doenças:
Outras situações Em Outubro 2008 internamento devido a cefaleias recorrentes tendo sido
detectado períodos de ausência que poderiam sugerir situações de amnésia, não houve
continuação do acompanhamento para diagnóstico conclusivo.
Observações:
6.2.
Anexo II
Funções do Corpo
Nota: Assinale com uma cruz (X), à frente de cada categoria, o valor que considera mais adequado à situação, de
acordo com os seguintes qualificadores:
0 – Nenhuma deficiência; 1 – Deficiência ligeira; 2 – Deficiência moderada; 3 – Deficiência grave;
4 – Deficiência completa; 8 – Não especificada1; 9 – Não aplicável2
1
Deve ser utilizado sempre que não houver informação suficiente para especificar a gravidade da deficiência.
2
Este quantificador deve ser utilizado nas situações em que seja inadequado aplicar um código específico.
Quantificadores
Funções do Corpo
0 1 2 3 4 8 9
Capítulo 1 – Funções Mentais
(Funções Mentais Globais)
b110 Funções da consciência x
b114 Funções da orientação no espaço e no tempo x
b117 Funções intelectuais x
b122 Funções psicossociais globais x
b125 Funções intrapessoais x
b126 Funções do temperamento e da personalidade x
b134 Funções do sono x
(Funções Mentais Específicas)
b140 Funções da atenção x
b144 Funções da memória x
b147 Funções psicomotoras x
b152 Funções emocionais x
b156 Funções da percepção x
b163 Funções cognitivas básicas x
b164 Funções cognitivas de nível superior x
b167 Funções mentais da linguagem x
b172 Funções do cálculo x
Capítulo 2 – Funções sensoriais e dor
b210 Funções da visão x
b215 Funções dos anexos do olho x
b230 Funções auditivas x
b235 Funções vestibulares x
b250 Função gustativa x
b255 Função olfactiva x
b260 Função proprioceptiva x
b265 Função táctil x
b280 Sensação de dor x
Capítulo 3 – Funções da voz e da fala
b310 Funções da voz x
b320 Funções de articulação x
b330 Funções da fluência e do ritmo da fala x
Capítulo 4 – Funções do aparelho cardiovascular, dos sistemas hematológico e imunológico e do
aparelho respiratório
b410 Funções cardíacas x
b420 Funções da pressão arterial x
b429 Funções cardiovasculares, não especificadas x
b430 Funções do sistema hematológico x
b435 Funções do sistema imunológico x
b440 Funções da respiração x
Capítulo 5 – Funções do aparelho digestivo e dos sistemas metabólicos e endócrino
b515 Funções digestivas x
b525 Funções de defecação x
b530 Funções de manutenção do peso x
b555 Funções das glândulas endócrinas x
b560 Funções de manutenção do crescimento x
Capítulo 6 – Funções genito-urinárias e reprodutivas
b620 Funções miccionais x
Capítulo 7 – Funções neuromusculoesqueléticas e funções relacionadas com o movimento
b710 Funções relacionadas com a mobilidade das articulações x
b715 Estabilidade das funções das articulações x
b730 Funções relacionadas com a força muscular x
b735 Funções relacionadas com o tónus muscular x
b740 Funções relacionadas com a resistência muscular x
b750 Funções relacionadas com reflexos motores x
b755 Funções relacionadas com reacções motoras involuntárias x
b760 Funções relacionadas com o controlo do movim. voluntário x
b765 Funções relacionadas com o controlo do movim. Involuntário x
b770 Funções relacionadas com o padrão de marcha x
b780 Funções relacionadas com os músculos e funções do movim. x
Outras Funções do Corpo a considerar
Assinatura: ________________________________________________________
Actividade e Participação
Nota: Assinale com uma cruz (X), à frente de cada categoria, o valor que considera mais adequado à situação, de
acordo com os seguintes qualificadores:
0 – Nenhuma dificuldade; 1 – Dificuldade ligeira; 2 – Dificuldade moderada; 3 – Dificuldade grave;
4 – Dificuldade completa; 8 – Não especificada1; 9 – Não aplicável2
1
Deve ser utilizado sempre que não houver informação suficiente para especificar a gravidade da dificuldade.
2
Este quantificador deve ser utilizado nas situações em que seja inadequado aplicar um código específico.
Quantificadores
Actividade e Participação
0 1 2 3 4 8 9
Capítulo 1 – Aprendizagem e aplicação de conhecimentos
d110 Observar x
d115 Ouvir x
d130 Imitar x
d131 Aprender através da interacção com os objectos x
d132 Adquirir informação x
d133 Adquirir linguagem x
d134 Desenvolvimento da linguagem x
d137 Adquirir conceitos x
d140 Aprender a ler x
d145 Aprender a escrever x
d150 Aprender a calcular x
d155 Adquirir competências x
d160 Concentrar a atenção x
d161 Dirigir a atenção x
d163 Pensar x
d166 Ler x
d170 Escrever x
d172 Calcular x
d175 Resolver problemas x
d177 Tomar decisões x
Capítulo 2 – Tarefas e exigências gerais
d210 Levar a cabo uma tarefa única x
d220 Levar a cabo tarefas múltiplas x
d230 Levar a cabo a rotina diária x
d250 Controlar o seu próprio comportamento x
Capítulo 3 – Comunicação
d310 Comunicar e receber mensagens orais x
d315 Comunicar e receber mensagens não verbais x
d325 Comunicar e receber mensagens escritas x
d330 Falar x
d331 Produções pré-linguísticas x
d332 Cantar x
d335 Produzir mensagens não verbais x
d340 Produzir mensagens na linguagem formal dos sinais x
d345 Escrever mensagens x
d350 Conversação x
d355 Discussão x
d360 Utilização de dispositivos e de técnicas de comunicação x
Capítulo 4 – Mobilidade
d410 Mudar as posições básicas do corpo x
d415 Manter a posição do corpo x
d420 Autotransferências x
d430 Levantar e transportar objectos x
d435 Mover objectos com os membros inferiores x
d440 Actividades de motricidade fina da mão x
d445 Utilização da mão e do braço x
d446 Utilização de movimentos finos do pé x
d450 Andar x
d455 Deslocar-se x
Capítulo 5 – Autocuidados
d510 Lavar-se x
d520 Cuidar de partes do corpo x
d530 Higiene pessoal relacionada com as excreções x
d540 Vestir-se x
d550 Comer x
d560 Beber x
d571 Cuidar da sua própria segurança x
Capítulo 6 – Vida doméstica
d620 Adquirir bens e serviços x
d630 Preparar refeições x
d640 Realizar o trabalho doméstico x
d650 Cuidar dos objectos domésticos x
Capítulo 7 – Interacções e relacionamentos interpessoais
d710 Interacções interpessoais básicas x
d720 Interacções interpessoais complexas x
d730 Relacionamento com estranhos x
d740 Relacionamento formal x
d750 Relacionamentos sociais informais x
Capítulo 8 – Áreas principais da vida
d815 Educação pré-escolar x
d816 Vida pré-escolar e actividades relacionadas x
d820 Educação escolar x
d825 Formação profissional x
d835 Vida escolar e actividades relacionadas x
d880 Envolvimento nas brincadeiras x
Capítulo 9 – Vida comunitária, social e cívica
d910 Vida comunitária x
d920 Recreação e lazer x
Outros aspectos da Actividade e Participação a considerar
Factores Ambientais
Barreira ou Quantificadores
Factores Ambientais
Facilitador 0 1 2 3 4 8 9
Capítulo 1 – Produtos e Tecnologias
e110 Para consumo pessoal (alimentos, medicamentos) + x
e115 Para uso pessoal na vida diária + x
e120 Para facilitar a mobilidade e o transporte pessoal + x
e125 Para a comunicação - x
e130 Para a educação + x
e135 Para o trabalho x
e140 Para a cultura, a recreação e o desporto - x
e150 Arquitectura, construção e acabamentos de
+ x
prédios de utilização pública
e155 Arquitectura, construção e acabamentos de
- x
prédios para uso privado
Capítulo 2 – Ambiente Natural e Mudanças Ambientais feitas pelo Homem
e225 Clima - x
e240 Luz x
e250 Som x
Capítulo 3 – Apoio e Relacionamentos
e310 Família próxima + x
e320 Amigos + x
e325 Conhecidos, pares, colegas, vizinhos e membros
+ x
da comunidade
e330 Pessoas em posição de autoridade + x
e340 Prestadores de cuidados pessoais e assistentes
+ x
pessoais
e360 Outros profissionais + x
Capítulo 4 – Atitudes
e410 Atitudes individ. dos membros da família próxima - x
e420 Atitudes individuais dos amigos - x
e425 Atitudes individuais de conhecidos, pares,
- x
colegas e membros da comunidade
e440 Atitudes individuais de prestadores de cuidados + x
pessoais e assistentes pessoais
e450 Atitudes individuais de profissionais de saúde + x
e465 Normas, práticas e ideologias sociais + x
Capítulo 5 – Serviços, Sistemas e Políticas
e515 Relacionados com a arquitectura e a construção x
e540 Relacionados com os transportes x
e570 Relacionados com a segurança social x
e575 Relacionados com o apoio social geral x
e580 Relacionados com a saúde x
e590 Relacionados com o trabalho e o emprego x
e595 Relacionados com o sistema político x
Outros Factores Ambientais a considerar
e430 Pessoas em posição de autoridade x
Anexo III
PERFIL
1º 4 3 2 1
Unidade Tonicidade X
Equilibração X
2ª Lateralização X
Estr.EspaçoTemporal X
3ª Praxia Global X
Escala de Pontuação:
1 – Realização imperfeita, incompleta e descoordenada (fraco) – perfil apráxico
2 – Realização com dificuldades de controle (satisfatório) – perfil dispráxico
3 – Realização controlada e adequada (bom) – perfil eupráxico
4 – Realização perfeita, econômica, harmoniosa e controlada (excelente) – perfil
hiperpráxico.
TONICIDADE:
Hipotonicidade Hipertonicidade
Extensibilidade:
Membros Inferiores 4 3 2 1
Membros Superiores 4 3 2 1
Passividade: 4 3 2 1
Paratonia:
Membros inferiores 4 3 2 1
Membros superiores 4 3 2 1
Diadococinesias:
Mão Direita 4 3 2 1
Mão Esquerda 4 3 2 1
Sincinesias:
Bucais (Axiais) 4 3 2 1
Contralaterais (de imitação) 4 3 2 1
EQUILIBRAÇÃO:
Imobilidade 4 3 2 1
Equilíbrio Estático:
Apoio Retilíneo 4 3 2 1
Ponta dos pés 4 3 2 1
Apoio num pé D E 4 3 2 1
Equilíbrio Dinâmico:
Marcha Controlada 4 3 2 1
Evolução no banco:
1) para frente 4 3 2 1
2) para trás 4 3 2 1
3) Lado direito 4 3 2 1
4) Lado esquerdo 4 3 2 1
Um só pé (E) 4 3 2 1
Um só pé (D) 4 3 2 1
Pés juntos para frente 4 3 2 1
Pés juntos para trás 4 3 2 1
“ com olhos fechados 4 3 2 1
LATERALIZAÇÃO: 4 3 2 1
Ocular D E
Auditiva D E
Manual D E
Pedal D E
Inata D E
Adquirida
D E
NOÇÃO DE CORPO:
Sentido Cinestésico 4 3 2 1
Reconhecimento D e E 4 3 2 1
Auto-imagem (face) 4 3 2 1
Imitação de Gestos 4 3 2 1
Desenho do corpo 4 3 2 1
ESTRUTURAÇÃO ESPACIO-TEMPORAL:
Organização 4 3 2 1
Estruturação Dinâmica 4 3 2 1
Representação Topográfica 4 3 2 1
Estruturação Rítmica 4 3 2 1
As estruturas rítmicas:
● • • ● • • ● • • ● • 4 3 2 1
● ● ● • ● ● • • • 4 3 2 1
● ● • • ● • • ● ● • • 4 3 2 1
● ● • • ● ● • • ● ● • 4 3 2 1
● • • ● • • • ● ● ● 4 3 2 1
PRAXIA GLOBAL:
Coordenação óculo-manual 4 3 2 1
Coordenação óculo-pedal 4 3 2 1
Dismetria 4 3 2 1
Dissociação:
Membros Superiores 4 3 2 1
Membros Inferiores 4 3 2 1
Agilidade 4 3 2 1
PRAXIA FINA:
Coordenação Dinâmica Manual 4 3 2 1
Tempo:______________
Tamborilar 4 3 2 1
Velocidade e precisão 4 3 2 1
Número de pontos 17 4 3 2 1
Número de cruzes 14 4 3 2
Anexo IV
Desenho do corpo