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Alcobaça
ESCOLA
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CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
ALCOBAÇA
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EDUCAÇÃO, ESCOLA E SOCIEDADE
Enquadramento:
contudo, não pretende ser, de modo algum, uma revisão bibliográfica e, por isso, não
terei grandes preocupações em seguir as regras que norteiam esse tipo de trabalho.
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Ana Almeida e Maria Manuel Vieira e As vulnerabilidades do movimento das escolas
eficazes de Jorge Lima, nada têm em comum, senão o facto de ambos se reportarem à
instituição “escola”. Assim, reuni-los num único texto (síntese) torna-se um desafio e
corresponde ao gosto pessoal que nutro por estas duas temáticas. Em primeiro lugar
qualidade na escola me são muito próximas, já que sou responsável pela implementação
passado.
Contemporânea”).
Desenvolvimento:
Se há algo que distingue o Homo sapiens sapiens das restantes espécies animais
é a sua capacidade de pensar, comunicar e agir sobre aquilo que o rodeia. A noção de
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tempo e espaço, bem como a capacidade de planear acções, fazem dele um ser com
social e cultural. A educação não é mais do que a forma como esse legado sócio-cultural
é transmitido. Ela é acção e, como tal, reflecte a capacidade que o homem tem de
planear acções.
Ainda que consideremos que educação e escolarização não são sinónimos e que,
corresponde necessariamente à sua escolarização, poderemos dizer que esta é uma das
dimensões da educação.
além do latim, os clérigos recebiam uma formação baseada na interpretação dos textos
A partir do final do século XII a igreja perde gradualmente poder e floresce uma
classe burguesa interessada nos proveitos que poderiam advir da maior escolarização
dos seus membros. Surgem, então, as primeiras escolas laicas que, com o tempo, se vão
teve reflexos que ainda hoje se fazem sentir e que determinam acentuadas diferenças
entre os índices de escolarização dos países do centro e norte da Europa e dos países do
sul do continente.
nomeadamente a partir de meados do século XVI. A sua influência fez-se sentir até
meados do século XVIII, tendo a sua doutrina constituído um forte entrave à difusão das
valores que rondavam os 100% de escolarização. Não estará com certeza desligado
deste feito o facto de se terem “semeado” escolas por todas as aldeias do país.
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Nas últimas três décadas do século XX assistiu-se, à massificação do ensino,
obrigatório (1º e 2º ciclos), o que teve, e continua a ter, grandes reflexos na organização
sendo estes números superados quando se analisa o número de alunos que se inscrevem
primário, onde o número de crianças inscritas aumentou quinze vezes nos últimos trinta
anos.
educativo que, quer queiramos quer não, o influenciou e “moldou” enquanto pessoa.
distribuição da população escolar por género. De uma situação em que o sexo masculino
era claramente mais escolarizado passou-se para uma situação em que, em quase todos
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escolaridade. Muitos são os jovens que frequentam níveis de ensino inferiores àqueles
que seriam os adequados à sua idade. Esta realidade coloca o país numa situação de
como o PISA, Portugal fica irremediavelmente a perder, uma vez que no estudo
participam jovens que são o fruto do insucesso, ao passo que, na maioria dos outros
frequentado. Aliás, análises parcelares deste mesmo estudo indicam que os alunos
resultados muito melhores e correspondentes aos que obtêm os seus colegas europeus.
acesso cada vez mais precoce à escolarização e um prolongamento, muito para além do
novo desafio: Como oferecer um ensino de qualidade a todos aqueles que a frequentam?
serviço?
O movimento das Escolas Eficazes tem início como uma reacção ao Relatório
integração racial nos EUA), cujos resultados afirmam a escassa influência das
século XX, as conclusões deste relatório foram exaustivamente debatidas nos meios
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académicos, dando origem a novas investigações sobre características escolares que
Desde meados da década de 80 (século XX) que os estudos sobre a eficácia das
escolas têm vindo a ser discutidos e a ser alvos de fortes críticas. Uma das maiores
críticas prende-se com o facto de se dar especial enfoque aos resultados académicos
como forma de avaliar o desempenho das escolas. Para estes críticos, na escola existem
humano, a violência, etc. Assim, como nos sugere Grace (1998), citado por Lima (2008)
académicas não tem fundamento: eles interessam-se bastante pelos resultados sociais e
A consciência de que nas escolas existe muito mais do que resultados de âmbito
cognitivo tem vindo a ganhar terreno nos últimos anos contudo, os trabalhos de
investigação que toquem áreas como o desenvolvimento pessoal e social não abundam
na comunidade científica.
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interessa-lhes capacidades como a criatividade, a flexibilidade e a mestria na resolução
adaptação à mudança.
agora enunciados nem sempre são de fácil medida. Será importante saber até que ponto
trabalhos como os de John MacBeath e John Gray, que têm procurado definir
Outra crítica de que têm sido alvo os estudos sobre a eficácia das escolas
prende--se com o facto de estes darem especial enfoque às condições globais dos
São vários os estudos que apontam como principal factor de diferenciação entre
escolas as diferenças que existem ao nível das salas de aula, logo, a diferença que existe
efeito “professor”, “turma”, “sala de aula” e, mais recentemente, segundo Lima (2008) o
efeito “departamento”. Este é, na minha opinião, um dos órgãos que assume um papel
ser potenciador do bom desempenho dos seus docentes e, recorrentemente, dos alunos.
Este campo relacionado com a relação entre o desempenho dos docentes e o dos
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Maior lacuna existe quando se pretendem estudos que entrem em linha de conta
com estas duas dimensões: o papel da organização escola e o papel dos professores.
proveniência.
Citando Teddlie e Stringfield (1993), Lima (2008) elenca cinco áreas em que os
aula, a saber:
às tarefas académicas;
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para a consecução destes desideratos. Contudo, convém atentar no que nos diz Lima
(2008): esses instrumentos (grelhas de observação de aulas) devem ser adequados para
de departamento tiver essa capacidade, ele poderá distinguir, aquando de uma aula
assistida, aquilo que lhe interessa observar enquanto avaliador e aquilo que poderão ser
departamento.
o nível socioeconómico das famílias de onde provêm os alunos. Contudo, segundo Lima
eficácia. Factor para mim também decisivo na contextualização é aquilo a que chamo a
“cultura de escola” e que Gray et al (1999 in Lima, 2008) designam por “herança” da
escola.
profissional.
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O movimento das escolas eficazes e os estudos que desenvolve têm vindo a ser
utilizados (por vezes manipulados) pela classe política em geral e pelos governos em
particular. Um dos perigos que poderá decorrer de uma utilização abusiva dos
resultados obtidos por estes estudos é a tentativa de encontrar “receitas” que possam ser
vindo a importar do sector privado algumas formas de gestão que, no mínimo, carecem
É este o momento para relatar a experiência que tenho exactamente neste campo.
Gestão da Qualidade (conforme norma ISO 9001:2000). Durante um ano lectivo esse
grupo recebeu 250 horas de formação e, com o apoio da formadora esboçou aquilo que
Comissão da Qualidade, continuou e continua a gerir todo o sistema que será alvo, neste
Apesar de esta ser uma tipologia de gestão tipicamente voltada para as empresas,
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Entre milhentos processos que, na realidade da escola, só correspondem a
professores e funcionários;
sucesso.
Ao fim de três anos de experiência sentimos que este projecto traz benefícios à
aquilo que de facto para a escola é importante. Temos consciência que é um sistema que
se baseia muito em resultados quantificáveis (académicos) e que, grande parte dos seus
Conhecemos, agora, as suas limitações e as suas virtudes o que nos permite tomar
Uma das lacunas que identificámos neste sistema é o facto de não abordar
intuito de sermos uma escola mais eficaz, estamos, neste momento, a ponderar
aderirmos ao “Programa Aves”, dinamizado pela Fundação Manuel Leão, já que abarca
aquelas áreas que escapam ao SGQ. É nosso entendimento que estes dois programas se
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complementam, pelo que constituirão duas ferramentas essenciais para percorrermos o
caminho da eficácia.
criticados; tal como os seus processos, também os nossos têm virtudes e deficiências.
Cabe-nos a nós como a eles (movimento) resistir, nunca pensar que existem processos
aperfeiçoamento.
Notas Finais:
veremos que foi dos seus sucessos e insucessos que se fez a educação contemporânea.
Veremos que, longe da perfeição, ela estará bem melhor do que no passado. A escola
continua a ser a instituição mais dinâmica da sociedade, evoluindo ao ritmo que esta
evolui, mas dando contributos para que ela evolua em determinada direcção.
opinião, acompanhar o ritmo avassalador com que a sociedade evolui e reforçar o seu
papel socializador.
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Bibliografia:
Almeida, A.N. e Vieira, Mª. M. ( 2006). A escola em Portugal. Lisboa: ICS cap 1.
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Ferreira, A. G. (2005). A difusão da escola e a afirmação da sociedade burguesa.
Lima, J. (2008). Em busca da boa escola. Instituições eficazes e sucesso educativo. Vila
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